Artigo de Selma Moreira

10 anos de história pela promoção de uma sociedade mais justa e equânime

O Baobá – Fundo para Equidade Racial foi criado em 2011  para promover equidade racial em todo território nacional. Trata-se do resultado de articulações promovidas por ativistas e militantes dos movimentos negros, bem como acadêmicos, atores da sociedade civil organizada e o apoio estruturante da Fundação Kellogg. A Organização nasceu com uma missão robusta, com foco em promover mudanças sistêmicas para o país, no que tange ao combate ao racismo e à construção de alternativas de investimentos para organizações negras e lideranças negras. 

Alcançamos nossa primeira década em um contexto muito desafiador de país — em termos políticos, sociais e econômicos–, em que os efeitos desta crise foram acentuados pela pandemia de Covid-19. Entretanto, o Fundo Baobá é uma organização em constante estado de aprimoramento, escuta ativa do campo, leitura de dados primários e secundários e processos sistemáticos de aprendizados com cada edital e novas parcerias. A organização se aprimorou durante 10 anos e sabemos que ainda há desafios a serem superados. Por isso, seguimos nos acercando dos melhores talentos no nosso time, consultores, parceiros e órgãos de governança. Dessa forma, estaremos sempre nos adaptando e abrindo as trilhas para as articulações que irão nos ajudar a construir uma nova década ainda mais pulsante e transformadora.

Celebramos 10 anos e a nossa história foi construída com base sólida e agregadora, para que pudéssemos, cada vez mais, promover estratégias de atuação capazes de  transformar vidas e mudar a sociedade.  Acreditamos que uma sociedade mais justa e equânime só será realidade se construirmos e implantarmos fortes estratégias em prol de transformações sistêmicas e, aqui no Fundo Baobá, nossos mecanismos de gestão, transparência e governança conferem solidez e instrumentos de transparência que nos conectam com os diferentes públicos de relacionamento da organização.

ASG ou ESG (em inglês)  é a sigla da vez e significa envidar esforços para promover conexão organizacional com as pautas ambientais, sociais e de governança. Ao ler o Fundo Baobá sob a luz das lentes do ASG, é notável que o DNA de constituição organizacional seja  baseado  nas práticas e valores ASG. 

Somos uma organização da sociedade civil criada em conexão com as demandas da sociedade civil brasileira, para a construção de estratégias para promoção da equidade racial e combate ao racismo: S-Social na veia.

Sendo o primeiro e único fundo filantrópico, exclusivamente focado na agenda racial, os mecanismos de  governança e transparência nos conferem  robustez institucional, prestação de contas e aprimoramento da engenharia de prestação de contas para toda sociedade brasileira e investidores sociais nacionais e internacionais. Tais práticas demonstram nossa fortaleza com relação aos mecanismos de controle, transparência e prestação de contas, compondo assim o  G-Governança. Por fim,  as pautas ambientais estão conectadas com nosso eixo de investimento Viver com Dignidade, em que apresentamos os desafios estruturais que atingem de forma acentuada as comunidades quilombolas em todo território nacional, conectando com a pauta da defesa de direitos, impactos climáticos e desigualdades estruturantes que combinam aspectos intrínsecos ao A-Ambiental.

Ser um fundo filantrópico em uma sociedade com desafios históricos no campo da equidade racial é uma missão de transformação sistêmica e que depende da ação de todos os atores, seja no campo privado, público e individual. A nossa causa está na base das desigualdades sociais que estruturam ou melhor, desestruturam a nossa sociedade e, por isso, contamos com todas as pessoas para promover as mudanças necessárias para uma sociedade mais justa, inclusiva para todes. O que você está fazendo para mudar este cenário? Vamos juntxs?

Selma Moreira

Diretora Executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial

29/11/2021

 

Fundo Baobá divulga lista de propostas aprovadas para a última fase de seleção

O edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça,  lançado em  setembro de 2021, tem o objetivo de apoiar iniciativas de organizações quilombolas para promover sustentabilidade econômica e geração de renda, soberania e segurança alimentar e proteção dos direitos quilombolas. Ele é uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e é financiado pela IAF (Fundação Interamericana).  O edital contou com 145 organizações inscritas, que participaram da primeira seleção do projeto, que teve 116 iniciativas aprovadas para esta segunda etapa, cuja lista foi divulgada em  5 de novembro. 

As propostas selecionadas foram avaliadas por 11 especialistas: 06 indicados pela CONAQ e 05 indicados pelo Fundo Baobá, vindos de diferentes lugares do país e com experiência em cada um dos eixos temáticos do edital. A avaliação foi feita  com base nos critérios de relevância; coerência; consistência e sustentabilidade. A pontuação máxima que poderia ser atingida nesta etapa foi de 50 pontos. Propostas que atingiram 25 pontos ou menos foram eliminadas. As e os especialistas que fizeram a análise do material recebido recomendaram ao comitê organizador 76 propostas a serem analisadas na terceira e última etapa do processo seletivo. 

Foram selecionadas iniciativas das seguintes regiões do país:

48 Nordeste (63,15%)
17 Sudeste (22,36%)
07 Sul (9,21%)
03 Centro-Oeste (3,94%)
01 Norte (1,31%)

Acerca dos eixos temáticos propostos pelo edital, foram selecionados da seguinte forma:

Eixo 1. Recuperação e sustentabilidade econômica nas comunidades quilombolas – 41 propostas

Eixo 2. Promoção da soberania e segurança alimentar nas comunidades quilombolas – 24 propostas

Eixo 3. Resiliência comunitária e defesa dos direitos quilombolas – 11 propostas

Entre as 76 iniciativas selecionadas para a próxima fase do edital, 48,68% das organizações contam com a maioria da sua coordenação composta por mulheres. 34,21% das organizações têm equilíbrio intergeracional entre os dirigentes, enquanto 6,57% são organizações cuja maioria da coordenação tem até 29 anos.

As organizações selecionadas para a terceira e última fase do Edital Quilombolas em Defesa terão as suas propostas avaliadas por um comitê composto por outro grupo de especialistas e membros da governança do Fundo Baobá. Será de responsabilidade do comitê selecionar as 35 (trinta e cinco) iniciativas que serão apoiadas pelo edital. As organizações selecionadas receberão assessoria técnica para a elaboração do planejamento detalhado do projeto (plano de ação, orçamento, indicadores e metas para o monitoramento e avaliação).

O resultado final do processo seletivo do Edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça será divulgado no dia 16 de dezembro, após às 19h no site do Fundo Baobá.

Confira agora a lista com as organizações selecionadas para a terceira e última fase do edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça.

Programa de Recuperação Econômica completa um ano

Duas iniciativas apoiadas pelo edital de Recuperação Econômica mudam a vida de empreendedoras e empreendedores e das pessoas ao redor delas  

Por Wagner Prado

Transformar (verbo transitivo). Significado: alterar, variar, tornar diferente do que era. Uma jornada de transformação depende de alguns fatores. Alguns deles, internos, pois dependem de vontade pessoal. Outros, externos, pois parte da disposição de outro, pessoa física ou jurídica, que propicia ferramentas de apoio ao  desenvolvimento de quem está precisando. 

Vamos abordar aqui exemplos de trajetórias de transformação. Transformação que atingiu não só aquelas e aqueles que querem empreender no Brasil, mas também todos os que são impactados pelas ações desses empreendedores. 

O momento de transformação, para muitos, teve início quando o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou o edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de  Empreendedores Negros e Negras, em novembro de 2020. A Coca-Cola Foundation, o Instituto Coca-Cola Brasil, o Banco BV e o Instituto Votorantim foram parceiros do Baobá nessa iniciativa, cujo objetivo foi apoiar pequenos empreendimentos liderados por pessoas negras, priorizando aqueles que fossem localizados em comunidades periféricas ou territórios em contexto de vulnerabilidade socioeconômica.

O Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras beneficiou 46 iniciativas, cada uma delas compostas por três parceiras ou parceiros. Não era necessário possuir o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), e cada uma das iniciativas recebeu R$ 30 mil (R$ 10 mil para cada empreendedor/empreendedora). Como premissa, o fato de não ser apenas um edital de transferência de recursos e sim uma oportunidade para promover também uma trajetória de aprendizado para que essas empreendedoras e esses empreendedores pudessem melhorar a gestão de seus negócios. 

Uma das 46 iniciativas beneficiadas pelo edital foi a Pescadoras Artesanais Beneficiárias e lntegradas, do Rio de Janeiro. As parceiras Luciana Oliveira Machado, Dayanna Barros de Souza Oliveira e Erlineia Barros de Souza Oliveira Viana decidiram promover ações que agregassem outras pescadoras como elas e, com isso, batalharem pela valorização do produto que vendem: o peixe. 

A primeira iniciativa do trio, conta Luciana Machado, foi dividir o aprendizado obtido no curso de formação realizado pela ong Fa.Vela e oferecido aos 137 empreendedores e empreendedoras que tiveram seus negócios selecionados  para esse edital. Segundo Luciana, o compartilhamento de informações e de aprendizado chegou a um número de 40 pessoas dos seguintes perfis:  adultos de 30 a 59 anos; idosos (60 ou +); negros (pretos e pardos); homens; mulheres; pessoas transgêneres; travestis e pessoas não binárias (que não se identificam nem como homem nem como mulher). 

A superação de desafios não foi esquecida. Fazer a melhor gestão do tempo e a falta do conhecimento tecnológico tiveram que ser superados. “Ter tempo para estarmos juntas e desenvolver nosso trabalho, além do domínio tecnológico, foi muito difícil para nós três. Superamos isso com as aulas do Fa.Vela e com as teorias passadas pelo Fundo Baobá”, afirmou Luciana. 

Para Dayanna Oliveira, parceira de Luciana Machado, incrementar a potencialidade de seu negócio era primordial. Para isso, um item se fazia muito necessário: um carro. Com ele, a possibilidade de, literalmente, alcançar outros públicos seria real. O recurso de R$ 10 mil recebido por ela tornou isso possível. “Além de ter investido na aquisição de computador, instalação de internet, um novo aparelho celular, mesa de trabalho para investir em atividades de publicidade, comunicação, divulgação, marketing e vendas, investi na compra de um carro para fazer as entregas do quiosque que mantenho. Antes, eu fazia as entregas de bicicleta”, disse. 

A terceira componente do Pescadoras Artesanais Beneficiárias e Integradas é Erlineia Barros de Souza Oliveira Viana. Ela conta que junto com Luciana e Dayana estão pensando em uma virada nos negócios. “Estou pensando em me juntar com as meninas em um só quiosque para trabalhar juntas. Eu aprendi a não ver os outros como concorrentes. A melhorar a união entre a gente para nos ajudar cada vez mais”, afirmou. 

Ao ser perguntada se recomendaria a outras pessoas que fizessem suas inscrições em editais promovidos pelo Fundo Baobá, Erlineia Barros de Souza Oliveira Viana é taxativa: “Sim, porque no Brasil temos muitas pessoas negras e mulheres que estão precisando só de uma oportunidade pra poder mostrar o seu talento e trabalhar”. 

Tijolos sustentáveis para mudar realidades 

A transformação do negócio e seu fortalecimento foram as respostas mais dadas pelos empreendedores quando questionados sobre os motivos que os levaram a participar do  edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras. Essas também foram as motivações de três amigos do estado do Rio, que decidiram investir em algo que possa facilitar o sonho de uma gama infinita de brasileiros: ter a casa própria.  Além disso, eles também não esqueceram de algo importante para o país e para o mundo: as mudanças climáticas. Moradias sustentáveis podem, e muito, contribuir para que o clima não sofra as interferência do Homem. 

Na recente COP 26 (Conferência das Partes para Discussão das Mudanças Climáticas), realizada na primeira quinzena de novembro em Glasgow (Escócia), um dos principais temas foi o das construções sustentáveis. Os edifícios residenciais e comerciais espalhados pelo mundo são responsáveis pela emissão de 40% da emissão de gases estufa no planeta, além de, infelizmente, contribuírem com o consumo de 50% de toda energia produzida no planeta. Soluções sustentáveis têm que ser buscadas. 

Embora dados de 2019 da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontem que a maioria dos brasileiros residam em imóveis próprios (85,6%), dados de pesquisa realizada feita pela Fundação João Pinheiro, de Minas Gerais,  indicam um déficit habitacional de aproximadamente 6 milhões (5,876 milhões) de moradias no país. 

Com o objetivo de construir casas populares sustentáveis e com baixo custo,  três pequenos empresários se juntaram. Gilberto Muniz, Ronaldo Rodrigues e Igor Fernandes de Souza encabeçam o projeto Casas Populares e Sustentáveis. “Nossa Iniciativa visa facilitar o acesso a casas através do método de construção com bloco solo cimento. Pretendemos atuar nas seguintes frentes: treinamento de pessoal para uso do bloco, fabricação e venda do bloco, execução e venda de projetos para uso deste bloco e construção e venda de casas”, afirma Gilberto Muniz.  “Somos uma iniciativa para movimentar a construção civil, atendo as classes de baixa renda”, afirma Igor Fernandes de Souza. 

Igor (à esquerda), Gilberto (no meio) e Ronaldo (à direita)

O principal desafio apontado por Ronaldo Rodrigues para alavancar o projeto do Casas Populares e Sustentáveis estava nas vendas do produto que fabricam: os blocos de tijolos. 

O desafio de incrementá-las está sendo vencido com o aprendizado de itens estudados nos cursos de formação do edital, como planejamento e gestão do negócio; planejamento financeiro; gestão e controle financeiro;  comunicação e marketing; precificação e vendas on line e offline. “O Programa abriu meus olhos para as redes sociais, mostrando que temos que fazer delas uma ferramenta forte para divulgação do nosso projeto”, afirma Ronaldo Rodrigues. 

A importância de fazer doações para o Fundo Baobá

Doação é uma ação transformadora para quem faz e para quem a recebe

Por Wagner Prado

Você já ouviu falar no conceito de sociedade co-responsável? Nela, o fundamento primordial no pensamento e atitude das pessoas é: Necessariamente, eu não vivo essa situação. Mas não posso ignorá-la. Ela me diz respeito, pois atinge outras pessoas e isso me incomoda a ponto de me fazer um agente de transformação. 

Uma forma de contribuir para a transformação e fazer parte da sociedade co-responsável é exercendo a doação. Dos mais favorecidos economicamente aos não tão bem favorecidos assim, todos podem doar. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial, primeiro e único fundo dedicado,  exclusivamente, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, vem realizando seu trabalho de captação de recursos há 10 anos. Tem encontrado, principalmente entre fundações ed institutos, parceiros que têm dado importante suporte financeiro propiciando, ao longo dessa jornada, o investimento de mais de R$ 14 milhões por meio de  16 editais e alguns apoios pontuais, financiados por 21 importantes parceiros. 

Agora, o Fundo Baobá está voltado também para um outro segmento: o das pessoas físicas. O Fundo já conta com pessoas físicas que decidiram doar e fazer parte da sociedade co-responsável, mas esse número precisa crescer significativamente. Juntar  muito mais gente que considere que, com a força delas, o Brasil será um país justo. Daí a promoção da filantropia para a equidade racial. 

