Fundo Baobá encerra 2020 comemorando parcerias que apoiaram a busca pela equidade racial na sociedade brasileira

A criação do Fundo Baobá para Equidade Racial, em 2011, foi alicerçada sobre três pilares: articulação social, mobilização de recursos e investimentos programáticos. Dentro do item “investimentos programáticos”, quatro balizamentos coordenaram nossas ações nesses quase dez anos de atividades de filantropia para a equidade racial: Viver com Dignidade, Educação, Desenvolvimento Econômico e Comunicação & Memória. Todas as ações estabelecidas foram construídas levando sempre em conta essas diretrizes.

Nenhuma jornada vitoriosa é constituída apenas de caminhos fáceis de serem percorridos. É preciso muita firmeza de propósitos, perseverança e alto poder de convencimento. Sem isso, não construímos alianças, não estabelecemos parcerias e não alcançamos o que preconiza nossa teoria de mudança: a população negra inserida e incluída de forma justa no desenvolvimento da sociedade brasileira.

Felizmente, estamos alcançando nossos principais objetivos. Mas ainda há muito a caminhar. A sociedade brasileira tem se tornado permeável em relação às questões de equidade de raça e gênero, como se espera de uma sociedade plural em relação a todas as diferenças.

Neste ano de 2021, que marca os 10 anos de fundação do Baobá, nossa busca não será diferente. Temos um leque de projetos  nos quais vamos trabalhar e que ajudarão ainda mais a consolidar o nome de nossa instituição como principal articuladora da promoção da equidade  para a população negra no Brasil. As novidades de 2021 você saberá ao longo do ano!

O que será destacado aqui é como foi 2020 para o Fundo Baobá. Um ano completamente atípico, conturbado pela pandemia do Coronavírus na esfera mundial – e que serviu para explicitar as desigualdades raciais em várias nações.

A luta contra o racismo eclodiu de forma positiva, ganhando repercussão e ações pelo mundo todo, até o Brasil. Estamos na esfera dos países de economia emergente, com potencial econômico para se tornar uma grande potência. Porém, nosso nível de desenvolvimento está na linha do mediano para baixo, marcado por uma abissal desigualdade social e um racismo incrustado nas relações sociais. Devemos baixar a cabeça? Não! Devemos lutar pela busca desse desenvolvimento, que trará crescimento econômico, equilíbrio socioambiental, paz, segurança, saúde e bem-estar para a população do país.

De forma evidente, o segmento da filantropia para equidade racial no Brasil sofreu impactos. Dos 207,8 milhões de pessoas no Brasil, 55,8% se descrevem como pardos, 9,3% como negros e 43,1% como brancos. Pretos e pardos formam a população negra. Todos os indicadores sociais – de educação, condições de vida, engajamento político, emprego e renda – refletem a desigualdade da sociedade brasileira e o papel nela desempenhado pelo racismo estrutural. Até recentemente, os esforços filantrópicos das organizações não negras da sociedade civil se limitavam a oferecer assistência, preservando ao mesmo tempo a posição social dos beneficiários. Não é, portanto, coincidência a  coexistência entre a filantropia mainstream e o racismo estrutural.

E, no intuito de melhorar as condições das pessoas negras  da sociedade brasileira, o Fundo Baobá atuou com determinação em 2020. Nossos parceiros de tempos, e outros que chegaram mais recentemente, têm nos ajudado na busca por consolidar nossos objetivos. São eles: WK Kellogg Foundation, Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga, Open Society Foundations, Citi Foundation, J.P. Morgan, Fundação Lemann, Laudes Foundation, Porticus, Imaginable Futures, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, OAK Foundation, Instituto Unibanco, The Coca-Cola Foundation, Instituto Coca-Cola Brasil, BV Banco, Instituto Votorantim, Google, Wellspring Philanthropic Fund e Demarest Advogados. 

Esses parceiros apoiadores, além dos doadores individuais, têm nos propiciado investir em nosso fortalecimento institucional e realizar doações por meio de editais que, este ano, trataram de auxílio emergencial, educação, primeira infância e produção acadêmica para subsidiar a tomada de decisão.   Entre 2011 e 2020 o Baobá lançou 15 editais de apoio. Destes, cinco tiveram lançamento em 2020. Cerca de 450 beneficiários diretos e mais de 210 mil indiretos. Investimento de R$ 10,2 milhões. Com relação ao Programa Marielle Franco, em 2020 foram doados R$ 3.148.285,34.  São marcas significativas, mas sabemos que nosso potencial de trabalho pode nos levar a muito mais e vamos alcançar isso. 

 Abaixo, selecionamos alguns fatos que fizeram ao no de 2020 do Fundo Baobá: 

Em 14 de março ocorreu o aniversário de dois anos da morte de Marielle Franco, vereadora e socióloga, assassinada no Rio de Janeiro ao lado do motorista Anderson Gomes. O Fundo Baobá, que em 2019 havia lançado um edital em apoio a mulheres negras líderes e a organizações lideradas por mulheres negras, que, recebeu o nome de Marielle Franco,  fez seu posicionamento por intermédio de artigo assinado pela diretora executiva do Fundo, Selma Moreira,  no jornal O Globo. Veja artigo neste link: Precisamos proteger todas as Marielles

Abril de 2020 marcou o lançamento do edital Doações Emergenciais no Contexto da Pandemia da Covid-19, voltado para organizações sem fins lucrativos ou pessoas físicas negras, comprometidas com a equidade racial e engajadas na promoção de ações para a proteção de pessoas e comunidades, que apresentassem propostas de ações de prevenção ao coronavírus realizadas junto à população residente em comunidades periféricas e outros territórios de vulnerabilidade; população em situação de rua; população privada de liberdade; idosos;  jovens em cumprimento de medidas socioeducativas; populações residentes em áreas remotas de todas as regiões do país, comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas, ciganos, migrantes, refugiados, e outras comunidades tradicionais, nas florestas e ilhas, onde existissem casos notificados. A resposta ao edital foi imediata e em menos de 15 dias mais de 1.000 candidaturas foram feitas visando o apoio financeiro. Esse edital atingiu o que determina o propósito de criação do Fundo Baobá: contribuir para o enfrentamento ao racismo promovendo justiça e equidade racial para a população negra, a mais atingida pela pandemia.

Movimento Mulheres da Parada de São Gonçalo (RJ) foi uma das apoiadas do edital Doações Emergenciais

O edital em parceria com o Desabafo Social também aconteceu em abril. A objetivação foi  apoiar ideias e projetos com foco em pessoas em situação de risco em São Paulo e no Rio de Janeiro – iniciativa que, posteriormente, foi ampliada para todo o país.  Na primeira fase, 64 projetos de homens e mulheres de 15 a 35 anos foram selecionados. Na segunda fase, estendida para todo Brasil, 86 projetos foram incentivados, perfazendo 150 no total. O montante  investido no Desabafo Social foi R$ 30 mil e cada ideia foi contemplada com valores que variaram de R$ 60 a R$ 350.

Projeto da Andreza Delgado, apoiado pelo edital em parceria com Fundo Baobá e Desabafo Social 

Também em abril, o Fundo Baobá apoiou a coalizão  Éditodos, que  criou o Programa de Emergências Econômicas para apoio a Empreendedores(as) das Comunidades, Favelas e Periferias. Coube ao Baobá gerenciar os recursos e fazer com que esses chegassem até a ponta. Além de atuar como fundo de captação de recursos no Brasil e fora dele visando o investimento em organizações e lideranças negras, o Baobá também atua como parceiro fiscal e operador para outras organizações negras que têm por objetivo implementar ações de filantropia.

O 1o de maio marca o Dia Internacional do Trabalho. O Fundo Baobá esteve na mídia em entrevista da diretora executiva Selma Moreira sobre financiamento de projetos de prevenção à Covid 19 entre negros, pobres e indígenas: Fundo Baobá financia projetos de combate à Covid-19 para negros, pobres e indígenas 

Também em maio, no dia 25,  ocorreu nos Estados Unidos a morte de George Floyd. Ele foi asfixiado por um policial. O fato teve repercussão mundial e iniciou uma série de protestos em território norte-americano e em todo mundo. Floyd virou símbolo da luta antirracismo. No Brasil, o portal UOL publicou o posicionamento do Fundo Baobá sobre essa questão em entrevista concedida pela diretora executiva Selma Moreira. Veja aqui a íntegra da entrevista: Qual o Reflexo da Filantropia na Equidade Racial?

No início de julho, com o Brasil sofrendo severamente com a Covid-19 e chegando à marca de quase 33 mil mortes,  foi lançado o edital  Primeira Infância no Contexto da Pandemia da Covid-19, com foco em famílias com crianças de 0 a 6 anos – um grupo que até então estava recebendo pouquíssima atenção no contexto da pandemia. Seu objetivo foi explícito: selecionar iniciativas de apoio a famílias que tivessem em seu núcleo crianças de 0 a 6 anos, mulheres e adolescentes grávidas, mulheres que deram à luz ou homens responsáveis e corresponsáveis pelo cuidado de crianças. A parceria do Baobá foi com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a Porticus América Latina e a Imaginable Futures. As iniciativas estão sendo implementadas e, em breve, pretendemos compartilhar resultados, boas práticas e lições aprendidas. 

Em julho, foi lançado o edital para o programa  Já É: Educação e Equidade Racial. . O parceiro na iniciativa foi a Citi Foundation, braço do Citi Group para investimentos sociais. O objetivo: oferecer condições favoráveis para que 100 jovens negres da cidade de São Paulo e região metropolitana conseguissem vencer as dificuldades que impedem o acesso ao ensino superior.  As aulas começam em março de 2021.

Difusão do conhecimento e divulgação de artigos que contribuíssem para melhorar ações de filantropia para a equidade racial no Brasil pós-pandemia foi a tônica do edital para Produção de Artigos Acadêmicos, lançado em agosto. A parceira nessa iniciativa do Fundo Baobá foi a Fundação Ford. A proposta do edital era selecionar 20 artigos que serão reunidos em uma publicação bilíngue a ser lançada no primeiro semestre de 2021.

Dois importantes eventos de parceiros do Fundo Baobá agitaram o calendário do mês de outubro: a Live do Citi sobre Promoção da Equidade Racial para a População Negra no Brasil e o Webinário Investimentos Filantrópicos para a Promoção da Equidade Racial, feito pelo  JP Morgan.  O Webinário discutiu se houve ou não progresso rumo à justiça racial na filantropia brasileira. Além disso, discutiu também como ampliar a incidência de investimentos sociais privados em organizações, grupos e coletivos negros.

Em novembro, um importante evento internacional, o Moving Forward Rebuilding a More Just and Equitable Educational Future – Wise,   discutiu a questão do acesso à Educação. A diretora executiva do Baobá, Selma Moreira, falou para o público de países no exterior, sobre essa dificuldade de acesso enfrentada pela jovem população negra brasileira. Em sua fala, Selma Moreira chamou a atenção para o fato de que há um conceito enraizado na cabeça de muita gente na sociedade brasileira de que o elemento negro, independentemente de sua idade ou sexo, é inferior. “O fato de não terem acesso ao estudo, principalmente em seus níveis superiores, poderá ocasionar o não acesso aos melhores postos de emprego, talvez não consigam reunir condições de criar e administrar o seu próprio negócio e, em inúmeros casos, sequer terão moradia e meios de sobrevivência”. 

Selma Moreira participa do Moving Forward Rebuilding a More Just and Equitable Educational Future – Wise 

Grandes marcas se reuniram para apoiar o edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as), que o Fundo Baobá lançou. Essas marcas foram o Instituto Coca-Cola Brasil, Banco BV e Instituto Votorantim. Juntos, eles apoiarão pequenos empreendimentos liderados por pessoas negras em comunidades periféricas ou territórios em contexto de vulnerabilidade socioeconômica no Brasil. Ao todo, serão investidos mais de R$ 1,6 milhão.

Fundo Baobá - Edital Recuperação Econômica de pequenos negócios de Empreendedores(as) Negros(as)

O Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, foi a data escolhida para que fosse anunciado o apoio do Google ao Fundo Baobá. A ação conjunta visa contribuir para a promoção da equidade racial no Brasil,  viabilizando projetos focados no avanço da justiça racial e combate à violência contra a população negra. O Google fará uma doação de US$ 400 mil, mais de R$ 2,1 milhões. Infelizmente, na mesma data, o Fundo Baobá e todo o Brasil tomaram conhecimento de que, em Porto Alegre, no interior de uma loja do grupo Carrefour, foi morto por espancamento João Alberto, um cidadão negro brasileiro. João foi morto por seguranças da loja. Esse triste acontecimento lembra a todos nós a importância de ações de enfrentamento ao racismo e promoção da equidade racial para garantir a construção de sociedades democráticas, justas e inclusivas. E reforça nosso compromisso com o trabalho que vamos desenvolver na próxima década, começando agora, em 2021.

Feliz Ano Novo!

Webinário Filantropia e Justiça Racial discutiu em outubro investimentos por equidade racial e de gênero dentro das empresas

Em um país como o Brasil, cuja maioria da população é predominantemente negra (56%), como incutir nas diretrizes sócio-empresariais que é fundamental investir na diversidade? O tema diversidade atualmente deveria ser encarado como questão de avanço e sobrevivência para qualquer instituição, em qualquer segmento, que queira de fato promover ações que contribuam para a equidade e a erradicação de uma das piores doenças sociais: o racismo. 

Alguns estudos acadêmicos evidenciam que empresas que têm a diversidade como valor atingem graus de desenvolvimento de seus negócios em nível maior que aquelas que não a valorizam. O que determina isso? As diferentes trocas de experiências entre as pessoas.  Visões diversificadas levam a um número maior de possibilidades de desenvolvimento de  uma ideia ou um produto. O que determina esse maior leque de opções são as diferentes vivências dos funcionários. Onde existe a homogeneidade existe também a limitação. Diferenças contribuem para o aprimoramento. 

Para discutir a questão da diversidade dentro das empresas e o trabalho da filantropia voltada ao combate ao racismo e à equidade racial, aconteceu em outubro o webinário Filantropia e Justiça Racial, promovido  pelo JP Morgan em parceria com o Fundo Baobá para Equidade Racial. Nele, importantes agentes da filantropia, da educação e do combate fizeram suas palestras em mesas que trouxeram muitos fatos e esclarecimentos sobre importantes questões na busca por uma sociedade justa e igualitária. Juntamos aqui falas importantes de Fabio Alperovitch e de Tricia Calmon. 

Fabio Alperovitch, da Fama Investimentos, administrador de empresas formado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), com cursos de extensão na Universidade da Califórnia (Berkeley) e na Harvard Kennedy School -profissional que atua na captação de recursos financeiros para empresas- enxerga  uma certa dificuldade de muitas delas em levar a temática da diversidade, equidade e combate ao racismo para dentro de seus muros. “Além de procurar diversidade de gênero, procuramos diversidade racial, diversidade de identidade de gênero e orientação sexual. Para a grande maioria das empresas, se conectar com esses grupos diversos e fazer com que se sintam parte integrante da empresa, eliminando vieses muitas vezes inconscientes, representa um desafio”, afirma.

Fabio Alperovitch, da Fama Investimentos, administrador de empresas

Para Tricia Calmon, graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduada em Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça, também pela  Universidade Federal da Bahia, além de membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial, a dificuldade empresarial em lidar com questões de raça e gênero está nas bases em que a sociedade brasileira foi alicerçada, por isso nem sempre os investimentos convertidos em ações filantrópicas ganham sentido efetivamente transformador.  “A falta de intencionalidade e de compreensão sobre a natureza do racismo colocou boa parte da filantropia brasileira na armadilha de pensar em promover a almejada justiça social sem mexer nas bases escravagistas nas quais está assentada a sociedade. Parte da elite brasileira se orgulha dessa herança e se ressente das mínimas fissuras ocorridas nesse pacto de silêncio e morte nos últimos anos”, diz. 

Trabalhar com filantropia no Brasil requer muito foco em fazer com que estruturas opressoras sejam abaladas. “Com a pandemia do novo coronavírus, que escancarou as desigualdades sociorraciais, e com o fenômeno da violência policial iconizado no caso George Floyd,  estamos diante da oportunidade de atualizar o debate no campo da filantropia. Não se trata de fenômenos novos, mas estamos em um novo momento. É hora de decidir por um projeto de sociedade sustentável e inclusivo que descolonialize os pensamentos e imagine o Brasil do presente e do futuro como um país viável para todas as pessoas. Sem isso,  seguiremos assistindo a elites que almejam ganhar dinheiro no Brasil e constituir suas vidas fora do país. Neste cenário de nada importa  o  fortalecimento da sociedade brasileira como um todo”, afirma Tricia Calmon. 

Tricia Calmon, graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduada em Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça, também pela Universidade Federal da Bahia

Para Fabio Alperovitch, que reforça a opinião de Tricia Calmon, a questão do investimento em diversidade dentro das empresas tem impacto positivo direto na economia brasileira. “Acredito que as empresas que têm projetos de diversidade e inclusão têm um impacto muito forte não só nas comunidades onde elas operam, mas na economia brasileira como um todo. A nossa história tem um legado de discriminação racial muito forte que ainda é muito presente no dia a dia do país. No Brasil, conforme dados do IBGE de 2018, mais da metade da população brasileira se declara como preta ou parda. No entanto, a sua representatividade no mercado de trabalho e em cargos de liderança é extremamente baixa. Ao termos uma empresa investida preocupada com esse tema e com metas específicas a serem atingidas, avançamos, mesmo que pouco, na redução dessa desigualdade”, afirma Alperovitch. 

Tricia Calmon reforça que investimentos sociais privados ou filantropia empresarial devem  ser muito bem balizados e focados nas necessidades das comunidades para as quais são destinados. Dessa intenção foi que surgiu o Fundo Baobá. “O programa para equidade racial da Fundação Kellogg,  gestado desde 2008, resultou no que hoje é o primeiro e maior fundo para financiamento de ações para o enfrentamento ao racismo: o Fundo Baobá. As desigualdades regionais precisam ser consideradas e não se deve descansar enquanto os investimentos não chegarem em boa proporção às regiões mais empobrecidas, como é o caso do Norte e Nordeste brasileiros”, finalizou.

Promovendo a equidade racial em território nacional, Fundo Baobá lança seis editais em 2020

Em um ano tão desafiador como 2020, o Fundo Baobá se fez presente em território nacional,  captando recursos dentro e fora do país para apoiar iniciativas de organizações e lideranças por meio de seis editais. Os investimentos estavam diretamente relacionados às prioridades programáticas: viver com dignidade, educação, desenvolvimento econômico. 

Em um balanço preliminar, no contexto da pandemia da COVID19 foram investidos mais de R$ 1.180 mihão, que beneficiaram, direta ou indiretamente, 421 indivíduos e 135 organizações. Paralelamente, foram mantidos os investimentos no desenvolvimento de lideranças femininas negras, em um programa que leva o nome da vereadora assassinada Marielle Franco, que totalizaram R$ 4,2 milhões em 2020. 

Abaixo, relembramos quais foram os editais lançados em 2020, além do total investido, número de inscritos, os principais parceiros e número de selecionados.

1 – Edital Apoio Emergencial para Ações de Prevenção ao Coronavírus

Data de lançamento:
5 de abril
Instituições Financiadoras: Fundo Baobá para Equidade Racial e Fundação Ford
Período de implementação: maio a julho de 2020.
Total investido: R$ 870 mil
Público apoiado: Comunidades vulneráveis, mulheres, população negra, idosos, povos originários e comunidades tradicionais
Inscritos: 1.037
Selecionados: 350 projetos (215 de indivíduos e 135 de organizações)
Distribuição geográfica: Para todo o Brasil

Dentro do contexto da pandemia do novo coronavírus, foi lançado o edital de Doações Emergenciais de até R$ 2,5 mil para ações de prevenção em comunidades periféricas, de difícil acesso e populações vulneráveis.   

