Fundo Baobá Abre Vaga para Consultoria em Pesquisa Qualitativa para Programa de Lideranças Femininas Negras

O Fundo Baobá está em busca de uma consultoria qualificada para realizar uma pesquisa qualitativa que irá subsidiar o 2º edital de apoio coletivo do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Esta é uma oportunidade única para organizações com expertise em temas de equidade racial e de gênero contribuírem para o fortalecimento de lideranças femininas negras no Brasil.

O Baobá – Fundo para Equidade Racial é uma organização que se dedica ao investimento no desenvolvimento de lideranças e iniciativas que promovam a equidade racial e de gênero no Brasil. Com um histórico de apoio a organizações de mulheres negras, o Fundo Baobá busca continuamente criar oportunidades que fortaleçam as capacidades institucionais dessas organizações e ampliem seu impacto nas comunidades.

O objetivo principal desta consultoria é a realização de grupos focais, entrevistas semiestruturadas e a aplicação de questionários auto responsivos junto a organizações de mulheres negras. A pesquisa deverá mapear necessidades e expectativas dessas organizações em áreas como:

  • Planejamento e gestão
  • Captação de recursos
  • Comunicação estratégica
  • Registro e memória
  • Atuação em rede
  • Fortalecimento de lideranças e formação de novos quadros
  • Mobilização de parceiros para atuar em defesa da equidade racial e de gênero

O resultado dessa pesquisa será fundamental para a elaboração do 2º edital de apoio coletivo do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco.

O edital de apoio coletivo do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco tem como objetivo investir no desenvolvimento institucional de organizações de mulheres negras que atuam para o enfrentamento ao racismo e ao sexismo. As organizações selecionadas receberão um apoio financeiro total de R$ 375.000,00, além de investimentos diferenciados para suas dirigentes e acesso a uma rede de lideranças femininas negras.

Estamos em busca de uma consultoria que atenda aos seguintes critérios:

  • Experiência comprovada de pelo menos 5 anos em condução de pesquisas qualitativas e em temas relacionados à equidade racial e de gênero.
  • Capacidade de conduzir grupos focais e entrevistas em ambiente virtual.
  • Equipe diversa em termos de identidade de gênero, raça/cor e faixa etária.
  • Bom planejamento, organização e compromisso com prazos.

Além disso, a consultoria deve ser uma empresa registrada, com pelo menos 5 anos de atuação, que não seja pessoa física e que possua experiência comprovada em projetos semelhantes.

As organizações participantes do edital terão acesso a diversos benefícios, incluindo:

  • Contato com outras lideranças femininas negras, fortalecendo redes e colaborações.
  • Participação em atividades formativas organizadas pelo Fundo Baobá.
  • Aumento da visibilidade e oportunidades de desenvolvimento de habilidades políticas e de liderança.

Como se Candidatar

Os interessados devem enviar suas propostas até 16 de outubro de 2024, às 17h (horário de Brasília). A proposta deve incluir informações gerais sobre a empresa, uma proposta orçamentária detalhada, mini bio dos membros da equipe e três cartas de referência.

  • Data de início do contrato: 30 de outubro de 2024
  • Data de término do contrato: 31 de março de 2025

Para mais detalhes sobre os requisitos e especificações do projeto, faça o download do Termo de Referência completo no link abaixo:

Não perca a oportunidade de fazer parte desse projeto transformador que apoia o desenvolvimento de lideranças femininas negras no Brasil!

Consultoria para Pesquisa Qualitativa no Programa de Lideranças Femininas Negras: Oportunidade do Fundo Baobá

O Fundo Baobá, comprometido com a promoção da equidade racial no Brasil, está em busca de uma consultoria especializada para realizar uma pesquisa qualitativa que será fundamental para o desenvolvimento do 2º edital do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Este artigo detalha os requisitos, objetivos e especificações do serviço, além de explicar o impacto dessa iniciativa para as mulheres negras e como você pode contribuir.

A consultoria contratada será responsável por realizar grupos focais, entrevistas semiestruturadas e aplicar questionários auto responsivos a mulheres negras cis, trans e travestis. O objetivo é mapear suas necessidades e expectativas relacionadas ao desenvolvimento de competências técnicas, políticas, socioemocionais e comportamentais de liderança. Esse estudo qualitativo fornecerá insights essenciais para a elaboração e implementação do próximo edital de apoio individual do programa.

Este programa visa ampliar as oportunidades de desenvolvimento para mulheres negras (pretas e pardas) cis, trans ou travestis que lideram ou atuam em organizações da sociedade civil, movimentos sociais, instituições públicas, setor privado e outras áreas estratégicas. Serão selecionadas 35 mulheres para receber uma bolsa mensal de R$ 3.100,00 por 18 meses, mentoria coletiva, contato com outras lideranças femininas e participação em atividades formativas.

O edital destina-se exclusivamente a mulheres negras que atuam em diversas áreas, desde organizações da sociedade civil até o setor privado. Também haverá um foco em lideranças femininas quilombolas, mulheres negras em altos postos de governo, no terceiro setor, no judiciário, no empreendedorismo e em outros setores estratégicos. O objetivo é garantir uma ampla representatividade, com participantes de todas as regiões do Brasil, especialmente do Norte e Nordeste.

A empresa ou instituição interessada deve ter, no mínimo, cinco anos de experiência comprovada na condução de pesquisas qualitativas sobre equidade racial e de gênero, além de expertise em grupos focais e entrevistas virtuais. A equipe de trabalho deve ser diversa em termos de identidade de gênero, raça/cor e faixa etária, demonstrando compromisso com os princípios de direitos humanos e eliminação da discriminação racial.

A consultoria terá início em 30 de outubro de 2024 e término previsto para 31 de março de 2025. Entre os principais produtos a serem entregues estão:

  • Plano de Trabalho: Detalhamento do cronograma, metodologia e perfil da equipe.
  • Mapeamento de Iniciativas: Identificação de outras ações voltadas ao desenvolvimento de lideranças negras.
  • Relatórios e Apresentações: Compilação dos resultados das pesquisas em documentos que incluam dados coletados, perfis das participantes e recomendações.
  • Apresentações Visuais: Criação de materiais de apoio para divulgar os achados da pesquisa.

Os pagamentos serão realizados em parcelas conforme a entrega e aprovação dos produtos descritos.

A seleção da empresa será baseada na qualidade da proposta e no custo-benefício. É fundamental que as candidaturas incluam uma proposta orçamentária detalhada, mini bios dos membros da equipe e três cartas de referência de projetos semelhantes realizados nos últimos cinco anos. Apenas empresas com, pelo menos, cinco anos de experiência na condução de pesquisas qualitativas serão consideradas.

Este projeto é uma oportunidade única para apoiar a formação de novas lideranças femininas negras, proporcionando recursos e capacitações para mulheres que já ocupam ou pretendem ocupar posições estratégicas em diversos setores. Ao mapear as necessidades e expectativas dessas mulheres, o Fundo Baobá busca potencializar suas competências e promover uma rede de apoio para o desenvolvimento de suas habilidades políticas, técnicas e socioemocionais.

Se você é uma empresa com experiência em pesquisa qualitativa e um compromisso real com a promoção da equidade racial e de gênero, esta é a sua chance de contribuir para um projeto que fará a diferença na vida de muitas mulheres negras no Brasil.

Clique no link abaixo para baixar o PDF com todos os detalhes da vaga e enviar sua proposta orçamentária até o dia 16 de outubro de 2024, às 17h (horário de Brasília).

Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) comemora 192 anos e reforça que a luta continua

Fundada por homens negros libertos com o objetivo de conquistar a liberdade para seus irmãos e irmãs ainda escravizados, a Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) celebrou 192 anos no dia 16 de setembro. Durante a comemoração em Salvador, Bahia, a entidade fez uma reflexão importante: a comunidade negra alcançou suas metas ou ainda há muitos desafios pela frente? Se considerarmos os princípios que nortearam a criação da SPD — enfrentamento ao racismo, liberdade religiosa e justiça social —, as lutas de hoje ainda ecoam os desafios enfrentados em 1832. A caminhada continua.

A História da SPD e Suas Lutas Desde sua fundação, a SPD tem sido um pilar na luta pela igualdade racial no Brasil. Nomes como Luiz Gama e José do Patrocínio, figuras centrais no combate à escravidão e ao racismo, integraram a organização. Apesar dos avanços em quase dois séculos, as demandas da população negra permanecem praticamente as mesmas. Na época, a filantropia era o principal recurso para angariar fundos e comprar cartas de alforria para libertar escravizados.

Neilto Barreto, bibliotecário e publicitário aposentado, assumiu a presidência da Assembleia Geral da SPD e destacou o legado de luta dos membros da organização. “Em todo esse período, nunca dependemos de apoio governamental, seja municipal, estadual ou federal, desde 1832”, declarou Barreto, que liderará a entidade até 2027.

O Apoio do Fundo Baobá A continuidade das ações sociais da SPD ao longo dos anos não significa que a entidade não tenha necessitado de apoio. Um marco importante foi o suporte financeiro de R$ 500 mil do Fundo Baobá em novembro de 2023. Para Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo, esse apoio foi fundamental para abrir precedentes no auxílio a organizações negras centenárias. “Como pode uma instituição como a SPD, em quase dois séculos de existência, não ter recebido apoio institucional significativo? A SPD nos inspira a apoiar mais instituições centenárias”, afirmou Harvey.

A conexão entre o Fundo Baobá e a SPD foi articulada em 2022 por Tricia Calmon, da Assembleia Geral do Fundo Baobá, que identificou a necessidade de assistência à entidade e levou a demanda ao Conselho Deliberativo. Sueli Carneiro, presidente do Conselho Deliberativo, sugeriu a concessão de apoio, que evoluiu para a primeira doação sem edital da história do Fundo, fruto de recursos próprios.

Transformações ao Longo dos Séculos Assim como a sociedade mudou ao longo dos séculos 19, 20 e 21, a SPD também passou por transformações. Originalmente, apenas homens negros africanos podiam ser diretores da organização. Hoje, mulheres também são admitidas. Ligia Margarida Gomes, psicóloga e ex-presidente da Assembleia Geral, destacou essa mudança, e Neilto Barreto complementou, afirmando que, embora associados não negros sejam admitidos, eles precisam estar comprometidos com a causa da entidade.

O Futuro da SPD A comemoração de 192 anos da SPD reuniu membros do movimento negro baiano e foi marcada por uma celebração tradicional, incluindo iguarias da culinária africana como caruru, acarajé e pirão. Um dos principais objetivos da entidade para o futuro é atrair jovens para integrar o quadro associativo, que hoje conta com cerca de 250 membros. “Nosso maior desafio é a renovação. A juventude precisa se conscientizar da importância de se juntar a nós”, afirmou Ligia Gomes. Para ela, a grande contrapartida é o privilégio de fazer parte da luta por uma causa maior.

Conclusão A SPD, com seus 192 anos de história, continua a ser um símbolo de resistência e luta pela igualdade racial no Brasil. A busca por justiça social, combate ao racismo e liberdade religiosa iniciada no século 19 permanece mais viva do que nunca, lembrando que ainda há muitos passos a serem dados nessa jornada.

