Baobá na imprensa em abril

O lançamento do edital de doações emergenciais foi noticiado por diversos veículos da imprensa brasileira, assim como o edital em parceria com o Desabafo Social. Nesse mês, nossa diretora, Selma Moreira, também conversou com a revista Capital Aberto sobre nosso fundo patrimonial e com o Nexo, sobre a saúde da população negra neste contexto de pandemia. A mídia negra também divulgou amplamente o edital, com destaque para Geledés, Ipeafro e Blogueiras Negras. 

Confira a seguir alguns destaques:

Nexo

Leia aqui

Capital Aberto

Revista Exame

Leia aqui

Folha de São Paulo

Leia aqui

El País

Leia aqui

Yahoo

Leia aqui

Depois da Pauta (Podcast) 

GIFE

Leia aqui

Observatório Terceiro Setor

Leia aqui

Geledés

Blogueiras Negras

Ipeafro

Leia aqui

“Programa Marielle Franco” realiza encontro virtual entre os seus participantes

No dia 16 de abril, o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco promoveu um momento de interação e troca de experiências entre suas participantes e atores estratégicos, através da plataforma Zoom.

Além de todas as selecionadas e apoiadas pelo Programa, participaram desse momento de integração virtual representantes das fundações e institutos que apoiam o programa, como Alejandra Garduño e Sebastian Frias, da Fundação Kellogg, Átila Roque, da Fundação Ford, Lígia Batista, da Open Society Foundations, e Mohara Valle, do Instituto Ibirapitanga. Membros dos comitês de investimento e finanças e, também, da assembleia geral e do conselho deliberativo do Fundo Baobá, como Giovanni Harvey, presidente do conselho deliberativo, e a filósofa e ativista na luta antirracista Sueli Carneiro também estiveram presentes. 

Harvey agradeceu a todas as mulheres e entidades que estavam representadas no encontro virtual. Disse que, embora nossa sociedade sofra com o  racismo estrutural, iniciativas como a do Programa de Aceleração  “ajudam a mudar contextos e paradigmas”. Já Sueli Carneiro, durante a sua fala, ressaltou a importância desse momento histórico virtual: “Em março nós rememoramos mais um ano sem Marielle Franco, e hoje nós inauguramos, dessa maneira, esse processo de integração e interação das nossas apoiadas do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. É importante sempre lembrar que essa iniciativa foi a resposta necessária ao covarde assassinato de Marielle Franco, a resposta de todos e todas nós – defensores dos direitos humanos e a resposta de todas nós que lutamos pela promoção social, visibilidade e representatividade das mulheres negras”.  

Dirigindo a fala às selecionadas, Sueli disse: “Vocês são as herdeiras desse sonho e das lutas que o sustentam. Cada uma de vocês respondem às dimensões que estão colocadas como desafios para afirmação individual e coletiva das mulheres negras, que vêm sendo identificados, sobretudo, pelo protagonismo político das mulheres negras. Esses desafios podemos dividir em quatro pontos fundamentais: A necessidade de fortalecimento das organizações políticas de mulheres negras;  a necessidade e a urgência de formação de quadros políticos e técnicos; o combate sistemático ao racismo e aos estereótipos que aprisionam as mulheres negras; e a construção de novos imaginários para as mulheres negras”.

Por fim, Sueli Carneiro ressaltou: “Esse programa foi a forma encontrada de honrar a memória de Marielle Franco e o seu legado de coragem, luta e compromisso com as causas populares, e com um Brasil mais justo e igualitário”.

A família de Marielle Franco também participou do encontro virtual. Marinete Silva, mãe da vereadora, reforçou a importância do empodeamento das mulheres negras: “É muito bom saber que o Fundo Baobá está empenhado em manter esse projeto e que está presente na vida dessas mulheres que têm muita vontade de vencer”. Anielle Franco, a irmã, agradeceu a participação, além de demonstrar alegria ao ver o grupo de mulheres reunido: “Tenho muito orgulho de estar aqui com vocês e faço minhas as palavras de muitas participantes aqui, pois recebemos de vocês todo o apoio para a nossa família que tem passado por várias provações durante este tempo”. Luyara Franco, a única filha de Marielle Franco e uma das líderes em processo de aceleração, também teve a palavra: “Agradeço a parceria, porque a gente não faz nada sozinha. Construir a nossa história ao lado dessas mulheres é muito gratificante”.

Luyara e Marinete Franco

Entre as muitas falas e discursos, em aproximadamente duas horas de interação, Alejandra Garduño, diretora da Fundação Kellogg para a América Latina, ressaltou a importância da atuação do Fundo Baobá no planejamento do programa de desenvolvimento de novas lideranças. Ela destacou que espera, em breve, encontrar todas as participantes pessoalmente, quando a pandemia passar. “É necessário continuar trabalhando e contribuindo para promover a equidade racial. Espero estar perto de vocês e ouvir de cada uma detalhes de seus projetos para ver de que maneira podemos contribuir com soluções”. 

Alejandra Garduño (Diretora da Fundação Kellogg)

A diretora e Sebastian Frias, oficial responsável pelas iniciativas de promoção da equidade racial na Fundação Kellogg, também afirmaram que o momento é muito importante para transformar os sistemas que produzem desigualdades no mundo. Para isso, contam com  uma liderança, como o Baobá, que ajuda a guiar as ações nas comunidades. “Esperamos que as pessoas selecionadas aproveitem esse programa para fortalecer a sua liderança e continuar pressionando pela justiça social”, disse Sebástian.

O diretor  da Fundação Ford para o Brasil e América Latina,  Átila Roque destacou  a massiva representação negra entre os participantes do encontro virtual, reforçando: “Olhando para todas essas carinhas aqui, é muito emocionante ver o quanto avançamos na luta pela democracia e na luta contra o racismo”. Ele também destacou a importância de programas como este na promoção da equidade racial em nosso país.

Atila Roque (Fundação Ford)

Entre as selecionadas, a pesquisadora Durvalina Rodrigues, pós-graduada em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça e em Políticas e Gestão do Cuidado, pautou sua fala nos aspectos políticos. Disse que estava orgulhosa de ser a porta-voz dos coletivos selecionados e que escutou representantes dessas organizações. Nessa escuta, entre outros aspectos, detectou o expressivo aumento da violência racial contra mulheres, principalmente as quilombolas. “Portanto, o Fundo Baobá, ao nos apoiar, nos dá a chance de olhar para isso e intervir.”

A jornalista Jaciara Novaes Mello (PR), agradeceu as oportunidades que o Programa está ofertando a cada uma daquelas mulheres e, particularmente, à ela. Disse também que o vivemos um tempo paradoxal, mas também de aprendizado. “O programa está mudando o patamar de todas nós e essa interação permite que a gente se inspire na experiência de cada uma”.

Juliana de Oliveira Ferreira, de Goiânia (GO), à frente do projeto “Movimentos Atlânticos”, frisou o quanto o Programa foi essencial em sua jornada de desenvolvimento: “Este edital me abriu várias possibilidades de trabalho e de estudo. Através dele eu comprei livros que eu sonhava em adquirir para a minha formação. Portanto, a minha fala aqui é apenas de agradecimento”. 

Gratidão também resume o discurso de Monalyza Ferreira Alves Pereira, à frente do projeto “De uma para muitas – Transformação, Comunicação e Formação em Gestão de Políticas Públicas”, no Rio de Janeiro que trabalha na formação de gestores públicos, reconheceu o quanto o Programa é importante na construção de uma sociedade igualitária: “Nós ainda temos muito trabalho e desafios pela frente, que serão coroados com muita conquista e inspiração. Só tenho que agradecer por essa oportunidade”.
Lançado em setembro do ano passado pelo Fundo Baobá, o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras busca a paridade real, em todos os lugares, instituições, organizações não governamentais, sindicatos, empresas privadas e públicas, organismos internacionais, estruturas formais do Estado (Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário) e no próprio movimento social, para que cada vez mais, as vozes, as falas, e a produção política e intelectual das mulheres negras em papel de liderança sejam ouvidas, percebidas e reconhecidas nos espaços onde o poder simbólico e material é exercido. Foi concebido e será implementado para que mais mulheres negras quebrem o “teto de vidro” e possam fazer das suas capacidades coletivas e individuais  instrumentos potentes para que cada vez menos mulheres negras fiquem para trás.

Saúde como prioridade no Fundo Baobá

A saúde é um subtema dentro do eixo viver com dignidade, trabalhado pelo Fundo Baobá. Portanto, é uma das áreas onde o impacto das desigualdades e das injustiças sociais ficam mais evidentes. Desde a sua criação, o Fundo Baobá tem lançado editais que trabalham a promoção da saúde para população preta e parda. No ano de 2014 foi lançada a “1ª Chamada para projetos de Organizações Afro-Brasileiras da Sociedade Civil” – um fundo de apoio a pequenos projetos com o objetivo de apoiar por 12 meses, 22 organizações pequenas e médias da sociedade civil.

Entre os trabalhos selecionados estavam “Bancada de Arrambã no Gumé do Querebentã – Saúde no Terreiro”, da Federação de Cultura Negra do Vale do Itapecuru Mirim, no Maranhão, que além de possibilitar, direta e indiretamente, a melhoria do nível de conhecimento de 560 mulheres jovens e trabalhadores(as) rurais, transmitia informações e habilidades dos antepassados na área de saúde e educação alimentar e nutricional, patrimônio dos “gumés” de cultos afro-maranhenses.

Outro projeto contemplado foi “Saúde da População Negra em foco” da ACMUN – Associação Cultural de Mulheres Negras de Porto Alegre (RS), que tinha como premissa ampliar a informação aos usuários do SUS sobre a existência de uma Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

Em junho de 2018, foi lançado o edital “Negras Potências”, uma parceria do Fundo Baobá e Benfeitoria, com apoio de Coca-Cola Brasil e Movimento Coletivo, reunindo projetos de impacto que contribuem para o empoderamento de meninas e mulheres negras. Entre os 16 projetos selecionados estava “Doula a Quem Quiser”, da Associação de Doulas do Rio de Janeiro (RJ), que promove o acesso à informação de qualidade sobre gestação, parto e puerpério, salientando a questão da violência obstétrica vivenciada por mulheres.

“Parte da preocupação da ADOULASRJ era como mulheres periféricas, negras em especial, vivenciavam o ciclo gravídico-puerperal, o que chamamos de gestação-parto-puerpério”, diz Morgana Eneile, que está à frente da associação. Com o lançamento do edital, a associação enviou o seu projeto para análise: “A proposta era realizar encontros de educação perinatal dentro do sistema de atenção já existente, como medida de prevenção à violência obstétrica e consequentemente à mortalidade materna. Além disso, fazer a interlocução entre a promoção destes conteúdos, direitos e formas de acesso, articulando formas de denúncia ao seu descumprimento”, ressalta Morgana.

Associação de Doulas do Rio de Janeiro

Com o projeto selecionado pelo Fundo Baobá, deu início às atividades do “Doula a Quem Quiser”: “O trabalho que realizamos ocorreu nas Clínicas da Família na Zona Oeste do Rio de Janeiro, especificamente em Realengo, com a atuação em atividades coletivas de gestantes em atenção pré-natal. Ao mesmo tempo, foi articulada uma cooperação com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, através da Coordenação de Direitos da Mulher,  para elaboração e publicação de uma cartilha de Direitos e um mecanismo de acompanhamento de denúncias”, relembra Morgana.

Segundo ela, ter o projeto selecionado pelo Fundo Baobá foi fundamental para a promoção da saúde e da humanização do parto: “Os trabalhos realizados através do edital colaboram com a constituição de novas modelagens para a atuação das Doulas dentro da atenção primária à Saúde. Muito do que se referencia sobre doulas tem um olhar sobre o trabalho de parto em si, com o suporte realizado neste momento”, disse. 

O projeto abriu outras portas para a instituição de mais construções para mulheres que não tinham a oportunidade de acessar outras modelagens de atenção perinatal, baseadas em atividades coletivas. Para isso, também foi constituída uma modelagem específica pensada para a abordagem permeada pelo lúdico e constituída para mulheres que não necessariamente buscam informações sobre parto natural/humanizado, geralmente acessível às classes privilegiadas. Esse processo formativo, em que as discussões sobre racismo estrutural e institucional foram centrais, potencializaram a atenção da instituição como vocalizadora deste enfrentamento. Estamos sistematizando a experiência para poder dividir com outras organizações”, finaliza.

No mesmo ano, em parceria com a Fundação OAK, foi lançado o edital “A Cidade Que Queremos”, voltado para região Nordeste.  Além da saúde, trabalhou os eixos temáticos de educação, meio ambiente, segurança, trabalho, transporte, habitação, serviços, lazer e cultura. Entre os 10 projetos selecionados estava o Grupo Mulher Maravilha de Pernambuco, uma organização não governamental, com certificado de entidade beneficente de assistência social, filiada à Associação Brasileira de ONGs (ABONG), ao Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH), ao Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMPE), ao Fórum de Economia Solidária e a Articulação Aids. 