2 – Qual a sua ideia para ajudar pessoas em situação de risco? – Fundo Baobá e Desabafo Social
Data de lançamento: 15 de abril
Período de implementação: maio e junho de 2020.
Total investido: R$ 30 mil
Parceiro Implementador: Desabafo Social
Público apoiado: Homens e mulheres de 15 a 35 anos de idade
Selecionados: 150
Distribuição geográfica: A primeira fase do edital apoiou 64 projetos (31 no Rio de Janeiro e 33 em São Paulo) A segunda fase apoiou 86 projetos Salvador (BA), Recife (PE), Olinda (PE), Belo Horizonte (MG), Feira de Santana (BA), Belém (PA), Brasília (DF), Cachoeira (BA), São Luís (MA), Boa Vista (RR) e Laguna (SC), além de regiões no interior do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Ceará.

O edital apoiou ideias e projetos com foco em pessoas em situação de risco em São Paulo e no Rio de Janeiro – iniciativa que, posteriormente, foi ampliada para todo o país.
As pessoas interessadas apresentaram suas ideias respondendo a um desafio dentro da plataforma ItsNoon. A curadoria foi realizada pelo Desabafo Social e as pessoas selecionadas  receberam entre R$60 até R$350 por sua  boa ideia.

3 – Doações Emergenciais – Edital Para Primeira Infância do Contexto da pandemia da Covid-19
Data de lançamento: 6 de julho
Instituições financiadoras: Imaginable Futures, Porticus e Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
Total investido: R$ 280 mil (R$ 5 mil por iniciativa)
Inscritos: 200
Selecionados: 56 profissionais de saúde, educação e serviço social cujas iniciativas estavam voltadas para apoiar famílias que, em seu núcleo, tivessem crianças de 0 a 6 anos, mulheres e adolescentes grávidas, mulheres que deram à luz.
Distribuição geográfica: Para todo o Brasil 

O Fundo Baobá lançou o edital com o objetivo de selecionar iniciativas de apoio a famílias que, em seu núcleo, tenham: crianças de 0 a 6 anos, mulheres e adolescentes grávidas, mulheres que deram à luz, homens responsáveis e corresponsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos.  

 

4 – Já É: Educação para Equidade Racial
Data de lançamento: 10 de julho
Período de implementação: 2021 – 2022
Instituições Financiadoras: Citi Foundation e Demarest Advogados (parceria firmada em dezembro de 2020)
Total a ser investido: R$ 972.683 mil
Público apoiado: Jovens mães, homens, trans de 17 a 25 anos que concluiu ou vai concluir o ensino médio em 2021.
Inscritos: 245
Selecionados: 100
Distribuição geográfica: Cidade de São Paulo e Região Metropolitana

Lançado para apoiar jovens negros, residentes em bairros periféricos de São Paulo e outros municípios da região metropolitana, a acessarem o ensino de nível superior. O Programa Já É inclui não só os custos dos estudos em cursinho preparatório para o vestibular e as despesas com transporte e alimentação ao longo do programa. Ele prevê também atividades voltadas para o enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo e para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais e ainda mentoria com profissionais de diferentes formações acadêmicas, experiências profissionais e de vida.

5 – Chamada Para Artigos – Filantropia para Promoção da Equidade Racial no Brasil no Contexto Pós-pandemia da Covid-19
Data de lançamento: 6 de agosto
Período de implementação: dezembro de 2020 – abril 2021 Instituição Financiadora: Ford Foundation
Total investido: R$ 50 mil (20 artigos,  R$ 2,5 mil cada)
Público apoiado: Pesquisadores(as) negr(as)
Inscritos:  79
Seleção em curso
Distribuição geográfica: Para todo Brasil

O Fundo Baobá lançou uma chamada para artigos inéditos que contribuam para aprimorar a ação de filantropia para equidade racial no Brasil pós-pandemia da Covid-19 com o objetivo de selecionar até 20 trabalhos. Seus autores vão receber verba de apoio no valor de R$ 2,5 mil cada. Em 2021, ano em que o Fundo Baobá para Equidade Racial completa 10 anos de fundação, uma edição eletrônica bilíngue (português-inglês) de um livro com os artigos será publicada.

6 – Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as)
Data de lançamento: 11 de novembro de 2020
Período de implementação: março a julho de 2021
Instituições Financiadoras: Instituto Coca-Cola Brasil, Instituto Votorantim e Banco BV
Total investido: R$ 1,6 milhão
Público apoiado: Empreendedores(as) negros(as) cujos negócios estão localizados em comunidades periféricas ou territórios em contexto de vulnerabilidade socioeconômica
Inscritos: 700
Seleção em curso
Distribuição geográfica: Para todo Brasil, com ênfase nas regiões Norte e Nordeste

o Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as), vai apoiar 47 negócios que precisem de um aporte financeiro para melhor se desenvolver. Esses negócios têm que ser comandados por pessoas (homens e mulheres) negras que toquem os seus negócios em comunidades periféricas ou territórios em contexto de vulnerabilidade socioeconômica. Cada iniciativa selecionada, contendo 3 negócios,  receberá R$30 mil (dez mil por negócio).

#TBlack 2020 – Os principais acontecimentos da população negra no Brasil e no Mundo

2020: o ano que ficou marcado pela maior pandemia mundial dos últimos anos, também será lembrado pela luta por justiça e equidade racial. O caso George Floyd nos Estados Unidos inflamou uma série de protestos ao redor do mundo, inclusive no Brasil, com os brados de Vidas Negras Importam. A violência contra corpos negros também se fez presente em nosso país ao longo do ano passado, sendo inclusive maior do que nos Estados Unidos. Um relatório produzido pela Rede de Observatórios da Segurança, e apresentado em 2020 mostra que os negros representam 75% dos mortos pela polícia.

Seguindo o conceito do #TBT das redes sociais, de relembrar algum acontecimento importante, em união com a palavra Black, evocada com afinco pelo movimento negro, ao redor do mundo, relembramos nessa matéria, os fatos mais impactantes para a comunidade negra no ano de 2020.

Marielle sempre Presente

No dia 14 de março, completou-se dois anos da morte da vereadora Marielle Franco. Em 2019, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou o edital “Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco”, em parceria com a Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations. A premissa do programa é fomentar e incentivar a participação feminina negra em espaços de tomadas de decisão. Em virtude dos dois anos sem Marielle, a diretora de programa do Fundo Baobá, participou do programa Bom Para Todos da TVT, falando sobre o projeto e também de como a comunidade negra poderia se reorganizar e atuar para fortalecer a liderança de mulheres negras de todo o país na luta por equidade racial.. A diretora-executiva Selma Moreira escreveu para o jornal O Globo, o artigo Precisamos Proteger Todas as Marielles, e as apoiadas do edital individual do Programa de Aceleração escreveram uma carta aberta pedindo providências para a solução do assassinato de Marielle Franco.

A pandemia tem cor

No dia 11 de março, a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou a pandemia do novo Coronavírus e, a partir do dia 14, os estados brasileiros começaram a decretar isolamento social. Em maio, um estudo do NOIS (Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde) da PUC-RJ, revelou que as pessoas negras em condições vulneráveis, estavam mais expostas ao vírus do que uma pessoa não negra. Naquele momento, dos  8.963 pacientes negros internados, 54,8% morreram nos hospitais. Entre os 9.988 brancos, a taxa de letalidade foi de 37,9%. Em São Paulo, um estudo da Rede Nossa São Paulo, também apontou os negros como sendo os mais atingidos pela pandemia. Os três bairros com o maior número de mortes por covid-19 em São Paulo – Capão Redondo, Jardim Ângela e Grajaú – estavam também entre os oito distritos com maior proporção de população preta e parda na cidade.

Foi antevendo esse contexto que, em 05 de abril, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou o edital Doações Emergenciais, voltado para pessoas e organizações que estavam na linha de frente auxiliando populações vulneráveis.

“Não, eles não estão”

A política de extermínio de jovens negros e periféricos, seguiu atuante no país em 2020. No dia 18 de maio, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, João Pedro Matos, 14 anos, foi morto dentro de sua casa e levado pelo helicóptero da polícia, deixando os seus pais em profundo desespero. Dois dias depois, foi a vez de João Victor Rocha, 18 anos, ser baleado durante um tiroteio, no momento em que estava próximo a uma ação solidária de entrega de cestas básicas na Cidade de Deus (RJ). Na ocasião chamamos a atenção para os dois casos , relembramos os dois casos em nossas redes sociais.

Na edição de maio do nosso boletim mensal, a jornalista Maíra de Deus Brito, e também autora do livro, “Não. Ele não está”, que denuncia a mortalidade da juventude negra no Brasil, abordou o tema em uma entrevista ao lado do doutor em direito e sociedade, conflito e movimentos sociais, Felipe Freitas, que também é membro do Conselho Deliberativo do Baobá. Confira as entrevistas aqui

Investimentos em iniciativas que contribuam para promover a dignidade e a justiça, reduzir a violência contra jovens e população negra em geral, apoiar as famílias vitimadas, são prioridades para o Fundo Baobá.

Vidas Negras Importam

No dia 25 de maio morria o homem, mas nascia mais um  símbolo da luta antirracista no ano de 2020. O norte americano George Floyd foi assassinado após uma abordagem policial em Mineápolis, e a sua morte gerou uma série de protestos ao redor do mundo, inclusive no Brasil, como o ocorrido no Largo da Batata (SP) no dia 7 de junho.

Veículos de imprensa aproveitaram a oportunidade para traçar um paralelo com a morte de George Floyd e a importância do enfrentamento ao racismo e da promoção da equidade racial, sendo assim, a diretora-executiva Selma Moreira foi convidada para falar sobre o tema em entrevistas para a Capital Aberto e para o Portal UOL.

Wakanda Forever 

O mundo se despediu precocemente do ator norte americano Chadwick Boseman, aos 43 anos de idade, no dia 28 de agosto. Intérprete no cinema do Pantera Negra, herói das histórias em quadrinhos, encarnando o  rei de Wakanda, uma nação tecnológica fictícia, localizada no continente africano, Chadwick Boseman fez história mostrando a importância da representatividade negra no cinema.

O filme teve uma das maiores arrecadações da história, ocupando a 12ª posição das 100 maiores bilheterias mundiais, com um total de US$1.349 bilhão. A morte do ator foi lembrada em nossas redes sociais.

Beto Freitas, Presente

Na véspera do dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, João Alberto Silveira Freitas, foi assassinado por seguranças da Rede Carrefour na cidade de Porto Alegre. O ato covarde e impetrado por um viés racista explícito, foi repudiado com veemência  por inúmeros coletivos e movimentos sociais, algumas autoridades, artistas e outras pessoas defensoras dos direitos para todos os humanos,  fosse nas redes sociais ou nas ruas, em  diversas passeatas e protestos foram realizados ao longo dos dias, por todo país, ressaltando que Vidas Negras Importam.

Diante do fato, o Fundo Baobá se manifestou com uma nota oficial, divulgada para imprensa e também em suas redes sociais e publicada na íntegra no site oficial. No dia 24, o presidente do conselho deliberativo da organização, Giovanni Harvey, também deu uma declaração sobre o tema para o Jornal Folha de São Paulo.

110 Anos da Revolta da Chibata

No dia 22 de novembro celebramos os 110 da Revolta da Chibata, o grande acontecimento histórico que passa completamente despercebido em nosso país, mas que celebra a luta e resistência do povo negro. No dia 22 de novembro de 1910 o marinheiro João Cândido liderou uma revolta dentro do navio Minas Gerais, em protesto pelo castigo que o seu amigo, e também marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes foi condenado: 250 chibatadas, uma quantidade que o levaria à morte. Com 2 mil marinheiros comandando os principais navios de guerra da esquadra e com os canhões apontados para o Rio de Janeiro, a capital do país, eles exigiam o fim dos castigos corporais na Marinha.

O acontecimento foi celebrado em nossas redes sociais.

2020 foi um ano desafiador e que lamentamos e sofremos pelas mortes dos nossos semelhantes, seja pela pandemia do novo coronavírus, como pela operação do racismo institucional. Como sempre, a dor virou luta e incentivo para a promoção da equidade racial como o principal meio para alcançar a justiça social. A movimentação do setor filantrópico mundial e nacional em torno do tema equidade racial após esses trágicos acontecimentos, trouxe um olhar mais atento para esse campo de atuação, justamente o lugar onde o Fundo Baobá opera e continuará operando.

Equidade Racial foi tema do 11º Congresso GIFE

No dia 2 de dezembro, o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) promoveu de forma virtual o seu 11o Congresso. Reunindo as associações que promovem ações de investimento social no Brasil, o tema do evento foi “Investimento para a Equidade Racial”.

Entre os palestrantes, estava a diretora executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, Selma Moreira. Além de Selma, participaram da roda expositiva Allyne Andrade, superintendente adjunta do Fundo Brasil de Direitos Humanos; Daniel Teixeira, diretor de projetos do Ceert (Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades);  Helio Santos, diretor-presidente do IBD (Instituto Brasileiro da Diversidade); Marcia Lima, coordenadora do Afro-Cebrap (Centro Brasileiro de Pesquisa e Planejamento); Marcus Casaes, da Associação de Jovens Empreendedores da Bahia; Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto; Sheila de Carvalho, da Uneafro e do Instituto Referência Negra Peregrum e  Thiago Amparo, professor da FGV Direito. A mediação coube a Adriana Barbosa, CEO do Instituto Feira Preta.

11º Congresso GIFE

 O congresso contou com três mesas de exposição e a pergunta era única: “Quais são os desafios colocados para o fim do racismo e pela busca por equidade racial em todas as esferas da sociedade brasileira?” 

A diretora executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, foi ao ponto: “Falta vontade efetiva de transformação da parte de todos os entes da nossa sociedade. Em todas as esferas da sociedade: pública, privada e acadêmica. O Movimento Negro está, há muito tempo, apontando caminhos e soluções; indicando como se deve direcionar os investimentos, processos de gestão e, ainda assim, a gente vive fazendo a mesma pergunta. Será que é por falta de resposta ou é por falta efetiva de ação? Temos uma sociedade formada de múltiplas camadas. Esse é um ponto fundamental para dialogar com essa temática.”

Complementando seu raciocínio, Selma Moreira, fez uma análise sobre o que ocorre no mundo corporativo: “Enquanto não tivermos conselhos de empresas e executivos com esse mandato, o de atuar para a promoção da equidade racial, vamos seguir trabalhando de uma maneira muito singela no que se refere à promoção da equidade racial no País”.

Helio Santos, dialogando com o pensamento de Selma Moreira, colocou o dedo na ferida. “Temos que compreender que a sociedade brasileira é doente. A equidade racial é a terapia regeneradora que nossa sociedade não tem. Temos que pensar políticas que acabem com essa sangria dos jovens negros. Nessas três horas de congresso, seis jovens negros morrerão”, disse o ex-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá e atual presidente do IBD (Instituto Brasileiro da Diversidade). 

A questão da invisibilidade que foi imposta à população negra desde a escravidão e que vem permeando a história da formação da sociedade brasileira foi o foco da fala de Sheila de Carvalho, da Uneafro e do Instituto Referência Negra Peregrum. Para ela, as dificuldades atuais têm que ser vencidas pelo diálogo e pelo posicionamento. “Fomos privados do diálogo e da construção de políticas públicas. Por mais que tenhamos um espaço maior agora, ainda há dificuldade de enxergar, de dialogar e dificuldade de trazer essas organizações e movimentos para a mesa dos debates. O racismo só vai ser combatido com ações práticas”, afirmou. 

Reafirmando que as entidades que já lutam contra o racismo e as que pretendem se engajar nessa luta devem começar promovendo mudanças em suas próprias estruturas, o professor Thiago Amparo, da FGV Direito, denuncia que o básico para a mudança da realidade do racismo no Brasil está sendo mal feito. “Trazer mais pessoas negras para as mesas de discussão é o básico do básico em um país que tem mais de 50% de população negra. Precisamos quebrar as fragilidades da branquitude sobre a questão racial. Muitas vezes os brancos vêm para um diálogo para escutar, escutar e escutar. Mas o momento é de mover estruturas. Mover estruturas que os próprios brancos criaram”, disse. 

Abaixo o link da íntegra do 11o Congresso GIFE, disponível no Youtube:

 

Fundo Baobá na Imprensa em 2020

2020 foi um ano repleto de acontecimentos envolvendo a comunidade negra no Brasil e no mundo e, com isso, o Fundo Baobá para Equidade Racial marcou presença nos principais veículos de imprensa, seja firmando o seu posicionamento referente a promoção da equidade racial, ou na divulgação de ações e dos seis editais lançados ao longo do ano. Ao todo foram 138 participações do Fundo Baobá na imprensa.

Fazendo um recorte mensal, em dezembro de 2020, tivemos um artigo assinado pela nossa diretora-executiva, Selma Moreira, para o portal do Instituto Unibanco, falando da importância de promover a educação para os jovens negros de regiões vulneráveis, além da sua entrevista para a Época Negócios, falando do papel da luta antirracista.

A fase final das inscrições do edital de recuperação econômica para pequenos empreendedores negros, também foi destaque na imprensa. Confira os principais acontecimentos no mês de dezembro: 

05/12 – Época Negócios:
https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2020/12/estamos-longe-de-colocar-equidade-e-luta-antirracista-na-pauta.html 

07/12 – Observatório Rio
https://observatoriog.bol.uol.com.br/noticias/futsal-da-diversidade-amistoso-em-cabedelo-reune-comunidade-lgbt 

07/12 – Observatório do Terceiro Setor:
https://observatorio3setor.org.br/observatorio-em-movimento/pandemia-estabeleceu-mudancas-na-captacao-de-recursos/

10/12 – Instituto Unibanco:
https://www.institutounibanco.org.br/conteudo/dia-internacional-dos-direitos-humanos-por-uma-educacao-com-equidade-racial/ 

17/12 – Henrique Barbosa:
https://henriquebarbosa.com/2020/12/17/edital-do-fundo-baoba-em-apoio-a-empreendedores-negros-tem-inscricoes-ate-20-12-e-verba-de-r%EF%B9%A9-30-mil-para-cada-escolhido/ 

17/12 – Jornal de Arujá:
https://jornaldearuja.com/programa-crianca-feliz-de-aruja-conquista-tres-premiacoes-nacionais/ 

17/12 – Tudo em Arujá:
https://tudoemaruja.com.br/noticia/2020/12/4434/programa-crianca-feliz-de-aruja 

22/12 – São Carlos Agora:
https://www.saocarlosagora.com.br/cidade/mova-sao-carlos-realiza-atividade-no-final-de-ano/132345/ 

Apoiadas do Fundo Baobá, são destaque na mídia em 2020

Lideranças, organizações, grupos e coletivos apoiados por editais pelo Fundo Baobá, também tiveram espaço na mídia, como foi o caso das mulheres negras apoiadas pelo Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco que conquistaram uma coluna semanal no portal do Geledés – Instituto da Mulher Negra. Ao todo foram 20 textos postados entre julho e dezembro de 2020.

O coletivo Blogueiras Negras, também apoiado pelo Fundo Baobá no Programa Marielle Franco, divulgou em seu site e redes sociais as principais ações da nossa organização, assim como a de outras apoiadas. 

Falando em apoiados, nomes como a psicóloga, gestora pública na Secretaria de Saúde de Suzano, Magna Barboza Damasceno, através do seu projeto “Racismo e as interfaces com a violência doméstica na Saúde”, foi uma das vencedoras do Prêmio Viva, uma iniciativa do Instituto Avon para dar visibilidade a pessoas que trabalham no enfrentamento à violência de gênero no Brasil. O prêmio de Magna foi destaque em muitos veículos de imprensa, incluindo a Marie Claire, que era um dos parceiros da premiação.