Rede Comuá realiza atividades de enfrentamento às mudanças climáticas no mês da filantropia que transforma

Mês da Filantropia que Transforma 2024

A Rede Comuá, da qual o Fundo Baobá é parte, faz um chamado em setembro: existem caminhos possíveis para o financiamento de soluções climáticas locais. Neste ano, destaca-se a atuação das organizações da filantropia comunitária e de justiça socioambiental no financiamento, desenvolvimento e/ou cocriação destas soluções.

Como parte da programação do Mês da Filantropia que Transforma 2024, foi realizado o lançamento da “Iniciativa Comuá pelo Clima: financiamento de soluções climáticas locais”, que traça o perfil da atuação dos membros da Rede nessa agenda, de modo interseccional, e destaca ações e iniciativas desenvolvidas e financiadas na área de filantropia e clima.

O levantamento tem potencial para se tornar uma referência para o campo da filantropia, contribuindo para incidir na construção de agendas e no desenvolvimento de estratégias de financiamento para organizações e grupos da sociedade civil que atuam na linha de frente. Além de ser imprescindível para o enfrentamento da crise climática, o foco local é que traz a perspectiva da exclusão e das injustiças sociais. As mudanças climáticas em curso no planeta afetam todos os territórios, grupos e comunidades. Mas não da mesma forma. Minorias políticas como comunidades indígenas, negras, quilombolas, LGBTQIAPN+, mulheres, agricultores e agricultoras familiares e populações de territórios periféricos urbanos, atravessados pelas desigualdades sociais e econômicas, são atingidas de modo mais extremo pelos efeitos da crise climática.

Apesar disso, esses grupos não têm lugar garantido em fóruns de tomadas de decisão relativas à definição dos projetos e de políticas públicas que os afetam diretamente. Sua presença em agendas de financiamento climático também está aquém do necessário. Mesmo sendo os que menos contribuem para o agravamento do aquecimento global e, em muitos casos, os que mais atuam na conservação e na preservação do meio ambiente, grupos racializados estão entre os mais prejudicados pela mudança do clima, segundo pesquisa realizada pelo geógrafo Diosmar Filho para a Associação de Pesquisa Iyaleta.

Pensar o clima a partir de uma perspectiva de proteção e promoção dos direitos humanos é fundamental, especialmente se tiverem como foco estratégias de mitigação, adaptação e financiamento climático para a redução da pobreza e o fortalecimento dos direitos. Atualmente, porém, essa não é a realidade. Mesmo considerando-se uma perspectiva mais ampla, que vai além da questão climática, a filantropia tradicional ainda destina poucos recursos para grupos racializados. No Brasil, segundo dados da última edição do Censo GIFE, as organizações do investimento social privado (ISP) têm perfil majoritariamente executor de projetos e menos doador para outras organizações da sociedade civil. De acordo com o Censo, o montante de recursos financeiros para áreas de preservação ambiental no período 2022-2023 foi de 13% do investimento realizado. O percentual menor era destinado às comunidades remanescentes de quilombos (10%), terras indígenas (7%) e assentamentos (3%).

O Baobá – Fundo para Equidade Racial é um dos membros da Rede Comuá e participou em uma das etapas do processo de formalização da Rede que teve início em 2022, quando completou 11 anos de atuação. A Rede busca fortalecer a capacidade de atuação conjunta dos seus membros potencializando seu papel nos processos de transformação social, e o Fundo Baobá considera a plataforma é importante, pois apoiar financeiramente iniciativas da sociedade civil lideradas por minorias políticas é uma estratégia crucial para promover e construir agendas focadas no reconhecimento e na defesa de direitos.

Conferência da Diáspora Africana nas Américas elabora Carta de Recomendação da União Africana

Conferência da Diáspora Africana nas Américas

Salvador, a cidade com a maior população negra fora da África, sediou a Conferência da Diáspora Africana nas Américas, que precede a realização do 9º Congresso Pan-Africano, que vai acontecer na cidade de Lomé (Togo) entre 29 de outubro e 2 de novembro. O Brasil é o país com o maior número de afrodescendentes fora do continente africano, por isso, a escolha pela capital baiana foi feita ainda em 2023 pela União Africana e pelo Governo da República Togolesa, país localizado no oeste da África.

O objetivo da Conferência da Diáspora Africana nas Américas foi a elaboração de uma Carta de Recomendação encaminhada a representantes da União Africana que estiveram no Brasil. A carta apresentou os pontos discutidos nos três dias do encontro e que visam promover a união dos povos de origem africana ou da diáspora na luta contra o racismo e a discriminação racial, além do desenvolvimento sustentável dos países africanos e suas comunidades ao redor do planeta, a promoção do intercâmbio de informações e o protagonismo de nações africanas dentro do contexto mundial. 

Várias instituições comprometidas com a causa da Equidade Racial participaram da Conferência.  O diretor executivo do Fundo Baobá, Giovanni Harvey, foi um dos convidados. Participou da elaboração da Carta de Recomendação e acompanhou as discussões da Mesa Reparação e Restituição. “Foram abordados dois temas muito importantes na luta dos negros ao longo da história: pan-africanismo e reparação. Pan-africanismo como uma visão de mundo e reparação como instrumento de enfrentamento às desigualdades raciais historicamente construídas”, diz. 

Harvey exemplificou o que a desigualdade estabelecida de forma estrutural determinou para as populações afrodescendentes. “As políticas de ações afirmativas, por exemplo, são  sempre condicionadas por aferição de mérito e desempenho. Elas são importantes? São! Mas são insuficientes para enfrentar o impacto profundo que a desigualdade historicamente construída impôs no Brasil e no mundo. É preciso dar um passo à frente e trazer o tema das reparações para o centro do debate”, afirma. “O Fundo Baobá acompanha o cenário internacional com o objetivo de manter a sua estratégia alinhada às principais iniciativas em prol da equidade racial no mundo”, conclui. 

Uma das propostas do Congresso que vai acontecer em Lomé, no Togo, é que países africanos alcancem protagonismo dentro do cenário socioeconômico mundial. Embora muitas nações africanas enfrentem questões de pobreza e diversas injustiças sociais, Harvey analisa que o protagonismo não se faz apenas com base na questão financeira. “A África do Sul, pela potência econômica que é, tem condições de ser protagonista. Mas há outros países, de menor poder financeiro, mas de importância histórica e política muito grande, como  Senegal, Nigéria, Guiné Bissau e Togo, que sempre terão um papel importante quando tratamos de restituição e reparação financeira para a população negra”, afirma.  

Orumverso: plataforma conecta saberes e impulsiona negócios negros

Criada por três mulheres negras engenheiras, a Oficina de Inovação e Ancestralidade (OIA) lançou dia 02/08, a plataforma digital Orumverso,

Criada por três mulheres negras engenheiras, a Oficina de Inovação e Ancestralidade (OIA) lançou dia 02/08, a plataforma digital Orumverso, que visa a troca de saberes periféricos, a partir de uma ótica ancestral-futurista potencializada pelo uso da tecnologia. A plataforma é uma oportunidade para fazer a conexão em rede para co-criar futuros possíveis, rompendo barreiras territoriais e linguísticas, além de oferecer aos empreendedores negros ferramentas poderosas para superar barreiras históricas e acelerar o crescimento de seus negócios.

Na prática, na plataforma digital é possível se conectar com projetos e negócios de pessoas negras através de e-commerce e até de ferramentas de gestão financeira e marketing digital, por exemplo. Funciona como uma vitrine digital para que empreendedores negros possam exibir seus produtos e serviços, em um ambiente que favorece o movimento de colocar a mão na massa e criar coletivamente projetos, ferramentas e soluções tecnológicas. 

A ferramenta também se destaca pela inovação tecnológica, impacto social e potencial de público, pois proporciona a oportunidade de atingir um vasto mercado no qual o empreendedorismo negro está em ascensão e em busca por inovação e acessos. É ainda uma maneira de ampliar a discussão e o desenvolvimento de ciências e tecnologia que levem em conta características socioculturais e periféricas que, muitas vezes, distanciam a população negra de fazer e produzir tecnologia.

A Oficina de Inovação e Ancestralidade surgiu em 2017, nos corredores da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde as três engenheiras se conheceram, formando um coletivo que questionava e movimentava o meio acadêmico, debatendo a temática de tecnologias sociais e ancestrais, além de estimular na periferia discussões e produções afrofuturísticas.
 


Thalita Lopes – Diretora de comunidade da OIA. Créditos: Laís Reverte


O projeto teve apoio do Baobá – Fundo para Equidade Racial que acreditou ser possível a construção da OIA e do projeto Orumverso. Através do Edital Educação e Identidades Negras, lançado em 2022 e com o apoio da Imaginable Futures e da Fundação Lemann, o projeto se apresentou como um esforço conjunto para o enfrentamento ao racismo e a consolidação de práticas de promoção da equidade racial no setor educação 

 Para Karina Karin, diretora de tecnologia da OIA Hub, a Orumverso é uma jornada direcionada e intencional, assim como foram os sete primeiros anos da OIA. Para ela, todo ser humano deve se entender como um ser tecnológico, um ser que produzia tecnologia em um passado escravagista marcado por diversos apagamentos. É necessário que se pense em erradicar essa distância e que se produzam novas tecnologias e saberes a partir das experiências ancestrais e da subjetividade sociocultural da população periférica. Para além disso, Karina Karin, uma das desenvolvedoras, foi selecionada para representar o Brasil no Global Peace Summit, em Nova York, entre os dias 09 e 12 de dezembro de 2024, onde poderá discutir o uso da inteligência artificial e suas aplicações como uma das ferramentas para promover a paz no mundo.

A aplicação de tecnologias sociais pelo Orumverso pode amplificar esse movimento, oferecendo aos empreendedores negros as ferramentas necessárias para prosperar em um mercado globalizado, pois não só apoia o desenvolvimento de negócios negros, mas também serve como um exemplo de como a tecnologia pode ser utilizada para promover a igualdade e a inclusão social.

Para saber mais sobre a plataforma, acesse: OrumVerso.


Educação em Tecnologia: o promissor caminho para a equidade racial

Educação em Tecnologia: o promissor caminho para a equidade racial

Educar para transformar: essa é uma das chaves para fomentar a equidade racial no Brasil. Inúmeras pesquisas, censos e levantamentos comprovam como a falta ou dificuldade de acesso à educação tem sido um dos mecanismos de desigualdade racial no Brasil. Em uma época marcada pela disseminação da tecnologia e digitalização dos processos, lacunas educacionais são ainda determinantes para a qualidade de vida das pessoas.

Um bom exemplo de enfrentamento desse desafio vem do Espírito Santo, onde o Instituto Oportunidade Brasil (IOB) tem desenvolvido um trabalho educacional com forte viés para o digital. O IOB criou o Programa Oportunidade Tech para que, por intermédio da qualificação educacional na área de Tecnologia da Informação, os jovens pudessem entrar e/ou permanecer nos postos de trabalho. 

O instituto foi uma das 16 organizações selecionadas pelo edital Educação em Tecnologia, do Baobá – Fundo para Equidade Racial, que tinha como objetivo apoiar iniciativas e empresas negras que pudessem contribuir, por meio de processos de formação, para a ampliação da capacidade de pessoas negras serem inseridas no mercado de trabalho na área tecnológica.