“O Grupo Mulher Maravilha iniciou, em meados dos anos 1980, suas ações de saúde popular junto às mulheres que aprenderam a fazer auto-exame com espéculo de acrílico e espelho, e a se curar com ervas medicinais.”, relembra Maria de Lourdes Araújo Luna, assistente social e Suplente da Coordenação do grupo que, posteriormente, foi convidado para participar de grande campanha de prevenção ao HIV no bairro de Nova Descoberta e Morro da Conceição. No ano de 2001 teve seu primeiro projeto aprovado como o nome Mulheres na Prevenção da Aids, no Recife, e depois Mulheres se Fortalecem na Prevenção da Aids.

Selecionado pelo Fundo Baobá, o GMM começou a executar as suas ações: “O maior trabalho com o  apoio do Fundo Baobá foi a possibilidade da abertura de espaço de diálogo na comunidade sobre o direito a ter saúde, a um meio ambiente equilibrado nas periferias e a reflexão sobre a importância do reconhecimento de ser mulher negra, num contexto político de grande expectativa e ameaça de perda de direitos”, frisa Maria de Lourdes, que entre as inúmeras ações realizadas, elenca os principais destaques: “Realizamos rodas de conversa com várias temáticas, como saúde da mulher negra na perspectiva dos direitos humanos; criação de comissão de acompanhamento de demandas/denúncias da comunidade sobre o descaso do governo com a saúde pública; realização de oficinas de formação de políticas públicas e conjuntura política com foco na Reforma da Previdência”. As oficinas ainda incluíram temas como alimentação saudável, estética afro, jardinagem e ações de prevenção e de enfrentamento à violência doméstica e sexual contra mulheres através de práticas integrativas de auto-cuidado com massagem, yoga, biodança e mapeamento afetivo.

Grupo Mulher Maravilha

Para Maria de Lourdes, o maior legado que o GMM teve após a participação no programa “A Cidade Que Queremos” foi a construção do Núcleo Dandara situado em Nova Descoberta: “O Núcleo Dandara dá maior visibilidade à luta pela saúde da população negra e formação cidadã do Grupo Mulher Maravilha na comunidade, fortalecendo articulação com serviços do Distrito Sanitário, do CRAS, Conselhos de Saúde, da Mulher e Fóruns de Mulheres Negras”, finaliza.      

Em 2019, foi o lançamento do “Programa Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras”, em parceria com a Ford Foundation, Open Society Foundations, Instituto Ibirapitanga e a W.K. Kellogg Foundation, e que  teve entre as propostas selecionadas o projeto “Racismo e a interface com a violência doméstica na Saúde”, da participante Magna Barboza Damasceno (SP). 

No mesmo ano, uma parceria entre o Fundo Baobá, W.K. Kellogg Foundation e Fundação Lemann, que trabalha com educação e formação de lideranças, criou um fundo patrimonial de R$ 7,5 milhões, voltado para o apoio a estudantes negros brasileiros através de bolsas de pós graduação nas universidades de Harvard, Columbia, Stanford e MIT. E entre as áreas de pós graduação ofertadas está a saúde.

Segundo Magna, o projeto “Racismo e as interfaces com a violência doméstica na Saúde” ampliou a capacidade de liderança de forma mais assertiva e assegurou discussões sobre o racismo institucional no campo do trabalho por meio de aperfeiçoamento de técnicas de gestão. “Inicialmente, nosso trabalho era organizar a base de dados sobre violência interpessoal/doméstica, dentro do território trabalhado por meio de uma plataforma com três elementos: um banco de dados em tempo real, boletins informativos sobre o agravo e uma leitura que pressupõe o tratamento de dados para a atuação local e a gestão da clínica”, explica ela.

Magna diz que é de conhecimento que a população negra é um público com alta vulnerabilidade e que, em muitas circunstâncias, tem suas necessidades negligenciadas, impactando diretamente em sua saúde. “São as mulheres negras que mais sofrem violência doméstica e também são elas as que mais utilizam os serviços de saúde do SUS”, afirma. 

Reunião do projeto “Racismo e as interfaces com a violência doméstica na Saúde”. Embaixo: Magna Barboza Damasceno (Coordenadora da Rede de Atenção às Pessoas em Situação de Violência Doméstica e Sexual), à esquerda Giovana Neves Damasceno (Gestora de projetos responsável pelo aplicativo), à direita Raquel Regina Rodrigues Monteiro (Articuladora de rede)

Além da plataforma prevista, o financiamento do projeto propõe um momento de imersão dos trabalhadores de saúde sobre as questões que abarcam raça/cor/etnia e a saúde da população negra. Traz elementos para pensar novas abordagens sociais/clínicas do ponto de vista institucional e como essas intersecções interferem nas condições de saúde da população negra. “Isso permite uma reflexão por parte dos trabalhadores na mudança da perspectiva do trabalho de maneira mais crítica, o que pode impactar de forma mais eficaz e positiva no atendimento em saúde”, finaliza.

Manter o foco em saúde é uma necessidade, sobretudo neste momento de pandemia. Com foco nessa questão, o Fundo Baobá tem promovido editais de doações emergenciais para projetos de prevenção à contaminação pelo coronavírus e ações pontuais para combater o avanço da pandemia.

Parceria vai apoiar ações contra Covid-19 nas comunidades do Rio e de São Paulo

Usar a criatividade e a habilidade com ferramentas digitais para combater o avanço do coronavírus em territórios vulneráveis dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo: esse é o desafio proposto pela parceria firmada entre o Fundo Baobá para Equidade Racial e o Desabafo Social – laboratório de tecnologias sociais aplicadas à geração de renda, comunicação e educação.

O objetivo da iniciativa é filtrar ações de combate à doença nessas áreas que, no país, são as que acumulam os maiores índices de pessoas infectadas e de mortes.

A seleção é feita por meio de um desafio na plataforma ItsNoon, um aplicativo de interação entre pessoas e suas ideias. Dessa forma, é possível compartilhar ações que possam ser feitas agora para apoiar quem está em situação de risco nessas regiões. No app, as pessoas responderão ao desafio e podem receber de R$ 60 até R$ 350 reais por uma boa ideia. 

app Itsnoon

“Queremos apoiar iniciativas que escapam aos mecanismos tradicionais de filantropia”, explica Selma Moreira, diretora-executiva  de Fundo Baobá. “Poderemos viabilizar, por exemplo, campanhas rápidas desenvolvidas pelo senhor ou a senhora que vende produtos de limpeza ou ovos; transmissões online feitas por adolescentes e jovens das comunidades – em suma, ideias simples que podem ser convertidas facilmente em ações”, afirma.

Essa foi a maneira encontrada para ajudar as pessoas a lidarem com a sensação de impotência diante desse vírus invisível, desconhecido e “preservar o sentimento de pertencimento e o espírito comunitário tão necessários neste momento de pandemia”, como explica a diretora.

Quem são os parceiros – O Fundo Baobá é o primeiro e único fundo dedicado exclusivamente à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Já o Desabafo Social é um laboratório de tecnologias sociais que foi criado em 2011 em forma de grêmio estudantil. De lá pra cá, tornou-se organização social com foco em soluções para educação, comunicação e direitos humanos. Hoje, é um laboratório de tecnologias voltadas para a área social.

Segundo Monique Evelle, criadora do Desabafo Social, outro diferencial dessa iniciativa é premiar a criatividade.  “Neste momento de incertezas, é importante apoiar pessoas e iniciativas que estão ajudando quem está em situação de risco”, explicou. “Criamos um ecossistema de ideias que estão sendo valorizadas através de micropagamentos. Assim, conseguimos colocar essas ideias em prática, apoiar financeiramente os projetos e impactar cada vez mais gente”. Podem ser inscritas músicas, poesias, vídeos e outras manifestações artísticas que beneficiem as comunidades pela informação, pela motivação ou pelo suporte emocional.

É muito simples participar. Basta baixar o aplicativo (https://linktr.ee/desabafosocial) e criar um perfil para começar as publicações. O desafio começou dia 14 de abril e ficará aberto até a total distribuição do recurso aportado.

O objetivo é que as ideias selecionadas, voltadas para os estados do Rio de Janeiro ou de São Paulo, ajudem a  reduzir os riscos de novas infecções, diminuir a sensação de isolamento e até mesmo ajudar a resolver problemas financeiros imediatos. Também é importante ter foco na criatividade e na educação em saúde, na resiliência comunitária e na contenção da onda de contágio.

Parceria com foco na equidade racial e no fortalecimento das instituições

Instituto Ibirapitanga, fundação 100% brasileira, optou por investir no Fundo Baobá em função da sua proposta de combater a desigualdade racial

Pense em uma instituição genuinamente brasileira com foco em defender as liberdades civis e aprofundar a democracia nacional: assim é o Instituto Ibirapitanga. De origem tupi-guarani, seu nome é um dos sinônimos de pau-Brasil – a madeira típica do país que existia em abundância por aqui quando os portugueses chegaram.

Quando foi criado em 2017 pelo cineasta Walter Salles, o Instituto Ibirapitanga rapidamente definiu, após discussões iniciais, que um de seus principais eixos de atuação seria manter estreita e sólida parceria com entidades que tivessem como foco, princípio e meta a equidade racial, como explica Andre Degenszajn, diretor-presidente.

“Conheço o Baobá desde que era ainda uma ideia”, relembra. Na época, Degenszajn saíra da Conectas Direitos Humanos para o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE). Então, ele participou de várias discussões sobre a criação do Baobá com entidades e lideranças de movimentos sociais.

Andre Degenszajn (Diretor-presidente do Instituto Ibirapitanga)

Quando o Instituto Ibirapitanga definiu que teria um programa voltado para a equidade racial, a discussão sobre o apoio ao Baobá surgiu naturalmente. “Era uma forma de reconhecer a importância desse fundo que tem como mandato apoiar iniciativas de combate ao racismo.”

O investimento inicial feito pelo instituto no Fundo Baobá foi da ordem de US$ 1 milhão,  a partir de recursos próprios provenientes dos rendimentos de um fundo patrimonial. Com o assassinato de Marielle Franco, há dois anos, esse aporte foi destinado a viabilizar o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras que leva o nome da vereadora.

Andre Degenszajn explica que o Instituto Ibirapitanga trabalha com duas áreas prioritárias. A primeira é da equidade racial. A segunda é voltada para a construção de um sistema de alimentação saudável, justo e sustentável, considerando, por exemplo, o estímulo à agricultura orgânica.

Instituto Ibirapitanga

No âmbito da equidade racial, há três eixos prioritários. Um deles é ampliar a representação simbólica e política da população negra, com ações que tenham relação com a construção de narrativas, resgate histórico e memória, com afirmação da presença negra na sociedade brasileira.  A segunda linha tem foco em ações afirmativas e debates em torno dessas propostas. E, por fim, fortalecimento de movimentos antirracistas já constituídos e emergentes.

Uma das razões para o Instituto Ibirapitanga definir esses segmentos para aportar recursos foi a necessidade de fortalecer a autonomia de organizações e movimentos que atuam com o foco na equidade racial.

O diretor-presidente explica que, na filantropia, são poucas as instituições dedicadas exclusivamente à promoção da equidade racial, como é o caso do Fundo Baobá, porque essas questões geralmente estão diluídas no campo dos direitos humanos. Outro fato é que, historicamente, os recursos estão concentrados em organizações brancas, tanto nas que doam como nas que recebem apoio.

“Agora, temos a oportunidade de reequilibrar a distribuição de recursos, mas sempre com o cuidado de não criar ou construir uma relação paternalista. Queremos, ao contrário, dar autonomia e buscar construir um diálogo mais horizontal”, finaliza.

Edital de apoio emergencial contra o coronavírus já selecionou mais de 200 projetos e busca doadores individuais

Em apenas doze dias, o edital do Fundo Baobá recebeu 1037 solicitações de apoio a projetos de combate ao coronavírus em comunidades vulneráveis. Desse total, 387 são de organizações e 650 de indivíduos. Ao todo, foram selecionados 220 projetos – sendo 130 pessoas e 90 organizações. Lançado em 5 de abril, o edital (relembre aqui) visa apoiar um amplo espectro de populações em situação de risco.

A primeira lista, divulgada em 17 de abril de 2020, contemplou projetos de 60 pessoas e 40 organizações. A segunda, publicada no site do Fundo em 30 de abril, selecionou projetos de 70 indivíduos e 50 organizações, que receberão repasses de até R$ 2,5 mil em até cinco dias úteis.