Outra apoiada que também ganhou destaque na imprensa foi a jornalista Jaqueline Fraga. Autora do livro “Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho”, ficou entre os dez indicados ao prêmio Jabuti 2020, o mais importante da literatura nacional, na categoria “Biografia, documentário e reportagem”. Isso gerou matéria no O Globo, no Yahoo, entre outros portais de notícias.

Algumas iniciativas de apoiados do edital de Doações Emergenciais no Contexto da Covid-19, lançado em abril, também foi destaque na imprensa.

Confira abaixo um resumo completo dos principais destaques na imprensa de algumas das iniciativas individuais ou coletivas apoiadas pelo Baobá:

Edital – Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco

06/01/2020 – Guia Negro – “O ano do afroturismo no Brasil: novas empresas, novas viagens, fóruns e redes” – O texto cita Renata Vaz, uma das apoiadas do programa:
https://guianegro.com.br/o-ano-do-afroturismo-no-brasil-novas-empresas-novas-viagens-foruns-e-redes/

14/03/2020 – Ponte Jornalismo – “O espectro de Marielle Franco é a urgência da resistência negra” – Por Diná Alves:
https://ponte.org/artigo-o-espectro-de-marielle-franco-e-a-urgencia-da-resistencia-negra/ 

23/03/2020 – Republica.org – “De um passado enraizado na dor, Eu me levanto” – Por Monalyza Alves:
https://republica.org/mulhereslideresmonalyza

27/03/2020 – Abayomi Juristas Negras – “Trabalho Doméstico e seu histórico escravocrata”:
https://www.abayomijuristasnegras.com.br/post/trabalho-dom%C3%A9stico-e-seu-hist%C3%B3rico-escravocrata

12/05/2020 – Abayomi Juristas Negras – “A Escravizada Anastácia: Santa e heroína”:
https://www.abayomijuristasnegras.com.br/post/a-escravizada-anast%C3%A1cia-santa-e-hero%C3%ADna

29/05/2020 – Justificando – “Não existem normas ou técnicas que salvam as Vidas Negras”:
https://www.justificando.com/2020/05/29/nao-existem-normas-ou-tecnicas-que-salvam-as-vidas-negras/

21/06/2020 – Conversa de Historiadoras – “Estátuas, inadequações e o poder das alternativas” – Por Giovana Xavier:
https://conversadehistoriadoras.com/2020/06/21/estatuas-inadequacoes-e-o-poder-das-alternativas/

24/06/2020 – Escavador – “Giovana Xavier da Conceição Nascimento”:
https://www.escavador.com/sobre/8832405/giovana-xavier-da-conceicao-nascimento 

03/07/2020 – Picosico – Texto por Leandra Silva:
https://picosico.org/m/CCMtzPXnRyB

09/07/2020 – Folha de Pernambuco – “Juristas negras e a luta por espaços no mundo do Direito”:
https://www.folhape.com.br/noticias/juristas-negras-e-a-luta-por-espacos-no-mundo-do-direito/146536/

13/07/2020 – Paraíba Já – “Terceira edição do ‘Uyelê das Pretas’ acontece de 20 à 25 de julho, na PB”:
https://paraibaja.com.br/terceira-edicao-do-uyele-das-pretas-acontece-de-20-a-25-de-julho-na-pb/

16/07/2020 – Correio Braziliense – “Nãnan Matos compartilha conhecimento musical e ancestral com a comunidade”:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2020/07/16/interna_diversao_arte,872830/nanan-matos-compartilha-conhecimento-musical-e-ancestral-com-a-comunid.shtml 

17/07/2020 – Universidade Federal do Rio Grande – “Gutcha Ramil e Dessa Ferreira são as atrações do Janela Musical desta semana”:
https://www.furg.br/en/noticias/noticias-cultura/gutcha-ramil-e-dessa-ferreira-sao-as-atracoes-do-janela-musical-desta-semana

18/07/2020 – Atitude Transversal – “Atitude TRANSversal: Mulher preta transexual tecendo Redes e Ampliando Horizontes”:
https://dandaratitudetransversal.negocio.site/posts/6150661836446010243?hl=pt-BR 

19/07/2020 – Bahia Notícias – “Campanha que divulga profissionais negras de todo o Brasil tem baiana na coordenação”:
https://www.bahianoticias.com.br/noticia/250872-campanha-que-divulga-profissionais-negras-de-todo-o-brasil-tem-baiana-na-coordenacao.html

20/07/2020 – Jornal no Palco – “Dessa Ferreira lança clipe em 25 de julho Dia da Mulher Negra”:
https://www.jornalnopalco.com.br/2020/07/20/dessa-ferreira-lanca-clipe-em-25-de-julho-dia-da-mulher-negra/

21/07/2020 – Revista Afirmativa – “Campanha inspirada em Taís Araújo e Marielle Franco une mulheres negras ao redor do país”:
https://revistaafirmativa.com.br/campanha-inspirada-em-tais-araujo/

22/07/2020 – Matinal Jornalismo – “Dessa Ferreira lança clipe de “Pulso””
https://www.matinaljornalismo.com.br/rogerlerina/agenda/dessa-ferreira-lanca-clipe-de-pulso/

22/07/2020 – Folha de Pernambuco – “Campanha inspirada em Taís Araújo une mulheres negras ao redor do país”:
https://www.folhape.com.br/cultura/campanha-inspirada-em-tais-araujo-une-mulheres-negras-ao-redor-do-pais/148086/ 

30/07/2020 – Instituto Omolara – “O que fazemos?”
https://www.institutoomolara.org.br/#block-33459

31/07/2020 – Unesp Franca – “Mestranda do PPG PAPP foi selecionada pelo Instituto Baobá”:
https://www.franca.unesp.br/#!/noticia/381/mestranda-do-ppg-papp-foi-selecionada-pelo-instituto-baoba/

07/08/2020 – Medium – “Desafio Canções Nossas: Um palco para a música gaúcha independente em meio ao isolamento”:
https://medium.com/@jukebox800/desafio-can%C3%A7%C3%B5es-nossas-um-palco-para-m%C3%BAsica-ga%C3%BAcha-em-meio-ao-isolamento-3820719b14a5

17/08/2020 – RD Notícias – “Projeto Samaúma Literária está reunindo artigos para publicação de um livro digital sobre mulheres negras na Amazônia”:
https://www.escavador.com/sobre/8832405/giovana-xavier-da-conceicao-nascimento

25/08/2020 – Olhar Conceito – “Inscrições para curso para organizações sociais e live sobre racismo e políticas públicas acontecem nesta semana”:
https://www.oestadonet.com.br/noticia/17594/livro-quer-dar-visibilidade-a-producao-literaria-das-mulheres-negras-do-baixo-amazonas/ 

12/09/2020 – Correio do Povo – “Artistas e produtoras gaúchas falam de cadeia produtiva e perspectivas na pandemia”:
https://www.correiodopovo.com.br/arteagenda/artistas-e-produtoras-ga%C3%BAchas-falam-de-cadeia-produtiva-e-perspectivas-na-pandemia-1.479226

21/09/2020 – Universidade de Caxias do Sul – “Seminário on-line aborda heranças indígenas e africanas na música”:
https://www.ucs.br/site/noticias/seminario-aborda-herancas-indigenas-e-africanas-na-musica/

21/09/2020 – G1 – “Workshop sobre Comunicação Estratégica para Organizações Sociais terá nova edição em outubro” – Entrevista Midiã Noelle:
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/09/21/workshop-sobre-comunicacao-estrategica-para-organizacoes-sociais-tera-nova-edicao-em-outubro.ghtml

29/09/2020 – Correio 24 Horas – “Workshop sobre Comunicação Estratégica terá nova edição em outubro – Entrevista Midiã Noelle:
https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/workshop-sobre-comunicacao-estrategica-tera-nova-edicao-em-outubro/  

30/09/2020 – Karen Franquini – “Quem sou eu”:
https://karenfranquini.com.br/quem-sou-eu/ 

05/10/2020 – Marie Claire – “Magna Damasceno: “Seria insuportável saber de histórias de violência e não fazer nada”
https://marie658.rssing.com/browser.php?indx=11170734&item=122241

29/11/2020 – Bem Blogado – “O espectro de Marielle Franco é a urgência da resistência negra”:
https://bemblogado.com.br/site/o-espectro-de-marielle-franco-e-a-urgencia-da-resistencia-negra%C2%B9/

Negras que Movem – Portal Geledés

25/07/2020 – “Autocuidado e bem viver: Algo muito distante das periferias refém de Salvador- Bahia” – Por Luciane Reis:
https://www.geledes.org.br/autocuidado-e-bem-viver-algo-muito-distante-das-periferias-refe-de-salvador-bahia/

01/08/2020 – “Direito à Ancestralidade” – Por Lorena Borges:
https://www.geledes.org.br/direito-a-ancestralidade/ 

08/08/2020 – “Juventude e Política de Morte no Brasil” – Por Jenair Alves da Silva:
https://www.geledes.org.br/juventude-e-politica-de-morte-no-brasil/ 

15/08/2020 – “Meritocracia: Uma Piada de Mal Gosto” – Por Magna Barboza Damasceno:
https://www.geledes.org.br/meritocracia-uma-piada-de-mal-gosto/

22/08/2020 – “Mindfulness pode ser um aliado para lidar com a dor crônica e aliviar os sintomas da depressão” – Por Evânia Maria Vieira:
https://www.geledes.org.br/mindfulness-pode-ser-um-aliado-para-lidar-com-a-dor-cronica-e-aliviar-os-sintomas-da-depressao/

29/08/2020 – “O que nós temos a receber da política?” – Por Joice Santos:
https://www.geledes.org.br/o-que-nos-temos-a-receber-da-politica/

05/09/2020 – “O que se ganha com o que se perde?” – Por Giovana Xavier:
https://www.geledes.org.br/o-que-se-ganha-com-o-que-se-perde/

12/09/2020 – “Quantas professoras negras você já teve na universidade?” – Por Sulamita Rosa da Silva:
https://www.geledes.org.br/quantas-professoras-negras-voce-ja-teve-na-universidade/

19/09/2020 – “Medidas Socioeducativas: insustentabilidade desse sistema repressivo, que já nasceu abortado” – Por Sibele Gabriela dos Santos e Leandro Bozzola Guitarrara:
https://www.geledes.org.br/medidas-socioeducativas-insustentabilidade-desse-sistema-repressivo-que-ja-nasceu-abortado/

26/09/2020 – “Reparação social da população negra através da arte e cultura” – Por Meduza com Z:
https://www.geledes.org.br/reparacao-social-da-populacao-negra-atraves-da-arte-e-cultura/

03/10/2020 – “Eu, uma mulher negra da Geração Z, inventei a minha profissão” – Por Vitorí Barreiros da Silva:
https://www.geledes.org.br/eu-uma-mulher-negra-da-geracao-z-inventei-a-minha-profissao/

10/10/2020 – “Os aliciamentos para fins de exploração no trabalho continuam mesmo com a pandemia” – Por Brígida Rocha dos Santos:
https://www.geledes.org.br/os-aliciamentos-para-fins-de-exploracao-no-trabalho-continuam-mesmo-com-a-pandemia/

17/10/2020 – “Afro Turismo” – Por Renata Vaz:
https://www.geledes.org.br/afro-turismo/

24/10/2020 – “As tantas porteiras desnecessárias” – Por Marina Ribeiro:
https://www.geledes.org.br/as-tantas-porteiras-desnecessarias/

31/10/2020 – “Um livro independente, escrito por uma mulher negra, sobre o sucesso de mulheres negras, entre os finalistas do principal prêmio literário do país” – Por Jaqueline Fraga:
https://www.geledes.org.br/um-livro-independente-escrito-por-uma-mulher-negra-sobre-o-sucesso-de-mulheres-negras-entre-os-finalistas-do-principal-premio-literario-do-pais/

07/11/2020 – “Uma carta de amor às mulheres negras” – Por Mayara Silva de Souza:
https://www.geledes.org.br/uma-carta-de-amor-as-mulheres-negras/

14/11/2020 – “Notas para uma nova geração de políticas antirracistas” – Por Clara Marinho Pereira:
https://www.geledes.org.br/notas-para-uma-nova-geracao-de-politicas-antirracistas/

21/11/2020 – “Tecnologia ancestral” – Por Leandra Silva:
https://www.geledes.org.br/tecnologia-ancestral/

28/11/2020 – “O espectro de Marielle Franco é a urgência da resistência negra” – Por Dina Alves:
https://www.geledes.org.br/o-espectro-de-marielle-franco-e-a-urgencia-da-resistencia-negra%C2%B9/

05/12/2020 – “O SUS que não se vê” – Por Jéssica Remédios:
https://www.geledes.org.br/o-sus-que-nao-se-ve/

12/12/2020 – “Em caso de despressurização racial, máscaras antirracistas cairão automaticamente!” – Por Laiara Amorim Borges:
https://www.geledes.org.br/em-caso-de-despressurizacao-racial-mascaras-antirracistas-cairao-automaticamente/

Doações Emergenciais no Contexto da Covid-19

06/05/2020 – IFB – “Campus Riacho amplia campanha solidária”:
https://www.ifb.edu.br/riachofundo/23865-campus-riacho-amplia-campanha-solidaria  

12/05/2020 –  Mercadizar – “Famílias da periferia de Belém recebem cesta básica do projeto Telas em Movimento”:
https://mercadizar.com/noticias/familias-da-periferia-de-belem-recebem-cesta-basica-do-projeto-telas-em-movimento/  

18/05/2020 – OBIND – “CIR: Em isolamento, comunidade Canauanim recebe alimentos e orientações para se proteger da Covid-19”:
http://obind.eco.br/2020/05/18/cir-em-isolamento-comunidade-canauanim-recebe-alimentos-e-orientacoes-para-se-proteger-da-covid-19/  

07/07/2020 – Século Diário – “Quilombolas pedem atenção do Estado às comunidades”:
https://www.seculodiario.com.br/saude/quilombolas-pedem-atencao-do-estado-as-comunidades  

15/07/2020 – Yahoo – “Mulheres criam mercado solidário para famílias afetadas pela pandemia”:
https://br.noticias.yahoo.com/mulheres-criam-mercado-solidario-para-familias-afetadas-pela-pandemia-133042887.html  

16/09/2020 – Outras Palavras – “BA: Tecnologias sociais para encarar fome e desemprego”:
https://outraspalavras.net/crise-brasileira/ba-saidas-tecnologicas-para-combater-fome-e-desemprego/  

16/09/2020 – Jornal da USP –  “Como combater os efeitos da covid-19 na periferia?” – Entrevista com o Preta ID – Apoiado do Doações Emergenciais: https://jornal.usp.br/universidade/como-combater-os-efeitos-da-covid-19-na-periferia/ 

21/09/2020 – UOL Ecoa – “Alunos da USP criam projeto para combater Covid na periferia de São Paulo” – Matéria com o Preta ID – Apoiado do Doações Emergenciais:
https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/09/21/alunos-da-usp-criam-projeto-para-combater-covid-na-periferia-de-sao-paulo.htm  

27/10/2020 – Correio Braziliense – “Covid-19 mostrou importância do funcionalismo público brasileiro”:
https://blogs.correiobraziliense.com.br/servidor/covid-19-mostrou-importancia-do-funcionalismo-publico-brasileiro/

Quilombolas resistem na luta pela titulação de terras e nas ações pela equidade racial

  Busca de acesso a serviços básicos nas várias comunidades, preservação da cultura, difusão de seu modo de produção com respeito à natureza são prioridades 

Por Wagner Prado

O ano de 2021 começou com o povo quilombola sendo uma das principais notícias no Brasil. As comunidades quilombolas fizeram pressão e o Governo Federal teve que organizar um Plano de Operacionalização para a vacinação nos quilombos.  Quase findado 2021, o que se vê, na prática, é que populações quilombolas em todo o país não foram, efetivamente, priorizadas.  Até o mês de outubro, em quase dois anos de pandemia, apenas 70% dos quilombolas haviam recebido a segunda dose da vacina.  Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 5.972 comunidades quilombolas no Brasil, envolvendo cerca de 16 milhões de pessoas.

O povo quilombola, porém, não se verga. A luta pela titulação de terras é um dos seus principais objetivos. Mas o que é a titulação de terras? É o reconhecimento, por parte do Estado, de que o direito a determinada terra é quilombola, baseado na questão da ancestralidade, da preservação da cultura e da subsistência. O governo federal não fez qualquer titulação nos últimos dois, confirmando o que disse o presidente Jair Bolsonaro quando ainda estava em campanha: “Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena nem para quilombola”. 

Com a ausência de políticas públicas focadas em suas necessidades, a população quilombola tem na resistência a sua força. Articulador nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Biko Rodrigues deu a seguinte declaração à imprensa no final de novembro. “A lentidão coloca as comunidades quilombolas numa situação de extrema vulnerabilidade, uma vez que a maioria do território de uma comunidade não está sob domínio dela, mas de terceiros, muitas vezes fazendeiros. A não execução dessa política coloca a comunidade em vulnerabilidade alimentar, jurídica e política.” 

Biko Rodrigues – Articulador nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas

A fala de Biko Rodrigues, principalmente quando toca na questão da vulnerabilidade, leva ao encontro de duas realizações do Fundo Baobá para Equidade Racial: o edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, lançado em maio de 2021, e o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, lançado em outubro. 

O edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça tem apoio do Google.org, braço filantrópico do Google, e selecionou 12 entidades, cada uma recebendo dotação de R$ 100 mil para execução de seus projetos. As propostas apresentadas teriam que versar sobre quatro temas: a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial.  O Quilombolas em Defesa: Vidas Direitos e Justiça tem como objetivo apoiar iniciativas de organizações quilombolas que promovam a sustentabilidade econômica e geração de renda;  soberania e a segurança alimentar, além de defender os direitos quilombolas nas comunidades. 

Os editais do Fundo Baobá são criados a partir de evidências produzidas pela academia, governos e outros atores estratégicos; análises de contexto e escuta ativa do campo. Portanto, vão ao encontro das necessidades que as populações em situação de vulnerabilidade estejam demonstrando.  No caso do Vidas Negras: Dignidade e Justiça,  as propostas que versavam sobre “Proteção Comunitária e Promoção da Equidade Racial” tiveram inscrições de entidades quilombolas.

 Uma delas a Associação de Jovens Moradores e Produtores Rurais de Santa Luzia do Maranum (Ajomprom), do estado do Amapá, que apresentou projeto para desenvolver e fomentar o “empoderamento” politico-cultural das comunidades negro-quilombolas naquele estado, através da realização de oficinas temáticas e formações inter-geracionais que visem a defesa e efetivação dos seus direitos étnico-territoriais quilombolas e tradicionais em favor da equidade racial. O projeto “Povos Quilombolas Do Amapá: A Luta Pela Garantia E Efetivação De Direitos”, da Ajomprom, reforça a missão da organização,  que se baseia no desenvolvimento e fortalecimento cultural de políticas públicas de promoção da igualdade racial no âmbito do estado.  

A Ajomprom é donatária do Fundo Baobá pela segunda vez em seus 11 anos de criação. Em 2014, foi selecionada para o edital  Redução da Mortalidade Materna em Comunidades Quilombolas do Amapá. A seleção gerou uma grande transformação na Ajomprom que, a partir de lá, experimentou um crescimento importante diante da comunidade com a qual atua. “A  Ajomprom tem o  objetivo de desenvolver o fortalecimento cultural e incidir nas políticas públicas de promoção da igualdade racial, no âmbito do Estado do Amapá. Nos seus projetos e  ações prioriza questões de gênero, juventude e  comunidades remanescentes de quilombolas na luta pelos direitos étnicos territoriais de matriz africana. Também aborda igualmente as pautas estruturais,  como educação, saúde, cultura, habitação, emprego, renda e segurança. O objetivo é zelar pelo cumprimento da legislação protetiva da população negra”, escreveu Josilana da Costa Santos, membra da diretoria da Ajomprom, no formulário de inscrição elaborado pelo Fundo Baobá para o edital Vidas Negras. 

