Baobá na Imprensa

Por Ingrid Ferreira

No mês de janeiro o site da Aliança Entre Fundos foi lançado, uma parceira  entre o Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Casa Socioambiental e Fundo Brasil de Direitos Humanos, criada em 2021 como uma ação estratégica de trocas e diálogos entre os Fundos sobre as agendas por justiça social durante a pandemia da COVID-19.

O IDIS mencionou o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, como um dos membros do painel “Metodologias e Redes para o Fortalecimento da Filantropia”, presente na “11ª edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais”, que aconteceu em setembro de 2022.

Foi realizada menção ao Fundo Baobá na matéria “CEO da Mondelez e membro do Mover: Sem equidade racial, Brasil não crescerá na máxima potência” da Exame, em que o entrevistado Liel Miranda se refere ao Baobá como parceiro recente do Mover.

A  UNESCO lançou o “II Relatório sobre intolerância religiosa: Brasil, América Latina e Caribe”, em que o Baobá foi citado por apoiar um dos projetos que integraram o relatório.

Apoiadas do Fundo Baobá:

Confira os posts sobre oficinas realizadas no edital “Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça”, no Instagram da @quilombosanto: “Agroecologia – Trocas e Construção de Saberes”, “Como ser Antiracista em Território Quilombola – A História” e “Masculinidade Positiva – Estrutura e Desafios”.

O site “Blogueiras Negras” que é apoiado pelo Fundo Baobá, fez a publicação de dois textos, sendo eles: “Praticando Afrofuturos: aqui e agora, com todes” e “O AFROPUNK NYC e suas questões”.

Na Coletiva Negras que Movem do Portal Geledés três textos foram publicados: “Brasil precisa se comprometer com representatividade no campo profissional” da autora Jaqueline Fraga; “Dissimular e ferir: verbos conjugados pela branquitude no cotidiano racista” da Josi Souza e “A democracia do discurso, imagens e símbolos que ainda faltam ser vistos no Diário Oficial – desafios postos aos gestores antirracistas” da Luciane Reis.

Edital Educação em Tecnologia: Resultado da primeira fase é divulgado

O Fundo Baobá divulga a lista de organizações e empresas selecionadas para a Primeira Etapa do edital Educação em Tecnologia hoje (27/02). A previsão da lista da Segunda Etapa para o dia 05 de abril. Entre as 45 propostas que nos alcançaram, 17 foram validadas e seguem para a etapa 2 do processo seletivo. O objetivo do edital é apoiar organizações e empresas negras que atuam no desenvolvimento ou  ampliação das capacidades técnicas das pessoas negras na área de tecnologia. O MOVER – Movimento pela Equidade Racial é o parceiro do Fundo Baobá nessa iniciativa, investindo o valor de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais)  que serão  destinados a apoiar até 16 iniciativas negras de educação em tecnologia.

Os projetos selecionados receberão um aporte financeiro que pode variar de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), além de assessoria e suporte técnico para o desenvolvimento e fortalecimento institucional. Para conferir a lista do resultado da primeira etapa do edital clique aqui, no site do Fundo Baobá para Equidade Racial é possível conferir mais informações sobre o edital e suas fases. 

Estão sendo valorizadas as propostas que venham de organizações e empresas das regiões Nordeste e Norte, e que tenham como foco jovens negres periféricos, pessoas com 40 anos ou mais, população LGBTQIAP+, pessoas com deficiência, jovens em cumprimento de medida socioeducativa, pessoas egressas do sistema prisional, migrantes e refugiados africanos ou afrodescendentes, população quilombola, ribeirinha ou outras comunidades tradicionais.

Sobre o Fundo Baobá:

O Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo patrimonial dedicado, de forma exclusiva, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, o Baobá é uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é  mobilizar pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para apoiar projetos e iniciativas negras para o enfrentamento ao racismo e a promoção da equidade racial. 

Sobre o Mover:

Com o objetivo de extinguir a desigualdade e o racismo no mercado de trabalho, um grupo de empresas com atuação em vários setores da economia juntou-se para criar ações de promoção da diversidade, da equidade e da inclusão. Esse foi o início do Mover (Movimento pela Equidade Racial), que atualmente agrupa 47 empresas que proporcionam postos de trabalho para 1,3 milhão de pessoas. 

Quilombolas da região do Baixo Tocantins no Pará, criam estratégias coletivas para a promoção da saúde mental

Por Tayna Silva¹ e Tamara Mesquita²

 

É no aquilombamento que as comunidades compartilham práticas de autocuidado. Não há dúvidas que os saberes tradicionais, a cultura e a arte são ferramentas de transformação dentro dessas comunidades. O samba de cacete, por exemplo, é uma das maiores riquezas dentro do território. E é nesse movimento de resistência que as doze comunidades localizadas na região do Baixo Tocantins, no Pará, se movimentam na busca de soluções para melhoria da qualidade de vida.

Contrariando a produção de injustiças que promovem condições desiguais de adoecimento, cuidado, tratamento, recuperação e morte, as comunidades estão pensando soluções coletivas, entendendo as desigualdades e complexidades que atravessam seus corpos e territórios. Como bem ilustra Sandra Martins, parteira e quilombola ribeirinha da comunidade de Pampelônia e uma das representantes da ARQIB – Associação dos Quilombolas de Igarapé Preto à Baixinha: “Nós precisamos combater esse racismo que nunca vai acabar, mas se cada um de nós fizer diferença e assumir quem nós somos, nós vamos humanizar”. 

O racismo que desumaniza e desvaloriza as pessoas por sua origem, cultura e pela cor da pele, naturaliza a violação de direitos, por isso deve ser combatido em ações de promoção à saúde integral (física, mental e espiritual) para a população quilombola, população negra em geral e outras populações tradicionais.

A ausência de uma equipe completa de saúde da família é recorrente dentro das comunidades, que são atravessadas por especificidades de práticas de saúde que desconsideram os saberes comunitários e ancestrais como esse mecanismo de autocuidado entre as pessoas; a participação ativa de seus representantes; o estabelecimento de metas de melhoria e monitoramento dos indicadores de saúde, além de desconsiderar a cultura popular, tecnologias de existência, conflitos agrários e o cotidiano de cada comunidade. Não reconhecer ou valorizar estes elementos singulares, dificilmente a equidade em saúde será alcançada.  Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), a equidade é apontada como o “princípio básico para o desenvolvimento humano e a justiça social” (Viana e col. 2001, p. 16).

Isso nos faz pensar que pautar equidade é ressaltar que o racismo atravessa diretamente as incompletudes da equipe, o que causa consequências danosas à saúde mental tanto dos usuários, quanto dos próprios profissionais da saúde. O racismo que atinge a vida de lideranças e afeta as práticas tradicionais, fazendo com que  desapareçam ou sejam totalmente esquecidas pelas equipes de saúde;  dificulta o amadurecimento das ações, programas, estratégias e das  políticas públicas governamentais de promoção e atenção à saúde das populações tradicionais, em especial  a quilombola

Para Claudelene Rocha, mulher empreendedora, liderança quilombola e uma das coordenadoras da ARQIB, é indispensável valorizar as  práticas ancestrais de cuidado em saúde mesmo após o atendimento médico especializado. Ela conta sobre sua preocupação com o desaparecimento destas práticas, “antes nossos antepassados só sobreviviam através de remédios caseiros e a gente sempre fala que estamos perdendo esses antigos, esses senhores e senhoras, que sabem que no tempo delas […] viviam só de remédios caseiros, só de remédios do mato”. As ferramentas de apagamento da história também são uma das facetas do racismo estrutural e que deve ser combatida dentro de um projeto político, ético e eficaz. 

Dessa forma, considerar equidade como pilar principal para o bem-viver, é reforçar que não há justiça social sem direitos econômicos, sociais, culturais, ambientais e políticos, cuja garantia é responsabilidade do Estado e dos agentes que atuam em diversos setores das políticas públicas, na esfera federal, estadual ou municipal, incluindo o setor da saúde.  

Evidenciar as ausências do Estado enquanto responsável, a partir sobretudo,  do SUS – Sistema Único de Saúde, da garantia do direito fundamental à saúde e bem estar dos indivíduos e dos coletivos, é lançar olhos para a equipe de profissionais que também adoecem nesse sistema que negligencia a realidade quilombola. Como nos conta Joisiane Santo, Agente Comunitária de Saúde – ACS e liderança da comunidade do Trevo da Pampelônia afirma: “eu quero muito que seja visto com muito cuidado a respeito da saúde mental, porque são coisas que vão além. Vai desde a falta de dinheiro para comprar comida. E o que acaba com o psicológico da pessoa, é a falta de poder ajudar alguém. Impossibilitada, às vezes eu me sinto assim, então são vários fatores.”

Assim, a ARQIB,  junto com a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará – Malungu-PA, o Fundo Baobá Para Equidade Racial e uma equipe multiprofissional das áreas da saúde e comunicação, integram este projeto “Saúde Mental Quilombola: Direito, Resistência e Resiliência”, no intuito de impactar diretamente na vida de cada pessoa e junto da comunidade garantir o acesso à saúde, isso será feito através da permanência e da importância das tecnologias ancestrais de existência e reiterando a necessidade do setor da saúde em reconhecer o valor destes saberes e práticas para promover o bem viver das comunidades. 

 

¹ Tayna Silva é comunicadora social e colaboradora da Negritar Filmes e Produções.
² Tamara Mesquita é Jornalista, produtora audiovisual, educadora e comunicadora popular. Hoje integra a equipe da Negritar Filmes e Produções, na função de coordenadora de produção.
Negritar Filmes e Produções é uma produtora de impacto social, composta por pessoas negras.

Primeiro ícone negro da imprensa brasileira, morre no Rio a jornalista Glória Maria

A jornalista Glória Maria, primeira repórter negra a ser conhecida e reconhecida nacionalmente no Brasil, morreu na manhã desta quinta-feira, 2 de fevereiro, no Rio de Janeiro. Glória estava internada desde o início deste ano para tratamento de complicações de um câncer de pulmão que atingiu o seu cérebro.

Glória Maria Matta da Silva era carioca de Vila Isabel e morou também no Méier. Filha de um alfaiate (Cosme Braga da Silva) e uma dona de casa (Edna Alves Matta), trabalhou como telefonista na Empresa Brasileira de Telecomunicação (Embratel) enquanto concluía seus estudos de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio).

A jornalista iniciou sua carreira no Grupo Globo na função de radioescuta no ínício dos anos 1970. A radioescuta é uma função inicial básica da carreira. Como radioescuta, o profissional sintoniza, principalmente, as faixas utilizadas pela polícia para saber em primeira mão o que está ocorrendo e alertar a redação. Sua primeira grande reportagem ocorreu na queda do Elevado Paulo de Frontin, em 20 de novembro de 1971, há 51 anos. Com isso, ela se tornava a primeira repórter negra a aparecer no Jornal Nacional.

A partir daí, Glória passou a ser repórter obrigatória na cobertura dos principais fatos do cotidiano, da cultura, do esporte e da política do Brasil. Entrevistou inúmeras personalidades dos mais variados segmentos. Fez reportagens em visita a mais de 100 países. Tornou-se, também, uma personalidade nacional.

A menina negra, torcedora do Botafogo, que teve sua formação em escolas públicas, queria apenas ser jornalista e não tangibilizava a notoriedade que isso poderia trazer e que ela refutava. Enfrentou o racismo sempre de frente. Em 1981, por ser negra, foi impedida de entrar em um hotel em sua própria cidade. Não teve dúvidas. O ato racista virou matéria que foi para o ar no Jornal Nacional.

Em recente entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ela foi questionada sobre mazelas que o racismo poderia ter causado nela. Glória respondeu: “Hoje, isso não dói. Nessa altura da vida, não posso sentir dor por conta do racismo quer está no outro. Ele que se corroa com seu racismo”.

Glória deixa as filhas Laura e Maria.

Aliança entre Fundos lança site oficial e infográfico com resultados da estratégia inédita no campo da filantropia para justiça social

A Aliança entre Fundos – iniciativa que reúne o Fundo Baobá para Equidade Racial, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental – está lançando o site oficial (aliancaentrefundos.org.br) onde reúne as narrativas sobre os primeiros projetos apoiados pelo grupo em 19 estados brasileiros.  Também está disponível na página o infográfico “Aliança entre Fundos: uma nova proposta de filantropia colaborativa no país”. O documento mostra numa linguagem acessível resultados alcançados ao longo de 2022.

A nova página traz informações estratégicas para que investidores, parceiros/as e sociedade civil entendam como surgiu a iniciativa, o que motivou os 3 Fundos a estarem em aliança e qual o conceito de filantropia colaborativa tem norteado essas ações.

Também fortalece as narrativas dos quilombolas e indígenas, ampliando a visibilidade das ações e estratégias dos projetos apoiados para superar os obstáculos socioeconômicos agravados durante a pandemia da COVID-19. Os primeiros resultados podem ser conferidos no Infográfico disponibilizado no site.

Governança

Ao navegar pelo site da Aliança entre Fundos, entende-se o porquê esta iniciativa oferece um novo caminho para a governança colaborativa no campo da filantropia para a justiça social:  “esta ação colaborativa é inédita por colocar a colaboração como eixo estratégico desde a captação dos recursos financeiros até a governança a fim de alcançar eficiência e potencializar os resultados com foco na transformação social. Unidos no propósito de contribuir para a justiça social, racial e ambiental, criamos um modelo de governança, em constante aprimoramento, com base em esforços e resultados coletivos. Tudo pensado e implementado em conjunto, respeitando as singularidades de operação grantmaker de cada Fundo e a relação que temos com os donatários”, afirmam os 3 Fundos que compõem esta iniciativa.

De acordo com os Fundos, trata-se de uma proposta de longo prazo. “Num primeiro momento, elegemos trabalhar com povos indígenas e quilombolas, vislumbrando reduzir os danos e o impacto das desigualdades agravadas pela pandemia. Sabemos que caminhos colaborativos necessitam de tempo para sua construção; e esta pandemia não é a primeira e nem a última crise aguda que tem ameaçado o mundo e afetado de forma diferenciada essas populações, basta pensarmos no lugar que ocupam as necessidades e expectativas destes grupos na agenda de mudanças e justiça climática”, explicam.

Infográfico

O infográfico “Aliança entre Fundos: uma nova proposta de filantropia colaborativa no país”, disponível no site, mostra como o que foi construído pelos Fundos em aliança, as oportunidades geradas, as inovações e os investimentos. Também mostra o resultado de uma ação inédita de comunicação, liderada pelo Coletivo de Comunicação da CONAQ e Coletivo de Comunicação Mídia Índia. Respectivamente, esses coletivos representam os principais protagonistas da comunicação quilombola e indígena atualmente no país.

A Aliança entre Fundos surgiu em 2021 no âmbito da Rede de Filantropia para a Justiça Social, atualmente identificada como Rede Comuá. A ação estratégica e inovadora foi forjada nas trocas e diálogos entre os Fundos sobre os obstáculos e aprendizados surgidos no fortalecimento da agenda para justiça social durante a pandemia da COVID-19. Atualmente, a iniciativa apoia 78 projetos de comunidades quilombolas e povos indígenas localizados em 19 estados brasileiros.

Navegue no novo site www.aliancaentrefundos.org.br

Conheça o infográfico “Aliança entre Fundos: uma nova proposta de filantropia colaborativa no país” disponível aqui

Saiba mais sobre os Fundos que compõem esta aliança:

Fundo Baobá para Equidade Racial https://baoba.org.br/

Fundo Brasil de Direitos Humanos https://www.fundobrasil.org.br/

Fundo Casa Socioambiental https://casa.org.br/

Conversa com donatárias (os): Evidências da importância do Fundo Baobá na realização de sonhos

Por Ingrid Ferreira

Começar um novo ano é sempre um momento  de relembrar o que foi feito no ano que se passou e desenhar as perspectivas do que está por vir e, dentro de uma organização como o Fundo Baobá para Equidade Racial, isso não poderia ser diferente.  

