Como a aprovação do projeto de lei de “Homeschooling” pode impactar crianças e jovens negros

 Gabi Coelho

O Projeto de Lei 1338/2022 foi aprovado na Câmara dos Deputados no dia 19 de maio de 2022 como PL 3179/2012 devido ao fato de substituir o projeto anterior – proposto pelo deputado Lincoln Portela (PL-MG) – enquanto uma nova proposta idealizada pela deputada Luisa Canziani (PSD-PR). Esse projeto pauta a prática da Educação Domiciliar no Brasil. A palavra “homeschooling” designa um método cujo objetivo seria que o jovem ou criança aprendesse em casa ao invés de frequentar a escola de maneira regular e os encarregados do ensino seriam seus pais ou responsáveis.

CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA

Quando falamos sobre Educação Domiciliar, precisamos enfatizar os principais aspectos relacionados à realidade brasileira que irão se fundir à nova realidade que poderá ser estabelecida pelo projeto caso ele seja aprovado. O Brasil, por se tratar do último país independente nas Américas a abolir a escravidão, as desigualdades acabaram se tornando um “carimbo” na realidade de pretos e pobres. Esse grupo de pessoas seguiu sua trajetória de maneira desfavorecida e marginalizada. As oportunidades eram quase nulas e a cidadania não lhes era atribuída. No instante em que tiveram acesso à Educação pública – o que definitivamente não aconteceu logo após a expulsão dos jesuítas e as mudanças realizadas por Marquês de Pombal, visto que para essa enorme parcela da população até o que consideramos hoje como um direito básico, o acesso à Educação, era algo difícil (ou até mesmo impossível) de se ter acesso -, tais pessoas passaram a enfrentar novas dificuldades, como a precarização desse serviço público, o que diretamente colocava os jovens negros e pobres em condições educacionais extremamente desiguais em relação aos jovens brancos que possuíam melhor condição financeira e consequentemente acesso a um ensino de melhor qualidade.

A REALIDADE ATUAL

Depois dessa contextualização, podemos “mover” esse cenário para a atualidade: jovens negros e pobres cujo acesso ao ensino é precarizado justamente por se tratar de um serviço público que, por muitas vezes, sofre com o descaso de representantes eleitos que são inaptos para lidar com a pauta educacional. Ainda que esse projeto de lei possua determinadas regras para que seja possível que os responsáveis insiram o jovem/criança nessa prática, quem poderá nos garantir o cumprimento de tais normas se nem mesmo conseguimos ter a garantia de um ensino público de qualidade?

Outra questão importante é que, a partir do momento em que o projeto for aprovado, estarão sendo estabelecidos precedentes para que as verbas públicas destinadas à Educação sejam drasticamente diminuídas utilizando-se do argumento de que seria possível ensinar em casa e por isso reduzir os investimentos nas escolas, além de um outro precedente muito perigoso: a possibilidade de se implementar a obrigatoriedade desse tipo de ensino. O que seriam das nossas escolas? O que seriam dos nossos professores? O que seria da qualidade de ensino se esses jovens fossem todos submetidos ao ensino domiciliar de maneira a “(…) garantir o desenvolvimento pleno das nossas crianças”, como afirmou a autora do projeto durante a sessão em que o PL foi aprovado?

O RACISMO ESTRUTURAL E A ESCOLA

Existem dois outros tópicos que precisamos analisar em relação a essa prática: o racismo e a qualidade do ensino. A escola, enquanto um dos responsáveis pela construção da visão de mundo dos jovens e crianças que a frequentam, estaria sendo diretamente golpeada em uma de suas principais funções. Como essas crianças terão acesso às pautas antirracistas e aos temas que debatem negritude e ancestralidade se os adeptos do homeschooling representam o lado político cuja prática frequente é a descredibilização de abordagens progressistas e a propagação do ideal meritocrático? 

Quando falamos sobre melhor a qualidade da vida em sociedade de jovens, principalmente jovens negros, não podemos cair na armadilha de crer que tudo se trata de mérito, que a meritocracia seria a principal  responsável pela melhora da realidade dos indivíduos. Crer que somente trabalhar duro torna possível alcançar todos os próprios objetivos é algo que soa muito bem para pessoas que têm acesso às oportunidades de maneira quase que instantânea, sem necessitar de esforço, como é o caso de jovens brancos brasileiros que nascem em famílias cuja condição financeira possibilitará frequentar boas escolas, realizar diversos cursos e consequentemente se preparar melhor para o mercado de trabalho. 

Essa discussão não pode e nem deve ser baseada em esforço ou em mérito somente, é necessário falar sobre investimento e suporte para que os menos favorecidos possuam maiores oportunidades. Sem a chance de mostrar o próprio potencial e ocupar novos espaços, não há meritocracia que resolva as desigualdades socioeconômicas que assolam a juventude negra no Brasil.

De acordo com a mostra Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Contínua Educação 2019 realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pessoas negras apresentam um nível de analfabetismo três vezes maior do que pessoas brancas. Segundo esses dados, em 2019 8,9% das pessoas pretas e pardas com 15 anos ou mais eram analfabetas, contra 3,6% de pessoas brancas. O Brasil precisa de tempo, mais recursos e melhor administração para se recuperar dos prejuízos que a pandemia nos trouxe. Caso esses jovens negros sejam inseridos numa realidade de  ensino domiciliar, o que será da qualidade de aprendizado e do futuro dessas pessoas?

Evidentemente a pandemia afetou diretamente o acesso ao ensino e dificultou o processo de ensino-aprendizagem. Um estudo divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no último dia 19 de janeiro mostrou que, entre as crianças com idade de 5 a 9 anos, a evasão escolar aumentou em 197,8% entre 2019 e 2020. Um outro ponto que pode ser visto como, no mínimo, curioso, é o fato de poucas pesquisas estarem focadas em retratar como crianças e jovens negros foram impactados pela pandemia e pelas dificuldades de ter acesso à internet para estudar e mias especificamente retratar as diversas questões que podem ter os levado a abandonar a escola.

A realidade do ensino remoto envolveu problemas que vão desde a dificuldade de acesso a aparelhos eletrônicos e à internet até a necessidade de ajudar nos afazeres de casa e no orçamento familiar. É imprescindível que uma maior quantidade de pesquisas abordem esses aspectos da vida de jovens negros no Brasil, como a evasão escolar, o trabalho infantil e o decaimento da qualidade do ensino devido ao cenário pandêmico.

Em entrevista para o Monitor Mercantil, o psicólogo Filipe Colombini falou sobre a importância da escola: “O ambiente escolar é fundamental para a socialização. A escola vai muito além das provas e avaliações. É neste lugar que, já na primeira infância, a criança vai ter um modelo social, estranho a sua família, onde ela terá de aprender a lidar com seus impulsos e que é fundamental para o seu desenvolvimento”. Colombini também falou sobre a vida em sociedade: “(…) “viver em sociedade é difícil, porém, a escola é um recorte disso, e fugir da escola é também fugir da sociedade.”.

O FUNDO BAOBÁ E O INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO

Com o objetivo de contribuir para o acesso de jovens negros à Educação, o Fundo Baobá apoia iniciativas como oPrograma Já É: Educação e Equidade racial. Trata-se de um projeto cujo objetivo principal é auxiliar jovens negros a entrarem na universidade, prioritariamente universidades públicas, através dos seguintes benefícios: “Bolsa de estudos em cursinho preparatório para o vestibular, Mentorias coletivas e individuais para ampliar habilidades socioemocionais e acadêmicas​, Laptop e acesso à internet e Pagamento de despesas de transporte e alimentação”, de acordo o portal do Fundo Baobá.

Nelson Mandela: A Vitória da Vida Contra a Submissão

    Por Wagner Prado

Em 18 de julho de 1988, um show realizado no antigo estádio de Wembley, em Londres (Inglaterra), chamou a atenção do mundo. Artistas dos Estados Unidos, da Europa e da África estavam unidos para celebrar o aniversário de Nelson Mandela, líder da revolução contra o Apartheid (regime de separação racial) na África do Sul. Mandela completava então 70 anos de vida. Desses 70, 25 ele havia passado na cadeia. Sentenciado a cumprir prisão perpétua em 1963, ele havia sido acusado de traição por liderar revoltas que colocavam o regime segregacionista em cheque. Mandela era líder do CNA (Congresso Nacional Africano) e, para derrubar o Apartheid, encorajava a luta armada.

Rolihlahla Mandela nasceu em 1918 em uma tribo no povoado de Mvezo, província do Cabo Oriental, na África do Sul. Devido à influência inglesa na colonização sul-africana, quando foi matriculado na escola foi determinado a ele um nome inglês. Em homenagem ao almirante Horatio Nelson, da Marinha Britânica, que se tornou famoso por ter enfrentado as tropas de Napoleão Bonaparte, Mandela acabou recebendo o nome Nelson. Ele foi para a escola porque fazia parte da aristocracia tribal. Era sobrinho do rei e isso o ajudou a chegar ao nível universitário. 

A luta contra as injustiças influenciaram a vida de Nelson Mandela desde cedo. Ao ingressar na Universidade de Fort Hare, a única da África do Sul  que aceitava alunos negros, logo  se envolveu com a política estudantil. Ao protestar contra a qualidade da comida que era servida aos alunos, recebeu uma reprimenda. Entre baixar a cabeça, se retratar e seguir a trilha dos contestadores, ficou com a segunda opção, deixou a universidade e mudou-se para Joanesburgo. Acabou concluindo o curso de Direito, por correspondência, na Universidade da África do Sul. Para sobreviver em Joanesburgo, consegue um emprego como guarda em uma mina de ouro. Ali, toma conhecimento de todas as atrocidades pelas quais os negros passavam como funcionários e cidadãos. 

Sua trajetória como advogado começa em 1942. Um escritório de Direito abre uma vaga destinada a um negro. Mandela consegue a vaga e exercendo seu trabalho toma contato com o Congresso Nacional Africano. Crítico, ele discorda da passividade do CNA no que dizia respeito à falta de posicionamento diante das atrocidades que a segregação impunha ao povo preto. Mandela funda a Liga da Juventude do CNA, uma ala radical pela defesa dos valores culturais negros sul-africanos. A Liga da Juventude do CNA prega a desobediência civil contra o regime segregacionista. 

Shaperville

O Massacre de Shaperville, em março de 1960, foi determinante para a prisão de Mandela. A população negra decidiu protestar de forma pacífica contra a Lei do Passe. Eles eram obrigados a portar uma caderneta que determinava os lugares para onde poderiam ir. Quem fosse pego em outra área que não as determinadas na caderneta era preso de forma sumária. Cerca de 30 mil pessoas foram para as ruas pedir o final da Lei do Passe. A polícia decidiu acabar com a Marcha atirando, com isso seus agentes assassinaram 69 pessoas. Outras 186 foram feridas. Mandela foi arrolado como um dos responsáveis pela Marcha, acusado de traição e condenado à prisão perpétua em 1963 com outros líderes do CNA e do Congresso Pan-Africano. 

O massacre, a prisão de Mandela e outros líderes fizeram o mundo prestar maior atenção no que acontecia na África do Sul. Em 1976, com Mandela preso há 13 anos, rebeliões contra o Apartheid eclodiram por todo país. A revolta era principalmente contra a obrigatoriedade de se falar o africâner nas escolas, língua derivada do holandês e que foi desenvolvida na África do Sul no período de colonização. O governo rechaçou as rebeliões matando 1.000 pessoas e prendendo outras 6.000. Movimentos antiapartheid passaram a surgir no mundo todo, pedindo o fim do regime e, a reboque, a libertação de Mandela e de outros líderes. 

Contrainformação

Para provar que o preso Mandela era  bem tratado na prisão de Robben Island, as autoridades sul-africanas promoveram um convite a jornalistas de vários países para irem à prisão e se avistarem com ele. Mandela não perdeu a oportunidade, aproveitou a presença dos jornalistas e falou da situação do seu país. Como resultado, acabou transferido de Robben Island para a prisão de Pollsmoor, onde ficou de 1982 a 1988. Depois de Pollsmoor, uma nova transferência, agora para a prisão de Victor Verster, onde ficou de 1988 a até sua libertação em 1990.  

A Liberdade

Sentindo que a África do Sul poderia passar por uma guerra civil, dado o avanço da extrema direita, que não queria perder os privilégios do Apartheid, e a consequente resistência negra aos direitistas, o então presidente Pieter Botha passou a negociar a libertação de Nelson Mandela. A intenção de Botha era  que Mandela fizesse uma renúncia oficial à luta armada, fato que nunca ocorreu. Tudo estava sendo alinhavado, mas Botha teve uma doença grave que culminou com o seu afastamento da presidência. O bastão foi passado para Frederik De Klerk, que seguiu na mesma estratégia. Em dezembro de 1989, De Klerk manda tirar Mandela da prisão para um encontro na sede do governo sul-africano.  Segundo depoimento de De Klerk, naquela noite do jantar com Mandela, eles não tocaram no assunto da libertação e nem sobre o fim do regime separatista-assassino. Teria sido apenas um encontro de conhecimento mútuo. Porém, dois meses depois, Frederick De Klerk vai até o Parlamento e, em discurso, declara que estavam canceladas todas as prerrogativas que proibiam as atividades do Congresso Nacional Africano, do Congresso Pan-Africano e do Partido Comunista Sul-Africano. Além disso, todos os líderes dessas organizações, detidos pelos seus crimes, seriam libertados. Em 11 de fevereiro de 1990, após 27 anos de cativeiro, Nelson Mandela é libertado. 

Queda do Apartheid    

Para quem pensou que a liberdade colocaria fim aos anseios de Mandela, enganou-se. A busca dele não era pela liberdade. Seu objetivo maior era colocar fim ao regime que oprimia seu povo. Em 13 de fevereiro de 1990, Mandela faz um discurso no estádio Soccer City, em Joanesburgo, e clama pela democracia: “A África do Sul só será livre quando o seu governo for eleito democraticamente”. Mandela sai em viagens ao exterior, angariando simpatia e apoio de grandes líderes mundiais, que o recebiam com honras de chefe de Estado. A pressão pela democracia na África do Sul passou a ser mundial. Frederick De Klerk convoca um plebiscito para saber se as negociações com o CNA continuariam. Apenas a população branca votaria. O “SIM” ganhou de forma esmagadora, com 68% dos votos. O caminho para a convocação de eleições estava aberto. Pelas contribuições em busca do entendimento entre brancos e negros na África do Sul, Nelson Mandela e Frederick De Klerk ganharam o Prêmio Nobel da Paz em 1993. 

Mandela Presidente

Em 27 de abril de 1994 ocorrem as primeiras eleições democráticas na África do Sul. O Congresso Nacional Africano, tendo Nelson Mandela como candidato a presidente, venceu a eleição com 12.237.655 votos; o Partido Nacional ficou com 3.983.690 e o Partido da Liberdade Inkhata ficou com 2.058.294. Mandela se tranformava no primeiro presidente negro a comandar a África do Sul pós-Apartheid. 