“O objetivo deste edital é intensificar as ações de prevenção à doença nas áreas mais carentes de recursos e de serviços, que são também as que concentram as populações mais suscetíveis”, explica Selma Moreira, diretora do Fundo Baobá, que destinou R$ 600 mil em recursos próprios (fundo patrimonial) para essa ação e agora está em busca de doações, principalmente de pessoas físicas, para viabilizar mais iniciativas. 

Quem quiser fazer uma doação, basta acessar o seguinte link no site do Baobá: https://baoba.colabore.org/Sejaumdoador/single_step e contribuir com quanto puder.

É bom lembrar que cada doação, o Fundo Baobá recebe uma contrapartida da Fundação Kellog na seguinte proporção: a cada R$ 1,00 arrecadado no País, a fundação contribui com mais R$ 3,00 que se destina ao fundo patrimonial.

No domingo (19), Roberto Carlos fez uma live cantando a música “Como é grande o meu amor por você” justamente para divulgar a plataforma “paraquemdoar.com“, da qual o Fundo Baobá participa, e a necessidade de usar máscaras para proteção individual. Ivete Sangalo também promoveu  a página por meio de uma live no sábado seguinte (25). 

Roberto Carlos em sua live no dia 19 de abril

Resultados iniciais – As iniciativas escolhidas foram majoritariamente do Rio de Janeiro, seguido por Bahia e São Paulo. Com relação a projetos de organizações, os estados com mais entidades selecionadas foram os mesmos e na mesma ordem.

Segundo Selma Moreira, a variedade de projetos selecionados visa contemplar a diversidade do nosso país e envolve iniciativas implementadas nos grandes centros urbanos do Rio e de São Paulo, mas também no Norte e Nordeste. “Recebemos projetos cujas ações ocorrem em comunidades indígenas, assentamentos, outros que envolvem quilombolas, população em situação de rua, profissionais do sexo, usuários de drogas, idosos, mulheres que vivem ou vivenciaram o cárcere, pescadores artesanais, catadores de material reciclado, além de moradores das periferias das grandes cidades. Essa era justamente a finalidade do edital: levar recursos para quem realmente precisa nas diversas regiões deste país”, disse.

O edital visa apoiar indivíduos e organizações comprometidos com a equidade racial que atuem junto a comunidades periféricas e outros territórios de vulnerabilidade;  com populações em situação de rua, pessoas privadas de liberdade, idosos, jovens em medidas socioeducativas, ciganos, migrantes, refugiados,  residentes em áreas remotas de todas as regiões do país, como comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas e outras comunidades tradicionais, nas florestas e ilhas, onde haja casos notificados, em fase de análise, ou casos confirmados de infecção pelo coronavírus. 

Vale lembrar que, em meio à pandemia, a população negra é a mais suscetível, conforme pode ser conferido no texto Um raio-x da saúde da população negra no Brasil em meio à pandemia. “Portanto, a ação de todos é fundamental para conter a transmissão”, alerta Selma.

População negra está, sim, entre as principais vítimas do novo coronavírus

Zélia Profeta, diretora da Fiocruz Minas, falou sobre a pandemia para o Boletim do Fundo Baobá. Formada em farmácia pela Universidade Federal de Minas Gerais, ela é mestre em Biologia Celular e Molecular pela Fundação Oswaldo Cruz e doutora em Parasitologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Nesta entrevista, Zélia explica a necessidade do Brasil investir em ciência, fala da situação dos negros no país e enumera as lições que a doença vai deixar. Acompanhe:

* Toda doença traz aprendizados. Na sua opinião, qual a grande lição que essa pandemia vai deixar como legado?
Acho que um dos aprendizados é ter mais fortalecido, por toda a sociedade, o entendimento da importância das políticas públicas para a população, especialmente para as pessoas que mais precisam, garantidas por um Estado forte. Além disso, espero que também saiamos dessa pandemia entendendo a importância de termos mais investimentos para a ciência, para a indústria nacional de medicamentos, insumos para vacinas, testes, diagnóstico, instrumentos hospitalares etc. Outro legado importante é o entendimento da importância de cidades com mais infraestrutura, saneamento; cidades melhor planejadas para que as pessoas possam ter vida digna. E entendermos que não se pode economizar na saúde. O  financiamento do SUS é fundamental para a sua consolidação e para fortalecimento do acesso. Fico pensando ainda que um dos legados que essa pandemia poderia nos deixar é o de nos organizarmos para lutar pela revogação da EC-95 ( Emenda Constitucional número 95, já aprovada pelo Congresso Nacional, que prevê congelamento de gastos. Com isso, os investimentos em saúde e educação podem ficar congelados por mais seis anos).

Zélia Profeta (Diretora da Fiocruz Minas)

* Dados do Ministério da Saúde mostram que 1 a cada 3 negros morrem por Covid-19. Por que o coronavírus é mais letal entre os negros? E o que efetivamente essa pandemia nos mostra com relação aos negros?
No Brasil, os negros são a maioria da população. São também a maioria dos que não têm emprego ou estão em situação de subocupação. A maior parte dos negros está entre as vítimas de homicídio no país e quando falamos de população carcerária os negros são a maior parte. Os negros também são os que mais sofrem com a informalidade, que vem crescendo no Brasil, nos últimos anos. Dizem que o vírus é democrático porque infecta qualquer pessoa. Mas o que estamos vendo é que as populações mais vulneráveis, que vivem em locais mais adensados, mais pobres e sem infraestrutura é que vão ficar mais doentes. Além disso, essas populações mais vulnerabilizadas possuem mais comorbidades que vão favorecer a maior letalidade.

* Muitos profissionais e pesquisadores da saúde defendem a atuação do agente de saúde, alegando que, por conhecer a comunidade e estar na linha de frente, pode identificar potenciais vítimas do vírus para evitar que aumentem as estatísticas. A senhora concorda com essa visão? 
Sim, concordo. Os agentes de saúde fazem parte da atenção básica. Conhecem a população, acompanham os pacientes. São fundamentais no território. Estão em contato permanente com as famílias, desenvolvem ações educativas para promoção da saúde e prevenção das doenças. Mantém informada a equipe de saúde, principalmente a respeito das situações de risco.  Portanto, podem ajudar muito!  Mas, claro, numa situação como a que estamos vivendo (na verdade, em qualquer situação) é fundamental que os agentes trabalhem com todos os cuidados de proteção para também não adoecerem.

*  A campanha “Se liga no corona” nasceu da necessidade de informar e, assim, tentar reduzir a velocidade de avanço do vírus nas comunidades e periferias?
A Fiocruz está fazendo uma série de ações para enfrentar essa pandemia, como, por exemplo, produção de kits para o diagnóstico, assistência, pesquisas e muito material informativo que é fundamental para esclarecer toda a sociedade. O Se liga no Corona é, sim, voltado para as comunidades e periferias para ajudar no enfrentamento da Covid-19 e tentar reduzir a velocidade de transmissão do vírus.

* Pela sua experiência,  a senhora acredita que ações coordenadas de comunicar e informar, em que conseguimos unir conhecimento (corpo técnico) e disposição (comunidade), são a alternativa para tentar reduzir o avanço da doença?
Acho que essa é uma importante ação e que as ações neste enfrentamento do vírus devem ser coordenadas na perspectiva de unir informação e disposição para tentar reduzir o avanço da doença. Acho, sim, que esta campanha vai propiciar uma boa interação entre nós, que somos profissionais da Fiocruz, com as comunidades nos diferentes estados. É fundamental estar atento e fazer chegar a informação correta nos diferentes territórios. O Brasil é um país muito grande, com muitas diferenças nos seus territórios e é um país muito desigual. Como diz a nossa presidente Nísia Trindade Lima, com todos os esforços que a Fiocruz vem fazendo nós esperamos cumprir o papel da instituição que vem sendo desempenhado há 120 anos: o de promover a saúde pública para toda população.

Doações emergenciais

Ações comunitárias no contexto da pandemia do novo coronavirus

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

Art 1º O presente documento tem por objetivo estabelecer regras e procedimentos para a realização de doações emergenciais.

Art 2º Para fins desta iniciativa do Fundo Baobá, considera-se doação emergencial a doação de recursos financeiros para organizações sem fins lucrativos ou pessoas físicas negras, comprometidas com a equidade racial e engajadas na promoção de ações para a proteção de pessoas e comunidades, que apresentarem propostas de ações de prevenção ao coronavírus realizadas junto à população residente em comunidades periféricas e outros territórios de vulnerabilidade; população em situação de rua; população privada de liberdade; idosos;  jovens em cumprimento de medidas socioeducativas; populações residentes em áreas remotas de todas as regiões do país, comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas, ciganos, migrantes, refugiados, e outras comunidades tradicionais, nas florestas e ilhas, onde haja casos notificados,

Parágrafo único. A doação emergencial observará o limite máximo de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) por donatário.

CAPÍTULO II – PROCEDIMENTOS

Seção I – Pedidos de doação emergencial

Art. 3º Poderão pleitear doação emergencial:
I – organizações sem fins lucrativos.
II – Pessoas físicas comprometidas com a equidade racial que atuem junto a comunidades periféricas e outros territórios de vulnerabilidade, às populações em situação de rua ou residentes em áreas remotas de todas as regiões do país, como comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas, pessoas privadas de liberdade, idosos, jovens em medidas socioeducativas, ciganos, migrantes, refugiados e outras comunidades tradicionais, nas florestas e ilhas, onde haja casos notificados, em fase de análise, ou casos confirmados de contaminação pelo coronavírus.

Art. 4º Todos os interessados devem preencher formulário eletrônico disponibilizado pelo Fundo Baobá, detalhando o estado, cidade, bairro(s) e comunidade(s) onde serão realizadas as ações, a necessidade que motiva o pedido (justificativa), os resultados esperados, as ações a serem realizadas e uma estimativa de custos (orçamento):

I – no caso de organizações sem fins lucrativos:
a) versão mais recente do Estatuto Social, devidamente registrada em cartório;
b)ata de eleição da diretoria, devidamente registrada em cartório;
c) comprovante de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

II – no caso de pessoas físicas:
a) cédula de identidade;
b) CPF;
c) comprovante de residência; 
d) minibiografia com foto;

Seção II – Análise dos pedidos

Art. 5º A Diretoria do Fundo Baobá deverá pautar sua decisão pelos seguintes critérios:

II – relevância da proposta;
III – histórico de atuação junto às populações priorizadas neste chamada

1º Um mesmo interessado não poderá ser contemplado com mais de uma doação emergencial por ano.
2º Não será contemplado a organização ou pessoa física que, atualmente, recebe apoio do Fundo Baobá.
3º Serão priorizadas ações a serem realizadas em localidades com maior número de casos confirmados do novo coronavírus.

Art. 6º Os pedidos de doação emergencial serão decididos pela Diretoria do Fundo Baobá.

1º Os pedidos de doação que não atendam ao disposto nos artigos 4º e 5º deste documento serão indeferidos, de plano, pela Diretoria do Baobá.
2º Caso os pedidos tenham sido devidamente apresentados a Diretoria do Baobá fará a deliberação.
3º O Fundo Baobá irá entrar em contato, por e-mail, apenas com as organizações e pessoas físicas negras cujas solicitações de doação emergencial forem aprovadas.
4º As solicitações serão avaliadas em até 7 (sete) dias úteis, e, havendo aprovação, os recursos serão creditados em até 5 (cinco) dias úteis.
5º A doação emergencial estará sujeita ao aceite dos termos e regras previstos no Formulário de Requerimento.

CAPÍTULO III – Disposições finais

Art. 7º Lacunas ou controvérsias relacionadas a este documento serão solucionadas pela Diretoria do Baobá.

Art. 8º Este documento entrará em vigor na data de Aprovação pelo Conselho Deliberativo.

Perguntas Mais Frequentes

DOAÇÕES EMERGENCIAIS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19

1 – Como faço para me inscrever?
Basta preencher um dos dois formulários que se encontram no site do Fundo Baobá: para organizações e para indivíduos.

2 – Somos um coletivo, ou seja,  não temos documentos – devemos nos inscrever como organização ou como pessoa física?
Você deve fazer a inscrição como pessoa física usando este formulário aqui.

3 – Eu não tenho site – como fazer?
Site, Facebook, Instagram e demais informações que não estiverem assinaladas com asterisco (*) não são obrigatórias. Você pode enviar o formulário sem elas.

4 – Atuamos há menos de dois anos e vocês pedem exemplos de atuação nos últimos dois anos. Isso nos prejudicará na seleção?
Não fará diferença desde que sua organização, nestes dois anos de atuação, tenha realizado ações em defesa dos direitos humano e enfrentamento ao racismo e se, prioritariamente, tiverem atuado com comunidades periféricas, população em situação de rua e em áreas remotas, como comunidades quilombolas, ribeirinhas e outras comunidades tradicionais, nas florestas e ilhas.

