Educar e Capacitar gera benefícios práticos

Tobias Pereira Soares Filho, 29 anos, é professor da Educação Básica e trabalha com projetos sociais dede 2009, sempre voltados para reforço escolar e educação ambiental. Neste período de pandemia ela viu a necessidade de somar novas demandas:

“Pensei nos pais e responsáveis, principalmente as mães e mulheres que estão diretamente ligadas aos cuidados com a crianças e também com a comunidade em geral, como com cursos de alfabetização de jovens, adultos e idosos. Assim, focamos o projeto em iniciativas que tinham duas intencionalidades, contribuir nos cuidados e também gerar potencialidades financeiras para essas mulheres.”

A ajuda deveria gerar ajuda prática e esperança. Tobias direcionou o projeto para a localidade de Sol Nascente, região administrativa do Distrito Federal considerada uma das maiores favelas do Brasil, ao lado da Rocinha, no Rio de Janeiro.

Projeto do Tobias Pereira Soares Filho, Sol Nascente (DF)

“Atuamos em uma parte deste território projeto é focado no Trecho II do Sol Nascente, mais especificamente na Chácara 97 (lá ainda as quadras são chamadas de chácaras, mesmo sendo urbanas), onde ainda há debilidades nas áreas de saúde, educação, segurança pública e transporte”, explica.

“Realizamos, a partir do Fundo Baobá, duas oficinas com 17 mulheres do território. Uma primeira com um mestre de cultura popular da cidade, Mestre Madioca Frita, também um periférico, que ensinou a construir quatro brinquedos populares (traca-traca, mané-gostoso, rói-rói e a galinha) para um grupo de 10 mulheres do território, mais algumas crianças que preferiram ficar na oficina do que na ciranda (lugar de cuidado para os filhos e filhas destas trabalhadoras, dando melhores condições para que elas possam participar das atividades). A segunda oficina foi com a pedagoga Lídia Pereira, que ensinou a fazer uma boneca de tecido.”

Projeto do Tobias Pereira Soares Filho, Sol Nascente (DF)

Ele explica que o propósito era produzir brinquedos que ficassem com as mães ou mulheres responsáveis após as oficinas, já pensando no Natal, e principalmente que elas pudessem dominar as técnicas para futuramente produzirem novas peças, vendê-las e gerarem renda.

“Também durante todas as oficinas o grupo se preocupou que o máximo possível do recurso ficasse no próprio território, assim as mulheres que produziram a alimentação das oficinas e as cuidadoras do espaço de ciranda, foram mulheres do próprio território e ligadas ao processo de pensar as atividades, acompanhar a execução e depois avaliarem”.

Os desafios não foram muitos, começando pelos vários casos de violência contra crianças e mulheres que ocorreram durante o processo, gerando o afastamento de uma das mulheres envolvidas. Abstenções também ocorriam quando as participantes desempregadas conseguiam trabalhos de faxina nos dias de atividade.

Projeto do Tobias Pereira Soares Filho, Sol Nascente (DF)

“Não conseguimos bom engajamento na internet então as ações ocorreram basicamente e forma presencial, porém seguindo os protocolos de segurança sanitária. Como nosso espaço tinha uma pequena área coberta, também contamos com a sorte meteorológica para não chover nos dias de atividade, evitando aglomerações”, cita mis alguns.

“Escutamos das participantes inúmeras vezes expressões sobre como era novamente bom brincar ou como fazia tempo que não brincavam daquela forma, foi bonito! Também escutamos inúmeras histórias das brincadeiras de cada uma das mulheres em seus tempos de infância, foram momentos muito importantes de troca. Acho que o maior aprendizado foi o da importância de manter a cabeça sempre aberta às brincadeiras e nos permitirmos esses tempos, mesmo dentro de todas as dificuldades.”

Também em Ceilância, no Distrito Federal, a assistente social Ágata Parentes Ferreira 32, também decidiu colaborar com a população de Sol Nascente, estimulando a cooperação comunitária e a geração de trabalho e renda.

“A realidade de Sol Nascente-DF é de grande vulnerabilidade social, especialmente no Trecho III – o qual ainda está em processo de ocupação e sem infraestrutura organizada pelo Estado. As oportunidades de trabalho e de desenvolvimento pessoal são escassas, estando jovens e adultos à mercê da irregularidade empregatícia, sem certezas de quando terão chance de ganhar dinheiro para sobrevivência diária. Ao mesmo tempo, numa comunidade recente, há poucos equipamentos sociais – como feiras, mercadinhos, padarias, bares, restaurantes – o que diminui ainda mais as oportunidades de trabalho e desenvolvimento local e, principalmente, dificulta o acesso a alimentos saudáveis para consumo diário dos cidadãos e cidadãs”, descreve Ágata.