Mandela em Filmes, Músicas e Livros

Invictus – filme de 2009

Nelson Mandela é interpretado por Morgan Freeman

Após assumir a presidência, Mandela traça uma estratégia para unir brancos e negros na África do Sul. O esporte é a saída e ele usa a Copa do Mundo de Rúgbi de 1995 para isso.

Mandela: Longo Caminho para a Liberdade – filme de 2013

Nelson Mandela é interpretado por Idris Elba

O filme é baseado na biografia de Mandela, cujo nome é o mesmo do filme. Traça um bom retrato do que forjou o espírito aguerrido e a resiliência de um dos maiores líderes do mundo moderno.

Mandela Day – Música do Simple Minds

A música foi escrita e tocada pela primeira vez no aniversário de 70 anos de Nelson Mandela, durante show no estádio de Wembley, em Londres. O show pedia a liberdade do líder sul-africano.

Free Nelson Mandela – Música do The Specials

Longo Caminho para a Liberdade – Livro de 1994

Relata a infância, juventude, ativismo e os 27 anos em que Mandela passou na prisão.

Cartas da Prisão de Nelson Mandela – O livro traz 200 cartas escritas por Mandela durante os 27 anos em que esteve aprisionado. São registros de inspiradoras reflexões de um homem que soube resistir até alcançar seu objetivo: a queda do regime racista do Apartheid na África do Sul.

Fontes: 

Documentário Nelson Mandela, o Homem por Trás da Lenda – NatGeo

Documentário Nelson Mandela: Apartheid, Racismo e Um Longo Caminho para a Liberdade – Youtube

Show Mandela Day – Julho de 1988 – Youtube

Longo Caminho para a Liberdade – Livro

Programa Já É: Mentoria contribui para fortalecer potencialidades

Estudantes  do Programa que incentiva o acesso ao ensino superior, além das aulas contam com orientação de especialistas para alcançar o objetivo de chegar à universidade e permanecer nela

                                          Por Wagner Prado

Quando é que surge em alguém o sentimento de pertencimento? A resposta é simples: quando a pessoa identifica a si mesma como parte de uma comunidade já estabelecida ou que está se estabelecendo. Apesar da simples resposta, a engrenagem que move sentimentos e sentidos e faz a pessoa alcançar a tal sensação de pertencimento é que é um tanto complicada. Mas não é intransponível. 

Estudantes  do Programa Já É, do Fundo Baobá para Equidade Racial, estão sendo orientados para alcançar a sensação de pertencimento. São jovens negras, negros e negres da cidade de São Paulo e da região metropolitana, moradores de bairros e/ou comunidades periféricas, do sexo masculino e feminino, cis (pessoa que se identifica com o gênero que foi atribuído a ela no nascimento), trans (pessoa que não se identifica com o gênero que foi atribuído a ela no nascimento)  e não binários (pessoa designada como menino ou menina ao nascer, mas que não tem identificação com nenhum desses dois gêneros)

O Já É é um programa de acesso e permanência no ensino superior, de preferência em universidades públicas, para esses jovens negros . Ele procura ampliar as oportunidades de acesso ao ensino de nível superior em algumas das melhores instituições de ensino do país, quer sejam elas gratuitas ou pagas. Acontece que esse grupo de jovens, ao longo de suas trajetórias pessoais, não foi contemplado com o melhor ensino no nível básico. Portanto, carregam algumas defasagens que precisam e estão sendo superadas. O Programa Já É está em seu segundo ano de execução. Neste segundo ano é apoiado pela empresa MetLife, que fez aporte de R$ 1 milhão para o desenvolvimento dos e das estudantes. 

Caminhos da superação

Mas como superar disparidades que colocam quem teve maior poder aquisitivo e pôde frequentar as melhores instituições particulares de ensino, desde a base, no caminho preferencial? O estabelecimento de políticas públicas não governamentais, que sejam afirmativas e gerem oportunidades de desenvolvimento de potencialidades. 

O Fundo Baobá, na elaboração do projeto do Programa Já É, estabeleceu que os estudantes selecionados teriam mentorias de caráter coletivo e de caráter individual com foco na ampliação de suas potencialidades acadêmicas e também suas potencialidades socioemocionais. 

Essa atividade de mentorias é metodologicamente  voltada para pessoas pretas. Ela aborda, de forma sistêmica o processo de estudo que será empregado, considerando os efeitos psicossociais do racismo como algo de extrema singularidade na experiência educacional de cada pessoa. É uma jornada de autoconhecimento em busca de transformação, que reforça as positividades existentes e procura dirimir as negatividades. O resultado pode ser observado em aspectos como a importância de se organizar para a concretização de projetos pessoais, para reter as informações trazidas pelo estudo e também para a realização dos afazeres profissionais. 

A primeira, das 12 sessões de mentoria coletiva foi presencial e aconteceu em 11 de junho. A equipe de mentoria é formada por Ellen Piedade (Gestora de Políticas Públicas pela Universidade Candido Mendes e bacharel em Ciências Políticas pela Universidade de Brasília); Juliana Lima (Pós-Graduada em Direito Empresarial pela Legale Educacional e graduada em Direito pelo Centro Universitário Cesmac, de Alagoas); Jussiara Leal (Graduada em Psicologia pela Universidade de Pernambuco) e Glauber Marinho (Pedagogo pela Universidade de Brasília).

Juliana Lima
Jussiara Leal
Glauber Marinho

Serão feitos outros 11 encontros até o final do segundo semestre, com periodicidade quinzenal e temas variados, como: Planejamento, autoconsciência, autogestão e plano de estudos na prática. Outros dois encontros presenciais estão agendados. 

Ellen Piedade, que coordena o time de mentores,  fala sobre o objetivo acompanhamento e mentoria para o Programa Já É.  “Temos como propósito combater o racismo, por meio de capacitação de alta qualidade e estímulo ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais em pessoas negras. Especificamente na mentoria para estudantes, atuamos a partir de uma metodologia afrocentrada,  que oferece ferramentas para lidar com o desafio pré-universitário  e universitário”, diz. 

Fazer com que estudantes negros não represem suas potencialidade e deixem aflorar até as que não tinham conhecimento é fundamental. “A mentoria trabalha a partir de quatro pilares: intelectual, emocional, físico e espiritual. É uma proposta de olhar sistêmico para os recursos necessários para desenvolvimento de competências que impactam diretamente na vida profissional desses jovens. A mentoria trabalha desde métodos de estudo, os efeitos psicossociais do racismo, sustentabilidade e ecologia de projetos profissionais, quilombismo e consciência social. O foco é investir no protagonismo delas e deles como estudantes e profissionais”, afirma Ellen Piedade. 

Ellen Piedade

As variáveis que podem afetar um bom desempenho estudantil e, posteriormente, profissional, são levadas em conta e analisadas. “Além de revelar métodos de estudos que normalmente não foram ensinados de forma explícita para esses alunos, a mentoria tem uma abordagem que considera outras variáveis que afetam a adesão aos estudos: a sensação de pertencimento, as aspirações e o empoderamento dessas e desses jovens. É um olhar real do trajeto que é necessário percorrer para alcançar a universidade, se formar e entrar no mercado de trabalho”, declara Ellen. 

Jovens negras, negros e negres lutando para alcançar um nível educacional que muitos em suas famílias e entre seus amigos não têm. Como lidar com as dificuldades que isso pode trazer? Ellen Piedade explica: “Na mentoria, o coaching é uma metodologia que ampara a organização do projeto profissional definido (entrada na universidade, a permanência nela  e a colocação profissional). É necessário identificar onde se está e para onde se quer ir e,  a partir desse diagnóstico, constroem-se os caminhos possíveis para a realização do objetivo, estimulando uma tomada de decisão coerente. Dessa forma, essa é uma metodologia orientada ao estímulo, ao protagonismo necessário e maior eficiência das ações que levam ao alcance do objetivo. Tudo isso em uma lógica sustentável e que considera a realidade de cada estudante, sem fórmulas mágicas absurdas e irreais”.

Baobá na imprensa em Maio

Por Ingrid Ferreira

No mês de maio os destaques na mídia citando o Fundo Baobá foram diversos, começando pelos veículos internacionais como a Alliance Magazine que publicou o título “Dois anos após o movimento global por justiça racial de 2020, onde estamos agora?” com participação da Fernanda Lopes, Diretora de Programa do Baobá. E o site Pyxera Global enunciou “Construindo Equidade Racial no Brasil com o Fundo Baobá”.

Já nas matérias publicadas em páginas brasileiras encontra-se no site da 4Labs uma matéria sobre o evento Bett Brasil 2022 da organização, que contou com a presença de Giovanni Harvey, Diretor Executivo do Fundo Baobá falando sobre“Políticas públicas para promoção da inclusão”.

O site Para Quem Doar indicou o Fundo Baobá como uma instituição para receber doações com a seguinte legenda: Lute em prol da igualdade de raça apoiando o primeiro fundo dedicado à promoção da equidade racial no Brasil. E o Jornal Empodera falou a respeito do e-book lançado pelo Fundo Baobá divulgando resultados do Programa Marielle Franco.

 O InfoMoney citou o Baobá na matéria “A colaboração no terceiro setor: importância e desafios”, sobre a atuação das  organizações do terceiro setor durante esses dois anos de pandemia da Covid-19 no Brasil. E o Investnews com o seu título “O ‘ESG à brasileira’ precisa dar salto em relação à população negra” que usou o Fundo Baobá como exemplo de uma instituição que mobiliza recursos, no Brasil e no exterior, para apoiar projetos que promovam a equidade racial em todo o território nacional. 

“Fundo Baobá divulga resultados do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco” foi a matéria publicada no Notícia Preta. O Sebrae compartilhou uma planilha em que consta a indicação ao Edital para Apoiar Pessoas e Comunidades no Combate ao Coronavírus, que foi lançado em 2020 pelo Baobá.

Já a página na internet Chico Terra publicou um texto com o título “Território Quilombola do Maracá será a próxima região a ser contemplada com o edital do Fundo Baobá”.

Organizações e lideranças apoiadas pelo Fundo Baobá:

Da coluna Coletiva Negras que Movem do Gelédes, em maio teve postagem no Instagram falando a respeito do artigo “Metaverso – Estamos transformando a vida em game?”, em que Vitorí da Silva fala sobre os saltos tecnológicos que foram dados e os que ainda acontecerão.

Outro artigo publicado também na coluna do Portal Geledés é o “Enegrecida Festival: aquilombamento, protagonismo e cura”, da autora Carolina Brito, falando sobre o evento Enegrecida Festival, que aconteceu em Campina Grande na Paraíba, nos dias 13, 14 e 15 de Maio.

O Empreendedorismo como Caminho da Dignidade na Vida de Pessoas Negras LGBTQIA+

Por Ingrid Ferreira

No dia 28 de junho comemora-se uma data de extrema importância para que a sociedade seja democrática e trate com respeito às especificidades de cada ser humano: o Dia do Orgulho LGBTQIA+. Apesar de ter um dia dedicado, às comemorações se estendem pelo mês todo, o evento mais conhecido e com maior número de frequentadores é a Parada LGBTQIA+ de São Paulo.

O Fundo Baobá,um fundo voltado exclusivamente para apoiar iniciativas de promoção da equidade racial para pessoas negras, reconhece as intersecções entre raça, gênero, território e sexualidades. No Brasil e em outros países onde existe racismo, pessoas pretas LGBTQIA+ enfrentam desafios ainda mais complexos para viver com dignidade, respeito e com seus direitos efetivados.

O intuito do Fundo é contribuir para que  as pessoas negras cuja identidades de gênero não são heteronormativas  estejam próximas e acessem as oportunidades que a instituição oferece seja no campo da educação, comunicação e memória, saúde, enfrentamento à todas as formas de violência, empreendedorismo. 

Em um país onde as oportunidades de trabalho, emprego e renda são escassas, o número de pessoas negras que empreendem em busca de  autonomia financeira cresce todos os dias. 

Como afirma Akuenda Translésbicha, dona da Erzulie Igbalê, apoiada pelo Fundo Baobá no edital Negros, Negócios e Alimentação – Recife e Região Metropolitana: “Eu já vendi várias coisas de diferentes ramos, gêneros e serviços, mas comida é algo que até na guerra conseguimos fazer dinheiro, pois é uma necessidade vital, foi base da colonização e base da economia, está na história de libertação do nosso povo e também é uma forma de consolidar expressões culturais e cosmovisões. Meu negócio entendeu a alimentação como um campo estratégico para propagar uma vivência radical e dissidente, provocando afirmação política, isso faz o diferencial na nossa cozinha.”. 

Akuenda Translésbicha, proprietária do empreendimento Erzulie Lgbalê – Recife- PE

Akuenda também fala sobre a sensação de ter seu empreendimento selecionado em um edital do Fundo Baobá: “Senti que meu negócio é reconhecido por especialistas e que foi avaliado com potencialidade de prosperar, além de que ter outras pessoas acreditando nele, o que me motiva e me faz olhar pra trás e perceber o início dificultoso, mas me sentir recompensada pelo trabalho feito até aqui. Quero sentir essa mesma sensação no futuro, para continuar nesse movimento de construção, alimentando possibilidades de mudança social e pessoal para além das dificuldades com sabor de revolta”.

O donatário Aleff Souza, dono do empreendimento Delícias do Alleff, selecionado também no edital Negros, Negócios e Alimentação – Recife e Região Metropolitana também falou um pouco sobre a sua experiência como empreendedor: “Como dono do meu próprio negócio nesses anos eu não tive nenhum problema referente a discriminação, além de livre me sinto realizado e privilegiado por criar uma rede de contatos que me respeita. Diferente dos meus empregos anteriores,  onde sofri situações de racismo e homofobia. Isso também foi um ponto crucial na decisão de trabalhar pra mim mesmo, pra não ter que passar por certas situações traumatizantes”.

Aleff Souza, proprietário do empreendimento Delícias do Alleff – Recife- PE

Aleff fala como participar do edital tem fortalecido as suas potencialidades emocionais e de sua equipe: “Sem sombra de dúvidas, fazer parte desse edital me fez enxergar o quão  bom eu e minha equipe somos no que exercemos. E sendo um negro, de periferia e homossexual,  me sinto fortalecido estando à frente de um negócio, onde nenhum tipo de racismo ou discriminação é tolerado e na medida em que for crescendo, será um espaço onde todos, todas e todes terão oportunidades de exercerem suas funções e reafirmarem suas identidades sem nenhuma restrição”.