A missão do Baobá de mitigar os impactos do racismo, ampliando oportunidades para o desenvolvimento da população negra, impõe à instituição uma atuação diversa, que vai do apoio a jovens estudantes para o acesso e permanência em universidades e organizações quilombolas em defesa de terra, direitos, renda, saúde e desenvolvimento sustentável. Apoio a organizações, grupos, coletivos, movimentos que atuam no enfrentamento ao racismo religioso e às injustiças raciais no sistema criminal até as pessoas negras que empreendem.  Compreender como, por meio de diferentes editais, o Fundo Baobá contribui para promover mudanças individuais e coletivas no ano que se findou, influenciando o presente e o futuro, é o objetivo desta matéria.  

Confira as entrevistas com donatárias e donatários dos editais Negros, Negócios e Alimentação; Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial e Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, que foram lançados ou que tiveram sua execução iniciada em 2022.

Conte para nós sobre o seu negócio. 

Edital  Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Rivaneza Silva – Dona Terra – Recife/PE

Somos a Dona Terra, produzimos alimentos fermentados com uso de técnicas ancestrais para enriquecimento nutricional e conservação dos alimentos, como a kombucha, requeijão vegetal fermentado, mel e melitos, iogurtes naturais, biomassa de macaxeira.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas – Paulista/PE

MaMê surgiu em 2017, da necessidade de obter uma renda e participar da educação de meus filhos de perto. Começamos eu e Gabriel, meu filho mais velho, vendendo Brownies e bolos, depois seguimos acompanhando o calendário das festas e participando de feiras e eventos na região metropolitana do Recife. Atualmente a produção e administração da empresa é toda feita por mim. Confeccionamos itens da confeitaria tradicional pernambucana, entre outros produtos doces e salgados sob encomenda ou personalizados para venda em feiras e eventos.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte – Olinda/PE

Trata-se de uma cafeteria que tem como proposta trazer um cardápio de comida afetiva, café especial e atendimento humanizado. Costumo dizer que a cafeteria Xêro Café é um lugar de carinho e afeto.

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

Lucivânia (tia Joana) – Fundadora do Acarajé da Tia Joana  – Recife/PE

O Acarajé da Tia Joana é uma empresa familiar, localizada no bairro da Madalena no Recife. Ele foi fundado há mais de 20 anos pela minha mãe Lucivânia (mais conhecida como tia Joana), na praça da Várzea. Força inspiradora para que eu conquistasse espaços que antes eu achava que não poderia. Mulher negra, recém separada e com dois filhos para criar. Após uns 4 anos, ela recebeu um convite para se mudar para o bairro da Madalena, onde trabalhou mais de 15 anos sozinha. Em 2018, perto de concluir a graduação em Engenharia de Produção, decidi aplicar meus conhecimentos para continuar o legado de minha mãe.

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados – São Lourenço da Mata/PE

O meu  projeto  é o Capibaribe  Doces  e Salgados. Começou  com a venda de lanches  na  rua, mas logo as solicitações de encomendas passaram a ser feitas, então a partir desse desejo dos meus clientes, eu fui me aprofundando  e estudando para  oferecer  o serviço  e atualmente trabalho inclusive com serviços  de buffet.

Conte-nos um pouco sobre o seu projeto.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão

Vanusia Santos –  A Casinha do Licuri – Piatã/BA

A ideia do Projeto A Casinha do Licuri surgiu nas atividades de Cartografia Social realizada na comunidade. O projeto foi escrito com objetivo de valorizar o trabalho das mulheres quilombolas, aumentar a renda e gerar autonomia através da produção de derivados do licuri. Durante o ano de 2022, houve oficinas sobre a potencialidade e a viabilidade econômica dos produtos e cozinha experimental. Foi realizado um workshop de empoderamento feminino e, em parceria com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), realizamos o curso Negócio Certo Rural, que incentivou as mulheres a elaborarem o seu próprio negócio.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II

Francisca das Virgens – Feira das Marias – Feira de Santana/BA

O projeto Feira das Marias tem como principal objetivo fortalecer e fomentar a produção de alimentos realizada por mulheres rurais quilombolas, visando a autonomia financeira feminina. Dessa forma, com o apoio financeiro do Fundo Baobá se tornou possível a realização da Feira das Marias, que é um projeto comunitário. 

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo

Irailda Leandro de Carvalho – Educação Quilombola do Mundo Novo para o Fortalecimento da Identidade Negra –  Buíque/PE

Pretendemos com o Projeto “Educação Quilombola do Mundo Novo para o Fortalecimento da Identidade Negra” construir uma proposta pedagógica de educação  quilombola em conjunto com professores quilombolas, que possuem formação superior, mesmo que não estejam lecionando no território atualmente, com a participação dos mais  velhos, as lideranças e jovens da comunidade, estudantes de graduação que fazem parte no núcleo de estudos da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde, e aplicar as atividades no contraturno da escola. A proposta será vivenciada por professores quilombolas em formação e pelas crianças quilombolas que frequentam a escola localizada no território.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá 

Dario Pereira – Projeto Agogô: o enunciado que faz acontecer – Recife/PE

O “Projeto Agogô: o enunciado que faz acontecer”, é uma iniciativa do Afoxé Omô Nilê Ogunjá, uma associação cultural de tradição afro-brasileira. Em nossa proposta objetivamos a formação da Rede de Vivências Formativas Agogô, sob a perspectiva da Lei 10.639 de 2003, que completa 20 anos de existência (lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio), a partir da articulação de instituições inseridas em contextos formais e não formais, que atuam no enfrentamento ao racismo, na comunidade do Ibura (Recife/PE).

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Associação de Mulheres Negras do Acre e seus Apoiadores 

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Educação na Desconstrução do Racismo – Rio Branco/AC

O nosso projeto vem em resposta a nossa luta pela implementação da Lei 10.639 /11.645 (lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio). O projeto visa sensibilizar e articular parceiros para a criação dos Fóruns de Educação Étnico Racial nos municípios do Acre. Nosso sonho é combater o racismo, o machismo , a homofobia e a intolerância religiosa através da educação, lutamos por isso desde 2003 através de vários movimentos sindicais, CUT, e hoje através da Associação de Mulheres Negras. 

Qual foi a importância de ter o seu projeto selecionado pelo Fundo Baobá e a execução dele no ano de 2022?

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

O apoio do Fundo Baobá foi primordial para que conseguíssemos avançar enquanto negócio, nos possibilitou tirar do papel as ideias para melhoria da produção com a aquisição de equipamentos novos e com maior capacidade, contratar uma consultoria para nos orientar nas diretrizes para implementação de uma unidade de beneficiamento e fábrica de Kombucha de acordo com a legislação. E as orientações para gestão de negócios através da jornada formativa que nos fez repensar e buscar reestruturar nosso administrativo e financeiro para que a empresa caminhe de acordo com as metas que planejamos. A formação possibilitou a construção de uma rede de relacionamentos com os demais participantes do Programa, e nos impulsionou na busca por novas parcerias com pessoas e instituições, o que enriqueceu em muito nossa prática e nos possibilitou um novo olhar sobre o negócio.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Em 2022, devido a algumas dificuldades, eu estava prestes a desistir do negócio. Quando através de amigos, recebi informações sobre o edital Negros, Negócios e Alimentação e me veio a esperança de que dias melhores estavam por vir. A cada etapa que eu passava, pude ter mais certeza que o trabalho tinha que continuar, esse projeto ampliou meus horizontes em vários aspectos. Só o fato de ter sido entrevistada por uma pessoa preta durante a seleção, já me deu uma satisfação e uma sensação de pertencimento, que só confirmavam que o sucesso também nos pertence, me fazendo sentir contemplada mesmo que não chegasse até a etapa final. Toda estrutura do processo formativo, os profissionais envolvidos, poder compartilhar as experiências com os demais contemplados, e tudo que tenho vivenciado, proporcionaram para mim e para o negócio, oportunidades que provavelmente não se apresentariam sem o apoio do Fundo Baobá. Dito isso, não me refiro apenas ao apoio financeiro que é de fato muito importante, principalmente depois do período de pandemia, mas através dessa oportunidade, pude contratar o trabalho de pessoas, seguindo a linha do edital. Priorizando mulheres pretas, pequenos negócios e pessoas da comunidade LGBTQIA+.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte

Foi de grande importância, pois o comércio é um universo que ainda não domino completamente. E com o projeto foi possível fazer uma formação em áreas essenciais para um bom gerenciamento do meu negócio, como a área financeira. Tenho aprendido bastante sobre temas que não tinha muito conhecimento e isso tem me ajudado a organizar minha cafeteria.

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

O Fundo Baobá para o Acarajé tem sido um divisor de águas, o apoio financeiro deu condição ao Acarajé de realizar compras diretamente com fornecedores, pois antes não se tinha em caixa o valor mínimo para efetuar as compras com preço de atacado, o que levou a termos uma margem de lucro maior e, consequentemente, um capital de giro. Além das aquisições com maquinário e utensílios, o que facilita a produção diária dos quitutes. Sem falar do apoio de mentoria que tivemos durante alguns meses, os professores das aulas foram de suma importância para o desenvolvimento e organização da empresa.

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

Quanto a ser selecionada pelo Fundo Baobá, está sendo uma grande oportunidade  na minha vida de empreendedora, tanto no investimento  como nas capacitações.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão 

O Fundo Baobá ter aprovado o nosso projeto em  2022 foi providencial, pois estávamos passando por momentos delicados na comunidade.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II 

A seleção do Projeto Feira das Marias, para nossa instituição revela a importância de iniciativas que possibilitem a geração de renda familiar, fortalecimento de organização comunitária e melhor organização na gestão da instituição.

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo

Eu não tenho palavras que consigam expressar o tamanho da importância de nosso projeto ser selecionado neste edital. E são vários os motivos que me possibilitam dizer o quanto foi, é, e será importante conseguir chegar até aqui. Primeiro, o tema tem a nossa cara porque há alguns anos estamos lutando por educação escolar quilombola no território. Não conseguimos até agora sensibilizar o poder público para acessar esse direito. Segundo, acreditamos que a nossa liberdade acontecerá quando todos tivermos acesso a educação formal de qualidade e específica quilombola para ocupar os postos de poder da sociedade. Terceiro, construir a identidade quilombola das nossas crianças e jovens, passando pelo conhecimento da força e da história dos nossos antepassados. Quarto, a política pública, garantida por lei, demora décadas para chegar até nós,  precisamos sempre procurar outros caminhos e esse edital nos oferece todas essas possibilidades para driblar o sistema, duelar com o racismo institucional e estrutural da sociedade brasileira e oferecer oportunidades ao povo preto quilombola do Mundo Novo, em Buíque-PE.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá

A nossa instituição vem trabalhando no desenvolvimento de ações educativas que exaltam a cultura, história e identidades negras. Nesse sentido, o projeto contribui para o fortalecimento de ações de enfrentamento ao racismo, articulando grupos coletivos e instituições de educação formal e não formal, empoderando a cultura e identidade afro-brasileira, além de promover a articulação entre instituições, na comunidade do Ibura (Recife/PE). 

Quais são as expectativas para o ano de 2023?

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Nesse ano de 2023 a meta é finalizar a fábrica e unidade de beneficiamento, faltam 30% para deixar o espaço estruturado, posteriormente seguir com as licenças e aumentar a produção. Planejamos aumentar nossa presença nas redes, espalhar nossa filosofia e inspirar uma alimentação saudável e consciente.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Para 2023, além da ampliação do negócio, também pretendo garantir a presença da Mamê Comidinhas na elaboração de ações que estejam ligadas ao incentivo do empreendedorismo preto e/ou indígena e de pessoas da minha comunidade.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

As expectativas para 2023 são as melhores possíveis. Tenho certeza que, com o que aprendi até o momento, poderei organizar melhor meu estoque, fichas técnicas de produtos, meu fluxo de caixa, entre outras coisas, além de otimizar meu tempo para alavancar as vendas e me tornar mais conhecida na área de cafeteria. 

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

A expectativa para esse ano de 2023 é que possamos continuar aplicando tudo o que foi adquirido em questão de conhecimento com as mentorias que o Fundo Baobá nos proporcionou e não parar por aí. Ir em busca de mais conhecimentos e novidades para que o nosso negócio venha alavancar ainda mais.

Maria da Paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

E para  o ano de 2023 continuarei trabalhando e crescendo para melhorar cada dia mais a minha vida e da minha família.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão 

O ano de 2023, com certeza será um ano marcante para o projeto. Agora no mês de janeiro será o lançamento dos nossos produtos “Balai, o licuri da Bocaina”, na feira da VII Jornada de Agroecologia da Bahia. Ainda este ano iremos levar o projeto de lei de preservação da área de licuri para a câmara de vereadores do município de Piatã.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II

Para o ano de 2023, estamos com o propósito de aumentar nossas atividades produtivas, ampliando a feira para os formatos virtual e presencial, assim como criar fundos de trocas de produtos da roça, a exemplo de aproveitar as frutas sazonais para fazer polpas, bem como sementes naturais existentes na comunidade. Com isso, objetivamos dinamizar a produção e comercialização da comunidade, proporcionando melhor geração de renda para as Marias do Quilombo.

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo  

As expectativas são muitas, 2023 será o ano de receber as maiores parcelas do recurso para investir e colocar em prática as principais ações do projeto. O meu principal compromisso será com o sucesso do trabalho.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá 

Desenvolver nossas ações educativas com estrutura financeira, para materializar produtos e ferramentas que edifiquem a formação de uma rede de produção de conhecimento anti-racista, que constam nas diretrizes da lei 10.639/03.

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Associação de Mulheres Negras do Acre e seus Apoiadores 

Em 2023 pensamos em executar o projeto e consolidar o nosso sonho. Acabamos de realizar a Jornada de Formação em Gênero e Raça em todos os municípios do Acre. Nosso projeto consiste em sensibilizar gestores e movimentos sobre a necessidade da implementação da Lei 10.639 da forma correta, através de ações online e algumas presenciais. Criar parcerias e formar um comitê de criação dos fóruns municipais, realizar um seminário estadual com dois representantes por município, dos que criarem os Fóruns. Nesse processo vamos fortalecer lideranças negras no protagonismo de combater o racismo através da educação. Essa é a nossa luta pela vida e direitos das mulheres.

Tendo a possibilidade de falar em um local acolhedor sobre suas vivências, algumas das pessoas donatárias dos editais sentiram-se à vontade para complementar as suas respostas, falando sobre os seus sentimentos ao participar dos editais do Fundo Baobá. Confira abaixo: 

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Gratidão por todo apoio e que mais empresas de sucesso se inspirem em apoiar projetos que possibilitem a transformação na vida das pessoas.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Quero agradecer a todes envolvides, sejam pessoas ou empresas pela oportunidade, exaltar a organização e estrutura do projeto, que traz para o povo preto, mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIA+, a possibilidade de se potencializar e potencializar seus negócios, gerando emprego, renda e a acima  de tudo combater o racismo e o preconceito. 

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

Quero dizer o quanto fiquei impressionada e satisfeita com o tratamento que recebemos de todos os profissionais que fazem o Fundo Baobá. A atenção recebida, o material disponibilizado, as dicas. O aprendizado que adquirimos vai do campo profissional ao campo pessoal e isso é algo que não tem preço.

Edital Quilombolas em Defesa

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II 

A partir da realização da Feira das Marias na Comunidade Quilombola de Candeal II, percebemos a importância de atividades como essa para contribuir para o fortalecimento da identidade quilombola. Com isso, notamos a necessidade de ampliar a discussão sobre o reconhecimento do território quilombola para as demais comunidades que compõem o distrito de Matinha, em Feira de Santana, visando o fortalecimento e preservação de todo território quilombola de Matinha.