Os mais diversos sentimentos levam as pessoas a praticar o ato da doação. Nos depoimentos aqui, por questões de confidencialidade e segurança, não serão divulgados nomes de doadoras e doadores. O objetivo dos contatos foi saber o que os move a fazer doações para o Fundo Baobá, como disse um doador de sexo masculino,  de São Paulo.  

Ao longo dos últimos anos, as questões de equidade racial vêm ganhando força em diversos âmbitos: nas empresas, na educação e na sociedade em geral. O Fundo Baobá tem um importante papel no desenvolvimento e na maturação dessa conversa. Especialmente porque a visão da organização vai além da inclusão. O Fundo Baobá dialoga com questões mais profundas da população negra, como racismo estrutural, cultura negra e ancestralidade”

Mulher com forte perfil como ativista política. Esse ativismo a fez despertar para as causas sociais. 

 “Trabalho no Terceiro Setor em defesa das causas feministas. Acredito na igualdade de direitos em todos os sentidos. Esse meu ativismo me levou também a ser doadora do Fundo Baobá. Quero contribuir para uma sociedade plural e igualitária” 

Homem de São Paulo afirmou que sua contribuição foi pequena, mas quando acompanha as notícias sobre os editais lançados pelo Fundo Baobá, sente que seu ato de doação foi transformador. 

“Saber que o pouco que eu coloquei no Fundo Baobá pode ter ajudado uma criança, uma mulher negra mãe, empreendedora, quilombola, um jovem negro ou uma jovem negra estudante que sonha chegar ao ensino superior público, isso dá uma grande satisfação. O que coloquei lá foi pouco, mas sei que foi muito bem empregado” 

Os depoimentos acima corroboram o que falou o professor Helio Santos, doutor em Administração e Mestre em Finanças, um dos fundadores do Baobá. Para ele, a grande transformação da sociedade brasileira está na filantropia para a equidade racial. 

“A filantropia racial hoje é o tema da sociedade brasileira. O Fundo Baobá tem muito a ver com isso, porque ele é o primeiro Fundo criado com essa vertente e organização. A missão dele é exatamente transferir e fomentar recursos para as organizações negras”  

Helio Santos, doutor em Administração, mestre em Finanças e professor convidado na Universidade do Estado da Bahia (Uneb)

No Dia de Doar (30 de novembro), o Fundo Baobá lança seu primeiro Círculo de Doação.   Motivar e estimular  lideranças negras em prol da filantropia e apoio à doação pela equidade racial no Brasil é o que os dois primeiros embaixadores, Rita Oliveira, Head de Diversidade e Inclusão LatAm da Walt Disney Company, e Gilberto Costa, Diretor Executivo do Pacto pela Equidade Racial e Diretor Executivo do JP Morgan irão iniciar. Caberá a ambos motivar suas redes de relacionamento para que elas agreguem mais pessoas, formando uma grande onda de apoio financeiro pela equidade racial. Em paralelo, o Baobá coloca nas redes sociais sua primeira campanha com propagandas motivacionais sobre equidade racial, batizada de Equidade Racial: Conhecer e Sensibilizar para Doar. 

General Mills é parceira do Baobá no edital Negros, Negócios e Alimentação

Região Metropolitana de Recife teve negócios na área de alimentação muito impactados. Edital surge para apoiar esses empreendedores e empreendedoras

Por Ingrid Ferreira 

A pandemia da Covid-19 trouxe muito mais do que uma crise sanitária, em 2020.   Na esteira dela, foi instalada uma crise financeira que abalou fortemente a população brasileira. Nano e pequenos(as)  empreendedores(as), em especial, presenciaram a forte queda em seus negócios e, nos piores casos, algumas e alguns enfrentaram a falência o que desestabilizou, além de suas famílias, as de seus colaboradores e colaboradoras.  Muito da cadeia econômica trabalha, neste momento, em busca da recuperação. 

Desde o início do período pandêmico, o Fundo Baobá para Equidade Racial  realizou cinco editais emergenciais visando  proporcionar um caminho de fortalecimento comunitário, reequilíbrio e reestruturação econômica. 

Em novembro, foi lançado o Edital Negros, Negócios e Alimentação, exclusivo para negócios localizados em Recife e em sua região metropolitana, do setor alimentação. As inscrições serão até 15 de dezembro. A instituição parceira do Fundo Baobá nesse edital é a General Mills, empresa do segmento alimentício. 

Em entrevista para o Fundo Baobá, a gerente sênior de Relações Externas da General Mills no Brasil, Patrícia Zebele, afirma que o edital foi  planejado considerando que o ramo alimentício está entre as dez áreas de maior presença no mercado entre as pessoas negras que empreendem. “Porém, com a crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19, muitos pontos de venda fixos foram impactados negativamente, em especial, negócios cujos donos eram mulheres.”

Patrícia Zebele, Gerente sênior de Relações Externas da General Mills no Brasil

A General Mills tem representações nos cinco continentes, com presença em mais de 100 países, sendo responsável pelas marcas Yoki, Kitano,  Häagen-Dazs e Mais Vita. Patrícia Zebele explica que desde novembro do ano passado, a General Mills assumiu publicamente o compromisso de ser um instrumento importante de mudança, reforçando um quarto pilar em suas prioridades sociais: “Avançar e promover iniciativas para equidade racial e, por meio de ações afirmativas, criar oportunidades para o surgimento de lideranças negras e mais geração de renda e empregos”.

Além disso, Patrícia conta que o projeto no Brasil é pioneiro: “Nos Estados Unidos, assumimos o compromisso de dobrar o número de negros ocupando cargos de gerência; os gastos com fornecedores negros ou que façam parte de minorias, além de aumentar em 25% a representatividade de minorias internamente”. 

O Edital Negros, Negócios e Alimentação é pioneiro, mas já apresenta ótimos sinais. Ele tem como intuito financiar doze empreendimentos que contarão com o apoio financeiro de R$ 30 mil, além de assessoria e suporte técnico. Os empreendimentos selecionados terão o prazo de nove meses para realizar as ações propostas.

Ainda no campo de atividades para promoção da equidade racial, a gerente sênior de Relações Externas da General Mills afirmou que a empresa está em processo de conscientização e promoveu durante o mês de novembro, dedicado à Consciência Negra, uma série de eventos internos, que tem o intuito de educar, sensibilizar e gerar reflexões sobre o combate ao racismo no ambiente de trabalho e em situações diversas do dia a dia.

Patrícia também fala a respeito da parceria com o Fundo Baobá. “Acreditamos que ter parceiros que tenham conhecimento legítimo da causa, como é o caso do Fundo Baobá para Equidade Racial, primeiro e único fundo dedicado exclusivamente à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, é fundamental e faz toda a diferença, desde o desenho do projeto até a execução. Com essa parceria, temos certeza de que estamos sendo orientados para atingir os resultados esperados para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social que o nosso país tanto precisa.” 

Para Patrícia Zebele,  o Edital Negros, Negócios e Alimentação é um projeto que atende todas as expectativas da General Mills, levando em consideração as suas atuais propostas de impacto social, e mesmo ele sendo realizado exclusivamente na Região Metropolitana de Recife, a expectativa é,  futuramente,  expandir o programa para outras localidades do Brasil. 

Fundo Baobá na impresa em outubro

Os editais organizados pelo Fundo Baobá para Equidade Racial foram destaques na imprensa no mês de outubro

Por Ingrid Ferreira

O Programa Já É: Educação e Equidade Racial, lançado em julho de 2020 tem o intuito de apoiar jovens negros, residentes em bairros periféricos de São Paulo e outros municípios da região metropolitana, a acessarem o ensino de nível superior, foi matéria especial na edição impressa do Estadão, no dia 19 de outubro. A reportagem Bolsas ajudam jovens negros a entrar e – a permanecer – na universidade, entrevistou a jovem apoiada Anna Beatriz Garcia, 19 anos, e a diretora de programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes. Moradora da região de São Miguel Paulista, Anna Beatriz mostrou-se  muito grata à oportunidade dada pela organização através do Programa Já É. A jovem ressaltou que: “A experiência tem ajudado muito a continuar estudando nesse momento caótico da pandemia.”

Anna Beatriz Garcia, aluna apoiada do Programa Já É  | Foto: Taba Benedicto / Estadão

Em sua fala, Fernanda Lopes reiterou a importância das atividades propostas pelo Programa Já É, que além de custear a mensalidade do curso pré-vestibular, alimentação e transporte, conta com  mentorias, coach e apoio psicossocial para enfrentar os efeitos do racismo: “As estratégias para superar alguns desafios também podem ser coletivas”. A reportagem também foi compartilhada no site da Revista Istoé e também nos portais Dom Total, Fundacred e Jornal de Brasília.

Outro edital que ganhou destaque na imprensa foi o Vidas Negras: Dignidade e Justiça, que teve a sua lista final das iniciativas selecionadas divulgada no mês de setembro, mas que ainda segue reverberando e gerando matérias, como foi o caso do portal A Serviço do Bem, que divulgou os selecionados. Por outro lado, a reta final das inscrições do Edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça foi destaque no portal da Agência Brasil, repercutindo em mais de 20 veículos regionais, entre eles: BH de Fato (MG), Repórter Maceió (AL), Norte Play (Região Norte), 3 de Julho (AC), Portal Mato Grosso (MT), Midia News (MS), entre outros.

O Edital Quilombolas em Defesa também foi destaque no site da Revista Raça e nos portais do Gife, ABCR, Filantropia, Pernambuco Transparente e Observatório do Terceiro Setor.

Apoiados do Fundo Baobá

No campo das iniciativas apoiadas pelo Fundo Baobá que ganharam destaques na imprensa no mês de outubro, temos o lançamento do livro “Voz Imune: 18 anos em movimento”, que narra os 18 anos de trajetória do Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune), grupo apoiado no Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. A divulgação do lançamento de “Voz Imune” foi destaque no portal RD News, do Mato Grosso.

Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune) | Foto: Divulgação

Ainda sobre as apoiadas do Programa Marielle Franco, a mestre em Psicologia Social, coordenadora da Rede de Atenção às Pessoas em Situação de Violência Doméstica e Sexual de Suzano (SP) e ganhadora do Prêmio Viva, promovido na parceria entre o Instituto Avon e a Revista Marie Claire, Magna Barboza Damaceno, escreveu um artigo na Folha de S.Paulo intitulado O cenário caótico x saúde mental = potência na resistência.

Enquanto a doutora em História, professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e escritora Giovana Xavier escreveu um artigo sobre a compositora e musicista Chiquinha Gonzaga, com o título “Escrevendo na Lua Branca: Mulheres na Primeira República”, que foi publicado no portal do Itaú Cultural e replicado no site da Prefeitura de Curitiba.

Coletiva Negras que movem

Enquanto isso, a tradicional coluna Coletiva Negras que Movem,  publicada no portal do Instituto Geledés da Mulher Negra, com as lideranças apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, trouxe o texto O sonho cresceu! Livro “Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho” chega a sua segunda edição, de autoria da escritora, jornalista e finalista do Prêmio Jabuti 2020, Jaqueline Fraga.

A assistente social e especialista em gestão pública, Brígida Rocha dos Santos, escreveu o artigo É de nós para Nós.

Por fim, a psicóloga doutoranda e mestre em Psicologia, gestora de Políticas Públicas de Juventude, Gênero e Raça e integrante da atual gestão do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), Larissa Amorim Borges, escreveu o texto O que pode acontecer com a chegada de pessoas negras, periféricas, não heterossexuais nas universidades? O que a presença negra e favelada gera ou pode gerar na universidade?

Giovanni Harvey, presidente do Conselho do Fundo Baobá, participa do Fórum Brasil Diverso

 

Harvey falou do papel da organização no enfrentamento à Covid-19

Por Ingrid Ferreira

Na quinta-feira (18), ocorreu o segundo dia do evento “Fórum Brasil Diverso”. Em seu sétimo ano, o Fórum discutiu  assuntos como: Estudos e impactos da pandemia em pessoas negras; Acordos coletivos e inclusão social no mundo do trabalho; Investimento público e privado na inclusão social,  finalizando com uma entrevista especial de encerramento. 

O Brasil Diverso contou com as participações de nomes relevantes para as causas abordadas, entre eles: Alexis Mootoo (vice-presidente assistente para Gestão de Recursos e Desenvolvimento Comunitário da Universidade do Sul da Flórida – USF); José Vicente (reitor da Universidade Zumbi dos Palmares); Paulo Batista (CEO do Alicerce Educação); Douglas Izo (presidente da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo – CUT-SP); Ricardo Patah (presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT); Thais Dumét Faria (oficial técnica em Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da Organização Internacional do Trabalho – OIT), além da participação do presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial, Giovanni Harvey. 

Harvey integrou a mesa “Investimento público e privado na inclusão social”, que também teve a participação da Assessora Sênior da Divisão de Gênero e Diversidade do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Judith Morrison e da fundadora e CEO da DIMA Consult Luana Ozemela.

Em sua fala inicial, Giovanni Harvey citou como foi o surgimento da organização, a sua parceria com a Fundação Kellogg e o quanto já foi investido financeiramente no país: “O Fundo Baobá é a primeira iniciativa voltada especificamente para alavancar outras iniciativas lideradas por pessoas e por organizações negras, em enfrentamento à discriminação étnico racial no Brasil. Essa iniciativa foi viabilizada a partir do apoio da Fundação Kellogg, uma importante instituição filantrópica e com uma atuação ao longo de décadas aqui no nosso país. A Kellogg encerrou operações e decidiu deixar como legado um mecanismo que pudesse preencher a lacuna caracterizada pela ausência de investimento institucional para a organização do movimento negro. A partir,  então, desse impulsionamento, constituiu o mecanismo que se tornou o Fundo Baobá que, ao longo desses dez anos, doou  R$14 milhões através de editais para iniciativas lideradas por pessoas e organizações negras.”

Ao ser questionado sobre como o Fundo Baobá tem trabalhado no enfrentamento à pandemia da Covid-19 e quais são os planos para o próximo ano, Giovanni Harvey falou da atuação da organização no combate à pandemia, além de apresentar o plano de desenvolvimento de dez anos do Fundo Baobá.  “Durante a Pandemia,  que, de fato impactou a nossa operação, o Fundo Baobá,  por cerca de 20 dias no mês de abril, mobilizou recursos, um pouco menos de R$ 1 milhão, para uma ação emergencial de enfrentamento aos riscos de contaminação por Covid. Nós atendemos pessoas e organizações, aproximadamente 135 organizações e um pouco mais de 200 iniciativas feitas por pessoas, numa época em que não havia ainda nenhuma política pública estruturada.”

O presidente do Conselho Deliberativo do Baobá também disse  que a pandemia não afetou os planos futuros da organização, tanto que citou que a meta do Fundo é chegar aos R$ 250 milhões em recursos para o fundo patrimonial, para que haja uma incidência, ainda maior, nas causas que o Baobá dedica-se a atuar. Além de destacar que vê a ação filantrópica das empresas para o combate ao racismo de forma muito positiva e que a sociedade civil e a iniciativa privada têm ocupado um lugar muito importante nesse momento.