As falas de Akuenda e Aleff provam como empreender pode significar criar um ambiente de trabalho mais digno para pessoas LGBTQIA+ negras. Além de conversar com a donatária e o donatário, o Baobá também conversou com o Flip Couto,  que é um homem negro, gay, produtor cultural e engajado tanto nas pautas do movimento LGBTQIA+ quanto nas pautas raciais, e há pouco tempo colaborou na organização de um evento do Programa Já É: Educação e Equidade Racial.

Flip Couto – Produtor, ativista, artista e militante do movimento negro e LGBTQIAP+ – SP

Ao ser questionado se ele dentro das suas particularidades se sente representado pelo Fundo Baobá, Flip diz que: “Desde que conheci o Fundo Baobá em 2017 através dos editais, eu sempre olhei a organização com admiração pela coerência entre seus projetos e seus fundamentos. Através do movimento pró saúde da população negra, eu me aproximei de Fernanda Lopes (Diretora de Programa do Fundo Baobá) e em 2020 tive a oportunidade de colaborar com o Projeto Já É. Esse processo me fez conhecer as pessoas geniais que semeiam as ações do Fundo Baobá e entendi o diferencial na forma cuidadosa,  trazendo olhares amplos em suas ações; além de todo o legado em colaboração com importantes nomes do ativismo negro no Brasil.”

Também foi perguntado a Flip como ele acha que o Fundo Baobá pode ter mais visibilidade entre a população negra LGBTQIA+, e ele respondeu o seguinte: “Infelizmente,  pessoas negras LGBTQIAP+ seguem com poucas referências de pertencimento, pois durante décadas nossas histórias foram apagadas e silenciadas. Criar encruzilhadas entre a orientação sexual, diversidade de gênero e negritudes nos abre um leque de possibilidades de diálogo. E penso que é nessas aberturas de diálogo que o Fundo Baobá pode gerar mais visibilidade e aproximações com pessoas negras LGBTQIAP+ de diferentes gerações e esse é um importante processo de equidade racial, pois nos faz refletir sobre a pluralidade dentro de nossa comunidade negra.”

Flip também comentou que como produtor, ativista e artista, o Fundo Baobá é uma grande referência para ele por mostrar possibilidades de fortalecimento da comunidade sem se distanciar de suas bases.

Luiz Gama e o seu Legado em Defesa da Liberdade

Por Ingrid Ferreira

Em 21 de junho de 1830, nasceu em Salvador – Bahia um grande ícone da história brasileira; autodidata, abolicionista, republicano, jornalista e advogado, é ele, Luiz Gama, que é comparado a Zumbi dos Palmares em sua importância na luta anti escravocrata no Brasil, como é possível conferir no relato do jornalista e escritor Laurentino Gomes e na produção audiovisual do canal Tempo História.

Gama nasceu livre, filho de uma mulher africana chamada Luiza Mahim e ao que tudo indica, guerreira e islâmica. Há rumores que ela participou da Revolta dos Malês e, por essa razão, não pôde participar da criação do filho. Por outro lado, o pai era um fidalgo português importante na Bahia da época, que estava com dívidas de jogos e vendeu o próprio filho como escravo.

Naquele tempo, as pessoas escravizadas na Bahia tinham fama de revoltosas, o que não despertava o interesse dos senhores de engenho em comprá-las, por isso o menino foi mandado para o Rio de Janeiro e depois para o interior de São Paulo, em Campinas, onde chegou quando estava com 10 anos.

Em São Paulo, aos 17 anos aprendeu a ler, mostrando que além de tudo era autodidata. Em seus estudos sobre direito descobriu que sua venda havia sido ilegal, pois ele era um homem livre. Tendo provas disso, ele fugiu do cativeiro. A história de Luiz Gama se assemelha muito à história do filme norte-americano “12 anos de escravidão”, de 2013, que fala justamente de um homem negro livre, que é sequestrado e vendido como escravo.

Diante de sua história, como forma de tratar desse momento tão difícil de sua vida, Gama decidiu nunca revelar o nome de seu pai; por outro lado, sua mãe sempre foi uma grande figura para ele, tanto que chegou a procurá-la, porém, infelizmente não teve sucesso, como é possível ver nos registros de cartas que deixou, falando de seu pai, sua mãe e suas lutas.

Após esse processo, Luiz Gama serviu durante 6 anos a força pública, depois foi nomeado escrivão de polícia, cargo que ocupou durante 15 anos, até que foi demitido por ser alguém envolvido em causas que lutavam pela liberdade. Após esse acontecimento, ele pediu a um juiz o direito de advogar na comarca de São Paulo, sendo nomeado como um rábula (advogado sem formação), e nesse mesmo período tornou-se jornalista, decidido a escrever contra as injustiças da época como forma de denúncia.

O trabalho no jornal teve início através da parte técnica. Ele aprende o ofício de montagem dos jornais, formatação manual como era na época e distribuição. Nisso ele passa a dedicar-se à escrita, tornando-se sócio e proprietário de uma tipografia e dedicando-se às letras dentro do Direito e do Jornalismo, sendo um homem da mídia do seu tempo, inclusive estampando nos jornais as ameaças de morte que ele recebia.

Por intermédio de sua luta pela abolição e pela república, Luiz Gama foi uma celebridade do seu tempo, ainda que tenha morrido muito jovem aos 52 anos, vítima de diabetes. Gama deixou um legado surpreendente, tendo libertado, ao longo de sua vida,  mais de 500 pessoas escravizadas. 

Apesar de ser um homem negro vivendo uma vida atípica para a época, Gama sabia muito bem das dificuldades que assolavam a vida do seu povo, tanto que declarou que todo escravo que atacasse o seu senhor, independentemente da situação, estava agindo em legitima defesa.

Mesmo com todas as vitórias ao longo de sua vida, Gama não deixou bens em dinheiro para sua família ao falecer, mas com certeza deixou um grande legado para todos, em seu velório, as pessoas se revezavam para carregar o seu caixão. Atualmente, encontra-se na Praça da República em São Paulo , uma estátua de seu busto que o homenageia, além de uma instituição que carrega o seu nome e é uma associação civil sem fins lucrativos formada por um grupo de juristas, acadêmicos e militantes dos movimentos sociais que atuam na defesa das causas populares.

Foto realizada com estudantes do Programa Já É e equipe do Fundo Baobá em tour por São Paulo, com o guia Allan da Rosa

Fundo Baobá anuncia filiação ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas)

Por Wagner Prado

O Fundo Baobá para Equidade Racial anuncia sua filiação ao GIFE (Grupo de |Institutos, Fundações e Empresas), organização que congrega 160 associados, responsáveis pelo aporte de mais de R$ 5 bilhões em investimentos sociais no ano de 2020, por intermédio de projetos próprios ou projetos elaborados por terceiros. 

A importância de o Fundo Baobá fazer parte agora do grupo de organizações que estão sob o guarda-chuva do GIFE está no fato de poder trocar a experiência de seus 11 anos de atuação na promoção da equidade racial no Brasil, tendo investido em mais de 900 iniciativas negras em todo território brasileiro. 

O diretor executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial, Giovanni Harvey, e o secretário-geral do GIFE, Cassio França, falam sobre as expectativas da chegada do Fundo Baobá ao GIFE. 

O que significa para o Fundo Baobá essa entrada no GIFE? 

Giovanni Harvey O Fundo Baobá se relaciona com o investimento social privado desde a sua fundação e, neste contexto, já mantinha um certo grau de proximidade e interação com o GIFE, que teve incidência direta durante o processo de elaboração do nosso plano estratégico, em 2017. A decisão pela associação formal foi amadurecida ao longo dos últimos anos e nós tivemos o entendimento de que este era o momento oportuno, sobretudo pela dimensão que a agenda da Equidade Racial alcançou no GIFE. O aumento do endowment do Fundo Baobá, o reconhecimento da nossa expertise na realização dos editais e os resultados que a instituição vem alcançando, ampliaram as nossas responsabilidades, tanto junto à Rede de Fundos para a Justiça Social (RFJS) quanto em relação ao GIFE. O nosso propósito é contribuir, fortalecer, trocar e aprender com as pessoas e as instituições que construíram o GIFE e fizeram dele a principal referência quando se fala em investimento social privado no Brasil.

Para o GIFE, o que significa ter o Fundo Baobá em seu portfólio de associados? 

Cassio FrançaA chegada do Fundo Baobá dialoga com a nossa intenção de o GIFE ser, cada vez mais, plural e abrangente.  A pluralidade e diversidade que o GIFE busca tem a intencionalidade de contribuir para decolonizar a filantropia e o investimento social privado no país. Ter uma organização como o Fundo Baobá entre os associados, cuja finalidade é a justiça social e racial, certamente influenciará positivamente todo o campo rumo ao desenho e execução de estratégias de enfrentamento ao racismo, às desigualdades e à antidemocracia. 

No que o GIFE vai contribuir para estender a expertise que o Baobá acumula em 11 anos de trabalho com a filantropia para equidade racial?

Giovanni HarveyComeçar a participar, de forma orgânica, do dia a dia do GIFE já representa um ganho para o Fundo Baobá, pela intensidade das trocas e pela possibilidade da nossa instituição incidir no rumo dos debates internos que subsidiam o processo de tomada de decisões. A decisão pela associação foi tomada sem ressalvas. A  relação com o GIFE é um livro com páginas não escritas. E elas serão escritas em conjunto. O que posso dizer, neste momento, é que o Fundo Baobá tem a expectativa de que a participação no GIFE contribua para a melhoria contínua dos seus processos e permita, através da troca de experiências com os demais associados, aumentar a efetividade e o impacto das doações que a instituição realiza com o intuito de fortalecer as iniciativas lideradas por pessoas e organizações do movimento negro,  que se dedicam a enfrentar o racismo e promover a equidade racial no Brasil.

Quando agregamos alguém ou algo ao nosso cotidiano, olhamos também o que aquele novo elemento pode nos trazer. O que o Fundo Baobá pode trazer para o GIFE? 

Cassio FrançaA expectativa é muito positiva no que diz respeito ao avanço e aprofundamento de temas estratégicos e emergências no campo do investimento social privado e da filantropia, como a filantropia colaborativa, o apoio a organizações da sociedade civil e, sobretudo, a promoção da equidade racial. Esses são temas de nossa agenda e que dialogam diretamente com o trabalho realizado pelo Fundo Baobá e, por isso, acreditamos que a presença do Baobá  enriquecerá ainda mais os debates, especialmente em nossas redes temáticas. 

Quais serão os primeiros passos dessa associação? 

Giovanni HarveyNós começamos a participar das instâncias decisórias formais. Estamos contribuindo na formulação de diretrizes nos temas nos quais temos expertise e assumindo responsabilidades e tarefas afetas à agenda institucional, incluindo debates internos e organização de eventos. Estamos aprendendo bastante e tendo oportunidades de troca com os demais associados.

Cassio França – A associação do Fundo Baobá chega em um momento propício para que os assuntos ao redor do plano estratégico do GIFE ganhem mais potência. 

Existe algo que você queira comentar e não foi abordado aqui?  

Giovanni Harvey O tema das relações raciais e o enfrentamento ao racismo estrutural são os eixos que orientam a atuação do Fundo Baobá. Nós temos o entendimento de que, atuando de forma orgânica e propositiva, nós poderemos ampliar a presença destes temas no contexto dos demais temas que mobilizam a filantropia no Brasil, numa via de mão dupla que também nos fará assumir responsabilidades institucionais no sentido de fortalecer outras agendas que, somadas às nossas causas, são fundamentais para o aperfeiçoamento da democracia no Brasil.

Cassio FrançaO fortalecimento da democracia está no centro do plano estratégico do GIFE para 2022. Traduzimos, para este período, o fortalecimento da democracia em três grandes eixos: enfrentamento às desigualdades estruturais; promoção da equidade racial e fortalecimento da sociedade civil. Isso significa que, ao longo deste ano, estaremos promovendo mais discussões, produzindo conteúdo e incentivando nossos associados a desenvolver ações que fortalecem a democracia. 

Malcolm X teria completado 97 anos neste 2022 e pelo carisma, elegância, discurso e luta ele faz muita falta

Quando cumpriu seis anos de prisão, os livros e a busca do conhecimento foram sua saída 

    Por Wagner Prado

Malcolm Little. O nome é familiar a você? Nascido no início do Século 20, exatamente em 1925, neste ano de 2022 o mundo, especificamente os Estados Unidos, comemora o aniversário de 97 anos de seu nascimento. Little tornou-se um símbolo na luta pelos direitos civis dos negros nos anos 1950/1960. Sua oratória era incendiária. Fazia pensar, refletir e agir. Malcolm Little tornou-se mundialmente conhecido pelo nome que adotou: Malcolm X. Ele talvez seja a mais pura tradução do que o racismo estrutural pode fazer com alguém. As informações contidas aqui são fruto da leitura do livro Malcolm X – Autobiografia, escrita por ele em parceria com o jornalista Alex Haley.  

Malcolm Little nasceu em Omaha, no estado de Nebraska (meio oeste dos EUA). Filho de um pastor, Earl Little, e de Louise Helen Little, perdeu o pai muito cedo, em circunstâncias suspeitas. Oficialmente, Earl Little teria sido atropelado por um bonde. Mas exames feitos em seu cadáver descobriram um ferimento na cabeça, que não foi causado no suposto atropelamento. Earl, em suas pregações, defendia a independência e separatismo negro da sociedade branca. O que se suspeita é que Earl Little tenha sido surrado e seu corpo colocado na linha férrea do bonde para ser atropelado. 

A morte do pastor Earl Little deixou Louise Helen sozinha para cuidar de oito filhos. O estado norte-americano  desfez a família, mandando cada uma das crianças para famílias diferentes. Malcolm foi morar em uma residência branca mas, aos 14 anos decidiu fugir.  Apesar de bom aluno, o racismo o atingiu em cheio quando, ao revelar para um professor que seu sonho era ser advogado, o professor o desencorajou ao dizer que ser advogado não se adequava a um negro. Seria melhor ele pensar em ser um carpinteiro. A partir disso, o então bom aluno tornou-se um menino problema, até ser expulso da escola. 

Malcolm arrumou um bico no trem que ia de Omaha até Nova York (leste dos EUA). Na Big Apple, a vida do menino foi completamente transformada. Vivendo no  Harlem em uma época em que o tráfico de drogas começava a se organizar e ganhar as ruas, o garoto foi crescendo como o que hoje, na gíria, é conhecido por aviãozinho (aquele que faz a intermediação da venda da droga entre o consumidor e o traficante). Daí para outras contravenções, como roubos e furtos, não demorou muito. A lei trancafiou Malcolm.   

A transformação para Malcolm X

Condenado a 10 anos por tráfico de drogas e roubo, a prisão acabou sendo o grande marco transformador na vida de Malcolm Little. Cumprindo pena, ele conheceu John Elton Bembry, a quem ele carinhosamente chamava de Bimbi. Bembry era um autodidata e incentivou Malcolm a procurar conhecimento. Ele passou a ter interesse pelos livros e fez da leitura e do conhecimento suas bases, assim como a oratória transformou-se em sua principal habilidade. Quando saiu da cadeia, após cumprir seis dos 10 aos quais havia sido condenado, juntou-se à Nação do Islã, comandada por Elijah Muhammad, onde já militavam dois de seus irmãos. 