Josilana da Costa Santos – Coordenadora da Ajomprom

Josilana da Costa Santos explica que os objetivos da Associação de Jovens Moradores e Produtores Rurais de Santa Luiza do Maranum fizeram com que as diretrizes voltadas ao combate ao racismo e outros tipos de injustiças ganhasse muito corpo entre eles. “Os africanos que vieram por meio do comércio de escravos tornaram-se os mais numerosos membros deste Novo Mundo, tanto no Norte quanto no Sul da América. Ao longo da história, juntaram-se aos portugueses, indígenas e africanos, pessoas das mais diversas origens, formando o povo brasileiro. Este intercâmbio de povos com experiências históricas distintas enriqueceu-se com trocas de conhecimentos, resultando no vasto patrimônio cultural que se apresenta hoje no Brasil, em especial no Amapá, onde Macapá concentra um significativo núcleo populacional negro. No entanto, o grau de desigualdade que sempre marcou este contato deixou marcas profundas que ainda devem ser superadas. A hierarquia entre os povos de origens diferentes que compõem a nação brasileira está presente em todos os indicadores econômicos e sociais, constituindo-se uma questão relevante para se compreender o Brasil contemporâneo,  algo visto fortemente no norte do país”, respondeu Josilana no mesmo questionário. 

Para a população quilombola de todo o país, a grande vitória  em 2021 aconteceu quando o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o Governo Federal elaborasse, em regime de urgência, um plano de enfrentamento da pandemia da Covid-19 nas comunidades. A decisão foi dada no julgamento da Arguição de Desenvolvimento de Preceito Fundamental (ADPF) 742/2020. O pedido para que houvesse o julgamento foi protocolado pela  Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) em setembro de 2020. A principal reivindicação do documento elaborado pela Conaq estava baseada no baixo acesso que os quilombolas têm, em sua maioria,  às redes públicas de água e esgoto, além do sistema público de saúde. Esses direitos são garantidos pela Constituição, porém não vinham sendo observados. “Foi uma vitória inesquecível. Das vitórias que a gente já teve, essa é histórica, porque é a primeira vez que a gente busca o STF para efetivação de um direito que já é garantido e não estava sendo efetivado. É uma vitória maravilhosa e emocionante, depois de tantas lutas, dificuldades e enfrentamentos desde o início da pandemia”, afirmou Vercilene Dias, assessora jurídica da Conaq, em declaração à imprensa.  

Vercilene Francisco Dias, assessora jurídica da Conaq

Fundo Baobá divulga lista de aprovados para a segunda fase de seleção para o edital de Recuperação Econômica para empreendedores/as negros e negras

O Fundo Baobá, primeiro e único fundo dedicado exclusivamente para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, encerra o ano de 2020 com um importante anúncio: a lista de selecionados para a segunda etapa do processo seletivo do seu edital de Recuperação Econômica para Micro e Pequenos Empreendedores/as Negros e Negras. O edital foi lançado no dia 11 de novembro e as inscrições foram encerradas em 20 de dezembro. Houve 700 (setecentas) inscrições que passaram por criteriosa primeira avaliação para que 595 fossem consideradas válidas. Dessas, 273 passam à segunda fase. 

O edital de Recuperação Econômica leva em conta o suporte necessário para iniciativas lideradas por empreendedores negros e negras, que foram afetadas financeiramente dentro do contexto da pandemia. Os apoiadores da iniciativa do Fundo Baobá são a  Coca-Cola Foundation, o Instituto Coca-Cola Brasil, o BV e o Instituto Votorantim. O segmento do empreendedorismo estima que 14 milhões de afro-brasileiros desenvolvem atividades como autônomos. Destes, 29% são empregadores. Já o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) indica em pesquisa de 2018 que 40,2% dos micro e pequenos empreendimentos brasileiros são comandados por negros e negras. 

Quando a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil, as medidas de isolamento adotadas impactou vários setores. Os pequenos e micros que trabalham na formalidade e na informalidade também foram severamente impactados, pois tiveram que parar, a lucratividade cessou e o desespero da falta de recursos foi se instaurando.   Daí a ação do Fundo Baobá para  Equidade Racial em pensar o edital de Recuperação Econômica e buscar essas importantes empresas parceiras que, somadas, destinaram R$ 1,8 milhão para o socorro aos empreendedores negros e negras. 

A lista divulgada agora considerou como aptas a participar da segunda etapa do processo de seleção as iniciativas que cumpriram com as seguintes características: Ser compostos por 3 empreendedores(as) negros(as) que atuem no mesmo território; que tenham 18 anos ou mais; disponibilidade real para participar das ações propostas pelo edital; que não tenham sido eleitos para cargos no legislativo ou executivo; que não tenham projetos com objetivos políticos/partidários; que não sejam funcionários, cônjuges ou parentes até segundo grau de colaboradores das empresas que patrocinam essa iniciativa (Sistema Coca-Cola e Grupo Votorantim) ou mesmo de membros dos órgãos de governança do Fundo Baobá para Equidade Racial; pessoas que não tenham sido apoiadas pelo Fundo Baobá em 2020 por edital próprio (Doações Emergenciais) ou da Coalizão Editodos. Cada um deles receberá R$ 10 mil, perfazendo R$ 30 mil para cada iniciativa.

Os selecionados desta fase serão convocados para a segunda etapa, a entrevista virtual, a partir do dia 5 de janeiro de 2021. As entrevistas estarão sob responsabilidade da organização FA.vela, parceira operadora do Fundo Baobá para este projeto. Os organizadores esperam que cada um dos três sócios inscritos por iniciativa participem da entrevista, que será agendada com antecedência e realizada pelo sistema de videochamada. Caso os empreendedores/as não possuam acesso à internet, a mesma ocorrerá por chamada telefônica. A entrevista agendada não poderá ser remarcada. 

O resultado final da seleção será divulgado em  fevereiro de 2021

Aqui, o link que leva à lista de selecionados.  

 

Viver com dignidade está muito além de um conceito. É prática em que priorizamos a nós mesmos sem esquecer a prioridade do outro

Dois homens negros que habitam a maior cidade do país, São Paulo. Ambos professores universitários. Um deles é fisioterapeuta e gerontólogo (alguém que estuda e trabalha com processos do envelhecimento) e o outro é um sociólogo  (alguém que estuda a organização e o funcionamento das sociedades humanas e as relações sociais). 

Procuramos saber deles, a partir do conceito do viver com dignidade, quais são suas opiniões sobre alguns temas que permeiam o nosso cotidiano. Os tópicos vão de relacionamento familiar, passando por ativismo político, saúde, racismo e masculinidade. 

Os entrevistados foram o gerontólogo Alexandre da Silva, professor do departamento de saúde coletiva da Faculdade de Medicina de Jundiaí (SP), e o sociólogo Deivison Nkosi, professor na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Campus Baixada Santista, em Santos (SP). Eles não se esconderam de nenhum tema e suas ideias são de grande contribuição para quem deseja pensar uma sociedade progressista, em que o respeito ao outro e a equidade sejam praticados por todes. 

 

PARTICIPAÇÃO POLÍTICA 

Alexandre da Silva Falar de política é não ser partidário. É entender o contexto atual. Quando há discordância política, isso não quer dizer que os discordantes sejam de partidos diferentes. Não quer dizer que sejam opositores. Eu exerço meu direito político todos os dias, pensando em mim e nas outras pessoas. Tento entender quais são as manifestações políticas delas. O exercício político é o exercício da minha cidadania, baseado no fato de que todos nós temos os mesmos direitos. 

Deivison Nkosi –   Minha atuação política se dá por diversos meios. Entendi que a produção intelectual é uma forma de intervenção política importante. É uma forma de ativismo. Então me considero um intelectual orgânico do movimento megro. Mas entendo que a atuação política não pode se limitar à produção intelectual. Então,  procuro  me envolver com os movimentos sociais de combate ao racismo, especialmente aqueles que estão situados no espectro mais à esquerda do universo político. Atuo em contribuição a uma série de organizações de trabalho de base, que fazem tanto trabalhos pedagógicos quanto comunitários. Também tento intervir no debate político sobre temas conjunturais da nossa sociedade, que vão desde as questões sanitárias epidemiológicas (se a gente pensar na Covid-19) até as questões políticas mais gerais, tendo como eixo o movimento negro.

  

RELAÇÃO FAMILIAR

Alexandre da Silva –  Eu estimulo sempre o diálogo. Ele sempre é válido, principalmente quando associado à escuta. Em muitos casos de conflito, com essa receita, a do diálogo e a da importância da escuta,  a gente consegue resolver. E as estratégias de solução nunca passam por qualquer tipo de violência, como falar alto ou coisas assim. 

Alexandre da Silva, gerontólogo, professor do departamento de saúde coletiva da Faculdade de Medicina de Jundiaí (SP)

  

Deivison Nkosi – Entendo sim que a presença familiar é um acontecimento político. Entendo que a minha participação junto à minha família é uma intervenção política. Então, tendo isso em consideração, eu tento conciliar os tempos e os espaços. Isso nem sempre é possível, mas quando a gente percebe a importância política do fortalecimento familiar, a importância das famílias negras para a resistência negra, para a reprodução da nossa existência, mas sobretudo para a criação da possibilidade de existências afetivas e até financeiras, entendemos que esse espaço tem que ser priorizado. Eu venho tentando fazer isso. Sou casado, tenho dois filhos, mas faço parte de uma família ampliada, onde entendo que  influenciar na vida das pessoas da família é contribuir para um mundo melhor e sobretudo contribuir para que mais pretos e mais pretas estejam vivos e estejam bem, além de atentos ao que está acontecendo.

 

ARTICULAÇÕES SOCIAIS

Alexandre da Silva –  Sou apaixonado por gente. Falo com todo mundo: pobres, ricos, velhos, novos, bonitos ou considerados feios. Eu não posso e não se pode agir com preconceito. Trabalho com saúde pública. Trabalho com gente. Eu estudo o envelhecimento, e esse é um fato que acontece na vida das pessoas. O grande problema é que algumas pessoas buscam e legitimam discurso que traduz o que elas pensam e esse movimento de ultradireita do mundo expressa um retrocesso. Já procurei fazer uma análise que não envolvesse o racismo, mas o racismo sempre está presente nesse discurso direitista. 

Deivison Nkosi – As minhas articulações sociais são, sim, permeadas pelo meu engajamento político, mas também pela minha produção intelectual. Eu sou uma pessoa que vem da geração do hip hop; geração que buscava ser,  na prática,  a revolução que procurava ver no mundo. E isso significa trazer para a vida cotidiana determinadas preocupações de gênero, de raça e de classe. Trazer para a experiência cotidiana a preocupação de não reproduzir uma relação coisificada, uma relação reificada com as pessoas. Não tratar as pessoas como propriedade, não tratá-las como coisas que  podem ser descartadas. E estar vigilante com a possibilidade de reproduzir o racismo. Mesmo sendo vítimas do racismo a gente não está isento de reproduzir o racismo. Uma geração  vigilante com a possibilidade de reproduzir as dores e os sofrimentos do racismo e transferir isso para as pessoas com quem a gente convive. Entendo que essas coisas não podem estar separadas e isso significa trazer para o cotidiano aquilo que a gente discute, que a gente teoriza. Trazer para o cotidiano significa  pensar as demandas políticas de gênero, de raça, de classe, de orientação sexual,  tanto no campo pessoal quanto no campo profissional e político como um todo. Senão, podemos defender algo que não vale para nós. Que não vale ser defendido. Então, acredito que seja necessário não perder de vista a necessidade de viver na prática aquilo que a gente defende para o mundo.

Deivison Nkosi, sociólogo, professor na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e Campus Baixada Santista, em Santos (SP)

RELAÇÃO COM OS TERRITÓRIOS DE VIVÊNCIA

Alexandre da Silva –  Tenho amizades duradouras desde aquele tempo. Até hoje procuro me relacionar com vários territórios, pois defendo o direito das populações negras de envelhecer. E as pessoas envelhecem em todos os espaços. Defendo o envelhecimento com dignidade. Em qualquer território. Procuro conscientizar e fazer a pessoa perceber que ter acesso ao que é digno  faz parte do cotidiano dela. É um direito. 

Deivison Nkosi –  A minha relação com os territórios que passo é bastante ambígua. Eu venho da favela,  cresci na favela, brincava no lixão, e vi o processo acelerado de urbanização das favelas. Tive acesso à universidade e depois a um tipo de possibilidade de visitar e conhecer outros territórios além da favela. Inclusive a universidade é um desses espaços. A favela é o meu lugar de origem, mas também eu pude circular e conhecer o mundo e ver que o mundo é muito maior que a favela. A favela tem construções de resistência, mas também tem carências e dificuldades de acesso a algumas coisas fantásticas,   que são comuns  a algumas pessoas. Então, minha relação é de ambiguidade com esse lugar de origem.

 

RELAÇÃO COM A COMUNIDADE

Alexandre da Silva –  Tenho procurado levar às pessoas meus conceitos sobre saúde, doença e cuidados. Procuro conscientizar. Fazer com que as pessoas percebam o que faz parte do cotidiano delas. Procuro expandir os conhecimentos sobre a população negra dentro da minha área, que é a saúde. Tento incutir nelas o valor do lazer, o exercício da intelectualidade e procuro aflorar nelas tudo o que nos desperta como cidadãos. 

Deivison Nkosi Contribuo de diversas formas. Se minha comunidade não é esse lugar onde eu durmo, minha comunidade é muito maior. Minha comunidade é a comunidade negra brasileira, afrodiaspórica do mundo. Minha  comunidade é a classe trabalhadora. Minha contribuição política vai na direção de defesa desses grupos.

Num âmbito mais estreito,  tento participar das atividades do movimento negro na minha cidade, das atividades de bairro da minha cidade, das atividades do meu bairro de origem.  As pessoas como eu, que são intelectuais e que vivem para atuar na pesquisa e difusão  de conhecimento, têm uma responsabilidade para com a sociedade. Aí eu procuro devolver o que acumulo,  participando de atividades que  possam fomentar um trabalho de base, uma conscientização, fomentar o avanço de alguns debates e algumas pautas.

 

SAÚDE E BEM ESTAR

Alexandre da Silva –  Valorizo muito minha prática física e a leitura. Mas isso não é fácil. Se deixarmos, o trabalho acaba nos engolindo. O fato de eu estudar o envelhecimento faz com que eu analise o meu próprio. A maioria da população negra não teve lazer porque trabalhou muito, sempre trabalhou. A população negra morre trabalhando, sem contemplar. O trabalho é importante, mas saber dosar, parar e desfrutar é importante também. 

Deivison Nkosi –  Saúde e bem estar: Isso é uma questão bem importante, porque saúde não é a ausência de doença. Saúde é bem estar psíquico, físico, emocional, mas é também a possibilidade de intervir nas políticas públicas. É a possibilidade de se ver representado nos espaços de poder. É a possibilidade de concretizar projetos de vida. E vivemos em uma sociedade que impede isso a todo tempo. Seja pela classe, pela raça ou pelo gênero. E isso coloca um desafio logo de cara. A saúde da população negra é completamente atravessada pelo racismo no Brasil. O racismo representa uma barreira enorme para uma vivência plena para a qualidade de vida e para o acesso à saúde. Vários dados mostram que a população negra tem menor acesso à saúde e,  ao mesmo tempo,  é mais acometida por uma série de doenças. Então, o racismo representa uma barreira para a saúde da população negra.

 

COMBATE AO RACISMO

Alexandre da Silva –  Tenho feito um trabalho trazendo a discussão do envelhecimento para dentro da perspectiva racial. A questão é sobre como o racismo tem impedido o envelhecimento da população negra. Por exemplo, quando se joga para a frente o tempo exigido para aposentadoria, essa é uma forma de dizer “o negro não”. O Brasil falhou no compromisso com o envelhecimento dessa parcela da população. 

Deivison Nkosi –  Sou um militante do movimento negro,  intelectual orgânico do movimento negro.  90% da minha produção teórica é voltada para o combate ao racismo. Mas também, quase 100% da minha atuação política é voltada ao combate ao racismo.  Estou engajado aos movimentos sociais como um todo. Sou uma das pessoas que dedicam a vida ao combate ao racismo. Isso é pesado em alguns momentos, porque a vida não é só combater. A gente precisa amar, desejar, sonhar, brincar, descansar e muitas vezes a atuação no movimento não dá descanso.

 

IDENTIDADE E MASCULINIDADE NEGRA

Alexandre da Silva – Eu acho que o desafio maior seja a desconstrução do macho, do forte,  que acaba sendo algo que gera muito sofrimento para o homem negro.  Porque as violências acontecem de diversas formas.  Isso limita também as outras expressões de masculinidades. Então, é importante pensarmos que masculinidade negra fala também de diversos gêneros, de diversas possibilidades, trocas de afeto, novas construções. Passa por pensarmos uma paternidade mais presente,  que muitas vezes é confrontada com o imaginário da população de que o homem se relaciona com várias mulheres e não consegue ter uma. Não estou pregando para que voltemos a um modelo judaico cristão. Não. Cada um pode escolher a forma que lhe convém para viver. Mas que a gente possa expandir essa identidade e masculinidades negras. E hoje a gente percebe um movimento grande, forte,  responsável e afetivo de diversos sujeitos, pessoas negras que estão trazendo essas identidades e discutindo essas masculinidades. E isso tem sido um abraço coletivo. Uma forma de todos  nós nos sentirmos pertencentes a esse mundo que sempre foi nosso. 

Deivison Nkosi –  Sobre Identidade e masculinidade é bom separar, porque são duas questões diferentes e que se relacionam. Antes de existir uma Identidade negra havia uma Identidade branca.  O que obriga o negro a afirmar a sua negritude é o fato de ele sofrer racismo. E o racismo se baseia em um identitarismo branco, identitarismo que vê o branco como única expressão de humanidade, beleza, bondade e verdade. O negro, quando aparece, aparece como animal, selvagem, violento, agressivo. Então, é o próprio racismo que cria a necessidade da afirmação da identidade negra. Também  é verdade que uma pessoa negra não é só negra. Ela é um monte de outras coisas. É o racismo que reduz o negro ao negro. Mas o negro é homem, é mulher, é hétero,  é gay,  é bi, é trans, é cis, é trabalhador. Existem várias identidades que perpassam a nossa existência. E mesmo assim a gente não se reduz a elas. Há momentos em que somos pai, somos filhos, somos profissionais de tal profissão, tem momentos que somos moradores de tal bairro.  As identidades não são fixas. Elas estão em diálogo a depender do contexto. O desafio é pensar estas dinâmicas complexas da identidade. Pensar inclusive que um negro não é só um negro. Acima de tudo ele é um ser humano. E nem tudo que um negro vive está ligado à negritude. O negro sofre, o negro ama, o negro tem sonhos, desejos, dores que estão na dimensão humana e ele partilha com outros humanos a expressão dessa experiência. E ainda que haja o racismo e que ele atravesse a vida do negro, o negro não se reduz ao negro. Cada pessoa tem seu próprio jeito de viver a vida. 

Quando pensamos as masculinidades negras, temos que pensar que o machismo privilegia os homens em detrimento das mulheres. Também o racismo  privilegia o branco em detrimento do negro. E isso coloca uma questão para homens e mulheres negras.  A Grada Kilomba (escritora portuguesa)  fala que a mulher negra é o outro do outro. Porque embora ela seja mulher, no feminismo ela deixa de ter a sua experiência considerada. Ela vira um outro em relação à mulher branca. Mas também nos espaços do movimento negro muitas vezes as mulheres negras têm suas pautas invisibilizadas. Então, se a mulher negra é o outro do outro, o que dizer do homem negro?