5 – Nós acabamos de nos organizar por causa do coronavírus e não temos exemplos de atuação. Isso nos prejudicará?
Se entre vocês houver  lideranças que já tenham experiência em ações comunitárias em defesa dos direitos humanos e luta contra o racismo ou educação e promoção à saúde,  estas pessoas poderão se inscrever no edital de pessoa física, que se encontra aqui.

6 – Tenho medo de me comprometer com resultados esperados porque tudo é muito incerto.  Serei cobrado deles?
O ideal é que você proponha ações cujos resultados são mais viáveis de serem alcançados. 

7 – O que acontece se não conseguirmos cumprir o prazo de 45 dias para envio do relatório, uma vez que estaremos envolvidos com a execução das ações?
O relatório será algo simples. Não prestar contas pode lhes impedir de acessar outras doações feitas pelo Fundo Baobá. 

8 – Não consigo fazer o upload dos meus documentos. Como devo fazer?
O formulário só permite anexar um arquivo, ou seja, é necessário salvar tudo num único arquivo e este não pode ter mais que 16 MB.

9 –  Eu pedi recursos para outras fontes mas ainda não recebi e não sei se fui selecionado para receber.  Devo declarar esse pedido? 
É importante para o Fundo Baobá entender os movimentos que estão sendo feitos em busca de apoio. Se puder dizer para quem pediu e quanto pediu, será muito interessante. Se ainda não está certo, basta colocar esta observação. 

10 – Estou recebendo doações na forma de alimentos e produtos de limpeza – devo declarar como recurso recebido?
Sim. 

11 – Eu / minha organização já recebo/recebemos apoio do Fundo Baobá. Somos elegíveis para este edital?
Não são elegíveis apenas as pessoas e organizações que estão com apoio do Fundo Baobá neste momento.

12 – O edital fala que  serão priorizadas ações a serem realizadas em localidades com maior número de casos confirmados do novo coronavírus mas existe subnotificação porque faltam testes. Minha comunidade não tem nenhum caso confirmado, mas sabemos de muitas pessoas doentes. Isso prejudicará a avaliação do meu pedido?
Não prejudica mas é importante que, neste caso, você destaque a situação de saúde das pessoas de sua comunidade  ou aquilo que as está movendo para garantir que menos casos existam. As ações de prevenção são muito importantes para o Fundo Baobá. Não queremos mais pessoas infectadas. 

13 – Vocês dizem que procurarão os selecionados. E os que não forem selecionados? Como fico sabendo que meu pedido não foi aceito?
Neste momento de emergência, não conseguiremos entrar em contato com todos. Vamos procurar apenas aqueles que forem selecionados.  Uma vez por semana publicaremos a lista de quem foi selecionado em nosso site, avisando sobre a publicação em nossas redes sociais.  Basta nos seguir: 

Instagram: @FundoBaoba
Facebook:​ ​https://m.facebook.com/fundobaoba 
Twitter:​ @fundobaoba

14. Posso inscrever mais de um projeto?
Um mesmo interessado não poderá ser contemplado com mais de uma doação emergencial por ano.

15. A entidade precisa estar regular?  
Sim, idealmente. 

16. A conta de depósito precisa estar zerada? 
No caso do apoio emergencial, não. 

17. O depósito pode ser feito na conta do responsável legal? 
Se a inscrição for feita em nome da instituição, a conta precisa ser da pessoa jurídica.  

18. No caso de pessoa física, o comprovante de residência precisa estar no nome da pessoa ou pode ser em nome de outro morador da residência? 
Não precisa ser em nome do proponente.  

19. Existe alguma restrição ao emprego do recurso? Pode ser investido em imobilizado?
O ideal é que não, mas depende da relevância dessa aquisição para a ação de prevenção ao coronavírus.

20. A proposta inicial pode sofrer alteração durante a execução, desde que seja mantido o valor original, ou terei problema com a prestação de contas? 
Pode ser ajustada, mas o ideal é não se afastar muito da idéia original. 

21. No caso de utilizar o recurso para fornecer uma bolsa para cada família ou jovem, a comprovação poderá ser feita através de recibo?  
Sim. 

22. Se a comunidade não for regular, a pessoa responsável pode receber e executar pela comunidade? 
Sim. 

23. A bolsa auxílio do governo é considerada uma doação emergencial para as pessoas físicas?
Não. 

24. Nao tenho conta corrente, só conta poupança: posso usar essa via se me inscrever no edital individual e for selecionado?
Sim.

25. Pode ter mais de um proponente da mesma comunidade?
Sim.

26. Não consigo juntar todos os documentos em um único PDF, como o formulário. Como faço?
Você pode fotografar os documentos e transformar as fotos em PDF, juntando tudo em um único documento, com alguns aplicativos como o CamScanner, disponível para Android e iOS. Neste link você encontra um tutorial no YouTube e neste link tem uma matéria sobre o app.

EDITAL PARA APOIAR PESSOAS E COMUNIDADES NO COMBATE AO CORONAVÍRUS

A pandemia do coronavírus ameaça principalmente os negros.  Dados demográficos do Brasil comprovam que a maioria das pessoas mais expostas e com maior risco de contaminação é negra. Índices de doenças que favorecem uma evolução mais grave da COVID-19, como hipertensão e diabetes, são mais elevados entre os negros. Nem mesmo a informação chega da mesma forma igual à população negra. Juntos, estes fatores colocam os negros entre os que estão em maior risco de contaminação pelo coronavírus.

É por isso que o Fundo Baobá para Equidade Racial – primeiro e único fundo filantrópico que mobiliza pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para o apoio exclusivo a projetos e ações de promoção da equidade racial para a população negra no Brasil – lançou um edital para apoiar projetos de pessoas e organizações comprometidas com a equidade racial e que estejam ajudando comunidades no combate ao coronavírus.  

A transferência de recursos para quem está na ponta lutando contra a disseminação do vírus é também uma ação de fortalecimento da resiliência das comunidades, dessas lideranças e organizações.

O edital visa selecionar propostas de ações de prevenção ao coronavírus realizadas junto às comunidades periféricas e outros territórios de vulnerabilidade, às populações em situação de rua, populações privadas de liberdade, jovens que cumprem medidas socioeducativas e idosos, residentes em áreas remotas de todas as regiões do país, como comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas, ciganos, migrantes, refugiados e outras comunidades tradicionais, nas florestas e ilhas onde haja casos notificados, em fase de análise, ou casos confirmados de contaminação pelo coronavírus. 

As organizações sem fins lucrativos ou as pessoas físicas beneficiadas devem ser comprometidas com a equidade racial e engajadas na promoção de ações  nas periferias das grandes cidades, favelas, áreas remotas e outros territórios de vulnerabilidade socioeconômica. Os interessados devem detalhar a comunidade a ser beneficiada, a necessidade que motiva o pedido, os resultados esperados, as ações a serem realizadas e uma estimativa de orçamento.  

As solicitações são avaliadas em até 7 (sete) dias úteis e os recursos são creditados em até 5 (cinco) dias úteis quando disponíveis.  O limite para a transferência de recursos é de R$ 2,5 mil por projeto. 

Clique aqui preencher o formulário para organizações e conferir o edital.

Clique aqui para preencher o formulário para indivíduos e conferir o edital.

Em caso de dúvida, consulte aqui as perguntas mais frequentes. Para doar para fortalecer esta iniciativa, clique aqui.

Parceria de sucesso em prol da equidade racial

Apoio do instituto foi fundamental para consolidação do Programa Negras Potências

Por Ana Tacite*

O Instituto Coca-Cola Brasil (ICCB) chega aos 20 anos com sua trajetória focada no objetivo de contribuir para mudar vidas. Criado em 1999, com o intuito de maximizar o investimento social privado realizado pelo Sistema Coca-Cola (fabricantes e Coca-Cola Brasil), trabalhamos para promover a transformação social em larga escala, utilizando as fortalezas do Sistema e de nossos parceiros. 

Ao nos preocuparmos com a transformação social em larga escala, a causa da equidade racial é muito relevante. A desigualdade social é um enorme desafio no Brasil e as diferenças econômicas e sociais são mais profundas quando relacionadas à raça e ao gênero. 

Por exemplo, hoje, os negros são 55,8% da população brasileira, mas essa proporção não se reflete no mercado de trabalho. A trajetória rumo a uma maior igualdade deve ser um esforço coletivo e intencional. Todos precisamos refletir e estar atentos a vieses e estereótipos e facilitar a criação de espaços e oportunidades iguais para negros e mulheres. 

As empresas, entre outras ações, precisam olhar tanto para suas práticas internas de recrutamento, seleção, contratação, retenção e promoção, como também procurar contribuir com o fomento de igualdade racial através de seus investimentos sociais. 

Precisamente foi nessa procura de realizar investimentos sociais focados nessa temática que iniciamos a parceria com o Fundo Baobá, uma organização que tem a equidade racial como sua causa principal. 

Ana Tacite (Coca-Cola Brasil)

Essa parceria tem ajudado a aprender e entender os caminhos que podemos transitar para apoiar organizações e lideranças negras. Juntos, desenvolvemos iniciativas como os editais Cultura Negra em Foco e o Negras Potências, os quais focaram em promover tanto a cultura afro como também contribuíram para fortalecer o trabalho que muitas mulheres negras estão fazendo hoje como ativistas ou empreendedoras, no Brasil. 

Contar com a parceria do Fundo Baobá foi crítico também para chamar e identificar as organizações e projetos que seriam apoiados e para desenhar ações apropriadas – no caso dos editais. 

(*) Ana Tacite é gerente de Programas Sociais do Instituto Coca-Cola Brasil

Negras Potências

Iniciativas para promover o empoderamento feminino negro por meio de matchfunding foram viabilizadas com colaboração da Coca-Cola

Ver a realidade de mulheres e meninas negras ser transformada por meio de projetos que as capacitem e as incluam na sociedade de forma digna é apenas um dos objetivos do Programa Negras Potências. Ele conta com um fundo de R$ 500 mil para turbinar campanhas de financiamento coletivo por meio de matchfunding (a cada 1 real recebido, mais 2 são automaticamente acrescidos à arrecadação). Esse modelo de financiamento coletivo do Fundo Baobá de Equidade Racial só é possível graças à ação de parceiros como a Benfeitoria, além dos apoiadores Instituto Coca-Cola e Movimento Coletivo.


Criado em fevereiro de 2018, ele impulsionou 13 iniciativas que ajudam a reduzir a desigualdade de gênero no Brasil. Foram viabilizadas as seguintes ideias que se transformaram em ações efetivas: AfroRicas, do Coletivo ECOAR (DF); Revista Arquitetas Negras, das Arquitetas Negras (MG); Casa das Pretas, do Centro Coisa de Mulher; Afreektech, do Movimento Black Money (SP); Afrolab – Mulheres Negras, Múltiplas Potências, do Instituto Feira Preta (SP); Amora Brinquedos Afirmativos, da Amora Bonecas (BA); Cores Femininas, do Movimento Social e Cultural Cores do Amanhã (PE); Investiga Menina, do Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado (GO); Doula a Quem Quiser, da Associação de Doulas do Estado do Rio de Janeiro (RJ); Sororidade – uma nova forma de relação, da Escola Pernambucana de Circo (PE); Corpos Invisíveis, do Outubro Filmes (RJ); Costurando Sonhos, da SempreMulher Instituto de Pesquisa (RS); e Circuladô de Oyá (UNEAFRO Brasil/SP).

O desafio diário das Marielles

Este é um mês emblemático na luta pela equidade racial para as  mulheres. Além do Dia Internacional da Mulher, que serve para expor a situação de desigualdade entre os sexos, tivemos o 14 de março – quando, neste ano, completaram-se dois anos, do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, no Rio de Janeiro. Um crime ainda sem solução.

Este ano a data foi marcada por reflexões, debates e pelo olhar para o futuro: como proteger as tantas Marielles que vivem e atuam Brasil afora?  Como manter e amplificar suas vozes? Como garantir seu direito à dignidade e à vida?  