Malcolm Little rompeu com tudo o que dissesse respeito ao homem branco. Daí a decisão de retirar de seu nome o sobrenome Little. O motivo alegado por ele era de que os senhores de escravos davam a estes os seus sobrenomes. Isso caracterizava propriedade. Como ele considerava-se livre e não propriedade de nenhum Little, passaria a ter o sobrenome “X”. 

Nação do Islã

Malcolm X rapidamente foi ganhando espaço dentro da Nação do Islã, comandada por Elijah Muhammad. Tornou-se seu principal porta-voz. Seus discursos fortíssimos fizeram com que a Nação do Islã crescesse de 500 fiéis para mais de 30 mil em apenas dois anos. Ele era o homem que percorria os EUA com pregações e angariava novos fieis. Seu objetivo era fazer com que os negros americanos tivessem seus direitos respeitados, nem que para isso tivessem que pegar em armas. 

Malcolm X passou a ser uma figura midiática. Com frequência estava nas principais redes de tevê dando entrevistas polêmicas. Como não se escondia de dar boas e contundentes respostas, sempre era fustigado pelos entrevistadores. O mundo passou a ter percepção do que ele dizia. Suas opiniões e suas aparições passaram a causar ciúme dentro da Nação do Islã. Seu brilho ofuscava o líder Elijah Muhammad. Uma declaração de Malcolm X quando do assassinato do então presidente John Fitzgerald Kennedy,  em 1963, fez a coisa azedar com a Nação do Islã. Ao ser questionado sobre o assassinato, Malcolm X disse algo como: “Você colhe o que você planta”.  Elijah Muhammad ordenou que ele não mais se manifestasse. Foi nesse contexto que Malcolm X fez uma denúncia contra Elijah. O líder da Nação do Islã estaria utilizando parte do dinheiro arrecadado pela irmandade em proveito pessoal, além de ter filhos com meninas adolescentes que Muhammad utilizava como suas secretárias. Elijah Muhammad era casado. E mesmo que não fosse, aquilo não era comportamento de um líder religioso. 

Traidor e Insurgente

A partir de sua denúncia, Malcolm X foi declarado traidor da Nação do Islã. Ao mesmo tempo, por conta de seus discursos e reivindicações pelos direitos dos negros, o FBI (Federal Bureau of Investigations / Departamento Federal de Investigações) já estava de olho nele e o classificara como insurgente, um subversivo que merecia toda atenção porque poderia levar o país a uma convulsão racial. Ele passou a ser grampeado, seguido e monitorado. 

O atentado

Depois de se desligar da Nação do Islã, Malcolm X viajou para cidade de Meca, na Arábia Saudita, o templo do islamismo. Ao voltar ele fundou a Organização para a Unidade Afro-Americana, (Organization of Afro-American Unity – OAAU), que não era uma organização religiosa de defesa da identidade negra e de combate radical ao racismo. Malcolm X passou a receber várias ameaças de morte. Uma atentado a bomba foi feito em sua casa em 14 de fevereiro. Ninguém se feriu e, em declarações à tevê, Malcolm X culpou a Nação do Islã pelo ocorrido. 

O assassinato

Em 21 de fevereiro de 1965, durante evento da Organização para a Unidade Afro-Americana no Audubon Ballroom, no bairro Washington Heights, em Manhattan (Nova York), enquanto Malcolm X falava no púlpito colocado no palco, um tumulto teve início. Os seguranças tentaram conter o problema e se dispersaram. Nisso, três homens se aproximaram do palco e começaram a disparar contra Malcolm X. Os tiros foram dados em direção ao seu peito. No total, foram 13  tiros. Ele teve morte instantânea. Ali morria o homem, mas nascia o mito, cujo legado de luta e perseverança pela comunidade negra e para a comunidade negra permanece nos dias de hoje. Com certeza em 2025, quando do centenário de seu  nascimento, muito do que ele fez e deixou será rememorado. 

Para saber muito mais sobre Malcolm X 

1 – Livro: Malcolm X – Autobiografia / Autores – Malcolm X e Alex Haley

2 – Filme: Malcolm X (1992) – Direção: Spike Lee – Com: Denzel Washington como Malcolm X

3 – Documentário: Quem matou Malcolm X (2020) – Direção: Rachel Dretzin e Phil Bertelsen

 

Morre o ator Milton Gonçalves, aos 88 anos

Por Wagner Prado

O Brasil perdeu no início da tarde deste 30 de maio uma de suas grandes referências artísticas da dramaturgia. Morreu no Rio de Janeiro, em consequência de problemas relacionados a um Acidente Vascular Cerebral (AVC), o ator Milton Gonçalves, de 88 anos.
Milton Gonçalves fazia parte do elenco de atores da Rede Globo, onde fez praticamente tudo: 40 novelas, casos especiais, minisséries, humorísticos e apresentações. Gonçalves era mineiro de Monte Santo. Ele nasceu em 9 de dezembro de 1933.

Neste ano de 2022, o ator foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz, do Rio de Janeiro, com o enredo Axé, Milton Gonçalves – No Catupé da Santa Cruz, que mostrou a história do ator desde sua saída de Minas, a chegada no Rio, seu envolvimento no mundo das artes e o engajamento político. Milton foi um dos fundadores do Teatro de Arena, onde se destacou com as peças “Eles não Usam Black Tie” e “Arena Conta Zumbi”. Como ativista político, militou em prol da redemocratização durante a Ditadura Militar. Também foi voz influente no debate racial, dentro e fora do então PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) e desde 2017 MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

Na tevê, Milton Gonçalves fez personagens marcantes, como o Braz Canoeiro, na primeira versão da novela Irmãos Coragem (1970/1971). Sua última participação em novelas ocorreu em 2018, quando interpretou o catador de lixo Eliseu em “O Tempo Não Para”.

Baobá na imprensa em Abril

imprensa

Por Ingrid Ferreira

No mês de abril o Fundo Baobá teve uma grande repercussão na mídia internacional por ter sido uma das organizações selecionadas pela bilionária MacKenzie Scott para receber uma doação de parte de sua fortuna, a notícia se estendeu para o mês de maio, e foi tema de uma matéria do UOL com o seguinte título: “Ex de Bezos, MacKenzie Scott doa milhões para incentivar ONGs pelo Brasil”.

E o portal Geledés e o GIFE também falaram sobre o assunto na matéria “Doações de Mackenzie Scott fortalecem sociedade civil brasileira”, em que relata que: “A contribuição financeira de Mackenzie fortalece o trabalho de organizações da sociedade civil atuantes na área de educação, saúde, desenvolvimento urbano, ambiental, mulheres e equidade racial, que é a pauta trabalhada pelo Baobá”.

O Valor publicou a matéria “Quantos e-mails valem US$ 5 milhões?”, em que conta a diligência pela qual a Brazil Foundation, como as demais instituições passaram para receber a doação milionária de Mackenzie Scott, e cita o Fundo Baobá como um recebedores, acompanhado do comentário da Rebecca Tavares CEO da instituição: “Ela escolheu entidades que estão fazendo um trabalho excelente, com uma atuação mais estratégica em direito das mulheres, direitos humanos e em educação para cidadania”.

A Folha de Pernambuco deu destaque ao edital Negros, Negócios e Alimentação, com o título “Empreendedores negros do ramo alimentício receberão aporte de R$ 30 mil”, em que explica que Baobá anunciou os 14 empreendedores (as) negros (as) do ramo alimentício, que receberão R$ 30 mil para crescimento de suas empresas.

Além disso, o Portal Alyne Kaiser falou sobre a participação do estado do Amapá no edital Vidas Negras, Dignidade e Justiça, na matéria “Associação de jovens quilombolas é contemplada com edital do Fundo Baobá”. E o IDIS citou o Baobá na matéria: “Advocacy presencial pelos fundos patrimoniais é retomado em Brasília”.

Organizações e lideranças apoiadas pelo Fundo Baobá:

O artigo  “Pureza e o filme, no enfrentamento ao Trabalho Escravo no Brasil”, publicado no Portal Geledés, é de autoria de Brígida Rocha dos Santos, uma das lideranças apoiada na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial com apoio da Fundação Kellogg, Fundação Ford, Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. 

No instagram do Portal Geledés, encontra-se também o artigo “Políticas antirracistas no Governo Federal em 2023: O quê se entrevê em um governo de centro?”, em que a autora Clara Marinho Pereira, fala sobre Lei de Cotas no ensino superior federal, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) das Domésticas e a Lei de Cotas no Serviço Público.

E a página contou também com o artigo “Celebrar nossas conquistas também é ser antirracista”, em que a autora Jaqueline Fraga, fala sobre diversas formas de modificar o ambiente ao qual pessoas pretas estão expostas.

Clara Marinho e Jaqueline Fraga também foram apoiadas pelo Fundo Baobá na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. 

Entrevista com Tiago Borba do Instituto Unibanco

Por Ingrid Ferreira

No dia 24 de outubro de 2016, acontecia o II Seminário Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra, e nele foi lançado o II Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra, atualmente, seis anos depois, conversamos com Tiago Borba que é Gerente de Gestão Estratégica no Instituto Unibanco, que foi o responsável por financiar o edital.

Ao ser questionado a respeito do que o Instituto Unibanco pode dizer sobre a questão racial no Ensino Médio, Tiago fala que: “Não é possível avançar no sentido de uma educação de qualidade sem o enfrentamento às desigualdades. No contexto brasileiro, a racial é a estruturante. Enfrentamento só se faz compreendendo e atacando as alavancas que mantêm e fortalecem a discriminação e a perpetuação do racismo no processo educativo”.

Tiago Borba – Gerente de Gestão Estratégica do Instituto Unibanco

Tiago ressalta: “A gestão tem grande importância, como identificar as fragilidades das escolas e redes, promovendo ações que incidam na implementação da Lei 10.639/2003 que fala a respeito das práticas de diversidade étnico-racial na educação. Institucionalizar ações concretas que valorizem a episteme e cultura africana nas atividades pedagógicas, formando os profissionais da educação, ou gerar dados robustos racializados e a capacidade de analisá-los para tomada de decisão e desenho de políticas públicas são exemplos de ações que são de responsabilidade da gestão, que podem gerar transformações e equidade”.

Como é possível observar, o tema segue sendo muito atual, e a busca da  equidade racial na educação formal deve prevalecer, tanto que Tiago comenta a respeito da importância de a doação ter sido destinada ao Fundo Baobá, ele fala que o fortalecimento institucional de agentes relevantes no campo social e de educação é uma das frentes de atuação do Instituto Unibanco e que no campo do combate às desigualdades raciais, o Fundo Baobá é central, legítimo e possui potência de transformação.

O Gerente de Gestão Estratégica preocupa-se também em falar que o Instituto Unibanco possui missões equivalentes ao Fundo Baobá, como o objetivo de promover a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, e a forma que isso é feito, segundo ele, fortalecendo e investindo em organizações e lideranças negras comprometidas com o enfrentamento ao racismo.

O Instituto Unibanco apóia outras instituições também, sendo elas: ABPN (Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as), CDINN (Coletivo de Intelectuais Negras e Negros), Ação Educativa, IMJA (Instituto Maria João Aleixo) / Uniperiferias e agenda de equidade racial no mundo fundacional. Além do principal programa do Instituto Unibanco, que é o Jovem de Futuro, desenvolvendo e aplicando uma estratégia que envolve formação, autoavaliação e indicação de ações voltadas para a ERER (Educação para as relações étnico-raciais) que as escolas parceiras incluem em seus planos.

Futebol brasileiro continua sem dar chance a treinadores negros e fora do campo crescem os casos de racismo contra jogadores e torcedores 

No futebol feminino os casos de racismo também estão crescendo

Por Wagner Prado

Ao longo dos 128 anos (1894) em que foi introduzido e popularmente consolidado no Brasil, o futebol tornou-se um dos grandes produtos de exportação. Em 2021, segundo dados do relatório Raio X do Mercado, elaborado pela Diretoria de Registro, Transferência e Licenciamento da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o volume de transferências de jogadores e jogadoras brasileiros para o exterior alcançou mais de um bilhão de reais. Exatamente: R$ 1.012.919.149,00. Somadas as transferências internas, a conta ultrapassa os R$ 2,2 bilhões. 

O sucesso do futebol dentro de campo -o país é o único a ostentar o título de cinco vezes campeão em Copas do Mundo- é que faz dele um sucesso comercial em termos de negociação de atletas. Mas esse sucesso não é refletido em termos de respeito à diversidade racial.

O Brasil gerou inúmeros e lendários craques negros. Ao mesmo tempo, o Brasil tem apenas um treinador negro orientando uma equipe da Série A, a principal do futebol no país. Jair Ventura é responsável pelo Goiás. As demais 19 equipes que disputam a competição nacional em 2022 não têm técnicos negros. Na Série B, também com 20 equipes, os únicos negros são Hélio dos Anjos, orientador da Ponte Preta, equipe de Campinas, e Roger Machado, do Grêmio, de Porto Alegre. 

O Brasil tem, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 56,2% de sua população formada por negros. Maioria absoluta. Mas a discussão sobre a não presença de treinadores de futebol de origem negra em suas principais equipes não é feita. O diretor  executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, opina sobre o fato.  “O mais impressionante desses dados não é que não existam treinadores negros, mas que esse debate nem exista no futebol brasileiro. A sociedade brasileira não se surpreende por não ter negros nesses espaços, porque no Brasil não é comum ter negros nessas posições. O futebol acaba sendo uma repetição da sociedade racista”, disse ele em entrevista à AFP (Agência France Presse).

Seleção Brasileira

De 1930, quando disputou sua primeira Copa do Mundo, até 2022, a  Seleção Brasileira foi dirigida apenas por dois técnicos negros. O primeiro, Gentil Cardoso, em 1959. O segundo, Vanderlei Luxemburgo, de 1998 a 2000. Para o atual técnico da Seleção, Tite, isso se deve ao racismo. “Eu vou me posicionar. Luto e lutei minha vida toda contra minha ignorância. Procurei ler, aprender e estudar. E continuo. E contra a hipocrisia que é brincar de faz de conta, prefiro responder:  Há sim um preconceito. E ele é arraigado, estrutural, sim”, disse em entrevista coletiva em outubro de 2021, antes do jogo Brasil x Venezuela pelas Eliminatórias da Copa 2022. 

