Investimento Social Privado e equidade racial

No mês da Consciência Negra, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, aproveita para trazer à discussão temáticas pouco exploradas, mas extremamente relevantes para a sociedade brasileira, especialmente para a população negra.

Para contribuir com essas reflexões, especialistas respondem perguntas sobre diferentes temas.

Quem comenta sobre Investimento Social Privado é Selma Moreira , Diretora Executiva no Fundo Baobá. Ela também atuou como Gerente de Responsabilidade Social do Instituto Walmart, Gerente de Sustentabilidade na Fundação Alphaville e Gerente de Projetos da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Fundação Getúlio Vargas (ITCP – FGV). É membra do Conselho Consultivo do Instituto Coca-Cola Brasil e da Assembleia Geral do Greenpeace Brasil. É formada em Administração de Empresas pela Fundação Instituto Tecnológico de Osasco, pós-graduada em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, pela Escola de Comunicação e Artes da USP, tem MBA em Gestão e Empreendedorismo Social, pela FIA.

A equidade racial é uma temática carente de investimentos sociais privados?

De acordo com o Censo GIFE 2016, as fundações, institutos e empresas brasileiras aplicaram o recurso de investimento social privado majoritariamente nas áreas da educação, formação profissional, cultura e artes. Apenas 2% dos associados apontam investimento com o recorte de relações raciais.

No Brasil, 54% da população se autodeclara negra. Por isso, entendemos ser fundamental que o tema da relações raciais entre na agenda estratégica dos investidores, a fim de garantir recursos que possam contribuir com ações de promoção da equidade racial.

Quais as possibilidades de atuação do investimento social privado em prol da equidade racial?

Há uma urgência na revisão das estratégias dos investidores sociais, a fim de contribuir para que organizações que atuam no campo dos direitos e relações raciais, possam executar suas missões. Hoje muitas organizações deste campo estão mais fragilizadas e demandam atenção e investimento a fim de garantir o cumprimento e sua missão.

O Fundo Baobá tem na sua forma de operação mobilizar recursos e pessoas para cumprir sua missão de promoção da equidade racial e busca através de alianças com investidores comprometidos com a mudança elaborar estratégias que permitam em parceria fortalecer o campo das relações raciais, seja para elaboração de implementação de programas e projetos, bem como, pelo fortalecimento da estratégia do consolidação do fundo patrimonial que em médio e longo prazos, nos permitirá dirigir mais recursos para promoção da agenda em prol da equidade racial no país.

Como as organizações podem refletir e rever suas práticas internas voltadas à equidade racial?

Temos um histórico de 388 anos de pais sob a égide do regime escravocrata e apenas 138 após a promulgação da lei Aurea. O contexto ainda é de extrema discriminação e acúmulos de vulnerabilidade sobre a população negra. Não se pode pensar ou planejar democracia fortalecida sem a inclusão de toda sociedade. Somos a maioria da população brasileira e é hora de implantar ações estruturantes que considerem a equidade racial como orientadora e não só mais uma ação pontual.

Para as organizações, é uma possibilidade de olhar para um tema urgente, altamente relevante, mas que não recebe a devida atenção.

Quer saber mais sobre as possibilidades de atuação em prol da equidade racial? Fale conosco no baoba@baoba.org.br

Dê uma Adunni. Empodere uma criança.

Entendendo a necessidade social de oferecer às crianças negras uma boneca que dialogue com suas identidades, fortaleça sua autoestima e também propicie uma conexão comportamental real com o brinquedo, o Baobá – Fundo para Equidade Racial – em parceria com a Ri-Happy e a Estrela lançaram no mercado, em 2016, a linha Adunni, que é composta por três bonecas (uma bebê e duas fashion doll), que buscam reforçar a representatividade das culturas e identidades negras em um país onde negros aparecem 7 vezes menos do que modelos brancos em campanhas publicitárias – segundos dados da agência de propaganda Heads, mesmo sendo um país majoritariamente negro (53% da população, segundo o IBGE), dificultando a formação e a reafirmação de estereótipos positivos de pessoas negras, especialmente entre crianças.