“Essa dificuldade de acesso interfere na segurança alimentar e nutricional dos moradores e moradoras da comunidade, ou seja, no “acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais” (Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006), e, consequentemente, na qualidade de vida dessas pessoas”.

A população precisava ser fortalecida, vislumbrar oportunidades de trabalho e se crescimento pessoal e cooperativo, o que na opinião de Ágata iria  interferir diretamente na vida das crianças. Ela então pensou em muitas atividades virtuais, com o intuito de diminuir o contato físico e a transmissão da Covid-19, mas esbarrou em limitações de conexão de internet e na falta de equipamentos eletrônicos. Foi preciso adaptar a abordagem para o modo presencial, seguindo as orientações da OMS e da FIOCRUZ para mitigar o risco de contaminação.

“Todo o processo foi realizado coletivamente. Houve semanalmente reuniões de planejamento e alinhamento do processo de construção da cozinha comunitária, que foi transformada em padaria comunitária devido às necessidades da própria população. Enquanto os equipamentos e utensílios estavam sendo comprados, conseguimos também implementar dois espaços de formação para melhor gestão da padaria. Os temas abordados foram Introdução à Administração Colaborativa e Introdução sobre Manipulação de Alimentos, enfatizando os cuidados operacionais da cozinha e a higiene dos manipuladores”, conta.

O grupo ainda desenvolveu cardápios com pouco uso de alimentos ultra processados e tratou divulgação da padaria comunitária com faixas, grafites e uma bicicleta de som, para atrair a clientela e aumentar o capital de giro.

“As avaliações foram bastante positivas, pois há bastante força de vontade para fazer acontecer esse empreendimento coletivo. Desde o início, todas ficaram bastante ansiosas para que a padaria iniciasse, e este passou a ser uma meta principal dessas pessoas para poder ajudar no processo de garantia de renda. A nossa equipe aprendeu a potência que essas mulheres têm e que a oportunidade de trabalho é o que falta para que essas pessoas se desenvolvam pessoal e profissionalmente.”

Em São Paulo, a psicóloga e gestora ambiental Camila Britto da Silva, 30, está convicta de que psicologia a preparou para trabalhar a autoestima, o autocuidado e autonomia dos indivíduos, e por isso não desperdiça a chance de desenvolver projetos que permitam cumprir esse objetivo.

“Em meu trabalho como supervisora do programa Criança Feliz, via junto com as estagiárias as principais necessidades vivenciadas pelas famílias e principalmente pelas mães, e como tudo isso impactava no desenvolvimento das crianças. Sendo assim, enxerguei o edital como uma maneira de trazer uma nova perspectiva para essas mulheres, o que iria impactar também em seus filhos e famílias”, justifica.

Projeto da Camila Britto da Silva do Programa Criança Feliz, São Paulo (SP)

Era preciso estimular a autonomia financeira das famílias, então ela planejou o projeto Inclui e Conect@ com o propósito de proporcionar acesso a cursos profissionalizantes e de capacitação para famílias em situação de vulnerabilidade, no município de Arujá, na Região Metropolitna de São Paulo e Alto Tietê, e que tiveram essa condição acentuada no período da pandemia.

Projeto da Camila Britto da Silva do Programa Criança Feliz, São Paulo (SP)

“Inicialmente, foi realizada uma triagem por meio de formulários para selecionar as famílias que tinham interesse e disponibilidade de realizar os cursos. A partir desse resultado, foram feitas as matrículas e as participantes que não dispunham de internet e dos materiais necessários em casa, puderam realizar as aulas no Centro de Convivência da Criança e do Adolescente no Centro. No total, foram 12 cursos com carga horária de 20h a 30h oferecidos por meio das plataformas online dos sites do SENAC, SEBRAE E SENAI, de finanças pessoais, empreendedorismo, legislação trabalhista, confeitaria, entre outros. A maior parte do projeto foi realizada de maneira virtual, salvo a entrega dos certificados e os períodos de aula de algumas mães que não dispunham de internet em casa.”

O projeto teve o engajamento total de 22 mulheres que receberam certificados. Algumas, segundo Camila, aproveitaram os cursos e conseguiram oportunidades de trabalho. Outras, decidiram iniciar ou ampliar seus próprios negócios.

Projeto da Camila Britto da Silva do Programa Criança Feliz, São Paulo (SP)

“Isso me fez acreditar que o impacto do projeto tenha abrangido não somente elas, mas também suas famílias, uma vez que todas as participantes ou estavam gestantes, ou tinham filhos e companheiros. Todos enfrentando momentos difíceis por conta da pandemia. Dessa forma, o edital beneficiou cerca de 60 indivíduos.”