Mais de um ano após a implementação do Programa Oportunidade Tech, o Fundo Baobá conversou com a diretora do IOB, Verônica Lopes, para saber como estão as atividades e realizações da instituição. 

Que projetos o IOB está tocando que poderão impactar ainda mais positivamente o cenário social no Espírito Santo? 

Em agosto, realizamos o nosso II Fórum, que teve como tema “Educação e Trabalho para Quem? Do Discurso à Ação”. O evento contou com a participação de especialistas e empreendedores locais e nacionais para discutir os desafios e as boas práticas em diversidade, inclusão e combate ao racismo no trabalho e na educação. No dia 29,  tivemos um evento muito especial chamado Inovação Periferia. Nesse evento, os formandos do Oportunidade Tech, após dois anos de intensa dedicação, apresentaram os três aplicativos inovadores que desenvolveram para beneficiar suas comunidades. Recebemos empresários da área de tecnologia, mentores e apoiadores. Além disso, no início do mês, lançamos uma nova turma de Marketing Digital, com o apoio do Instituto Localiza. Em cinco meses, jovens de 15 a 29 anos estarão capacitados a utilizar um celular para criar vídeos, tirar fotos, fazer posts no Instagram, usar o Canva e outras ferramentas digitais. O curso também inclui empreendedorismo e uma trilha de preparação para a entrada no mercado de trabalho.

Dentro da premissa de potencializar as oportunidades para jovens negros alcançarem um futuro promissor, é possível traduzir em números a atuação do IOB? 

Fechamos o ano de 2023 com mais de 1.500 atendimentos a beneficiários. Começamos 2024 com uma jornada formativa em liderança e finanças para mais de 40 mulheres. Atualmente, temos quatro turmas em formação, das quais três são em Tecnologia da Informação.

Recentemente, você ganhou um prêmio dedicado a mulheres empreendedoras que têm contribuído para o desenvolvimento social no estado. Esse reconhecimento a você está relacionado de que maneira ao IOB? 

O prêmio destaca a importância das iniciativas promovidas pelo IOB, evidenciando a relevância do trabalho da instituição na promoção da inclusão e da igualdade racial. Este reconhecimento enfatiza o impacto positivo e a contribuição contínua do IOB para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

No campo das vitórias pessoais, há nomes de jovens apoiados pelo IOB que podem ser citados aqui? Quem são e o que estão fazendo?  

Maylon Viana ingressou na universidade federal este ano e já está desenvolvendo trabalhos como empreendedor na área de tecnologia. Ele é aluno do instituto desde 2021.

Samyla Santana foi contratada como efetiva ainda enquanto cursava o programa do instituto, tem se destacado muito na empresa em que está atuando. Recebemos vários feedbacks positivos da empresa.

Haynnan Seibert, que se formou em tecnologia no IOB, já atua como instrutor na instituição e como empreendedor na área de tecnologia.

No que esse reconhecimento a você como empreendedora contribui para as atividades do IOB? 

O reconhecimento contribui significativamente para as atividades do Instituto Oportunidade Brasil (IOB) de várias maneiras:

 1. Validação do Impacto Social: Valida a importância e a relevância do trabalho que o Instituto realiza na capacitação e inclusão de jovens negros em situação de vulnerabilidade.

2. O reconhecimento aumenta a visibilidade do IOB e reforça sua credibilidade como uma organização comprometida com a transformação social. Isso pode atrair mais parceiros, patrocinadores e apoiadores

3. O prêmio serve como uma fonte de inspiração e motivação para a equipe do IOB e para os jovens beneficiados pelos programas da instituição. Ele demonstra que o esforço e a dedicação têm um impacto real e podem levar a reconhecimentos importantes.

4. Fortalecimento da Missão do Instituto:  O reconhecimento reforça a missão do IOB de promover a inclusão e a igualdade racial, alinhando-se com os valores e objetivos da organização. Ele ajuda a consolidar o compromisso do Instituto com sua causa e reforça a importância de continuar nosso trabalho transformador.

Primeiros estudantes selecionados pelo programa Black STEM para bolsas de estudo no exterior são apresentados em evento na B3 Social

Primeiros estudantes selecionados pelo programa Black STEM para bolsas de estudo no exterior são apresentados em evento na B3 Social

Em grande celebração, no dia 6 de agosto, o Baobá – Fundo para Equidade Racial e a B3 Social apresentaram os primeiros estudantes selecionados pelo edital Black STEM, voltado para jovens negros e negras brasileiros que alcançaram o objetivo de cursar uma graduação no exterior.  

O Black STEM é uma iniciativa que apoia a presença e permanência de pessoas negras nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) em universidades internacionais. No Brasil, pessoas negras (pretos e pardos) constituem 56% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas representaram apenas 36% dos formados em cursos superiores em 2020 e 32% dos formados em STEM. Essas áreas têm uma ligação histórica com a população negra, responsável por importantes desenvolvimentos científicos e tecnológicos. E o programa faz com que essa ligação histórica se perpetue, pois promove formação acadêmica para esses estudantes e contribui para a produção de conhecimento negro dentro da academia global.  

A apresentação de cinco estudantes selecionados pelo programa Black STEM foi feita no auditório da B3 (região central de São Paulo), apoiadora do programa criado pelo Fundo Baobá – Fundo para Equidade Racial, que teve como parceiro a BRASA (Brazilian Student Association). O processo seletivo, composto por quatro etapas, contou com especialistas das áreas de STEM, Psicologia e Educação com diferentes conhecimentos e experiências sobre graduação no exterior. Cada um dos selecionados receberá o equivalente a R$35 mil anuais para cobrir despesas de moradia, alimentação, transporte, entre outros, com a possibilidade de essas bolsas serem renovadas anualmente até a conclusão do curso. 

Celebração do dia 6 de agosto, em que o Baobá – Fundo para Equidade Racial e a B3 Social apresentaram os primeiros estudantes selecionados pelo edital Black STEM


Os selecionados pelo Black STEM foram:  

  • Camila Ribeiro Martins (Vitória, ES): Pilotagem na Escola Superior Náutica Infante Dom Henrique, Portugal. 
  • Diovanna Stelmam Negeski de Aguiar (São Paulo, SP): Ciência da Computação, na New York University (NYU), na China. 
  • Eric Souza Costa Ribeiro (Caieiras, SP): Engenharia Aeroespacial na University of Notre Dame, EUA. 
  • Melissa Simplicio Silva (Rio de Janeiro, RJ): Ciência da Computação na New York University (NYU), EUA. 
  • Rilary Oliveira Torres (Diadema, SP): Medicina na Universidad Nacional de Rosario (Argentina)

“O Black STEM é um programa de incentivo financeiro e educacional para adolescentes e jovens negros que desejam estudar ciências exatas fora do Brasil. Esta iniciativa não é um projeto de curto prazo, mas um programa duradouro desenvolvido pelo Fundo Baobá e pela B3 Social. Os resultados do primeiro processo seletivo mostram que estamos no caminho certo. Por isso, continuaremos a investir e a trabalhar para ampliar as perspectivas e horizontes dos alunos de escolas públicas e privadas que promovem a diversidade étnica por meio de ações afirmativas”, celebra Giovanni Harvey, Diretor Executivo do Fundo Baobá. 

A jornalista Adriana Couto fez a condução da cerimônia, transmitindo muita emoção para todos os presentes. Familiares e amigos dos estudantes tiveram a oportunidade de presenciar uma cerimônia recheada de alegria e comemorações. 

As histórias pessoais dos estudantes encantaram os presentes. Camila Ribeiro Martins, por exemplo, decidiu cursar Pilotagem depois de servir por dois anos à Marinha brasileira. “Servi como técnica no Rio de Janeiro e trabalhei em uma ilha. Tive muito contato com embarcações. O sonho de pilotar nasceu ali. Existe uma escola aqui no Brasil. Mas é escola militar e tem limite de idade. Então, as oportunidades existem, mas por vários motivos elas nos são negadas”, disse.     

Diovanna Aguiar se destaca desde a infância. “Amo ler. Aos 11 anos cheguei à marca de 300 livros lidos. Um dia, porém, minha avó me alertou para o fato de eu estar perdendo a corrida da vida. Ela se referia ao fato de eu não estar em uma boa escola. Eu sou de Itaquera e passei a querer estar nas melhores escolas. Entrei na Federal de São Paulo, uma das melhores instituições de ensino que temos. Nem que seja à força, temos que ocupar esses espaços”, afirmou Diovanna.  

Eric Souza começou a demonstrar ser uma criança fora da curva logo cedo. A mola propulsora de sua ida para a Notre Dame University é sua mãe. “Minha mãe, com a cara de pau dela, passou a ir às escolas particulares de Caieiras pedindo uma vaga para mim, sem ter nenhum dinheiro para pagar. Ela conseguiu. Passei a pensar em ser astronauta. Em 2021, fui o primeiro negro a representar o Brasil na Olimpíada Internacional de Ciência”, festejou.  

Melissa Simplicio Silva já está em Nova York e participou do encontro pela internet. Ela afirmou que a experiência como estudante no exterior faz com que enxergue melhor o Brasil: “Quando colocamos o pé para fora, a gente aprende a dar muito mais valor ao nosso país”, revelou.  

Rilary Torres é uma futura médica brasileira com formação na Argentina. O desejo pela medicina veio de uma previsão quando ainda era um bebê. “Segundo minha mãe, quando eu nasci, uma enfermeira ou a médica disse: ‘Essa vai ser doutora.’ Eu cresci com isso na cabeça e decidi virar médica. Descobri a universidade na Argentina, fui aprovada e estou lá”, concluiu.  

Os familiares estavam extremamente emotivos e a fala de Andressa Martins, mãe da estudante Camila, traduziu o pensamento de todos: “Não se trata só do dinheiro para eles permanecerem nesses países. Agradeço muito a isso, mas agradeço muito mais ao suporte. Isso é muito importante e vocês, Fundo Baobá e B3 Social,  estão dando”, concluiu.   

Fabiana Prianti, Head da B3 Social, enalteceu o fato de os estudantes estarem efetuando um resgate. “Vocês estão realizando os sonhos de seus familiares. Precisamos desses talentos negros. Portanto, voltem para o Brasil e assumam seus lugares de liderança”, disse. A fala de Fabiana reforça o que foi dito por Alexandre Moysés Nascimento, diretor de Governança da B3: “Esse é um dia histórico para nós. Celebramos aqui nossas vitórias e honramos os nossos ancestrais. Temos capacidade e competência, o que nos falta são oportunidades. É isso que a B3 quer proporcionar”, falou Alexandre.  

Outro momento de grande emoção foi com as participações do Professor Hélio Santos, membro da Assembleia Geral do Fundo Baobá e Presidente do Conselho da OXFAM, e André Lázaro, membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. Santos exaltou a perseverança dos estudantes: “O maior delito da elite brasileira foi impedir a juventude de sonhar. Não há investimento maior do que investir na juventude. Por isso, ousem! Ousar nada tem a ver com irresponsabilidade. Ousem! Duas mulheres negras deram duas medalhas de ouro ao Brasil nas Olimpíadas de Paris. Então, ousem, porque não queremos apontar apenas os riscos que a população jovem negra sofre. Queremos mostrar as oportunidades que eles têm também”.  

