Fernanda Lopes, diretora de Programa do Baobá, alerta para a prática do coletivismo como estratégia de luta contra o racismo

Por Wagner Prado

A diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, participou no final de setembro de Live promovida pela OSC Legal Instituto, iniciativa voltada ao fortalecimento das organizações da sociedade civil no que se refere a suas constituições e estratégias de gerenciamento e aprimoramento da relação que mantêm com órgãos da administração pública e iniciativa privada. O comando do encontro virtual esteve a cargo de Lucas Seara, advogado, Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, e coordenador da OSC Legal. A  Live  alcança lideranças de organizações da sociedade civil em todo país, ávidos por trocar experiências, divulgar seus feitos e disseminar conhecimento. Em sua fala, Fernanda Lopes exaltou o sentido de coletivismo que pautou sua trajetória e que serve para inúmeros propósitos: “A gente não consegue nada sozinho. Só com o coletivo”, afirmou. 

Fernanda Lopes fez questão de pontuar a sua trajetória pessoal, como bióloga de formação, com Mestrado e Doutorado em Saúde Pública, com área de concentração em Epidemiologia, porque nenhuma trajetória é construída de forma individual. Isso cabe para pessoas e organizações de qualquer setor. Numa sociedade racista e patriarcal, sem alianças, qualquer trajetória que visa o sucesso pode ser interrompida. Os sonhos podem ficar  pelo caminho. “Eu só consegui construir essa trajetória porque tive pessoas que sempre estiveram ali, me apoiando. Meus familiares e a família que nos adota, que é composta pelos amigos, mas também contei com pessoas que são as minhas referências de ativismo”, explicou. 

O ativismo negro é o que orientou a  concepção do Fundo Baobá para Equidade Racial, que atua no enfrentamento ao racismo gerando oportunidades justas para o desenvolvimento de pessoas negras. Esse propósito também está relacionado à questão da captação e do investimento, para fomentar projetos e iniciativas negras precisamos ter sustentabilidade financeira, para isso temos um fundo patrimonial, que é o que nos diferencia. “A ideia é que sejamos um fundo patrimonial em expansão e que a gente tenha mais autonomia para investir de acordo com as necessidades e expectativas do nosso campo. E, para isso, a gente tem que incidir no ecossistema de filantropia. Porque nem tudo que se apresenta como antirracismo o é. Se o dinheiro é doado para ações programáticas e não há investimento nas organizações, elas não irão se desenvolver, aprimorar suas capacidades. E o que acaba acontecendo é que muitos dos apoios nos mantêm no mesmo lugar. E o que o Fundo Baobá quer é tirá-las desse lugar”, afirmou Fernanda Lopes.

A diretora de Programa do Fundo Baobá terminou sua exposição analisando a questão do investimento financeiro, que não pode ser um fim em si mesmo. “Para o Fundo Baobá e outras instituições que fazem parte do sistema de filantropia para justiça social, o que importa não é só o apoio financeiro. O apoio financeiro é essencial, mas ele não é o suficiente para promover oportunidades reais e justas para o movimento social, para as organizações, grupos e coletivos. Quando você investe financeiramente, mas as organizações não têm oportunidade de ampliar suas capacidades institucionais essenciais, não têm oportunidade de aprimorar o fazer gestão, planejamento; quando não têm oportunidade para  garantir que mais gente entenda aquilo que elas realizam e queiram estar junto;  se estas oportunidades não são apresentadas para essas organizações, o que vai acontecer: elas vão estar sempre na dependência. Elas vão estar sempre com medo de participar de um edital, por acreditar que não estão suficientemente preparadas para disputar. Isso é injusto. Essa desigualdade não é justificável. E isso é iniquidade. O papel do Baobá é mudar este quadro”, concluiu.