Um guerreiro

Roger Machado, atual técnico do Grêmio e que já treinou Bahia, Palmeiras,  Fluminense e Atlético Mineiro, tem se transformado em um dos mais atuantes agentes contra o racismo no futebol brasileiro. Ele é contundente ao falar sobre a questão dos técnicos negros. “O futebol revela o que somos como sociedade. A representatividade da população negra em outras áreas é muito parecida com a do futebol. Quando negros e brancos decidem ascender na pirâmide social, os filtros começam a aparecer. São os filtros da ideologia que criou o racismo e que atribui ao negro uma condição de menor inteligência, menor capacidade de liderança e gestão, justamente as competências de um treinador de futebol”, disse ao jornal Zero Hora.

Falando sobre sua trajetória no futebol e as coisas que teve de enfrentar, Roger Machado relata fatos do seu caminho para se firmar na profissão.  “O racismo velado, à brasileira, construiu falso mito de uma “democracia racial” na qual, em teoria, não havia racismo nem preconceitos no Brasil. A discriminação sistemática, estrutural, é outra, mais complexa. Nos meus primeiros trabalhos como treinador, muitas vezes, quando era demitido, questionavam a minha capacidade de gerir grupos, sendo que essa era uma das grandes capacidades que eu sempre tive como jogador, como liderança, como capitão”, afirmou Roger. . 

Futebol Feminino

O futebol feminino ainda está em fase de consolidação no Brasil. Já existe um Campeonato Brasileiro organizado, as transmissões na tevê estão se popularizando e as mazelas são quase as mesmas do futebol masculino, principalmente no que se refere ao desrespeito às jogadoras. As ofensas raciais e as de gênero são as mais frequentes. 

Um caso marcante ocorreu em novembro de 2021 durante jogo do Campeonato Brasiliense, conhecido como Candangão. O Cresspom (Clube Recreativo e Esportivo de Sub-Tenentes e Sargentos da Polícia Militar do Distrito Federal) enfrentava a Aruc (Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro). No Cresspom joga Thamires da Conceição, a Buga. Ela sofreu ataque verbal racial por parte de um torcedor durante a partida e fez a denúncia policial. “Na hora do jogo, segurei a onda por ser profissional. Joguei, me dediquei ao clube, mas depois quando coloquei a cabeça no travesseiro foi um baque, chorei bastante. Doeu, rasgou a pele. De vez em quando me pego pensando no que aconteceu e me vem uma tristeza, mas a manifestação de apoio de várias pessoas me fez seguir para continuar meu trabalho e ir atrás de justiça”, disse Buga em entrevista ao Brasil De Fato. Entre 2014 e 2020 foram contabilizados 163 casos de ofensas raciais  no futebol feminino. Eles foram tipificados como casos de Injúria Racial. 

O caso envolvendo a jogadora Buga, do Cresspom, não é único. Ainda em 2021, durante jogo válido pela Taça Libertadores da América Feminina, o Corinthians enfrentou o Nacional, do Uruguai. A jogadora Adriana, do Corinthians, foi chamada de macaca por uma adversária. O Corinthians, à época, lançou uma nota de repúdio e o caso ficou apenas nisso. Não se tem notícia de qualquer punição à jogadora agressora. 

Impunidade em 2022

A disputa da Taça Libertadores da América começou em fevereiro. Em três meses de jogos, sete casos de racismo contra equipes brasileiras foram vistos. As torcidas e os jogadores de Bragantino, Corinthians, Flamengo, Fluminense, Fortaleza e Palmeiras foram xingados por torcedores na Argentina, Chile, Colômbia, Equador e Paraguai. Mas o grande absurdo  ocorreu em plena Neo Química Arena, estádio do Corinthians, quando o time da casa enfrentou o Boca Juniors, da Argentina. Leonardo Ponzo, torcedor do Boca, passou boa parte do jogo imitando o jeito de andar de um macaco.  Acabou detido pela Polícia Militar e enquadrado por crime de Injúria Racial. Ponzo pagou fiança de R$ 3 mil, foi solto e, ainda em território brasileiro, fez um post nas redes sociais dizendo: Aqui não aconteceu nada!

A tiração de sarro de Ponzo leva à constatação de que a Lei não vem sendo aplicada no Brasil. Racismo é crime. Quem o pratica é criminoso ou criminosa. Criminosos devem ser detidos e apenados. Afinal, é a Lei. 

Revolta dos Malês: com ela o povo preto acreditou na luta pela liberdade

Considerada o maior levante urbano da América Latina no século 19, a revolta não alcançou seu objetivo mas reforçou, nos negros, o desejo de liberdade 

   Por Wagner Prado

O ano era 1979. O mês, fevereiro e, no Brasil, era Carnaval. A escola de samba Mocidade Alegre, de São Paulo, ousou na avenida com um desfile afro fantástico. 

Algo não visto até então. Muita empolgação de seus componentes para falar da que é considerada, até hoje, a maior e mais forte revolta negra ocorrida no país: a Revolta dos Malês. A Mocidade Alegre não ficou com o título de campeã, que foi para o Camisa Verde e Branco com o enredo Almôndegas de Ouro. Informações dão conta de que a Mocidade Alegre teria sofrido um boicote por parte dos militares (o Brasil estava sob a ditadura militar), que não digeriram a ousadia de se falar em uma revolta negra por liberdade. 

Surge em 25 de janeiro, um novo sol de esperança” 

Visto pelo ponto de vista militar, o desfile da Mocidade Alegre era subversivo já no primeiro verso de seu samba. Falar em “sol de esperança” era algo muito mal visto. Poderia dar cadeia. Mas o primeiro verso do samba enredo retratava o que será contado agora, utilizando outros versos marcantes sobre a Revolta dos Malês. 

“Vindos da Mãe África distante, ostentados em toda fidalguia, eles estavam em Salvador, Bahia”

Malê vem de Imalê, palavra yorubá que significa muçulmano. Os malês eram africanos que professavam a fé islâmica. Trazidos à força para o Brasil, foram fixados na Bahia. Lá, continuaram professando sua religião de origem e comunicando-se entre si na língua árabe. Em seus países de origem, muitos deles eram nobres e, dada essa condição, não se conformavam em ser escravizados e expostos a toda sorte de castigos impostos pelos seus senhores. O desejo de liberdade foi crescendo. 

Allah ‘akbar  (Deus é maior) 

A liberdade de professar a religião muçulmana era latente. Os malês passaram a tramar um levante. Oito nomes lideravam as ações: Ahuna, Pacífico Licutan, Manoel Calafati, Sule, Gustardi, Dassalu,  Luis Sanim e Elesbão do Carmo. O principal ideário era transformar a cidade de Salvador em uma nação islâmica.  Isso significava pôr fim ao catolicismo. As pessoas brancas e mestiças teriam seus bens confiscados e, em caso de resistência, seriam mortos. Os não islâmicos também seriam mortos ou escravizados. 

“Num lamento triste e solitário, negro pedia a Alah seu protetor, forças e coragem nessa hora, que a vitória seria em seu louvor”

Os líderes programaram a revolta para a madrugada do dia 25 de janeiro de 1835. A data coincidia o último dia do Ramadã (período sagrado para os muçulmanos, quando eles jejuam buscando o equilíbrio entre corpo e espírito) com o dia de Nossa Senhora da Guia. A cidade de Salvador estaria em festa, muita gente nas ruas e um certo relaxamento por parte das forças de segurança. A ideia era sair do Alto da Vitória até chegar ao prédio onde ficava a sede do governo e tomá-lo. 

“E na hora da razão, foguetes alvorada e traição, da vitória nada resta mais, revolta teve outra solução”

Os revoltosos, porém, não contavam com um fator que mudou tudo: a traição. Movida por um drama pessoal, a escravizada Guilhermina Rosa de Souza delatou o plano dos malês. Guilhermina fora abusada quando jovem e deu à luz uma filha, Teresa. A menina estava com idade por volta dos 13 anos quando o fazendeiro, seu proprietário, decidiu que Teresa seria vendida. Guilhermina não queria ter a filha separada dela e viu na delação a única forma de dar um fim a esse processo. Contou tudo ao fazendeiro que, por sua vez, levou a informação às autoridades. A marcha dos malês foi interceptada e contida no bairro de Água dos Meninos depois de fortes combates.  

Setenta dos malês foram mortos. 200 aprisionados e condenados a penas de açoite, degredo e morte. Alguns líderes foram mortos em 12 de maio de 1835.  

“E na Bahia se comemora assim, tem festas e danças e a lavagem do Bomfim”

A Revolta dos Malês foi frustrada em seus objetivos de tomar a cidade de Salvador e transformá-la em uma república islâmica. Mas o seu grande mérito foi transformar-se no embrião da liberdade. A articulação conseguida por seus líderes em 1835 repercutiu pelo país. Os escravizados perceberam que tinham o poder de articular-se e trabalhar visando a liberdade, que acabou vindo em 1888.  

                  PARA SABER MAIS SOBRE A REVOLTA DOS MALÊS

 

    Livro Documentário / Filme                Live
Rebelião Escrava no Brasil

João José Reis

https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11221

Revolta dos Malês

Direção: Belisario França / Jefferson De 

https://sesctv.org.br/programas-e-series/revolta-dos-males/

 

Revolta dos Malês 

(História em Minutos) 

https://www.youtube.com/watch?v=JdAo-FMATMg&t=5

 

Mais médicos e médicas pretos no Brasil poderiam  melhorar o atendimento de saúde da população negra 

Por Wagner Prado

A população preta brasileira seria melhor atendida em termos de saúde se os médicos e médicas fossem também pretos? A questão não é de fácil resposta. O Brasil é incipiente em termos de estudos ou pesquisas nesse sentido. A  existência da Lei 12.288, de 20 de julho de 2.010, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, garante à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos individuais e coletivos, além do combate ao racismo, à discriminação e às demais formas de intolerância correlatas. Portanto, a criação do Estatuto da Igualdade Racial é o reconhecimento de que o racismo e a discriminação advinda dele existem no Brasil. 

Nos Estados Unidos, um questionamento sobre um melhor atendimento médico à população preta foi obtido a partir da constatação ocorrida em uma pesquisa. A George Washington University, localizada na capital Washington, indicou ter encontrado disparidades na forma de tratamento dispensada ao 1,8 milhão de bebês nascidos no estado da Flórida. As chances de sobrevivência dos recém-nascidos sofrem variações significativas se comparados os atendimentos feitos por médicos e médicas brancos aos feitos por médicos e médicas pretos. Os Estados Unidos e o Reino Unido destacam-se no que se relaciona à produção científica sobre racismo e inequidades raciais no setor da saúde. 

De acordo com o relatório que acompanha a pesquisa da George Washington University, os recém-nascidos negros que foram cuidados por médicos e médicas também negros tiveram redução de 39% a 58% na taxa de mortalidade. No universo oposto, ou seja, os bebês negros cuidados por médicos e médicas brancos tiveram três vezes mais possibilidades de vir a óbito. O relatório sugere que médicos e médicas negros cuidam bem dos bebês que têm a sua etnia e, ao mesmo tempo, cuidam bem de recém-nascidos brancos.

Presença de médicos e médicas negras no Brasil

Jurema Werneck, médica e diretora da Anistia Internacional no Brasil, foi moradora de favela no Rio de Janeiro. Seu sonho era cursar algo voltado para o mundo das artes. Porém, uma quase imposição de seu pai, gerada pela indecisão de Jurema sobre o que cursar na faculdade, acabou levando-a à Medicina da Universidade Federal Fluminense. Sobre a presença de médicos e médicas negros, ela diz: “Ainda é pouco, mas para mim é uma riqueza que não se compara. Quando eu me formei médica e fui trabalhar na Prefeitura do Rio de Janeiro, escolhi trabalhar na favelaMas por que eu fui trabalhar na favela? Eu nasci na favela. Não fiz nada assim: ‘Ahhh, eu escolhi ser uma pessoa legal e vou trabalhar em favela’. Não, gente! Na favela moram meus amigos, meus parentes e um montão de gente que eu não conheço. Mas lá é o meu ambiente, eu conheço aquele lugar. Eu só voltei para casa”, disse ela ao portal Nós, Mulheres da Periferia.  

O Código de Ética Médica,  do Conselho Federal de Medicina, em seu capítulo IV Artigo 23, proíbe médicos de “tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma sob qualquer pretexto”. Mesmo assim, é evidente que casos de discriminação podem ocorrer. Difícil é chegar a eles. A maioria das denúncias são feitas diretamente nos sites do Conselho Federal de Medicina ou nos sites dos Conselhos Regionais de Medicina e arbitradas por um conselho interno. 

O Fundo Baobá tem como missão promover a equidade racial. Um dos seus  quatro eixos de atuação é o Viver com Dignidade. Nele, ações de promoção da saúde e qualidade de vida, a prevenção de doenças, bem como os seus agravos, são prioridades. Ter um atendimento de saúde digno é fundamental para o equilíbrio psicossocial de qualquer  ser humano. 

A falta de atendimento digno, porém, foi o que motivou pesquisa feita pelo Instituto AzMina em 2021. 100 mulheres foram ouvidas para relatar casos de racismo ocorridos  dentro de consultórios ou em unidades de saúde. O cenário é estarrecedor. Dentre as 100, 82% eram mulheres de pele escura: pretas – 60,6%; pardas – 19,2% e indígenas – 3%.  68% foram unânimes em afirmar que já haviam enfrentado racismo em seus atendimentos médicos. 16% disseram que talvez tivessem sofrido. As ocorrências aconteceram durante atendimentos ginecológicos (43), clínicos (40), dermatológicos (19) e obstétricos (10). 

O Brasil alcançou em 2020 a marca de 500 mil médicos. A Universidade de São Paulo (USP) realizou em 2019 um estudo batizado de Demografia Médica, que delineou como os médicos que estavam se formando naquele ano se declararam em relação a suas cor e raça, 67,1% se autodeclararam brancos; 24,3% disseram ser pardos; como negros, apenas 3,4% definiram-se. As políticas de ações afirmativas, a política de cotas, o maior acesso e permanência da população preta em cursos superiores, como medicina, poderão fazer com que os cenários mostrados aqui mudem. As escutas estão sendo feitas e as ações de transformação estão sendo implantadas e acontecendo na sociedade. Vai levar um tempo, mas a mudança está vindo. 

 Primeiro Encontro com empreendedoras(es) selecionadas(os) no Edital Negros, Negócios e Alimentação

Por Ingrid Ferreira

O Edital Negros, Negócios e Alimentação – Recife e Região Metropolitana, uma iniciativa do  Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a General Mills, teve seu primeiro encontro online com as e os 14 empreendedores(as) selecionados(as), o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, a diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, e membros das equipes  programática, financeira e de comunicação.

O grupo selecionado é prioritariamente composto por mulheres, tendo também uma travesti e um homem; a maioria tem entre 25 e 44 anos de idade, mas também conta com pessoas de 55 a 64 anos; 9 das pessoas que empreendem têm ensino superior completo, as demais possuem ensino médio e/ou fundamental. O grupo selecionado tem residência na zona urbana, em territórios periféricos, mas seus negócios não necessariamente estão localizados na periferia. 