O também professor André Lázaro encerrou o evento dizendo: “Estar aqui hoje é ver mais uma oportunidade. O Fundo Baobá está olhando para as pessoas e para o compromisso que tem com elas. Esse encontro revela compromissos transformadores. O Movimento Negro civilizou o Brasil. Ter a  B3 comprometida com a equidade é um grande passo que a nossa sociedade também tem para dar”, disse. Para os estudantes, Lázaro deixou o seguinte recado: “Não levem com vocês o peso da responsabilidade. Aceitem o direito de errar”, alertou.   

Fundo Baobá abre processo seletivo para contratação de PJ para Pesquisa Qualitativa em Educação e Relações Raciais

Fundo Baobá abre processo seletivo para contratação de PJ para Pesquisa Qualitativa em Educação e Relações Raciais

O Baobá – Fundo para Equidade Racial, uma das mais importantes organizações voltadas à promoção da justiça social e racial no Brasil, está com uma oportunidade imperdível para profissionais comprometidos com a transformação da educação. A instituição está em busca de uma Pessoa Jurídica (PJ) qualificada para conduzir uma pesquisa qualitativa no campo da educação e das relações raciais, um tema central para a construção de um país mais inclusivo e equitativo.

Objetivo da contratação

A pesquisa tem como objetivo central a realização de grupos focais, entrevistas semiestruturadas e a aplicação de questionários auto responsivos com diferentes públicos. Esses métodos investigativos irão mapear as necessidades e expectativas de estudantes e educadores em relação à preparação para vestibulares, especialmente no contexto de desigualdades raciais. 

Os resultados dessa pesquisa serão fundamentais para orientar a elaboração do edital e as estratégias de divulgação e mobilização da 2ª edição do Projeto Já é: Equidade Racial na Educação.

Esse projeto visa promover a equidade racial nas escolas e garantir que jovens negros e negras tenham as mesmas oportunidades de sucesso acadêmico, superando as barreiras impostas pelo racismo estrutural. A contribuição do estudo será decisiva para impactar positivamente milhares de vidas e transformar o panorama educacional no Brasil.

Quem pode participar

Este processo seletivo é voltado apenas para pessoas negras e exclusivo para Pessoas Jurídicas (PJ), e não serão aceitas candidaturas de pessoa física. Profissionais especializados em pesquisa qualitativa, com experiência comprovada em estudos na área de educação e/ou relações raciais, são convidados a participar. A experiência prévia com projetos voltados para a promoção da equidade racial será um diferencial relevante no processo de seleção.

Processo de Seleção

Para participar do processo seletivo, as pessoas interessadas devem enviar uma proposta orçamentária até o dia 02 de setembro de 2024, às 17h (horário de Brasília). É importante destacar que não serão aceitas candidaturas de pessoa física.

Além da proposta orçamentária, é obrigatório o envio de 02 cartas de referência assinadas por contratantes dos principais trabalhos realizados nos últimos três anos, que sejam relacionados ao escopo desta pesquisa. A seleção será baseada na melhor qualidade pelo melhor valor.

Dúvidas sobre o processo podem ser encaminhadas até o dia 29 de agosto de 2024, às 12h (horário de Brasília).

Como Participar

Os interessados em colaborar com este importante projeto podem acessar o Termo de Referência completo através do link abaixo:

Mês da Filantropia que Transforma 2024 destaca a relação entre mudança climática e filantropia comunitária e de justiça ambiental

Mês da Filantropia que Transforma 2024

Pelo segundo ano consecutivo, a Rede Comuá promove um mês inteiro dedicado a travar debates e refletir sobre as agendas da filantropia comunitária e de justiça socioambiental. O Mês da Filantropia que Transforma acontece durante o mês de setembro, reunindo organizações membro da Rede Comuá, parceiros, financiadores e organizações da sociedade civil, como o Fundo Baobá e outras importantes organizações que fazem parte desta rede.

Em 2023, o foco da iniciativa teve por objetivo dar visibilidade à diversidade de práticas e experiências relacionadas a essas agendas. Em 2024, o Mês destacará a atuação das organizações da filantropia comunitária e de justiça socioambiental no financiamento, desenvolvimento e/ou cocriação de soluções climáticas locais. Serão divulgados conhecimento, conteúdo e atividades que demonstram as práticas e histórias de transformação realizada por comunidades e grupos em seus territórios a partir dessas soluções locais.

As mudanças climáticas em curso no planeta afetam a todos os territórios, grupos e comunidades. Mas não da mesma forma. Minorias políticas como comunidades indígenas, negras, quilombolas, LGBTQIAPN+, mulheres, agricultores e agricultoras familiares e populações de territórios periféricos urbanos, atravessados pelas desigualdades sociais e econômicas, são atingidas de modo mais extremo pelos efeitos da crise climática.

Esses grupos não têm lugar garantido em fóruns de tomadas de decisão relativas à definição de agendas de financiamento climático e de prioridades para as políticas públicas. Apesar de serem os que menos contribuem para o agravamento do quadro e, em muitos casos, os que mais atuam na conservação e preservação do meio ambiente, não recebem o apoio necessário para mitigar os efeitos das mudanças climáticas ou para se adaptar aos desafios socioambientais nos territórios. 

Menos de 1% do financiamento chega de fato a esses grupos para garantir direitos de posse e administrar florestas em países tropicais, segundo relatório da Rainforest Foundation Norway. Dos fundos alocados nos últimos 10 anos para apoiar esses direitos, apenas 17% incluíram ao menos uma organização local, representando 0,13% de todo o financiamento climático .

 No Brasil, segundo dados da última edição do Censo GIFE, as organizações do investimento social privado (ISP) têm perfil majoritariamente executor de projetos e menos doador para outras organizações da sociedade civil. De acordo com o Censo, o montante de recursos financeiros para áreas de preservação ambiental no período 2022-2023 era de 13% do investimento realizado. Percentual menor era destinado para comunidades remanescentes de quilombos (10%), terras indígenas (7%) e assentamentos (3%).

A filantropia comunitária e de justiça socioambiental desempenha um papel fundamental ao fornecer apoio financeiro para fortalecer aqueles que são mais afetados e estão na linha de frente no enfrentamento às mudanças climáticas, enfatizando o papel transformador de movimentos, grupos e organizações de base presentes em todos os biomas brasileiros, contribuindo de modo crucial para a regulação climática do planeta.

Pensar a mudança do clima a partir de uma abordagem baseada em direitos humanos e  interseccional mostra-se fundamental, buscando que as estratégias de mitigação, adaptação e financiamento climático estejam focadas na redução da pobreza e no fortalecimento dos direitos, de modo que a transição para uma economia de baixo carbono seja de fato inclusiva e sustentável.

Iniciativa Comuá pelo Clima: financiamento de soluções climáticas locais

Em junho deste ano, durante o F20 Climate Solutions Forum, foi lançada a Iniciativa Comuá pelo Clima, uma ação de incidência que busca fortalecer o posicionamento político, a atuação coletiva e em rede para a construção de estratégias, narrativas e a produção de conhecimento no campo da filantropia climática, impulsionando e dando visibilidade a essas agendas tanto na esfera pública não estatal, como nos ecossistemas filantrópicos nacional e internacional.

A iniciativa é formada por organizações independentes doadoras que integram a Rede Comuá, que atuam há décadas com grantmaking para justiça socioambiental e têm uma trajetória consolidada e grande expertise em apoiar diretamente as comunidades tradicionais locais, na gestão de projetos e doação de recursos, monitoramento e avaliação.

Juntas, elas já financiaram, desenvolveram e/ou cocriaram mais de cem soluções climáticas locais (criadas por e para as comunidades, considerando as especificidades e vulnerabilidade dos grupos envolvidos). Atuam em diferentes territórios do país, em todos os biomas, valorizando saberes locais e ancestrais, soluções e tecnologias, e ao mesmo tempo fortalecendo ações de mitigação e adaptação.

Isso demonstra a atuação altamente capilarizada e eficaz da Rede e seu papel fundamental na agenda da filantropia comunitária climática, evidenciando soluções locais de financiamento, pensadas e desenvolvidas a partir dos atores que estão nos territórios, e buscando influenciar o campo a repensar suas práticas de doação em prol da transformação social e do enfrentamento efetivo aos impactos das mudanças climática.

Como parte da programação do Mês da Filantropia que Transforma 2024, será realizado o lançamento da “Iniciativa Comuá pelo Clima: financiamento de soluções climáticas locais”, que traça o perfil da atuação dos membros da Rede nessa agenda, de modo interseccional, e destaca ações e iniciativas desenvolvidas e financiadas na área de filantropia e clima.

O levantamento tem grande potencial para se tornar uma referência para o campo da filantropia, contribuindo para incidir na construção de agendas e desenvolvimento de estratégias de financiamento para organizações e grupos da sociedade civil que atuam na linha de frente.  

Mês da Filantropia que Transforma 2024

Soluções climáticas locais
Data: setembro de 2024
Realização: Rede Comuá e parceiros
Informações: https://redecomua.org.br/mes-da-filantropia-2024/ 

Coletivo de mulheres negras lança e-book após participação no Programa de Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco

O e-book “Negras que Movem: Olhares e Perspectivas das Líderes Aceleradas pelo Fundo Baobá" fortalece o protagonismo em diversos espaços de diálogo e debate

O e-book “Negras que Movem: Olhares e Perspectivas das Líderes Aceleradas pelo Fundo Baobá” fortalece o protagonismo em diversos espaços de diálogo e debate

A revolução das mulheres negras através da escrita se iniciou a partir de uma necessidade de sanar diversos obstáculos enfrentados por elas. Em um contexto complexo e imersas em opressão, negligências e vulnerabilidades, foi na escrita que grandes estrelas da literatura brasileira se destacaram, como Carolina Maria de Jesus, Lélia Gonzalez, Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro, entre outras, para reivindicar por seus direitos básicos de humanidade, dignidade e presença.

Tal prática se perpetua até hoje entre as mulheres negras, como é para Luciane Reis, uma das idealizadoras do livro “Negras que Movem: Olhares e Perspectivas das Líderes Aceleradas pelo Fundo Baobá”, que deve  ser lançado em 10/08/2024, no formato virtual, com aproximadamente 80 artigos. A obra é uma chamada à ação para reconhecer e valorizar as contribuições negras, desafiar os paradigmas estabelecidos, e ampliar o entendimento sobre a riqueza e a complexidade das vozes negras.

São nos escritos que suas dores e reivindicações ganham força para romper séculos de silenciamento e expandir a necessidade de ascensão, protagonismo e representatividade feminina negra na comunicação opinativa e emancipatória. Seguindo o exemplo e inspiração das mais velhas, foi criado em 2019 o coletivo Negras que Movem, com o objetivo de dar representatividade e empoderamento às mulheres negras na comunicação e em todas as esferas da vida social. 

Essa iniciativa se tornou viável com a união de 24 mulheres negras selecionadas no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, no qual o Baobá – Fundo para Equidade Racial proporcionou o desenvolvimento financeiro individual e organizacional de diversas lideranças, grupos e coletivos liderados por mulheres negras.