“Para uma menina, ganhar uma boneca negra que reflete suas características físicas, que via de regra não são vistas como padrão ou sinônimo de beleza pela sociedade, vai muito além de um simples brinquedo.. Esta boneca pode gerar uma conexão afetiva que vai além do conceito lúdico; ela vai reflete a identidade da criança, fazendo com que ela se sinta representada na boneca negra. Reconhecer a própria identidade em um brinquedo é fortalecer a autoestima da criança. Estes foram os motivadores para a criação da linha Adunni, que na Língua Iorubá significa a doçura chegou ao lar”, explica Selma Moreira, Diretora Executiva do Fundo Baobá.

A linha Adunni tem venda exclusiva nas lojas Ri-Happy em todo o Brasil. Para cada boneca vendida, a Ri-Happy vai destinar um percentual para o Fundo Baobá investir em iniciativas que promovam a equidade racial.

As Bonecas podem ser compradas nas lojas físicas da Ri Happy. Fizemos uma lista com as lojas que têm Adunni em estoque, atualizada às 10h do dia 08/10/2019. Vá até a loja mais próxima e consulte.

Saiba como foi o evento de lançamento!

O protagonismo da mulher negra na sociedade civil foi o mote do lançamento do “Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco” nesta segunda-feira, dia 2 de setembro, no MAR (Museu de Arte do Rio / RJ). Promovido pelo Baobá – Fundo Para Equidade Racial, primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, à promoção da equidade racial para a população negra do Brasil, o evento contou com a presença de líderes do movimento de mulheres negras, movimento negro, movimento feminista, acadêmicos, artistas, empresários e investidores.

Tendo como objetivo ampliar o número de líderes negras em posições estratégicas no setor público, privado, nas organizações da sociedade civil nacionais e internacionais, o Fundo passa a contemplar, a partir deste programa, organizações não formais e pessoas físicas. Enquadram-se no perfil mulheres negras cis gênero ou transgênero, residentes no Brasil, de áreas urbanas ou rurais, independente do nível de escolaridade ou filiação religiosa, de qualquer faixa etária a partir de 18 anos. A instituição entende como líderes mulheres presentes em variados setores da sociedade civil que vislumbram caminhos coletivos para o futuro, mobilizando outras pessoas para estarem consigo, construindo com criatividade e inovação soluções, revertendo positividades em prol do desenvolvimento coletivo.  

O nordeste, território onde se encontra o maior contingente populacional negro, incluindo a maior quantidade de jovens da maior população feminina negra do país, é região prioritária no apoio do Programa, seja dos projetos individuais ou coletivos. No Programa, o investimento financeiro terá teto de R$ 40 mil para pessoa física e R$ 170 mil para organizações, variando de acordo com o projeto e edital. As parcelas serão distribuídas ao longo de 18 meses. Além do recurso repassado diretamente, as contempladas no edital individual também irão participar de processos formativos políticos e na área de liderança, receberão apoio especializado para enfrentar os efeitos psicossociais do racismo e ainda passarão por sessões de coaching.Durante o evento, participantes refletiram sobre a realidade brasileira e as possibilidades de mudanças a partir do edital. “Infelizmente, a vida que a gente leva muitas vezes não nos permite sonhar estar num espaço social e profissional como o que eu ocupo hoje. Estou honrada em estar nesta posição e de desenvolver ações para pessoas que, por desigualdades injustificáveis, são impedidas de ter acesso a oportunidades”, contextualizou Selma Moreira, diretora executiva do Fundo Baobá.

“As mulheres negras integram o grupo mais representativo na sociedade brasileira, combinando duas características muito particulares: ao mesmo tempo em que é o grupo mais vulnerável, que sente os efeitos da desigualdade de uma forma muito direta e radical, é, paralelamente, o grupo que possui uma potência e força para enfrentar tais desafios, sendo uma fonte imensa de perspectiva de mudanças”, analisa André Degenszajn, diretor-presidente do Instituto Ibirapitanga, uma das instituições mobilizadoras de recursos ao lado da W. K. Kellogg Foundation, Fundação Ford e Open Society Foundation.