Promover a equidade racial através da potencialização da educação do jovem negro

No dia 10 de dezembro, quando é celebrado o Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Fundo Baobá para Equidade Racial divulgou em seu site oficial a lista das 100 pessoas selecionadas para o Programa Já É – Educação para a Equidade Racial

O programa foi lançado exatos cinco meses antes, em 10 de julho de 2020, com o objetivo de apoiar 100 jovens negros residentes em bairros periféricos de São Paulo e outros municípios da região metropolitana a acessarem o ensino de nível superior. A iniciativa do Fundo Baobá, em parceria com a Citi Foundation, inclui não só os custos dos estudos em cursinho preparatório para o vestibular e as despesas com transporte e alimentação ao longo do programa. Ele prevê também atividades voltadas para o enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo e para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais. Ainda prevê mentoria com profissionais de diferentes formações acadêmicas, experiências profissionais e de vida.

Educação é um dos quatro eixos nos quais a missão estratégica do Fundo Baobá para Equidade Racial está focada. E não podia ser diferente: o ambiente escolar é um dos mais severos gargalos à equidade racial do Brasil. Dados mostram que o ensino fundamental tem quase o mesmo percentual entre crianças brancas e negras de 6 a 10 anos (96,5% e 95,8%, respectivamente). Mas, na faculdade, a matemática é outra: na média, só 25,2% dos jovens entre 18 e 24 anos cursam ou concluem o ensino superior, segundo o IBGE. Só que o percentual de jovens brancos que frequentam ou concluem o ensino superior (36,1%) é praticamente o dobro do percentual de jovens pretos ou pardos (18,3%) na faixa de 18 a 24 anos.

Não podemos negar que nos últimos anos houve um aumento significativo de pessoas negras nas universidades. Uma pesquisa do IBGE,  de 2018, mostrava que 50,3% dos estudantes do ensino superior da rede pública eram negros, sendo a primeira vez na história que o número de matrículas negras ultrapasava o de pessoas brancas. O Censo da Educação Superior, também em 2018, apresentou uma pesquisa na qual o número de negros no ensino superior saltou 78% entre 2014 e 2018. 

Para a gerente sênior de riscos e continuidade de negócios, Viviane Elias Moreira, o aumento de pessoas negras no ensino superior está atrelado à aplicação de políticas afirmativas e de reparação histórica e social, como as cotas raciais e o Programa Universidade Para Todos (ProUni), instituído pelo o governo federal no ano de 2005: “As medidas afirmativas são a base para que a população negra tenha acesso ao ensino de qualidade e a uma correção histórica educacional voltada à evolução da população negra, e que tenha também acesso a todo suporte pressuposto para que você tenha ensino de qualidade de primeira linha”. 

Viviane Elias Moreira, administradora com ênfase em comércio exterior e gerente sênior de riscos e continuidade de negócios

Para o economista, membro da assembleia geral e um dos fundadores do Fundo Baobá, também fundador do Instituto Cultural Steve Biko e vereador reeleito em Salvador, Silvio Humberto, é evidente que o aumento de negros nas universidades veio de políticas afirmativas, mas que isso não é apenas mérito do governo: “Essas políticas não chegam porque governo decidiu fazer. Você tem um movimento antes e tem sempre que se fazer referência ao movimento negro, ao trabalho pioneiro”. Silvio, inclusive,  menciona o trabalho do Instituto Cultural Steve Biko, que no dia 31 de julho deste ano completou 28 anos de atividades, e foi um dos pioneiros no cursinho pré-vestibular para pessoas negras na Bahia: “Nós falamos que são 28 anos promovendo ações afirmativas, então o que eu diria é que isso, tanto as as cotas raciais, quanto o ProUni, de garantir em escala o acesso de pessoas negras às universidades, tem um nome, tem um movimento anterior, que vem sendo puxado desde os anos 1990, com os movimentos dos cursinhos pré-vestibulares negros, populares e comunitários”.

Viviane Elias, que se formou na universidade antes do surgimento das políticas de inclusão, também é fruto do cursinho pré-vestibular social: “Eu sempre falo que o meu divisor de águas na vida foi o meu curso pré-vestibular, que eu fiz no Núcleo da Consciência Negra na USP, no ano de 1997. Porque lá eu tive acesso a uma possibilidade de ensino pré-vestibular com qualidade, com apostilas de qualidade, que eram elaboradas por um cursinho pré-vestibular muito caro e famoso, na época. Mas principalmente com relação à representatividade, foi ali que eu vi biólogos negros, químicos negros, historiadores negros,  professor de inglês negro e tínhamos também professores brancos que contribuíam e eram aliados ali naquela causa”.

O ingresso do negro na universidade também fica atrelado a uma educação básica de qualidade. Mas uma pesquisa do IBGE, de 2018,  mostra que um terço dos brasileiros entre 19 e 24 anos não havia conseguido concluir o ensino médio naquele ano. Entre os que não conluíram esta etapa, 44,2% são homens jovens negros. Muitos dos motivos que mostram a evasão escolar corresponde ao fato de o jovem negro ingressar mais cedo no mercado de trabalho. Para Silvio Humberto, isso é parte do círculo vicioso da pobreza e ele necessita ser rompido: “A evasão é consequência da vulnerabilidade social em que se encontra a maioria dessa juventude. Então, se você tem uma escola que não oferece os meios e as condições, começam as distorções de idade-série. Jovens  e adolescentes na faixa dos 13 anos começam a migrar para a noite, obrigados a entrar muito mais cedo no mercado de trabalho”. O que também revela outra problemática que afasta  jovens da escola: a gravidez na adolescência: “Muitas meninas, por engravidarem,  têm que ficar em casa pra cuidar não só da sua cria, mas também da família, dos seus irmãos, e tudo isso vai interferindo na sua educação, nas condições para garantir uma educação de qualidade,  de eles terem acesso”.

Silvio Humberto, economista, membro da assembleia geral e um dos fundadores do Fundo Baobá, também fundador do Instituto Cultural Steve Biko e vereador reeleito em Salvador (BA)

Viviane Elias também atribui o ingresso do negro na universidade a uma boa educação de base,  de qualidade, mas também reconhece as problemáticas no ensino básico. Portanto,  ela acredita que o trabalho que precisa ser feito é o empoderador: “Precisamos empoderar jovens negros, mostrando que eles podem ser o que eles quiserem e que existe um mundo de possibilidades para eles”. Muito da fala de Viviane é baseada em sua experiência em trabalho com  jovens de comunidades vulneráveis: “Muitos deles acham que a faculdade ainda é um sonho distante, porque é uma coisa elitista, ou não é para eles. Então,  empoderar esses jovens negros que, sim,  podem entrar em uma universidade e a partir do momento que eles entrarem, o esforço de alguma maneira vai ser considerado dentro do processo dele. Precisam levar em consideração o fato de um jovem negro de periferia levar quatro horas dentro de um ônibus, se ele trabalha o dia inteiro. Para poder entregar um trabalho do dia pra noite, os professores precisam, ao menos, ter sensibilidade de entender que essa pessoa tem algumas restrições para executar o trabalho”.

Silvio também reforça a importância do acompanhamento para esses jovens: “É preciso ter uma visão sistêmica, não vai se combater a evasão escolar somente com esse acompanhamento. Daí a importância do serviço social na educação para poder ir nas causas. Mas precisa também, fundamentalmente, não se perder de vista que é necessário combater a vulnerabilidade social das famílias das quais  esses jovens são oriundos”.

As trajetórias de Silvio Humberto e Viviane Elias incluem instituições particulares de básico. “Eu sou a prova cabal de que a exceção só serve para confirmar a regra”, brinca o economista. O fato de Silvio ter estudado em uma escola particular veio de uma recomendação que a sua mãe recebeu: “Deixe de dar uma boa roupa para o seu filho e dê educação”, sendo assim, os seus pais se esforçaram bastante para que Silvio e os irmãos pudessem ingressar numa boa escola: “Fiz o ensino médio em uma escola de classe média aqui de Salvador, onde a minha realidade era uma e a dos meus colegas era outra, completamente diferente, porque onde eu morava tinha problemas de saneamento, de falta de água, às vezes de energia elétrica, a rua não era asfaltada, era uma área pobre e tinha pessoas também extremamente pobres, embora fosse um bairro extremamente musical, cultural que é a Fazenda Garcia”. Conhecido hoje como reduto musical, o bairro Garcia é um dos mais antigos e tradicionais da cidade de Salvador. Durante muito tempo, recebeu o nome de Fazenda Garcia, por abrigar no espaço a fazenda do Conde Garcia D’Avila. Silvio afirma que ser um aluno negro em uma escola particular, majoritariamente branca, construiu a sua consciência de classe e raça, e que a boa contribuição disso veio de seu pai que, na época, trabalhava como mecanógrafo, consertando máquinas de escrever e de calcular: “Eu era um dos poucos negros dentro dessa escola, mas um conselho que recebi de meu pai quando eu tinha 14 anos foi:  ‘Não se esqueça, você é filho de operário, você não é igual a esses burgueses que estudam nessa escola’. E isso eu nunca esqueci, isso foi a forma dele me falar, do jeito dele, o que era consciência negra e de classe, da minha origem social, para demarcar bem quem eu era e o que eu estava fazendo ali”.

Viviane estudou boa parte do ensino fundamental também em uma escola particular, mas em São Paulo: “Eu fui bolsista no colégio particular até a oitava série e depois, por questões financeiras de não conseguir nem pagar a bolsa, eu tive que ir para um colégio público”. Na época, havia sorteios e uma grande concorrência para ingressar, inclusive, nas escolas públicas: “Eu dormi na fila de um colégio na Vila Formosa, e consegui ser sorteada para estudar no período da tarde, que era o menos disputado, para conseguir ter acesso ao ensino médio de qualidade. E aí foi meu primeiro grande choque com a defasagem de um ensino que eu tive até a oitava série como bolsista em uma escola particular até a  chegada no terceiro colegial,  que era uma escola pública e, mesmo de ponta, era normal por exemplo, na metade do primeiro colegial,  eles estavam ensinando pela primeira vez uma coisa que eu aprendi na sexta série. Então,  eu sempre fui vista como se fosse uma nerd do colégio, mas eu não era. A questão é que eu já tinha tido um ensino diferente dentro do colégio particular”. 

O primeiro vestibular prestado por Silvio foi aos 16 anos: “Entrei na universidade com 17 anos. Dentro da trajetória escolar eu não perdi ano nenhum, entrei na universidade muito cedo, mas era uma exceção, um ponto fora da curva, você se formar, como eu me formei em economia, com 20 anos de idade”. Após prestar um concurso público e não ser chamado, Silvio prestou concurso para auditor fiscal da Secretaria Municipal da Fazenda: “O meu primeiro concurso foi feito no ano de 1984 e eles chamaram em 1985, e de lá são 35 anos como auditor fiscal da Secretaria da Fazenda e depois, em 1993, eu me tornei professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, no curso de Economia”.

Viviane prestou vestibular em duas oportunidades. Na primeira tentativa, foi para o jornalismo: “Não passei para segunda fase por dois pontos, mas passei em uma faculdade particular  e não tive dinheiro para pagar. Então, voltei a cursar meio ano de cursinho em 1998”. Na segunda oportunidade, ela passou em três faculdades: Estudando de manhã e trabalhando como operadora de telemarketing à tarde, o primeiro estágio veio apenas no último ano de curso e foi uma experiência frustrante: “Consegui um estágio no Banco Alfa. Fui contratada para ser estagiária da mesa de câmbio, mas me colocaram como operadora de telemarketing para o processo de concessão de leasing e, quando eu fui ver, eu estava limpando as mesas dos operadores da época. Foi uma das minhas maiores frustrações”, relembra.

Mentoria e carreira

Além de custear o cursinho pré-vestibular para jovens negros e as despesas com ônibus e transporte, o Programa Já É- Educação para Equidade Racial terá programa de mentoria e acompanhamento acadêmico, para que o jovem tenha a possibilidade de se descobrir profissionalmente e escolher a sua carreira, uma coisa que a juventude negra de antigamente nem ao menos sonhava, como relembra Viviane: “Hoje a gente fala de carreira para um menino de 18 anos. Na minha época, as pessoas negras nem sabiam o que era carreira. Ela sabia que era o trabalho. Eu precisava trabalhar para pagar minhas contas, para pagar o aluguel da minha casa, então nem pensava em fazer carreira, eu pensava em ter um emprego e evoluir no emprego para ter mais dinheiro,  para ter uma ascensão social e conseguir o meu grande sonho, que sempre foi comprar a casa dos meus pais e ter os meus objetivos de viajar e conseguir estudar, porque eu sempre gostei muito de estudar”.

Quando surgiu a oportunidade de cursar o seu primeiro vestibular, a voz familiar se fez presente, mais uma vez, na vida de Silvio: “A minha mãe, no alto da sua sapiência, me disse: ‘Meu filho, pobre sabe escolher: ou é medicina, ou é direito, ou é engenheiro, é isso que eu sei. Como eu não posso te orientar, peça a Deus’. Então eu posso dizer que a minha entrada na economia tem a ver com essa força da espiritualidade, que eu acredito muito, que escolheu esse caminho para eu trilhar”. 

Após a experiência traumática com o primeiro estágio, Viviane pensou em uma solução drástica: “Eu decidi que iria hackear o sistema”, frisa. “Enquanto o sistema achar que eu estou seguindo os passos dele, eu estou tentando viabilizar estratégias para que eu consiga hackeá-lo e estar sempre à frente”. Após terminar o curso de Administração com Ênfase em Comércio Exterior, Viviane foi cursar outra faculdade, dessa vez de Processos Gerenciais: “Era uma faculdade de dois anos, que era o que dava para pagar. Mas  depois disso, acabei investindo muito em certificação, principalmente certificações internacionais e estudo de idioma. Posso te falar que todas essas conexões, além dos meus últimos estudos que foram dois MBAs diferenciais para o que eu faço, realmente foram que me possibilitaram hackear o sistema e ter mais chances no mercado de trabalho”. 

 

Silvio, por sua vez, não tinha muita ideia do que era o curso de economia: “Eu não sabia muito o que era, então a forma que o curso foi se desenhando, que a academia de cursos me preparou para ingressar no mercado de trabalho, estava focado em fazer concurso”. E foi na faculdade que Silvio teve o primeiro contato com o movimento negro: “Foi em 1980, eu participei do MNU (Movimento Negro Unificado), fui um dos fundadores do Grupo Negro da UCSAL (Universidade Católica de Salvador) inspirado no grupo negro da PUC-SP”.

 

Promover a equidade racial, potencializando a educação dos jovens negros de regiões vulneráveis,  é a principal premissa do Fundo Baobá, através do Programa Já É: “O Fundo Baobá é formado por líderes visionários. Afinal de contas, quando você vê que jovens de 17 a 25 anos têm acesso a iniciativas como essa. Que essas iniciativas  cobrem todos os pontos de defasagem e ainda disponibilizam um plus, o Fundo Baobá vai proporcionar que essas pessoas tenham acesso à representatividade tangível, que é uma bandeira que eu levanto muito. Representatividade é muito importante, mas quantas pessoas de nós terão acesso a Michelle Obama, por exemplo? Mas quantas dessas pessoas vão ter acesso a uma Fernanda Lopes, a uma Viviane Elias, a uma Selma Moreira? E isso é transformar vidas através de ações afirmativas”. 

 

Silvio também acredita na força e no potencial do Já É, mas também alerta para a importância de estendê-lo  para outros estados do Brasil: “A proposta é excelente, mas só acho que não deveria ficar restrito ao município de São Paulo, apesar de ser lá onde você tem as maiores desigualdades. A gente precisa que esse programa se estenda para o Brasil, e sobretudo para a região Nordeste, é preciso encontrar parceiros, é preciso apoiar as organizações que já existem”, finaliza.

 

Fazendo um retrospecto em sua trajetória profissional, Viviane Elias reforça ainda mais o surgimento de medidas como o Programa Já É: “Eu sou uma profissional de gestão de riscos e gestão de crises, hoje eu componho o pequeno percentual de 2.6% de mulheres executivas nesse país, estou participando do primeiro curso de formação de conselheiras negras deste país, tenho dois MBAs e passagens profissionais por multinacionais e nacionais nos mais diversos segmentos, única e exclusivamente por ações afirmativas como essa do Fundo Baobá. Eu sou o resultado do que ações afirmativas, alinhadas com educação de qualidade e com suporte psicossocial de blindagem contra ações do racismo estrutural, podem fazer. Hoje eu gero receita, procuro praticar o ‘ninguém larga a mão de ninguém’, participo de outros grupos de empoderamento de mulheres e meninas negras da periferia, porque eu sei que uma ação social como essa pode movimentar e mudar vidas”, completa.

Recuperação econômica e fortalecimento de territórios negros é um dos caminhos para a justiça social

No dia 20 de dezembro, encerram-se as inscrições do Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as), iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial, que tem apoio do Instituto Coca-Cola Brasil, Instituto Votorantim e Banco BV, com a premissa de dar suporte financeiro a pequenos empreendimentos, liderados por pessoas negras, em comunidades periféricas ou territórios em contexto de vulnerabilidade socieconômica no país. 

A pandemia do novo coronavírus acentuou as desigualdades em nosso país, o que gera discussões sobre o que significa desenvolvimento econômico. Para o mestre em sociologia e professor na FGV (Faculdade Getúlio Vargas), Márcio Macedo, há controvérsias nas definições e formas de se medir o desenvolvimento econômico: “Para os economistas mais ortodoxos, o desenvolvimento econômico pode ser medido a partir de parâmetros como PIB (Produto Interno Bruto), renda per capita e níveis de consumo da população. O que é considerado nessa forma de se medir desenvolvimento econômico é o tamanho da economia e do mercado consumidor. Hoje somos a nona economia mundial, nosso PIB gira em torno de US$ 1,8 trilhão. Com essa definição, o Brasil se encontra à frente de países como o Canadá. Contudo, se olharmos os índices de competitividade da nossa economia, o Brasil vai para uma posição 34º na lista das economias mundiais. Além disso, se levarmos em consideração o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano – unidade de medida utilizada para aferir o grau de desenvolvimento de uma determinada sociedade nos quesitos de educação, saúde e renda), o Brasil, atualmente, encontra-se na 79º posição no ranking do IDH mundial (uma lista com mais de 180 países), como divulgado pelo PNUD, em 2018”, afirma Márcio. 

Márcio Macedo, mestre em sociologia, professor e coordenador de diversidade da FGV EAESP

Curiosamente, o Brasil encontra-se há três anos nessa posição, o que pode ser considerado uma estagnação. “De forma geral, podemos dizer que o Brasil é um país com grandes desigualdades e paradoxos. Assim, eu diria que não podemos nos considerar desenvolvidos economicamente porque temos uma desigualdade social e econômica enorme”, finaliza.

Para a empreendedora na Ceilândia (DF), formada em serviço social e pós-graduanda em Gestão, Empreendedorismo e Inovação Empresarial, Wemmia Santos, o que dificulta o desenvolvimento econômico e a redução das desigualdades é a manutenção de privilégios das classes favorecidas: “Vale dizer que somos cada vez mais afetados para perder as dimensões que desvinculam o consumo do exercício da cidadania, haja vista que o modelo de inclusão adotado para o desenvolvimento econômico se deu via políticas públicas de estímulo ao consumo de bens e serviços. Ao olhar com mais cuidado para essa estrutura, fica exposta a não opção pela dissolução/diminuição das desigualdades, e também fica evidente que quanto menor seu poder de renda,  menor seu exercício de acesso ao direito de ter direitos. A face dessa realidade desafia a temática de desenvolvimento econômico, bem como denuncia outras restrições no que se refere a questões ambientais e socioespaciais”.

