Malcolm X teria completado 97 anos neste 2022 e pelo carisma, elegância, discurso e luta ele faz muita falta

Quando cumpriu seis anos de prisão, os livros e a busca do conhecimento foram sua saída 

    Por Wagner Prado

Malcolm Little. O nome é familiar a você? Nascido no início do Século 20, exatamente em 1925, neste ano de 2022 o mundo, especificamente os Estados Unidos, comemora o aniversário de 97 anos de seu nascimento. Little tornou-se um símbolo na luta pelos direitos civis dos negros nos anos 1950/1960. Sua oratória era incendiária. Fazia pensar, refletir e agir. Malcolm Little tornou-se mundialmente conhecido pelo nome que adotou: Malcolm X. Ele talvez seja a mais pura tradução do que o racismo estrutural pode fazer com alguém. As informações contidas aqui são fruto da leitura do livro Malcolm X – Autobiografia, escrita por ele em parceria com o jornalista Alex Haley.  

Malcolm Little nasceu em Omaha, no estado de Nebraska (meio oeste dos EUA). Filho de um pastor, Earl Little, e de Louise Helen Little, perdeu o pai muito cedo, em circunstâncias suspeitas. Oficialmente, Earl Little teria sido atropelado por um bonde. Mas exames feitos em seu cadáver descobriram um ferimento na cabeça, que não foi causado no suposto atropelamento. Earl, em suas pregações, defendia a independência e separatismo negro da sociedade branca. O que se suspeita é que Earl Little tenha sido surrado e seu corpo colocado na linha férrea do bonde para ser atropelado. 

A morte do pastor Earl Little deixou Louise Helen sozinha para cuidar de oito filhos. O estado norte-americano  desfez a família, mandando cada uma das crianças para famílias diferentes. Malcolm foi morar em uma residência branca mas, aos 14 anos decidiu fugir.  Apesar de bom aluno, o racismo o atingiu em cheio quando, ao revelar para um professor que seu sonho era ser advogado, o professor o desencorajou ao dizer que ser advogado não se adequava a um negro. Seria melhor ele pensar em ser um carpinteiro. A partir disso, o então bom aluno tornou-se um menino problema, até ser expulso da escola. 

Malcolm arrumou um bico no trem que ia de Omaha até Nova York (leste dos EUA). Na Big Apple, a vida do menino foi completamente transformada. Vivendo no  Harlem em uma época em que o tráfico de drogas começava a se organizar e ganhar as ruas, o garoto foi crescendo como o que hoje, na gíria, é conhecido por aviãozinho (aquele que faz a intermediação da venda da droga entre o consumidor e o traficante). Daí para outras contravenções, como roubos e furtos, não demorou muito. A lei trancafiou Malcolm.   

A transformação para Malcolm X

Condenado a 10 anos por tráfico de drogas e roubo, a prisão acabou sendo o grande marco transformador na vida de Malcolm Little. Cumprindo pena, ele conheceu John Elton Bembry, a quem ele carinhosamente chamava de Bimbi. Bembry era um autodidata e incentivou Malcolm a procurar conhecimento. Ele passou a ter interesse pelos livros e fez da leitura e do conhecimento suas bases, assim como a oratória transformou-se em sua principal habilidade. Quando saiu da cadeia, após cumprir seis dos 10 aos quais havia sido condenado, juntou-se à Nação do Islã, comandada por Elijah Muhammad, onde já militavam dois de seus irmãos. 

Malcolm Little rompeu com tudo o que dissesse respeito ao homem branco. Daí a decisão de retirar de seu nome o sobrenome Little. O motivo alegado por ele era de que os senhores de escravos davam a estes os seus sobrenomes. Isso caracterizava propriedade. Como ele considerava-se livre e não propriedade de nenhum Little, passaria a ter o sobrenome “X”. 

Nação do Islã

Malcolm X rapidamente foi ganhando espaço dentro da Nação do Islã, comandada por Elijah Muhammad. Tornou-se seu principal porta-voz. Seus discursos fortíssimos fizeram com que a Nação do Islã crescesse de 500 fiéis para mais de 30 mil em apenas dois anos. Ele era o homem que percorria os EUA com pregações e angariava novos fieis. Seu objetivo era fazer com que os negros americanos tivessem seus direitos respeitados, nem que para isso tivessem que pegar em armas. 

Malcolm X passou a ser uma figura midiática. Com frequência estava nas principais redes de tevê dando entrevistas polêmicas. Como não se escondia de dar boas e contundentes respostas, sempre era fustigado pelos entrevistadores. O mundo passou a ter percepção do que ele dizia. Suas opiniões e suas aparições passaram a causar ciúme dentro da Nação do Islã. Seu brilho ofuscava o líder Elijah Muhammad. Uma declaração de Malcolm X quando do assassinato do então presidente John Fitzgerald Kennedy,  em 1963, fez a coisa azedar com a Nação do Islã. Ao ser questionado sobre o assassinato, Malcolm X disse algo como: “Você colhe o que você planta”.  Elijah Muhammad ordenou que ele não mais se manifestasse. Foi nesse contexto que Malcolm X fez uma denúncia contra Elijah. O líder da Nação do Islã estaria utilizando parte do dinheiro arrecadado pela irmandade em proveito pessoal, além de ter filhos com meninas adolescentes que Muhammad utilizava como suas secretárias. Elijah Muhammad era casado. E mesmo que não fosse, aquilo não era comportamento de um líder religioso. 

Traidor e Insurgente

A partir de sua denúncia, Malcolm X foi declarado traidor da Nação do Islã. Ao mesmo tempo, por conta de seus discursos e reivindicações pelos direitos dos negros, o FBI (Federal Bureau of Investigations / Departamento Federal de Investigações) já estava de olho nele e o classificara como insurgente, um subversivo que merecia toda atenção porque poderia levar o país a uma convulsão racial. Ele passou a ser grampeado, seguido e monitorado. 

O atentado

Depois de se desligar da Nação do Islã, Malcolm X viajou para cidade de Meca, na Arábia Saudita, o templo do islamismo. Ao voltar ele fundou a Organização para a Unidade Afro-Americana, (Organization of Afro-American Unity – OAAU), que não era uma organização religiosa de defesa da identidade negra e de combate radical ao racismo. Malcolm X passou a receber várias ameaças de morte. Uma atentado a bomba foi feito em sua casa em 14 de fevereiro. Ninguém se feriu e, em declarações à tevê, Malcolm X culpou a Nação do Islã pelo ocorrido. 

O assassinato

Em 21 de fevereiro de 1965, durante evento da Organização para a Unidade Afro-Americana no Audubon Ballroom, no bairro Washington Heights, em Manhattan (Nova York), enquanto Malcolm X falava no púlpito colocado no palco, um tumulto teve início. Os seguranças tentaram conter o problema e se dispersaram. Nisso, três homens se aproximaram do palco e começaram a disparar contra Malcolm X. Os tiros foram dados em direção ao seu peito. No total, foram 13  tiros. Ele teve morte instantânea. Ali morria o homem, mas nascia o mito, cujo legado de luta e perseverança pela comunidade negra e para a comunidade negra permanece nos dias de hoje. Com certeza em 2025, quando do centenário de seu  nascimento, muito do que ele fez e deixou será rememorado. 

Para saber muito mais sobre Malcolm X 

1 – Livro: Malcolm X – Autobiografia / Autores – Malcolm X e Alex Haley

2 – Filme: Malcolm X (1992) – Direção: Spike Lee – Com: Denzel Washington como Malcolm X

3 – Documentário: Quem matou Malcolm X (2020) – Direção: Rachel Dretzin e Phil Bertelsen