Edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19, aprovou propostas que zelavam pela educação infantil em vários aspectos

Dados da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, indicam que o Brasil avançou nos últimos anos em relação à educação infantil. O atendimento de crianças de 0 a 3 anos nas creches do país subiu de 16%, em 2005, para 30,4% atualmente. Já na Pré-escola, o número de matrículas passou de 72% para 90%, no mesmo período. Mas o acesso e a qualidade ainda são desiguais e isso precisa mudar, se desejamos um país mais próspero e justo.

Com esse mesmo pensamento, e desejando contribuir justamente no momento em que algumas atividades essenciais – como a Educação – foram impactadas pela pandemia de Covid-19, a pedagoga Maria Lúcia dos Santos Rodrigues, de 58 anos, se inscreveu no Edital Primeira Infância.

“O tema me interessou, pois há 18 anos trabalho com crianças na fase de educação infantil, fundamentada no Neo Humanismo, uma filosofia que proporciona o desenvolvimento integral através da prática de Yoga (meditação, exercícios respiratório, princípios universais), da alimentação saudável (vegetarianismo), da extensão do sentimento do amor a todos os seres universais e da valorização da cultura local”, ela descreve.

Projeto de Maria Lúcia dos Santos Rodrigues, Comunidade Moara, Ananindeua (PA) – Foto: Lucia Rodrigues

Então, com a ajuda de uma psicóloga experiente, Maria Lúcia levou o projeto até 50 famílias da comunidade Moara e adjacências, no bairro de Águas Lindas, Ananindeua, região metropolitana de Belém do Pará.

“Primeiro realizamos a formação contínua de seis educadoras em temas como: Família, Ser Criança, Emoções e o Sentimento da Esperança. Depois elas foram desenvolvendo os temas com as famílias por meio de vídeos, áudios ou textos compartilhados via aplicativo de mensagens. As famílias, por sua vez, deveriam desenvolver os assuntos com os pequenos em casa. Aquelas que não tinham aparelho de telefone celular, ou cuja internet era insuficiente (em torno de 15 das 50 famílias) realizavam as atividades na sede de um Projeto CENHAMAR, na região”, lembra.

Projeto de Maria Lúcia dos Santos Rodrigues, Comunidade Moara, Ananindeua (PA) – Foto: Dayana Brito

No final do Projeto Baobá, como ficou conhecida iniciativa, houve uma surpresa a mais para os envolvidos: parceiros contribuíram para a entrega de cestas básicas e brinquedos, na semana de Natal.

“Dar um apoio às famílias que tenham crianças na faixa etária da primeira infância, fortalecendo os vínculos afetivos com o cuidador e o educador, é fundamental para o desenvolvimento integral e a saudável delas. Essa relação traz também benefícios no momento e no futuro para a família e para a sociedade.”

Projeto de Maria Lúcia dos Santos Rodrigues, Comunidade Moara, Ananindeua (PA) – Foto: Estela Gonçalves

E não importa de que forma vem esse afeto. Ele pode vir a cavalo, como propôs a psicóloga Kelly de Souza Prado, 41. Através do edital ela conseguiu financiamento para aplicar a técnica do volteio gratuitamente, para crianças e adolescentes do município de Francisco Morato, em São Paulo.

“Acredito que agora essas crianças e adolescentes podem ter uma visão diferente do caos emocional que criou-se com a pandemia. Essa era a oportunidade de darmos ferramentas emocionais e físicas para eles lidarem com o dia a dia e as dificuldades.”

Projeto de Kelly de Souza Prado, Francisco Morato (SP)

Kelly pôde contar com uma equoterapeuta e uma professora de educação física voluntária, ambas para as atividades de volteio. Outros dois voluntários auxiliaram as mães no plantio e cuidado de uma horta. Aliás, essa era uma condição para as crianças serem acolhidas pelo projeto.

Os atendimentos ocorreram no Rancho São Joaquim, em encontros presenciais, já que na ocasião o município estava na fase verde de prevenção contra a Covid-19. Os cuidados com a higiene foram reforçados.