É aprendizado básico de economia que os recursos são escassos e que não é possível dividir com todos, mas para Wemmia Santos é preciso romper com esse mito: “As ‘crises’ e a suposta escassez de recursos são os pretextos utilizados pelo Estado para justificar sua retirada da responsabilidade social, especialmente no campo das políticas sociais. Desse modo, o desenvolvimento econômico que deveria beneficiar toda população, fomentando o acesso à cultura, esporte e lazer com garantia de mobilidade que atenda a todos, é desfavorecido em favor do capital que tenciona a construção de instrumentos baseados unicamente no planejamento público tecnicista que limita a equidade e distribuição justa de bens e serviços, favorecendo apenas os estratos privilegiados”.

Wemmia Santos, pós-graduanda em Gestão, Empreendedorismo e Inovação Empresarial e empreendedora na empresa RAIX

Para muitos, a principal forma de se emergir economicamente é empreendendo, ou,  como dizem, se tornando o seu próprio patrão e dono do próprio negócio. Muito tem se discutido sobre o empreendedorismo, muito se tem estudado sobre os melhores formatos de se investir, empreender e obter lucro, mas, considerando a deficiência no desenvolvimento economico do nosso país, pouco se dialoga sobre a formalização do empreendedorismo negro. Wemmia recorre à história para demonstrar que o debate sobre empreendedorismo, mesmo com a proliferação da internet, está longe de ser algo recente. Ela cita inclusive, a Irmandade da Boa Morte, que teve a sua fundação no século XIX, em Salvador, vindo posteriormente a se estabelecer na cidade de Cachoeira, na Bahia: “As mulheres da Irmandade vendiam quitutes e com o lucro das vendas ajudavam seus afiliados e outros negros, fugidos da escravidão, pagando suas alforrias. Ainda hoje, elas preservam essa motivação inicial, em memória ao sofrimento dos escravizados pela busca da liberdade e, dessa forma, se mantêm um exemplo notório de luta e resistência contra a escravidão. São, portanto, revolucionárias desde aquela época. Transformaram a falha de mercado do sistema escravocrata em oportunidade de viabilizar a liberdade de seu povo. Encontraram e encontram meios para solucionar questões relacionadas à redução da pobreza e desigualdade, em um cenário nada propício à participação ativa da mulher, com ênfase nas mulheres negras”.

Para Wemmia, é importante conhecer a história, justamente para compreender os territórios negros: “Quando resgatamos a história do Brasil, antes mesmo do sistema capitalista, fica evidente a manutenção do racismo estrutural nos territórios que a população negra se concentra e nas faixas de rendimento entre negros e não negros. Para nós é necessário conhecer e preservar a história para, só assim, consolidar ações mais igualitárias”.

É dentro deste contexto histórico que Marcio Macedo acredita que, quando falamos em empreendedorismo negro ou afro empreendedorismo, há uma perspectiva política envolvida.  Ou seja, são negócios de pessoas negras, que podem envolver algum tipo de relação com elementos das culturas negras e ainda ser voltados, de forma prioritária, para o consumo de pessoas negras: “Apesar de isso não ser algo novo, ele tomou um novo significado em um contexto que o mercado consumidor e a economia como um todo passam a ser vistos como  espaços de questionamento da desigualdade racial. Falar que a invisibilidade do empreendedorismo negro é efeito do racismo estrutural e empresarial é simplificar o problema. Entender o fenômeno do empreendedorismo é olhar para as relações entre raça, classes, desigualdades das mais variadas entre negros e brancos,  além da reconfiguração do mercado de trabalho dentro de uma economia neoliberal”.

Pesquisa realizada pelo Sebrae em 2018, a Global Entrepreneurship Monitor (GEM) revela que 40,2% das micro e pequenas empresas no Brasil são comandadas por negros. A mesma pesquisa, também nos mostra que apesar dos empreendedores negros liderarem o número de micro e pequenas empresas no Brasil, quando olhamos para o faturamento é maior a proporção de empreendedores negros que possuem renda familiar mais baixa do que empreendedores brancos e – ao contrário – é maior a proporção de empreendedores brancos que possuem rendas maiores: “Esses números discrepantes seguem a mesma linha ou dimensão da desigualdade vista entre negros e brancos no Brasil. Há diferenças nas formas, modos e tipos de negócios ou empreendimentos de negros e brancos. É preciso abrir os números para verificar com mais acuidade essas diferenças e desigualdades, mas diria que estamos comparando universos bastante distintos”, afirma Márcio.

Outra grande dificuldade da pessoa negra que empreende diz respeito à obtenção de créditos. Um estudo realizado pela PretaHub, em parceria com o instituto de pesquisas Plano CDE e o banco JP Morgan, mostrou que 32% dos empreendedores negros tiveram crédito negado, sem explicação. Márcio Macedo diz que ter acesso a crédito no Brasil é, em geral,  algo bastante difícil e caro e mais ainda para quem é pobre: “Há uma mistura de desinformação, desconfiança e seleção prévia realizada por bancos. O ponto central é: não há linhas de crédito com taxas de juros que não sejam exorbitantes para serem oferecidas para empreendedores e microempreendedores negros, porque a maior parte deles está alocada nas faixas de classe menos abastadas, que sofrem com problemas de formalização ou com questões às vezes bastante simples de serem resolvidas, mas que impedem o acesso ao crédito”.

A Pandemia de Covid-19 acentuou ainda mais as desigualdades sociais e raciais. E, no caso do empreendedorismo negro, um estudo do Sebrae mostrou que durante esse período 46% dos empreendedores estavam com dívidas em atraso. Sessenta e um por cento dos que buscaram empréstimo não conseguiram, mesmo tendo pedido valores mais baixos do que os brancos: “A pandemia afetou todos os negócios, tanto de brancos como os de negros. Contudo, a pandemia também se orientou pelas desigualdades na maneira como afetou de forma desproporcional a população. Ou seja, houve uma socialização desigual dos impactos negativos da pandemia, com um número maior de mortes e perdas de pobres e negros”, ressalta Márcio Macedo. “No caso dos empreendimentos negros, a forma de resiliência tem se dado através de apoio de redes familiares e de amigos. Muitas vezes não necessariamente na manutenção do negócio, mas na tentativa de dar conta das despesas de manutenção pessoal e familiar. Muitos empreendedores negros dependem dos seus negócios para pagar suas contas mensais, ou seja, sua subsistência está vinculada ao negócio. Na impossibilidade do negócio/empreendimento funcionar, algo que ocorreu no período mais crítico da quarentena, boa parte deles ficou sem renda e teve que recorrer à ajuda do Estado, dinheiro vindo do auxílio emergencial liberado pelo governo federal, ou buscou ajuda, como já disse, com familiares ou redes de amigos”, completa.

Com as dificuldades, no contexto da Covid-19, o empreendedorismo negro precisou pautar estrategias de resiliência negra para se manter vivo. Sendo empreendedora desde 2017 à frente da marca RAIX, atuando no ramo do vestuário com a valorização da cultura periférica,  e atuando também na Feira da Quebrada em Brasília e na Loja Colaborativa, Wemmia acredita que uma rede de parcerias com outros empreendedores negros pode ser eficaz na forma de aceleração e apoio de pequenos negócios. Márcio Macedo também vê de forma positiva a rede de parceria entre empreendedores negros: “Essa é uma estratégia que já vem sendo colocada por organizações como a Coalizão Éditodos, que visa captar recursos e apoiar negócios de empreendedores/as negros/as. A aceleração é algo que deve ser feita, contudo, é necessário experiência no universo do empreendedorismo. O processo de aceleração deve ser capitaneado por alguma organização que tem um papel importante e “know-how” no ecossistema empreendedor”.

Pensando nessa experiência no universo do empreendedorismo, Márcio Macedo está à frente do projeto “Raça & Mercado”, uma iniciativa conjunta da FGV EAESP – via FGVCenn e Coordenadoria de Diversidade – Feira Preta, AfroBusiness e Diaspora.Black. O projeto tem como premissa estimular a reflexão sobre o empreendedorismo negro e o fortalecimento do ecossistema: “Entre maio de 2019 e dezembro de 2020 realizamos onze fóruns de discussão nos quais foram convidados pesquisadores, empreendedores/as, empresas, organizações da sociedade civil e setores do Estado para discutir o tema do empreendedorismo negro a partir de diversas perspectivas. Publicaremos um relatório de atividades no início de 2021 com as principais conclusões”.

Atuando em seu território, Wemmia Santos é coordenadora do Programa LECria, (Laboratório de Empreendimentos Criativos) um edital de fomentos para empreendedores periféricos que, a cada ano, doa R $10 mil para 10 empreendimentos. Essa iniciativa surgiu após um estudo territorial: “Estudo realizado pela Codeplan (Companhia de Planejamento do Distrito Federal) aponta que Ceilândia, Águas Claras e Taguatinga são as três Regiões Administrativas com o maior número de microempreendedores individuais (MEI) no setor da cultura, nas atividades artísticas como espetáculos, fotografia e música”, segundo a empreendedora, são empresas criativas que estimulam o mercado e são responsáveis pelo aumento da qualidade de vida na região. “O LECria, tem como objetivo instigar ainda mais o empreendedorismo criativo na construção e ampliação da economia solidária entre a juventude, oportunizando a inclusão de novas formas de empreender nas artes, danças, música, comunicação entre outros nichos”. Completa.

Dessa forma, além de fomentar a criação a Feira da Quebrada, Wemmia traz o conceito de loja colaborativa, como forma de ligar o empreendedor com o cliente: “A loja colaborativa RAIX, na Praça do Cidadão, em Ceilândia, foi criada com o objetivo de fomentar o empreendedorismo entre jovens periféricos trazendo um formato colaborativo, que já é tendência validada, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A ideia é sermos um veículo que conecta o vendedor ao cliente, cedendo o espaço por um valor justo e acessível, espaços compartilhados tem sido uma ótima solução para empreendedores iniciais e de pequena escala que buscam otimização de custos e escoamento de estoque, tendo em vista a impossibilidade de arcar sozinhos valores fixos, como aluguel, manutenção, funcionários, divulgação, dentre outros, fazendo assim que permaneçam por mais tempo na informalidade”, completa.

Márcio acredita que programas de recuperação econômica, como proposto pelo Fundo Baobá, são iniciativas louváveis e importantes para o desenvolvimento e fortalecimento do empreendedorismo negro no Brasil: “É necessário que outras organizações, públicas e privadas, sigam o exemplo do Fundo Baobá com vistas a possibilitar que inovações econômicas e sociais sejam conquistadas através do empreendedorismo de pessoas negras, que beneficia a todos/as, negros/as e não negros/as”. 

Wemmia Santos, que é uma das mulheres apoiadas pelo Fundo Baobá no Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, também reforça o coro: “Se eu não tivesse participado de um edital de fomento, com certeza boa parte das ações que executamos hoje não seriam possíveis. Fico feliz em ver cada vez mais iniciativas que incentivam pessoas negras a buscarem seus sonhos de forma ampliada”.

Representatividade negra nos espaços de tomadas de decisão e educação como ferramenta de equidade racial foram temas de lives com participação do Fundo Baobá

No mês dedicado à consciência negra, a direção do Fundo Baobá para Equidade Racial participou de lives e webinarios falando sobre equidade racial, representatividade negra nos espaços públicos e de tomadas de decisões, a importância da educação como instrumento na redução das desigualdades sociais e raciais e o papel da mídia na cobertura da pandemia do novo coronavírus, doença que escancarou o racismo e acentuou ainda mais as desigualdades em nosso país.

A primeira live de novembro aconteceu no dia 5, dentro do projeto “Redes&Raízes” do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, em parceria com o Observatório da Juventude do UNFPA, e contou com a participação da diretora-executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, no treinamento “Captação de Recursos para Organizações”. Selma exemplificou para os jovens presentes o conceito de captação e como deve ser realizado: “Captação é igual negócio, você precisa investir para ter retorno. Tem que pensar quais são os recursos disponíveis para trazer o investimento. Isso não acontece magicamente”.

Durante o evento virtual, o participante do Observatório da Juventude da UNFPA, Hugo Sabino dos Santos, fez o seguinte comentário: “A apresentação da Selma me trouxe muitas reflexões sobre entender o lugar de quem está nessa posição de captador. Entendi o quão necessária é a minha formação sobre o conhecimento da instituição em que trabalho, porque, possivelmente, também eu esteja dentro dessas reuniões, desse discurso e dessa troca de captação”.

Diante dessa reflexão, Selma respondeu: “A gente tem uma equipe bem pequena no Fundo Baobá, mas todo mundo tem que ser captador, isso não significa que vai estar sempre à frente [da captação]. Se, às vezes, você vê uma oportunidade ou lê um edital, mas se não está conectado com a alma da organização, pode deixar passar”.

No dia 26, Selma Moreira retornou para outra formação do “Rede&Raízes” sobre captação de recursos, que teve a participação de 19 jovens representantes de coletivos, organizações e iniciativas para as juventudes negras. Selma apresentou passo a passo para que as entidades possam se afirmar, citando por exemplo, a criação de alinhamentos institucionais estratégicos. Além de construir um planejamento orçamentário, um plano de mobilização de recursos buscando pessoas e parceiros para dialogar e criar estratégias de captação. “O trabalho de captação pelos coletivos possuiu uma camada a mais, que é a camada da barreira jurídica. Existe o desafio do tempo presente, as organizações não estão preparadas para lidar com coletivos (grupos que não sejam formalmente constituídos como organizações da sociedade civil). É uma questão do nosso modelo jurídico, muitas vezes o projeto tem conexão, mas não tem institucionalidade – dado que o coletivo não tem CNPJ.” 

Segundo a diretora-executiva do Fundo Baobá, o ambiente e a visão de empresas estão em transformação e as organizações da sociedade civil podem auxiliar neste processo: “Parte do nosso trabalho é construir caminhos e deixar nítido para as instituições que esses pontos não devem ser encarados de maneira superficial”.

A cobertura completa do evento, você pode acompanhar na matéria completa no site oficial da UNFPA

O curso virtual “Raça, Gênero, Democracia e Participação Política no Brasil”, uma iniciativa do Instituto Geledés da Mulher Negra, em parceria com a Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo, contou com nove aulas semanais, dos dias 22 de setembro a 17 de novembro. E no dia 10 de novembro, aconteceu a aula de número oito, com o tema Promoção da Equidade de Raça e Gênero, e teve a participação da diretora-executiva do Fundo Baobá, pós-graduada em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, pela Escola de Comunicação e Artes da USP e MBA em Gestão e Empreendedorismo Social, pela FIA,  Selma Moreira, ao lado do doutor em sociologia e pós doutor no departamento de estudos africanos e da diáspora africana pela universidade de Wisconsin, Sales Augusto dos Santos, com a mediação da professora e mestre Suelaine Carneiro.

Em sua fala, Selma apresentou o trabalho do Fundo Baobá e destacou: “Um dos desafios que nós temos é como conseguir constituir a pauta da equidade racial em uma conversa para todo o mundo. Hoje o movimento negro tem feito um esforço hercúleo para entrar em mentes e corações, e eu acho que a gente consegue sonhar quando a gente alcança esse espaço, nessa perspectiva do quanto é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, mais equânime e mais inclusiva, conseguir entender as diferanças e, a partir delas, dar um passo para o nosso próximo momento como sociedade.” 

Selma aproveitou para frisar a importância de se trabalhar com investimentos focados na promoção da equidade racial no país: “A gente vive um momento, em todo o mundo e,  principalmente no Brasil, onde negar a existência do racismo, fazendo um discurso só com uma perspectiva de classe, não é mais suficiente, em função de todos os movimentos realizados, promovidos historicamente pelo movimento negro. A gente chegou em um momento que não se permite mais negar a necessidade de investimentos focados. As organizações como o Fundo Baobá, que fazem parte da Rede de Fundos para Justiça Social, tem promovido esse diálogo, na perspectiva de repensar os seus investimentos, mas também de pensar os seus times; trabalhar na perspectiva de inclusão; trabalhar as relações raciais, tanto no escopo programático, da forma como se investe e qual o diálogo é feito com o campo, mas também em um olhar interno. Eu diria que esse discurso, ele tem aberto espaço para dialogar com as empresas onde ainda há resistência e uma certa timidez”.   

Confira a aula completa aqui

Selma Moreira, também participou no dia 17 do evento internacional “Moving Forward: Rebuilding a More Just and Equitable Educational Future” (Seguindo em frente: reconstruindo um futuro educacional mais justo e equitativo), organizado pela WISE, que é uma plataforma internacional multissetorial para pensamento criativo, debate e ação proposital, promovendo a inovação e construindo o futuro da educação por meio da colaboração. Selma contextualizou o cenário educacional em nosso país, enfatizando as desigualdades raciais existentes no processo, apresentando dados alarmantes: “Um rápido olhar sobre a questão do racismo no Brasil e seu impacto na educação de jovens negros apresenta números que chocam, pois os negros correspondem a 56% da população brasileira, mas quase 10 a cada 100 negros com idade acima de 15 anos não sabem ler e escrever. A taxa de analfabetismo é 3 vezes maior em negros que em brancos. 76% dos jovens brancos entre 15 e 17 anos estão matriculados no ensino médio, entre negros, este número cai para 62%. 55,8% de brancos concluem o ciclo básico de educação, entre negros o número cai para 40,3%”. Selma também usou o espaço para falar sobre a atuação do Fundo Baobá na promoção da equidade racial no país: “Junto com Desenvolvimento Econômico, Viver com Dignidade, Comunicação e Memória, Educação é um dos eixos que definimos para a atuação do Baobá – que atualmente é o único fundo brasileiro que se dedica, exclusivamente, à promoção da equidade racial para a população negra. Tanto que este ano, mesmo em meio à pandemia do coronavírus, o Fundo Baobá lançou um edital, em parceria com a Fundação Citibank, para preparar jovens da periferia de São Paulo, a maior cidade do país, a alcançar o ensino superior”. O Programa Já É – Educação para Equidade Racial, citado por Selma, inclui o custeio dos estudos em cursinho preparatório para o vestibular e as despesas com transporte e alimentação ao longo do programa, que deve ter duração de 12 meses, além de atividades voltadas para o enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo e para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais, incluindo programa de mentoria.

Confira abaixo

No dia 25 de novembro, o presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Giovanni Harvey, mediou uma importante discussão: Onde estão os negros no Serviço Público. Segundo dados do IPEA (Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada),  divulgados este ano, o número de funcionários públicos no Brasil é de 11,4 milhões nas esferas federal, estadual e municipal. 

Embora o governo não torne público dados do número de funcionários por recorte de cor ou raça,  estima-se que apenas 35% dos postos do serviço federal são ocupados por negros. A Prefeitura de São Paulo é a única no País a ter um recorte por raça e cor dos seus funcionários: 28,6% deles, ativos da Prefeitura de São Paulo são negros. E eles têm participação maior nos quadros de nível básico, em que representam 48%. 

Foi para discutir caminhos para um maior acesso dessa população que o Instituto República chamou, Matilde Ribeiro, ex-ministra da Seppir (Secretaria de Políticas para Promoção da Igualdade Racial), Eloi Araujo, ex-ministro da Seppir (Secretaria de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial) e Paulo Paim, atual senador da República pelo estado do Rio Grande do Sul. 

Giovanni Harvey que também já atuou em diferentes instâncias de governo, iniciou o debate com uma indagação sobre como é possível contribuir para uma diversidade de pessoas no serviço público. 

Para Matilde Ribeiro “a gestão, no sentido do desenvolvimento, tem que ser democrática, participativa, visando o bem comum. Pessoas em diferentes posições no jogo, mas o jogo deve ser jogado por todos. Já as ações afirmativas, como forma de construção de Justiça diante de situações de desigualdade, passa pela  ação por construção de diversidade, construção de inclusão, construção democrática de participação e construção do desenvolvimento igualitário. As duas coisas, portanto, têm total conexão”, afirmou.  