Em suas palavras finais, Giovanni Harvey citou  a participação de pessoas brancas no evento Fórum Brasil Diverso, disse que ficou impressionado com suas falas, mas também ressaltou a importância do exercício do indivíduo de acordo com a estrutura racial da construção da sociedade. 

Para acompanhar a participação do Giovanni Harvey no Brasil Diverso na íntegra, basta acessar o link

 

Fundo Baobá, em parceria com a General Mills, lança edital de alimentação na Região Metropolitana de Recife

Fundo Baobá, em parceria com a General Mills, lança edital de apoio a empreendedores(as) negros(as) do ramo da alimentação na Região Metropolitana do Recife


Para as pessoas negras que empreendem, o ramo alimentício está entre as 10 áreas de maior presença no mercado. Entretanto, com a crise econômica agravada pela pandemia do COVID-19, muitos pontos de venda fixos foram impactados negativamente, em especial, os negócios cujos donos eram mulheres.

Pensando em contribuir na recuperação econômica desses negócios e promover aos empreendedores e empreendedoras negros(as) a ampliação de suas capacidades de planejar, fazer gestão, inovar, ampliar ou estabelecer uma infraestrutura mínima para sustentabilidade do seu negócio, o Fundo Baobá para Equidade Racial, com o apoio da General Mills, empresa global de alimentos dona de marcas como Yoki, Kitano e Häagen-Dazs no país, promove o edital Negros, Negócios e Alimentação, uma iniciativa que vai apoiar 12 (doze) empreendimentos negros do ramo da alimentação de consumo imediato, formalmente instalados há 2 anos ou mais na Região Metropolitana de Recife. O edital contempla microempresas, microempresas individuais e empresas de pequeno porte.

As(os) empreendedores(as)  selecionadas(os) receberão um aporte financeiro de R$ 30.000 (trinta mil reais), além de assessoria e suporte técnico, e terão 09 (nove) meses para executar os seus projetos  e apresentar a prestação de contas final.

Serão priorizadas propostas que envolvam negócios negros situados em Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Cabo de Santo Agostinho e Camaragibe, dado que essas cidades concentram 90% dos negócios deste setor. Também serão propostas apresentadas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedores(as) negros(as) que nunca foram apoiadas(os) pelo Fundo Baobá para Equidade Racial.

O objetivo da General Mills no apoio ao projeto é criar condições para que os empreendedores escolhidos conheçam a fundo os seus negócios e as suas capacidades a fim de gerar um impacto positivo em toda a comunidade, a partir da expansão dos seus empreendimentos e para que sejam, num futuro próximo, geradores de novos empregos por meio da ampliação dos serviços, aumento das vendas e crescimento de antigas e novas relações de negócios. Além disso, com a iniciativa, a empresa tem o intuito de fortalecer e ampliar a sua jornada de diversidade e inclusão étnico-racial no Brasil. 

Inscrições

As inscrições para o edital Negros, Negócios e Alimentação estarão disponíveis a partir do dia 18 de novembro e vão até 15 de dezembro. As(os)  interessadas devem preencher  um formulário eletrônico disponível exclusivamente neste link.  

Vale lembrar que o processo de seleção contará com três etapas eliminatórias. O resultado final será divulgado no dia 18 de fevereiro de 2022, no site oficial do Fundo Baobá.

Para entender melhor os critérios de elegibilidade do programa, basta acessar o edital através deste link. 

Realizadores

Criado em 2011, o Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Orientado pelos princípios de ética, transparência e gestão, mobiliza recursos financeiros e humanos, dentro e fora do país, e investe em iniciativas da sociedade civil negra para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social.

A General Mills é uma empresa líder global em alimentos e trabalha “fazendo os alimentos que o mundo ama”. Com sede em Minneapolis, Minnesota, EUA, a companhia chegou ao Brasil em 1997. Em novembro de 2020, assumiu publicamente o compromisso de ser um instrumento importante de mudança promovendo iniciativas práticas para equidade racial. Ao reconhecer que o racismo deixa marcas todos os dias em diversas sociedades, há séculos, a empresa se mobiliza e busca contribuir para os avanços em políticas de inclusão e, sobretudo, de preservação da vida de pessoas negras.

Serviço

O quê? Lançamento do edital Negros, Negócios e Alimentação

Período: 18 de novembro a 15 de dezembro

CLIQUE AQUI PARA SE INSCREVER

Público-alvo: empreendedoras(es) negras(os) da área de alimentação de pronto consumo da região metropolitana do recife com registro formal até 2019.

Fundo Baobá reúne equipe para planejar 2022

 Encontro marcou  primeiro olho no olho entre colaboradoras e colaboradores desde o início da Pandemia 

Por Wagner Prado

O Fundo Baobá para Equidade Racial reuniu  seus times de Programas e Projetos, Administrativo-Financeiro, Comunicação (Branding/Marketing/Criação, Imprensa e Divulgação) e Captação para estabelecer um plano de trabalho e metas para o ano de 2022. A ideia foi levar a equipe a realizar exercícios de criação sobre cenários e soluções para superar um de seus principais  desafios: motivar mais pessoas físicas e jurídicas a doarem em prol da busca pela equidade racial no Brasil. 

Os times do Fundo Baobá foram reunidos entre  os dias 1 e 6 de novembro no Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas), localizado na cidade de Nazaré Paulista, interior de São Paulo. A cidade bucólica também abriga a Represa de Nazaré, considerado um dos locais mais bonitos do interior do estado. Esses detalhes contribuíram para que as criatividades estivessem afloradas, o que motivou ainda mais a jornada de trabalho.

Um fato importante marcou os dias do time Baobá em Nazaré Paulista. Muitos(as) das e dos colaboradores(as) não se conheciam pessoalmente. Por conta da Covid-19, o Baobá vem trabalhando no sistema de home-office desde a decretação da pandemia, em março de 2020, portanto há um ano e oito meses. Quem se juntou à equipe nesse período só havia tido contato virtual com as e os colegas. O contato físico, seguindo protocolos e  determinações de cuidado com a saúde, foi alcançado durante o encontro.    

Equipe do Fundo Baobá

Ao longo da semana, os times foram integrados e levados a rodas de conversa. Na sexta-feira (5), porém, todos trabalharam em conjunto. Duplas e trios de criação foram montados, juntando pessoas de diferentes áreas. Vários cenários foram levantados e cabia às equipes levantarem soluções práticas que possam ser implementadas em 2022. 

O encontro do Fundo Baobá foi encerrado no sábado (6) com uma confraternização iniciada com um passeio de barco pela Represa de Nazaré Paulista, algo apreciado por todas as pessoas envolvidas devido ao dia maravilhoso naquela região. Após o passeio de barco, um churrasco foi servido. Agora é transformar em ações tudo o que foi pensado para que as metas sejam alcançadas. 

Frases: 

“Eu me senti livre, segura e em família. Afinal,  morar em SP tendo poucas pessoas pretas ao lado não é muito confortável.”
Mariana Brito (Captação)

“O encontro foi uma oportunidade de aprendizado, reflexão e conexão com meus pares e com o Baobá. Foi fundamental para construirmos uma atuação em equipe cada vez mais sólida e em sintonia.”
Tainá Medeiros (Programa)

“O Encontro Baobá foi um momento muito importante de escuta, acolhimento, afeto, aprendizagem e intelecção de como todos que estiveram presentes estão comprometidos com a missão do Fundo Baobá.”
Mara Pereira (Programa)  

“O encontro foi a junção do fortalecimento das relações e interações em equipe com o compartilhamento mútuo do que queremos em termos de ações futuras e permanentes para o Fundo Baobá.”
Marcos Rodrigues (Projetos)

“Estar junto a pessoas que trabalham com o mesmo objetivo é sempre mágico. Saí do encontro ainda mais apaixonado pelo propósito que nos une e com a certeza de que grandes feitos ainda estão por vir.”
Douglas Baster (Marketing)

“Foi uma oportunidade incrível de nos conhecermos pessoalmente, depois de um ano e sete meses de trabalho remoto, e também de integrar os nossos setores e as nossas ações em conjunto para o fortalecimento da principal premissa do Fundo Baobá, que é a promoção da equidade racial.”
Vinicius Vieira (Imprensa)

“O retiro de planejamento trouxe a certeza de que estamos todas, todos e todes em sintonia.  Comprometid@s com a missão e valores da instituição. Dispost@s a trabalhar para/com o coletivo.”
Fernanda Lopes (Diretora de Programa)

“Encontrar, planejar em equipe e celebrar. Este foi o tom do nosso encontro presencial de planejamento e, para mim, esses verbos foram ressignificados durante o contexto da pandemia. Portanto, foi ainda mais incrível poder encontrar todo time presencialmente, planejar nossos próximos passos e celebrar as conquistas e aprendizagens acumulados em 10 anos de história da nossa organização. Saio revigorada e segura de que estamos conectados e comprometidos com as transformações que o Fundo Baobá apresenta para toda sociedade.”
Selma Moreira (Diretora Executiva)

Confira a lista de organizações selecionadas para a segunda fase do edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça

O Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), lançou no dia 23 de setembro o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça. Com o objetivo de apoiar iniciativas de organizações quilombolas para promover a sustentabilidade econômica e geração de renda; a soberania e a segurança alimentar, e a defesa dos direitos quilombolas’, o edital recebeu 145 inscrições em menos de um mês.

Cada organização inscrita deveria apresentar apenas uma proposta que versasse sobre um dos eixos temáticos propostos:

1 – Recuperação e sustentabilidade econômica nas comunidades quilombolas;

2 – Promoção da soberania e segurança alimentar nas comunidades quilombolas;

3 – Resiliência comunitária e defesa dos direitos quilombolas.

Das 145 inscrições recebidas, foram selecionadas 116 iniciativas para a etapa 2. As organizações cujos projetos serão analisados por especialistas são compostas, sem exceção, por membres e diretoria que se autodeclara quilombola e negra. A maioria foi constituída há 6 anos ou mais, nunca teve apoio do Fundo Baobá e estão distribuídas nas seguintes regiões:

71 Nordeste
29 Sudeste
11 Sul
4 Centro-Oeste
1 Norte  

Em relação aos eixos temáticos propostos pelo edital, foram selecionados da seguinte forma:

Eixo 1 – 61 propostas
Eixo 2 – 33 propostas
Eixo 3 – 22 propostas

Na próxima etapa, as propostas selecionadas serão avaliadas por especialistas, com base nos critérios de relevância; coerência; consistência e sustentabilidade.

A pontuação máxima a ser atingida nesta etapa será 50 pontos. Serão eliminadas as propostas que atingirem 25 pontos ou menos. Será de responsabilidade dos especialistas recomendar para o comitê selecionador até 70 propostas.

O resultado desta etapa do processo seletivo será publicado no site do Fundo Baobá no dia 03 de dezembro, após as 19h.  

Agora acesse o link que leva à lista das organizações selecionadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça.

Editais marcam uma década de trajetória do Fundo Baobá (Parte I)

Por Vinícius Vieira

No mês de outubro de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial celebra 10 anos de atuação. As primeiras sementes da organização foram plantadas no ano de 2006, pelo movimento negro nordestino, aliadas e aliados em diálogo com a Fundação Kellogg. 

Mas foi em 2011 que o Fundo Baobá foi criado formalmente. Com um ambicioso modelo, que inclui um fundo patrimonial, demonstrando ser essencial desenvolver formas de funcionamento específicas para gestão e estratégias de autogestão.

Inicialmente o Fundo Baobá assumiu o compromisso de apoiar iniciativas de curta duração que tenham fins coletivos dentro da temática da promoção da equidade racial. Essa ação também é conhecida como apoio pontual. O primeiro apoio pontual realizado pela organização aconteceu no ano de 2012, por meio da 6ª edição do Prêmio “Educar para a Igualdade Racial”.

Após uma série de apoios pontuais, em 2014 o Fundo Baobá lançou o seu primeiro edital:  1ª Chamada para projetos de Organizações Afro-Brasileiras da Sociedade Civil teve como objetivo apoiar, por 12 meses, 22 organizações pequenas e médias da sociedade civil afro-brasileira de todo o país na implementação de projetos para a promoção da equidade racial. 

Desde então, ao longo de uma década de história, os números confirmam a atuação da organização na promoção da equidade racial no país, através de eixos programáticos em áreas priorizadas para doação, como viver com dignidade, educação, desenvolvimento econômico, comunicação e memória.  

Foram ao todo:

14 milhões investidos
21 parcerias conquistadas
16 editais realizados
553 iniciativas individuais apoiadas
279 organizações apoiadas

Como forma de celebrar os 10 anos de atuação do Fundo Baobá, vamos relembrar alguns editais e ouvir histórias de pessoas e organizações que receberam o apoio da entidade, no passado recente.

A Cidade que Queremos

Lançado no dia 9 de maio de 2018, o edital A Cidade que Queremos, teve a parceria da Fundação OAK e era voltado para grupos e organizações Pró Equidade Racial com projetos que visavam fomentar e desenvolver cidades mais inclusivas e justas para todes.

O edital foi exclusivo para as regiões metropolitanas do Nordeste brasileiro, incluindo os nove estados da região. Foram selecionadas 10 organizações que receberam um aporte financeiro, totalizando R$ 450 mil de investimento.

Entre os selecionados estava a “Associação Artística Nóis de Teatro”, de Fortaleza (CE), que foi apoiada com o projeto “Periferias Insurgentes”. O grupo realizou diversos eventos artísticos, entre eles noites culturais, saraus e seminários, que reuniram vozes que compõem as resistências das periferias de Fortaleza, construindo paralelo com o trabalho da associação. Desses encontros, surgiu a peça Ainda Vivas, com três horas de duração.

Para o ator, diretor, produtor e coordenador do Nóis de Teatro, Altemar Di Monteiro, o suporte do Fundo Baobá tem sido fundamental, até hoje, para as ações do grupo na periferia de Fortaleza, considerando que este apoio foi realizado em três oportunidades distintas: “Em uma delas fizemos a circulação do espetáculo Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro pelas periferias de Fortaleza, contribuindo para o debate sobre o extermínio da juventude negra e a militarização da nossa polícia e da nossa política”. Na sequência veio Ainda Vivas, segundo Altemar, inspirado nesse giro pela periferia da capital: “Circular pelas diversas favelas de Fortaleza foi importante para que pudéssemos compreender o grande número de jovens e práticas culturais que pulsam nas periferias e sua forte contribuição para desativar o pensamento militarizado que habita a cidade. São saraus, rolezinhos, movimentos do passinho, do reggae, do teatro que inventam outras cidades, outras periferias. A partir da grande força dessa juventude foi que o espetáculo ‘Ainda Vivas’ nasceu”.

Nóis de Teatro, grupo da periferia de Fortaleza (CE)

Para Altemar, receber o apoio do Fundo Baobá para a realização do espetáculo foi muito importante porque contribuiu para a continuidade das ações do grupo e do fortalecimento de práticas antirracistas na cidade: “Num contexto de escassez de políticas públicas da cultura, além de contribuir para a manutenção de um grupo de teatro que resiste há 20 anos na periferia, o Baobá reafirma a cultura como um valor de desenvolvimento social e humano, a arte como direito de todos e todas”.

