Mês da Filantropia Negra (Black Philanthropy Month) é aberto oficialmente no Brasil pela primeira vez

Diretora-executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira chamou as pessoas a fazerem doações pela causa negra

Um marco para a filantropia pela equidade racial foi estabelecido neste 4 de agosto no Brasil com a abertura do Black Philanthropy Month (Mês da Filantropia Negra), que já acontece há 10 anos nos Estados Unidos e, pela primeira vez, se realiza no Brasil em parceria com o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE). Participou do evento, Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, primeiro e único fundo voltado, exclusivamente, para apoiar iniciativas negras para  promoção da equidade racial. 

O BPM Brasil teve as palavras de abertura proferidas pela afro-americana Jackie Copeland, fundadora do BPM nos Estados Unidos: “A justiça econômica é a última fronteira do movimento pelos Direitos Civis e Humanos. Esperamos que todo o mundo nos acompanhe na celebração do mês de agosto, pressionando por tornar a equidade uma realidade”, ressaltou Jackie. 

Jackie Copeland, fundadora do BPM nos Estados Unidos

Em sua fala, Selma Moreira, lembrou das raízes de ajuda mútua que sempre acompanharam a história dos negros no Brasil. “Não vou me estender nos dados que comprovam o resultado de séculos de opressão e preconceito. São verdades que carregamos em nossas veias, no nosso DNA. Mas carregamos também uma história de lutas.  Atualmente, é comum ouvir, especialmente entre mulheres negras, a expressão que ganhou visibilidade em um dos livros organizados por Jurema Werneck: ‘Nossos passos vêm de longe’. Trata-se da mais absoluta verdade: entre nós, ninguém soltou a mão de ninguém. E talvez o exemplo mais emblemático seja a criação das irmandades negras. O agrupamento em irmandades foi uma estratégia encontrada pela população negra para a construção da solidariedade diante de uma sociedade hostil em pleno escravismo colonial.” 

Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial

Segundo dados do Censo GIFE 2018, apenas 10% das organizações afirmam focar a população negra em seus programas e projetos de doação. Este percentual cai para 2% quando se trata de definir organizações que tenham a população negra, a equidade racial ou o combate ao racismo contra a população negra como foco prioritário. O investimento social privado e a filantropia podem ter um papel estratégico em diferentes frentes, seja no âmbito do investimento ou, de modo transversal,  em todas as ações e políticas implementadas pelas organizações.

Em sua fala de encerramento, Selma Moreira disse:

“Nós temos todos os saberes e capacidade para construir os próximos passos da nossa história. Durante essa pandemia nós vimos as pessoas mais simples doando para suas comunidades. Temos que pensar nas estratégias que envolvem o capital, porque a gente também doa. Somos a maior parte da população e é fundamental que encontremos essas saídas. Mas acho que temos que fazer isso juntos. E vamos fazer isso com a absoluta certeza de que isso se faz a partir de um conjunto de pessoas. Que a gente tenha capacidade de pensar na doação da  forma mais ampla. Que a gente possa doar vida. As irmandades se juntavam para comprar as cartas de alforria para comprar a liberdade. O que é mais necessário que poder viver em liberdade e de forma digna? Que a gente tenha a possibilidade de seguir juntos, de construir nossa história potente e de múltiplos atores. Que tenhamos condição de ver a justiça social, a equidade racial  para todos e não apenas para alguns. Espero que você doe, que se engaje e permita que seu melhor aflore na perspectiva de uma sociedade mais conectada, onde as pessoas negras sigam vivendo e vivendo com dignidade.”

Além de Selma Moreira, outras importantes vozes brasileiras no tema da filantropia para equidade racial participaram como palestrantes desta primeira edição do BPM Brasil: Adriana Barbosa (Fundadora e CEO da Feira Preta); Atila Roque (Diretor da Fundação Ford Brasil); Gilberto Costa (Diretor executivo do JP Morgan Brasil); Ines Lafer (Presidente do  Conselho do GIFE e Diretora da Fundação Betty e Jacob Lafer) e Neca Setubal (Ex-presidente do Conselho do GIFE e Presidente da Fundação Tide Setubal).

Palestrantes do BPM Brasil 2021 em sentido horário: Márcio Black, Gilberto Costa (JP Morgan Brasil), Ines Lafer (GIFE, Fundação Betty e Jacob Lafer) Adriana Barbosa (Feira Preta e Pretahub), Atila Roque (Fundação Ford Brasil) e Neca Setubal (Fundação Tide Setubal)

Para assistir o painel na íntegra basta fazer a inscrição gratuitamente neste link e depois acessar esta sala.

 

Sobre o Black Philanthropy Month

Ao longo do mês de agosto, o Black Philanthropy Month vai promover atividades para disseminação da cultura de doação no Brasil e no mundo. Estão programadas as seguintes ações: 

  • Lançamento do mapa de iniciativas da filantropia pela Equidade Racial no Brasil;
  • Lançamento da plataforma ISP pela equidade racial;
  • Encontro de formação e sensibilização das governanças do ISP para a Equidade Racial;
  • Produção de vídeos pílulas que respondam a pergunta: “Quais contribuições aprofundadas podem e precisam ser dadas pela filantropia e o investimento social privado para responder ao desafio de uma maior equidade racial?” para ser divulgado durante o mês de agosto;
  • Disseminação, divulgação das ações (rede GIFE, imprensa etc).