Luciane Reis, uma das contempladas, nasceu no bairro Saramandaia, em Salvador – BA, é especialista em Educação Online e mestre em Desenvolvimento e Gestão, e sempre foi apaixonada por livros desde a adolescência, então se conectar com a diáspora africana, os movimentos de resistência negra e os intelectuais que moldaram o pensamento afrocentrado não foi tão complicado. Pelo contrário, ela enxerga nesse percurso a possibilidade de encorajar outras mulheres negras a encontrar suas próprias vozes e a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades. 

“Na época em que recebi a doação, eu havia sido demitida do meu emprego. A doação foi essencial para que eu pudesse finalizar minha dissertação de mestrado com tranquilidade. Graças à bolsa, pude concluir meus estudos sem precisar me preocupar com minha sobrevivência básica”, afirma Luciane Reis, sobre o período da vida em  que recebeu o recurso.

Ao participar das atividades propostas, Luciane observou a oportunidade de criar o coletivo Negras que Movem. O coletivo surgiu da vontade e necessidade de união dessas mulheres, que enxergaram a potência que havia ao se unirem para alcançar espaços antes intangíveis. Um dos resultados dessa potência foi a oportunidade de publicar seus artigos no portal Geledés, representando uma ampla gama de perspectivas e análises sobre questões sociais, políticas e culturais. 

Sulamita Rosa da Silva, mestre em educação na Ufac de Rio Branco, e uma das 24 mulheres negras que compõem o Coletivo Negras que Movem, relata que a participação e os resultados que obteve no Programa fizeram muita diferença em sua vida e que estão gerando frutos que irão repercutir por toda a comunidade negra. “O que precisamos para nos mover é de oportunidades e vocês concederam ao fornecer apoio a muitas pessoas negras. Parabéns por fazerem a diferença na vida dos nossos”, afirma.

Cada texto que será publicado no e-book oferece uma visão única e poderosa, permeada pela vivência e pelo engajamento das líderes aceleradas com as comunidades e os movimentos sociais. Apoiadas pelo Fundo Baobá, essas mulheres inspiradoras têm se destacado em diversas áreas, incluindo ativismo social, empreendedorismo, jornalismo, educação e cultura. São mulheres que, apesar das adversidades, têm feito a diferença em suas comunidades e contribuído para a construção de um mundo mais justo e igualitário para todos.

Apesar da grandiosidade do projeto e da iniciativa, elas ainda encontram diversos obstáculos no caminho, como o financiamento do livro e a dificuldade de publicação dos textos, porque ainda são privadas de ter acesso a recursos econômicos e ao mercado editorial, como acontece com a população negra. Porém, o desejo e a esperança seguem  presentes na vida delas e das demais mulheres negras que compõem o coletivo. O que elas realmente almejam é que seus escritos sejam propagados e suas vozes sejam ouvidas, ajudando a construir um mundo mais humano e afrocentrado.

Para mais detalhes e resultados do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas: Marielle Franco, acesse este link.

Black STEM seleciona estudantes negros brasileiros para graduação no exterior em ciências exatas 

Edital Black-Stem

O edital  vai oferecer suporte financeiro para apoiar a permanência dos estudantes durante a graduação

Contribuir para que sonhos sejam alcançados. A divulgação da lista de selecionados do edital Black STEM, do Baobá – Fundo para Equidade Racial, marca a formação da primeira turma de bolsistas apoiados pelo edital Black STEM, voltado a estudantes negros e negras brasileiros que hoje alcançam o objetivo de cursar uma graduação fora do Brasil. O edital  destinou cinco bolsas de estudo de R$ 35 mil para estudantes das áreas de Exatas (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), com a possibilidade de as bolsas serem renovadas anualmente até o período de conclusão do curso.

O objetivo do Black STEM, que tem apoio da B3 – Social e parceria com a BRASA (Brazilian Students Association), é dar suporte aos cinco estudantes negros brasileiros para que permaneçam nas universidades que escolheram no exterior, em condições de suprir despesas de aluguel, transporte, alimentação e material acadêmico. Os selecionados, cuja lista foi divulgada em 15 de julho, são de São Paulo (2), Rio de Janeiro (1), Bahia (1) e Espírito Santo (1). 

Os dois representantes do estado de São Paulo são de cidades da região metropolitana: Rilary Oliveira Torres é de Diadema e Eric Souza Costa Ribeiro é de Caieiras. Já Micaela Melissa Simplicio Silva é da cidade do Rio de Janeiro (RJ), Marcus Senghor Guena dos Santos Oliveira é de Salvador (BA) e Camila Ribeiro Martins é de Vitória (ES). 

Os cursos pelos quais optaram são os mais variados e a escolha pelas universidades, ao contrário do que costuma ocorrer, não recaiu apenas sobre Europa e América do Norte. A América do Sul também faz parte dessa lista. Rilary Torres optou por cursar Medicina na Universidad Nacional de Rosario, na Argentina. Eric Ribeiro vai para os Estados Unidos cursar Engenharia Aeroespacial na University of Notre Dame, no estado de Indiana;  Micaela Melissa Silva também vai para os Estados Unidos fazer Ciência da Computação na New York University (NYU), em Nova York; Marcus Ghena Oliveira também optou pela América do Norte e estará no Canadá estudando Game Design na Brock University, em Ontário, e Camilla Martins vai para Portugal estudar Pilotagem na Escola Superior Náutica Infante Dom Henrique, na cidade de Oeiras. 

Embora a presença de estudantes negros e de baixa renda em áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) ainda seja limitada, o Programa Black STEM visa combater a baixa representação de estudantes negros brasileiros em universidades internacionais. Essas áreas, também conhecidas como ciências exatas, têm uma ligação histórica com a população negra, responsável por importantes desenvolvimentos científicos e tecnológicos. . O programa visa resgatar essa herança e promover a inclusão de mais pessoas negras na academia, trabalhando para ampliar as perspectivas e horizontes dos alunos de escolas públicas e privadas

Para saber detalhes sobre o edital Black STEM, clique aqui .

Da superação à qualificação: conheça a história do Jean Carlos

Jean Carlos é um paraense radicado em Belo Horizonte inicia jornada de conhecimento para se qualificar profissionalmente após superar sério problema de saúde

Paraense radicado em Belo Horizonte inicia jornada de conhecimento para se qualificar profissionalmente após superar sério problema de saúde  

“O edital foi importante para eu poder viabilizar cursos, como inglês, Excel e Power BI. Eu trabalho com departamento pessoal. Gosto muito dessa questão de controles. Aí eu pensei:  vou melhorar nessa parte para quando voltar ao trabalho eu ter facilidade de recolocação. Porque quando você sai, a sua vaga é disponibilizada para que outro profissional cumpra o trabalho que você fazia. Eu cheguei à conclusão que precisava de uma bagagem para poder retornar ao trabalho e me sentir acolhido.” 

O pensamento acima é bastante comum para quem está preocupado em manter sua posição no mercado de trabalho, especialmente quando se sabe que há 8,6 milhões de pessoas desempregadas no país, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). No caso de Jean Carlos Oliveira, 57 anos, o desafio era ainda maior quando esteve internado no Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte (MG), Ωe temia pelo seu futuro profissional

Formado em Administração de Empresas pela Faculdade Pan Amazônica, a Fapan, em Belém (PA), Jean Carlos migrou de seu estado para Minas Gerais em busca de mais  oportunidades. Ele entrou na faculdade aos 40 anos e ir para um  outro estado mostrou ser a solução para alcançar melhoria de vida. Especializou-se na área de recursos humanos e tudo ia bem até que no segundo semestre de 2022 ele passou a enfrentar problemas de saúde cuja causa não era determinada. 

Preocupado em manter o emprego na empresa em que estava contratado havia apenas oito meses, Jean não media esforços. Enfrentava as questões físicas e em algumas oportunidades chegou a fazer algo não recomendado, como a automedicação. Até que não foi possível deter os sintomas de algo ainda desconhecido. “Em um atendimento de emergência, fiz todos os exames, mas a médica disse que a perícia não havia sido conclusiva. Eu iria ficar internado. Foi um mês de exames, biópsias e tudo que se possa imaginar. Então, recebi o diagnóstico: Linfoma de Hodgkin”, disse. O linfoma de hodgkin é um tipo de câncer no sistema linfático. 

O diagnóstico de câncer não foi o único problema que Jean teve que cuidar nesse período. “Eu e meu irmão moramos juntos. Eu sempre fui o provedor das coisas em casa. Mas naquele período, recebemos da síndica do prédio uma ordem de despejo. No hospital, eu com a cabeça a mil por hora e preocupado com as coisas de fora, não me concentrava na minha melhora. Não aceitava que eu estava doente. Aí, o tratamento não funcionava. Só passou a funcionar quando eu aceitei que estava doente”, afirmou.

No início de 2023, Jean iniciou as sessões de quimioterapia. Foram 12 no total. Ainda convalescendo, recebeu de uma sobrinha a informação sobre o edital Carreiras em Movimento, do Baobá – Fundo para Equidade Racial. No edital, 298 pessoas foram classificadas e, entre elas, Jean Carlos. O edital faz parte do Programa Presente e Futuro em Movimento, foi lançado em setembro de 2023 e tem como objetivo promover a ampliação de oportunidades no mercado de trabalho para pessoas negras em empresas privadas. Um recurso que poderia variar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil foi designado para cada um dos selecionados, que poderão usar esse valor para desenvolver suas carreiras com cursos, compra de equipamentos, intercâmbios e outros itens que possam contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional.  

Aprovado no edital e depois de mais de um ano sob tratamento, Jean Carlos queria iniciar os cursos que o colocariam em posição de competitividade com outras pessoas no mercado, principalmente o curso de inglês. Porém, uma outra doença veio para testar sua resiliência: a dengue. “Eu ainda estava debilitado, mas queria iniciar os cursos. Porém, peguei dengue e levei um tempo para me recuperar”, disse. 

Jean ainda tinha uma outra preocupação para quando fosse reassumir seu posto na empresa em que trabalha: o etarismo. Após ficar mais de 1 ano e meio fora e sendo um funcionário com idade acima dos 50 anos, ele temia ser dispensado. “Antes de entrar para essa empresa que me acolheu no período da minha doença, o mercado de trabalho estava bem difícil. Mandava currículos, fazia entrevistas, até me dispunha a fazer outras funções e nada. Passei vários meses sem emprego. É doído! Você chega na empresa com uma boa carga de aprendizado e vê que havia muita gente mais jovem e que a opção foi por elas. Acho um absurdo gente na minha faixa de idade e com experiência não conseguir ser inserida no mercado de trabalho”, afirmou o administrador de empresas. 

Livre das questões de saúde, pronto para iniciar os cursos que vão trazer mais habilidades ao seu perfil profissional, Jean Carlos é só comemoração. “É fantástico sair da situação da qual saí e retornar no intuito de crescimento profissional”, concluiu o donatário do edital Carreiras em Movimento, sobre o qual você pode conhecer mais detalhes clicando aqui.  

Liderança negra e feminina se destaca por atuação frente às necessidades de mulheres negras após tragédia climática no RS

Saiba como uma liderança negra, do Coletivo Atinúké, enfrentando os desafios impostos por tragédias climáticas e promovendo igualdade racial e de gênero no RS.