Baobá na Imprensa 

Por Ingrid Ferreira

No mês de novembro e dezembro de 2022 o Fundo Baobá para Equidade Racial teve presença notável na mídia a começar pela participação de Hélio Santos, membro da Assembleia Geral do Baobá, no Programa Roda Viva da TV Cultura, sendo notícia no Portal TV Streaming, O Universo da TV, Africas e Z1 Portal. A TV Cultura também contou com a participação da Diretora de Programa, Fernanda Lopes falando, entre outros temas, sobre como as políticas afirmativas podem trazer grandes transformações para a população negra no Brasil e para o país como um todo.

A Diretora de Programa também foi citada pelo Jornal da USP na matéria “Medicina da USP participa de edição especial de revista científica discutindo racismo e xenofobia na saúde”, no evento que lançou a série de materiais desenvolvidos por pesquisadores brasileiros e internacionais debatendo a saúde a partir de uma perspectiva humanizada.

O Jornal Dia Dia, Times Brasilia, Geledés, Observatório do Terceiro Setor e a Revista Raça noticiaram o lançamento do nosso edital em materias intituladas “Fundo Baobá e MOVER investem R$ 4 milhões em educação tecnológica visando ampliação de oportunidades para a população negra”. E o site Ponto da Pauta mencionou um dos projetos apoiados pelo Fundo Baobá no edital  “Vidas Negras, Dignidade e Justiça”.

O Fundo Baobá esteve presente na COP 27 que aconteceu no Egito e foi mencionado nas publicações dos seguintes veículos: D24am Amazônia, Clima Info, Fundação Amazônia Sustentável, Amazonas Notícias, Fato Amazônico, Tupi.fm / 96.5, Portal Amazônia, Correio Paraense, Nexo Jornal e Mercado de Notícia.

A Rede Comuá publicou a matéria “O metaverso da Filantropia: construindo realidades transformativas a partir de justiça social”, e dedicou uma página para falar a respeito do Baobá como parceiro, além de mencionar o Baobá na publicação “Aliança entre Fundos: por uma outra filantropia colaborativa em construção no Brasil”; o site Brasil 247 mencionou o Baobá na matéria “Transição sem retrocesso” e a General Mills mencionou o Fundo como seu parceiro em seu site oficial.

A Imaginable Futures citou o edital “Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial” na publicação Renovando Nosso Compromisso com a Equidade Racial no Brasil. O edital é uma parceria entre a Imaginable, Fundação Lemann e Fundo Baobá e também foi citado pelo Portal C3.

O Estadão e o site Head Topics publicaram a matéria “Fundo Baobá: Investimento em equidade racial não é aposta, é respeito”. Na matéria o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, fala sobre investimento social privado e a agenda da equidade racial. Giovanni também foi mencionado pelo Mundo Negro como um dos palestrantes na “1ª Conferência Empresarial ESG Racial”.

O blog Juruá Online, mencionou o Fundo Baobá como um dos integrantes da Aliança Entre Fundos no título “Com sistema agroflorestal, indígenas apostam em projeto para recuperar 305 hectares de área degradada no AC”. E a Gabacom citou o Fundo como uma das três organizações de enfrentamento ao racismo no Brasil para conhecer.

O Insper comunicou a participação de Hélio Santos no debate “Persistência histórica da desigualdade racial”. O Meio e Mensagem referiu-se ao Fundo como uma das 11 instituições que apoiam e incentivam os negócios de pessoas negras. A Folha referiu-se ao Baobá em seu matéria “Estados mais ricos veem desequilíbrio de renda entre negros e brancos piorar”.

O Clube de Criação, ND Mais, Revista Marie Claire e Vermelho comunicaram o título de Personalidade do Ano” recebido por Sueli Carneiro, Presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. 

Apoiadas do Fundo Baobá:

O site Todas as Notícias apresentou o livro “História Social da Beleza Negra” escrito pela Giovana Xavier, uma das mulheres apoiadas pelo Baobá no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras Marielle Franco. A Casa da Cultura de Canaã dos Carajas em seu evento Cinema na Casa, exibiu o documentário  “Não Serei Interrompida”, projeto apoiado pelo Fundo.

O Centro Feminista de Estudos e Assessoria divulgou o Lançamento – Racismo, Violência e Estado: Três faces, uma única estrutura de dominação articulada, realizado por CRIOLA com financiamento do Baobá no edital Vidas Negras. A Casa da Cultura de Canaã dos Carajas em seu evento Cinema na Casa, exibiu o documentário  “Não Serei Interrompida”, projeto apoiado pelo Fundo.

Na Coletiva Negras que Movem, foram publicados os seguintes artigos: “A hora é agora! Apoie a realização do 1º Festival Pernambucano de Literatura Negra” da autora Jaqueline Fraga e “Fim do pesadelo: Mulheres Negras e as eleições presidenciais” escrito por Josi Souza.

“Brasil volta a ser território no qual todas as expressões democráticas terão fala”

Giovanni Harvey, diretor Executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial, acaba de retornar da edição 2023 do Fórum Social Mundial, realizada entre 23 e 27 de janeiro na cidade de Porto Alegre (RS). Harvey participou de várias edições do FSM, no Brasil e no exterior. Neste ano, o tema principal do FSM foi o envelhecimento da população mundial.  

Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) dão conta de que em 2047 (menos de 25 anos), o mundo terá 2 bilhões de pessoas com 60 anos ou mais. Esse número, ainda com base em estimativas da ONU, vai saltar para 3,1 bilhões de idosos em 2100, o que vai significar 30% da população em todo mundo. A reviravolta da pirâmide etária criou o que o mercado publicitário classificou como “Gray Power” (Poder Grisalho, em português). São as pessoas com 50 anos ou mais, hoje representando quase ¼ da população do planeta.

Lançando um olhar mais específico sobre o Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, pessoas com 60 anos ou mais representavam 14,7% da população. Isso era o equivalente a 31,23 milhões de pessoas.  Desse total, 48% são pessoas idosas negras. 

O principal fator para o envelhecimento da população é a queda na taxa de natalidade. Porém, por mais paradoxal que possa parecer, o decréscimo na taxa de natalidade está ligado a um fator positivo: o aumento da longevidade das pessoas. Dentro de 77 anos, portanto em 2100, a expectativa de vida no mundo vai subir para 82 anos. No Brasil, essa mesma expectativa será de 88 anos. Portanto, alcançar objetivos será algo mais tangível. Mas essa longevidade também poderá marcar um compromisso mais extenso de contribuição das pessoas no que se refere aos avanços sociais.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE, a população idosa no Brasil no segundo semestre de 2022 era de 31,7 milhões de pessoas. Entre essas 31,7 milhões, 48% são pessoas idosas negras. Devido às discrepâncias sociais que ocorrem e marcam a existência negra, nem todas as pessoas pretas têm experienciado o direito de envelhecer. A culpa por isso está no racismo estrutural, tão arraigado na sociedade brasileira. Além disso, fatores discriminatórios como dificuldade de acesso a serviços de saúde pública, o machismo, atendimento discriminatório nos locais que prestam atendimento em saúde e a falta de políticas públicas protetivas para a população negra contribuem para mortes precoces e para o não envelhecimento negro. 

O  diretor, um homem de 59 anos, falou um pouco sobre  as  perspectivas de fortalecimento e incidência dos movimentos sociais tendo em vista o cenário político e social que se desenha no Brasil para os próximos anos. 

O que o Fórum Social Mundial significa para você?

Giovanni Harvey – O Fórum Social Mundial é uma das principais plataformas de articulação, mobilização e troca de experiências por parte dos movimentos sociais, tanto sob o ponto de vista nacional quanto sob o ponto de vista internacional. A realização do FSM em 2023 foi produto do esforço de várias pessoas e instituições que tiveram o entendimento de que era preciso dar uma inequívoca sinalização para os movimentos sociais que o ambiente, de fato, mudou e o Brasil voltou a ser um território no qual todas as expressões sociais democráticas terão espaço para fala e serão ouvidas. O diálogo e a troca de experiências entre as gerações será imprescindível para alcançar as mudanças que queremos. 

O Fundo Baobá participou de alguma atividade específica?

Giovanni Harvey – Sim. Fomos convidados para participar da mesa “Lutas Antirracistas, Populares e Periféricas”, que aconteceu em 26 de janeiro. A mesa reuniu várias expressões do movimento negro e do movimento indígena. Ativistas de várias gerações, gêneros e origens territoriais. O Fundo Baobá mantém estreitos laços com os movimentos sociais desde que o “grupo impulsor”, responsável pela sua fundação, articulou-se há 15 anos. A instituição participa de várias redes e dialoga com todos os setores do movimento social negro e tem buscado garantir, por meio de seus editais,  que os recursos alcancem as comunidades e as periferias. 

Qual é o papel do Fundo Baobá neste contexto?

Giovanni Harvey – O papel institucional do Fundo Baobá é financiar iniciativas lideradas por pessoas, movimentos sociais, coletivos e instituições negras que fazem a luta cotidiana de enfrentamento ao racismo e promoção da equidade racial. A retomada das políticas públicas de Promoção da Igualdade Racial, das Políticas para as Mulheres e todas as demais políticas públicas de promoção e garantia dos Direitos Humanos nos impõe uma reflexão sobre a natureza das demandas que iremos priorizar, dentro do entendimento de que o Fundo Baobá não deve concorrer com as políticas públicas existentes e sim contribuir para o fortalecimento das demandas sociais que ainda não foram contempladas, inclusive aquelas que são apresentadas há anos, por pessoas que iniciaram seu ativismo na década de 1970, 1960, e que hoje são idosas. O reconhecimento destas demandas amplia e qualifica o enfrentamento e define estratégias de superação do racismo, nas mais variadas dimensões da vida social.

Retrospectiva de 2022 do Fundo Baobá para equidade racial

Por Ingrid Ferreira

Ano novo pode significar novas oportunidades, novas chances, novas metas, mas olhar para o ano que se despede e analisar os desafios superados, as mudanças experimentadas, os acontecimentos e feitos que o marcaram, é crucial. É  nesse clima de ano novo que o Fundo Baobá para Equidade Racial relembra alguns dos momentos importantes para a instituição no ano de 2022.

Já no começo do ano, o Fundo passou por uma grande mudança, com Sueli Carneiro assumindo a presidência do conselho deliberativo da organização, e Giovanni Harvey assumindo como Diretor Executivo

Giovanni representou o Fundo Baobá na “Live do Valor”: “Engajamento com causas é tendência no setor”. E o Fundo também foi destaque nos canais de televisão Globo Roraima e SBT Pará ao falar sobre o edital Negros, Negócios e Alimentação. Ainda na televisão, o Baobá foi representado pela Diretora de Programa, Fernanda Lopes, no programa Estação Livre, da TV Cultura falando sobre equidade racial em várias áreas.

Em 2022, dois editais foram lançados pelo Fundo Baobá: O  Negros, Negócios e Alimentação, voltado para o apoio de empreendimentos gastronômicos de Recife e Região Metropolitana e o Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que apoia iniciativas de enfrentamento ao racismo e consolidação de práticas de promoção da equidade racial no setor Educação (espaços formais e não formais). 

Alguns editais foram iniciados e outros continuados em 2022. O Quilombolas em defesa, teve seu “Primeiro Encontro com Organizações Selecionadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça”; o Programa Já é teve atividades presenciais; assim como participaram de um encontro presencial realizado em REcife/PE, donatárias (os/es) do edital Negros, Negócios  e Alimentação, a equipe do Fundo Baobá e da Futuros Inclusivos. 

Também estivemos presentes no evento da comunidade quilombola Associação dos Moradores Amigos e Amigas da Fazenda Santa Justina no Rio de Janeiro; e terminamos o ano no interior no Pará, com a primeira atividade do projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência.

O Fundo Baobá deu segmento ao seu projeto do Círculo de Doação liderado por pessoas negras no Brasil, fortalecendo a importância do ato de doar para transformar e promover justiça social. Em 2021, o resultado de nossas ações de captação junto a indivíduos foi uma arrecadação de R$ 276.889,46 — (US$ 49.822,66).

O Fundo também fechou uma parceria com o MOVER, Verizon, Imaginable Futures (apoiador do edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial), Fundação Lemann (apoiador do edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial), Wellspring, Silicon Valley e com a Johnson & Johnson (apoiador do projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência). 

O Baobá filiou-se ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas),  organização  que congrega 160 associados. A filiação levou o Baobá a ser convidado para a COP 27,  que aconteceu no Egito. A Diretora de Programa, Fernanda Lopes, esteve presente em duas mesas, sendo a “#PhilanthropyForClimate: Um movimento global da filantropia para enfrentar a crise climática” e no Debate sobre mulheres na ação climática,   que abriu as atividades do Brazil HUB na COP 27. O site Brazil Climate Hub também disponibilizou material com avaliações sobre os resultados da Conferência do Clima do Egito. O Fundo Baobá aderiu ao movimento global sobre filantropia para mudança climática, reiterando que, no Brasil, a população negra, os povos originários e outros grupos racializados, são os que mais perdem com as injustiças climáticas, por isso a importância estratégica de incorporar mais esta dimensão entre as prioridades de investimento programático. 

O ano também foi marcado pela doação da filantropa Mackenzie Scott, que destinou um aporte financeiro de US$ 5 milhões para o Fundo Baobá, doação que gerou grande repercussão na mídia nacional e internacional e deflagrou, no ecossistema de investimento social privado nacional, uma reflexão sobre confiança, movimentos disruptivos no exercício do poder econômico e filantropia.

População quilombola do Pará será priorizada em projeto de promoção da saúde mental

Por Wagner Prado

O Fundo Baobá para Equidade Racial, com apoio da  Johnson & Johnson, deu início a uma ação colaborativa em torno de comunidades quilombolas do estado do Pará. O projeto, intitulado Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência, foi elaborado frente a uma demanda da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e juntou, pela primeira vez, uma equipe multidisciplinar que vai atuar em 12 comunidades da região Tocantina com a missão de promover a educação em saúde, fortalecer as estratégias de resistência e resiliência nessas comunidades negras quilombolas. 

Equipe multidisciplinar montada pelo Fundo Baobá no aeroporto Val de Cans, em Belém (Pará) – Crédito: Tay Silva

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil há  5.972 comunidades quilombolas. O número exato será divulgado quando forem  revelados oficialmente os dados do Censo 2022, cuja coleta de dados foi encerrada em 31 de dezembro. Até agosto, porém, os números já coletados pelo IBGE indicavam três estados liderando o contingente populacional quilombola no Brasil: Bahia, com 116.437 pessoas; Maranhão, com 77.683 e Pará, com 42.439. 

A equipe multidisciplinar conta com profissionais das áreas de Enfermagem, Psicologia, Jornalismo, Publicidade, História, Administração e Direito. Profissionais do Pará juntaram-se e, no mês de janeiro, darão início às ações que vão acontecer até o mês de maio de 2023. A região Tocantina abrange as seguintes localidades: Abaetetuba. Acará, Baião, Barcarena, Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba, Moju, Oeiras do Pará, Tailândia e Tucuruí, o equivalente a, aproximadamente, 35 mil km2. 

O projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência objetiva promover o protagonismo e a soberania quilombola em defesa de sua cultura, tradições e saberes. Para isso, faz-se necessário e essencial a adoção de políticas públicas governamentais e não governamentais também, principalmente políticas como essa estabelecida pelo Fundo Baobá  e apoiada pela Johnson & Johnson, que possam fortalecer as comunidades formadas pela população quilombola. 

