Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha é tema de encontro da MetLife

Por Wagner Prado

A diretora de Programa do Fundo Baobá para Equidade Racial, Fernanda Lopes, foi a palestrante do encontro virtual promovido pela MetLife Brasil em torno do Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho. Fernanda participou do encontro a convite de Edna Alcântara, diretora do Afro Presença, grupo de afinidade composto por  pessoas negras que trabalham na empresa. Cerca de 80 colaboradores, negros e não negros, da MetLife conectaram-se para acompanhar a live.  

O dia 8 de março, mundialmente conhecido por ser o Dia Internacional da Mulher, e o 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, são datas já consagradas no calendário de efemérides mundiais. Ambos, inclusive, estão no calendário oficial da ONU (Organização das Nações Unidas). Datas que alcançam esse, vamos dizer, status, passam a ser reverenciadas mundialmente. 

O Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha ainda não ganhou o carimbo da ONU para se tornar um dia internacional, mas sua importância é tão significativa quanto os outros dois dias já citados. E foi sobre isso a fala de Fernanda Lopes para as colaboradoras e colaboradores da MetLife, empresa parceira do Fundo Baobá no Programa Já É: Educação e Equidade Racial, cujo objetivo é ampliar o acesso de jovens negros ao ensino superior em universidades públicas e privadas e contribuir para sua permanência. Prioritariamente, o programa visa as universidades públicas, pois o que se pretende é o ingresso e a continuidade até a conclusão do curso. 

“O 8 de março é mundialmente celebrado e foi instituído como um dia em defesa do direito das mulheres. Em função de uma grave violação dos direitos das mulheres trabalhadoras,  o que gerou uma revolta feminina. O 8 de março marca a revolta e a ação em defesa dos direitos das mulheres”, disse Fernanda Lopes. E continuou: “Para as mulheres negras existia uma série de desvantagens que eram derivadas do racismo e associadas ao patriarcado, ao sexismo e a essa lógica de muita opressão, uma opressão diferenciada em relação às mulheres brancas, por isso a importância do 25 de julho”.

A diretora de Programa do Fundo Baobá fez um apanhado das transformações sociais pelas quais o mundo passava no início do Século 20 e o contexto em que as mulheres negras se encontravam nele. “A revolta feminina e os movimentos de luta por direitos foram prioritariamente encampados por mulheres brancas, de classe média, com maior escolaridade, que tinham no mundo do trabalho, externo às suas residências, um universo de conquistas. Um mundo de transformação e em transformação. Mas, para que essas mulheres estivessem na rua lutando por seus direitos, fosse o direito ao voto, o direito a ter direitos iguais no ambiente de trabalho; mulheres negras estavam cuidando dos seus filhos, trabalhando nas suas casas como empregadas domésticas, muitas vezes em um contexto de trabalho análogo ao trabalho escravo”, afirmou.  

A partir da década de 1970, as mulheres das diferentes expressões do movimento negro passaram a questionar e discutir, entre elas, independentemente das fronteiras que separam os países, as questões relativas às diferentes formas de opressão que vinham sofrendo. “Desde os anos 1970/80, ganha corpo a discussão sobre como a hierarquização social se manifestava de uma forma completamente diferente para a vivência de mulheres e homens negros quando comparados a pessoas não negras. Essas mulheres negras vinham também explicitando todas as vivências, as sinergias, as intersecções das diferentes formas de opressão, fossem aquelas relacionadas ao sexismo, ao patriarcado, ao etarismo, à lesbofobia, ao moralismo sexual, à xenofobia, e tudo isso vivenciado pela égide do racismo, o que era ainda muito pior”. Revelou Fernanda Lopes. 

O discutir levou à ação. “Em 1992, em Santo Domingo (República Dominicana), mais de uma centena de mulheres negras da América Latina, do Caribe e também da América do  Norte estiveram lá discutindo como essa vivência de opressão racial e opressão sexista poderia ser convertida em potência, em luta, em estratégia de fortalecimento e de ação em rede. Foi assim que surgiu o 25 de Julho. Foi nesse contexto de resistência, de resiliência, de conexão, de ação em rede que surgiu o 25 de Julho,  durante o Primeiro Encontro Latino-americano e Caribenho de Mulheres Negras”, contou a diretora do Baobá.  

Quando o encontro foi aberto para perguntas, Edna Alcântara, diretora do Afro Presença da MetLife, fez um questionamento: “Mulheres sofrem uma carga maior de preconceito. Houve uma diminuição disso? A Educação trouxe maior presença de mulheres ao mercado de trabalho?”  Fernanda Lopes respondeu assim: “Nós somos frutos de muitas conquistas e hoje estamos em muitos mais espaços que nas décadas de 1980, 1990 e início dos anos 2000. As jovens negras e não negras são a maioria no ensino superior, mas ainda não são maioria nos cargos gerenciais no mundo corporativo ou na esfera pública. Ainda há uma sub-representação feminina e feminina negra nos espaços de poder”. 

Você poderá saber mais sobre o 25 de Julho, Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha acessando este link