O encontro teve como intuito falar sobre  o Fundo Baobá, suas áreas de atuação, apresentar a metodologia de trabalho e as regras adotadas pela instituição para o edital em questão,  dar detalhes sobre como o Baobá irá acompanhar as e os selecionados no período em que estiver vigente a parceria e tirar dúvidas. Além disso, o encontro foi uma ponte para criar uma rede de relacionamentos.

As empreendedoras e os empreendedores  ao se apresentarem, falaram um pouco sobre seus negócios, uma delas foi Angélica Nobre de Lima Silva fundadora do empreendimento Angú das Artes, que tem uma proposta de aproveitamento integral dos alimentos, utilizando a casca das frutas e vegetais para fazer parte das suas receitas, o que além de ser uma forma de negócio também possui uma preocupação ambiental: diminuir a produção de lixo orgânico.

Durante o encontro também foi apresentado um perfil geral do grupo selecionado:  vários negócios são familiares e surgiram a partir de um momento de dificuldade, transformando-se em renda principal de uma família toda, além de contar com um forte apoio da comunidade para o seu funcionamento. 

Os empreendimentos possuem diversos formatos. Há restaurantes, cozinhas industriais, delivery, buffet e comida de rua, e cada proposta receberá o valor de R$30 mil dividido em parcelas. As pessoas negras que empreendem e foram selecionadas também receberão apoio técnico através de jornadas formativas. 

Fernanda Lopes, diretora de Programa do Fundo Baobá, fala sobre a importância desse apoio e construção coletiva, ressaltando a necessidade de manter viva a memória histórica das realizações de pessoas negras, e como grandiosos são esses feitos. Trazendo isso para o Baobá, ela explica que:  “Ao longo desses anos, o Fundo já doou mais de R$15 milhões e estimamos que já tenhamos  impactado  indiretamente quase 1 milhão de vidas. Nossa missão é promover oportunidades justas para que as pessoas e as organizações se desenvolvam e tenham autonomia para alcançar os seus objetivos, por isso nos nossos editais não apoiam apenas com recursos financeiros. No caso do Negros Negócios, as jornadas formativas vão contribuir para que vocês se fortaleçam na gestão dos seus empreendimentos e para que o sucesso, os maiores ganhos, cheguem mais rápido”.

O edital Negros, Negócios e Alimentação: Recife e Região Metropolitana,  deixará seu legado, apoiando empreendedoras e empreendedores, gerando renda no estado onde nasceu o Fundo Baobá. Desde a sua criação, até 2019, a sede do Baobá estava localizada em Recife. Nada mais justo que este olhar cuidadoso para um terreno que é tão fértil. 

Organizações participantes do Vidas Negras: Dignidade e Justiça não se detêm diante de perseguições e desafios

O CEAP, do Rio de Janeiro, e a Associação do Jongo Dito Ribeiro, de Campinas, enfrentam a perseguição religiosa, mas não desistem de seus objetivos de justiça

Por Wagner Prado

Em 2019, levantamento feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Especializada) apontou que 222 mil pessoas moravam pelas ruas do Brasil. Em 2021, a população carcerária no Brasil era de 682 mil pessoas, incluindo aí presos provisórios. Ou seja, pessoas presas e não julgadas. Os casos de intolerância religiosa registrados entre janeiro e junho de 2019 pelo disque 100 do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos foi de 354. Dentro desses, as religiões de matriz africana foram as mais atacadas. A insegurança alimentar aumentou de forma mais que significativa no Brasil. A pandemia da Covid-19 agravou esse quadro, mas o processo de crescimento da pobreza alimentar é anterior à pandemia. 

O quadro descrito acima mostra uma sociedade em declínio em vários aspectos sociais. Saúde, Educação e Trabalho que, juntos compõem o tripé da sustentação em qualquer sociedade,  nem foram explorados mas o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em fevereiro de 2022, divulgou que a taxa de desemprego era de 8,8%  atingindo 12 milhões de pessoas. 

Existe urgência no sentido de fazer com que a igualdade seja alcançada de fato e de direito  e provoque um equilíbrio social entre os detentores do poderio econômico e aqueles que não têm acesso aos benefícios que o dinheiro pode trazer. Há muito se fala em uma distribuição de renda mais equânime e sobre o potencial impacto no exercício dos direitos. Mas o jogo político nunca permite que isso aconteça. 

A sociedade civil vem se movimentando  no sentido de provocar o equilíbrio social. Algo que possa gerar uma melhor distribuição de renda, além de um sem número de melhores oportunidades para todos, nos mais diferentes segmentos, orientadas pelos princípios da justiça. Uma movimentação no sentido de fazer com que o fosso de desigualdade  existente entre ricos e pobres não aumente ainda mais. o que tem contribuído para o crescimento de injustiças nos mais diferentes setores. 

Um dos editais do Fundo Baobá para Equidade Racial, o Vidas Negras: Dignidade e Justiça  foi lançado em maio de 2021 em parceria com o Google.org,  destinou R$ 100 mil para 12 organizações, além de investimentos indiretos de treinamento e assessorias técnicas para o fortalecimento institucional. Os projetos inscritos tiveram que versar sobre um desses quatro temas:   a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. 

A Associação do Jongo Dito Ribeiro, de Campinas, inscreveu o projeto que leva o mesmo nome da Associação, dentro do eixo da “Proteção Comunitária e Promoção da Equidade Racial. Já o CEAP (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), do Rio de Janeiro, trabalha o eixo “Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial”.  O CEAP inscreveu o projeto Observatório da Liberdade Religiosa. 

Líder da Associação do Jongo do Dito Ribeiro,  Alessandra Ribeiro Martins, exalta a luta que eles têm enfrentado no caminho da construção de uma rede comunitária para enfrentamento da discriminação racial, de gênero, religiosa e sexual. A união em torno de objetivos comuns, segundo ela, é que trará força às diferentes comunidades. “Nós vimos a necessidade de consolidar uma rede de segurança, proteção, visibilidade e engajamento coletivo em pautas comuns, de forma que possibilite a proteção de nossos territórios, a proteção dessas lideranças e um combate efetivo frente às discriminações, intolerâncias e perseguições. E para isso é necessário pautas comuns e ações que sejam no âmbito das redes sociais, seja no âmbito das intervenções territoriais comuns. Uma pauta comum”, disse. 

Alessandra Martins – Associação Jongo Dito Ribeiro

Para Marcelo Santos, do CEAP, a questão da preservação da cultura negra dentro do ambiente escolar é uma das pautas comuns citadas por Alessandra Ribeiro Martins.  A aceitação por parte dos estudantes negros, negras e negres é boa. O mesmo não se nota entre os alunos não negros. “São percepções que variam de acordo com os territórios  e níveis de maturidade dos alunos, negros e não negros. Para os alunos negros, em geral, a recepção é boa e quase sempre conecta a atenção ao conteúdo. Mas para os alunos não negros a recepção, em geral, é vista como algo supérfluo  em um primeiro momento, mas quando provocados com a metodologia aplicada aos valores civilizatórios africanos e afrobrasileiros, conseguimos incentivar reflexão crítica sobre o racismo estrutural que vivemos”,  afirma.

Marcelo Santos – CEAP

As duas organizações realizam um forte trabalho em defesa das religiões de matriz africana, que sofrem grande perseguição, mesmo no Rio de Janeiro, onde a presença negra é muito forte. “O CEAP defende a liberdade de crença e culto, garantidos na Constituição Federal, mas ainda há sim muita resistência, fundamentada no preconceito racial e influenciada pelo conservadorismo de algumas lideranças religiosas neopentecostais”, revela Marcelo. “Nós sofremos aqui, diretamente em nossa comunidade, um ataque. Porque a nossa casa de cultura é uma casa de cultura de matriz africana que,  para além da manutenção e salvaguarda do Jongo,  temos um terreiro de umbanda,  temos um espaço de exposição da memória do Jongo, falando das diversas comunidades,  e a gente sabe que a gente demarca essa cultura de matriz africana, essa afrodescendência, e sabemos que isso traz uma exposição. Então,  a gente construiu ao longo do nosso trabalho uma rede que já trava a luta frente às discriminações no âmbito da cultura”, afirma Alessandra. 

O ano eleitoral de 2022 e a polarização política têm açodado disputas.  “A polarização política evidenciou o racismo e, consequentemente, a intolerância religiosa. Não sei se o fato incentivou ainda mais o CEAP, mas certamente fez com que pudéssemos adaptar as formas e ações pedagógicas dos nossos projetos”, disse Marcelo Santos. 

Alessandra Ribeiro Martins, da Associação Jongo Dito Ribeiro, destaca que a cidade de Campinas tem o racismo bem evidenciado. “O racismo em Campinas, para além de físico – a gente não vê preto no centro da cidade, parece que não tem preto aqui -, e aí,  quando você vai para as regiões mais periféricas,  você vê uma grande aglutinação. Ele (o racismo)  também tem a ver com território. Existe um lado da cidade que sempre recebeu investimentos, que sempre foi desenvolvido, que sempre teve bons equipamentos, acesso, mobilidade e um outro lado que ficou esquecido. Então, temos tentado junto com outros atores, como assistência social, como a saúde e a própria Secretaria da Educação, levar cultura, mesmo que pontual, nesses territórios. A gente sabe que não daremos conta de unir a cidade em um projeto antirracista, mas a gente sabe que vai dar conta de semear o antirracismo em vários lugares. E é nesse sentido que a gente tem atuado”, afirmou. 

Ambos finalizam falando da importância de estarem parte do grupo contemplado pelo edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. “Ser acolhido por uma instituição como o Baobá, que mais do que compartilhar um recurso ela nos forma concretamente. Cada relatório que eles mandam a gente revisar, cada pergunta que eles refazem nos ajuda a compreender qual é a lógica desse universo e nos deixa mais fortes também para esse novo momento”, conclui Alessandra Ribeiro Martins. “A importância da nossa seleção se dá na oportunidade de profissionalizarmos alguns serviços de apoio para garantir melhores resultados”, afirma Marcelo Santos.

O acesso de negros ao ensino superior  e a importância de programas como o Já É

O Fundo Baobá traz uma reflexão sobre o caminho trilhado por jovens estudantes negros, negras e negres até finalmente sua tão sonhada entrada na universidade

Por Gabi Coelho

O acesso de pessoas negras à universidade é um acontecimento recente quando comparado com as demais dificuldades que essa porcentagem da população brasileira enfrenta. Retomando a constante discussão sobre o uso do termo “negro”, cabe destacar que o mesmo é a junção dos grupos autodeclarados pretos e pardos. De acordo com o cientista político Cristiano Rodrigues em entrevista ao jornal Estado de Minas, a adoção do termo possui um caráter sociológico onde as desigualdades sociais e raciais experienciadas por ambos os grupos os aproximariam. 

Hoje, 28 de abril, é o Dia da Educação e é de suma importância falar que, por mais que o total de negros nas universidades tenha crescido nos últimos anos – entre 2010 e 2019 o aumento percentual foi de 400% -, o acesso ainda é desigual levando em consideração a informação de que em torno de 56% do total da população brasileira é composto por negros.  Além disso, conforme a professora e advogada Tainan Maria Guimarães Silva e Silva em seu artigo “O colorismo e suas bases históricas discriminatórias”, o processo de miscigenação forçada que ocorreu no Brasil a partir da colonização e o posterior apoio do Estado a fim de incentivar a vinda de imigrantes europeus para o país com o intuito de promover o “clareamento” da população são exemplos de como os negros sempre foram vistos como indesejados.

Também é importante ressaltar que essa mistura trouxe consequências. As diferenças de tratamento acabaram fragmentando a unidade dentro do grupo racial e, consequentemente, dificultando o reconhecimento da negritude por parte dos sujeitos entendidos como “mestiços”, os pardos, enquanto empurravam os negros de pele retinta para as margens da sociedade: “A valorização do mestiço em detrimento do negro de cor escura, a sua tolerância no ambiente de predominância branca e conservadora e a propagação de que o clareamento poderia melhorar e fazer evoluir a raça negra permanecem até hoje no imaginário social, ainda que disfarçados”, afirma Silva na página 17 do texto citado. 

Baseado nos argumentos da professora e advogada, é possível compreender como o colorismo trata das diferentes tonalidades de pele e como isso é capaz de impactar na autodeclaração dos sujeitos e, por consequência,  nos dados sobre cor/raça do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)  e nas diferentes formas de articulação do movimento negro a fim de fazer com que os negros percebam como o racismo estrutural se articula com o objetivo de promover conflitos entre eles usando de elementos pautados pela discriminação e embranquecimento dos indivíduos de cor de pele não-retinta.

 A Política de Cotas, ou ações afirmativas, trata da Lei nº 12.711, sancionada em agosto de 2012. Foi a partir dela que 50% do total das vagas nas universidades e institutos federais passaram a ser reservadas para alunos oriundos integralmente do sistema público de ensino. Dentro desses 50%, há também “subdivisões”, onde podemos encaixar as vagas destinadas para pretos, pardos e indígenas. Sendo assim, esse sistema foi atrelado ao Sistema de Seleção Unificada (SiSu), um programa governamental já existente desde 2010, cujo intuito inicial era o de reservar vagas para estudantes que realizassem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2019, 56,2% da população brasileira comporia a categoria de negros (9,4% de pretos e 46,8% de pardos). A partir dessas informações é importante refletir sobre o caminho trilhado por essas pessoas até finalmente sua tão sonhada entrada na universidade, daí a necessidade de projetos como o Programa Já É, do Fundo Baobá para Equidade Racial, que visa promover o acesso de jovens negros, negras e negres ao ensino de nível superior. 

O caminho percorrido por essas pessoas pode ser percebido a partir de diferentes óticas: desde a Educação Básica precarizada, passando por questões familiares que batem à porta devido condições sociais historicamente explicáveis pela ineficiência do Estado em lidar com as consequências da realidade pós-abolição da escravatura, até a realização de um vestibular conteudista, cuja estrutura tradicionalmente acentua a disparidade entre a presença de negros e brancos nas universidades utilizando-se da enorme diferença entre o ensino público e o ensino privado no Brasil.

Enquanto um Programa voltado para auxiliar jovens negros e periféricos a entrarem na universidade através da promoção de um curso pré-vestibular e da concessão de vale-transporte e vale-alimentação após o retorno presencial das aulas, o Já É foi lançado em fevereiro de 2021 e selecionou 85 jovens, dos quais 75 seguiram matriculados e 69 participaram ativamente de todas atividades até  o final de 2021. Além disso, as e os estudantes receberam computadores e chips de internet para que seguissem com os estudos participando das aulas online. Aulas presenciais não estavam acontecendo devido às  limitações impostas pela pandemia da Covid-19. Em seu primeiro ano, o Fundo Baobá para Equidade Racial contou com o apoio de três instituições para a realização do Programa Já É: Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology.  