O líder quilombola Magno Nascimento, representante do Quilombo África,  é coordenador de projetos da Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará – MALUNGU, organização que vai articular toda a ação que será feita no campo. Magno ressalta a importância do projeto.  “Discutimos muito para qual território faríamos a parceria. Tivemos casos de suicídio na região em que o projeto vai  ser aplicado. Em meio à pandemia, mas também devido ao empobrecimento, houve muita dificuldade de deslocamento e tudo. As comunidades quilombolas da região Tocantina estão entre as que têm a menor assistência por parte do Estado. Por muitos motivos. Porque é uma pena dizer isso, mas o estado do Pará sempre teve esse tamanho desde que o Brasil é Brasil. Não sabemos por que os políticos vivem alegando dificuldade logística e limitação de recursos. Na prática, isso é o racismo institucionalizado e muito latente contra os direitos dessa população. Esse trabalho que será feito vai ser muito importante para reverberar, como denúncia, aquilo que nós, infelizmente, passamos”, afirmou.   

A diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, enaltece a importância das comunidades para o alcance dos resultados esperados. “Trata-se de uma iniciativa que vai contribuir com as estratégias de resistência da comunidade e, ao mesmo tempo, promover saúde, estimular e valorizar as diferentes práticas de cuidado. Todas as pessoas importam. O projeto também reforça o que chamamos de força de trabalho em saúde pública, que não é composta  só por pessoas com nível superior de ensino. Envolve as parteiras, benzedeiras, agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem, técnicos, aquelas pessoas que fazem comunicação para promover saúde. Usar a arte e a educação, junto à comunicação, para democratizar o acesso à informação em saúde é muito importante”, afirmou. Ao longo da execução da ação, espera-se que, além da melhoria da qualidade da saúde mental,  núcleos de influência sejam formados ou fortalecidos nas comunidades, núcleos que saibam ainda mais sobre o direito à saúde, reivindiquem por acesso e melhores serviços   para a população quilombola.”, completou Lopes.

A fala da diretora do Fundo Baobá vai ao encontro do que é descrito pelo estudante de  Enfermagem Djalma Pereira Ramalho, que trabalha como técnico na Unidade Básica de Saúde na comunidade do Igarapé Preto. Djalma, que também é secretário de Cultura da  Associação dos Remanescentes Quilombolas de Igarapé Preto a Baixinha (ARQIB), iniciou na saúde a partir de conhecimentos práticos que depois foram incrementados com uma formação técnica. Atualmente ele também se dedica ao ensino superior na área de enfermagem e obstetrícia. “Quero continuar meu trabalho aqui na comunidade, porque fomos abandonados aqui, principalmente no período da Pandemia. Acredito muito nessa ação. Ela vai dar um norte sobre os primeiros passos que devemos dar com relação à melhora da saúde. A nossa integração, como profissional, como o conhecimento daqueles que vêm com o conhecimento técnico, vai melhorar bastante a situação da saúde aqui”, afirmou Djalma Ramalho.

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Primeira Pessoa

Até chegar à Comunidade Quilombola do Igarapé Preto, uma das 12 que fazem parte da Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto a Baixinha (ARQIB), eu nunca havia pisado em um quilombo, embora a trajetória do povo preto, meu povo, esteja ligada a eles. Para chegar lá, percorremos 265km de Belém à cidade de Baião, que fica às margens do Rio Tocantins. Baião é uma cidade pequena, com menos de 50 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Representantes quilombolas reunidos na comunidade do Igarapé Preto com equipe multidisciplinar montada pelo Fundo Baobá

Para quem é urbano e criado em São Paulo, maior cidade do país, algumas coisas acabam não fazendo parte do nosso cotidiano, como fazer a travessia de um rio. E que rio é o Tocantins! Um mundo de água. Já estávamos em uma das margens antes da 6h da manhã. A travessia duraria uma hora. A temperatura era agradável, o que dava um sabor meio romântico àquela travessia em uma balsa de nome Camila. 

Quando alcançamos a margem oposta, fizemos um percurso de mais 30 minutos de carro por uma estrada de terra batida. A sede da ARQIB, que fica na comunidade de Igarapé Preto, tem um grande galpão, que logo soube ser uma construção quase comum nos quilombos. É no galpão da Associação que são feitas as reuniões, os comunicados que devem ser ouvidos e sabidos por todos e as grandes festas. A nossa chegada estava envolta em um clima de festa. As lideranças das comunidades atenderam de pronto ao chamado da ARQIB. 

Conversa no Galpão da Comunidade do Igarapé Preto, em Baião (Pará)

Fomos recebidos com um super e calórico café da manhã: sucos de cupuaçu e maracujá; bolo de chocolate, mandioca cozida, pão de queijo, bananas colhidas na plantação do local. Enfim, uma verdadeira festa. E como a conversa iria ser longa, o negócio foi comer bem para conseguir aguentar até a hora do almoço. 

A conversa para levantar as expectativas das lideranças comunitárias quilombolas sobre a ação de saúde foi bem produtiva. As experiências vividas por eles no período mais forte da pandemia da Covid-19 foram expostas e vão servir para balizar o que será feito na implantação da ação Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência. Os quilombolas tiveram perdas irreparáveis por conta da dificuldade de acesso ao teste diagnóstico, aos serviços, ao tratamento, aos kits de higiene e proteção individual, da demora em receber a vacinação.

Enquanto a conversa sobre experiências, expectativas e diretrizes acontecia, na cozinha o trabalho corria a todo vapor. Um feijão com mocotó foi preparado, com arroz branquinho, macarronada, guisado de pato e farofa. Difícil foi conter o sono depois de comer tudo isso, que estava muito bom. 

Deixamos a comunidade do Igarapé Preto por volta das 16h para retornar a Belém. A gama de informações colhidas foi muito grande. Ficam a expectativa da volta ao Pará para rever as pessoas e dar início às ações do projeto. Que será gratificante, não tenho a menor dúvida! 

Equipe multidisciplinar inicia projeto sobre saúde mental quilombola na tríplice fronteira nos municípios de Baião, Oeiras do Pará e Mocajuba

Equipe multidisciplinar inicia projeto sobre saúde mental quilombola na tríplice fronteira nos municípios de Baião, Oeiras do Pará e Mocajuba.

por Tayna Silva*

 

Com o intuito de promover saúde, em seu sentido mais amplo, nas comunidades quilombolas, a principal estratégia é a composição multidisciplinar da equipe de execução do projeto. Os principais eixos podem ser entendidos como: 1) saúde mental; e 2) comunicação popular. Entendendo que a nossa saúde mental é atravessada por ações coletivas e individuais, diretas e subjetivas, serão realizadas atividades de fortalecimento das estratégias de  desenvolvimento comunitário e outras que  interseccionam comunicação, prevenção de doenças e agravos, proteção dos direitos e cuidados em saúde integral da população.

O projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência, como  conta Fernanda Lopes, diretora de programa do Fundo Baobá para Equidade Racial, “surge frente à necessidade de  enfrentamento ao racismo estrutural e considerando os impactos da pandemia da COVID-19. A pandemia traz um efeito duradouro, agrega novos desafios às comunidades que já vivenciavam a ausência do Estado brasileiro”. A diretora  reforça que o objetivo do projeto é, também, potencializar a compreensão de que as comunidades “têm uma fortaleza, os muitos desafios podem ser redimensionados e convertidos em experiências de transformação. Para mitigar os riscos e impactos psicossociais, as respostas da própria comunidade precisam ser consideradas”.

Bianca Santos, psicóloga clínica e social que integra a equipe do projeto, chama a atenção para a abordagem sobre saúde mental nessas comunidades e afirma que vai para o território com a expectativa de entender “o que significa saúde para eles, pois a saúde que a gente entende como saúde mental […] pode não fazer sentido, já que o significado de saúde é muito diverso. Saúde pode ser um rio, pode ser a floresta, pode ser tomar café na porta da casa dos vizinhos” e acrescenta que a psicologia tem o compromisso político e não colonizador de “não levar os preceitos que a gente entende e constrói na academia para o território. Afinal, o território possui suas próprias dinâmicas, seus próprios saberes e saúde é, necessariamente, considerar tudo isso”. A fala de Bianca afirma o compromisso coletivo de fazer com que o projeto seja, acima de tudo, um espaço de respeito à diversidade, às comunidades e saberes ancestrais que irão atravessar todos os espaços de execução.

É nesse sentido que Magno Nascimento, liderança quilombola do Quilombo África e coordenador de projetos da Malungu-PA, nos conta sobre a expectativa da ação em amparar a comunidade, mas também, e sobretudo, de chegar a outras camadas sociais, onde a expectativa é que “seja principalmente benéfico para a comunidade, uma vez que é um projeto que permite entender a realidade local e realizar controle social, e advogar por direitos”. 

 

Encontro realizado em 17 de dezembro de 2022 no Pará,  com as lideranças das comunidades quilombolas de Igarapé Preto, e membros das equipe multidisciplinar envolvida no projeto.

 

O projeto se volta para as 12 comunidades quilombolas que hoje fazem parte da ARQIB – Associação dos Remanescentes Quilombolas de Igarapé Preto e Baixinha, instituição com aproximadamente 2 mil associados, que integra comunidades quilombolas localizadas em 3 municípios do Pará: Baião, Oeiras do Pará e Mocajuba, o que alcança um entorno de 3 mil famílias, com sede em Igarapé Preto, onde acontecem as principais organizações e mobilizações entre as comunidades. A Associação é quem detém o título coletivo de posse que alcança as 12 comunidades em volta. É um espaço de integração fortalecido, sobretudo, durante o período pandêmico, onde casos alarmantes de restrição de acesso à saúde básica e mobilidade fizeram com que as comunidades registrassem números altos de mortalidade e sequelas da COVID-19, ao passo que se aproximaram e tiveram um amadurecimento de articulação interna, criando tecnologias de sobrevivência frente ao que estava acontecendo, como as barreiras estruturadas e fiscalizadas pelos próprios moradores, e que foram estratégia focal na proteção coletiva; ações que hoje impactam diretamente na saúde mental e bem viver dos moradores.

Em entrevistas com lideranças locais, foi possível compreender que, fruto da articulação direta com o território, o projeto tem expectativas positivas dada à boa receptividade na comunidade. Para Marinilva Martins, presidenta da ARQIB, o projeto chega em um momento importante para as comunidades e afirma: “trabalhar na organização desse projeto, junto com o Fundo Baobá, é muito importante para o nosso território e tenho certeza que isso vai ajudar muito a nos fortalecer como pessoa, como mulher, como liderança”. E em complemento da fala de Marinilva, Sandra Martins, parteira e quilombola ribeirinha da comunidade de Pampelonha e representante da ARQIB no seu território, também nos conta a expectativa diante do projeto e diz que é “ver algo no futuro melhorar, que a gente vai começar que nem um bebê, e a gente já começou a querer levantar com vocês trazendo o projeto aqui pra nós […] e a gente vai chegar lá, falando bonito do projeto que a gente começou. A expectativa é de dias melhores”. 

E assim o projeto vem tecendo as primeiras construções, no intuito de promover educação em saúde mental e contribuir para estratégias de resiliência em comunidades que compõem a Associação dos Remanescentes de Quilombo de Igarapé Preto e Baixinha, região Tocantina, estado do Pará, fortalecendo lideranças comunitárias, ampliando canais de diálogo que fortaleçam a democratização do acesso à informação sobre direito à saúde e contribuam com estratégias de promoção da saúde mental e resiliência comunitária. Ressaltando que somente junto das comunidades que lutam, resistem e constroem diariamente seus territórios é que todo o processo de execução irá acontecer, fortalecendo nossos fazeres, mutuamente tecidos e compartilhados, afirmando que a garantia de saúde e vidas quilombolas é uma necessidade e dever coletivo que não podem ser negligenciados. É uma questão de justiça. 

*Tayna Silva é comunicadora social e integrante da equipe da Negritar Filmes e Produções, produtora de impacto social, cultural e ambiental da Amazônia, que é parceira do Fundo Baobá na implementação do projeto  “Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência”.



Conheça as organizações selecionadas e os seus projetos

Por Wagner Prado

Projetos de 8 estados brasileiros e Distrito Federal, representando 12 organizações, grupos e coletivos negros estão selecionados pelo edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. As organizações selecionadas representam os estados do Acre e  Amapá (Norte); Bahia, Ceará e Pernambuco (Nordeste); Goiás (Centro Oeste); Rio de Janeiro (Sudeste); Rio Grande do Sul (Sul) e o Distrito Federal. Todas, ao longo dos próximos 18 meses, vão desenvolver projetos  que têm como ponto comum o combate ao racismo na Educação. O edital Educação e Identidades Negras: Politicas de Equidade Racial é uma iniciativa do Fundo Baobá, que tem como apoiadores na iniciativa a Imaginable Futures e a Fundação Lemann. 

O enfrentamento ao racismo por meio de políticas, ações e programas governamentais e não governamentais; a valorização da cultura das identidades negras, e o aumento de pessoas negras nos espaços de decisão e poder dentro do setor formal e não formal da educação, são as metas do edital. A Imaginable Futures e a Fundação Lemann, parceiros do Fundo Baobá, fizeram, em conjunto, um aporte de R$ 2,5 milhões no edital para que as 12 selecionadas recebam, cada uma, R$ 175 mil.  O recurso restante será utilizado na realização de atividades formativas, assessoria técnica e reuniões de ajustes. para ajustes e trocas de experiências. Todas essas atividades serão promovidas e coordenadas pelo Fundo Baobá. 

Perfil dos Selecionados

Há uma grande diversidade quando são pinçados os dados que fazem a composição das 12 organizações selecionadas pelo edital. Como dito acima, elas fazem parte de 8 estados brasileiros mais o Distrito Federal. Se formos analisar o tempo de atividade de cada uma, vamos encontrar, 2 (duas) delas já têm mais de 16 anos de atuação (Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá e Pesquisadores e Associação Retratores da Memória de Porteiras); 3 (três) atuam entre 11 e 15 anos (Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadores – Anpsinep, Cineclube Bamako e Coletivo Negro(a) Tia Ciatá; 5 (cinco) atuam de 6 a 10 anos (Associação de Mulheres Negras do Acre e Seus Apoiadores, Centro Comunitário de Audiovisual Luiz Orlando, Coletivo Atinúké, Movimento Nação Marabaixeira e Ponto de Cultura Grupo EX 13) 2, finalizando, 2 (duas) estão constituidas e atuam de 2 a 5 anos (Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo e Oficina de Inovação e Ancestralidade). 

Olhando o recorte da influência geográfica, 3 (três) desenvolvem suas atividades de forma nacional; uma concentra seu trabalho em uma região do Brasil; cinco trabalham em seus estados de origem e três especificamente nos municípios em que estão localizadas. Com relação ao perfil do corpo diretivo, oito têm pessoas com 30 anos ou mais no seu corpo diretivo; três têm equilíbrio entre jovens (29 anos ou menos) e adultos (30 anos ou mais) e uma tem corpo diretivo composto por jovens (29 anos ou menos). 

No quesito gênero, os grupos diretivos de nove organizações têm em sua composição diretiva pessoas de grupo LGBTQIAPN+. Três não têm.  Pessoas especiais estão presentes na direção de três organizações. Dez dos grupos selecionados possuem parceiros que os auxiliam em termos financeiros e dois deles têm parceiros pontuais, que dão suporte para ações programáticas. 

Para se habilitarem ao edital as organizações que se inscreveram tiveram que fazer uma análise apurada sobre o que pretendiam propor, além das respostas que serão dadas frente aos desafios previamente mapeados. Em termos de desafios, os seguintes tópicos foram apontados pelas organizações: Logística, transporte e alimentação para profissionais, estudantes e membros; impactos emocionais psicológicos na saúde mental de educadores e estudantes; invisibilidade das mulheres negras nas ciências e tecnologias; negação e desvalorização das identidades e culturas negras e quilombolas; pouca aplicação da Lei 10.639/03 nas ciências exatas e da natureza; falta de ferramentas para efetivação de políticas públicas; falta de ações voltadas para a elevação da autoestima de estudantes; baixa formação de novas lideranças femininas negras que atuam na educação; racismo religioso de educadores e das comunidades ao entorno.   