Rui Cordeiro, Diretor de Programas da América Latina e Caribe e, ao fundo, La June Tabron, Presidente e CEO da W. K. Kellogg Foundation

Prestes a completar 90 anos – 77 deles atuando no Brasil – a W. K. Kellogg Foundation tem há quase seis anos no cargo de presidência La June Montgomery Tabron, a primeira presidente mulher e primeira negra da instituição. De Beirute, onde estava no momento do evento, ela enviou seu recado através do Diretor de Programas da América Latina e Caribe, Rui Mesquita Cordeiro, relatando sobre a importância de Marielle Franco, homenageada do programa. “Aqui estamos com vocês, um ano e meio depois da morte de Marielle, lançando este Programa e a honrando”, destacou. “A aposta na formação de lideranças é contínua e, se perdemos uma liderança como Marielle, criamos centenas de outras. Se derrubam uma, a gente ergue mais 100. Se derrubam 100, erguemos mais 10 mil. Continuaremos fortalecendo este processo”, finalizou Rui.

Atila Roque, Presidente da Fundação Ford no Brasil

A Fundação Ford esteve representada pelo seu presidente local, Atila Roque. “Marielle está na imaginação de cada mulher negra que se recusa a calar, quando tudo se faz para que ela se cale; que recusa o destino do silenciamento e da invisibilidade. É o tipo que temos de melhor e mais potente, que reivindica seu lugar nos espaços de representação e, assim, representa tantas vozes que se levantam diariamente contra todo tipo de opressão. Temos orgulho de estar nesta caminhada com o Fundo Baobá, que constitui um capítulo central desta luta”, ressaltou.

O evento recebeu ainda a família da vereadora assassinada. “Ceifaram a vida da minha irmã, mas não calaram e nem calarão sua voz. Minha irmã vendeu sapato e roupa na feira para que eu pudesse estar nos EUA estudando e praticando vôlei durante quase 12 anos. Agradeço muito por honrarem seu legado e memória”, afirmou a professora Anielle Franco. “Nós somos a família de Marielle e também não seremos interrompidas”.

Adriana Couto, Mestre de Cerimônia e, ao fundo, Monica Benicio e Marielle Franco

Monica Benício, não estava no Brasil e não pôde participar do evento, desejou sucesso e reforçou a importância do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco para que mulheres negras, na sua diversidade, estejam em espaços de poder e tomada de decisão.

A advogada Lígia Batista representou a Open Society Foundation, onde atua como Assessora Especial, e emocionou-se. “Historicamente, mulheres negras são forçadas a exercerem papéis de subalternidade social e econômica, estando absolutamente distantes dos papeis de tomada de decisão e proeminência. Começamos a ampliar esta presença, mas, ainda assim, há uma sub-representação – somos poucas nestes espaços e estamos muito longe de alcançar os patamares efetivos de representação. Porém, devemos, sim, acreditar que podemos ocupar espaços que sempre nos disseram que não poderíamos. É preciso reconhecer a importância das mulheres negras enquanto agentes de transformação da nossa história, da história do nosso país. Ou a revolução será constituída junto delas, ou não será”, reforçou.

“O Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco se propõe a honrar a memória da mulher cujo legado de coragem, luta e compromisso com as causas populares mais dramáticas e com um Brasil mais justo, pujante e sustentável, permanecerá iluminando as muitas outras mulheres negras que esse Programa tem o desejo de revelar”, considerou a filósofa e escritora Sueli Carneiro, integrante do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá.

“O objetivo do Programa não é contemplar as mesmas organizações de sempre e as mesmas pessoas de sempre. O objetivo do Programa é chegar onde normalmente os recursos não chegam. Onde há pessoas tão talentosas quanto as que nós já conhecemos, mas que não têm a oportunidade de ter suas trajetórias alavancadas”, complementa o executivo consultor e empreendedor social Giovanni Harvey, presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá.

As mulheres que tiverem interesse em apresentar projetos individuais ou coletivos devem fazer a inscrição até o dia 4 de outubro de 2019. As propostas serão cadastradas exclusivamente através do aplicativo do Fundo Baobá, disponível no site http://www.baoba.org.br/edital-pad – onde estão todos os detalhes sobre ambos os editais.

Perguntas e Respostas

Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco

O que é o Programa Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco?

O Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco é um projeto de investimento em organizações da sociedade civil e de formação técnica e política de lideranças femininas negras brasileiras. O investimento se dará por meio de apoio institucional para organizações da sociedade civil, grupos e coletivos e bolsas; oferta de formação em diversas áreas do conhecimento, coaching, apoio psicossocial e promoção de redes de relacionamento (networking) para as beneficiárias individuais. Espera-se que, no período de cinco anos, mulheres negras de diversas áreas de atuação possam ter seu desenvolvimento acelerado e acessar espaços estratégicos de tomada de decisão, transformar o mundo a partir de suas experiências e mobilizar mais pessoas para a luta antirracista, por justiça e equidade social e racial.

Qual o objetivo do Programa?

O objetivo do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras – Marielle Franco é contribuir para que mulheres negras, em sua diversidade, consolidem-se como lideranças políticas e ocupem espaços e posições de poder simbólico e material seja em espaços comunitários, sindicatos, associações, coletivos entre outros espaços não governamentais sem fins lucrativos; no setor privado; organizações internacionais; estruturas formais do Estado (poderes Executivo, Legislativo, Judiciário), em diferentes setores e áreas de atuação.

Ao final do Programa, o que vocês esperam alcançar?

O que se espera ao final desde período de 5 anos  é: (a) organizações, coletivos e grupos de mulheres fortalecidos em suas capacidades funcionais, atuando em rede e potencializando a liderança de mulheres negras; (b) lideranças negras fortalecidas em suas capacidades políticas e técnicas e atuando em espaços de poder na sociedade civil organizada, em organismos internacionais, no setor privado ou governamental.

Quem será apoiado? Quantas pessoas/instituições e a partir de quando?

Serão beneficiadas organizações da sociedade civil, além de lideranças femininas negras (com idade a partir de 18 anos), reconhecidas em suas comunidades, coletivos, grupos, movimentos e instituições e que já tenham experiência na área e setores em que atuam como ativistas e/ou profissionais. Estima-se que, com o recurso disponível neste momento, seja possível apoiar, aproximadamente, 20 organizações grupos e coletivos, de todas as regiões do País, e 120 mulheres, de 2019 a 2024.

Por que investir nas mulheres negras?

No último censo demográfico, realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população residente no País era de 194,890,682 pessoas. Dentre essas, 42 47,7% se declararam brancas; 7,6% pretas; 43,1% pardas; 1,1% amarelas; e 0,4% indígenas. A população negra (pretas ou pardas) corresponde a mais da metade daqueles que residem no Brasil e, neste universo, cerca de 53% é composto por mulheres.

A taxa de conclusão do ensino superior na faixa etária de 27 a 30 anos foi de 26,5/1000 para homens brancos; 31,6 para mulheres brancas; 9,4/1000 entre homens pretos ou pardos; e 14,6 entre mulheres pretas ou pardas.

No universo acadêmico, a proporção de bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que se identificou como preta ou parda não chegou a 30%, no período de 2013 a 2017. Entre os homens, mais de 30 mil cadastros não continham a informação sobre raça ou cor. E, entre as mulheres, quase 24 mil. Do total das bolsistas mulheres cadastradas, 15% são negras e 32% brancas. Trinta e cinco por cento das bolsas concedidas nas Ciências Exatas e da Terra ou Engenharias são destinadas às mulheres. Dentre as bolsistas, 4% declararam-se pretas e 22% pardas.

Mulheres negras com doutorado correspondem a 3% do total de docentes da pós-graduação. Já as professoras brancas com a mesma escolaridade na docência da pós são pouco mais de 10 mil, ou 19% do total de 53.995 professores nos cursos de doutorado, mestrado e especialização.

Segundo o IBGE, em 2016, a participação proporcional de mulheres em cargos gerenciais correspondia a 39,1% do total. Entre as 3.527.000 mulheres que ocupavam estes cargos, 2.511.000 eram brancas e 962.000 eram pretas ou pardas.

Em 2017, contabilizou-se 28 cargos ministeriais no governo, dos quais 7,1% eram ocupados por mulheres.

A última eleição (2019) indicou que haverá 50% mais mulheres na Câmara dos Deputados do que havia em 2015. Foram eleitas 77 deputadas federais, 26 a mais do que em 2014. Aumentou o número de negras – de 10 para 13 – e de brancas – 41 para 63[1].

Segundo o levantamento do Instituto Ethos feito junto às 500 maiores empresas que atuam no País, apenas 4,7% dos cargos executivos são ocupados por negros; 6,3% dos gerenciais; e 35,7% da folha funcional. Dentre esses, a minoria quase absoluta é composta por mulheres.