O Fundo Baobá participou ativamente de várias discussões. A primeira delas ocorreu no dia 9, com a participação de Fernanda Lopes, diretora de programa do Baobá, no Bom para Todos, da TVT. Com o tema “o legado de resistência de Marielle Franco”, o programa contou com a presença também de Ully Zizo (Fundo Brasil), no estúdio, além de Jurema Werneck (Anistia Internacional/Fundo Brasil) e Patricia Oliveira (Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência). A ideia foi debater de que forma os movimentos pela valorização da vida e defesa dos direitos humanos  avançaram após a morte da vereadora. 

https://youtu.be/7QYNgrndra4

Já no sábado, 14, foi publicado no Jornal O Globo um artigo assinado por Selma Moreira, diretora-executiva do Baboá. No texto, intitulado “Precisamos proteger todas as Marielles”, ela abordou a necessidade de criar ações que promovam a equidade racial e a liderança feminina em vários setores da sociedade como forma de superar o fosso social deixado por séculos de desigualdade, discriminação e injustiças contra a população negra, principalmente contra a mulher negra.  O link para a publicação está aqui e a íntegra do texto no final desta nota.
No dia 18, 58 mulheres do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras Marielle Franco, iniciativa do Fundo Baobá em parceria com Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford, Open Society Foundations e Fundação Kellogg, cobraram justiça para o crime ocorrido há dois anos. Em uma carta aberta à sociedade, elas destacaram a relevância da vereadora na luta pela equidade racial e pediram providências para o seu assassinato e do motorista Anderson Gomes. Confira a íntegra: https://bit.ly/3d6KxJg.

Precisamos proteger todas as Marielles

Selma Moreira*

Dois anos da morte de Marielle Franco e a responsabilização pelo crime permanece em aberto. Aguardamos com esperança a elucidação do caso e a responsabilização dos envolvidos. Mas também esperamos que outras Marielles sejam protegidas para não serem igualmente silenciadas.

O atual cenário adverso aos direitos humanos e às mulheres tende a aprofundar séculos de desigualdade, discriminação e injustiças contra a população negra, notadamente a mulher negra. Muitas têm sido mortas, engrossando as crescentes estatísticas de violência contra a população negra. Nunca as ações promovendo equidade racial e liderança feminina foram tão importantes.  

Segundo o IBGE, em 2016 a participação de mulheres em cargos gerenciais no Brasil era de 39,1%.  Dentro dessa pequena fatia, as mulheres negras correspondem a apenas 27%. A discrepância torna-se ainda mais evidente diante do fato de que mulheres negras são 55% da população feminina do Brasil. Levantamento do Instituto Ethos com as 500 maiores empresas que atuam no país mostrou que apenas 4,7% dos cargos executivos são ocupados por negros. Já no caso da folha funcional, esse percentual sobe para 35,7%, sendo que a minoria quase absoluta é composta por mulheres. 

Mesmo quando conseguem colocação no mercado formal de trabalho, as mulheres negras continuam sendo discriminadas. Pretas ou pardas recebem, em média, menos da metade dos salários dos homens brancos (44,4%), segundo a pesquisa Desigualdades Sociais por Cor ou Raça publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

No caso da educação, o  crescente acesso da mulher se dá de forma desigual: o porcentual de mulheres brancas com ensino superior completo (23,5%) é 2,3 vezes maior do que o de mulheres pretas ou pardas (10,4%), segundo a pesquisa “Estatísticas de gênero” de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mulheres negras com doutorado correspondem a 3% do total de docentes da pós graduação.

O gargalo racial no sistema educacional é cruel e elemento chave na perpetuação da desigualdade. Segundo dados do informativo sobre Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil do IBGE, embora praticamente não existisse diferença percentual significativa entre crianças brancas e negras de 6 a 10 anos cursando o ensino fundamental em 2018 (96,5% e 95,8%, respectivamente), a situação é outra na faixa de 18 a 24 anos de idade: jovens de cor ou raça branca que frequentavam ou já haviam concluído o ensino superior (36,1%) eram quase o dobro do percentual de jovens de cor ou raça preta ou parda (18,3%). 

Essa engrenagem centenária de preconceito, discriminação e exclusão está silenciosamente sufocando as milhares de Marielles Brasil afora que lutam por direitos – seja na cena política, como Marielle Franco, ou em suas comunidades, dentro de suas casas, nas ongs e no trabalho. Muitas têm sido mortas, na cidade e no campo, engrossando as crescentes estatísticas de violência contra a população negra. O levantamento “Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil”, organizada pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras e Rurais Quilombolas e Terra de Direitos, em parceria com o Coletivo de Assessoria Jurídica Joãozinho de Mangal e a Associação de Advogados de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da Bahia (AATR), destaca que a violência contra a mulher que morre por defender direitos é subnotificada, pois muitas vezes é registrada como feminicídio. Porém os dados existentes mostram que apesar de em menor número que os assassinatos de homens, eles tendem a ser mais violentos: em 66% dos casos de assassinato de mulheres quilombolas foi constatada utilização de arma branca e registrados métodos de tortura. 

É por isso que precisamos urgentemente protegê-las e fortalecê-las.

Nesse contexto, o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, iniciativa do Fundo Baobá em parceria com Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford, Open Society Foundations e Fundação Kellogg, prova-se uma iniciativa poderosa – a começar pelo fato de ter reunido quatro importantes fundações na luta em prol da equidade racial. Durante o processo de seleção das mulheres que estão sendo capacitadas para criar novas narrativas,  ampliar vozes, e fortalecer a produção intelectual nos espaços onde o poder simbólico e material é exercido, foi possível constatar tanto a falta como o potencial de iniciativas de fomento a lideranças femininas. Trata-se de uma semente poderosa demais para ficar em poucos jardins. Precisamos ter a ousadia e a ambição de lançá-la em todas os solos de todo o território brasileiro para que a equidade racial – em particular, para as mulheres negras – se dê de fato e direito. 

Como toda a sociedade brasileira, aguardamos com esperança o esclarecimento do caso Marielle Franco e a responsabilização dos envolvidos. Mas lembramos que também se faz necessário fomentar iniciativas em favor de outras lideranças negras.  Em nome de Marielle – de todas Marielles.

(*) Selma Moreira é Diretora Executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial

Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial

Data relembra massacre na África do Sul e pauta discussões sobre o abismo que ainda existe entre brancos e negros

O dia 21 de março ficou marcado na história por um episódio emblemático de racismo e violência contra a população negra. Nesta data, em 1960, 69 negros que marchavam em uma manifestação pacífica contra o regime segregacionista do apartheid foram massacrados na comunidade de Sharpeville, Johanesburgo, na África do Sul.

Em uma ação extremamente violenta, a polícia atirou contra 20 mil manifestantes que protestavam contra as discriminatórias leis do passe, impostas pelo regime sul-africano. O resultado foi o assassinato dessas pessoas e centenas de feridos, entre mulheres e crianças. 

Massacre de Sharpeville

Seis anos depois a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou 21 de março Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial. Foi uma maneira de a Assembleia Geral não apenas honrar a memória das vítimas do racismo e da intolerância, mas também condenar o racismo e a discriminação que estão na base de tantas ações violentas mundo afora.

A lei do passe foi apenas uma das muitas impostas aos negros daquele país. Durante todo o período em que vigorou (1948 a 1994), o apartheid foi marcado pela violência e exclusão da dessa população – que teve direitos civis totalmente desprezados.

Racismo no mundo e no Brasil – Embora o apartheid tenha sido o episódio mais cruel do relacionamento entre negros e brancos, a situação de discriminação permanece insustentável em muitos países. Em função disso, a ONU instituiu o período entre 2015-2024 como a Década dos Afrodescendentes e, nesse sentido, a entidade não medirá esforços para promover o reconhecimento, a justiça e o desenvolvimento dessa população (veja os objetivos em https://bit.ly/2TKQ28P).

No caso do Brasil, o país é, reconhecidamente, o que tem a maior população afrodescendente do mundo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2018, a população preta ou parda representa 55,8% do total de brasileiros (43,1% declararam-se como sendo brancos).

Quando os números são analisados detalhadamente, o que se percebe é que as diferenças continuam abissais. De acordo com o mesmo levantamento do IBGE, 32,9% das pessoas abaixo da linha da pobreza (ganham menos de US$ 5,50/dia) são pretas ou pardas (os brancos nesta faixa são 15,4%). Entre os que ganham menos de US$ 1,90/dia, há 8,8% de negros e pardos contra 3,6% de brancos. 

Na política, dos deputados federais eleitos 24,4% são pretos ou pardos, enquanto 75,6% são brancos. Pela primeira vez, a Câmara Federal tem uma parlamentar que se auto-classifica indígena. Mas o perfil continua majoritariamente branco. No Senado, nas eleições de 2014, nenhum senador havia se identificado como negro. Atualmente, são três.

Com relação à violência, entre jovens de 15 a 29 anos, as taxas de homicídio são maiores entre os pretos e pardos. Entre brancos, a proporção de vítimas é de 34% enquanto para negros é de 98,5%.

Esses dados são extremamente importantes. Revelam a necessidade urgente de criar iniciativas que capacitem e insiram a população no mercado de trabalho por uma questão de equidade e também para fazer jus a esta que é a década internacional dos afrodescendentes

2019-2020: anos de fortalecimento institucional do Fundo Baobá

O biênio 2019-2020 marca o amadurecimento institucional do Fundo Baobá para a Equidade Racial, seguindo o previsto no planejamento estratégico 2017-2027. Embora o cenário político-econômico brasileiro seja desafiador com relação aos direitos humanos, o trabalho realizado concentra esforços para mobilizar agentes da filantropia nacional e internacional na luta em favor da equidade racial. 

Um fato marcante de 2019 foi a mobilização de US$ 3 milhões para investir na ampliação das habilidades de  lideranças femininas negras e nas capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras e no estabelecimento de um novo formato para alavancar doações captadas. Outra grande vitória foi a repactuação do acordo de sustentabilidade com a Fundação Kellogg: desde o ano  de 2018, a cada R$ 1,00 arrecadado no País, a Fundação Kellogg contribui com mais R$ 3,00. E a cada R$ 1,00 arrecadado no exterior, a contribuição será de mais R$ 2,00.

Esse novo formato de captação nos permite olhar com  mais otimismo para o futuro, mas também exige o fortalecimento institucional. Todos os esforços do Fundo Baobá têm sido no sentido de reforçar todas as áreas, incluindo as melhoras práticas de governança corporativa para manter-se fiel aos valores institucionais e à nossa missão. Em janeiro de 2019, por exemplo, foi contratada a diretora de programa Fernanda Lopes. Em março, aberto processo seletivo para a contratação de três coordenações: administrativo-financeira, projetos e comunicação e uma assistente executiva. 

Em paralelo, o Fundo Baobá também criou o Código de Ética e Transparência aprovado pelo Conselho Deliberativo, que validou a criação de um Comitê de Ética e Conformidade. Essa iniciativa, que conta com a participação de três membros do Conselho Deliberativo e de um assessor jurídico externo, está em sintonia com os mais avançados princípios de compliance para coibir qualquer tipo de fraude ou desvio de conduta. Portanto, caberá a esse comitê acolher denúncias e dar os devidos encaminhamentos.

Para uma maior proximidade com possíveis doadores e parceiros, nossa operação foi concentrada em São Paulo – cujo governo estadual publicou no último dia de dezembro de 2019 três resoluções conjuntas que ampliam de um para três anos o prazo de vigência dos certificados de reconhecimento de instituição e da declaração de isenção do ITCMD (Declaração de Reconhecimento de Isenção do Imposto de “Causas Mortis” e Doações de Qualquer Bens ou Direitos), que renovamos no ano passado. O objetivo agora é obter as mesmas isenções com o governo do Estado do Rio de Janeiro. 

Outra conquista importante foi a renovação internacional da qualificação 501C3, para o recebimento de recursos advindos dos Estados Unidos, a partir do enquadramento em uma categoria de isenção tarifária para o doador.

Perspectivas para os próximos anos

O foco do Fundo Baobá tem sido o de mobilizar recursos para “viabilizar canais de investimentos que permitam a sustentabilidade dos movimentos, iniciativas e organizações que atuam na causa de Equidade Racial no Brasil até o ano de 2027”. Essa meta está totalmente em sintonia com o planejamento estratégico feito para a década compreendida entre 2017 e 2027.

Embora seja arrojado, esse ideal segue alinhado com o censo realizado pelo Grupo de Institutos e Fundações Empresariais (GIFE) com seus 160 associados, no ano de 2018. Os resultados do censo ajudam a entender as direções em que o investimento social privado avança. Entre os itens apontados pelos entrevistados estavam: necessidade de execução dos próprios projetos; crescimento de investimento externo de 21% em 2016  para para 35% em 2018 e, por fim, 31% dos que responderam mostraram-se dispostos a apoiar projetos e programas de organizações sociais que defendam direitos, cultura de paz e democracia. Esse segmento precisa ser melhor compreendido pelo Fundo Baobá para que possa se engajar na filantropia pela causa da equidade racial. 

Para que o plano estratégico seja implantado com sucesso, o Fundo Baobá percebeu a necessidade de alinhar-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Na verdade, as agendas internacionais ganharam importância para governos e empresas em sintonia com geração de valor.