Vencidas as dificuldades previstas, o caminho leva à busca dos resultados esperados ao final do projeto. E as perspectivas vislumbradas pelas organizações, grupos e coletivos participantes do edital são bem animadoras: Escolas sensibilizadas para implantação da Leis 10.639/2003 e 11.645/2008; perspectiva racial introduzida dentro do sistema socioeducativo; mais mulheres negras na pós-graduação; docência universitária e cargos de alto escalão; parcerias e maior articulação com comunidades e grupos locais; aprendizados dos projetos incorporados pelos espaços de educação; jovens, pais, professores e gestores da educação interessados no terma do projeto; lideranças negras juvenis fortalecidas e engajadas com o tema da educação; metodologias que fortaleçam processos de atendimento, escolarização e escuta; uso da tecnologia ampliado na periferia e em comunidades tradicionais para enfrentar o racismo e fortalecer as identidades negras; jovens negros com uma percepção positiva sobre si e sua comunidade. 

Toda essa interação e desenvolvimento ao longo do projeto são vistas como geradoras de transformações pessoais e institucionais marcantes. Entre elas, foram apontadas as seguintes como focos: Habilidades gerenciais potencializadas; capacidade de intervenção ampliada; aumento do interesse por saberes científicos; fortalecimento das relações; ampliação do engajamento político; qualificação na produção e disseminação de conteúdos e na realização de processos formativos;fortalecimento de nossas relações com comunidades e com nossos parceiros. Tudo isso irá fortalecer no corpo diretivo das instituições o desenvolvimento de habilidades de liderança como:  Comunicação estratégica e assertiva; ação em rede e atuação junto a parceiros; visão crítica e tomada de decisões; cursos e treinamentos técnicos específicos; gestão de tempo e priorização; análise de contextos complexos, mapeamento de atores e riscos. 

As associações, grupos e coletivos selecionados consideram o trabalho com educação fundamental para que questões relativas às diferenças sociais sejam corrigidas, assim como a difusão da cultura negra. A fala de Irailda Leandro, da  Associação Dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo, da cidade de Buíque, em Pernambuco, revela isso: “Só vamos sair desse ciclo de pobreza e desigualdade com Educação”. Carlos Peru, líder do Movimento Nação Marabaixeira, de Macapá, no Amapá, fala sobre uma particularidade do seu estado. “50% da população do Amapá se declara negra. Com a nossa participação nesse edital, vamos chegar ao nosso objetivo de difundir a cultura negra em nosso estado.”

As Organizações e seus Projetos

Para conhecer mais de perto os projetos das organizações selecionadas, acesse este link

Diretor Executivo e Vice-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá falam sobre posicionamento da instituição frente a questões sociais

             Por Wagner Prado

Giovanni Harvey vai completar um ano à frente da Direção Executiva do Fundo Baobá. Antes de assumir o cargo, Harvey foi presidente do Conselho Deliberativo do Fundo e construiu uma carreira com 30 anos de experiência como executivo na iniciativa privada, na administração pública e no terceiro setor. A política sempre esteve presente em sua vida, tendo sido presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF) entre 1988 e 1989. Giovanni ocupou o cargo de Secretário Nacional de Políticas de Ações Afirmativas entre 2008 e 2009 e foi Secretário Executivo, de 2013 a 2015, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir). Atuando no Fundo Baobá, Giovanni Harvey tem sido uma das vozes mais vibrantes nos eventos relacionados à questão racial no Brasil. Ele faz o seguinte alerta: “O papel da sociedade civil não é concorrer com o Estado. É buscar identificar quais são as demandas que o Estado não está atendendo, por qualquer que seja a razão, e propor soluções inovadoras que possam (no futuro) inspirar a ampliação das políticas públicas.”  

Amalia Fischer é a vice-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. Profissional com grande experiência de trabalhos em filantropia, investimento social e responsabilidade na diversidade, ela tem doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de ser Socióloga. Amalia Fischer faz uma análise sobre as origens da filantropia no Brasil. “A filantropia branca tem origem na Santa Inquisição. É uma filantropia em que a Santa Inquisição, que de santa não tinha nada, era aquela que tinha a ideologia e a política daquele momento. E isso foi aplicado a todos os diferentes: judeus, mulheres, negros e indígenas na medida em que o homem branco foi colonizando e se apropriando do mundo.” Em entrevista, Giovanni Harvey e Amalia Fischer falam sobre direcionamentos do Fundo Baobá, realizações e perspectivas. 

Qual a expectativa do Fundo Baobá com relação a políticas públicas a serem implementadas e como a instituição vai atuar frente a elas?

Giovanni Harvey – Essa resposta ela tem dois aspectos. E o primeiro aspecto é exatamente essa expectativa mais genérica, que  passa pela reconstrução, pelo restabelecimento de políticas públicas que não são políticas públicas de governo,  independentemente do que se pensa. São políticas públicas de Estado. O Estado brasileiro  veio aperfeiçoando a sua visão sobre as suas responsabilidades no enfrentamento às varias desigualdades. E, no que diz respeito à desigualdade nas relações étnico-raciais,  o Estado brasileiro, desde a Constituição de 1988, que tornou o racismo crime inafiançável, imprescritível -momento no qual inclusive foi criada, por iniciativa do governo, a Fundação Cultural Palmares-, o Estado brasileiro veio avançando no seu entendimento sobre as suas responsabilidades no enfrentamento das desigualdades geradas pelo racismo estrutural.  Lamentavelmente na última quadra (últimos quatro anos), em termos de visão política, vimos o Estado brasileiro se abstendo de dar continuidade a este processo. Então, a primeira expectativa que eu tenho é de que essas políticas públicas de Estado serão reestabelecidas. A partir daí nós poderemos fazer uma avaliação sobre o posicionamento do Fundo Baobá. 

O segundo aspecto desta resposta é que o papel da sociedade civil não é concorrer com o Estado. É buscar identificar quais são as demandas que o Estado não está atendendo, qualquer que seja a razão, e propor soluções inovadoras que possam (no futuro) inspirar a ampliação das políticas públicas. Quais são as aspirações que não estão sendo atendidas pelas políticas públicas? Porque não estão sendo atendidas por iniciativas que tenham uma certa envergadura. E é a partir dessa análise que nós, o Fundo Baobá, identificamos pontos de melhoria, demandas não atendidas, demandas contra-hegemônicas,  tensões sociais que merecem  adquirir uma maior visibilidade e, a partir daí,  o Baobá se posiciona. Estamos acompanhando com atenção esse redesenho das políticas públicas. Estamos com as nossas operações em curso e certamente vamos fazer um ajuste no nosso posicionamento a partir do desenho e do escopo das políticas públicas que vierem a ser definidas. 

Giovanni Harvey, Diretor Executivo do Fundo Baobá

O Baobá não “apenas” é um mecanismo de captação e repasse de recursos. O Baobá se fez para além disso. Criou uma forma de atuar dentro desse ambiente da filantropia para justiça social. O Baobá virou referência? Ele é inspiração para outros? 

Giovanni HarveyO Baobá não é apenas um captador e distribuidor de recursos, o Fundo Baobá também faz captação para redistribuir recursos para o  campo. Eu entendo a pergunta na dimensão institucional e política, considerando o que pode ser a percepção da sociedade diante da experiência  de construção de uma instituição negra. Depois que eu fui a Salvador e conheci com mais profundidade a história da Sociedade Protetora dos Desvalidos, não posso mais dizer que o Fundo Baobá é a primeira experiência negra pensada com o ponto de  vista da sustentabilidade. Porque nós temos a Sociedade Protetora dos Desvalidos,  fundada em 1832. E a Sociedade foi fundada já numa lógica de buscar a autossustentabilidade e, passados 190 anos,  continua funcionando e continua sendo guiada por uma visão de busca de sustentabilidade. Então, dentro do modelo atual de buscar sustentabilidade a partir de uma gestão financeira mais arrojada, com aplicações, com endowment, o Baobá é a primeira instituição no Brasil que alcança um certo patamar de sustentabilidade em cima da estratégia de um fundo patrimonial. Nesse sentido, o Baobá   é inspiração sim. Ele tem que navegar fora do senso comum. O Fundo Baobá é uma referência por ser uma instituição que opera na fronteira de tensões do enfrentamento do racismo estrutural.

Amalia Fischer Evidentemente que sim. O Baobá é uma referência. Ele é único. Além de referência ele é uma instituição que está consolidada. É uma instituição que é transparente, eficiente, inovadora e tem todas as características de, não sendo uma fundação como a Fundação Ford, ter todos os elementos de uma governança, o que faz com que ela seja forte, capaz de ir às profundezas dos problemas da população negra, buscando soluções junto à população. Então, é a única que vai até as profundezas das necessidades para procurar soluções para a população negra.

O Baobá é referência. Tenho ouvido, por exemplo, a Aline Odara (Fundo Agbara) falando com admiração e falando que quer ser grande quer ser como o Baobá. Isso é maravilhoso, porque pega uma tradição dentro da resistência dos negros no Brasil e das instituições que os negros criaram, como as Irmandades. Isso é uma tradição e é possível ver um histórico. É possível ver que a população negra é capaz de mobilizar recursos e fazer filantropia de um jeito que não o jeito branco. A filantropia branca tem origem na Santa Inquisição. É uma filantropia em que a Santa Inquisição, que de santa não tinha nada,  era aquela que tinha a ideologia e a política daquele momento. E isso foi aplicado a todos os diferentes: judeus, mulheres, negros e indígenas na medida em que o homem branco foi colonizando e se apropriando do mundo. Então, a resistência e a oposição que os negros fizeram a essa filantropia de esmola é uma filantropia que responde promovendo cidadania, alforria e educação de negros. E isso foi feito por muitas mulheres que estavam à frente das irmandades e à frente também de alguns negócios, as ganhadeiras. Então, os negócios sociais foram criados pelos negros. A filantropia de justiça social foi criada pelos negros. E isso você não vê na história da filantropia do Brasil. Você tem que cavoucar para chegar lá e ver coisas que não se falam na história oficial. O conceito da igreja católica para filantropia foi a piedade. E a piedade nunca vê o outro como um igual. Vê o outro como um subalterno e dá a esmola. 

O Baobá e toda filantropia desenvolvida pela comunidade negra é uma filantropia que olha para a cidadania plena, para os direitos, para a equidade racial, para a equidade de gênero. 

Amalia Fischer, vice-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá

Analisando o contexto das relações raciais no Brasil, que tipo de influência o Fundo Baobá pode ter nacionalmente? No terreno internacional, ele pode ser um influenciador? Isso é algo que o Baobá pretende? 

Giovanni HarveySim, o Baobá é um influenciador no campo nacional. As  parcerias que o Baobá tem com instituições da iniciativa privada, do investimento social privado,  da filantropia, do terceiro setor já o colocam como uma instituição importante dentro desse cenário. O Fundo tem interface com instituições internacionais. Ele se  constituiu a partir do apoio de uma organização internacional, que é a Fundação Kellogg, e o Baobá acompanha o cenário internacional. Vamos lembrar que nós estamos na década dos afrodescendentes da ONU, de 2014 a 2024, e que certamente esse tema da década vai voltar à agenda brasileira. Aquela fala do Lula (presidente eleito em 30/10/2022) na COP 27: “O Brasil está de volta”, eu não considero que esta frase se limita apenas à projeção internacional do Brasil no tema do meio ambiente. Existe uma agenda internacional de enfrentamento ao racismo e o Brasil estará de volta a essa agenda, qualquer que seja o ministro ou a ministra da Igualdade Racial. O Brasil vai estar sentado novamente nessa mesa. O Brasil que perdeu o protagonismo, ao longo dos últimos anos,  vai voltar ao debate, vai voltar a incidir nessa área e o Fundo Baobá vai estar inserido dentro desse cenário sim. 

Amalia FischerO Baobá foi criado pelo movimento negro. Então, quem mais sabe das necessidades e sobre abrir oportunidades para a população negra senão o movimento negro? Ter ativistas, pensadores,  filósofos, sociólogos, sociólogas e filósofas  dentro da governança e dos conselhos dá ao Baobá legitimidade para fazer o que está fazendo. Talvez o Baobá não seja a organização que lá no território “X”  esteja transformando a vida das pessoas, mas está impulsionando, fortalecendo essa organização para que ela continue a sua atuação pela equidade racial. 

A existência do Baobá depende das organizações que ele apoia. E essas organizações também dependem do Baobá. Quando falo em dependência não é no contexto negativo, estou falando de apoio mútuo. O fato de o Baobá ser um meio para que as organizações se desenvolvam e possam ter sustentabilidade de todo tipo é uma inter relação saudável para ambos os lados. Mutuamente aprendem e a cada dia é colocado um grão de areia para que o racismo estrutural e o racismo institucional sejam desconstruídos.  

A captação de recursos é o grande gargalo do Baobá?

Giovanni HarveyEu quero detalhar isso um pouco mais. A captação em si não é um problema. A captação para o endowment, dada a falta de cultura de doação para um fundo patrimonial de uma organização negra,  é o problema. Então, captar para realizar projetos não é. O grande desafio que o Fundo Baobá está enfrentando é diminuir a captação carimbada para projeto e migrar para uma captação de confiança, como é o caso da Mackenzie Scott (filantropa norte-americana que em agosto doou US$ 5 milhões para o Fundo Baobá).  É uma doação de confiança. Eu dou o dinheiro e você decide o que vai fazer com ele.  Então, eu diria que é um gargalo,  mas o gargalo está na destinação do montante captado e não necessariamente no ato de captar em si. E o nosso desafio é aumentar a qualidade da nossa relação com o financiador  e o grau de confiança nessa relação, já que o Baobá é a instituição especializada – é um fundo especializado no enfrentamento ao racismo. 

Amalia Fischer – Uma coisa é o começo de qualquer fundo que seja por uma causa. Principalmente uma causa polêmica na sociedade. Porque a sociedade brasileira nega o racismo. Nega que exista desigualdade. Nega que exista opressão às mulheres. Então, cada fundo que é lançado e defende uma causa tem que movimentar recursos e a mobilização de recursos vai além da captação. A mobilização de recursos também tem a ver com a transformação mental das pessoas, com o coração das pessoas, com a paixão das pessoas. Se a pessoa acha que dando esmola na rua ela está fazendo uma transformação, ela nunca vai pensar que doando para uma organização será muito melhor. Porque o menino ou a menina que está na rua pedindo esmola poderia ter outras oportunidades a partir da atuação das organizações da sociedade civil, porque essas organizações da sociedade civil respondem a causas, a movimentos e, se você não as apoia materialmente, você está capenga na democracia. A pessoa não está enxergando que cada vez é mais saudável para a sociedade que ela se envolva. Isso não tira do Estado a sua obrigação. Mas o que se tem que ter bem nítido quando se constitui um fundo é que vai ser difícil. Muito difícil. Sobretudo no campo das causas.     

Saúde, Educação, Empreendedorismo, Recuperação Econômica, Auxílio a Populações em Situação de Vulnerabilidade. Que outros terrenos da ação social o Fundo Baobá ainda precisa semear? 

Giovanni Harvey O Baobá sempre busca a inovação nas suas áreas de atuação.  Tem que refletir sobre quais são as fronteiras da inovação em termos de posicionamento de pessoas negras na sociedade. Nós estamos olhando para as carreiras de liderança. Então, acho que inovação é um caminho, melhoria da performance na gestão. A gente precisa conseguir criar soluções de Comunicação mais amplas, e indicadores.  Então a resposta é olhar para nós mesmos, assim como olhamos para os nossos grantees e inovar.

Amalia FischerA partir dos achados da área programática, a partir dos relatórios das organizações é que podemos saber o que está acontecendo e o que está necessitando a população negra.O Baobá tem investido nisso. Porque se não tivermos uma escuta atenta podemos ter ideias mirabolantes e as pessoas podem não estar precisando de ideias mirabolantes. 