Nina Fola é militante do movimento negro, socióloga, produtora cultural e doutoranda em sociologia. Atualmente é a liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké – Pensamento de mulheres negras, um grupo de formação que apoia, estuda e fomenta a produção de conhecimento das mulheres negras desde 2016. O grupo surgiu a partir da iniciativa de três mulheres negras acadêmicas que identificaram que as necessidades da população negra e feminina do Rio Grande do Sul não eram consideradas.

Nina Fola é militante do movimento negro, socióloga, produtora cultural e doutoranda em sociologia. Atualmente é a liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké. Ela é uma mulher negra de cabelo crespo com luzes loiras e na foto está de óculos de sol e camiseta amarela.
Nina Fola, liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké

A atuação do Coletivo, um dos selecionados no edital Educação e Identidades Negras, do Baobá – Fundo para Equidade Racial, vem se destacando com maior incidência e suprindo cada vez mais as necessidades emergenciais da população negra e feminina após um dos maiores eventos climáticos extremos no Brasil, ocorrido em maio no RS. Elas vêm enfatizando o desfavorecimento em termos salariais, profissionais e acadêmicos da população negra que representa 21,19% dos habitantes do estado segundo o IBGE.

Anteriormente a uma das maiores catástrofes climáticas da história do estado do RS, o coletivo atuava principalmente na formação de mulheres negras a partir de leituras e discussões de produções escritas e artísticas de autoria  das mesmas. Atinúké, nome que significa, em Iorubá, “aquela que merece carinho desde o ventre”, faz um resgate ancestral da potencial intensidade do que é o amor, o carinho e a força transmitida no ventre de uma mulher negra. São forças oriundas da resistência ancestral que as fazem enfrentar desafios de uma sociedade patriarcal, racista e misógina.

No levantamento realizado pelo Observatório das Metrópoles de Porto Alegre, pode-se visualizar que um contingente expressivo da população pobre e preta foi afetado durante as fortes chuvas do mês de maio em bairros populosos da cidade, como o Sarandi, na região Norte, nas ilhas e na região metropolitana, a exemplo de Canoas, Cachoeirinha, Alvorada, Gravataí, Sapucaia do Sul e São Leopoldo. A água tomou conta também de praticamente toda a cidade de Eldorado do Sul e Guaíba. 

Nina explica que nos bairros mais afetados, onde o estado não opera prontamente nem os torna visíveis, são as comunidades de quilombo e terreiros que atuam para identificar e amenizar os impactos oriundos das chuvas que impossibilitam a população negra de viver com dignidade e respeito. São também os quilombos e os terreiros que estão na linha de frente acolhendo, monitorando e fornecendo alimentos básicos e moradia para parte dessa população, pois alguns têm medo de ir até os abrigos e serem vítimas de violências raciais e de gênero nesses locais.

Ao relembrar diversos desafios desse cotidiano, Nina afirma que as necessidades que vieram após o evento climático extremo são muito particulares e ao mesmo tempo muito similares às da pandemia de Covid-19, em 2020. Ela relata que a experiência que obteve participando do edital Educação e Identidades Negras a fez conduzir com maestria todas as adversidades impostas pelas fortes chuvas. Para ela, foi de extrema importância vislumbrar o Fundo Baobá, não só como financiador do recurso recebido, mas também pela base sólida de aprendizado e conhecimento que adquiriu com as várias palestras, assessorias e assistências necessárias nesse processo.

Coletivo Atinúké

Nina constatou que as dificuldades das mulheres negras e, consequentemente, da população negra no RS, ficaram muito mais evidentes e são desproporcionais em relação ao restante da população. Os desafios encontrados por esse grupo são maiores, especialmente as mulheres negras, que sofrem com a falta de acesso a abrigos seguros, cuidados médicos, medicamentos, alimentos adequados e a reestruturação de suas vidas, empregos e renda futuros, além de acesso às políticas públicas.

Diante desses fatos, ela questiona a dificuldade em acessar e identificar as políticas públicas necessárias para enfrentar esse momento caótico. Para suprir as necessidades básicas, é crucial ter dados sobre essa parte da população. Atualmente, o possível e viável é atuar nas questões mais urgentes, como fornecer alimentação e moradia para garantir a sobrevivência dessas pessoas.

“Se é interesse político atender a esse público, é fundamental que sejam implementadas medidas afirmativas de urgência, que mobilizem a sociedade civil, mas também a imediata criação de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial e de gênero, visando a garantia de direitos fundamentais, financiamentos, oportunidades de emprego e renda, assim como justiça social para as mulheres negras no Rio Grande do Sul”, afirma Nina. Para ela, é essencial uma ação emergencial direcionada a estas mulheres que, ela acredita, vai ter um reflexo positivo para as pessoas. Quando atuam direcionadas, as mulheres negras modificam um contexto social e não somente uma mulher ou uma família.


“Se é interesse político atender a esse público, é fundamental que sejam implementadas medidas afirmativas de urgência, que mobilizem a sociedade civil, mas também a imediata criação de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial e de gênero, visando a garantia de direitos fundamentais, financiamentos, oportunidades de emprego e renda, assim como justiça social para as mulheres negras no Rio Grande do Sul”, afirma Nina. Para ela, é essencial uma ação emergencial direcionada a estas mulheres que, ela acredita, vai ter um reflexo positivo para as pessoas. Quando atuam direcionadas, as mulheres negras modificam um contexto social e não somente uma mulher ou uma família.

Siga o Coletivo Atinúké para acompanhar o trabalho que elas realizam: https://www.instagram.com/coletivoatinuke/

Créditos: Arquivo Pessoal

Edital Carreiras em Movimento aproxima estudante de engenharia da profissional que a inspira

Descubra como o edital "Carreiras em Movimento" pode transformar sua trajetória profissional através do depoimento inspirador de Lívia Mello.

Conhecimento é poder e isso ninguém te tira, filha!

Com os olhos marejados, Livia contou a história da sua família, em especial de seu pai que, infelizmente, não vai ver essa potência brilhando dentro e fora de terras brasileiras. Sim, ele não está mais conosco, mas, assim como eu, ela recebeu de seus pais a semente da paixão pelo estudo, que desbrava caminhos, abre fronteiras e nos faz ver além do óbvio.

A futura engenheira contribui com suas ações para o desenvolvimento do setor de petróleo e gás, focando na transição energética justa e inclusiva e já coleciona vitórias, que vão desde a sua nomeação como Student Energy 2024 Fellow até sua emocionante ida para os Emirados Árabes como uma das poucas selecionadas a participar do importante fórum juvenil de energia, o Irena Youth Forum.

No nosso bate-papo eu vi uma moça cheia de sonhos e pronta para fazer diferença no mundo para sua geração e para as outras que virão e é disso que o mundo precisa, de diversas Livias, movimentando a roda que vai além do óbvio, que nos coloca como protagonistas de uma história que nem sempre foi de sucesso para nós mulheres e principalmente para nós mulheres negras e engenheiras. Que essa Livia inspire outras e outras e outras! Estamos esperando por vocês nesse mundo desafiador, mas extremamente gratificante! Parabéns, Livia. É uma honra poder fazer parte de um capítulo de sua história. Voe!”

O relato acima foi escrito pela engenheira Denise Santos, de 49 anos, que construiu sua carreira na Shell do Brasil. O texto surgiu após conhecer a estudante de Engenharia Livia Mello, 24 anos, de Fortaleza (CE). O primeiro encontro entre elas ocorreu por conta da inscrição de Livia no edital Carreiras em Movimento, do Baobá – Fundo para Equidade Racial. As duas têm histórias que passam por pontos em comum, como a origem humilde e a determinação para quebrar barreiras e alcançar um sonho aparentemente impossível. 

Livia Mello é estudante na Universidade Federal do Ceará. Está no sétimo semestre de Engenharia, o que equivale ao quarto ano de um curso com cinco anos de duração. Sua intenção é especializar-se no segmento de energias não renováveis, ligadas ao petróleo e ao gás natural. O curso é em período integral, o que representa  mais um obstáculo  em sua vida pessoal. A estudante mora com a mãe, Aurilia, e com a irmã, Lilian. As três têm uma vida difícil e Livia teria que contribuir para suprir os gastos da casa, mas o curso em período integral a impede de trabalhar. 

Aurilia tem formação em Gestão Ambiental, mas está desempregada. Lilian, a irmã, é formada em Ciências Sociais e atua como pesquisadora. “É bem difícil para mim, porque o meu curso é integral, tenho aula de manhã e à tarde e eu acabo não conseguindo pegar um trabalho. É difícil ver as contas chegando e eu não ter como ajudar no momento. Já pensei até em desistir da minha graduação. Estamos nos virando da forma que a gente consegue”, afirma. Livia e Lilian perderam o pai há 12 anos. Gilson era um homem da roça que acreditou no sonho e conseguiu alcançá-lo: “Ele teve que estudar muito, formou-se em Engenharia e chegou a engenheiro projetista na Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica). Meu pai e minha mãe são as duas figuras que me ensinaram que o caminho que eu teria que trilhar seria dentro da educação”, diz a futura engenheira. 

E é na educação que os caminhos de Livia Mello e Denise Santos se cruzam. Ao ser perguntada sobre a presença de mulheres na área de atuação que pretende seguir, Livia foi enfática: “São poucas mulheres. É difícil entrar e é mais difícil ainda ficar. Costumo fazer uma análise de quantas mulheres têm na sala de aula e quantos negros. Geralmente, sou a única mulher negra”, afirma. Com tão poucas mulheres, ela revelou em quem se inspirava no projeto de construção de sua carreira: “Eu me inspiro na Denise, que trabalha na Shell”. Livia passou a acompanhar Denise nas redes sociais a partir de entrevistas dadas pela engenheira, palestras e artigos escritos. 

Denise Santos é a atual gerente de suprimentos da Shell do Brasil. Ela é de Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense. Filha de uma empregada doméstica (Laura) e de um motorista (Manoel), Denise fez sua formação universitária no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckov da Fonseca, o CEFET, e acabou beneficiada pelo programa de intercâmbio que a entidade mantinha com universidades ao redor do mundo. 

Por seu bom desempenho, Denise foi aceita para fazer sua especialização em Engenharia de Automação (Robótica) na Universitè de Technologie de Compiègne, na França. O domínio do francês e a vida longe de Nova Iguaçu eram as principais barreiras a serem vencidas. Para se manter, Denise recebeu uma subvenção do CEFET para poder viajar, além de uma quantia na caderneta de poupança, arrecadada entre professores e alunos da instituição. No seu retorno ao Brasil, depois de um semestre de estudos e um estágio de seis meses na fábrica da Renault, iniciou sua carreira em outra montadora francesa, a Peugeot-Citroen, que se instalou no Brasil no início dos anos 1990. 

Assim como Denise Santos, Livia Mello sonhou e realizou o projeto de ir para o exterior. O principal problema era o domínio do inglês. Foi para tentar resolver a  pendência com a língua estrangeira que ela fez sua inscrição no edital Carreiras em Movimento, do Fundo Baobá, no qual 298 pessoas foram classificadas. Como parte do Programa Presente e Futuro em Movimento, o edital foi lançado em setembro de 2023, e objetiva promover a ampliação de oportunidades no mercado de trabalho para pessoas negras em empresas privadas. Um recurso que poderia variar entre R$5 mil e R$10 mil foi designado para cada um dos selecionados, que poderão usar esse valor para desenvolver suas carreiras com cursos, compra de equipamentos, intercâmbios e outros itens que possam contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional.  