O principal desafio será apresentar, de forma legítima, as conexões entre a Agenda 2030 e as metas e objetivos traçados pela ONU para a Década dos Afrodescendentes, já que esse é um compromisso pouco conhecido ou assumido com prioridade por parceiros.

Das palavras à ação

A diretoria de programas fez uma rigorosa análise de todos os editais do Fundo. O objetivo desse trabalho foi identificar oportunidades e desafios para gerir melhor os programas e, consequentemente, alcançar resultados mais expressivos ainda, consolidando  uma cultura de monitoramento, avaliação e aprendizagem dentro da instituição e entre apoiados.

Um dos pontos que já se destacou foi o que os editais são a melhor ferramenta para o grantmaking porque é um caminho efetivo para ensinar e aprender. Por isso, sua divulgação deve ser diversificada e alinhada às prioridades de investimento definidas pelo Fundo Baobá. Também os mecanismos de escuta devem ser aprimorados, da mesma forma que a seleção deve ser bem documentada para que não restem dúvidas da lisura de todo o processo. Para isso, em todos os processos seletivos o Fundo Baobá contará com apoio de especialistas, membros de seus órgãos de governança e/ou consultores externos.  

A tomada de decisão baseada em evidências é uma prioridade para o Fundo Baobá. Por isso a opção por realizar estudos. Em 2018, no âmbito do projeto “Consolidando Capacidades e Ampliando Fronteiras: fortalecimento de articulações e visibilidade do Fundo Baobá”, financiado pela Fundação Ford, o estudo teve por objetivo mapear, junto a organizações e lideranças do movimento negro brasileiro, áreas prioritárias de atuação, orçamento e temas urgentes/relevantes na atualidade. Os resultados estão sendo utilizados para orientar a captação de recursos para posterior investimento. 

O segundo, realizado no âmbito do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, financiado por Instituto Ibirapitanga, Fundação Open Society e Fundação Ford, teve como objetivo mapear necessidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras para fortalecer sua capacidade institucional e de liderança. Os resultados subsidiaram o processo de elaboração dos editais do Programa. 

O foco do Fundo Baobá tem sido o de mobilizar recursos para “viabilizar canais de investimentos que permitam a sustentabilidade dos movimentos, iniciativas e organizações que atuam na causa de Equidade Racial no Brasil até o ano de 2027”. Essa meta está totalmente em sintonia com o planejamento estratégico feito para a década compreendida entre 2017 e 2027.

Para o biênio 2020-2021, os esforços serão no sentido de:

– investir mais e melhor em iniciativas negras em linha com as prioridades institucionais; 

– avaliar contextos e instituições;

– realizar uma gestão ainda mais eficiente e transparente;

– fortalecer a capacidade de influenciar e mobilizar doadores para a equidade racial;

– estabelecer uma cultura institucional de monitoramento, avaliação e aprendizagem;

– ampliar as conexões, atuando em rede.

O novo plano de captação 2020-2025 foi elaborado a partir de uma análise criteriosa das boas práticas e lições aprendidas ao longo destes anos pelo Fundo Baobá e das oportunidades atuais. No meio às ondas conservadoras vividas no Brasil, o Fundo Baobá tem sido procurado por várias instituições que reconhecem que, neste País, não haverá justiça social se a equidade racial para a população negra não for real.

Esforços concentrados

Em busca da equidade racial, esforços extras serão empreendidos para obter recursos que permitam ganhar cada vez mais autonomia para investir mais livremente em ações e projetos, de acordo com as necessidades e expectativas detectadas no momento.

Uma atividade que compõe essa nova cultura de monitoramento, avaliação e aprendizagem é o estudo de caso e avaliações de impacto ao final dos ciclos dos projetos. Dessa forma, podemos sempre rever prioridades de investimento, avaliar a sustentabilidade dos resultados alcançados pelos projetos e seu impacto na sociedade.

Pretende-se também estabelecer canais permanentes de escuta e feedback junto aos diferentes atores, quer sejam população negra, movimento social negro ou instituições filantrópicas, entre outros. Esses canais, adaptados a cada segmento, serão estabelecidos até o fim deste ano.

Temos muito trabalho pela frente. Mas estamos atentos aos movimentos políticos e econômicos nacionais e internacionais, e alinhados às melhores práticas de gestão que nos ajudem a construir uma sociedade mais solidária, participativa e sem qualquer tipo de distinção por raça, cor,  gênero, filiação religiosa ou outra característica/situação.

Gestão de recursos

O Baobá – Fundo para a Equidade Racial é um Fundo em crescimento, que futuramente vai operar por meio de patrimônio próprio. Esse patrimônio compõe o que chamamos fundo patrimonial e está sendo formado por doações contínuas de empresas, organizações não-governamentais e pessoas físicas. Parte dos  rendimentos gerados serão utilizados para apoiar projetos relacionados à equidade racial, arcar com custos operacionais e implantar programas próprios.

Em 2019, o volume de entradas no Fundo Patrimonial cresceu expressivamente em razão do novo formato de contrapartida pactuado com a Fundação Kellogg 1:3 e 1:2. O crescimento se deu, especialmente, em função dos volumes captados para realização do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras – Marielle Franco e da parceria firmada com a Fundação Lemann para concessão de bolsas de pós-graduação para alunos negros brasileiros em universidades estrangeiras parceiras.

O valor resgatado dos rendimentos do Fundo Patrimonial em 2019 e o montante  autorizado pelo Comitê de Investimentos (um dos órgãos de governança do Fundo Baobá) para resgate em 2020 irão perfazer a maior parte do volume a ser investido em edital específico para iniciativas da região Nordeste, conforme orientado pelo Conselho Deliberativo. 

A primeira reunião do Comitê de Investimentos acontece ainda no primeiro semestre deste ano. 

Projetos em andamento

Em 2020, no âmbito do Programa Marielle Franco, firmamos  15 contratos com organizações, grupos e coletivos. Isso corresponde a R$ 1.692.945,79 (um milhão, seiscentos e noventa e dois, novecentos e quarenta e cinco mil, setenta e nove centavos) a serem transferidos. Além do apoio aos coletivos foram selecionadas 63 lideranças femininas negras .

Os investimentos diretos nas lideranças serão da ordem de R$ 2.520.000 (dois milhões, quinhentos e vinte mil reais). Já os indiretos (sessões de coach, curso de formação política e encontros para o enfrentamento aos efeitos psicossociais do racismo) serão da ordem de R$ 420.000,00 (quatrocentos e vinte mil reais). 

Considerando ambos os editais lançados em 2019, o Programa de Aceleração fará um investimento direto na ordem de R$ 4,2 milhões – o que equivale a 70% de tudo o que foi doado pelo Fundo Baobá de 2014 a 2018.

É importante destacar que o Programa Marielle Franco  investe em iniciativas individuais e coletivas para impulsionar o desenvolvimento das habilidades entre líderes negras que tenham como meta ocupar espaços de poder nas estruturas do Estado (executivo, judiciário, legislativo), setor privado, organizações internacionais, universidades e organizações da sociedade civil. 

Algumas mulheres negras apoiadas são ativistas políticas,  outras têm um perfil técnico. São mulheres cis, trans, residentes em áreas urbanas, rurais, de diferentes faixas etárias, níveis de escolaridade e filiação religiosa, todas residentes no Brasil.

Programa Marielle Franco, conheça as propostas selecionadas!

O intuito do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco é o de fomentar que lideranças femininas negras, de forma individual ou coletiva. Com o Programa, resultado da parceria entre Baobá – Fundo para Equidade Racial, Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations, pretende-se contribuir para que mulheres negras tenham mais subsídios para acessar espaços de tomada de decisão; mobilizem mais pessoas para a luta antirracista, por justiça, equidade racial e social e transformem o mundo a partir de suas experiências.

Foi uma grande jornada desde a primeira comunicação oficial do Programa (em março de 2019) até hoje. Foram muitas leituras; mapeamento de necessidades e expectativas e  grupos focais;  desenho e revisão de textos de editais; desenvolvimento de uma plataforma virtual própria; organização de eventos; produção de materiais de orientação (manual e vídeos); criação e manutenção de canais de atendimento às dúvidas; análise de propostas, documentação e, finalmente, a seleção.

Para que todas as interessadas tivessem igualdade de oportunidades no envio de suas propostas e participassem dessa seleção, foram necessários vários ajustes de rota como, por exemplo, a prorrogação do prazo para envio de projetos. 

Foram 53 dias de inscrições abertas, mais de 1000 mulheres e cerca de 200 organizações, grupos e coletivos, interessadas nos editais.  Perguntas, críticas e elogios vindos de mais de 20 estados do país e Distrito Federal. Cerca de 500 projetos analisados, 30 pessoas envolvidas nas diferentes fases do processo seletivo – 99% negras. São muitas histórias potentes! Hoje, 10 de dezembro de 2019 estamos muito felizes em anunciar as propostas selecionadas!

Selecionadas no edital de “Aceleração do desenvolvimento de lideranças femininas negras

Nome completoEstadoNome do Projeto
Aline Pinto Lourena MeloRJPDI ALINE LOURENA
Ana Bartira da Penha SilvaRJEquidade na Representação Social : Plano de Desenvolvimento
Ana Cristina da Silva CaminhaBAMulheres Negras e Direito à Cidade: enfrentamento ao racismo e sexismo institucionais
Ana Lídia Rodrigues LimaCEEducação para enfrentamento das violências sexuais, LGBTfobia e racismo
Andressa FerreiraRSMulheres Negras e Tecnologia – Produção Musical Enegrecida
Anielle Francisco da SilvaRJEmpoderamento através da memória e legado de Marielle Franco
Bárbara Fraga dos Santos AguilarMGPretas Tech: Mais Mulheres Negras na Tecnologia
Brígida Rocha dos SantosMAVivências e Resistências de Mulheres Negras ao Trabalho Escravo
Brunna Kalynne Moraes LeandroALComunica Preta
Carolina Araujo de BritoPBEnegrecendo o artvismo: multilinguagem na luta antirracista
Clara Maria Guimarães Marinho PereiraDFConstruindo a liderança na administração pública federal
Daiane de Almeida PereiraSPPrograma de acesso a crédito e investimento para empreendedores negros
Dandara Rudsan Sousa de OliveiraPAAtitude TRANSversal: Mulher Negra Transexual da Amazônia tecendo Redes e ampliando horizontes
Danubia Santos e SantosBAProjeto individual de desenvolvimento politico e social
Dogivania Sousa LimaMAEducação para mais ação
Emília Carla Costa LeiteMARecontando Nossas Histórias como Instrumento de luta pelo chão sagrado
Enedina do Amparo AlvesSPCapacity-building:Ativismo legal e intercâmbio linguístico no desenvolvimento de lideranças negras
Éthel Ramos de OliveiraRJAprimoramento em roteiro de ficção, lingua estrangeira e autonomia técnica de uma cineasta
Evânia MariaMGTratamento da dor crônica é um direito humano e uma questão de justiça social
Giovana Xavier da Conceição CôrtesRJCiencia de Mulheres Negras: liderança acadêmica e pesquisa ativista no Brasil
Girlian Silva de Sousa PAEspecialização em Influência Digital como Estratégia de Potencialização do Ativismo Feminista Negro
Hellen Caroline dos Santos SousaBADesenvolvmento Sustentável – para comunidades empreendedoras autônomas e participativas.
Ingrid Delcristyan de Assunção Farias SouzaPEAdvocacy Feminista Antirracista por uma nova politica de drogas
Jaciara dos Santos RibeiroBAIyá Omi: o legado ancestral da Yalorixá Jaciara Ribeiro na luta contra o racismo religioso
Jaciara Novaes MelloPRAya Muitas negras no Brasil
Jaqueline Ferreira FragaPEComunicação Negra: Inspirar, Apoiar e Conscientizar
Jenair Alves da SilvaRNOdodo aye 
Jéssica Lúcia dos RemédiosRJBlack Data – Uma preta na ciência de dados
Jessica Vanessa dos SantosPEJéssica Vanessa: jovem, mulher, negra e liderança juvenil
Joice Silva dos SantosPIInstrumentalização, ocupação e trasmissão de conhecimento: sementes para transformações políticas
Juliana de Oliveira FerreiraGOMovimentos Atlanticos
Karen Freitas FranquiniRJImpactando Jovens Periféricos – Karen Franquini
Keitchele Lima da SilvaSPSementes Marielle
Leandra RobertaSPVERVE- DÉJÀ VU AFROTURISTA 1º ATO- ANCESTRALIDADE HIGH TECH
Lorena Amorim BorgesMGMagistratura Preta
Luciane dos Reis ConceiçãoBAAyamo (Destino)
Lucimar Sousa Silva PintoMAPlantando sementes, cultivando redes de cuidado e colhendo justiça social.
Magna Barboza DamascenoSPRacismo e a interface com a violência doméstica na Saúde
Maria da Piedade Marques de SouzaPEMulheres Negras e Irmandade: Construindo redes de solidariedade
Mariana Gomes da Silva SoaresBAMalunga: direito à comunicação e tecnologias de informação e comunicação
Marina Ribeiro LopesSEVozes Pretas- o poder da comunicação no combate ao racismo
Marinete da SilvaRJRede de apoio e acolhimento à mulheres negras
Mayara Silva de SouzaSPMeus sonhos não serão ser interrompidos.
Mayne da Silva SantosBAOcupar novos espaços de poder re-existir e seguir tecendo a rede
Midiã Noelle Santos de SantanaBAOlhares de Liberdade: midiativismo para enfrentamento ao racismo
Monalyza Ferreira Alves PereiraRJDe uma para muitas – Transformação, comunicação e formação em Gestão de Politicas Públicas
Nanan da Silva Sousa MatosDFNãnan & a Música à Serviço do Empoderamento da Mulher Negra
Patrícia Lacerda Trindade de LimaBAFortalecendo o diálogo social no mundo do trabalho na luta por igualdade e justiça social
Renata da Silva SantosSPMeduza – a vez e voz dela
Renata Nunes VazRJA valorização do turismo interno e das guias de turismo
Sarah Marques do Nascimento PEFortalecimento e resgate histórico das lutas comunitárias
Sibele Gabriela dos SantosSPTodas Vidas Negras Nos Importa: Educação Anti-Racista Já!
Sulamita Rosa da SilvaACrede de formações como forma de empoderamento no estado do Acre
Taís dos Santos NascimentoPEInspirar e atrair mais mulheres negras na área de Design e Tecnologia a partir da minha liderança
Tania Heloísa de MoraesSPMulher Quilombola na Defesa dos Direitos e pela vida!
Vanessa Maria Gomes BarbozaPEAUTORFORMAÇÃO NEGRA: Fortalecida e Perseverante
Vilma Maria dos Santos ReisBACanal Maria Mariwô
Vitória Helena Senger Barreiros da SilvaSCBot Dandara
Wemmia Anita Lima SantosDFEmpreendedorismo periférico: RAIX e protagonismo jovem no DF
Wézya Mylena dos Santos FerreiraSEPOR UMA EFETIVAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES ENCARCERADAS SOB UM OLHAR INTERSECCIONAL