Com a chegada da pandemia da Covid-19, o grupo recebeu o terceiro aporte financeiro e deu continuidade ao espetáculo Ainda Vivas, mas dessa vez no formato virtual. Para Altemar, esse processo contribuiu para o fortalecimento do elo com o movimento de saraus da periferia, além da valorização da cultura diante do contexto de isolamento social: “Destaco a importância da arte e da cultura na luta antirracista no momento que vivemos. Acredito fortemente que é pelo sensível, pela articulação de outros saberes e práticas que poderemos construir um outro mundo. E sobre isso, me parece que o Fundo Baobá tem entendido bem”, finaliza.

Editais voltados para o desenvolvimento e fortalecimento de mulheres negras

O fortalecimento das mulheres negras sempre foi uma pauta trabalhada no Fundo Baobá. Em duas oportunidades, a organização lançou editais voltados para o público feminino negro: Empodera, lançado em 2016 em parceria com o Instituto Lojas Renner e ONU Mulheres, apoiou 15 empreendimentos de mulheres negras cujos negócios estivessem vinculados à cadeia produtiva do setor têxtil e de moda. Enquanto o edital Negras Potências, lançado em 2018, em parceria com Instituto Coca-Cola Brasil, Movimento Coletivo e Benfeitoria, apoiou 16 iniciativas de impacto para o empoderamento de meninas e mulheres negras, focados na redução das desigualdades raciais e sociais.

Mas foi no dia 2 de setembro de 2019 que o Fundo Baobá lançou o seu edital mais ousado, o primeiro do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, que contou com a parceria com a Fundação Kellogg, Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. Concebido  para acontecer ao longo de cinco anos, incluindo 2 editais de apoio individual e 2 editais de apoio a organizações, grupos e coletivos, a principal premissa do Programa é que as mulheres negras apoiadas tenham mais subsídios para acessar espaços de poder e tomada de decisão, atuar contra o racismo e em defesa da justiça, equidade social e racial e transformar o mundo a partir de suas experiências.

Em 53 dias de inscrições abertas foram recebidas 314 candidaturas individuais e 86 coletivas de mais de 20 estados do país e do Distrito Federal. No dia 10 de dezembro de 2019 foram anunciadas as 63 lideranças e 15 organizações selecionadas pelo edital. Entre elas estava a produtora musical, Andressa Ferreira, do Rio Grande do Sul, que foi selecionada com o projeto Mulheres Negras e Tecnologia – Produção Musical Enegrecida: “Este período em que tive o apoio do Fundo Baobá, através do Programa Marielle Franco, foi de muito crescimento e de muita colheita. Esse apoio me ajudou a passar pela pandemia,  conseguindo enxergar novos horizontes e possibilidades”, afirma.

Andressa Ferreira, produtora musical

O projeto de Andressa foi fundamentado diante da baixa representação feminina (cis/trans), negra e indígena no campo da produção musical, sua principal área de atuação: “A possibilidade de acessar os conhecimentos em relação a áudio e tecnologia é algo que atualmente está mais acessível, porém ainda existem vários desafios que enfrentamos diariamente para poder ocupar esse espaço que é majoritariamente branco e masculino”, descreveu Andressa Ferreira no relatório final do Programa Marielle Franco.

Com o apoio fornecido pelo edital, Andressa Ferreira fez um curso de produção musical, iniciou os estudos de inglês, comprou equipamentos para produção de áudio, como computador, microfones, interface de áudio, cabos, entre outros, esteve à frente da “Oficina Online Mulheres Afro-amerindias: Áudio e Tecnologia”, voltada para mulheres negras e indígenas (cis/trans), além de ter trabalhado na produção musical do disco Força e Fé, do grupo Imani, formado por quatro mulheres negras de Florianópolis e ter feito também a mentoria musical no projeto AMPLIA+, no qual envolvia a produção de showcases de quatro artistas LGBTQIAP+ de Porto Alegre.

Com todas essas atividades realizadas, Andressa ressalta a importância de participar também das formações políticas junto com as outras lideranças apoiadas: “Esses encontros foram de extrema importância para que eu alcançasse meu objetivo e conseguisse realizar meu Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) com sucesso, além de fortalecer a minha caminhada profissional e pessoal”. 

Andressa Ferreira afirma que o Programa Marielle Franco cumpre o seu papel de fortalecer lideranças femininas negras em espaços de tomadas de decisões: “Termino esse ciclo estando cada vez mais atenta às questões raciais e de gênero. Mais conectada e consciente do legado que carrego, muito agradecida a todas as mulheres negras que abriram os caminhos para que hoje, eu e todas as mulheres contempladas por esse edital,  pudéssemos estar aqui construindo o nosso futuro e potencializando não só a nossa trajetória como as das próximas gerações”.

Hoje, Andressa integra uma equipe preta de uma agência de publicidade de São Paulo, sendo contratada como freelancer para realizar a produção musical de vídeos publicitários. Sendo assim, ela demonstra gratidão ao trabalho do Fundo Baobá na promoção da Equidade Racial: “Agradeço imensamente a organização e friso a importância das ações realizadas por esse Fundo, que realiza mudanças efetivas na nossa sociedade, conseguindo fomentar projetos que contribuem de fato na construção de uma sociedade mais equânime”.

Já É: Educação e Equidade Racial

A educação é uma das áreas priorizadas para receber investimentos do Fundo Baobá.

No ano de 2014, a organização, em parceria com o Instituto Unibanco, com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e com a colaboração técnica do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), lançou o edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra, com o objetivo de promover a implementação de práticas de gestão escolar voltadas para a elevação de indicadores como acesso, conclusão, frequência e rendimento escolar. O edital, voltado para escolas públicas de Ensino Médio, recebeu a inscrição de 124 projetos de todas as regiões do Brasil. Destes, foram selecionadas 10 iniciativas. No ano de 2016, houve a segunda edição do edital, que recebeu 184 propostas e no final contemplou mais 10 projetos de sete estados do país.

Porém, foi com a premissa de apoiar a entrada de jovens negros no ensino superior que, no dia 10 de julho de 2020, o Fundo Baobá lançou o Programa Já É: Educação e Equidade Racial.  Ele conta com apoio do Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology. Além de custear um curso pré-vestibular, as despesas comtransporte e alimentação para jovens negros da cidade de São Paulo e Região Metropolitana, o edital prevê também atividades voltadas para o enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo e para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais, bem como mentoria com profissionais de diferentes formações acadêmicas e vivências.

Em um mês, o programa recebeu 245 inscrições, desse número foram selecionados 84 jovens de 12 municípios da região metropolitana. Entre eles, estava Isaque Rodrigues, de São Paulo, que soube da sua aprovação no programa faltando dois dias para seu aniversário de 22 anos: “Quando recebi o e-mail de aprovação para participar do Programa Já É, eu percebi que uma grande oportunidade tinha surgido para mim, oportunidade essa de escrever uma nova história e ter um novo começo”.

Isaque Rodrigues, aluno apoiado

Hoje, aluno do curso pré-vestibular, Isaque afirma que a bolsa de estudos tem sido de grande valia, considerando que a cada dia se aprende algo diferente: “São conteúdos que de fato irão me auxiliar a tirar boas notas em provas e nas atividades que eu irei fazer um dia”. Porém, ele faz questão de dizer que o que mais tem agregado valor são as interações com a equipe do próprio Fundo Baobá: “A Tainá Medeiros [assistente de projetos] é muito proativa e sempre se prontificou a nos auxiliar em qualquer coisa, e a Fernanda Lopes [diretora de programa] me proporcionou uma nova visão, que me fez entender que o nosso lugar de protagonistas neste mundo existe e precisamos ocupá-lo”.

Isaque reforça também a importância das mentorias realizadas e o quanto isso é inspirador em sua vida: “Hoje me sinto inspirado, motivado a fazer a diferença, a ajudar os meus e todos os que estão ao meu redor. Meus olhos brilham cada vez que lembro que olharam para mim e perceberam um potencial de ir além do que eu imaginava ir. Posso dizer que encontrei a minha identidade e hoje tenho orgulho de contar a minha história de vida e de superação”.

Com planos de cursar Publicidade e Propaganda, Isaque Rodrigues é muito grato ao Programa Já É: “Eu vejo que esse edital tem em sua essência transformar a vida de pessoas, que como eu sofrem pela desigualdade, sofrem por serem julgadas pela sua cor, não enxergando a nossa grandeza. É justamente isso que nossa juventude precisa entender: somos grandiosos e só conseguimos derrubar as barreiras juntos”, finaliza.

Editais marcam uma década de trajetória do Fundo Baobá (Parte II)

 Por Wagner Prado

Ao longo dos seus 10 anos de atuação no campo da filantropia, completados neste 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial tem procurado o protagonismo no que se refere ao trabalho pela busca de uma sociedade equânime no Brasil, onde a equidade racial esteja presente e as oportunidades estejam, o mínimo, em equilíbrio para todos. Essa é a busca. E persegui-la requer muito esforço. A resiliência pede isso: esforço, adaptação e antevisão. O Fundo Baobá tem sido resiliente. No esforço de chegar e ouvir as vozes do campo. Na adaptação de seu modo de gestão.  Na antevisão das áreas prioritárias em que pode atuar e melhorar pessoas.

Foi no sentido de antever questões prioritárias que em abril de 2020, um mês após a decretação da Pandemia pela Organização Mundial da Saúde  (OMS), em 11 de março, que o Fundo Baobá lançou o edital Doações Emergenciais, em parceria com a Ford Foundation. Com uma dotação de R$ 870 mil, o edital foi destinado ao suporte a comunidades vulneráveis, mulheres, população negra, idosos, povos originários e comunidades tradicionais. O Doações Emergenciais recebeu 1.037 inscrições e teve 350 selecionados (215 indivíduos e 135 organizações). 

Uma das apoiadas foi Amanda Queiroz de Moraes, de Ananindeua, no estado do Pará. Ela faz parte da Associação Centro Social Estrela Dalva e ressalta a importância da iniciativa naquele momento. “A ajuda veio em um momento em que a comunidade estava, mais do que nunca, necessitando de apoio social, visto que estávamos em um período muito crítico da Pandemia”, afirmou. 

Amanda de Moraes, de Ananindeua, no estado do Pará

Cada organização ou indivíduo recebeu R$ 2,5 mil.  Amanda conta o que foi possível fazer com o recurso recebido. “No Centro Social Estrela Dalva nós atendemos crianças e mães adolescentes. Promovemos rodas de conversa sobre sexualidade e fazemos distribuição de gêneros alimentícios, material de higiene e limpeza e máscaras de proteção. Aquele foi um momento desafiador para nossa comunidade. Não é fácil se aproximar de adolescentes grávidas, sem nenhum tipo.de assistência, seja ela na área da saúde ou familiar”, disse. Apesar dos problemas, a experiência de Amanda Queiroz de Moraes foi única: “Apesar de toda dificuldade e desafios que nos foram postos, foi uma experiência que ficará marcada na história do Centro Estrela Dalva”, finalizou. 

Ainda dentro do contexto de quem estava sofrendo com os dissabores causados pela Pandemia do Coronavírus, temos os pequenos empreendedores que foram atingidos diretamente em seus negócios. Muitos fecharam de forma definitiva. Outros tantos tiveram que fechar temporariamente, o que fez cessar a entrada de recursos. O edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras foi lançado em novembro de 2020, para apoiar esses negócios e seus proprietários. 

Com apoio do Instituto Coca-Cola Brasil, Instituto Votorantim e Banco BV, o  Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras teve dotação de R$ 1,6 milhão, alcançou 700 inscrições e deu apoio a 47 iniciativas, cada uma composta por 03 empreendimentos. Como premissa do edital, os empreendimentos deviam ser constituídos por três associados, cabendo a cada um deles o valor de R$ 10 mil, perfazendo R$ 30 mil por iniciativa. Todas as pessoas empreendedoras receberam mentoria técnica para que pudessem atualizar processos e incrementar a gestão, com o objetivo de alcançar melhores resultados.  

Uma das iniciativas apoiadas pelo Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras foi a Casas Ecológicas e Sustentáveis, do Rio de Janeiro. O objetivo os associados é baixar o custo de construção de moradias populares com o uso de tijolos ecológicos. Porém, fato comum entre empreendedores, o fôlego inicial sempre é o mais difícil de se obter. Ronaldo Lemos, um dos três empreendedores da  Casas Ecológicas e Sustentáveis. “Nos buscávamos iniciar a nossa fabricação de tijolos ecológicos, mas o custo do maquinário era muito alto. Graças ao Fundo Baobá,  nós pudemos fazer a compra do maquinário e montar uma estrutura para a fabricação dos tijolos. Nosso maior objetivo é nos consolidarmos como um dos grandes fabricantes de tijolos ecológicos do Brasil.  Já fechamos com alguns parceiros e iniciamos a fabricação”, afirmou Ronaldo Lemos. “A equipe Casas Ecológicas e Sustentáveis é imensamente grata ao Fundo Baobá”, completou. 

Ronaldo Melo, Casas Ecológicas e Sustentáveis

Em maio de 2021. o Fundo Baobá para Equidade Racial e o Google.org, braço financeiro do Google para apoios filantrópicos, fecharam acordo para o lançamento do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. Acima de tudo, o Vidas Negras é uma oportunidade para a população negra brasileira reforçar planos de ativismo e resistência diante das injustiças advindas do racismo. O público foco foram organização que mantêm trabalhos voltados ao combate contra a violência sistêmica sobre o povo negro e injustiças criminais que ocorrem dentro do sistema jurídico do Brasil. 

O Google.org destinou R$ 1,2 milhão para a escolha de 12 organizações. Cada uma irá receber R$ 100 mil ao longo de 12 meses. As organizações apresentaram inciativas a serem desenvolvidas nas seguintes áreas:  a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. 

Um dos projetos selecionados dentro do eixo “Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes” foi o da Associação Elas Existem – Mulheres Encarceradas. A iniciativa foi inscrita pelo estado do Rio de Janeiro, mas está de mudança para o Acre, onde o projeto será desenvolvido. “O maior impacto do edital nesse momento,  em nossa organização,  é que estamos iniciando nossa segunda sede no local em que o racismo é predominante, assim como a ausência de discussões sobre direitos humanos e acesso a direitos. O Norte do país, fronteira com diversas nações, possui um alto índice de prisões por  tráfico de drogas,  sendo urgente questionar essas e outras situações que fazem com que o Brasil permaneça no ranking dos que mais encarceram mulheres”, afirmou Caroline Mendes Bispo. da Associação Elas Existem. Na semana em que conversamos com Caroline,  ela estava de mudança para Cruzeiro do Sul (AC), onde vai se estabelecer para coordenar as ações do projeto.