As ações afirmativas no ensino superior devem ir além das cotas para garantir o acesso, é necessário garantir a permanência. Segundo o site do QueroBolsa, a taxa de evasão no Ensino Superior entre pessoas negras foi de aproximadamente 28% no ano de 2019. Dentre os principais motivos que levam à evasão temos: “(…) turno integral que impossibilita trabalhar, textos em inglês; professores na área de saúde que pedem para alunos comprarem materiais e equipamentos caros; funcionários despreparados para lidar com negros.” Quando falamos sobre permanência e evasão de jovens negros nas universidades, podemos relembrar um dos pilares do Programa Já É: Entrada e permanência no ensino superior (investimentos em alunos, alunas e alunes do ensino médio, em cursos preparatórios para o vestibular e nos primeiros meses do curso de graduação). 

Do grupo de 75 estudantes do Ja é, 24 tiveram sucesso nos vestibulares, o que significa um percentual de aprovação de 32%. A presença de estudantes negros nas universidades brasileiras também irá possibilitar, futuramente, que profissionais da Educação negros adentrem em espaços como esses, visto que a formação de indivíduos negros se faz necessária para que os mesmos sejam profissionalmente qualificados a fim de ocupar os mais diferentes cargos. Sem esquecer de mencionar a importância da universidade em relação à transformação pessoal e profissional a qual esses estudantes estarão sujeitos, dado que o ambiente universitário, além de proporcionar o enriquecimento profissional, também estará possibilitando o estabelecimento de vínculos de amizade e experiências capazes de  transformar a perspectiva desses jovens.

Veja a lista de jovens que ingressaram na universidade com apoio do Programa Já É:

           Aluno/Aluna       Instituição / Curso Modelo
Ana Claudia Rocha de Souza Universidade São Judas / Psicologia                         Privado
Ana Maria Silva Oliveira UNIFESP / Administração                             Público
Anna Beatriz da Silva Garcia SENAC / Fotografia                         Privado
Antonio Gustavo Ribeiro Universidade Santo Amaro / História Privado
Breno Oliveira Ribeiro UNIFESP / Ciências Sociais                         Público
Caroline Vitória R. dos Santos USP / Gestão Pública                         Público
Carlos Eduardo de Castro Cerqueira UFRJ / Administração                             Público 
Isaque Rodrigues de Oliveira Anhembi-Morumbi / Publicidade e Propaganda                             Privado
Jakeline Souza Lima UNESP / Artes  Público 
Joselaine Romão Soares Centro Universitário Cidade Verde / Engenharia de Software                       Privado
Joyce Cristina Nogueira  USP / Lazer e Turismo                              Público
Karina Leal de Souza USP / Arquitetura                            Público
Karine Lopes dos Santos Anhembi-Morumbi / Relações Públicas                      Privado
Larissa Araujo Aniceto USP / Letras Público
Laysa Stefani de Almeida Brito UNIP / Enfermagem                         Privado
Luiz Felipe Motta da Silva Faculdade Americana / Enfermagem                         Privado
Mayza Silva Dias Universidade Santo Amaro / Gestão Hospitalar                       Privado
Melissa de Jesus Calixto Costa Universidade São Judas Tadeu / Direito Privado
Natalia dos Anjos Oliveira FMU / Engenharia Química                         Privado
Nicholas W.Crisólogo. Gonçalves Centro Universitário Ítalo Btasileiro / Educação Física                        Privado
Raphaela dos Santos UNIP ou Estácio / Biomedicina Estético ou Estética e Cosmetologia Privado
Taynara Silva Santos UNIFESP / ABI – Ciências Sociais Público
Thais Sousa Silva USP / Pedagogia                           Público
Vitória Nunes Martins Anhembi-Morumbi / Design Gráfico                       Privado

 

 

 

Doadores Individuais do Fundo Baobá

Entrevistados falam da importância de criar uma cultura de doação e unificar a sociedade em prol de causas sociais

Por Ingrid Ferreira

O Fundo Baobá é o primeiro fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Ao longo de seus 11 anos de atuação, além de ser apoiado por grandes empresas, tem contado com parcela da população que está abraçando a causa e comprometendo-se em contribuir com essa questão tão crucial.

O Fundo conversou com dois doadores individuais que, ao conhecerem o Baobá, decidiram se engajar para que a sociedade seja mais justa e, para que, através dos editais promovidos pelo Fundo, haja mais qualidade de vida para a população negra.

Uma dessas pessoas é a Ana Maria Assis, ou dona Ana, como ela prefere ser chamada. Dona Ana era funcionária da Justiça Federal e se aposentou há um ano, durante a pandemia ela sentiu a necessidade de auxiliar a população de alguma forma e ao conhecer o trabalho do Fundo Baobá, ela decidiu apoiar a causa por meio da doação para a instituição.

Ana Maria Assis

Ao ser questionada sobre o que a fez interessar-se em dirigir a sua doação para o Baobá, ela diz o seguinte: “Achei interessante a perspectiva de formar lideranças negras, pois acho que esse é o caminho, a educação e organização, para superar a enorme desigualdade do país e as dificuldades enfrentadas pelo povo negro”.

Dona Ana traz pontos de extrema importância em sua fala, como a excelência de criar uma cultura de doação na população brasileira e como isso repercute socialmente. A doadora destaca que, ainda que não seja de imediato, os resultados podem ser observados a curto, médio e longo prazo.

Ela também fala que: “Cada pessoa de condição social e econômica inferior que consegue entrar numa faculdade, completar o ensino médio, ou participar de iniciativas como a do Fundo Baobá, consegue mudar sua vida e a de outras pessoas no entorno, isso representa uma esperança para todos nós”.

As falas de dona Ana destacam a importância do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco cujo objetivo é ampliar a participação de mulheres negras em espaços de poder e tomada de decisão e do Programa Já É que visa apoiar jovens a acessarem o ensino superior e a se manter na universidade.  Em ambos os Programas, pessoas jovens e mulheres têm valorizado e estimulado o direito de sonhar com um futuro melhor e caminhar em direção a ele.

O segundo doador entrevistado é o Thiago Alvim, atualmente Diretor Executivo do Prosas. Thiago conta que não se lembra exatamente quando conheceu o Fundo, mas que uma data muito marcante foi o lançamento da iniciativa em homenagem a Marielle Franco no Congresso do Gife há alguns anos atrás.

Thiago Alvim

Thiago atua na área de investimento social privado e, em sua fala, traz a importância da contribuição para o Baobá: “Acredito que a causa da igualdade racial é um dos temas mais importantes, da atualidade, no Brasil e ainda temos muito para avançar. Somo a isso o formato de atuação do Fundo, que permite que diversas novas vozes sejam ouvidas, valorizando o protagonismo de pessoas negras como parte da solução. Em um país continental e tão diverso, precisamos ampliar o número de atores que conseguem se expressar e ser ouvidos”.

Thiago também fala da importância da coletividade nesse processo de mudança social, o que traz aquele velho ditado do trabalho de formiguinha: apenas uma pessoa doando, pode parecer pouco, mas se cada uma fizer sua parte, contribuindo para o conjunto, grandes coisas poderão ser feitas. 

E como ele disse: “Somando diversas outras pequenas contribuições e contando com a legitimidade e capacidade técnica da equipe do Baobá, milhares de iniciativas em prol da igualdade racial podem ser desenvolvidas pelo Brasil. Problemas complexos, como a desigualdade racial, somente serão resolvidos ou minimizados com a participação de muita gente e, por isso, fico satisfeito de dar minha pequena contribuição. Se valorizo o protagonismo negro, também considero fundamental a conscientização e participação dos brancos na busca de soluções”.

O Fundo Baobá é grato a todas as Donas Anas e Thiagos que acompanham o trabalho que é feito por aqui, enfrentar o racismo e promover a equidade racial no Brasil é um trabalho árduo, porém, contando com o apoio e compromisso de pessoas como vocês, podemos caminhar com mais firmeza, na certeza de que, a cada dia, contribuímos para que mais pessoas negras se desenvolvam e dêem passos à frente.

Benedita da Silva e a importância de mais mulheres na política

Ela completa 80 anos no dia 26 de abril e segue atuante na política. Organizações apoiadas pelo Programa Marielle Franco fazem trabalho firme na formação política de mulheres 

Por Gabi Coelho

Em um país onde a população é composta por 51,8% de mulheres (dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019), a representação feminina torna-se cada vez mais um assunto recorrente ao falarmos sobre política. Foi somente no ano de 1932, a partir do Decreto 21.076 assinado pelo então presidente Getúlio Vargas, que as mulheres brasileiras conquistaram o direito a votar e serem votadas, e ainda assim somente em 1965 é que o voto feminino passou a ser obrigatório. Para os que se interessarem pelo contexto histórico da luta feminina pelo voto, a Câmara dos Deputados publicou, em 2019, a segunda edição da obra O voto feminino no Brasil.

Neste 26 de abril, a deputada federal Benedita da Silva completa 80 anos. Benedita é um ótimo exemplo da importância da presença de mulheres em cargos políticos. Ela foi a primeira mulher negra a governar um estado brasileiro em abril de 2002 e renunciou ao cargo em dezembro do mesmo ano para assumir como  Ministra da Ação Social no governo Lula. Ainda falando sobre pioneirismo, podemos citar Antonieta de Barros, a terceira mulher eleita no Brasil e a primeira mulher negra a assumir um mandato (Deputada Estadual em Santa Catarina, 1934), além de ter sido a autora do projeto de Lei nº145 (12 de outubro de 1948),  que deu origem ao Dia do Professor.

Existe uma forte sub-representatividade da mulher na política brasileira. Segundo a ONU Mulheres (Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento da Mulheres) e o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Brasil ocupa o antepenúltimo lugar entre países latino-americanos no ranking de paridade política entre homens e mulheres. 

A organização Mulheres Negras Decidem (MND) surgiu no estado do Rio de Janeiro, o estado que foi governado por Benedita da Silva, em 2018. Seu foco: a promoção de um número significativo de mulheres negras no cenário político daquele estado. Colocá-las em evidência e, através do voto, no campo da tomada de decisões. A organização MND foi apoiada na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, do Fundo Baobá em parceria com a Fundação Kellogg, o Instituto Ibirapitanga, a Fundação Ford e a Open Society Foundations. 

Diana Mendes, uma das líderes do MND, falou para o Fundo Baobá sobre a importância de terem sido selecionadas para o Programa Marielle Franco em 2019  e o impulso que isso deu em sua organização. “Nesse processo de desenvolvimento institucional, comunicação e ações de incidência da organização, o Fundo Baobá foi primordial, porque desde o início do movimento a gente tem feito muitas ações, mas eram ações com o nosso investimento pessoal”, afirmou. 

A organização Rede de Mulheres Negras de Pernambuco também está levando o aprendizado para as mulheres, visando fazer com que elas ocupem espaços políticos de importância. “A Rede de Mulheres Negras de Pernambuco organizou processos de formação políticas para qualificar sua própria atuação e apoiar o surgimento de outras lideranças e referências; tem realizado processos de formação política junto a mulheres das entidades Espaço Mulher e Cidadania Feminina e executou um projeto coletivamente pela primeira vez;  fez despertar o desejo de liderança em suas representantes, que  superaram  o receio de trabalhar de maneira virtual, manuseando as plataformas digitais”, respondeu Rosita Maria Marques, da liderança da Rede Mulheres Negras de Pernambuco.   

Quando abordamos diretamente a importância das mulheres na política, podemos falar também sobre a criação de políticas públicas direcionadas para essa grande parcela da população e sobre a identificação e solução de problemas a partir da compreensão das necessidades coletivas partindo das experiências de vida das eleitas enquanto um elemento fundamental para a elaboração de projetos e para o exercício da empatia durante seus mandatos. Outro ponto que merece destaque é que a representação feminina nos cargos políticos precisa de fato abarcar a pluralidade que acompanha esse grupo: mulheres negras, mulheres LGBTQIA+ e demais individualidades, como mulheres com deficiência.

A partir da premissa de diminuir a escassez da participação feminina foi aprovada a Lei nº 9.504/1997, que sofreu uma alteração após a resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Enquanto a lei em questão estabelece que “cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo”, a resolução 23.607/2019 estabelece também que os partidos devem destinar 30% do Fundo Eleitoral (Fundo Especial de Financiamento de Campanha) para campanhas femininas.

Em entrevista para a Câmara Municipal de Piracicaba (SP), a professora de Economia Helena Berlato falou sobre a relevância dessa medida: “A mulher não é incentivada desde pequena a chegar na política, então esses 30% são o mínimo para garantir esta presença, porque quando a gente fala da mulher e de outras figuras também, trazemos um outro olhar, olhares de outros grupos que são importantíssimos para fazer políticas públicas”.

Infelizmente, no último dia 5 de abril, o Congresso Nacional aprovou uma emenda constitucional que isenta de punições os partidos políticos que desrespeitaram a exigência de uma cota mínima de recursos para candidaturas de mulheres e negros em eleições anteriores ao ano de 2022. “A emenda veda, nesses casos, a condenação, pela Justiça Eleitoral, nos processos de prestação de contas de anos anteriores que ainda não tenham transitado em julgado (sentença definitiva) até a data da promulgação”, é o que diz a matéria publicada no G1 Política.

Já no que se refere às eleições municipais de 2020, tivemos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 651 prefeitas  (12,1%) contra 4.750 prefeitos (87,9%) e 9.196 vereadoras (16%) contra 48.265 vereadores (84%). Apesar de admitir o aumento no total de mulheres eleitas, o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, fez um adendo: “Mas também tivemos um aumento nos ataques físicos ou morais a mulheres candidatas. Esse tipo de agressão a mulheres é pior que machismo, é covardia. Precisamos de mais mulheres na política e, portanto, precisamos enfrentar essa cultura do atraso, da discriminação, do preconceito e da desqualificação

Já no que se refere às eleições municipais de 2020, tivemos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 651 prefeitas  (12,1%) contra 4.750 prefeitos (87,9%) e 9.196 vereadoras (16%) contra 48.265 vereadores (84%). Apesar de admitir o aumento no total de mulheres eleitas, o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, fez um adendo: “Mas também tivemos um aumento nos ataques físicos ou morais a mulheres candidatas. Esse tipo de agressão a mulheres é pior que machismo, é covardia. Precisamos de mais mulheres na política e, portanto, precisamos enfrentar essa cultura do atraso, da discriminação, do preconceito e da desqualificação”.