Selecionadas na repescagem do edital de “Aceleração do desenvolvimento de lideranças femininas negras

Nome completoEstadoNome do Projeto
Laiara Amorim Borges MGVoe como uma garota negra!
Luyara Francisco dos SantosRJEDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR COMO AGENTE RESPONSÁVEL NA FORMAÇÃO DE MULHERES CRITICAS E PENSANTES
Márcia Maria Pinheiro Monte CEEscolas : Ambiente seguro para crianças e adolescentes negros

Selecionadas no edital de Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras

Nome da OrganizaçãoEstado projetoProjeto
INSTITUTO OMOLARA BRASILRJTrincheira Preta Feminista
Grupo de Mulheres GingaBAMulheres Negras: Elaborando estratégias, fortalecendo saberes
Abayomi Juristas NegrasPEABAYOMI JURISTAS NEGRAS
GRUPO DE MULHERES LÉSBICAS E BISSEXUAIS MARIA QUITERIAPBEQUIDADE SIM! RACISMO NÃO!
Instituto de Mulheres Negras de Mato GrossoMTVOZ DO IMUNE: 18 anos em movimento
REDE DE MULHERES NEGRAS DE PERNAMBUCOPEPROJETO OLORI: MULHERES NEGRAS E PERIFÉRICAS CONSTRUINDO LIDERANÇA
Coletivo Filhas do VentoPETravessias negras: das margens periféricas aos centros decisórios do poder
Quilombo MojuPA Marias Quilombolas
Marcha das Mulheres Negras de São PauloSPAquilombar e ampliar universos – formação política para mulheres negras
INSTITUTO DA MULHER NEGRA DO PIAUI – AYABÁSPIEsperança Garcia: conhecimento e registência
Abayomi coletiva de mulheres negras na ParaibaPBObirim Dudu: Movimentando as estruturas contra o racismo
Mulhere Negras DecidemRJMulheres Negras Decidem – Um Novo Projeto de Democracia
NegrasFotosGrafiasRJOLHAR E ESCUTA EM REDE DE CRIAÇÃO
Blogueiras NegrasPEBlogueiras Negras consolidando o legado da comunicação no movimento de mulheres negras no Brasil

Selecionada na repescagem do edital de Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras

Nome da OrganizaçãoEstado projetoProjeto
Associação Clube de Mães do Povoado de São Pedro MADinamização da Associação Clube das mães do povoado São Pedro

Meu projeto foi selecionado, e agora?

Pedimos que as selecionadas fiquem atentas às suas caixas de entrada, pois o Fundo Baobá fará contato EXCLUSIVAMENTE por e-mail, compartilhando as informações sobre os próximos passos do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco.

Se sua proposta não estiver na lista.

Para lideranças, organizações, grupos e coletivos que não tiveram suas propostas selecionadas, informamos que o Programa tem a previsão de abertura de outros editais para fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos e desenvolvimento individual de lideranças femininas negras. Fiquem atentas aos nossos canais oficiais e acompanhem as novidades que aparecerão por lá!

Dúvidas sobre a seleção?

Todas as informações sobre etapas de seleção, critérios e pré-requisitos estão disponíveis nos editais de Aceleração do desenvolvimento de lideranças femininas negras e Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras, não deixe de acessar!

Negrxs e o empreendedorismo

No mês da Consciência Negra, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, aproveita para trazer à discussão temáticas pouco exploradas, mas extremamente relevantes para a sociedade brasileira, especialmente para a população negras.

Para contribuir com essas reflexões, especialistas respondem perguntas sobre diferentes temas.

Quem comenta sobre negrxs e empreendedorismo é Giovanni Harvey, executivo, empreendedor, consultor e ativista social com mais de 30 anos de experiência na iniciativa privada, na administração pública e no terceiro setor. Tem expertise em planejamento, formatação e gestão de projetos sociais, vivência na construção de programas estratégicos e sólida experiência na formulação de políticas públicas universais ou orientadas para a redução de assimetrias regionais, de gênero ou de etnia. Fundou a Incubadora Afro Brasileira, em 2004, e foi Secretário Executivo da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, de 2013 a 2015. Atualmente, dentre outras iniciativas, coordena o projeto “Conectora de Oportunidades” e preside o Conselho Deliberativo do Fundo Baobá.

Segundo pesquisa realizada pelo Sebrae em 2018, “Global Entrepreneurship Monitor”, o número de empreendedores negros equivale a 40,2% das micro e pequenas empresas no Brasil. De que forma esse dado se conecta com a vulnerabilidade social e econômica da população negra e também com sua autonomia financeira?

O conceito de empreendedorismo mudou ao longo das últimas décadas, mas é possível afirmar que a população negra empreende no Brasil desde que o primeiro contingente de africanos chegou ao país. Desde então, todas as iniciativas que embasaram a projeção da identidade negra na política, no campo associativo, na religião, na cultura, no esporte e na vida social têm, na capacidade da individualidade negra de empreender, uma das suas dimensões. Os Quilombos, as Irmandades Abolicionistas e os Clubes Sociais Negros são exemplos de empreendedorismo, de foco e de estratégia. Atualmente o conceito de empreendedorismo tem sido empregado de uma forma mais “restrita” e tem sido vinculado ao exercício de atividades empresariais convencionais. Esta concepção atende aos interesses das novas formas de organização do trabalho e aos interesses dos modelos de produção de riqueza alicerçados no uso intensivo da tecnologia digital. O ato de empreender foi e continua a ser uma alternativa, por oportunidade ou por necessidade, ao “teto de vidro” que ainda limita a ascensão funcional das pessoas negras na iniciativa privada e aos sucessivos processos de “reorganização” do mercado de trabalho que resultam em desemprego estrutural. Tendo em vista estes aspectos precisamos distinguir o ato de empreender, numa perspectiva histórica, do uso que tem sido feito do conceito de empreendedorismo como ferramenta para a disseminação de ilusões que tem como objetivo a manter o “status quo” através da substituição do “mito do pleno emprego” pelo “mito do pleno empreendedorismo”. O nosso desafio, mais do que o reconhecimento formal do percentual de pessoas negras que empreendem, é refletir em que medida nós poderemos construir estratégias que aumentem a perspectiva de sobrevivência e promovam a sustentabilidade financeira das pessoas negras que lideram negócios em ambientes cada vez mais complexos, suscetíveis a uma gama de variáveis sobre as quais o(a) empreendedor(a) não tem nenhuma governabilidade.

Que boas práticas podem fomentar o empreendedorismo negro no Brasil?

Eu ainda não enxergo no termo “empreendedorismo negro” conceitos e métodos capazes de resistir ao crivo de uma análise científica. “Empreendedorismo negro” é, até agora, um conceito político, com aspectos positivos e fragilidades. Por esta razão vou basear a minha recomendação sobre as boas práticas nos 30 anos de experiência na iniciativa privada e no conhecimento gerado, ao longo de 15 anos, pela Incubadora Afro Brasileira, pela Incubadora de Empreendimentos Populares e pela Conectora de Oportunidades. As três iniciativas apoiaram a construção de mais de 2.500 Planos de Negócios, além de oferecerem apoio logístico, assistência técnica e consultorias. Com base nestes elementos vou destacar 03 boas práticas:

  1. Analisar o mercado para além das vicissitudes inerentes à questão racial, sem deixar de ter em mente que o tratamento da questão racial será uma variável fundamental na definição da estratégia do negócio, ainda que de forma oculta.
  2. Fazer um Plano de Negócios capaz de dimensionar o real potencial de desenvolvimento, escala de produção, capacidade de comercialização e infraestrutura de distribuição dos seus produtos e dos serviços, considerando as características do mercado no qual o(a) empreendedor(a) atua ou pretende atuar.
  3. Incorporar o uso das tecnologias digitais, desde o início, ao modelo de negócio.

Como o empreendedorismo pode mudar a realidade de pequenxs empresárixs negrxs e do entorno onde atuam?

As pessoas negras que empreendem são, em qualquer circunstância, líderes com capacidade de influenciar a cadeia de valor dos seus negócios e exercem influência sobre o ambiente social no qual os mesmos estão inseridos. Partindo deste pressuposto, as pessoas negras que empreendem tem contribuído há séculos para mudar a realidade do nosso país, nas mais variadas dimensões da vida política, econômica, religiosa, social, esportiva e cultural. Esta contribuição não está associada ao tamanho dos seus negócios pois, diga-se de passagem, não existem “pequenos(as) empreendedores negros(as)”, existem empreendedores negros(as) que lideram negócios de pequeno porte. Com base nesta compreensão é possível afirmar que os empreendimentos liderados por pessoas negras geram resultados (objetivos e subjetivos) e impactos (mensuráveis e não mensuráveis) que já contribuem para mudar a realidade do entorno onde atuam.

Existe equidade racial na gestão pública?

No mês da Consciência Negra, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, aproveita para trazer à discussão temáticas pouco exploradas, mas extremamente relevantes para a sociedade brasileira, especialmente para a população negras.

Para contribuir com essas reflexões, especialistas respondem perguntas sobre diferentes temas.

Quem comenta sobre desafios da gestão pública é Trícia Calmon, mestranda em Desenvolvimento e Gestão Social especialista em Políticas Públicas de Gênero e Raça, graduada em Ciências Sociais. Atualmente, ocupa o cargo de Coordenadora Geral do Programa Corra pro Abraço (Secretaria de Justiça e Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Estado da Bahia). Trícia é conselheira no Conselho Estadual de Políticas de Drogas, colaboradora da plataforma Hysteria.etc, Conselheira do Fundo Baobá e membro-titular do Comitê Interinstitucional de Monitoramento e Avaliação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, presidido pelo Ministério Público do Estado da Bahia. Atuou como consultora da Fundação Kellogg no programa de Equidade Racial no Nordeste e como Coordenadora Executiva de Igualdade Racial da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia.

Apenas em 1988, 100 anos após sancionada a Lei Áurea, o Brasil reconheceu formalmente a existência do racismo, da discriminação racial e se propôs a enfrentá-los por meio de ações afirmativas. Quais os efeitos desse reconhecimento para o desenvolvimento da população negra e do país como um todo?

Antes de 1988 o Brasil já vinha se afinando com compreensões em conferências e convenções, essa sinalização formal em relação à agenda do combate ao racismo se delineou a partir de articulações internacionais. Tivemos a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, ratificada pelo Brasil em 1968.