O senador Paulo Paim, corroborando com o pensamento de Matilde Ribeiro, enalteceu em sua fala as importantes contribuições que as várias vertentes do movimento negro deram para a construção de políticas inclusivas dentro do funcionalismo público e em outros segmentos do trabalho. “A criação do Estatuto da Igualdade Racial é uma das grandes vitórias do movimento negro brasileiro. Foi por intermédio dele que, em 2014, foi estabelecida a Lei de Cotas no Serviço Federal, a Lei 12.990/14. Um benefício para muitos que estavam à margem desse processo de sequer poder aspirar a um cargo na esfera pública federal”, afirmou. 

Embora exista uma Lei de Cotas, para o ex-ministro Eloi Araujo isso ainda não é o suficiente. A reivindicação tem que ser maior. “Quero pensar sobre como somos minoria na administração pública. Os números divulgados pelo IPEA dão conta da minoria absurda que é a comunidade negra na administração pública. Na diplomacia não somos 6% de negras e negros. Entre embaixadores não contamos 10 negros. e negras. Na auditoria da Receita Federal,  não chegamos a 15% de negros e negras”, disse. 

Para Araujo, é preciso maior avanço na presença negra no serviço público de uma forma geral. Para isso, ele pede uma mobilização. “Temos que avançar em algumas políticas públicas. Criar protocolos rigorosos no sentido de proteger a saúde, proteger a vida de negros e negras que são ofendidos nas favelas. Que são ofendidos pelo Estado brasileiro. Criar protocolos rigorosos  para avançar nas políticas de ação afirmativas, notadamente nas políticas de cotas. Essa é a forma mais intensa de avançar com a perspectiva educacional, uma perspectiva de ingressar a juventude negra na universidade. Agora que o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) ganhou esse conceito constitucional, temos que estimular a juventude negra a ir para as universidades e prestar concursos públicos para todos os cargos da administração pública superior”, afirmou.

Acompanhe a live completa abaixo

No mesmo dia, a diretora de programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, foi uma das convidadas da live “Um olhar para a mídia negra no ‘novo normal’: Potencialidades e desafios”, organizada pela Revista Afirmativa, em parceria com o Lab Afirmativa de Jornalismo, que marcou o lançamento do Ebook “Narrativas Afirmativas em Tempos de Pandemia”. O evento mediado pela jornalista Alane Reis contou também com Thales Vieira (Instituto Ibirapitanga), Lígia Batista (Open Society Foundation), Atila Roque (Fundação Ford), Rosana Fernandes (Cese), Taciana Gouveia (Fase), além da estudante de jornalismo, Andressa Franco, e da jornalista recém formada, Brenda Gomes, ambas contribuíram na produção do Ebook.

As estudantes de jornalismo, Andressa Franco e Luana Gama, escreveram a matéria “Emprego, renda e Covid-19: O impacto da pandemia na vida dos trabalhadores negros”, que narrou histórias de pessoas como o jovem Matheus Cardoso, que mora no bairro de Pernambués em Salvador (BA), e durante a pandemia passou a trabalhar como entregador de comidas por aplicativo, após ser dispensado do estágio em uma academia. Assim como também nos apresentou a vida de Darcilene de Jesus, moradora do bairro Engomadeira em Salvador (BA), que trabalha como diarista. Antes da pandemia, ela fazia faxina três vezes por semana na casa de uma senhora que morava com a filha. Após as medidas de isolamento social foi dispensada pela patroa, que faz parte do grupo de risco. Sem carteira assinada, sem benefício algum e com um filho de três anos, Darcilene passou a receber o auxílio emergencial.

Para Andressa Franco, escrever essa matéria e acompanhar esses relatos “foi muito mais do que contar histórias, foi a oportunidade de ter empatia com todas elas. Nós conseguimos construir novas perspectivas para o futuro”.

Brenda Gomes, por sua vez, ao lado da estudante de jornalismo, Thaís Vieira, assinou a matéria “Mirtes Souza e Danúbia Silva: Mães entre a saudade e a revolta”. O texto conta a história de “Duas maternidades que foram interrompidas durante a pandemia”, alerta Brenda. A história de Mirtes ficou conhecida no Brasil todo. A empregada doméstica de Pernambuco, que saiu para levar os cachorros dos patrões para passear e deixou o filho, Miguel, no apartamento junto com a patroa e primeira-dama da cidade de Tamandaré (PE), Sari Corte Real. A criança saiu do apartamento de Sari, no 5º andar, para procurar a mãe e foi até os elevadores do condomínio. A patroa acionou a tecla do elevador que dá acesso à cobertura. Miguel parou no 9º andar, escalou um vão e alcançou uma unidade condensadora de ar, se desequilibrou e caiu do prédio.

Brenda Gomes também contou a história da baiana Danúbia Santos,  que perdeu o seu filho Marcus Vinícius, de 21 anos. Ele saiu de casa para comprar bolo para celebrar o aniversário de 1 mês do seu filho e foi atingido por tiros e chutes na costela, durante uma operação da polícia militar.

Mediando o bate-papo, Alane Reis ressaltou que histórias como as de Danúbia, Mirtes, Darcilene, Matheus e muitas outras registradas no Ebook só foram contadas porque a mídia negra cumpre essa função de contar a sua própria história: “Somos nós falando de nós para todo o mundo”. Alane ainda citou que há 65 mídias negras no Brasil e que esse trabalho pode se intensificar ainda mais se houver uma unidade: “Apesar da mídia negra ser tão forte, existe uma necessidade que a gente dialogue mais”.

Lígia Batista, da Open Foundation Society, também ressaltou a importância histórica da atuação das mídias negras em nosso país, principalmente em tempos de pandemia, onde se acentuaram ainda mais as desigualdades: “A mídia negra tem o papel de ressignificar a nossa história, acabando de uma vez por todas com o mito da democracia racial”.

“São as mídias negras que movem a estrutura narrativa, elas são as placas tectônicas narrativas”, diz Thales Vieira do Instituto Ibirapitanga: “Afinal de contas, as histórias estão sendo contadas o tempo todo, mas quem está contando as nossas histórias e como estão contando?” questiona.   

O diretor-executivo da Fundação Ford para Brasil e América Latina, Atila Roque, fez questão de ressaltar a importância da produção do Ebook ter sido feita por 11 jovens negros, além de as equipes de editoração e diagramação também serem negras: “É impossível não olhar para essas carinhas e não ter uma explosão de esperança e um sopro de visão de futuro, Nós precisamos redimensionar as nossas possibilidades de reimaginar o Brasil.”

Fernanda Lopes, ressaltou que o direito à informação é um direito humano e que a mídia negra cumpre o papel de informar e fazer valer esse direito, ao construir novas narrativas: “É importante reiterar esse lugar do jornalismo de escrevivência, que retrata a sociedade brasileira nessas diferentes dinâmicas, sendo a forma de oferecer para a sociedade a oportunidade de mudar paradigmas, desnaturalizar estigmas, construir novas representações sociais e um novo imaginário coletivo sobre a população negra brasileira”. Por fim, a diretora de programa do Fundo Baobá afirmou: “O futuro é a transformação e o novo normal é a mudança”.

Para Taciana Gouveia, da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), e grande parceira do Lab Afirmativa de Jornalismo desde 2016, não há nada de novo para as populações mais vulneráveis, no contexto da pandemia do novo coronavírus: “Não há nada de novo na forma como vivem as favelas, as populações vulneráveis e LGBT+, quem é privilegiado, continua sendo privilegiado. Não existe novo normal”.

Rosana Fernandes, da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), também traz a sua visão crítica para o chamado “Novo Normal”: “O normal pra gente é isso que a gente vê todos os dias, é isso que está no Ebook, essa tragédia cotidiana, que nós mulheres, homens negros, particularmente, vivenciamos todos os dias, a juventude que é exterminada e a mulher que tem o seu filho morto por uma bala perdida, que na verdade é uma bala acertada”. 

 Leia gratuitamente o Ebook Narrativas Afirmativas em Tempos de Pandemia aqui. E acompanhe a live completa abaixo.

Baobá na imprensa em novembro

O penúltimo mês do ano foi de muitas atividades e participação na mídia para o Fundo Baobá para Equidade Racial, sendo a principal o lançamento do Edital de Recuperação Econômica, que tem como foco fortalecer pequenos negócios liderados por negros, que representam a maioria dos empreendedores no Brasil.

O edital nasce do duplo reconhecimento de que pessoas negras que empreendem sofreram mais com a recessão econômica provocada pela pandemia e de que são eles que podem gerar maior inserção social ao se recuperar e se desenvolver. 

Foi dada ampla divulgação ao edital, com destaque importante para as entrevistas concedidas à Rádio Bandeirantes e ao Portal R7 que, por sua abrangência, conseguem chegar ao público ao qual o edital se destina. Portais negros, como Jornal Empoderado, Mundo Negro e Notícia Preta, também  fizeram reportagens sobre o tema.

Para fechar o mês, uma importante parceria foi estabelecida com a Google, com a doação de  US $400 mil para viabilizar projetos de promoção da justiça racial e combate à violência contra a população negra. Esse valor equivale a algo em torno de R $2,1 milhões.

EDITAL DE RECUPERAÇÃO ECONÔMICA

11/11 – Mundo Negro

11/11 – Jornal Empoderado 

11/11 – MS Pontocom

19/11 – Notícia Preta

19/11 – Rádio Bandeirantes – Áudio

20/11 – Band

20/11 – Época Negócios

25/11 – R7 

13/11 – Folha de São Paulo 

16/11 – Exame

 

PARCERIA GOOGLE

Imprensa

19/11 – Folha de S. Paulo

20/11 – Canaltech

20/11 – Forbes

20/11 – Yahoo

20/11 – TI Bahia

20/11 – TI Inside

20/11 – Revista Raça  

23/11 – IP News

23/11 – Channel 360º

 

Canais Google

20/11 – Twitter Google Global (In English)

20/11 – Blog do Google Brasil

20/11 – Blog do Google (In English)

25/11 – Twitter Google (Em Português)

 

CASO CARREFOUR: 

24/11 – Folha de São Paulo – Entrevista Giovanni Harvey

Fundo Baobá divulga a lista de selecionados para Programa Já É: Educação para Equidade Racial

Hoje, 10 de dezembro, celebramos o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Foi também em um dia 10 de dezembro, no ano de  1948, durante a assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), em Paris (França), que foi instituída a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Composta por 30 artigos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos traz os direitos que todo ser humano tem ao nascer e ao longo de toda vida, entre eles, está a educação. No 26ª artigo diz que “Todo ser humano tem direito à educação”, e ainda reforça que “A educação será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais”.

Acreditando na importância da educação para a promoção da justiça social, que o Fundo Baobá para Equidade Racial, com o apoio da Citi Foundation, lançou o Programa Já É: Educação para Equidade Racial.

Lançado no dia 10 de julho de 2020, para apoiar 100 jovens negros, residentes em bairros periféricos de São Paulo e outros municípios da região metropolitana, a acessarem o ensino de nível superior. O programa inclui não só os custos dos estudos em cursinho preparatório para o vestibular e as despesas com transporte e alimentação ao longo do programa.

Ele prevê também atividades voltadas para o enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo e para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais e ainda mentoria com profissionais de diferentes formações acadêmicas, experiências profissionais e de vida.

O Programa Já É, teve 245 pessoas inscritas, até o encerramento das inscrições no dia 9 de agosto de 2020. A segunda etapa de seleção do edital foi classificatória e aconteceu dentro do período de 05 de outubro a 10 de novembro. Foram convidados para a entrevista 211 candidatos, no qual 120 participaram da entrevista.

Hoje anunciamos as 100 pessoas selecionadas para participar do Programa Já É: Educação para Equidade Racial. Confira abaixo a lista em ordem alfabética:

1 – Alan David Vieira Hildebrando
2 – Aline Castro
3 – Ana Claudia Rocha de Souza
4 – Ana Júlia Melo de Lucas
5 – Ana Maria Silva Oliveira
6 – Ângela Ferreira da Silva
7 – Antonio Gustavo Ribeiro Da Silva
8 – Aretha Victoria Ramos dos Santos
9 – Barbara Oliveira Guimaraes dos Santos
10 – Beatriz Moreira Passos da Silva
11 – Beatriz Sampaio do Nascimento
12 – Bianca Paixao Silva
13 – Bruna Cypriano da Silva Pacheco
14 – Camila Carvalho Santos
15 – Carlos Eduardo de Castro Cerqueira
16 – Caroline Cristina Santos Gino
17 – Cherisch Dantas Invangelho
18 – Clarissa Beatriz Da Costa Bulling
19 – Eduardo Silva de Souza
20 – Emily Tauany Souza Andrade Pereira
21 – Erick dos Santos Rodrigues
22 – Fernanda Ferreira dos Santos
23 – Flavia Martins de Santana
24 – Gabriel Lima Viana Silva
25 – Gabriella Beltrão Martins Mota
26 – Gabrielly Maria Silva
27 – Geovana de Carvalho Teles de Amorim
28 – Geovanna da Silva Melo
29 – Giovanna Oliveira Correia da Silva
30 – Giovanna Vitória Dos Santos Xavier
31 – Gustavo de Jesus Oliveira
32 – Gustavo de Jesus Soares
33 – Ikaro Ricardo Sampaio Cruz Vieira
34 – Ione Vitor Mendes
35 – Isabella Alcantara dos Santos
36 – Isabella Amaro da Costa Oliveira
37 – Isaque Rodrigues de Oliveira
38 – Izabel dos Santos Neimeir
39 – Jaini Da Silva Macedo
40 – Jakeline Souza Lima
41 – Jefferson Luis Ramos do Nascimento
42 – Jessica Santos Paixão
43 – João Gabriel Ribeiro dos Santos
44 – João Pedro Araújo da Silva
45 – João Victor dos Santos Bezerra
46 – Joyce Cristina Nogueira
47 – Julia Camile Da Silva Santos
48 – Julia Firmino Gabriel
49 – Karine Lopes dos Santos
50 – Kerollyn Silva Alves
51 – Ketlen Leandra Carvalho
52 – Laiza Catarine Ferreira Diniz
53 – Larissa Araujo Aniceto
54 – Laryssa Lorrany Gonçalves de Oliveira/ Leonardo
55 – Laura Tatiana Alves Mendonça Prates
56 – Laysa Stefani de Almeida Brito
57 – Leandro Gomes de Oliveira
58 – Livia Ferreira Estanislau
59 – Luana Silva Santos
60 – Lucca Catherine Ferreira dos Santos
61 – Luiz Benedito Ferreira de Oliveira
62 – Luiz Fernando Muniz Oliveira
63 – Luiz Vinicius Reis Silva
64 – Luíza Firmino Gabriel
65 – Maria Eduarda Da Silva Souza
66 – Mateus Gomes dos Santos
67 – Maura Maria de Araujo Ramos
68 – Max Juan Oliveira Santos
69 – Mayara Maria Malta
70 – Maysa Silva Dias
71 – Melissa de Jesus Calixto Costa
72 – Micheli Karoline da Silva Santos
73 – Murilo Alves de Oliveira
74 – Naomi Brito
75 – Natália dos Anjos Oliveira
76 – Natalini Santos de Jesus
77 – Natan Conceição da Silva Santos
78 – Natanael Teodoro dos Santos
79 – Nayara Silva de Oliveira
80 – Nicholas Welington Crisologo Gonçalves
81 – Paulo Vicco
82 – Raphaela Dos Santos Moura
83 – Raquel Pinheiro De Carvalho
84 – Rayane Jesus Santos
85 – Rayanne Caetano da Silva
86 – Rhasna Neves Ferreira
87 – Rubianne Yasmini de Paula Araujo
88 – Tallita Soares de Andrade
89 – Taluma Gabriely Sousa Ferreira
90 – Taynara Silva Santos
91 – Thais Vieira Costa
92 – Thauany Christina Gabriel Aniceto
93 – Thereza Eliete Oliveira Ribeiro/ Breno Oliveira Ribeiro
94 – Vanessa da Silva Souza
95 – Victor dos Passos Moreira
96 – Vinicios Gabriel Salatiel
97 – Vinicius Ribeiro
98 – Vitoria de Jesus Damasceno
99 – Vitoria Nunes
100 – Wellington Marcelino

Parabéns a todas as pessoas selecionadas. O Fundo Baobá para Equidade Racial entrará em contato por e-mail com todos vocês. As aulas começam em março de 2021, mas em fevereiro haverá encontro virtual para orientações gerais. Também nesse mês acontece a assinatura do contrato de bolsa e benefícios.

As e os jovens selecionadas(os) pelo Programa JÁ É serão periodicamente avaliadas por profissionais especializados em relação ao seu desempenho e performance no processo preparatório para o vestibular e, além disso deverão frequentar as atividades obrigatórias e apresentar relatórios periódicos de progresso, seguindo as orientações e formulários disponibilizados pelo Fundo Baobá.

Caso haja desistência, as pessoas que estiverem na lista de espera serão convocadas. A convocação irá acontecer no início de março de 2021.

Confira a lista de espera em ordem de classificação

LISTA DE ESPERA EM ORDEM DE CLASSIFICACAO
1 – Alice Silva Gomes
2 – Anna Beatriz da Silva Garcia
3 – Caroline Vitória Rocha Dos Santos
4 – Kenya Cristina S. Pereira
5 – Karina Leal de Souza
6 – Joselaine Romão Soares
7 – Malcolm Da Silva Barreto
8 – Thiago Nery da Silva
9 – Thaís Lopes de Souza
10 – Thais Sousa Silva
11 – Luiz Felipe Motta da Silva
12 – Heloisa Cristina
13 – Marcos Agostinho da Silva Filho
14 – Ewerton de Jesus Lima
15 – Pietra Isabelle dos Reis

 

Nota Oficial sobre o assassinato do Senhor João Alberto Silveira Freitas

Nota Oficial sobre o assassinato do Senhor João Alberto Silveira Freitas

As instâncias de Governança do Fundo Baobá para a Equidade Racial expressam, em nome de todas as pessoas que fazem parte da instituição, a mais absoluta perplexidade, indignação e repulsa com a sequência criminosa de atrocidades perpetradas por “seguranças” da rede Carrefour, na noite de ontem, dia 19 de novembro de 2020, nas dependências de uma das unidades da rede, localizada na cidade de Porto Alegre.

Os empreendimentos comerciais e as instituições públicas não podem mais continuar a se eximir da adoção de medidas de prevenção e nem, tampouco, continuarem a terceirizar as suas responsabilidades em episódios desta natureza.

O assassinato de um cidadão negro, por dois pretensos “seguranças”, supostamente vinculados à empresa Vector Segurança, sendo um deles integrante da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, é um crime bárbaro cujas consequências não podem, mais uma vez, serem geridas dentro da “zona de conforto” das marcas.

Expressões como “romperá contrato com a empresa que responde pelos seguranças ”, “desligamento do funcionário que estava no comando da loja” e “o Carrefour lamenta profundamente” não surtem mais efeitos diante dos reincidentes episódios, tornados públicos desde as agressões sofridas pelo senhor Januário Alves de Santana, em 2009, em uma unidade do Carrefour na cidade de Osasco, no Estado de São Paulo.

As instâncias de Governança do Fundo Baobá têm consciência de que as agressões físicas praticadas por “seguranças” de shoppings centers e estabelecimentos comerciais não se limitam à rede Carrefour. Episódios de discriminação e racismo fazem parte do nosso cotidiano e acontecem todos os dias, em todo o Brasil.

Estes crimes, recorrentes e previsíveis, seriam evitados caso houvesse uma ação efetiva de prevenção e controle da truculência da força de trabalho, notadamente na linha de frente do atendimento.

O enfrentamento ao racismo estrutural e às expressões da branquitude devem ser uma responsabilidade de todas as instituições, empresas, cidadãos e cidadãs, sem prejuízo da ação dos entes federativos que constituem o Estado brasileiro, através da implementação de políticas públicas. O momento exige iniciativas que vão além da punição de crimes: precisamos nos unir para superar os gargalos que impedem a equidade e a justiça social, para criar laços e fortalecer o respeito entre todes, independentemente da origem étnica, do gênero ou da orientação sexual.