Caroline Bispo, Associação Elas Existem

A Associação Elas Existem vai utilizar a destinação que irá receber para promover as ações que já implementa nos estados do Rio de Janeiro e Mato Grosso. “A Associação atua buscando promover discussões sobre  a situação das pessoas privadas de liberdade e a melhoria das condições intramuros, além de incentivar o debate sobre as causas e consequência do encarceramento em massa, principalmente de mulheres (cis e trans), observando como o racismo opera na seletividade do sistema de justiça criminal de jovens negras. Desse modo, desde 2016 organizamos eventos em que arrecadamos doações de absorventes e demais materiais de higiene, que são entregues nas unidades prisionais, de acordo com a disponibilidade e necessidade de cada instituição. Fazemos também diversas campanhas virtuais para demonstrar que um rolo de papel higiênico faz muita diferença na vida de uma mulher.”, disse Caroline Mendes Bispo.

O trabalho da Associação Elas será intenso no Acre. Já estão listadas oito atividades fundamentais para projeto: Estudo sobre o efetivo carcerário;  Mapear e acompanhar normativas, ações e projetos de lei, além de outros instrumentos de políticas públicas; Elaborar e distribuir materiais educativo em ambiente carcerário intramuros e extramuros; Fazer o intercâmbio de conhecimento e aprendizado entre as equipes que atuam no estado do Rio e no estado do Acre;  Promover Rodas de Conversa sobre direitos e oficinas para o desenvolvimento de potencialidades (intramuros); Promover plantões de orientação sociojurídicas (intra e extramuros); Promover grupos de leitura e rodas de conversa (extramuros).    

 

 

10 Anos do Baobá: Selma Moreira e Fernanda Lopes projetam a próxima década

Por Wagner Prado

Duas mulheres com uma grande missão: ajudar a transformar. Ambas exercem isso para muito além dos cargos que ocupam, porque contribuir na transformação não é um trabalho, é uma missão. Selma Moreira é a diretora executiva. Fernanda Lopes, a diretora de programa. Ambas trabalham para o Fundo Baobá para Equidade Racial. Ambas se alternam na função de arco e flecha do primeiro fundo exclusivo para a promoção da  equidade racial para a população negra no Brasil. Arco e flecha porque têm a função de impulsionar e sair ao ataque certeiro na busca por recursos, pois sem eles as coisas não acontecem. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial está completando 10 anos. O que irá acontecer nos próximos dez está sendo plantado pela governança do Fundo e orquestrado por Selma e Fernanda, que estão à frente de uma equipe de 14 pessoas entre colaboradores diretos e indiretos. 

Os desafios têm sido muitos nesses 10 anos de busca pela consolidação do Baobá. A busca vai continuar pelos próximos anos. Os desafios não serão menores. Neste encontro com Selma Moreira e Fernanda Lopes temos a visão de ambas sobre os caminhos traçados para a gestão futura do Fundo Baobá, sua importância no trabalho de busca pela equidade racial e por uma sociedade igualitária no Brasil. 

Selma Moreira (diretora executiva) e Fernanda Lopes (diretora de programa)

Conte como você chegou ao Baobá ou como o Baobá chegou até você?  

Selma Moreira – Eu conheci o Fundo Baobá em função de uma conexão feita pelo Fábio Santiago, atual membro do Conselho Fiscal, no período do processo seletivo para a posição de diretora executiva, cargo que ocupo hoje na organização.

Fernanda Lopes – Cheguei ao Fundo Baobá como consultora. Em 2018 fui responsável pela elaboração do plano estratégico do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Em 2019,  após aprovação do plano estratégico do Programa e após avaliação do Conselho Deliberativo, recebi o convite, aceitei e passei a compor o time. 

 

Que desafios você enxergou à época? 

Selma Moreira – Prioritariamente,  desafios de gestão, com foco em governança interna e externa (pessoas) e administração de finanças. A consequência dos itens anteriores conectarem-se com o desenho de estratégia para constituição do endowment (recurso financeiro). 

Fernanda Lopes – Naquele momento tínhamos desafios de gestão relacionados ao aprimoramento dos processos, fluxos, instrumentos e mecanismos de monitoramento.  Precisávamos aprimorar nossa comunicação, reposicionar nossa marca e fazer do Baobá uma instituição conhecida e reconhecida,  no campo da filantropia por justiça social, como a única a atuar neste ecossistema exclusivamente para apoiar e ampliar oportunidades de desenvolvimento para organizações e lideranças negras. Era necessário reafirmar os editais como o mecanismo mais eficiente para ampliar oportunidades de apoio para organizações, grupos, coletivos e lideranças negras de todo o Brasil.  Também se apresentava como desafio produzir mais e melhores evidências e ampliar nosso diálogo com o campo para subsidiar nossas decisões acerca dos investimentos prioritários.

Esses desafios se concretizaram?

Selma Moreira – Sim. Governança: o Fundo Baobá é benchmarking (referência) no terceiro setor com um robusto corpo de governança. Temos Assembleia Geral, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal, Comitê de Investimentos, Comitê de Ética, Comitê Executivo e Diretora Executiva. Este desenho demonstra um conjunto de mecanismos de compliance (observância) para garantir pesos e contrapesos nas tomadas de decisão, de forma a zelar pelas melhores práticas de governança, cumprindo os princípios de transparência, equidade na  comunicação das informações, prestação de contas e responsabilidade institucional com todos os públicos de relacionamento

Fernanda Lopes –  Trata-se de um processo. E todas as vezes que superamos alguns desafios, passamos a enfrentar novos. Porque a filantropia responsiva se dá desta forma. É preciso muita atenção aos contextos para atuar de modo tempestivo e responsivo. Sempre há algum ponto a ser melhorado. Em 2019, tínhamos dois editais em fase de finalização, 23 projetos no total, todos implementados por organizações formais (com CNPJ). Iniciamos 2020 com 78 projetos sendo implementados por organizações e, pela primeira vez na história do Baobá, também por grupos, coletivos informais e ainda por indivíduos. 2020 foi um ano de muitos aprendizados. Foram seis editais lançados, mais de 470 projetos selecionados, a maioria iniciativas de ações coletivas executadas por indivíduos.  Adotamos o meio eletrônico para receber os projetos, iniciamos o processo de gestão de dados e produção de informações para subsidiar a tomada de decisões, fomos revisando os fluxos, definindo políticas, processos, procedimentos. Criamos diferentes espaços de diálogo com o campo e outros atores estratégicos e investimos em comunicação.  Eu diria que o mais importante ganho, até agora, foi tornar nítido que a forma de o Baobá atuar como grantmaker (concedente)  é diferenciada. A natureza do Baobá não permite ser visto, ou se ver, como um ator que capta e repassa recursos. Nosso modo de operar precisa deixar nítido que, para organizações e lideranças negras vivenciarem a transformação social justa, sustentável e sistêmica, os recursos financeiros e orçamentários são extremamente necessários, mas não são suficientes. É preciso desenvolver competências, habilidades, capacidades. 

Quais desafios ainda estão por se concretizar? 

Selma Moreira –  Expandir e aprofundar o diálogo com toda sociedade brasileira; programa de doação individual recorrente; aprimorar a  comunicação estratégica,  potente e diversa nas redes sociais e outras mídias;  encontro de organizações e lideranças apoiadas pelo Fundo Baobá no período dos últimos 10 anos; influência no setor nacional e internacional acerca do contexto de relações raciais no Brasil. 

Fernanda Lopes – Neste momento, outubro de 2021,  temos dois editais em fase de finalização, quatro editais em curso e dois para serem lançados. Os aprendizados estão sendo convertidos em medidas corretivas. Estamos avançando em análises de dados e produção de informações para evidenciar os valores agregados pelo Baobá no campo. Sabemos que a pandemia, apesar de toda a sua crueldade, gerou alguns efeitos positivos. Em um único edital, lideranças femininas negras apoiadas por 18 meses realizaram ações que alcançaram mais de meio milhão de pessoas. Isso é semeadura. Há muitos solos férteis e, com certeza, muitas sementes foram fertilizadas em todo o país, na zona rural ou urbana; nas periferias ou nos centros. Nas instituições públicas governamentais ou privadas; nas comunidades ou nas universidades. E, embora eu tenha dado um exemplo quantitativo, ele não é suficiente. Para fazer filantropia para justiça social, para promover equidade racial por meio de ações filantrópicas, é preciso ir além. Relatar esforços, narrar pequenas ou grandes mudanças, mobilizar e engajar mais pessoas e instituições. Estes seguem sendo desafios cotidianamente experimentados por nós.  

Como você avalia os caminhos percorridos pelo Baobá nestes 10 anos? 

Selma Moreira – O caminho é de fortalecimento, amadurecimento no diálogo com o campo das organizações e lideranças negras.  Aprimoramos os diálogos com representantes de organizações que investem em ações sociais via Fundações, Institutos e Empresas. Estamos promovendo editais em todo território nacional e esses editais são estratégicos. Investimos na formação de equipe interna e parceiros estratégicos para a operação.  Até o momento temos números bem interessantes, que comprovam nosso crescimento, abrangência e influência nesses 10 anos de atividades: R$ 14 milhões investidos; 21 parcerias conquistadas; 16 editais realizados; 553 iniciativas individuais apoiadas e 279 organizações apoiadas. 

 Fernanda Lopes – Cheguei há pouco no Baobá,  mas conheço a instituição e sua missão desde o início. Muitas das pessoas que participaram de sua criação foram de suma importância para minha formação como pessoa, militante e profissional. Estamos crescendo e nos consolidando. Estamos nos aproximando, a meu ver, daquilo que era a proposta inicial, quando ainda não estava definido o formato, o modo de operar e de ser governado.  Não se trata apenas de ampliar o volume captado, o volume investido no campo. Trata-se do modo como nos apresentamos e como somos vistos pela sociedade. O modo como operamos, a forma como escutamos, como realizamos nossos ajustes de rota, como compartilhamos nossos aprendizados, como influenciamos,  como transformamos e nos deixamos transformar. Tudo isso tem relação direta com os 10 anos de atuação do Baobá como grantmaker (concedente de apoios financeiros).

O grande gargalo para o Baobá é a captação de recursos?  

Selma Moreira – Captação para o endowment (fundo patrimonial) é um gargalo nacional e internacional. 

Fernanda Lopes – Os impactos do racismo são vivenciados em todas as dimensões do desenvolvimento – individual, social, econômico, político, cultural e ambiental. O Baobá se propõe a atuar como grantmaker (concedente),  apoiando iniciativas negras que respondam a todas estas dimensões.  A captação de recursos é a via para garantir que estes apoios ocorram. Contudo, sabemos que,  para que a ação filantrópica do Baobá seja sustentável, ela não pode ser apenas para ações programáticas. Precisamos captar para o endowment (fundo patrimonial). Os recursos captados para o endowment nos permitem autonomia de investimento, de acordo com necessidades e expectativas advindas do campo. Por exemplo, no auge da pandemia todos os recursos captados tinham destino certo. A liberdade oferecida,  tanto para organizações quanto para lideranças, em nosso primeiro edital de apoio emergencial no contexto da pandemia, só foi possível porque utilizamos recursos oriundos dos rendimentos do fundo patrimonial. Ou seja,  recursos próprios do Baobá. Com isso,  pudemos receber propostas com demandas por ações e insumos que melhor respondessem às necessidades e expectativas das bases. Não nos vimos motivados a indicar o que poderia constar ou o que priorizar. Era livre. As comunidades, as organizações, as lideranças decidiam o que e como fazer naquele momento. Ter recursos captados para o endowment, além de garantir autonomia nos investimentos programáticos  permite tempestividade e sustentabilidade em nossa ação de grantmaker (concedente).  

Financiadores do exterior têm uma visão mais apurada socialmente sobre o que venha a ser o trabalho de filantropia para equidade racial? 

Selma Moreira – A cultura de doação está mais consolidada no exterior (Estados Unidos e Europa), no que tange a diversos temas. Mas a equidade racial ainda é incipiente. De todo modo, há  mais abertura para construção de soluções perenes, assim como o endowment.

Fernanda Lopes – No Brasil, a negação do racismo e de seus efeitos nas condições de vida e saúde e nas oportunidades efetivamente disponíveis para as pessoas negras, em diferentes setores, impede o reconhecimento estratégico da filantropia para a equidade racial como instrumento para o alcance do desenvolvimento com equidade no país e para consolidação da democracia. No exterior, ainda que haja uma suposta maior abertura, as instituições e pessoas desconhecem as iniquidades raciais que existem no Brasil. Logo, há uma certa dificuldade em reconhecer a importância estratégica da filantropia para equidade racial entre aqueles que doam.    

Qual a grande satisfação em executar o trabalho feito pelo Fundo Baobá? 

Selma Moreira – O Fundo Baobá é uma organização essencial para promoção de uma sociedade mais justa e equânime. Fazer parte das estratégias de mudança e transformação, com as lentes e ações de liderança desta organização, é um desafio ímpar e uma alegria imensa em cada passo dado por um mundo melhor.

Fernanda Lopes – O Baobá é uma instituição que incide no ecossistema de filantropia para garantir que mais recursos, de diferentes fontes, sejam canalizados para o reconhecimento e o desenvolvimento da população negra como sujeito de direito e agente de sua própria história e destino. Uma instituição orientada pelas lentes da justiça racial, cuja missão e propósito estão voltados para promover mudanças estruturais, para intervir na raiz das desigualdades sociorraciais que é o racismo.  Mas para isso tudo é preciso inovar e aprimorar todos os dias, e aqui não falamos de tecnologia, falamos de sociologia, antropologia, política, relações institucionais, relações interpessoais.  Porque esta é a base para a mudança que vem do e para o coletivo. Isso é algo que, particularmente, me anima. É um lugar onde posso colocar à disposição tudo o que aprendi nos diferentes espaços por onde passei e, sobretudo, que me dá oportunidade de aprender, trocar, me revisitar, reorientar, reordenar, cocriar. Não deixa de ser um espaço de militância. Você pode ter uma bagagem técnica e muitas articulações, conexões, mas aqui só se dispõe a enfrentar toda sorte de desafios quem está disposto a defender a causa.

Formação de lideranças femininas, Primeira Infância, Recuperação Econômica, Direito à Cidade, Auxílio a Populações em Situação de Vulnerabilidade, Apoio à População Quilombola, Acesso a Cursos Superiores em Universidades Públicas, Dignidade e Justiça. Falta algum segmento em que o Baobá ainda não atuou com seus editais? 

Selma Moreira – Não consegui identificar. Mapeamos nossas estratégias a fim de sermos responsivos para todas as áreas de atuação da população negra. De todo modo, vale ressaltar que ainda há muito aprimoramento no que tange à construção de estratégias que permitam alianças estruturantes e mudanças sistêmicas na sociedade, envolvendo os diversos atores do sistema.