A constituição de 1988 é muito importante porque deu abertura para outras políticas. As ações afirmativas ocorrem um pouco mais adiante ampliando o debate nacional a partir das cotas e outras políticas de estímulo e permanência à estudantes negros e negras nas universidades. Posteriormente o governo federal verificamos implanta o sistema de cotas também para concursos públicos. Temos outras políticas no campo de enfrentamento e combate ao racismo, ou pelo menos de promoção da igualdade racial no âmbito dos governos e das casas legislativas, leis no campo da educação e outras áreas. A legislação por si só não vai causar efeitos de reversão do cenário de desigualdades sócio raciais, temos uma visão crítica nesse sentido, mas consideramos que esses avanços na legislação são demarcadores importantes para a constituição legítima de políticas públicas. Quem atua em gestão, em áreas específicas de promoção da igualdade racial ou em áreas transversais que tocam o racismo, tem condições de se assentar em bases legais a partir desse conjunto de leis que embasa políticas de promoção da igualdade racial ou de enfrentamento ao racismo.

Consequência da luta de décadas do movimento negro, a sociedade brasileira assiste a uma mudança de postura em relação às desigualdades raciais no país. Dentre a diversidade de temáticas, as cotas raciais é uma das que gerou mais debate da sociedade em geral. Que outros temas centrais e desafios necessitam de mais engajamento de toda sociedade brasileira?

Eu não sei se a sociedade brasileira adotou uma mudança de postura. A sociedade brasileira tem se posicionado mais claramente sobre o que pensa em relação ao racismo, especialmente nesse momento de um governo mais reacionário e declaradamente intolerante, racista, homofóbico. Tem também um grupo que acha ruim o Brasil ser um país racista, mas que não quer mexer nessa realidade e abrir mão de privilégios. Tanto que o tema das cotas, embora consolidado por conta das leis e mostrando resultados a algum tempo, é um assunto ainda controverso.

Acho que os movimentos sociais e políticas publicas tem conseguido arregimentar mais pessoas no momento em que elas começam a ficar mais bem informadas sobre o assunto. Conseguimos tencionar um pouco mais sobre o tema do racismo, a partir de décadas de luta do movimento negro. Inclusive, a gente pode observar agora a adesão de outros movimentos sociais em relação a desigualdade sócio racial e combate ao racismo. Foi muito importante e educador ter esse debate sobre cotas raciais no Brasil da maneira que foi, inicialmente dentro do tema da educação de nível superior. Falando sobre o mundo do trabalho, as cotas vêm ocorrer nos concursos públicos federais, com adoção de alguns estados e municípios pelo país afora.

Precisamos refletir sobre a educação básica, temos a lei 10.639 de 2003 que, além de instaurar o Dia Nacional da Consciência Negra, tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira no ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. Temos assuntos proeminentes que precisamos olhar com calma, carinho, força e dedicação, como o tema do genocídio da juventude negra, o hiper encarceramento das pessoas negras, a desigualdade no campo da educação.

O Brasil tem um número escandaloso de pessoas que não concluem o ensino fundamental e essas pessoas são majoritariamente negras, nos conduzindo para um processo de tragédia social que a gente precisa interromper. Tudo isso converge para um sinal de violência urbana geradora de ódio às pessoas que ficam em situações mais extremas de vulnerabilidade. Vemos o aumento de pessoas que são em situação de rua, que não têm onde morar. Essas pessoas têm baixa escolaridade, sobrevivem a partir de trabalhos precários e isso é uma realidade cada vez mais gritante na sociedade brasileira. O tema da política de drogas precisa ser olhado com cuidado por nós, vivemos numa sociedade que criminaliza o uso de drogas por pessoas negras, mas o uso de drogas por pessoas brancas é descriminalizado. As tratativas com um sujeito branco de classe média alta e com um sujeito negro de periferia são totalmente diferentes e essa é uma realidade cada vez mais gritante.

São temas caros que estão determinando os índices de prisão, a guerra às drogas que tem elevado os índices de mortalidade de jovens, pessoas na periferia e até crianças acometidas por essa situação de violência e a própria força policial, também abatida nessa relação ostensiva.

A presença de representantes negros nos diferentes espaços de poder e tomada de decisão pode impulsionar o desenvolvimento de políticas públicas para essa população. Que ações são necessárias para promover a justiça racial no processo eleitoral?

A representação negra nos espaços de poder e tomada de decisão é algo absolutamente importante. Vivo em Salvador, cidade que tem uma população de 85% de pessoas negras, mas nunca teve uma pessoa negra governando. Quer dizer, a cultura negra é pulsante, gera renda e gera recursos na cidade, mas essa renda é concentrada em pessoas brancas, o poder é concentrado em pessoas brancas.

Tem questões da realidade de uma pessoa negra em uma cidade, em determinados bairros e territórios que, por mais bem-intencionado que um politico branco de classe média alta seja, tem dimensões que ele jamais vai alcançar sobre as necessidades, sobre as ausências, sobre a forma de ser, de pensar e de viver que precisam ser consideradas na hora em que você elabora políticas públicas.

Negros e negras acabam também sendo preteridos e permanecendo fora desses espaços de decisão dentro dos partidos. No final das contas impera uma lógica que não responde às teses que os partidos de esquerda defendem declaradamente, de pluralidade, de inclusão, de combate ao racismo, à desigualdade de gênero. Há necessidade de ações mais efetivas para corrigir isso.

A presença negra na produção cinematográfica do Brasil

No mês da Consciência Negra, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, aproveita para trazer à discussão temáticas pouco exploradas, mas extremamente relevantes para a sociedade brasileira, especialmente para a população negra.

Para contribuir com essas reflexões, especialistas respondem perguntas sobre diferentes temas.

Quem comenta sobre produções audiovisuais no Brasil é Joel Zito Araújo, cineasta e membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá.

Joel Zito Araújo é diretor, roteirista, curador de festivais, escritor e pesquisador. É tido como um dos responsáveis pela implantação do chamado cinema negro, tanto na ficção quanto no documentário, com filmes que debatem o racismo e a desigualdade entre negros e brancos. O tema também se encontra em suas pesquisas universitárias, particularmente, na presença de afrodescendentes no audiovisual. Joel Zito dirigiu 29 curtas e médias documentais e ficcionais, lançando em 2000 “A Negação do Brasil”, longa documental que recebeu o título de melhor filme brasileiro do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, de 2001. Em 2004 finalizou seu primeiro longa-metragem de ficção, “As Filhas do Vento” e, em 2019 fez o lançamento mundial do seu novo longa, “Meu Amigo Fela”, em que o diretor brasileiro entrevista o africano-cubano Carlos Moore, amigo íntimo e biógrafo oficial de Fela, com o objetivo de tentar entender o homem que viveu atrás do mito de “excêntrico ídolo pop africano do gueto”. Diferente de qualquer narrativa anterior sobre o gênio musical nigeriano Fela Kuti, que frequentemente foi retratado como um excêntrico ídolo pop do gueto, neste filme Fela Kuti é finalmente apresentado como o líder político importante que foi. Com uma narrativa construída através dos olhos de seus amigos, especialmente do seu biógrafo oficial, o intelectual afro-cubano Carlos Moore, este documentário é dedicado a desvendar os altos e baixos e a complexidade da vida de Fela. Um exemplo das glórias e tragédias que moldaram a vida de sua geração de militantes pan-africanistas.

Como você avalia a presença negra na produção cinematográfica no Brasil?

Continuamos minoritários e sendo tratados como minoria, mas existe um evidente crescimento e reconhecimento. Os números revelados pelas pesquisas do GEMAA (Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa) e da ANCINE foram as pás de cal em cima daqueles que negavam o evidente racismo na produção audiovisual brasileira. Hoje temos um reconhecido cinema negro, com centenas de jovens cineastas fazendo curtas, médias e longas, além das pessoas de minha geração que continuam em evidência fazendo produções de impacto. É só ver o alcance dos nossos filmes em grandes festivais internacionais.

Mas, mesmo considerando um evidente avanço, a população negra e sua representação cinematográfica quando é conduzida pelas mãos de uma minoria branca, com poder audiovisual, continua, majoritariamente, sendo representada dentro dos estereótipos da subalternidade, ou como segmento indesejável do país. As telenovelas continuam sendo o melhor exemplo das dificuldades do país em dar um salto na representação audiovisual do segmento populacional negro (que é maior que 54% do total de nossa população total). Nela, a maioria dos atores, e dos melhores papéis continuam sendo somente para o segmento branco.

Que posições trabalhadorxs negrxs ocupam no cinema?

No cinema mainstream quase nenhuma. No cinema alternativo cresce a cada dia que passa. Tem uma velha e nova geração de realizadores e realizadoras brancas preocupadas em não incorrer nos mesmos erros do passado. Mas tem uma novidade mais positiva ainda, especialmente entre aquelas produtoras que desenvolvem produções para novas plataformas como Netflix, Amazon Prime e HBO, que tem suas matrizes nos EUA, onde a pressão pela diversidade é quase lei. Elas estão seriamente preocupadas com a diversidade racial e de gênero, e como consequência estão incorporando muitos profissionais nas frentes e atrás das câmeras em suas produções.

Como o momento de crise vivido pelo setor audiovisual brasileiro impacta a participação dessxs trabalhadorxs na produção de conteúdo?

Impacta muito. A maioria dxs novxs realizadorxs que estão na iminência de fazer os seus primeiros longas para a televisão ou salas de cinema, está com os seus projetos em compasso de espera em decorrência da paralização da ANCINE, boicotada pelo presidente de extrema direita. Ou seja, temos uma política destrutiva proposital para ceifar as cabeças culturais do país, e para impedir o desabrochar destas novas visões. 

Você tem uma vasta produção e um papel importante no cinema brasileiro. O que é preciso para que haja mais representatividade no audiovisual?

Eu não tenho uma vasta produção, talvez eu seja aquele que produziu mais entre nós, mas a minha média é de um filme a cada quatro anos. Eu achei que iria romper com esta média neste novo contexto que surgiu com o aumento dos recursos do FSA – Fundo Setorial do Audiovisual. Mas sou atingido da mesma forma que os novos. Não sei quando voltarei filmar, se depender de recursos do FSA ou de patrocínio de empresas brasileiras. Portanto, o que é preciso é que tenhamos recursos financeiros e que eles sejam democratizados e respeitem nossa diversidade racial, de gênero e cultural. 

Acompanhe aqui as novidades sobre o trabalho do cineasta.

Aviso de alteração

Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco

O Baobá – Fundo para Equidade Racial comunica as seguintes alterações nos editais “Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras” e “Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras”:

1 – Alteração do item 10 no edital “Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras” e item 9 no edital “Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras”:  – Divulgação dos Resultados

A data de divulgação dos resultados, que a princípio seria no dia 20 de novembro de 2019, foi transferida para o dia 10 de dezembro de 2019.

Devido ao grande número de inscrições e também à necessidade de melhorias em nossa plataforma, foi necessário alterar a data final de envio de projetos para os dois editais do Programa de Aceleração, para garantir que todas as interessadas tivessem iguais condições de finalizar seu processo de inscrição. A mudança impactou diretamente no processo de seleção das propostas e, consequentemente, na data de divulgação dos resultados. A informação com as novas datas já havia sido divulgada nos dois editais disponíveis no nosso site oficial desde a alteração da data final de envio dos projetos em www.baoba.org.br/edital-pad.

2 – Edital “Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras”: Alteração do item 9 – 3ª Fase do processo de seleção

Em função das ações do mês de novembro relacionadas ao Dia Nacional da Consciência Negra, muitas organizações, grupos e coletivos estão envolvidos em atividades nos seus territórios.

Com o intuito de assegurar que todos os projetos selecionados para a 3ª Fase tenham a chance de passar pela avaliação, optou-se por substituir as visitas de campo por entrevistas a distância (por telefone ou videoconferência) e roteirizadas com as organizações, grupos e coletivos cujos projetos forem selecionados para essa fase.

O objetivo e critérios de análise desta fase permanecem inalterados, tal como descritos no item 9 – 3ª Fase do Edital.

O Fundo Baobá fará contato, apenas com as selecionadas, a partir do dia 21 de novembro, para agendar as entrevistas dessa fase. As organizações, grupos e coletivos devem estar preparados para que seus membros – lideranças e/ou colaboradoras, possam participar desse diálogo, mesmo estando em lugares diferentes.  

O Fundo Baobá reafirma seu compromisso de atender as expectativas e manter o diálogo permanente com as pessoas interessadas em participar de seus editais.

Agradecemos a compreensão e nos colocamos à disposição para adicionais esclarecimentos.

21 de novembro de 2019
Baobá – Fundo para Equidade Racial
baoba@baoba.org.br