Este trágico episódio exige, no mínimo, por respeito póstumo à memória do senhor João Alberto Silveira Freitas e ao luto da sua família, uma ação contundente e articulada da sociedade brasileira, das instituições judiciárias e dos órgãos responsáveis pela tutela e controle da atividade jurisdicional.

São Paulo, 20 de novembro de 2020

Comitê Executivo do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial

Giovanni Harvey

Sueli Carneiro

Amália Fischer

O despertar da consciência

Kizomba, palavra de origem africana, significa uma grande reunião de pessoas para uma também grande celebração de identificação. Em todo 20 de Novembro, gente negra de todos os cantos do Brasil se reúne, nas mais diferentes formas, para celebrar a memória de Zumbi dos Palmares, líder e herói, símbolo de uma luta iniciada bem antes de sua morte em 1695 pela liberdade de seu povo. Um grande motivo para se juntar.  

E hoje, ao celebrar a memória de Zumbi, vivemos mais uma perda. Na noite de 19 de novembro, João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, homem negro, foi espancado até a morte por seguranças de uma empresa varejista, em Porto Alegre. 

A morte de João Alberto Silva Freitas torna esse 20 de novembro de 2020 ainda mais diferente. Neste ano, que encerra a segunda década do século 21 e que foi marcado por uma pandemia sem precedentes, que expôs de forma crua e cruel o que a desigualdade racial significa para o Brasil, temos uma oportunidade ímpar para despertar a consciência da sociedade brasileira acerca dos impactos do racismo. 

O despertar de uma consciência raramente é um processo fácil. Tanto em nível individual, como em coletivo, o que não é consciente geralmente está nas sombras: são atos, fatos, memórias e projeções que preferimos não enxergar. Mas em 2020 foi impossível não enxergar o jovem negro sufocado até a morte por policiais norte-americanos. Ou tiros nos morros cariocas vitimando jovens negros dentro de casa ou a caminho da escola. Ou os percentuais mais elevados de óbitos causados pela Covid19 entre negros.

Vivemos um ano de maior despertar da consciência. Um ano no qual nós, do Fundo Baobá, abrimos canais de interlocução com diversos outros atores da filantropia que, em maior ou menor grau, estão percebendo a importância de adotar as lentes da equidade racial em seus programas e projetos ou mesmo na estrutura organizacional.  A oportunidade é imensa: segundo o último censo da filantropia realizado por institutos e fundações empresariais, promoção da igualdade racial responde por apenas 14% dos projetos e programas apoiados. 

No final de outubro, realizamos um riquíssimo debate sobre filantropia para promoção da equidade racial no Brasil. Ao longo do ano – e um ano de pandemia, de confinamento, de retração econômica – conseguimos lançar cinco editais: dois de apoio emergencial a pessoas e famílias mais afetadas pela pandemia da  Covid19; um para apoio a pequenos negócios de empreendedores(as) negros(as); um edital que dialoga com a comunidade acadêmica negra;  além de um edital de apoio a jovens negros(as)  que desejam ingressar na universidade.

Conseguimos avançar porque mais e mais parceiros estão se juntando a nós. É como diz o ditado: uma andorinha só não faz verão.  Precisamos que mais pessoas, mais empresas, mais fundações, institutos e fundos filantrópicos se juntem na caminhada em direção à equidade racial. Esse precisa ser um indicador de consciência e de justiça adotado pelo  Brasil, cuja população é composta por  56% de pessoas que se autodeclaram negras (pretas ou pardas). Cuja história, cultura, ciência, artes, esportes foram forjados com participação decisiva de negros. 

Nós, juntos, temos que tornar o Brasil um país mais justo. Você tem papel fundamental nisso. A sua ação de engajamento é importante. Faça parte da rede de organizações e pessoas que lutam por em busca de um país igualitário. Vamos, junte-se! 

Despertar não é um ato, mas um processo. Estamos despertando cada dia mais, cada dia melhor.  Apesar dos inúmeros desafios, há avanços – e contribuir com a promoção desses avanços é o DNA do Fundo Baobá.

Fundo Baobá terá financiamento do Google.Org para apoiar Projetos De Justiça Racial

O Fundo Baobá para Equidade Racial – primeiro e único fundo dedicado exclusivamente à promoção da equidade racial no Brasil – contará com financiamento do braço filantrópico do Google para apoiar projetos focados no avanço da justiça racial e no combate à violência contra a população negra no Brasil. O anúncio foi feito nesta sexta-feira, 20, Dia da Consciência Negra e envolve doações que totalizam US$ 400 mil (cerca de R$ 2,1 milhões). 

Esses recursos viabilizarão edital a ser lançado em 2021 com vistas a apoiar 10 organizações negras para execução de projetos locais focados em temas como acesso à justiça e combate à violência contra população negra, em especial a juventude negra, dentro das prioridades de investimento do Fundo Baobá  ligadas ao eixo viver com dignidade.

Além do apoio financeiro, as organizações negras de base comunitária selecionadas irão participar de jornadas de fortalecimento institucional, a fim de que, no futuro, possam ter mais autonomia para buscar novos financiamentos,  disseminar resultados e boas práticas.   Parte dos recursos doados pelo Google também irá financiar a operação do Fundo Baobá. 

“Segundo o último censo da filantropia realizado por institutos e fundações empresariais, promoção da equidade racial responde por apenas 14% dos projetos e programas apoiados”, destaca Selma Moreira, diretora do Fundo Baobá. “O apoio do Google.org tem um potencial que vai além das organizações que serão apoiadas com os recursos financeiros destinados à justiça racial. Trata-se de um importante exemplo para que outras instituições abracem o desafio e  promovam a equidade racial no Brasil”, analisa.

“O Google continuará a apoiar a luta por justiça racial. Acreditamos em um sistema de justiça baseado na equidade para todos, orientado por dados e apoiado por soluções baseadas na comunidade. Temos orgulho de apoiar as organizações que estão enfrentando esse desafio complexo”, diz Justin Steele, diretor de Google.org nas Américas.

Fundo Baobá lança edital para apoiar empreendedores negros e empreendedoras negras no contexto pós-pandemia

O Fundo Baobá para Equidade Racial apresentou, no dia 11 de novembro, uma grande oportunidade para micro e pequenos empreendedores. É o Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as), que vai apoiar 47 negócios que precisem de um aporte financeiro para melhor se desenvolver. Esses negócios têm que ser comandados por pessoas (homens e mulheres) negras que toquem os seus negócios em comunidades periféricas ou territórios em contexto de vulnerabilidade socioeconômica. O investimento é de R$ 1,6 milhão, com inscrições no site do Baobá até o dia 20 de dezembro. Coca-Cola Brasil, Banco BV e Instituto Votantim apoiam a iniciativa do Fundo Baobá.

As pessoas negras que empreendem sofreram mais com a recessão econômica provocada pela pandemia. “Fomentar o empreendedorismo negro, contribuindo para o desenvolvimento e ampliação das habilidades das lideranças e aceleração de seus  negócios, é um dos instrumentos necessários para que o pleno potencial da população negra seja alcançado e para que se construa uma sociedade justa”, explica Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá.

“O Instituto Coca-Cola Brasil tem como objetivo passar de milhares para milhões de jovens impactados através de programas, parcerias e ecossistema no qual atua. Impulsionar o fortalecimento dos principais afetados pela pandemia é fundamental para alcançarmos este objetivo”, afirma Daniela Redondo, diretora do Instituto.

Para assegurar um impacto mais profundo, o edital estabelece que as propostas devem ser inscritas, em conjunto, por três pequenos empreendedores(as) negros(as) que já atuem em parceria ou queiram trabalhar de maneira complementar. Não é necessário possuir CNPJ – um detalhe que favorece a adesão de pessoas de comunidades periféricas ou territórios em contexto de vulnerabilidade socioeconômica. Não há restrições a identidade de gênero e a faixa etária para inscrição é de 18 anos ou mais. Propostas das regiões Nordeste e Norte ou que envolvam negócios liderados por mulheres serão priorizadas.

O edital é exclusivo para empreendedoras e empreendedores negros que tenham pequenos negócios com faturamento de até R$ 6.750,00 (seis mil, setecentos e cinquenta reais) por mês. Os(as)  selecionados(as) vão receber R$ 10 mil cada um (totalizando R$ 30 mil por iniciativa). O programa  inclui ainda mentoria: assistência técnica, formação, troca de experiência entre participantes e empreendedores(as) de sucesso.

As inscrições podem ser feitas de 11 de novembro a 20 de dezembro no site do Fundo Baobá. O programa terá início em 1 de março de 2021, após as três fases de seleção.

O apoio à iniciativa do Fundo Baobá reforça o compromisso das corporações com o combate ao racismo e promoção da equidade racial no contexto econômico brasileiro. O Fundo Baobá – primeiro e único fundo dedicado exclusivamente à equidade racial no País – agrega seu profundo entendimento do tema, de forma que o edital não seja apenas transferência de recursos, mas sim uma iniciativa transformadora nas comunidades onde estão localizados os negócios apoiados.

Fundo Baobá reúne institutos e fundações para debater filantropia para justiça social

O Fundo Baobá para Equidade Racial completa dez anos de atividades em 2021 – nesses longos meses de pandemia do coronavírus no Brasil -, quando as desigualdades socioeconômicas e raciais não deixaram dúvidas sobre seus impactos e perversidade. O cenário no qual o Fundo Baobá incide tornou-se mais severo, exigindo um olhar sobre o presente e sobre o futuro. 

Para discutir motivos e apontar caminhos de solução visando uma mudança nas desigualdades raciais, o Fundo Baobá reuniu algumas das principais lideranças mundiais que trabalham com a filantropia em busca da justiça social. O evento inédito e de peso, organizado pelo J.P. Morgan e pelo Fundo Baobá,  juntou profissionais atuantes na América do Sul e Estados Unidos em um webinário no dia 28 de outubro. Em um país como o Brasil, que carrega a discrepância de ter 55,8% de população negra, mas sem acesso aos bens e serviços em função do racismo estrutural mantenedor das desigualdades sociais e econômicas, a discussão sobre onde realmente os recursos devem chegar para socorrer e gerar a diferença positiva foi de muita importância. 

Para essa pensata, foram convidados algumas das mais expressivas instituições, além de organizações não filantrópicas, comprometidas em contribuir para a construção de sociedades mais justas e igualitárias.  Líderes da Fundação Kellogg, Fundação Ford, Instituto Ibirapitanga, Rede de Fundos para Justiça Social, GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas), Instituto Coca-Cola Brasil, The Walt Disney Company, Fama Investimentos e o Philantropy Center J.P. Morgan participaram do webinário Investimentos Filantrópicos para a promoção da equidade racial, promovido pelo Fundo Baobá com apoio do J.P. Morgan. 

Quem conduziu o evento, ocorrido em 28 de outubro, foi Fernanda Lopes, diretora de Programa do Fundo Baobá para Equidade Racial. Em sua fala introdutória, apontou a necessidade de criar narrativas que contribuíssem para a equidade, reduzindo o apartheid vigente no país – em que os negros, embora maioria da população, muitas vezes deixam de ter  suas vozes, seus direitos e protagonismo reconhecidos. “O investimento social privado pode e deve incorporar a perspectiva da justiça racial na concessão de doações. A proposta é pautar, desafiar e, sobretudo, estimular o ambiente corporativo a construir ações inovadoras e concretas para superar o verdadeiro estado de apartheid racial no Brasil.”, disse Fernanda Lopes.  

Segundo a diretora, a abordagem da equidade racial na filantropia tem sido a mistura de avanços e retrocessos. “É essencial examinar onde houve mais e menos avanço, o que contribuiu e o que pode nos ter tirado do caminho”, completou. O objetivo do webinário foi criar uma narrativa sobre como a filantropia e o investimento social privado se desenvolveram no país, qual a história dos principais investimentos e as iniciativas para a promoção da equidade racial. 

Na fala de abertura, Daniel Darahem, presidente do J.P. Morgan Brasil, destacou que nunca é tarde para pensar e promover a equidade. Explicou alguns dos projetos desenvolvidos pelo banco, voltados a jovens negros, como o de formação de lideranças.  “Trabalho há 23 anos nessa organização, mas como presidente estou há menos tempo, peguei a bandeira magistralmente empunhada pelo meu antecessor, eterno amigo e mentor, José Berenguer, que fez excelente trabalho na área de diversidade e inclusão.”

Daniel Darahem – Presidente do J.P. Morgan Brasil

Para ele, séculos de mobilização de movimentos negros geraram conquistas, com muitos desafios e dificuldades. “E como há milhares de talentos que precisam ser incluídos, o banco optou por se engajar com intencionalidade e consistência em um  propósito de busca da equidade, criando vários programas de inclusão ao longo dos anos.” 

Alguns deles são o Advancing Black Leaders, programa global do banco para a formação de lideranças negras e o Black Future Leaders, voltado para  formar, aqui no Brasil,  líderes a partir de jovens negros em início de carreira. A cada dez inscritos, sete são mulheres negras. Por intermédio da J.P. Morgan Chase Foundation, o banco passou a colocar a equidade racial como um de seus focos. “Tivemos erros e acertos. Foram pequenos passos que nos ajudaram a trilhar o caminho certo. O evento de hoje é oportunidade de aprendizado para todos nós.”

Para  Giovanni Harvey, presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, o mês da consciência negra marca uma agenda intensa de atividades antirracistas promovidas pelas organizações. O papel da iniciativa privada tem sido pioneiro nesse sentido e deve continuar sendo. 

“Parte da minha vida profissional passei na iniciativa privada que, no Brasil, tem sido pioneira ao longo do tempo. Eram e são empresas que têm entendimento e responsabilidade com a educação e formação de jovens, como a Fundação BankBoston, que criou o Projeto Geração XXI, em 1999,  para contribuir com a melhoria da educação de jovens negros, garantindo a igualdade de oportunidades“, afirmou. Harvey aproveitou para felicitar o J.P. Morgan e as demais instituições presentes pelo empenho em criar ações em prol da equidade racial e por dedicarem seu tempo a essa discussão. 

Giovanni Harvey – Presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá

O evento contou com quatro mesas, cada uma com três participantes, exceto a quarta, de encerramento, que contou com a presença de Laura Martini Zellmeister, oficial de programa da J.P. Morgan Chase Foundation para a América Latina, e Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial. Confira aqui no site do Fundo Baobá o relato dos outros debates.

Existem débitos históricos com a população negra que a filantropia ainda não equacionou

As relações de poder que, direta ou indiretamente, sustentam o racismo estrutural fizeram parte dos temas mais comentados pelos(as) palestrantes da mesa “Filantropia e relações raciais: presente e futuro”. Esse painel fez parte do webinário Investimentos Filantrópicos para a promoção da equidade racial, organizado pelo J.P. Morgan e o Fundo Baobá, em 28 de outubro.

Alejandra Garduno Martinez, diretora da Fundação Kellogg para a América Latina, relembrou que a Covid-19 expôs, de forma contundente, as profundas desigualdades da sociedade com relação à justiça social e à equidade. Lembrou que o racismo se expressa de muitas formas, algumas invisíveis, mas a pandemia as tornou evidentes. 

Alejandra Garduno Martinez – Diretora da Fundação Kellogg para América Latina

Átila Roque, Diretor Regional da Fundação Ford no Brasil, lembrou que o racismo está estruturado em uma consistente ideia,  construída por séculos, de supremacia branca. “O mundo ocidental é tributário do racismo e o Brasil, historicamente, se colocou no centro desse processo. Basta olhar os números. Do total de 11 milhões de negros trazidos para a América e o Caribe, quase 5 milhões, algo em torno de 46%, vieram para o Brasil. Não dá para desconsiderar essa memória e a dívida que temos.” 

O diretor da Fundação Ford destacou que o grau de dedicação e de investimento da filantropia brasileira é desproporcional ao imperativo ético que é a questão antirracista. “Não há nada mais central do que essa agenda”. Logo, o padrão de desigualdade não é sustentável nem rentável para o país. Por isso, é primordial reconhecer o papel de cada instituição e olhar com franqueza para o quanto cada uma é tributária da ideia de progresso ancorada no legado do colonialismo ou da supremacia branca. 

Átila Roque – Diretor Executivo da Fundação Ford para Brasil e América Latina

Respondendo à pergunta da mediadora Fernanda Lopes, diretora de Programa do Fundo Baobá, Alejandra Garduno Martinez ressaltou que a filantropia avançou nos últimos anos, embora questões antigas continuem latentes, como a intolerância que se agrava frente às posições mais conservadoras de poder, como as que estão em curso na América Latina e Caribe. “Avançamos, sim, nesses indicadores, mas não o necessário. Ainda temos cenários políticos que, em seu conservadorismo, fortalecem discursos pró-racismo”, afirmou. 

Dessa forma, reconhecer a existência do racismo estrutural e dar visibilidade a essa questão é um dos principais desafios da filantropia. “Precisamos gerar maior número de parcerias entre nós e com outros setores, junto a organizações filantrópicas diversas, mas é essencial avaliar como nos associamos, com quem nos associamos e quais as causas sociais que nos permitem aspirar bons modos de vida para todos.”

Embora na última década tenham sido implementados esforços para promover justiça social por meio da filantropia, segundo a diretora falta olhar se as entidades doadoras estão, efetivamente, voltadas para quem precisa, como as organizações negras e as que trabalham pela equidade.

“Na Kellogg, tínhamos essa preocupação desde 1968. Em 2007, iniciamos processo para estabelecer compromisso com uma declaração realmente antirracista, contribuindo para erradicar o racismo moderno”, afirmou. Nessa época, consolidou-se a ideia do Fundo Baobá, criado em 2008, inicialmente como um mecanismo. “Temos que ser claros, explícitos até, na forma como impulsionamos o acesso a um fundo que procura investir, a longo prazo, em modelos que promovam mudanças estruturais sistêmicas.” 

Para Átila Roque, eventos que reunissem fundações, empresas privadas e um grande banco seriam impensáveis há alguns anos, quando a filantropia dava seus primeiros passos no país. “Dificilmente, teríamos essa tela diante de nós. Avançamos, sem dúvida, mas avançamos pouco e tardiamente.”

André Degenszajn, diretor-presidente do Instituto Ibirapitanga, também concorda que houve progresso da filantropia no Brasil, principalmente porque os debates não se restringem mais aos pequenos círculos. Hoje, ocupam também jornais e discussões em família. Mas é preciso avançar mais. “Quando olhamos as estatísticas em qualquer dimensão, como educação, renda, violência, o quadro é assustador. E a ausência de pessoas negras em lugares de poder e não só na política, mas em escolas, por exemplo, é acintosa.” 

Andre Degenszajn – Presidente Instituto Ibirapitanga

Para Degenszajn, é fundamental as organizações buscarem coerência entre seus investimentos para fortalecer o movimento negro e sua constituição, inserindo, por exemplo, pessoas negras na equipe. “Muitos avanços foram alcançados por esses movimentos, como a Lei de Cotas e a Lei Caó. Essas instituições não estão apartadas do racismo estrutural quando se fala do acesso delas a fontes de financiamento. Assim, existe a necessidade de construir caminhos para que isso aconteça”, acrescentou. 

“Temos que ver o quanto nossos mecanismos e critérios de doação servem realmente para permitir o acesso de organizações negras,  de forma que seja cada vez mais acessível empoderar atores que precisam ser promovidos”, afirmou Átila. Um ponto essencial levantado pelo diretor da Fundação Ford é a dúvida que está no DNA da população em decorrência do histórico da colonização, sobre a capacidade dessas organizações serem protagonistas quando beneficiadas com apoio de longo prazo. “Volto a dizer que não existe fórmula, mas temos que olhar onde alocamos os recursos e fazer essa pergunta constantemente. É preciso estimular a dúvida e promover, sem medo, o protagonismo negro.”