Cartaz de divulgação do projeto de Kelly de Souza Prado, Francisco Morato (SP)

“A escolha em trabalhar na natureza veio de um projeto que eu e a proprietária do rancho, Luciana Simões, já tínhamos planejado. O financiamento veio para conseguirmos colocar tudo em prática. Entendemos que a psicologia e o volteio se complementam, pois trabalham o emocional e a consciência corporal”, explica Kelly.

“Paralelamente realizamos uma horta, como forma de os pais retribuírem o atendimento gratuito que os filhos tiveram. Quando estiver pronta para colheita, ela servirá para o consumo das próprias famílias, ou terá a renda revertida para elas e o projeto”.

Cinco crianças, um adolescente, uma avó, uma tia e quatro mães participaram ativamente. Outros 21 familiares foram impactados indiretamente. As mães relataram os filhos ficaram mais autoconfiantes, calmos, compreensivos e cooperativos em casa. Elas por sua vez acharam o trabalho na horta gratificante. Algumas inclusive, agradeceram pela oportunidade de fugir um pouco da rotina de casa, fazendo algo diferente ou que já haviam experimentado em outro momento da vida.

“Essa oportunidade que o Fundo Baobá nos ofereceu permitiu ao projeto ter continuidade. Hoje temos uma fila de espera com pelo menos cinco crianças para a próxima turma”.

Veja o vídeo da iniciativa aqui

Empatia gera empatia. E essa corrente chegou à Vila Santa Inês e comunidades próximas, no município de Ermelino Matarazzo, São Paulo, com o Brincando na Kebrada – um coletivo de mulheres pretas, mães solos, educadoras sociais e ludo educadoras, que promove a cultura da infância por meio de brincadeiras lúdicas, prazerosas, afetivas e respeitosas. Para isso, inclusive, vale o uso de muitas cores, sons, cheiros e sabores.

“Defendemos os brincares em suas diversidades, auxiliando na construção positiva do imaginário infantil! O Brincando na Kebrada visa estimular a participação e o protagonismo infantil, por meio da ocupação de ruas, praças, becos, calçadas e vielas; a construção dos brinquedos e do resgate de brincadeiras tradicionais”, conta a pedagoga e arte-educadora Minéia Miranda Santos de Oliveira, 46.

“Observamos que as necessidades físicas, como acesso aos alimentos e itens de higiene pessoal, não estava sendo contempladas e que também faltava o alimento lúdico, assegurando o direito infantil de brincar”.

Projeto de Minéia Miranda Santos de Oliveira, Brincando na Kebrada, Ermelino Matarazzo (SP)

O projeto desenvolvido com a doação do Fundo Baobá funcionou da seguinte maneira: os pais e mães cadastrados receberam sacolas com materiais pouco comuns, como bolinhas de gel, massinha ou sabão, por exemplo. Depois, por meio de vídeos compartilhados num grupo do WhatsApp, eles foram orientados a utilizarem tudo em atividades de exploração sensorial com os filhos. Houve também uma reunião presencial para orientações sobre prevenção da Covid-19, além da distribuição de alimentos e de produtos de higiene pessoal, selecionados de acordo com a faixa etária dos pequenos.

Projeto de Minéia Miranda Santos de Oliveira, Brincando na Kebrada, Ermelino Matarazzo (SP)

“Nosso maior desafio era não sobrecarregar as famílias com uma atividade a mais, porém proporcionar-lhes um momento de troca e fortalecimento de vínculos, reforçando a brincadeira como ferramenta de aprendizagem e desenvolvimento infantil”, esclarece Minéia.

“Nós aprendemos a não julgar o outro, seja pelas suas atitudes ou posturas diante de determinadas situações (econômica, política, familiar, social, entre outros). O projeto nos fez repensar, refletir e elaborar estratégias educativas de apoio humanizado. gostaríamos de continuar com o mesmo projeto agregando o acolhimento às mulheres (autocuidado, escuta, empoderamento, rede de apoio), até porque acreditamos que esse suporte é muito importante. Quem educa uma mulher, educa uma geração inteira”.