Fernanda Lopes – Cada área que priorizamos tem um leque de possibilidades. Ter diferentes editais não significa que estamos contemplando tudo o que pode estar contido dentro de uma área.  Por exemplo, investir em equidade racial na educação exige que atuemos na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e médio), no ensino superior, na pós-graduação e na formação de quadros. Tem iniciativas que podem focar a gestão, o corpo docente, o corpo discente; podem acontecer em unidades escolares, instituições de ensino, pesquisa e extensão  ou outros espaços onde as ações educativas ocorrem.  Se focamos na comunicação podemos pensar na mídia negra, na educomunicação, no fortalecimento da pauta e ampliação da participação de profissionais negros nos veículos tradicionais e nas mídias independentes nao negras. Naquilo que se faz em diferentes plataformas e formatos.  Arte e Cultura é um nicho no qual ainda não conseguimos  investir e sabemos que a representação social do negro e o imaginário coletivo se transformam por meio do estímulo ao conjunto de sentidos, tão bem explorado por pessoas, organizações, grupos e coletivos que atuam nessa área e também navegam pela comunicação, arte e cultura, as mais eficientes estratégias de buscar o que, por ventura, pode-se ter esquecido. A memória que nos orienta a ver o hoje, construir um futuro diferente, pautado pelas conquistas, pelos erros e acertos do passado. Isto sem contar a ciência e a tecnologia.  Enfim, temos muito a fomentar. E o campo cada dia tem deixado isso mais nítido. A transformação e o desenvolvimento para a população negra têm diferentes matizes e matrizes.

Como instituição, o Baobá vem se internacionalizando. Qual a importância disso? 

Selma Moreira – Apoios internacionais com foco nos investimentos programáticos e na construção do fundo patrimonial são de importância estratégica fundamental. Essa internacionalização do Fundo Baobá, que vem já da sua fundação, é uma forma de levar para os países do exterior um maior conhecimento sobre o Brasil. E isso é uma via de mão dupla, pois ter conhecimento envolve o saber de fatos negativos e de fatos positivos também. 

Fernanda Lopes – Para além de ampliar a sua capacidade de mobilização de recursos, estabelecimento de parcerias estratégicas e, por consequência, contribuir para mudanças sustentáveis no processo de desenvolvimento integral da população negra, acredito que a internacionalização do Baobá contribua para ampliar a discussão sobre equidade racial no sul global,  dentro e fora do ecossistema filantrópico.

O Baobá já alcançou o propósito para o qual foi criado? 

Selma Moreira – Avançamos muito em 10 anos, mas ainda há muito a ser feito.  Infelizmente,  o contexto de desigualdade e racismo recrudesceu com a pandemia. As soluções precisam ser cada vez mais sob medida para as diferentes demandas, tempos e especificidades dos públicos apoiados.

Fernanda Lopes – O Baobá ainda tem muito a realizar. O Baobá pode contribuir para transformar o imaginário coletivo. Pode contribuir influenciando a tomada de decisão das instituições públicas, privadas e do terceiro setor e,  sobretudo, fortalecer a sociedade civil organizada negra, o movimento social negro, o movimento de mulheres negras, o movimento LGBTQIA+, o movimento de pessoas negras com deficiência, o movimento quilombola na busca por equidade racial  e justiça social.

Que projeção você faz para os próximos 10 anos do Baobá?

Selma Moreira – Dez anos de inúmeros desafios. Desejo que o Baobá se consolide como referência e possa expandir seu impacto a partir da execução da sua missão em apoio a organizações e lideranças negras, a fim de contribuir para uma sociedade mais justa. Ainda desejo que tenham mais organizações engajadas em parceria com o Baobá para promoção de ações para e com a população negra em todo Brasil. E, por fim, desejo que tenhamos possibilidade de expandir os diálogos no eixo sul / sul, a fim de trocar, aprimorar e fortalecer alianças estratégicas conectadas com a nossa missão.

Fernanda Lopes – O plano de ação de Durban completa 20 anos neste 2021. Houve avanços,  mas há desafios persistentes. As reparações são parte deste conjunto que, os compromissos assumidos no âmbito da Década de Afrodescendentes ou mesmo da Agenda de Desenvolvimento Sustentável, não contemplam. O Baobá foi criado como um mecanismo capaz de captar recursos e convertê-los em benefícios para a população negra, financeiros e outros. Na vigência do racismo,  a ausência de proteção e garantia de direitos é reiterada e esta ausência afeta pessoas e coletivos. Os efeitos são generalizados. Por isso trago o tema reparações. Quando falamos em reparações estamos falando em políticas afirmativas, em investimentos das mais diversas ordens, em recursos financeiros. Para os próximos 10 anos sonho com o Baobá sendo um ator relevante na cena global de enfrentamento ao racismo e promoção da equidade racial, além de ser  um mecanismo por meio do qual se possa concretizar  ações ou políticas de reparação.

Outubro Rosa e a saúde da mulher negra

Por Vinícius Vieira

No mês de abril de 2020, durante a gestação da sua segunda filha, a empresária e esteticista Zarah Flor Rizzo descobriu um nódulo no seio esquerdo enquanto fazia um auto exame durante o banho: “Relatei para minha médica obstetra que havia encontrado um nódulo, a médica me examinou e me tranquilizou falando que era um nódulo de leite empedrado, não me senti confortável pois eu conhecia meu corpo e sabia que tinha algo errado”.

A insistência da empresária em relação àquele nódulo levou Zarah a pedir a realização de um exame ultrassom: “Eu sabia que tinha algo de errado, mas a médica achou melhor não fazer porque poderia afetar as glândulas mamárias”. Zarah não desistiu e decidiu ligar no laboratório solicitando o exame: “A atendente também informou que era melhor não realizar o exame pelo mesmo motivo”. Zarah ligou novamente em outra oportunidade e insistiu com a ideia até que o exame fosse feito: “A médica realizou o exame de mama e falou que não era nada, apenas a mama que estava com uma pequena inflamação e com um pouco de líquido por conta das minhas próteses mamárias”.

Após o nascimento da filha, Zarah Flor retornou à obstetra para realização de exames de rotina pós parto e comentou sobre o aumento do nódulo. A médica pediu para ela não se preocupar, mas mesmo assim ela não desistiu de investigar: “Saí do consultório e no estacionamento mesmo eu liguei no meu convênio e perguntei se poderia marcar um mastologista sem encaminhamento médico. A resposta foi sim. Marquei uma consulta com o mastologista e marcamos a biópsia”. Em novembro de 2020, saiu o resultado da biópsia.  Zarah Flor estava com câncer de mama. 

Zarah Flor Rizzo, empresária e esteticista

Segundo um estudo apresentado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é o segundo tipo que mais acomete as mulheres brasileiras, representando em torno de 25% de todos os tipos de câncer que afetam o sexo feminino no país. Por isso, o mês de outubro é dedicado à conscientização e controle do câncer de mama, conhecido popularmente como Outubro Rosa.

O movimento foi criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, nos Estados Unidos e é celebrado anualmente no mundo todo. O Brasil aderiu à campanha do Outubro Rosa em 2010, com o apoio do Inca, como forma de conscientizar a população feminina sobre a importância do autocuidado. 

Ao aprofundar as estatísticas da doença no país, desagregando os dados por raça/cor, no ano de 2019 o Inca apresentou evidências de que a taxa de mortalidade por câncer de mama entre as mulheres negras era maior: 10% superior à observada para  mulheres não negras. O Instituto classifica uma das causas que leva a mais mortes, o diagnóstico tardio da doença.

No caso de Zarah, mesmo com todas as interpelações médicas, o diagnóstico precoce da doença proporcionou a ela um tratamento em tempo hábil: “Hoje eu estou curada! Fiz cirurgia, que foi realizada no quadrante. Sigo em tratamento ainda. Ele acaba em Fevereiro de 2022”.

Câncer de mama e as mulheres negras

Para a médica ginecologista Ligia Santos, é preciso compreender que os estudos mostram que o câncer de mama não acomete mulheres negras de forma mais prevalente que as não negras. Porém, quando uma mulher negra apresenta câncer de mama precocemente (antes dos 50 anos, mais especificamente antes dos 45 anos),  a doença tende a ser mais grave e com prognóstico pior,  e isso está atrelado ao fator social: “Os determinantes sociais de saúde são importantes fatores para a pior evolução da doença,  pois eles atuam dificultando o diagnóstico e o tratamento precoce das mulheres negras. Sabemos que a maioria das mulheres negras está na base da pirâmide social e dependem muito do SUS,  que é um sistema fundamental para a nossa sociedade, mas possui muitas falhas. Logo, essas mulheres tendem a fazer menos mamografias de rastreamento, passam em menos consultas médicas e com especialistas e com isso podem ter o diagnóstico mais tardio e, consequentemente, mais mortes”.

Ligia Santos, médica ginecologista

Mariana Ferreira, outra médica que atua na área da ginecologia e obstetrícia, também afirma que, no que diz respeito a diagnóstico precoce, a partir do rastreio com mamografia, ainda há uma grande disparidade quando avaliamos o acesso por raça/cor e classe: “Mulheres negras e com escolaridade mais baixa são aquelas que mais têm dificuldade em acessar o rastreio. Isso acaba atrasando o diagnóstico e, consequentemente, o prognóstico se torna mais reservado”.

Os dados do Inca mostram que, enquanto 66,2% das mulheres brancas fizeram o exame da mamografia, somente 54,2% das negras fizeram no mesmo período. Para a médica Ligia Santos, o acesso à saúde é um benefício que embora seja legal é negado a muitas pessoas: “Os mais pobres vivem nas periferias que, geralmente, acabam ficando para segundo plano quando se pensa em políticas públicas em geral ou que não possuem a estrutura que deveriam ter para que o atendimento seja equânime”, segundo a médica. Isso é visível na escassez de equipes, de especialistas e equipamentos de saúde em alguns bairros: “Como a falta de mamógrafos, além da dificuldade em agendar consulta com especialista, entre outros tantos fatores. Sendo assim, uma mulher que deveria fazer o diagnóstico/tratamento precoce acaba perdendo muito tempo entre idas e vindas para poder ‘entrar’ no sistema”.

Para a empresária Zarah Flor, a falta de acesso a direitos básicos por parte da população negra, sendo eles cada vez mais escassos, impacta diretamente no aumento do índice de mortalidade de doenças como o câncer de mama: “A falta da inclusão acaba refletindo na comunidade negra e limitando o mínimo para viver em sociedade. E os números estão aí para comprovar que somos as mais afetadas pela desigualdade onde não temos o mínimo para sobreviver”.

Mariana Ferreira também acredita que, para a mulher que ainda se encontra ativa economicamente, o acesso vai impactar. Por outro lado, a médica também afirma que o medo do diagnóstico também afasta algumas mulheres: “Por se tratar de uma doença ainda cercada de muitos estigmas, acaba fazendo com que muitas mulheres, mesmo após apalparem tumor na mama, acabam por postergar a busca por atendimento. Por isso que estratégias e campanhas que tragam conscientização sobre a doença são tão importantes”.

Cuidado com a saúde da mulher negra para além do Outubro Rosa

Apesar de outubro ser dedicado à prevenção e à conscientização sobre o câncer de mama, tanto Mariana quanto Ligia reforçam a importância dos cuidados de outras enfermidades que são letais para a população negra de modo geral: “Não podemos esquecer que a população negra é mais suscetível à hipertensão e diabetes,  que contribuem para o surgimento e piora das doenças cardiovasculares, que são as que mais matam no mundo, além da depressão, que é a doença que mais incapacita pessoas”, afirma Ligia.

Mariana Ferreira, ginecologista e obstetra – Foto: Gabriella Maria

Mariana reforça a importância de campanhas preventivas como a do Outubro Rosa, considerando que as estratégias de prevenção em saúde da mulher negra passam por vários aspectos: “Desde avaliação de risco para doenças cardiovasculares, tentativa de controle de fatores de risco como diagnóstico e controle de condições como hipertensão, diabetes, obesidade, estímulo à prática de atividade física”. Porém, a médica afirma que ainda há campos na saúde da mulher que também requerem atenção e conscientização:  “O rastreio de acordo com a faixa etária para câncer de colo do útero e mama; a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, através do acesso a métodos contraceptivos, assim como acesso à pré-natal de qualidade e acompanhamento ao parto,  para desta forma prevenir desfechos negativos. São várias as intervenções que podem ser feitas no que diz respeito à saúde da mulher negra”, finaliza.

Recentemente, Zarah Flor integrou uma campanha publicitária de uma famosa loja de departamentos, no qual ela e outras mulheres reais contam como venceram a doença. No vídeo, Zarah diz:

“Eu fui me reconectando, eu consegui trazer a minha autoestima de volta, eu quero estar sempre presente, não deixo nada pra depois, eu quero fazer hoje e agora, eu me sinto uma nova mulher”

Para o Fundo Baobá, Zarah explica o significado desta frase: “Essa afirmação eu levo para vida. Com ela, eu me renovo todos os dias e com a cura do câncer de mama, só me fez enxergar ainda mais o quanto as coisas simples da vida precisam ser valorizadas. Estar com a família, com meu marido e minhas filhas, acabam nos encorajando para lutar contra a doença”. Finaliza.

Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça consolida parceria entre Fundo Baobá e Google.org

Por Wagner Prado

O estado de ebulição em que o mundo entrou quando do assassinato do negro George Floyd pelo então policial, o branco Derek Chauvin, na cidade de Minneapolis, no estado de Minnesota (Estados Unidos), provocou posicionamentos sociais por parte de várias empresas em todo mundo. O assassinato de Floyd, infelizmente, fez despertar em milhões a atenção sobre os problemas causados pelo racismo, muito mais observado pelos que são vítimas dele no cotidiano. 

Uma das corporações mundiais a se manifestar foi o Google, por intermédio de seu  CEO, Sundar Pichai. “No ano passado, o CEO Sundar Pichai falou sobre a importância de reconhecer o racismo como um problema global e sistêmico e assumiu compromissos de aumentar a proporção de pessoas negras em cargos de liderança e dedicar esforços não só no processo de contratação, mas de retenção e promoção. Na ocasião, nos comprometemos globalmente a investir cada vez mais esforços  em equidade racial, por meio de iniciativas internas e externas de combate à injustiça racial e construção de sustentabilidade social”, afirmou Flavia Garcia, Head de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google na América Latina. 

O comprometimento global do Google fez com que ações no sentido do combate ao racismo e busca pela equidade fossem realizadas também no Brasil. Uma dessas ações foi o apoio dado ao Fundo Baobá para Equidade Racial no edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, lançado em maio de 2021 com dotação de R$ 1,2 milhão. Os recursos vieram do Google.org, braço filantrópico do Google, que tem como uma de suas premissas apoiar entidades negras cuja atuação no enfrentamento ao racismo seja o foco. 

O edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça selecionou 12 organizações negras brasileiras que apresentaram projetos com os seguintes direcionamentos:  Enfrentamento à Violência Racial Sistêmica; Proteção Comunitária e Promoção da Equidade Racial; Enfrentamento ao Encarceramento em Massa entre Adultos e Jovens Negros e Redução  da Idade Penal para Adolescentes; Reparação para Vítimas e Sobreviventes de Injustiças Criminais com Viés Racial

O objetivo do Vidas Negras é ir de encontro a inúmeras arbitrariedades que têm sido relatadas e documentadas dentro do sistema de Justiça do Brasil, que em inúmeros casos procura desqualificar o povo negro impondo a ele decisões sem embasamento que culminam em penas injustificáveis. “Reforçamos nosso compromisso em continuar avançando na redução das desigualdades estruturais raciais, por meio de ações de equidade de oportunidades de acesso, desenvolvimento e liderança para a comunidade negra. Trabalhamos promovendo oportunidade econômica para a população negra e apoiando o trabalho de organizações que atuam no front,  realizando ações de combate ao racismo e à desigualdade racial, como é o caso do apoio do Google.org ao Fundo Baobá, primeiro e único fundo filantrópico brasileiro dedicado exclusivamente à equidade racial”, disse Flavia Garcia. 