O Baobá acaba de completar 11 anos. Qual a sua projeção para os próximos 5 ou 10 anos de atuação? 

Giovanni HarveyNós estamos comprometidos, estamos trabalhando para nos fortalecer e  alcançar a meta de R$ 250 milhões de  endowment  até 2026. É a nossa meta. 

Amalia Fischer Acho que o Baobá vai viver 50 anos ou mais. Eu espero que não seja mais que isso, porque temos que acabar com o racismo. Acho que o Baobá hoje não é só uma referência, mas uma liderança importante na questão da equidade racial no Brasil. Uma entidade importante que deve ser ouvida e respeitada. Uma liderança. Pessoas  brancas que queiram se engajar profundamente contra o racismo têm que ouvir o Baobá. 

Baobá na imprensa em Outubro

imprensa

Por Ingrid Ferreira

Em outubro o Fundo Baobá para Equidade Racial teve diferentes oportunidades midiáticas. A CNN citou a matéria “Conquistas históricas para pretos, pardos e indígenas”, em que o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, comentou o resultado das eleições de 2022, desde a perspectiva da representatividade da população negra. 

Giovanni Harvey também foi mencionado como um dos participantes da 1ª Conferência Empresarial ESG Racial, promovida pelo Pacto Pela Equidade Racial. E em publicação do site Tabôa  sobre o Seminário de 10 anos da Rede de Filantropia para a Justiça Social e, mais especificamente, a mesa “Trajetória e papel da Rede no ecossistema filantrópico nacional e internacional”, que contou com a participação do Diretor.

O membro da Assembléia Geral e ex presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Hélio Santos, autor de uma coletânea de artigos de autores negros que mapeiam as raízes da desigualdade, foi citado pelos jornais Estado de Minas, Folha e Nexo Jornal.

O Jornal da USP comentou a homenagem realizada a Presidente do Conselho Deliberativo do Baobá, Sueli Carneiro, na publicação “Outubro Negro inicia discussões para “enegrecer” o conhecimento produzido na USP”.

O encontro virtual com associações quilombolas e indígenas, organizado pela Aliança Entre Fundos e que apresentou estratégias de comunicação e ferramentas de aperfeiçoamento para as redes sociais e rotinas de notícias das comunidades, foi notícia nos sites Notícia Preta e Portal Afro. A Aliança entre Fundos é uma iniciativa de filantropia colaborativa para promover justiça racial, ambiental e social, composta pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Casa SocioAmbiental e Fundo Brasil de Direitos Humanos. 

Apoiadas do Fundo Baobá:

No Instagram o Quilombo Santo, participante do edital Quilombolas em Defesa: Vida, Direito e Justiça fez uma sequência de postagens a respeito do andamento do seu projeto, confira a seguir: “Aprovação do Projeto”, “Encontro para apresentação do projeto”, “Reunião para organizações previstas no projeto” e “Reunião para definição de cronograma de atividades e contratação de serviços”.

O Diário de Pernambuco mencionou o Fundo como apoiador do projeto “Racismo Religioso: Respeita Minha Fé!”, coordenado pela Tenda de Umbanda Caboclo Flecheiro D’Ararobá, no edital Vidas Negras — Dignidade e Justiça, que apresenta resultados de mapeamento sobre racismo religioso em Pernambuco.

E o site Criola citou o Baobá em sua publicação “Lançamento – Racismo, Violência e Estado: Três faces, uma única estrutura de dominação articulada”, que contou com o financiamento do Fundo Baobá para Equidade Racial.

Mudanças e Percepções 3 anos após seleção em edital 

Por Ingrid Ferreira

O Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco foi lançado em 2019. A implementação dos planos de desenvolvimento individual se deu de 2020 a 2021. Muitas mudanças e conquistas foram vividas desde então e, para saber mais sobre a atualidade de algumas das mulheres negras apoiadas, conversamos com Karen Franquini do projeto “Ganbatte”, que é Gerente de Projetos, Mentora de Carreira, Consultora de Empreendedorismo Periférico, Mestre em Gestão da Inovação e Empreendedorismo, Impacto Social e focada em Diversidade, Equidade e Inclusão; Luciane Reis,  do projeto  “Mercafro”, que é Especialista em Diversidade e Inclusão; e Laiara Amorim Borges, do projeto “Voe como uma garota negra”, que é Headhunter social, Comissária de Bordo na Azul Linhas Aéreas Brasileiras e co-fundadora do coletivo Quilombo Aéreo.
Confira abaixo a entrevista:

Três anos após terem sido selecionadas pelo edital do Fundo Baobá, como você descreve os seus avanços?

Karen Franquini

O Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco proporcionou o desenvolvimento acelerado de habilidades para minha atuação como Empreendedora, Mentora de Carreira, Gerente de Projetos e Liderança Negra, potencializando os meus talentos e força de trabalho para ajudar outros profissionais a atingirem seus objetivos, gerar impacto positivo na vida das pessoas e contribuir com a mudança de realidades. Como resultado do apoio do projeto, identifiquei novas áreas de atuação, como Mentora de Carreira e Gerente de Projetos, visando ampliar a empregabilidade de mulheres e profissionais negras (os), além disso, fui aprovada no Mestrado. Nos meus avanços atuais, me tornei Mestre em Desenvolvimento Local pela UNISUAM (Centro Universitário Augusto Motta) – RJ, na linha de pesquisa em Gestão da Inovação e Empreendedorismo, com o tema da dissertação  “Desenvolvimento de Negócios de Impacto: Ferramentas e Boas Práticas para Empreendedores Sociais”. Agora eu tenho o objetivo de aprofundar o estudo sobre o ecossistema de negócios de impacto e iniciar o Doutorado em Desenvolvimento Local. A participação no Programa gerou uma mudança de mentalidade, me proporcionou uma descoberta e a valorização da minha visão e potencialidade como mulher e liderança negra, e a minha capacidade de produção intelectual e de planejamento e execução de iniciativas de impacto social.

Karen Franquini – Rio de Janeiro

Luciane Reis

Considero que o principal avanço foi a defesa da minha dissertação no fim do ano passado. Após a defesa, iniciei o processo de operacionalizar o que foi teorizado durante o Programa, que consiste na  elaboração do plano detalhado de identificação e triagem dos estudos existentes sobre o negro na área econômica e de desenvolvimento pessoal. Para isso fiz o mapeamento de uma série de  especialistas junto aos vários campos do ecossistema empreendedor e empresarial que pauta o problema do negro nesses setores, e o mapeamento de monografias sobre temas econômicos, financeiros, de autoconhecimento e desenvolvimento publicados ou ligados à problemática negra. 

Luciane Reis – Bahia

Laiara Amorim Borges

Estamos no terceiro ano, e por mais que o Programa tenha se iniciado de forma individual, ele se desmembrou de diversas formas, e eu pude atuar em diversas frentes por conta desse edital. Uma delas é o coletivo que hoje faço parte,  que é a Primeira Escola Antirracista da Aviação Civil Brasileira. Em 2022, nós conseguimos formar uma turma exclusiva de pessoas negras periféricas e dentre essas pessoas temos quilombolas, empregadas domésticas e mulheres trans. No mesmo ano, já conseguimos empregar 50% delas dentro da área de formação. Ainda que seja um trabalho árduo, é muito gratificante. Por ser uma frente muito nova, temos encontrado muitos desafios, principalmente com as empresas, para haver aceitação e inclusão. Infelizmente, muitas vezes as empresas só querem fazer atividades pontuais com pessoas negras em novembro (Mês da Consciência Negra). Mas estou no 3º ano e celebro a nossa jornada por tudo que conquistamos até aqui, mas ainda não alcançamos a nossa meta.

Laiara Amorim Borges – Minas Gerais

Com a pandemia, alguns planos de desenvolvimento tiveram que ser reformulados. No momento atual, tem algum ponto que você resgatou?

Karen Franquini

O meu Plano foi reformulado devido à pandemia e pela primeira vez na vida tive recursos para investir no meu desenvolvimento pessoal. Consegui visualizar a minha trajetória profissional, independentemente da Ganbatte, negócio de impacto social que fundei e tem como objetivo conectar as empresas a profissionais diversos. Agora me sinto protagonista da minha história, consigo reconhecer minha evolução e potencial para gerar transformações sociais significativas na vida de profissionais periféricos.

Luciane Reis

Sim. Estou organizando a plataforma,  fruto do investimento feito pelo Programa, para ser lançada até o meio do ano que vem. Defender a dissertação foi um momento bastante complicado e, por conta disso, acabei demorando um pouco para conseguir seguir em frente. Somente agora estou retomando. O site ainda continua sendo um projeto. Estou também organizando o primeiro livro das lideranças aceleradas pelo projeto e que tem uma coluna no site do Géledes denominada “Negras que Movem”. 

Laiara Amorim Borges

A pandemia foi o maior desafio a ser enfrentado por todas as lideranças do Programa,  porque houve o aumento do desemprego junto ao isolamento, e nós tivemos que reformular tudo o que estava planejado. Um exemplo disso é que quando começou o edital, um dos meus objetivos era a minha aceleração enquanto mulher pilota na aviação, pois hoje não há nenhuma mulher ocupando esse cargo. Mas quando começou a pandemia, todos os aeroclubes fecharam e eu me deparei com outras questões sociais e psicossociais que atrapalharam muito a minha formação, tanto que eu ainda não concluí. Eu já sabia que não finalizaria no prazo do edital, mas o recurso era para custear parte da minha formação. Eu retomei as minhas horas de voo, mas, por conta da inflação, tudo foi afetado. Ainda assim continuo focada no meu objetivo, ainda que caminhando mais devagar por conta das circunstâncias, e isso faz com que eu compreenda também a importância de ser apoiada por outras mulheres pretas, o poder da militância e as políticas afirmativas, além de que, durante o edital, nós tivemos muitas sessões de mentoria, encontros sensacionais, que é tudo que estou utilizando hoje, e esse caminho tem me mostrado a importância de todo esse processo.

Ao final da primeira edição do Programa, publicamos um e-book, podcast, para contar sobre os esforços e os resultados do Programa, de cada mulher e das organizações de mulheres. Estes materiais tiveram alguma repercussão na sua trajetória?

Karen Franquini

A principal repercussão da publicação do e-book do edital e do podcast foi a valorização da minha trajetória e atuação como empreendedora e liderança negra, e o compartilhamento dos aprendizados para fortalecer a trajetória de outras mulheres e lideranças negras.

Laiara Amorim Borges

O e-book foi muito importante para que eu pudesse mensurar tudo o que tinha acontecido, algo que eu não tinha feito antes. Tanto que teve um momento da entrevista que eu acabei me emocionando, porque nós enquanto mulheres negras sempre estamos nos cobrando muito e não percebemos tudo que fazemos. E precisamos valorizar as nossas pequenas vitórias ao longo da caminhada, e eu espero que ele (E-book) tenha alcançado outras pessoas que possam se inspirar nele e acreditar que ocupar qualquer espaço é possível.

Analisando o seu processo atual, todas as suas metas foram concluídas? Quais são os próximos desafios?

Karen Franquini

Ainda não realizei todos os meus objetivos profissionais, mas aprendi a celebrar e agradecer por cada conquista e principalmente por cada desafio. Aprendi a respeitar e aplicar toda a minha potencialidade, resiliência e determinação para conquistar o que desejo e lutar pelo que acredito. Os meus próximos objetivos profissionais são iniciar o Doutorado Profissional em Desenvolvimento Local na UNISUAM, com o tema da tese de “Diversidade em Programas de Empreendedorismo Social: Mecanismos e Boas Práticas para Inclusão de Empreendedores de Grupos Minorizados”; fortalecimento da minha marca pessoal e da atuação como Líder, Empreendedora Social, Mentora de Carreira e Gerente de Projetos; reposicionamento da Ganbatte e foco em apoiar profissionais periféricos no desenvolvimento de suas carreiras.

Luciane Reis

Nem todas, mas estou agora revisitando meu plano de desenvolvimento individual para ver o que consigo operacionalizar. Durante o processo eu consegui profissionalizar o material existente do Mercafro. O site está pronto e foi defendido enquanto uma tecnologia social na Faculdade de Administração da UFBA (Universidade Federal da Bahia). O repertório/discurso que ele quer pautar foi também defendido em formato de especialização na Faculdade de Educação da UFBA. Defender essa tecnologia e seu repertório junto a duas escolas importantes para legitimação acadêmica foi fundamental para o processo que desejo iniciar a partir de agora.  O próximo passo é transformar a dissertação em um livro.  lançar a plataforma e seu conteúdo a partir do passo a passo sinalizado no primeiro ponto.

Laiara Amorim Borges

Nem todas as metas foram alcançadas, mas por conta da pandemia. Houve metas que foram se apresentando ao longo do processo e eu consegui concluir, ainda que algumas parcialmente: a questão da empregabilidade, principalmente. Com relação ao objetivo principal, essa meta ainda está em vias de ser alcançada, por meio da elaboração de artigos sobre o assunto, pois antes do “Voe como uma garota negra” não existiam artigos dessa área, inclusive a publicação internacional de um capítulo de um livro que fala da situação atual no Brasil das mulheres dentro desse campo tecnológico da aviação. Outra meta que foi concluída também foi o site do projeto. Neste espaço virtual é possível encontrar informações do projeto, editais, abertura de próximas turmas, impactos sociais e parcerias. A única meta que ainda não foi concluída foi a da minha formação pessoal, mas desmembrou pra tantas coisas que eu já me sinto realizada.

Karen Franquini complementa falando que: “O principal aprendizado que gostaria de compartilhar é: Seja gentil com você mesma, não se cobre tanto, respeite seu processo e valorize cada conquista. O grande segredo para atingir objetivos é fazer pequenas ações com frequência, respeitando seus limites e cada dia dando um novo passo. É começar com os recursos que tem, com as habilidades que possui para se desenvolver. Celebrar e valorizar cada passo e conquista que te aproxima do seu objetivo”.

O Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco é uma iniciativa do Fundo Baobá, com o apoio da Kellogg Foundation,  Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. O Programa, que teve início em 2019,  busca ampliar e consolidar a participação de mulheres negras em posições de poder e influência, através de investimento em seus planos de desenvolvimento individual, formações políticas e técnicas e ainda no fortalecimento das organizações, grupos e coletivos liderados por elas.

Fundo Baobá divulga lista das 12 organizações selecionadas 

Edital tem por objetivo promover o enfrentamento ao racismo na educação e conta com apoio financeiro da Imaginable Futures e Fundação Lemann

Após realização do processo seletivo, o Fundo Baobá para Equidade Racial divulga as 12 organizações, grupos e coletivos negros selecionados para o edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. Após 181 inscrições e a definição de 83 que passaram para a segunda fase, 24 foram habilitadas à fase final, da qual 12 foram as selecionadas. 

Após análise das 83 propostas válidas, uma equipe  composta por especialistas em educação  e em planejamento, gestão e avaliação de projetos, realizou  40 entrevistas e recomendou 24 propostas para serem avaliadas na etapa final do processo. No dia de hoje (10/11), o Fundo Baobá divulga os nomes das 12 organizações finalistas do Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. Em princípio seriam 10 organizações, mas a governança do Fundo Baobá decidiu pelo apoio a mais dois projetos. 

Promover o enfrentamento ao racismo na educação, por meio de projetos, programas,  políticas de equidade racial e ações é o foco do edital, que tem apoio financeiro da  Imaginable Futures e Fundação Lemann. O aporte destinado pelas instituições parceiras, em conjunto, é de R$ 2,5 milhões.  As 12 organizações, grupos e coletivos negros selecionados atuam na educação (dentro ou fora de unidades escolares) e têm papel ativo no que se refere ao combate ao racismo. 