O foco de Livia Mello foi a participação no Irena Youth Forum: The New Generation of Decision Makers (Irena Fórum  da Juventude: A Nova Geração de Tomadores de Decisão), que aconteceu no mês de abril em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e discutiu a questão das energias renováveis com jovens representantes de várias partes do mundo. “Eu me inscrevi! Passei na primeira fase, que foi a análise curricular.  Achei que ia ser só isso, mas não foi. Teria a entrevista por vídeo. Foi terrível, porque foi em inglês. Deram 60 segundos para eu me apresentar e falar do projeto. Fiquei super nervosa”, disse.

Em 12 de março, alguns dias após os testes, Livia ficou sabendo de sua aprovação para estar em Abu Dhabi representando o Brasil. Mas o não domínio do inglês ainda era o seu principal obstáculo. A solução veio com o recurso doado pelo Fundo Baobá. Ela investiu parte do que recebeu em algumas aulas extras de inglês. “Fiquei seis dias em Abu Dhabi. No início, as pessoas perguntavam coisas em inglês e eu respondia em português. Depois, fui me adaptando. Foram 6 dias ótimos. Tive contato com gente de várias partes do mundo, como Jordânia e Índia. Ver as expectativas de cada um com relação aos processos energéticos em seus países foi transformador”, afirmou. 

Além de seguir nas aulas de inglês, Livia pretende fazer outros dois cursos para melhorar suas chances no mercado de trabalho: Excel e Power BI. Ela está se qualificando e sabe que este é o caminho para melhores oportunidades.

Quer saber mais sobre o edital que vai apoiar as carreiras de Livia e tantas outras pessoas? Conheça o Carreiras em Movimento.

Créditos: Arquivo Pessoal

Dança, Corpo e Ancestralidade conectados em prol da cura de um povo

Apostar na dança como ferramenta de ascensão das diversas potências negras é o que a Leandra Silva e a Juliana Jardel, ambas bailarinas e professoras, acreditam. Para elas, a dança é um dos instrumentos mais ricos para a cura e a conexão do corpo negro. Além disso, o movimento corporal, entendido como universal, está presente na história de cada povo, reescrevendo tradições, contando histórias e saberes. E constitui, assim, um denominador comum, que é a conexão que os entrelaça através de oralidade, mitos, danças, cantos, gestos e ritmos, o que resulta na cura de um povo tão sofrido.

A dança ancestral é também um dos temas contemplados na 1ª turma do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. A potência negra na arte brasileira, principalmente na dança, é um grande fator de resistência e contribui com a construção histórica e cultural desse país. As relações que envolvem o negro na sociedade estão inteiramente ligadas ao enfrentamento do racismo, discriminações, intolerâncias, homofobias e diversas outras formas de discriminação que perpassam significativamente pelo o que é ser um artista negro. Por isso, se torna urgente revelar e inserir novos corpos negros e suas diversas ações de militância e ativismo nas artes, culturas, educação, politica etc.

Foi com os projetos Movimentos Atlânticos e Verve-Déjà Vu Afrofuturista 1º Ato – Ancestralidade High Tech, respectivamente propostos pela bailarina, professora de dança e doutoranda em Antropologia Social na Universidade Federal de Goiás (UFG), Juliana Jardel, e pela também bailarina, professora e jornalista Leandra Silva, que ambas conseguiram receber investimento e desenvolver processos criativos que possibilitaram crescimento pessoal e profissional.

Leandra Silva explica que fazer parte do Programa foi uma das melhores coisas que poderia ter acontecido, pois foi a primeira vez que ela vivenciou esse nível de investimento profissional. Ela acredita que a iniciativa do Baobá, em querer formar lideranças negras, vai na contramão do que o Brasil está acostumado. “Essa bolsa me deu um chão e essa é uma das coisas mais revolucionárias que eu vejo na proposta do Baobá, que é o investimento financeiro direto e real em mulheres negras; aí eu tive a dimensão do quanto eu posso chegar simplesmente tendo um investimento mínimo”, relata a coreógrafa. 

A paulistana dança e atua como professora há 20 anos e reconhece ali um lugar de cura, no qual a partir das tecnologias ancestrais consegue fundamentar processos criativos que fortalecem ainda mais a sua autoestima e as dos seus, o que nos leva a cada vez mais a refletir sobre o papel do corpo negro na dança contemporânea.

“O desenvolvimento do projeto se deu com muitas transformações, e altos e baixos. Tive assessoria de um coach do Baobá, oficinas, reflexões e muitas trocas com outras mulheres negras agraciadas pelo Fundo. Foi bastante inspirador estar com essas mulheres de tanta criatividade e coragem. Mulheres gigantes de distintas trajetórias”, recorda Leandra. A dançarina conquistou, além de formação e conhecimento, a aprovação em outros editais. O dinheiro captado não foi para o próprio benefício, todavia trouxe paz, alegria e trabalho para todos da sua comunidade de dança. 

Nestes cinco anos, o programa se destacou como uma das mais importantes iniciativas lideradas pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial, que atua há mais de 12 anos em prol da ascensão e do acesso da população negra a capacitações. Essa ação, desenhada e implementada por muitos parceiros e colaboradores, deixou como legado experiências inesquecíveis e duradouras não só para as mulheres negras donatárias, mas também para as que desenvolveram o projeto desde sua concepção.

Para as participantes da primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, o Fundo Baobá possibilitou uma estrutura pessoal que permitiu a dedicação delas em outros projetos que somaram na melhoria da Cia de Dança. A realização do festival ‘Déjà vú Afrofuturista Ancestralidade HighTech’ é fruto e legado desse investimento.  

Para mais detalhes e resultados do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas: Marielle Franco, acesse este link.

Conheça a sergipana Glória Stefany, futura comissária de voo, uma das selecionadas no edital Carreiras em Movimento

Na noite de 4 de agosto de 1996, em Atlanta, capital do estado da Georgia, nos Estados Unidos, acontecia a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos. A mais de 7.000km de distância, em Aracaju, capital do estado do Sergipe, no nordeste brasileiro, Maria Patricia Santos, grávida, assistia ao lado da mãe, Maria Helena, o momento em que a cantora cubana naturalizada norte-americana Gloria Estefan cantava a música Reach (Alcançar), que era tema dos Jogos. A performance encantou Maria Helena que disse: “Se nascer uma menina, vai se chamar Gloria Estefan. Não deu outra. Mas, por obra do cartório, o Estefan se transformou em Stefany. 

Glória Stefany, a menina que nasceu em 1996, hoje é uma mulher de 27 anos que carrega um sonho: tornar-se comissária de bordo. Para isso, ela vem enfrentando uma difícil batalha. Glória ficou desempregada durante a pandemia da Covid-19. A função de merendeira que exercia em uma escola foi descontinuada quando as aulas foram interrompidas. Casada com Leonardo, um atendente de farmácia que dá todo apoio e incentivo ao desejo profissional da mulher, ela não mede esforços e, entre outros trabalhos, tem feito faxinas. 

A sergipana é uma das 298 pessoas classificadas pelo edital Carreiras em Movimento, lançado pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial em setembro de 2023. Como parte do Programa Presente e Futuro em Movimento, o edital objetiva promover a ampliação de oportunidades no mercado de trabalho para pessoas negras em empresas privadas. Um recurso de R$ 5 mil a R$ 10 mil foi designado para cada um dos selecionados, que poderão usar esse valor para desenvolver suas carreiras com cursos, compra de equipamentos, intercâmbios e outros itens que possam contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional. 

Acostumada a uma vida de luta, Glória cresceu em uma família de 10 irmãos,  filhos de uma mãe solo. Aos 14 anos já trabalhava em uma feira livre e também estudava. Quando a família começou a enfrentar problemas financeiros, sua vida passou por uma mudança radical. “Precisei sair da escola. Parei de estudar e comecei a trabalhar como babá. Tive um convite para trabalhar em Navegantes, Santa Catarina, tomando conta de um bebê. Saí de Sergipe e fui para lá. Minha primeira viagem de avião”, diz.

A viagem foi o ponto de inflexão na vida dela. A movimentação nos aeroportos, o glamour das aeromoças e pilotos, a magia das aeronaves plantaram um desejo na cabeça da então jovem de 17 anos: ser uma comissária. “Aquela foi a experiência que mudou totalmente meu ponto de vista. Uma menina simples, para quem andar de ônibus não era uma coisa acessível, estava andando de avião. Fiquei admirada com tudo aquilo e me apaixonei pela aviação”, afirma.

A paixão virou quase uma obsessão. Ela passou a pesquisar tudo sobre aviação, principalmente os temas relativos à formação de uma comissária. Também sabia que para tentar alcançar seu objetivo teria que ter uma boa formação. Portanto, concluir o Ensino Fundamental e o Ensino Médio era obrigação. Para recuperar o tempo que ficou sem estudos, cursou o Ensino para Jovens e Adultos, o EJA, modalidade educacional voltada àqueles que não tiveram oportunidade de fazer o Ensino Fundamental e o Ensino Médio na idade prevista. Depois de concluir, Glória Stefany foi além: conseguiu a aprovação para o curso de Letras na Universidade Federal de Sergipe, onde está no sétimo período, restando dois para a conclusão do curso. 

Os desafios nos estudos têm se mostrado superáveis. As considerações preconceituosas feitas pelas pessoas são tentativas frustradas de impor obstáculos. E as principais têm a ver com o cabelo de Stefany. “Mas eu nunca vi aeromoça de cabelo cacheado; “Será que você vai se adaptar ao uniforme?”; “Nordestina pode ser aeromoça?”; “Você já está com 27 anos. Aeromoça tem que ser jovem!”. Porém, como canta Gloria Estefan em Reach: “Alguns sonhos vivem para sempre no tempo (Some dreams live on time forever).” E o sonho da Glória brasileira está bem vivo.  

Ela fala da importância do edital Carreiras em Movimento na busca pelo seu objetivo. “O edital me dá a possibilidade de eu não ficar só no sonho. Eu passei a ter a prática da coisa. Passei a ter um espaço maior para aprender. Aqui em Sergipe não tem escola para essa formação, o curso é semipresencial e os testes são feitos em São Paulo. Fiz meus testes em São Paulo, fiquei três dias por lá. O edital me proporciona poder pagar o curso com o recurso que recebi”, afirma. 

Em tempo: A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), órgão que regula e fiscaliza as atividades da aviação civil no Brasil, publicou em seu site oficial que após os testes feitos em São Paulo, Glória está apta a voar, restando apenas conseguir certificações complementares. Glória Stefany acaba de decolar em direção ao seu sonho!

Alunos adolescentes do Instituto Oportunidade Brasil (IOB) lançam no Espírito Santo livro com relatos de suas experiências com o racismo

Um jovem negro de nome Justyce sofre uma abordagem policial no momento em que ajudava sua ex-namorada, que estava embriagada, a voltar para casa. Os policiais suspeitam que o rapaz iria cometer algum ato criminoso contra a moça. Justyce é tratado com crueldade pelos policiais. Nenhum de seus direitos como cidadão é respeitado. A sua palavra é negada. O fato o revolta. Para se livrar do trauma, ele decide escrever cartas para Martin Luther King Jr, o grande ícone da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. O principal questionamento de Justyce ao pastor King era sobre o que ele, King, faria se sofresse aquele tipo de violência racial. 