Flavia Garcia, Head de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google na América Latina

Um dos objetivos do Google como único apoiador do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça foi o de alcançar o maior número de pessoas possível com as ações implementadas. O objetivo foi alcançado. “Por meio do Fundo Baobá, o apoio do Google se multiplicou, beneficiando 12 organizações com trabalhos com foco no enfrentamento ao racismo em suas regiões de atuação. Além do Fundo Baobá, o Google.org destinou recursos para o Núcleo de Pesquisa em Justiça Racial e Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com o objetivo de apoiar a pesquisa e coleta de informações sobre o estado da justiça racial no Brasil, a partir da análise de estudos de caso, dados e visualização das dimensões raciais da violência policial no país”, revelou a executiva de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google para a América Latina. 

As organizações selecionadas estão recebendo um amplo treinamento para que alcancem 100% da potencialidade de seus projetos. Como apoiador, o Google vem monitorando e tem apreciado o trabalho que vem sendo feito pelo Baobá. “O Google.org entende que as pessoas mais próximas do problema são as que estão em melhor posição para resolvê-lo. E esse é o caso dos treinamentos que o Fundo Baobá disponibilizou para todo o ecossistema de organizações, o que inclui ferramentas de governança, recursos humanos, monitoramento e avaliação de programas, finanças, saúde e sustentabilidade, estratégia de comunicação e desenvolvimento de competências digitais; essenciais para seu fortalecimento institucional. Estamos entusiasmados em ver que as organizações selecionadas criarão uma rede onde terão interações mais profundas para compartilhar as lições aprendidas umas com as outras, com o objetivo de fortalecer uma rede nacional com representantes de organizações lideradas por pessoas negras de cada região”, finalizou Flavia Garcia.

Fundo Baobá na Imprensa em Setembro

Por Vinícius Vieira

Dois editais do Fundo Baobá para Equidade Racial foram destaques na imprensa no mês de setembro em momentos distintos. Enquanto o Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, divulgava a sua lista final com as 12 iniciativas selecionadas, no dia 9, o Edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, por sua vez, foi lançado no dia 23.

Com apoio do Google.Org, braço filantrópico do Google, o edital Vidas Negras teve a sua lista de selecionados noticiada em portais de notícias como: Valor Econômico, Terra, Metrópoles, Correio Braziliense, IP News, Capital Digital, Tribuna do Agreste e Tribuna do Sertão, e também nos portais da mídia negra como: Revista Raça, Cultura Preta, Ceará Criolo e Instituto Geledés da Mulher Negra. Além do próprio Google que destacou o tema no seu blog institucional.

Enquanto isso, o Quilombolas em Defesa, lançado em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), apoio da Fundação Interamericana (IAF) e ação integrada da Aliança Entre Fundos, foi destaque no Yahoo, Cedefes, Bahia.ba, Jornal do Sudoeste, Notícias de Contagem, Rede GN e no portal Notícia Preta.

A participação da diretora executiva e do presidente do conselho deliberativo do Fundo Baobá em eventos virtuais, também foi tema na imprensa no mês de setembro. O Correio Braziliense divulgou a presença do presidente do conselho deliberativo da organização, Giovanni Harvey, no webinar “Políticas Públicas para a Igualdade Racial”, organizado pelo Insper – Centro de Gestão e Políticas Públicas.

O evento, que aconteceu no dia 21 de setembro, contou também com as participações de Rosane Borges (ECA-SP) e Ricardo Henriques (Instituto Unibanco), teve a mediação de Laura Machado (Insper) e a abertura institucional feita pelo coordenador do Núcleo de Estudos Raciais, Michel França.

Em sua fala, Giovanni Harvey ressaltou a percepção que as pessoas brancas tem em relação a desigualdade racial no Brasil e o quanto que ela é estruturante nas relações sociais: “Na condição de um velho militante do movimento negro, eu sempre procuro refletir à respeito da capacidade que o racismo no Brasil tem de se transformar para preservar os privilégios da branquitude. Entendendo a branquitude não como uma característica fenotípica, mas como uma forma de pensar a organização da sociedade brasileira”.

Giovanni afirmou que não acredita na implementação da agenda antirracista por pessoas brancas de forma imediata: “A gente tem que tomar cuidado com iniciativas de grupos que, em busca da manutenção de seus privilégios, tem aderido formalmente a agenda antirracista. De uma hora pra outra, todas as pessoas que nunca falaram de desigualdade racial estão colocando nas suas redes sociais que são antirracistas. Eu não acredito em gente antirracista da noite pro dia”.

O presidente do conselho deliberativo do Fundo Baobá também fez uma crítica a chamada mercantilização da militância negra: “Eu tenho 57 anos de idade e sou militante do movimento negro desde a adolescência. De repente, todo esse conhecimento que nós adquirimos, em anos de luta, começa a ser negociado com ofertas de prestação de serviço de gestão de crise de empresas”, disse Giovanni, fazendo uma revelação: “Eu não vou fazer gestão de crise de empresa racista e, muito menos, mitigação de dano de reputação de instituição racista. É muito mais fácil eu utilizar o que eu aprendi nesses anos de militância, à serviço do movimento social, justamente para denunciar isso. Porque senão nós corremos o risco de esquecer tudo que aconteceu e criar uma democracia racial de faz de conta”, finaliza.

O evento completo pode ser assistido na íntegra aqui.

No dia 20 de setembro, foi a vez do portal do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) divulgar o evento virtual “ESG na Prática: Parcerias e Negócios para um mundo em transformação”, que contou com a participação da diretora-executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, e também com as presenças de Adriana Machado (Fundadora do Briyah Institute), Ricardo Batista (CEO do Tribanco),  Tarcila Ursini (EB Capital), além da mediação de Graziella Comini (professora associada da FEA/USP e vice-presidente do IPÊ).

A cobertura completa da mesa virtual “Como evitar o ESG Washing?” pode ser conferida na matéria especial no site do Fundo Baobá.

Selma Moreira também ganhou destaque no portal Estágios e Mercado de Trabalho, que divulgou, no dia 27, a sua participação na Conferência Juntos, que aconteceu entre os dias 2 e 3 de outubro. Realizada pela McKinsey & Company, a conferência virtual tinha a premissa de influenciar a formação de uma geração de jovens profissionais negros no ambiente corporativo. A diretora-executiva do Fundo Baobá participou da mesa “Governança ambiental, social e empresarial: impacto holístico e responsabilidade corporativa”, que também teve a participação de Alberto Cordeiro (McKinsey & Company) e Valquíria Tonello (Superintendente no Jurídico do Itaú Unibanco).

Coletiva Negras que Movem – Portal Geledés 

Enquanto isso, a tradicional coluna “Coletiva Negras que Movem”, do Instituto da Mulher Negra Geledés, com as apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, publicou no dia 4, o texto Filosofia da Lata Vazia – O Peso de Todas as Coisas, de autoria da dançarina, DJ e performer, Laura Sancos.

A psicóloga doutoranda e mestre em Psicologia, gestora de Políticas Públicas de Juventude, Gênero e Raça e integrante da atual gestão do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), Larissa Amorim Borges, com a graduanda em Ciências Aeronáuticas, pilota em formação, comissária de voo gestora da página Voe Como Uma Negra, membro do Comitê de Tripulantes negros do SNA e cofundadora do Quilombo Aéreo, Laiara Amorim Borges, ao lado da bacharel em Direito, coach de desenvolvimento pessoal afrocentrado, defensora popular, coordenadora cultural e de eventos e integrante do coletivo Juventude de Terreiro Cenarab (MG), Lorena Amorim Borges, escrevam juntas o artigo Intersecção de saberes: Movimento Negro, Direito, Psicologia, Terreiro e outras Pretitudes

Outro artigo escrito em parceria foi Precisamos olhar com carinho para nossas trajetórias, antes que o racismo acabe com o que resta de nós, de autoria de Carolina Brito, pós-graduanda em História e Cultura Afro-brasileira, MBA em produção de conteúdo para mídias digitais e Bacharela em Arte e Mídia, produtora cultural, além de diretora e idealizadora da Enegrecida, em parceria com historiadora, mestranda em História, Coordenadora do Grupo de Estudos Literários em Escrituras Negras e a autora do livro O Pensamento de Angela Davis, Bruna Santiago. 

Por fim, o texto Lutemos pela educação, ela é espaço de luta e resistência!, foi escrito pela graduada em Serviço Social, pós-graduada em Política de Assistência Social e MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades, Sibele Gabriela dos Santos.

Fundo Baobá discute ESG

Por Vinícius Vieira

No dia 4 de outubro, conhecido como o Dia da Natureza, o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), em parceria com o LinkedIn, realizou o evento virtual “ESG na Prática: Parcerias e Negócios para um mundo em transformação”, que contou com a participação de profissionais de diversas áreas para falar da prática do ESG (Environmental, Social and corporate Governance – Governança Ambiental, Social e Corporativa) em seu ramo de atuação.

A diretora executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, Selma Moreira, foi uma das palestrantes na mesa de encerramento do evento. Com o tema “Como evitar o ESG Washing?”,  a sessão foi mediada pela professora associada da FEA/USP e vice-presidente do IPÊ, Graziella Comini, e contou com as  participações de Adriana Machado (Fundadora do Briyah Institute), Ricardo Batista (CEO do Tribanco) e Tarcila Ursini (EB Capital).

ESG na prática. Sentido horário: Graziella Comini (FEA/USP e IPÊ), Adriana Machado (Briyah Institute), Selma Moreira (Fundo Baobá), Tarcila Ursini (EB Capital) e Ricardo Batista (CEO do Tribanco)

No dia do evento, três redes sociais muito utilizadas tiveram problemas de instabilidade e ficaram sete horas sem funcionamento, gerando caos no mundo todo. Selma Moreira fez questão de iniciar a sua exposição fazendo conexões entre o ocorrido e a prática do ESG: “Se cai a internet, todo mundo enlouquece. Então por que a gente não sente a mesma coisa quando cai uma árvore ou quando a gente perde uma vida?”, perguntou.

Falando sobre ESG na prática, Selma destaca a necessidade de a discussão sobre o tema começar pela letra G, que representa a Governança Corporativa: “A governança é a chave, o espírito, sendo, talvez, o tema mais forte e que a gente tenha que apertar a caneta. Porque você precisa trabalhar a importância internalizada no alto escalão da empresa, para garantir que todos os trabalhos sejam feitos na perspectiva de promover a questão ambiental e a questão social. Muito além de uma simples propaganda”, afirmou.

A expressão ESG Washing é conhecida no meio corporativo como a implementação do ESG, sem o comprometimento real com todas as pautas que compõem a sigla. Neste contexto, Selma Moreira frisou a importância do engajamento e da discussão em torno dos fundamentos estratégicos do ESG; de não ficar apenas em modismos, citando, inclusive, a comoção virtual pela morte do norte-americano George Floyd em junho de 2020: “No ano passado nós vimos todo mundo falando sobre o Black Lives Matter [movimento ‘Vidas Negras Importam’] o tempo todo nas redes sociais. Eu acho muito importante as pessoas dialogarem sobre isso, mas eu quero que seja de verdade, para além de um post nas redes sociais. É preciso que essas pessoas se importem com isso e que todas as decisões tomadas, na vida pessoal ou profissional, estejam conectadas com essa temática também”.

A diretora executiva do Fundo Baobá, o primeiro fundo dedicado à promoção da equidade racial para a população negra no país, fez questão de afirmar que é necessário um olhar cuidadoso para as organizações e Fundos de justiça social e aprender com a experiência de atuação de cada um deles, nas causas mais urgentes: “O nosso trabalho está diretamente ligado ao Brasil profundo, escutando e respondendo às demandas dos diversos públicos. Assim como o Baobá, existem outros Fundos com outras temáticas que atuam para garantir que organizações de base comunitária, rurais, quilombolas, além da população mais afastada e vulnerável, tenham direito de viver com dignidade e de seguir se desenvolvendo”.

Por fim, Selma Moreira reitera que é necessário se permitir colocar em dúvida as nossas certezas: “As crianças têm o chamado ‘cantinho da disciplina’, os adultos precisam ter o cantinho da dúvida, antes de tomar qualquer decisão. É nessa hora da dúvida que se permite dialogar, experimentar e tentar outros caminhos, porque o que falta é conhecer mais do Brasil, falta conhecer mais das necessidades e falta, inclusive, desenhar os nossos planos a partir das escutas”, afirmando que não significa apenas investir o dinheiro em uma causa, baseado nas próprias estratégias, mas ter a sensibilidade de ouvir as demandas de cada um: “É muito do ser humano achar que tem a solução de tudo, no entanto, eu diria que é preciso fazer tudo com intencionalidade”, finalizou. 

No final do evento, a artista gráfica Camila G.MW. fez uma arte com todos os participantes da mesa digital e retratou Selma Moreira com os cabelos em formato de baobá, a árvore nativa da África, pertencente à família das malváceas, com um tronco que pode chegar a nove metros de diâmetro e 30 metros de altura e que deu origem ao nome da organização.

O vídeo está disponível no perfil do IPÊ no LinkedIn e pode ser assistido aqui.

Nasce uma Aliança para fortalecer o apoio a grupos comunitários no enfrentamento da covid-19

Como a filantropia está apoiando o enfrentamento da pandemia

Publicado originalmente no site da Rede de Filantropia para Justiça Social

Por Cristina Orpheo e Joyce Maria Rodrigues

A pesquisa Emergência Covid-19, realizada pelo GIFE, apresenta uma análise da atuação emergencial de diferentes organizações do campo da filantropia e de investimento social, e revela que houve uma forte resposta desse setor na construção de ações para minimizar os impactos da pandemia. No que confere à alocação de recursos, num grupo de 98 organizações entrevistadas, 78% afirmaram que investiram em iniciativas finalísticas de enfrentamento à Covid-19. No que se refere ao montante alocado, a pesquisa apresenta que a somatória de 69 organizações resultou num valor total de R$ 2 bilhões. No comparativo com o valor investido em outras iniciativas e na gestão dessas organizações, esse valor é 1,9 vezes superior.

Nesse contexto, os fundos e fundações comunitárias reunidas na Rede de Filantropia para a Justiça Social (RFJS) têm desempenhado também um papel estratégico para viabilizar a doação de recursos. Ao longo de 2020 as organizações da Rede doaram de forma direta um montante de R$ 14.019.120,70 para mais de 1.200 iniciativas da sociedade civil. As doações indiretas (cestas básicas, kit higiene e ajuda humanitária, de forma geral) somam aproximadamente 2,9 milhões de reais, totalizando mais de 16,9 milhões de reais.