Outra figura importante a ser mencionada é Maria Regina Sousa. Filha de um trabalhador rural e de uma dona de casa, Regina teve 13 irmãos e nasceu em União, uma cidade que fica a 52 km de Teresina (Piauí). Aos 71 anos, Regina assumiu o cargo de governadora do Piauí, tornando-se a primeira mulher a assumir efetivamente esse posto. Filiada ao PT e formada em Letras pela Universidade Federal do Piauí, Sousa também foi a primeira mulher do estado a assumir o cargo de Senadora entre os anos de 2015 e 2018. 

Por fim, mas não menos relevante, o projeto Agenda Marielle, criado pelo Instituto Marielle Franco, é um exemplo de iniciativa voltada para a construção de campanhas eleitorais cujos princípios baseiam-se em Compromissos com práticas e pautas antirracistas, feministas e populares a partir do legado de Marielle, o que incluiria pautas como Justiça Racial e Defesa da Vida, Gênero e Sexualidade, Justiça Econômica, Saúde Pública Gratuita e de Qualidade, entre outros.

Baoba Fund announces the Evaluation of the Economic Recovery Program for Black Entrepreneurs

The black population has always undertaken it. Faced with so many challenges and structural racism itself, he had to learn in practice how to create his own businesses, even without incentives or public policies that could meet so many needs.

Blacks and blacks are protagonists when it comes to innovation and a way of undertaking. With business models that really impact the communities where they are inserted, they make a difference with more circular and community formats that run away from traditional capitalist logic.

But have these entrepreneurs managed to keep their businesses active in the midst of the pandemic? What were the biggest challenges? What incentive policies were created or not to support these business leaders working in the communities that were most impacted by the pandemic?

Thinking about the most diverse challenges that were presented and that still extend throughout the country, the Baobá Fund for Racial Equity, in partnership with Coca Cola Foundation, Coca Cola Brazil Institute, BV and Votorantim Institute, launched in November 2020 the Program for Economic Recovery of Small BusinessEs of Black Entrepreneurs.

Together with Fa.vela – an entrepreneurial, innovative, digital and inclusive education and learning hub – we followed 46 initiatives and 137 entrepreneurs from all over Brazil throughout 2021, and they received financial support of R$30,000 per initiative.

With consultancies, workshops and processes of exchange and learning in a virtual way, we understand the power to financially support these enterprises, reaching the end of 2021 celebrating the permanence of these small businesses, which not only strengthen the ecosystem of Afroentrepreneurship in Brazil, but also of all the territorialities where they operate.

 

Why support black enterprises?

With a wide diversity of business, we can once again notice the creative powers that come from the edges of both cities and countryside, which still suffers from racism in our country.

More than half of the Brazilian population is black, composed of about 56% black and brown. Of these, ibge (Brazilian Institute of Geography and Statistics) estimates that at least 14 million are entrepreneurs. A market that moves up to 1.73 trillion of the country’s economy annually.

With the pandemic, the entire business ecosystem has been shaken. The Global Entrepreneurship Monitor Survey (GEM 2020), conducted in Brazil in partnership with Sebrae (Brazilian Service for Support to Micro and Small Enterprises) and IBPQ (Brazilian Institute of Quality and Productivity), showed that, from 2019 to 2020, the number of entrepreneurs in Brazil fell from 53.4 million to 43.9 million.

But if there is a niche that suffered even more, this was certainly that of small entrepreneurs, especially black and peripheral:

The research “The impact of the coronavirus pandemic on small businesses”, developed by Sebrae in partnership with the Getúlio Vargas Foundation (FGV) with 7,403 entrepreneurs, in June 2020, shows that businesses led by the black population were the most impacted, mainly because they serve essentially in person (45%). Among whites, the proportion was 36%.

Of all the interviewees, 70% of the businesses were conducted by blacks who lived in municipalities where the partial or total closure of the establishments occurred. In this scenario, the majority were young, women and with a low level of education.

The necessary isolation to brake the new coronavirus came full of difficulties for the maintenance of the business itself. The same survey indicates that 46% of black-led enterprises had to temporarily stop operating.

In the midst of a crisis scenario, black entrepreneurs still had more refusal when borrowing (61%) when compared to whites (55%), even the amount requested by blacks ($28,000) was 26% lower than whites ($37,000).

Taking this scenario into consideration, our goal with the Economic Recovery Program was to support black entrepreneurs and entrepreneurs from the peripheries to go through this moment of crisis caused by the Covid-19 pandemic.

At the end of the program, we carried out a process of evaluation of results, with the objective of telling how these women and men, distributed throughout all corners of Brazil, are making a difference in their territories. Even in the face of an economic crisis, they continue to turn the local economy, in addition to multiplying their knowledge and services to others and new entrepreneurs.

 

Evaluation paths

To arrive at the results of the program, we have the support of an external consultancy, Window 8, and we have traveled some paths together with supporters, performers and participants of the program. The first step was the analysis of information and documents collected during the program, such as the survey of registrations and other databases of participants in the production processes, narrative reports and accountability prepared by the entrepreneurs themselves.

The reports prepared by the Fa.vela Hub were also important references to arrive at the details of the evaluation, and also to define the main points of transformation desired by the program through a Theory of Change.

The Theory of Change allowed delimiting the desired impact of the program: the promotion of a dignified life for black subjects and families through the improvement of their financial conditions. In addition, the main results, products, interventions and target audience were highlighted, as well as the premises of the program.

From there, interviews were conducted with stakeholders and listening groups with program participants. The data and information collected were analyzed and consolidated in a full report and in an executive summary (available for download here).

 

Profile of participants

“There are no edicts that support the northeast and the black population,” was a recurring phrase in the evaluation process of the program.

Understanding the importance of geographic diversity and the reality of initiatives located in the north and northeast, with support below what they need, the Economic Recovery Program prioritized these regions in the selection of entrepreneurs.

The Northeast is the place where most of the selected initiatives are concentrated, especially Bahia (37%). To speak in territory at this time of pandemic is to remember that Covid-19 has not affected populations only in the highest peaks of the disease, but also economically, including in the post-first wave of the disease.

With unemployment hitting record highs in 2021, many people have had to resort to formal work or else raise their own means of survival and sustainability. The program was important for supporting businesses of people who work mainly alone (44%) or with their families (31%). In addition, more than 60% of the supported enterprises employed at least one (one) person in their activity (informally or formally) during the implementation of the Program.

 

Black women: business leaders

We selected 46 initiatives composed of three black entrepreneurs and entrepreneurs throughout Brazil, covering a whole 137 entrepreneurs. The main age group of participation is between 25 and 35 years (43%), followed by people who are between 36 and 50 years old (36%). More than half of the enterprises (56%) are made up exclusively of women, showing how the program mainly impacted black women.

In relation to schooling, there was an important distribution among people with different levels of education: 25% have completed high school, 24% have completed higher education and 26% have completed higher education.

 

Entrepreneurship from the peripheries

Among the businesses supported by the program, most fall into four segments:

food (19%), crafts (13%), agriculture (12%), sewing (12%) and beauty (8%). The Program also supported initiatives in the areas of fashion and clothing, tourism, health, communication, culture and events, education, fishing and service delivery.

The contemplated initiatives are located mainly in urban areas (73%) and in the peripheries (77%), showing the importance, once again, of local businesses.

Being in the peripheries also symbolized a challenge, given the long distances, since some initiatives opted for the delivery format, requiring thinking means of transport for these deliveries, as we can see in this statement.

“We had already started the project and the project gave an incentive for us to continue. In this time of pandemic we had to take a break from the service because of the agglomerations. We had to pause a year and a half. Another idea came up that we had so as not to be totally stopped. We had the idea to deliver cake, but the city is 8 km from our community. The project came about in an hour of great challenge, improved the initiative.”

 

The impact on communities

The entrepreneurs related to their communities in the most different ways, either by disseminating content, by sharing the learning acquired throughout the program or, then, supporting the donation of basic baskets in the face of food insecurity that was imposed through out the Brazilian territory in the midst of the health crisis.

According to the reports of entrepreneurs, at least 16% say that their communities are an important consumer public. In addition, 27% of businesses generate jobs in the territory, as we can see when we hear some reports like this: “We were able to give more visibility, increase the workforce and increase the space. With the larger space, it gave more visibility and attracted more audience. It made a big difference. Today our initiative is more able to receive the public that we are receiving today. We can also help more people in the community,” they point out.

The program was a great promoter of the feeling of belonging in relation to the community, since there was an incentive to look around and think about the business through the local population, in addition to strengthening the territories themselves, as one of the entrepreneurs says: “For us, it is important the impact of our activities and enterprises on the community,   because we believe we can grow together. Therefore, we carry out workshops, trainings, conversation wheels improving the techniques of each entrepreneur and dialoguing knowledge with the community.”

 

Program findings and powers

From the arrival of the program to the evaluation process, black and black entrepreneurs were acquiring several learnings, able to ensure the survival of their business and also expand the impact they already had on their locations.

According to the business leaders themselves, 3,020 people living in the communities close to the projects were indirectly benefited, as the program positively fostered the spirit of belonging to the communities where they are inserted and encouraged local actions.

Throughout the program, formative processes were the heart of the journey. In total, 447 hours were dedicated to learning, 282 of which were dedicated to mentoring customized each business.

Since the peripheries are already known spaces of knowledge sharing – a practice inherited by the experience lived in community by quilombos and indigenous territories – in the program this experience of sharing learning was also evident in the testimonies collected.

Entrepreneurs narrated the realization of actions to disseminate content and resources to the communities where they are inserted, which contributed to this expansion on a larger scale of the program, also strengthening the ties of business, especially among black women.

Mentoring was also beneficial to broaden understanding of projects, defines priorities, ask questions and also carry out longer-term planning, since the program has brought these people tools about entrepreneurial practice.

According to the participants’ reports, 69% stated that they had overcome the main challenges they had at the beginning of the program. In addition, there was a 22% increase in business formalization.

All this occurred from the expansion of awareness about the importance of key elements for the maintenance and continuation of the business, such as documentation, accountability and communication planning.

 

Far beyond the program: subjectivities under construction

If there is one element that has crossed the entire Brazilian society in the midst of the pandemic, this was certainly internet access. Whether to be close to family or friends or, to access basic rights, such as Emergency Assistance, the internet proved fundamental.

The country, however, still has a great challenge when we talk about access, especially in territories further away from the central regions. This scenario was no different when we looked at the reality of the entrepreneurs contemplated in the program.

At least 82% of them claim that, with the program, they managed to overcome the challenges and inserted their business into the virtual universe, making digital inclusion one of the great gains of the program, since it was allowed to invest in the purchase of computers or internet points.

It is possible to understand the importance of the program when listening to the entrepreneurs themselves. “We had no prospect of anything. We had a business that started gradually. With the edict I went a long time without believing what had happened. We bought raw materials, equipment we needed.”

 

The challenges of black women who undertake

When we talk about entrepreneurship, it is important to remember that, even full of creativity and great ideas, the black population still faces structural challenges to access the entrepreneurship market.

This fact could also be noticed during the realization of the project, given the fact that many people could not devote themselves entirely to their business, because they needed to supplement the income in various ways, not having time to focus on their personal project. Of the entrepreneurs and entrepreneurs supported, 53% had in the enterprise a complementary source of income and for 47% the business was the main source of income. Somehow, the program also managed to support these people, who in some cases were about to give up investing time in their ideas.

About this, they reflect on the difficulties of living in their own business. “We know that black women making money, we are often there trying to make our business become our main source of income, but we have other employment relationships to be able to supplement the income.”

 

Mental Health and Self-Esteem of the Black Population

The mental health and self-esteem of black women are also unmeasured impacts that are worth noting, because they say about the personal strengthening of these leaders and the possibility of continuing their projects with autonomy.

“We didn’t believe that a project could target black and poor people without wanting anything in return. We didn’t believe we’d have visibility,” says one of the entrepreneurs heard.

When we heard the public supported by the project, the racial issue was also in evidence. For them and them, the program was a way to reflect once again on the racial prejudices they experience as black people, including to undertake, becoming a limiting person of their own work.

For one of them, if there’s a way to “hit the system in the face” is when black women can show their abilities. “It is when we put the face to the slap and prove that it is possible, especially us, women, black, young, rural, maroons. It has a whole baggage that is out of the pattern of a society that is prejudiced the way it is ours,” he points out.

 

Impact and continuous learning process

More than financial resources, it is confirmed the importance of uniting entrepreneurs with tools that enable them to continue their business, even after the end of resources equal to those of the program.

“The edict did not only give money, also taught how to follow, showed other paths,” pointed out some of the entrepreneurs heard and heard.

Showing paths of autonomy, especially financial, and ways of undertaking that continue the central idea is a way to continue impacting both the enterprises and the communities themselves. Among the preferred courses are those related to financial issues, in addition to sales and digital marketing. At least 68% of the participants stated that they had learned from the program.

“Money was something we lacked. Having an edict that would allow us to move in some way was very good. When we found out that the formative processes were still going to take place, it was very much married to what we had already been talking about. The project has already come with a complete package. They were the three ideal routes that we didn’t even expect, but it was in the package. “

 

Final reflections

The program met a real demand for increased vulnerability of the small and nano entrepreneur, caused by the worsening of the pandemic, and may realize that, even the objective being economic recovery, the project also had indirect and personal impacts for each selected person.

Even though it is not possible to measure how financial resources will continue to collaborate for the maintenance of the business, with the end of the program, it is possible to say that mentors and consultancies have mainly strengthened entrepreneurs and entrepreneurs with essential knowledge to continue following with their ventures.

We highlight that it is always important to consider the aspects of development of personal skills and abilities, as these are the greatest highlights at the end of the project, also influencing the continuity of entrepreneurial activities after intervention.

 

We highlight some of the greatest results:

# 46 initiatives and 137 entrepreneurs directly impacted

#3,020 people linked to the communities of the enterprises were impacted indirectly, with 77% of the initiatives concentrated in the peripheries.

# 88% of entrepreneurs said they use part of the resource to acquire electronic equipment to participate in the virtual activities of the program

#40% of the expenses included in the category other expenses are related to courses and /or technical consultancies to support the business, which demonstrates how these and these entrepreneurs are thinking about their business also in the medium and long term.

# At least 68% of participants stated that they had learned from the program. There were 447 hours of training, 282 of which were dedicated to mentoring customized to each business.

# 69% of entrepreneurs overcame the main challenges they had at the beginning of the program.

# There was a 22% increase in business formalization.

# At least 82% of them said that, with the program, they managed to overcome the challenges and inserted their business into the virtual universe.

# 78% acquired raw material and performed acquisition or maintenance of equipment.

# 75% bought from community suppliers and 57% declared that the clientele increased considerably.

# The Baobab Fund Notice was, for many, the first opportunity to mobilize external resources, impacting the participants’ self-confidence.

# The statements of strengthening among black women appeared spontaneously in the evaluation process, showing the importance of actions to increase self-esteem and self-confidence.

# The creation of networking networks among entrepreneurs from different locations in this time of crisis can be seen as one of the greatest subjective and qualitative gains of the project.