Na etapa final de seleção, as propostas passaram pela análise de um comitê composto por especialistas, com larga experiência acadêmica e de ativismo na área de educação em relações étnico-raciais. O apoio financeiro a cada uma das organizações,  grupos ou coletivos  selecionados será de R$ 175.000,00 (Cento e setenta e cinco mil reais) para que implementem seus projetos. O período para realização dos mesmos, que também inclui fortalecimento das capacidades institucionais, será de 18 meses. 

Sobre o Fundo Baobá

O Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro fundo dedicado exclusivamente à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, o Fundo Baobá é uma organização sem fins lucrativos que tem por objetivo mobilizar pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para o apoio a projetos e ações pró-equidade racial para a população negra. O Fundo Baobá prioriza apoio a iniciativas negras alinhadas a quatro eixos programáticos: viver com dignidade; educação; desenvolvimento econômico; comunicação e memória. A missão do Baobá é o desenvolvimento de uma agenda filantrópica para a promoção da equidade racial para a população negra calcada em valores como ética, efetividade na gestão e transparência. O Baobá faz parte de uma  rede de fundos independentes e fundações comunitárias que realizam filantropia para justiça social – Rede Comuá, e está filiado ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas). 

Sobre a Imaginable Futures

A Imaginable Futures é uma organização filantrópica internacional de investimentos orientados pelo impacto social e pela crença de que o aprendizado é a chave para o bem-estar e para a construção de sistemas equitativos e saudáveis. A Imaginable Futures está determinada a mudar os sistemas injustos e a eliminar as barreiras que impedem os alunos, famílias e comunidades de prosperar e alcançar seu potencial máximo. Para isso, colabora com agentes de mudança para resolver desafios de educação complexos e desenvolver soluções que ajudem as comunidades nesse sentido. Com parceiros nos setores público, privado e social no Brasil, na África Subsaariana e nos Estados Unidos, a Imaginable Futures está co-criando soluções em contextos locais, nacionais e globais para alunos de todas as idades. Imaginable Futures é um empreendimento do Grupo Omidyar.

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Sobre a Fundação Lemann

A Fundação Lemann acredita que um Brasil feito por todos e para todos é um Brasil que acredita no seu maior potencial: gente. Isso só acontece com educação de qualidade e com o apoio a pessoas que querem resolver os grandes desafios sociais do país. Nós realizamos projetos ao lado de professores, gestores escolares, secretarias de educação e governos por uma aprendizagem de qualidade. Também apoiamos centenas de talentos, lideranças e organizações que trabalham pela transformação social. Tudo para ajudar a construir um país mais justo, inclusivo e avançado.

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Confira neste link as 12  organizações selecionadas para o edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial, parceria entre Imaginable Futures, Fundação Lemann e Fundo Baobá. 

Aliança entre Fundos promove encontro inédito de comunicação com quilombolas e indígenas de várias partes do país

 Apoiados no âmbito da Aliança entre Fundos, quilombolas e indígenas tiveram troca de experiências, dicas de ferramentas e modos de comunicação para aplicarem em seus territórios

A comunicação é uma ferramenta essencial para que as histórias ultrapassem fronteiras. No âmbito da Aliança entre Fundos – formada pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental – isso não é diferente. As comunidades quilombolas e os povos indígenas apoiados pela Aliança participaram de uma iniciativa inédita que reuniu representantes desses grupos de Norte a Sul do Brasil. São grupos historicamente excluídos que se reuniram num encontro virtual para refletir sobre a comunicação e fortalecer suas narrativas. 

O encontro de comunicação com quilombolas e indígenas, organizado pela Aliança entre Fundos, reuniu mais de 70 pessoas de 78 organizações comunitárias apoiadas pelos Fundos. Os conteúdos foram conduzidos pelos coletivos de comunicação Mídia Índia e pelo coletivo de comunicação da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ).

Fundado em 2017, o Mídia Índia surgiu durante o Acampamento Terra Livre, a maior mobilização anual de indígenas no Brasil. O propósito foi consolidar a iniciativa como um veículo da causa indígena. Já o coletivo de comunicação da CONAQ foi criado em 2020 durante a pandemia da COVID-19 e marcou a mobilização quilombola contra as fake news sobre a letalidade do vírus nestas comunidades, dentre outros assuntos.

No encontro da Aliança entre Fundos, a condução dos conteúdos feita pelos próprios quilombolas e indígenas consolidou o protagonismo dos dois grupos no campo da comunicação e favoreceu a consolidação de novos atores na produção e elaboração de narrativas em defesa dos povos indígenas e das comunidades quilombolas.

Para o Juliane Yamakawa, assessora de projetos do Fundo Brasil de Direitos Humanos e membro do Comitê Gestor da Aliança, “com a adesão de tantos grupos e coletivos de todo o país, o encontro de comunicação mostrou de forma concreta que há muito interesse dessas e desses ativistas tanto em aprimorar suas capacidades quando em articulação, em trabalhar conjuntamente e aprender coletivamente”, avaliou. Juliane é a responsável por acompanhar os projetos dos povos indígenas apoiados pelo Fundo Brasil no âmbito da Aliança entre Fundos. “Além de promover aprendizado, o encontro também impulsiona a formação de redes de apoio e amplia olhares e abordagens, e esse é um dos objetivos estratégicos da Aliança”, completou.

Fernanda Lopes, diretora de programa do Fundo Baobá e membro do Comitê Gestor da Aliança, enfatizou que o encontro é resultado de uma estratégia cuidadosamente elaborada pelos três Fundos. “Esta Aliança foi construída a partir das demandas das comunidades quilombolas e povos indígenas que já eram recebidos pelos Fundos. Já praticávamos o exercício de ouvir atentamente vozes do campo para orientar nossas ações. No contexto da pandemia, constatamos que poderíamos fazer melhor se estivéssemos juntos, os três Fundos. Nossa intenção é oferecer não só apoio financeiro, mas também fortalecer as potências quilombolas e indígenas. Por isso a colaboração entre os Fundos e esta ação conjunta em torno da comunicação.  Precisamos criar um ambiente favorável para a luta em defesa dos direitos e a comunicação é o caminho”, explicou Fernanda.

Potências locais

O encontro de comunicação consolidou a aposta no fortalecimento das potências locais. O coletivo de comunicação da CONAQ, por exemplo, aprofundou sobre as estratégias para fomentar as redes sociais e dar visibilidade às demandas dos territórios. Entre os destaques, estão as dicas dadas pelo coletivo sobre como garantir a segurança para os defensores dos direitos humanos quilombolas e indígenas no contexto das lutas por seus direitos. 

Já o coletivo Mídia Índia apresentou o passo a passo para a gravar um vídeo, desde a produção do roteiro e a escolha das imagens até as locações e dicas de edição de som. Coube também ao Mídia Índia orientar sobre as estratégias para garantir o engajamento nas redes sociais. 

Sobre a experiência com os grupos,  Erisvan Guajajara, do Mídia Índia, relatou que “ensinar como usar a comunicação como ferramenta de luta é acreditar que a gente pode falar das nossas narrativas para que o mundo possa conhecer a nossa realidade e entender o enfrentamos nas bases, que essa é a verdadeira história desse país, escondida em um Brasil profundo e ainda desconhecida pelas grandes mídias”.

Para Maryellen Crisóstomo, do coletivo de comunicação da CONAQ, o sucesso do evento pode ser explicado pelas demandas forjadas pelos próprios grupos. “Os territórios anseiam por divulgar suas ações e estão buscando meios para aprimorar as formas de comunicação, dado a participação expressiva dos territórios atendidos pelos Fundos”, finalizou.

Fundo Baobá divulga a lista de projetos e organizações selecionadas para a última etapa do Edital

A lista de organizações selecionadas para a Terceira Etapa do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial está sendo divulgada hoje (01/11). Da lista fazem parte 24 organizações de 11 estados brasileiros e do distrito federal. O objetivo do edital é o enfrentamento ao racismo na educação por meio de ações, projetos, programas e políticas de equidade racial. Imaginable Futures e Fundação Lemann são os parceiros do Fundo Baobá nessa iniciativa. Imaginable e Lemann, juntas, aportaram R$ 2,5 milhões que serão  destinados a 10 organizações, grupos ou coletivos negros atuantes na educação e ativos nas questões referentes ao racismo. 

As inscrições para o edital aconteceram entre os dias 3 de agosto e 6 de setembro. Nesse período, 181 inscrições foram feitas por organizações, grupos ou coletivos liderados por, no mínimo, 85% de pessoas pretas. Dessas 181 inscrições, 83 foram consideradas aptas para ir à segunda etapa. Hoje (01/11), após análise das 83 propostas participantes dessa segunda etapa, 24  (vinte e quatro) foram selecionadas e vão à etapa final, quando as 10 organizações selecionadas serão definidas. 

Para visualizar as 24 organizações selecionadas para a Etapa 3 do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, você deve acessar este link. A divulgação do resultado final do processo seletivo acontece no dia 10 de novembro. Nesta ocasião a lista ficará disponível no site e redes sociais do Baobá, após as 19h. 

Sueli Carneiro: “A missão institucional do Fundo Baobá é o fortalecimento do sujeito político movimento negro e as suas organizações”

Presidenta do Conselho Deliberativo fala sobre política, desafios do Baobá para o presente e perspectivas para o futuro

          Por Wagner Prado

Aparecida Sueli Carneiro, 72 anos, nasceu em 24 de junho de 1950. O Brasil estava em festa. A Seleção Brasileira estreava na primeira Copa do Mundo realizada no país vencendo o México por 4 a 0. Vencer seria o verbo que iria marcar a trajetória dessa brasileira festeira, nascida na Lapa e criada na Vila Bonilha, região de Pirituba, bairros da cidade de São Paulo. Sueli se impôs frente às adversidades da vida, fez do estudo a sua mola propulsora até se formar filósofa pela Universidade de São Paulo (USP), doutora em Educação, tornar-se escritora, ativista do movimento negro e uma das vozes mais fortes do movimento pelos direitos das mulheres, em especial, das mulheres negras. Sueli, que deve ter um máximo de 1,65m de altura,  transforma-se em gigante quando começa a falar. Suas ideias são nítidas, contundentes e ela não se detém sobre como e de que forma deve falar. Doa a quem doer. 

Sueli Carneiro, presidenta do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá

Sueli Carneiro, como ela própria diz, aprendeu a “pensar preto” lendo e ouvindo o ator, poeta, escritor e dramaturgo Abdias Nascimento (1914/2011), um dos grandes intelectuais negros brasileiros, assim como aprendeu a pensar como uma mulher negra lendo e ouvindo a antropóloga, política e professora Lelia Gonzalez (1935/1994).    

Dona de prêmios muito prestigiados, como o Bertha Lutz, em 2003 (oferecido a mulheres que tenham dado grande contribuição na defesa dos direitos da mulher);  Prêmio Direitos Humanos da República Francesa, em 1998 (pela contribuição à defesa dos direitos humanos), Prêmio Vladimir Herzog, em 2020 (pela defesa da democracia, cidadania e direitos humanos), Sueli Carneiro tornou-se neste ano de 2022 a primeira mulher negra a receber o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB). 

Sueli é fundadora e diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra e está à frente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial. No dia 14 de outubro, ela parou suas atividades no Geledés para receber a equipe executiva do Fundo Baobá. Nesse dia, Sueli Carneiro concedeu a entrevista que segue abaixo. 

Sueli Carneiro e equipe executiva do Fundo Baobá. Giovanni Harvey, diretor Executivo (à esq.); Amalia Fischer, vice-presidente do Conselho (no centro, de verde) e Fernanda Lopes, diretora de Programa (última á dir.)

Dia 30 de outubro o Brasil elege seu presidente para os próximos 4 anos. Como o Fundo Baobá vai atuar frente às diretrizes políticas que serão implementadas? 

Não acho que era um cenário em que tivéssemos duas opções ou duas perspectivas. Não existia isso. Só existia uma.  Só existe alguma perspectiva para a nossa agenda com a eleição do Lula. Porque o Bolsonaro, nos quatro anos do governo dele, manifestou com muita clareza, com muita transparência, que ele não tem  nenhum compromisso conosco, muito pelo contrário. Ele tem compromisso com o nosso abandono social, com a nossa extinção, com o nosso genocídio. Então, a pergunta para mim não se coloca. Só existe uma perspectiva: a eleição do Lula. Fora dela, nossa comunidade estará em muita dificuldade, como a própria democracia no Brasil estará em um  risco absoluto de retrocesso.  Então, só existe esse caminho. A situação do risco democrático é tão dramática, que eu espero que  o Lula restabeleça aquela velha democracia, que é insuficiente, é de baixa intensidade, mas que nos assegura poder voltar a colocar pautas em disputa na sociedade.  É a primeira responsabilidade. 

Eu acho preocupante a situação em que o país se encontra. Estamos sob  a égide de uma perspectiva fascista. O fascismo é uma doutrina que a gente conhece, e nela não tem lugar para nós (pretos). O fascismo é formado pela concepção do supremacismo branco, que está em ascensão no mundo inteiro. Então, não há projeto para nós que não seja um projeto perigoso, perverso e ameaçador. Com o Lula, o que nós esperamos, primeiro, é que o estado democrático de direito seja restabelecido. Esse é o primeiro requisito para que a gente volte a disputar,  a propor, a formular proposições, sobretudo de políticas públicas que venham a incidir sobre a desigualdade racial, no campo da saúde, da educação, no campo das representações políticas. Ou seja, em todas as dimensões da vida social o recorte racial precisa ser observado para que a gente possa corrigir. 

O que importa é que precisamos da ambiência democrática indispensável para poder pautar nossos temas. E o Baobá também depende disso. Caso não se efetive essa perspectiva, nós teremos trevas para enfrentar. E o Baobá terá que se preparar para dar suporte à resistência negra,  para fazer a travessia nesse momento que poderá ser de trevas e que  não desejamos. Mas se ele ocorrer, é este papel que terá que ser feito: apoiar nossa gente nas estratégias de resistência e sobrevivência ao abandono social. 

Que análise pode ser feita dos últimos quatro anos sob o olhar da governança de um fundo que trabalha pela Equidade Racial no Brasil? 

Tenho orgulho de ter estado no Baobá num momento de grande complexidade. Num momento de agravamento da questão racial no Brasil. Momento que também foi fortemente atravessado por um elemento impensado que foi a pandemia. Isso teve um grande impacto sobre o próprio Baobá. Isso é um sintoma do que poderia vir a ser o agravamento da questão política no nosso campo. O Baobá rapidamente se reciclou durante a pandemia. Rapidamente se localizou naquilo que deveria fazer. Naquilo em que deveria atuar. E foi um momento curioso, paradoxal, porque o problema era de extrema gravidade, mas também foi a oportunidade que o Baobá teve de se enraizar mais na população negra, de se fazer presente na população negra que está em territórios mais vulneráveis. Foi paradoxal neste sentido, porque a pandemia nos empurrou para ir ao encontro dos grotões em que a nossa gente  estava padecendo mais e fazer lá o que era necessário fazer: levar algum alívio, algum amparo.  

Pela rapidez com que o Baobá agiu, pelos editais que foram criados para atender  a emergência sanitária e alimentar, a questão da sofrência que nossas famílias estavam, ter conseguido alcançar e levar algum alívio  foi uma coisa que a gente não esperava que fosse acontecer da maneira que aconteceu e que tivéssemos uma resposta com prontidão para fazer frente àquela situação.  E foi algo que a sociedade civil brasileira grandemente abraçou e se fez presente nessa situação. O Baobá foi um ator importante nesse processo. De lá para cá acho que ficou o saldo de referência de uma instituição negra, voltada para a equidade racial, mas que está atenta para as urgências da sua população e é capaz de responder de acordo.  