Além disso, a RFJS, por meio de seu Programa de Apoio, doou um montante de R$ 210.000 para fortalecimento dos seus membros no enfrentamento da pandemia a partir de três linhas de atuação: mobilização comunitária e campanhas de doação e de comunicação, informação e produção de conhecimento.

Como demonstra o estudo O Papel e o protagonismo da sociedade civil no enfrentamento da pandemia da covid-19 no Brasil, embora o montante das doações dos fundos locais que integram a RFJS não seja comparável aos recursos mobilizados pelas grandes fortunas, a atuação da Rede foi e continua sendo estratégica no contexto da pandemia pela capacidade de reagir de forma ágil e assertiva, atendendo a múltiplas demandas, com foco nas minorias políticas e grupos vulneráveis.

Esses dados demonstram que a urgência por respostas ao cenário da pandemia do coronavírus promoveu uma prioridade de investimentos entre as organizações do universo da filantropia e do investimento social no Brasil.

Se a imprevisibilidade de uma pandemia mundial explicou o deslocamento de prioridades e a maior mobilização por recursos ao longo do ano de 2020, após um ano e meio de seu início percebemos que as urgências não findaram, mas se transformaram.

O país se encontra imerso em um cenário de retrocessos na garantia direitos humanos e ambientais, aumento da taxa de desemprego em consonância com o encarecimento do custo de vida, que somados às inúmeras ausências de políticas públicas para minimizar os impactos da covid-19 têm agravado as condições de vida da população mais vulnerável, em especial os povos indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais.

Parafraseando os autores Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino, como combater a mortandade quando ela se torna algo corriqueiro? Se seguirmos as trilhas da resposta à pergunta dos autores, precisamos exercitar a política da vida, o encantamento.

O encantamento como uma capacidade de transitar nas inúmeras voltas do tempo, invocar espiritualidades de batalha e de cura, primar por uma política e educação de base comunitária entre todos os seres e ancestrais, inscrever o cotidiano como rito de leitura e escrita em diferentes sistemas poéticos e primar pela inteligibilidade dos ciclos é luta frente ao paradigma de desencanto instalado aqui. Ou seja, o encante é fundamento político que confronta as limitações da chamada consciência das mentalidades ocidentalizadas. (SIMAS E RUFINO, 2020, p.8).

Portanto, o atual contexto demanda ações destinadas à (re)construção, fortalecimento e principalmente de reconhecimento do protagonismo das organizações de base comunitária e tradicionais. Infelizmente, não vemos a construção de políticas públicas que dê conta de atender essas populações para essa reconstrução.

Passamos de um momento de apoios humanitários para apoios com ações mais estruturantes, e com eles o desafio dos recursos da filantropia chegarem de fato às comunidades mais impactadas.

Aliança entre Fundos

Diante desse contexto é consolidada a Aliança entre Fundos, composta pelos Fundos Baobá, Brasil de Direitos e Casa Socioambiental.

Os diálogos e as trocas entre essas organizações ocorridas no ano de 2020 para aprendizados sobre mobilização, coordenação, alocação e gestão dos recursos emergenciais durante o período mais crítico da pandemia resultaram numa aliança estratégica direcionada a apoiar iniciativas de comunidades tradicionais frente aos impactos causados pela covid19.

A Aliança foi lançada no dia 26 de agosto e tem como objetivo principal contribuir para a autonomia e o protagonismo das populações tradicionais, organizações, grupos e coletivos na construção de soluções para os impactos provocados pela pandemia por meio de apoio a projetos em três eixos temáticos; (1) Fortalecimento da resiliência, (2) soberania e segurança alimentar (3) defesa de direitos.

A iniciativa tem ainda como objetivos fortalecer o ecossistema da filantropia pela justiça racial, social e ambiental por meio de estratégia de atuação conjunta entre os Fundos, gerando aprendizados e reforçando a importância da colaboração para enfrentar emergências, potencializando o apoio aos grupos comunitários.

Assim, a Aliança se inscreve como apoio e ponte para a construção da política de vida plantada nas margens, capoeiras, sambaquis, quilombos, mangues, sertões, gameleiras, esquinas e matas daqui. O “encantamento” se torna metáfora, mas também estratégia colaborativa onde os Fundos que buscam apoiar ações de alicerce, de (re)construção e enfrentamento aos desafios impostos pela pandemia para as comunidades quilombolas e povos indígenas.

A Rede de Filantropia para a Justiça Social foi campo fértil para o nascimento dessa Aliança, criando um importante espaço de diálogo no pior momento da pandemia em 2020, fomentando ações criativas para o apoio aos grupos de base para ações emergenciais de enfrentamento a covid19. Acreditamos que a Aliança e a Rede podem seguir na trilha de gerar aprendizagem, em especial nos temas de estratégias colaborativas para mobilização de recursos e em monitoramento e avaliação dos apoios aos grupos de base.

Próximos Passos

Os Fundos que compõem a Aliança começaram a lançar os editais de apoio a projetos no mês de setembro, com previsão inicial de aporte de 2,5 milhões de reais para apoios a grupos quilombolas e indígenas. O edital Em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, lançado pelo Fundo Brasil. A Chamada de Projetos para Apoio às Comunidades Quilombolas no Enfrentamento dos Impactos Causados pela Covid-19, lançada pelo Fundo Casa Socioambiental. E o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, lançado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial.

Para 2022, está sendo construída uma agenda de fortalecimento de capacidades e trocas e intercâmbios entre os grupos comunitários que serão selecionados nos editais.

Referências

Observatório da Covid-19 nos Quilombos – https://quilombosemcovid19.org/

Pesquisa Emergência Covid-19: levantamento de dados e informações da resposta da filantropia e do investimento social privado no enfrentamento à pandemia – https://sinapse.gife.org.br/download/pesquisa-emergencia-covid-19-levantamento-de-dados-e-informacoes-da-resposta-da-filantropia-e-do-investimento-social-privado-no-enfrentamento-a-pandemia

O papel e o protagonismo da sociedade civil no enfrentamento da pandemia da covid-19 no Brasil – https://www.redefilantropia.org.br/publicacoes/o-papel-e-o-protagonismo-da-sociedade-civil-no-enfrentamento-da-pandemia-da-covid-19-no-brasil%E2%80%89

SIMAS, Luis Antônio e RUFINO, Luis. Encantamento, sobre a política de vida. Rio de Janeiro. Mórula Ed.2020.

Joyce Maria Rodrigues – Mestra em Planejamento e Gestão do Território pela UFABC, especialista em políticas públicas pela USP e Licenciada em ciências sociais pela UNESP Marília. Atua como consultora técnica da iniciativa Aliança entre Fundos.

Cristina Orpheo é Diretora Executiva do Fundo Casa Socioambiental. É formada em Administração, com pós-graduação em gestão de projetos sociais, terceiro setor e gestão ambiental. Tem 20 anos de experiência em elaboração e gestão de projetos, gestão de recursos humanos, elaboração de projetos, planejamento estratégico e mobilização de recursos. Nos últimos 10 anos atua em Grantmaking e apoios a grupos comunitários de base.

Pessoas com deficiência, o esporte e as estratégias de afirmação

Por intermédio de suas conquistas no Esporte, as PcDs (Pessoas com Deficiência) mostram para os capacitistas que são capazes de fazer qualquer coisa

Por Wagner Prado

Em 1944, o mundo ainda estava sacudido pelo flagelo da II Guerra Mundial, que terminaria um ano depois. Um neurologista de origem alemã, Ludwig Guttmann, recebeu do governo do Reino Unido o aval para abrir um centro de reabilitação para tratar lesões na coluna. O público eram os soldados feridos em batalha. Ludwig Guttman acreditava na prática esportiva como principal forma de reabilitação. Aquilo foi o embrião para o que havia começado como recreação visando reabilitação,  se transformasse em competitividade entre pessoas com deficiências. 

Como muitas ideias evoluem, Ludwig Guttmann levou seu desejo de promover uma competição entre cadeirantes para a organização dos Jogos Olímpicos de 1948 em Londres. Nascia ali a intenção de promover jogos exclusivos para PcD, chamados então de Jogos Paraolímpicos. A realização dos primeiros Jogos Paraolímpicos ocorreu em Roma, em 1960 e, desde então, acontecem a cada quatro anos após os Jogos Olímpicos.

Competir esportivamente foi e é uma grande conquista das pessoas com deficiência. Porém, algumas conquistas acabam por esconder tantas outras batalhas que estão sendo travadas por este segmento da população e a sociedade, em sua quase totalidade, não tem conhecimento. 

Uma dessas batalhas é contra o que se denomina Capacitismo, que é a atitude de discriminar, tratar com preconceito e opressão qualquer pessoa com deficiência física e motora, visual, auditiva, intelectual e de aprendizado. Criou-se o conceito de que pessoas com deficiência são inferiores. Dar a elas tratamento de comiseração é, também, uma forma de capacitismo.

O Brasil tem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para combater o capacitismo, foi instituída a Lei Federal 13.146, em 6 de julho de 2015, que é o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Em seu artigo 4º, a Lei diz que  “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.

Ainda no terreno das leis federais, a Lei 8.213 de 1991, batizada como Lei de Cotas, determina que empresas que tenham de 100 a 200 funcionários reservem 2% das vagas para PcD. Essa porcentagem vai crescendo de acordo com o número de empregados/as e chega ao máximo de 5% para empresas que tenham mais de 1001 colaboradores/as. 

A fuga da invisibilidade, a ocupação de espaços que movam a  opinião pública, a busca pela conscientização sobre os direitos das pessoas com deficiência,  têm sido uma missão para muites. O movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI) foi criado por negros para combater os impactos das intersecções entre racismo, capacitismo e a discriminação a pessoas negras com deficiência. O grupo está bem ativo nas redes sociais e fora delas também.

A prática esportiva tem sido uma forma de afirmação encontrada por PcDs para trazer o olhar da sociedade sobre suas conquistas e também  reivindicações. Na última edição da Paraolimpíada de Tóquio, realizada em agosto de 2021, o Brasil levou 253 atletas, sua maior delegação. Um deles, o nadador estreante Gabriel Geraldo Araújo, o Gabrielzinho, de 19 anos. Competindo na categoria S2 (o “S” é de Swimming/Natação e o 2 classifica nadadores com limitações físico motoras). Gabrielzinho nasceu com Focomelia, um tipo de anomalia que provoca a má formação de braços, mãos, pernas e pés. A mãe de Gabriel, Eneida Magna dos Santos,  descobriu o problema quando estava em seu quinto mês de gravidez. 

Gabriel Geraldo Araújo, o Gabrielzinho

A vida não foi fácil e ninguém disse que seria. Gabriel desde muito cedo, antes de completar um ano, já estava em um centro de reabilitação para aprender a dar os primeiros passos e, com o crescimento, ganhar autonomia. A natação competitiva veio aos 13 anos, quando foi inscrito nos Jogos de Minas Gerais para Deficientes por um professor de Educação Física. De lá até Tóquio o caminho foi de muitas vitórias, mas, acima de tudo, muito esforço visando o próprio aperfeiçoamento. Gabriel Araujo alcançou três medalhas na  Paralimpíada japonesa: dois ouros e uma prata. Pela competência de atleta e pelo carisma, ganhou fama e aproveitou para levantar bandeiras: “Na minha vida sempre foi assim, ‘vai lá e faz’. As pessoas, todas, têm que entender que nós somos deficientes, mas nós somos capazes de fazer tudo”, afirmou o campeão paralímpico em entrevista ao site ge.com .

Fundo Baobá e Conaq lançam o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça

O Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) lançam o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça.  O objetivo do  edital é apoiar iniciativas de organizações quilombolas para promover a sustentabilidade econômica nas comunidades, a geração de renda, promover a soberania e a segurança alimentar, além de defender os direitos quilombolas nas comunidades. 

Fundo Baobá, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental que, juntos, constituem a Aliança entre Fundos, atuam em prol da justiça racial, justiça social e justiça ambiental. As ações da Aliança são financiadas pela Fundação Interamericana (IAF).  Os três, com editais independentes, pretendem contribuir na redução dos impactos que as crises sanitária e econômica vêm ocasionando nos povos indígenas, comunidades quilombolas e outros povos tradicionais mais vulnerabilizados pela pandemia da COVID-19.

De acordo com a Conaq e o IBGE,  o Brasil conta com cerca de 6 mil comunidades quilombolas. Dessas, apenas 2.819 já foram certificadas, estando 1.727 localizadas no Nordeste, 450 no Sudeste, 300 no Norte, 191 no Sul e 151 no Centro-Oeste.. Mais de 70% das comunidades quilombolas certificadas, que têm direito à terra coletiva, estão em quatro estados: Maranhão, Minas Gerais, Bahia e Pará.   Segundo a Fundação Cultural Palmares, responsável pela emissão das certidões para as comunidades quilombolas e inclusão das mesmas em um cadastro geral, 3.475 comunidades quilombolas foram reconhecidas, porém ainda aguardam certificação (2196 no Nordeste, 547 no Sudeste, 369 no Norte, 193 no Sul e 169 no Centro-Oeste). Os quilombolas têm, em sua maioria, a agricultura e a pecuária como principais atividades econômicas. A preservação de sua cultura vem da oralidade ancestral e da resistência que têm exercido ao longo de suas existências. 

“Para nós do Fundo Baobá este edital é um marco. Estamos celebrando 10 anos e será a primeira vez que teremos um edital exclusivo para quilombolas. O edital foi todo desenhado em parceria com a Conaq e se apresenta como uma grande oportunidade para fortalecer as estratégias de ativismo, resistência e resiliência das comunidades quilombolas no contexto da pandemia da covid-19.  Sabemos que as organizações de base comunitária nem sempre conseguem acessar recursos, em especial organizações comunitárias lideradas e constituídas por povos tradicionais, por isso o edital também é uma oportunidade para contribuir no aprimoramento da filantropia para justiça social”, afirmou a diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes.  

Entidades e valor do apoio

Apenas organizações  lideradas e constituídas por quilombolas poderão se inscrever.  Essa é a principal premissa do edital. Os recursos financeiros e o apoio técnico irão para a base comunitária.  Serão apoiadas  até 35 (trinta e cinco) iniciativas. Para cada uma caberá um montante de  R$ 30.000 (trinta mil reais), perfazendo R$ 1.050.000 (Um milhão e cinquenta mil reais). As organizações selecionadas também irão receber investimentos indiretos por meio de assessoria e apoio técnico visando seu fortalecimento institucional. O edital completo poderá ser lido neste link.

Inscrições

As inscrições para o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça começam no dia 23 de setembro e vão até as 23h59 do dia 25 de outubro (horário de Brasília).  As demais fases do processo seletivo estão descritas no edital. 

Para se inscrever basta acessar o site oficial do edital.

Eixos Temáticos

Cada organização deve apresentar apenas uma proposta que verse sobre um dos eixos temáticos propostos: 

  1. Recuperação e sustentabilidade econômica nas comunidades quilombolas; 
  2. Promoção da soberania e segurança alimentar nas comunidades quilombolas; 
  3. Resiliência comunitária e defesa dos direitos quilombolas.