O enredo acima, similar ao que acontece com jovens pretos no Brasil,  é a base do livro Cartas para Martin (veja aqui a resenha), da escritora norte-americana Nic Stone, 38 anos, publicado em 2017. Ele foi utilizado pelos alunos do Instituto Oportunidade Brasil (IOB), de Vitória, no Espírito Santo, na oficina Clube da Leitura. A proposta dada a eles, todos oriundos da periferia de Vitória, foi que se colocassem no lugar de Justyce, fizessem uma análise da realidade que vivem, principalmente a da questão racial, e colocassem no papel as suas impressões. Dos participantes da oficina, dez tiveram os trabalhos escolhidos. Seus textos acabaram se transformando no livro Relatos de Reexistência, lançado na noite de 13 de maio de 2024. 

Relatos de Reexistência é resultado da proposta apresentada pelo Instituto Oportunidade Brasil para o edital Educação em Tecnologia, do Baobá – Fundo para Equidade Racial. O edital, lançado em maio de 2023, foi a primeira parceria entre o Fundo e o MOVER – Movimento pela Equidade Racial. Ele apoiou organizações e empresas negras que têm como objetivo contribuir, por intermédio de processos de formação educacional, com o aumento da capacidade de pessoas negras se inserirem no mercado de trabalho na área tecnológica ou dentro de suas aptidões. 

O trabalho de construção do livro a partir dos depoimentos escritos em cartas pelos alunos foi coordenado por Juliana Ferrari, doutora em Educação. Seu objetivo era estimular o gosto pela leitura, aprimorar a escrita e desenvolver o pensamento crítico, fundamental para fazer a análise sobre a sociedade em que vivemos. 

Para a fundadora e presidente do IOB, Veronica Lopes, mestre em Administração pela Fucape, a importância do livro está na sua representatividade como peça de resistência. “Estamos em um local (o Espírito Santo) em que não há muito espaço para esse tipo de literatura. É uma vitória ter um livro escrito por jovens negros falando justamente sobre a resistência”, afirma. 

Veronica Jesus. presidente e fundadora do IOB (Instituto Oportunidade Brasil)

Veronica Jesus. presidente e fundadora do IOB (Instituto Oportunidade Brasil)

Relatos de Reexistência teve tiragem inicial de 100 exemplares. A aquisição pode ser feita pelo instagram do Instituto Oportunidade Brasil ao preço de R$ 45,00. 

Baobá investe em Educação para melhores oportunidades às pessoas negras

Em uma manhã do final de fevereiro de 2023, uma moça de então 27 anos, mãe solo, faz uma revelação agradecida: “Sou preocupada com o meu futuro e com o da minha filha. Sei que o futuro dela será outro quando eu concluir um curso superior. Quero mostrar que é possível. Preciso estudar e trabalhar por mim e pela minha filha”, disse Thauany Aniceto de Souza, estudante de Enfermagem das Faculdades Metropolitanas Unidas, as FMU, em São Paulo. Na mesma manhã, Karina Leal de Souza comemorava a sua entrada no curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade de São Paulo (USP). Uma grande força veio da mentoria que Karina recebeu: “Minha mentora buscou um curso superior dez anos após ter concluído o Ensino Médio. Senti que tinha muito o que aprender com ela”, disse.  

As trajetórias de vida de Thauany Aniceto e Karina Leal são semelhantes. Ambas alcançaram o objetivo de entrar em uma instituição de ensino superior. Além de sua dedicação, contaram com o apoio do Programa Já É. Entre 2021 e 2022, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, com apoio da MetLife Foundation,  implementou o Já É, um programa com o objetivo de ampliar oportunidades para jovens negros e negras de até 26 anos, moradores de São Paulo ou da Região Metropolitana. O programa financiou cursos preparatórios para o vestibular, além de vale alimentação, vale transporte, e um notebook com acesso à internet visando aulas online, dadas as necessidades impostas pela pandemia da Covid-19. A turma de 2021/2022 teve 85 estudantes inscritos. Ao final do período, 32 deles foram aprovados nos vestibulares, sendo que 12 em instituições públicas (USP, UNIFESP, UNESP e UFRJ) e 20 em privadas.  

Os depoimentos de Thauany e Karina foram colhidos durante um encontro que juntou estudantes beneficiados pelo Já É e colaboradores da MetLife que fizeram trabalho de mentoria para eles. O Já É contou também com uma mentoria em formato de encontros virtuais. Cada sessão tinha duração de 1 hora e poderia ser quinzenal ou mensal, dependendo do acordo estabelecido entre mentores e mentorados. As conversas foram pautadas por temas como: ingresso no mercado de trabalho, habilidades socioemocionais e comportamentais, carreira e projeto de vida. 

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam por que o apoio do Já É para o acesso da juventude negra ao ensino superior é necessário. Com relação ao ensino superior, as pessoas brancas com graduação completa equivalem a 6,5% da população brasileira entre 18 e 24 anos. Entre os pretos e pardos, apenas 2,9% da população entre 18 e 24 anos tem graduação completa. Já se o recorte for feito com base no Ensino Médio, são 9 milhões de brasileiros que não o completaram. Desses, 71,6% são pretos e pardos. Entre brancos, a porcentagem cai para 27,4%. A pesquisa também revelou que entre os 48,5 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos, 19,8% nem trabalham nem estudam. Pretos e pardos equivalem a 22,4% enquanto brancos são 15,8%. As discrepâncias são grandes e de alguma forma têm que ser eliminadas. 

O Dia Internacional da Educação, 28 de abril, foi criado no ano 2000 durante o Fórum Mundial da Educação, no Senegal, em uma reunião de 180 países que discutiram sobre quais metas alcançar para seus povos em termos educacionais. A Educação tem como objetivo o crescimento das pessoas e a possibilidade de melhorar as suas vidas e a dos seus, porque além de trabalhar o desenvolvimento de suas competências, potencialidades e habilidades, contribui para ascensão de uma parte da população ainda invisibilizada. Ela é um direito de todos, independentemente de raça, cor, origem, gênero ou religião e acontece por meio da conexão ensino-aprendizagem e não necessariamente em espaços formais, como escolas.

Embora a Educação seja um direito de todos e um dever do Estado, na prática brasileira não é bem assim que isso acontece. E, por isso, ter acesso a ela é uma forma de ampliar o ideal democrático. A nação que investe na educação de seu povo está contribuindo para que ocorra crescimento econômico, redução da pobreza, maior oferta de trabalho e maior entendimento sobre o que são os direitos individuais. Ela permite que os indivíduos ampliem sua capacidade para modificar a realidade de suas comunidades.

Organizações do Terceiro Setor, como o Baobá, têm atuado e feito trabalho fundamental para que a desigualdade no que se refere ao acesso à Educação seja banida de nosso cotidiano. O Baobá priorizou a Educação como um de seus pilares para, e principalmente, promover o enfrentamento ao racismo institucional nos ambientes escolares; contribuir para a ampliação das capacidades socioemocionais de jovens e adolescentes; incrementar a entrada e contribuir para a permanência de negros e negras no ensino superior, além de incentivar a formação de novas lideranças negras nas ciências, na tecnologia e na inovação. Nos últimos quatro anos, além do Programa Já É, o Fundo lançou também o Educação em Tecnologia, o  Educação e Identidades Negras e o BlackStem.  Ao todo, foram investidos mais de R$ 2 milhões como dotação a esses programas.

O Impacto de um edital no crescimento da capacidade de intervenção do Coletivo Filhas do Vento

Para Mariana Paz e Emanuele Nascimento, do Coletivo Filhas do Vento (PE), uma das quinze organizações selecionadas no apoio coletivo, a iniciativa do Baobá foi de extrema importância para o desenvolvimento político e para a capacidade de intervenção das lideranças dentro das suas comunidades. Segundo elas, através das jornadas formativas realizadas foi possível repensar as estratégias de atuação e aproximação com as mulheres negras da comunidade, além de desenvolver novos contatos e novas parcerias que surgiram como consequência da participação no programa.

“O projeto foi, na perspectiva profissional, minha principal descoberta. Revelou que eu sou boa em gestão financeira e que a gente tem potencial de fazer aquilo que tem vontade na área dos projetos”, diz Emanuele Nascimento.

Com o recurso destinado pelo  programa, o Coletivo Filhas do Vento realizou, para o dia Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, o lançamento de uma série de vídeos com temas relevantes, como: “Aláfia: Revoluções Feministas Negras”, sobre as lutas das mulheres negras; “Jovens Insurgências”, sobre juventude negra; e “Enraizando Saberes Ancestrais”, sobre educação antirracista. Além de apresentar a trajetória dos até então quase cinco anos de atuação do coletivo no vídeo “Ventania”, o coletivo também abordou a experiência na execução do projeto do Programa de Aceleração em meio ao contexto da pandemia de covid-19, no vídeo “Travessias”

Há cinco anos, o Baobá – Fundo para Equidade Racial criou o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Lançado em setembro de 2019, com o apoio da Kellogg Foundation, Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Open Society, o programa contou com dois editais. O primeiro foi voltado para o apoio de grupos, coletivos e organizações de mulheres negras. O segundo para apoio individual a lideranças negras. Ambos tinham como principal objetivo ampliar habilidades de mulheres que já desempenhavam papel de liderança em suas comunidades em instituições públicas, organizações da sociedade civil ou no mundo corporativo.

Nestes anos, o programa se destacou como uma das mais importantes iniciativas lideradas pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial, que atua há mais de 12 anos em prol da ascensão e do acesso da população negra a capacitações. 

Essa ação, desenhada e implementada por muitos parceiros e colaboradores, deixou como legado experiências inesquecíveis e duradouras não só para as mulheres negras donatárias, mas também para as que desenvolveram o projeto desde sua concepção.

Nos dois editais, no coletivo e no apoio individual, foram investidos 4 milhões de reais diretamente e 400 mil indiretamente que foram direcionados a assessorias, jornadas formativas e treinamentos realizados por especialistas e por membros da equipe do Baobá. Ao todo, foram selecionadas 15 instituições no apoio coletivo e 63 mulheres no apoio individual, sendo realizadas 42 horas de formação política, 15 horas no enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo, 300 sessões de coach individual, 45 sessões de coach institucional, 200 beneficiárias diretas, 520 beneficiários indiretos e mais de 1.000 atividades realizadas para compartilhamento de conhecimento.

Comemorar esse feito depois destes anos é, sem dúvida, ter a certeza de que com os resultados alcançados foi possível estabelecer um compromisso com diversas trajetórias de mulheres que hoje ocupam posições de poder e influência, através de investimentos em seus planos de desenvolvimento individual e no fortalecimento coletivo das organizações que são lideradas por elas.

Para o Baobá – Fundo para Equidade Racial a eficiência do programa e sua influência nos territórios de atuação deixa um legado importante no que se propôs, contribuindo assim para o desenvolvimento social e para o bem viver de uma parte da população ainda invisibilizada. Para mais detalhes e resultados do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas: Marielle Franco, acesse este link.