Eu me sinto orgulhosa de fazer parte do Baobá, num momento tão delicado que a gente teve que atravessar. E estamos alcançando índices interessantes no campo da filantropia, porque 85% das comunidades que a gente atinge (organizações, coletivos ou grupos) nunca foram financiados antes. Então, nós estamos chegando à nossa gente. Estamos chegando nos invisíveis. Essa é a parte mais importante da nossa missão.  

O Fundo Baobá não é um captador e repassador de recursos. Ele se fez para além disso. Criou uma forma de atuar dentro desse ambiente da filantropia pela justiça social. O Baobá virou referência? O Fundo é hoje inspiração para outros que estão vindo atuar nesse mercado? 

O Baobá é pioneiro no Brasil em ser um fundo voltado exclusivamente para esse tema. É um mandato único dentro do contexto mais amplo das organizações negras. E a minha visão é que a função prioritária de um fundo é captar e doar. O Baobá pode ser um ator político estratégico onde as organizações do movimento negro não têm poder de incidência. Mas a missão institucional é o fortalecimento do sujeito político movimento negro e as suas organizações, que são aquelas organizações que constroem a luta antirracista e a luta feminista no Brasil. Esse é o foco principal do Baobá: o fortalecimento da  luta contra o sexismo e o racismo na sua articulação de gênero e raça. Nessa missão, o Baobá não pode ser concorrente das organizações negras. Ele não substitui o protagonismo das organizações. Ele não deve fazer isso. Pelo contrário: ele é um agente de  fortalecimento dessas organizações. Mas há dimensões da questão racial em que pode não haver um ator político em condições de incidir nessa dimensão. Aí eu acho que o Baobá tem uma contribuição a dar. Sobretudo em questões mais estratégicas, que envolvem grandes decisões de Estado ou que envolvem estratégias de parcerias no âmbito internacional, mas nunca em concorrência com a sociedade civil negra. Jamais! Porque isso é enfraquecer o principal sujeito político que sustenta nossa luta.

A captação de recursos é o grande gargalo do Baobá. Você concorda com essa visão? 

O desafio da captação é real e não apenas para o Fundo Baobá. A sociedade civil tem esse desafio permanentemente. O que eu acho que para o Baobá pode ser um agravante é o tema. A tradição de doar para a causa racial é muito nova no Brasil.  Isso é um desafio adicional. Ter um Fundo voltado exclusivamente para essa dimensão é um projeto extremamente radical e desafiador. Ele é desafiador porque justamente desafia consensos. O consenso, por exemplo, da democracia racial. Um país que demorou o que nós demoramos para aceitar discutir o tema racial ter um Fundo voltado para esse fim é muito mais desafiador do que qualquer outra temática.  Um tema como o dos direitos humanos é um tema estigmatizado na sociedade brasileira, porque foi estigmatizado como defesa de bandidos. Da mesma maneira, com agravantes, um fundo como o Baobá, que está voltado para a equidade racial em um país que não aceita que há racismo historicamente, é um drama adicional. Depois, você tem a complicação de, mesmo quando o possível doador entende que o problema existe, se é um doador com muita visibilidade, com reconhecimento público, dificilmente ele quer associar a sua imagem a um tema desses. 

Eu sou diretora do Geledés e nós vivemos,  em muitas situações, ofertas de apoio que viriam de igrejas ou instituições renomadas, desde que a gente não falasse em racismo, a gente teria o financiamento. Se a gente falasse em criança, mas não falasse no racismo que atinge a criança negra, a gente teria o financiamento. Então, havia oferta de apoio mediante a renúncia. Mas nós temos que dizer para essa sociedade que o racismo é a mãe e o pai de todas as desigualdades. Que o racismo é o elemento estruturante de todas as desigualdades e violências.  E quando a gente pensa em mulheres negras, a gente diz: racismo e sexismo, quando se articulam recortados por raça, são o pai e a mãe de todas as violações de direitos humanos nesse país. Então, é difícil apoiar um Fundo com essas características, sabendo que ele é sustentáculo da luta que combate essas duas perversidades que existem na sociedade brasileira,  é ter que aceitar que existe um problema que é um problema sério, grave, que constrói uma apartação extraordinária nesse território, ao ponto de os índices de desenvolvimento entre brancos e negros terem diferenças abismais.

A diferença dos índices de desenvolvimento humano desses dois segmentos chega a ser grotesca. Porque a última imagem que um de nossos economistas criou é que existe um país aqui que tem o mesmo índice de desenvolvimento da Bélgica, povoado por gente branca, e um outro país, também aqui dentro, que está em uma posição, em termos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), abaixo de muitos países africanos. E nós estamos falando de um país muito rico, que tem por marca a desigualdade, porque o drama aqui não é um país pobre. É um país com muita riqueza, mas com a concentração dessa riqueza nas mãos de um segmento racial. 

Saúde, Empreendedorismo, Recuperação Econômica, Auxílio a Populações em Situação de Vulnerabilidade, Justiça Criminal. Que outros terrenos  o Baobá ainda necessita semear? 

Acho que existe uma questão que é crítica, que ainda nós precisamos desenvolver uma estratégia de grande envergadura, que é em relação ao genocídio da juventude negra. Isso é um tema em que ainda precisamos de uma estratégia. Mas não acho que seja um tema que possa ser abraçado por uma única instituição. Não apenas nós (Fundo Baobá) desenvolvermos uma estratégia potente para lidar com essa questão. Temos que envolver muitos outros parceiros que estão conosco na luta antirracista, para enfrentarmos essa questão de frente, para assumir a responsabilidade com relação a essa problemática, que é de todas a mais perversa. Acho que esse é um tema que nos desafia e que permanece pendente, carecendo de uma incidência vigorosa por parte do Baobá e seus parceiros. 

O Baobá vai existir enquanto perdurar a questão do racismo em nosso país. A existência do Baobá vai até aí. Você acredita que isso, o racismo, poderá acabar em nosso país?  

Cada geração que se apresenta tem que cumprir o seu papel nesse combate. Essa gestão do  Baobá está comprometida com a responsabilidade de construir as condições necessárias para a permanência do Baobá o máximo possível no tempo para o cumprimento da sua missão. Enquanto existir racismo, o Baobá é necessário. Então, fortalecer o Baobá para cumprir essa missão é responsabilidade dessa gestão e das que virão. Estou muito animada com o que nós estamos sendo capazes de enriquecer o nosso endowment, o nosso fundo patrimonial, que eu espero permita atender as necessidades identificadas pela gestão atual e as vindouras. Estamos trabalhando arduamente nessa direção.  

Edital Quilombolas em Defesa: Fundo Baobá investe em organizações comunitárias e em seus projetos 

Por Wagner Prado

Há 14 meses, o Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e apoio financeiro da IAF (Inter-American Foundation) abria as inscrições para o edital Quilombolas em Defesa: Vidas Direitos e Justiça. O Brasil vivia a pandemia da Covid 19 e o Quilombolas em Defesa destinava recursos diretamente para comunidades quilombolas e povos indígenas em situação de vulnerabilidade. 

O Quilombolas em Defesa faz parte das ações da Aliança Entre Fundos por Justiça Racial, Social e Ambiental. A Aliança é uma iniciativa de filantropia colaborativa entre o Fundo Baobá, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental. As três organizações fazem parte da Rede Comuá

Pela primeira vez o Brasil realiza um Censo Quilombola. Entre 1 de agosto e 29 de agosto, o IBGE já havia recenseado 386.750 pessoas de origem quilombola. De acordo com o órgão, a população quilombola está distribuída em cerca de 6 mil comunidades espalhadas pelo país. A coleta de dados do Censo foi prorrogada para dezembro. Em princípio, iria até 31 de outubro. Os estados com maior contingente populacional quilombola, até agosto, eram Bahia (116.437), Maranhão (77.683) e Pará (42.439). 

Dos 34 projetos apoiados, pinçamos dados apresentados em relatório narrativo elaborado por três organizações. São elas:  Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos II, da cidade de Campo Formoso, na Bahia, que tem o projeto Quintais Produtivos: Fortalecimento de Iniciativas Agroecológicas Realizadas por Jovens e Mulheres. Sua líder é Aliete Alves da Gama. A segunda coleta foi com a  Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma, em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte.  Firmino Gomes de Castro Neto é quem responde pela coordenação do projeto Raízes Ancestrais do Sabor e Saber: Cultivando Alimentos Ecológicos e Biodiversos. A Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (CoMPaz),  cujo responsável é  Baoga Babá Kinni, seu conselheiro gestor, foi a terceira. O projeto é o  Kanzuá Comida Sagrada no Território da Mãe Preta. A economia quilombola está bem centrada na produção agrícola, que é feita visando alimentar de forma interna (comunidade) e externa (venda para a arrecadação de fundos). 

É possível descrever alguma influência do apoio recebido por meio desse edital nas ações que a Associação realiza? 

Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos III (Aliete Alves da Gama) – Ocorreu a ampliação da relação de confiança entre a direção e os associados por conta da transparência do serviço prestado. Credibilidade nos trabalhos prestados pela comunidade, fortalecimento da associação e melhoria na comunicação, principalmente após a compra de um notebook, o que tem facilitado a comunicação interna e a divulgação para fora das ações da associação. 

Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma (Firmino Gomes de Castro Neto) – Houve uma maior sensibilização para a questão da segurança alimentar entre os membros da equipe interna e também a comunidade. Também ocorreu o aprendizado no sentido do planejamento, da gestão desse planejamento, prestação de contas e documentação. Documentamos cada etapa do que foi feito. Passamos a entender melhor a questão de contratação legal de serviços e também de profissionais externos (prestadores de serviços). O projeto passou a mobilizar interesses para o plantio agroecológico, o que gerou a ativação de espaços coletivos anteriormente em desuso. 

Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (Baoga Babá Kinni) – CoMPaz (RS) – Consideramos que o apoio recebido nos potencializou na nossa organização interna, nos auxiliando na escrita de novos projetos e na escrita dos relatórios de prestação de contas. Hoje nos sentimos muito mais empoderados para nos candidatarmos ao recebimento de recursos. Estamos potencializando o empreendedorismo sócio-comunitário na CoMPaz com as oficinas e feiras que estamos desenvolvendo. Neste sentido, o apoio que tivemos e estamos tendo do Fundo Baobá tem sido muito significativo. 

Para garantir que os resultados do projeto fossem alcançados, que desafios vocês tiveram que superar? 

Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos III (Aliete Alves da Gama) –   Tínhamos poucos recursos financeiros. A estratégia para superar isso foi utilizar mão de obra familiar e aproveitamento de materiais disponíveis na comunidade. A questão do transporte para a coordenação fazer a mobilização das famílias no território foi difícil de solucionar, mas conseguimos isso com a potencialização do veículo utilizado pelo projeto. Outro fator vencido foi o da distância de entrega dos produtos e equipamentos pelos fornecedores. O trajeto da loja até a comunidade. A estratégia foi considerar o frete no valor global da  licitação.

Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma (Firmino Gomes de Castro Neto) –  Tivemos insuficiência de recursos humanos qualificados para cumprir etapas burocráticas. Mas nossa equipe passou a dedicar mais tempo para o aprendizado e para para cumprir as tarefas existentes. A reabertura do processo de titulação de terra quilombola por parte do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) causou uma ruptura entre os membros da associação e a comunidade. Isso fez com que decidíssemos nos manter afastados dessa questão e optamos por colocar nosso foco na temática da segurança alimentar e nutricional. 

Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (Baoga Babá Kinni) – Tivemos excesso de chuvas no período de inverno. Fizemos uma necessária reprogramação das atividades. Houve dificuldades para conseguir mudas e sementes de qualidade próximo ao nosso território. A solução foi vencer a distância de 50km e buscar essas mudas e sementes em Porto Alegre. 

O edital ofereceu algumas atividades de formação. Como esses conhecimentos  estão sendo postos em prática? 

Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos III (Aliete Alves da Gama) –  Sim, porque conseguimos ampliar e potencializar os sistemas produtivos já integrados, já existentes no quilombo com a aquisição de materiais para o melhoramento das estruturas de hortifruticultura e avicultura das famílias.  Compramos 9 telas de galinheiro, arame e estacas para esticar as telas. Isso contemplou 9 famílias da comunidade. Compramos 90 saquinhos de sementes diversificadas (coentro, alface, cebolinha, rúcula) e 135 mudas de goiaba, manga, laranja, pinha e acerola. Realizamos  roda de aprendizado sobre Soberanias e Segurança  Alimentar e Nutricional. Houve o comparecimento de 13 pessoas. Compramos 18 sacas de milho,  que serviram de ração para as galinhas de 9 pessoas beneficiadas pelo projeto. Fizemos uma oficina teórico-prática sobre manejo sanitário e alimentação alternativa de aves. A oficina foi ministrada por técnico agrícola e alcançou 12 pessoas. Por fim, efetuamos a compra de notebook que vai facilitar a comunicação, a participação do grupo em eventos virtuais, além de servir como ferramenta de arquivamento dos arquivos digitais da associação. 

Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma (Firmino Gomes de Castro Neto) – Sim. Estamos em fase de execução do objetivo específico, que é estruturar cultivos de alimentos da cultura quilombola (raízes, macaxeira, batata doce, inhame) através do incentivo de práticas tradicionais agroecológicas e modelos comunitários. Estamos realizando reuniões para apresentar o projeto para colaboradores e instituições. Fazendo visita técnica aos produtores, além do cadastramento dos mesmos e relatórios de campo.  As visitas técnicas têm apoio da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do IFRN (Instituto Federal Rio Grande do Norte) para levantar dados para projeto de compostagem e gestão de resíduos sólidos que gerem insumos agrícolas e sejam utilizados no plantio. Também estamos mais tecnológicos, com a compra de equipamentos eletrônicos, compra de cadeiras e mesas e instalação de rede de acesso à internet. 

Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (Baoga Babá Kinni) –  Na medida em que o projeto avança, estamos nos sentindo melhor para potencializar o cultivo de ervas fitoterápicas e a articulação da produção de verduras e legumes agroecológicos. Realizamos um curso de construção de estufa, de 26 a 30/09,  para fortalecer o cultivo agroecológico. Tivemos o comparecimento de 12 pessoas. Fizemos uma feira na Morada Portal, em Porto Alegre. Foram levados produtos da CoMPaz, como fluidos, pomadas e  sabonetes. Público alcançado foi de 35 pessoas., Também fizemos uma feira no Terreiro de Chão Batido da CoMPaz, que teve público de 40 pessoas. Os produtos comercializados foram todos produzidos pela CoMPaz. Temos tido boa receptividade do público, boa articulação da liderança da comunidade, o trabalho vem sendo feito com muita unidade, com  planejamento estratégico e grande cooperação das nossas redes de apoio.

O Edital

As propostas selecionadas pelo edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça tinham que estar alicerçadas em um dos três eixos temáticos estabelecidos. 1) Recuperação e Sustentabilidade Econômica nas Comunidades Quilombolas; 2) Promoção da Soberania e Segurança Alimentar nas Comunidades Quilombolas e 3) Resiliência Comunitária e Defesa dos Direitos Quilombolas.  O Eixo Temático 1 prioriza iniciativas de aquisição de equipamentos e mercadorias, além da produção e comercialização de produtos quilombolas; o incentivo à criação de metodologias coletivas de planejamento, além da gestão de compras e vendas e a geração de empregos. No Eixo 2, organizações com foco no fortalecimento da cultura e tradição na produção de alimentos; agricultura de subsistência; segurança alimentar por intermédio de novos arranjos entre campo e cidade; fortalecimento da perspectiva agroecológica quilombola e agroecologia a partir da perspectiva quilombola. O Eixo 3 visa o fortalecimento de ações solidárias que contemplem necessidades das comunidades quilombolas , frente ao problemas advindo da Covid-19; fortalecimento de soluções criativas em torno da mobilização de recursos financeiros, técnicos e humanos para promover transformações na comunidade e uso da tecnologia para mobilizar e engajar quilombolas na busca por seus direitos.