A revista Forbes, em sua edição de novembro de 2017, elegeu 40 mulheres poderosas seja porque recuperaram grandes organizações, porque as administram ou porque formam opiniões, ou ditam a moda e inspiram atitudes. Dentre elas, apenas uma era negra.

Vocês terão cotas para mulheres não negras? E as indígenas, migrantes e outros grupos historicamente discriminados?

Mulheres migrantes negras poderão ser candidatas e, uma vez selecionadas, poderão fazer parte do Programa, mulheres de outros segmentos populacionais não.  O Fundo Baobá é exclusivo para apoio a projetos, organizações e pessoas negras.

Menos de 15% das parlamentares no Brasil são mulheres. Parlamentares serão beneficiadas pelo programa? O programa beneficiará mulheres como o mesmo perfil da vereadora Marielle Franco?

Parlamentares negras também poderão se inscrever. Mas, o programa não é exclusivo para elas. O programa beneficiará lideranças femininas negras de diferentes idades (desde que maiores de 18 anos), orientações sexuais e identidades de gênero, residentes em diferentes estados da federação, nas zonas urbanas e rurais, nas periferias ou nas regiões centrais, e que atuem em diferentes áreas e setores poderão se inscrever.

Posso me inscrever no edital para lideranças e no edital para organizações, grupos ou coletivos ao mesmo tempo?

O Fundo Baobá preza pela igualdade de oportunidades e, por isso, caso haja 2 inscrições com o mesmo CPF, ambas serão desclassificadas.

E as organizações do movimento negro? Serão apoiadas? Quais?

As organizações, grupos e coletivos de mulheres negras também poderão se inscrever e buscar apoio. O chamamento será realizado por meio de edital e as organizações serão selecionadas a partir de critérios específicos expressos no documento (edital), a ser divulgado a partir de setembro de 2019.  O edital será exclusivo para organizações, grupos e coletivos de mulheres negras ou aqueles que tenham 85% e mais de mulheres negras em sua composição.

Como vocês pretendem alcançar as mulheres negras que não são ativistas?

As lideranças femininas negras atuam em diversos setores. Estão nas organizações do movimento social negro, nas organizações feministas, associação de moradores e outras agremiações de bairros, comunidades e favelas. Estão na academia, vinculadas às universidades. São parlamentares e também estão na iniciativa privada. Elas estão no campo e na cidade, são mulheres cis ou trans, algumas têm deficiência, estão em diferentes fases da vida. Pretendemos alcançar, inclusive, aquelas lideranças femininas negras que têm acesso restrito à internet.

Como se dará esse apoio e por quanto tempo?

O Fundo Baobá investirá ao longo de cinco anos, no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras. Nesse período, pretende apoiar cerca de 20 organizações, grupos e coletivos, por período de no máximo 18 meses, cada e 120 mulheres por período de no máximo de 18 meses, cada. Para as mulheres, serão oferecidas bolsas individuais, cursos em diversas áreas, apoio psicossocial, coaching e construção de redes de relacionamento (networking).  Para as organizações, grupos e coletivos será oferecido apoio financeiro e técnico focado na ampliação de suas capacidades coletivas para: garantir a sistematização da memória e a transmissão de conhecimentos e práticas; comunicação, mobilização e engajamento de novas atrizes e atores para defender a causa; formação de novos quadros; uma gestão democrática e transparente. 

Qual será o valor do apoio às organizações, às mulheres e quais cursos serão oferecidos?

Cada organização ou grupo coletivo poderá receber apoio de até R$ 170 mil reais. As doações individuais serão no valor total de R$ 40 mil, por beneficiária.

Às mulheres que recebem apoio individual, o Fundo Baobá também irá ofertar formação política, coaching, formação em liderança, apoio psicossocial apra enfrentamento ao racismo e incentivos para o estabelecimento de novas redes de relacionamento.

Para as organizações, grupos e coletivos apoiados, o Fundo Baobá também irá proporcionar o estabelecimento de novas redes de relacionamento, ofertar assessoria técnica, indicar serviços e profissionais especializados em coaching institucional. As mulheres negras que lideram estas as organizações, grupos e coletivos,  também terão a oportunidade de participar em algumas das atividades formativas que compõem o edital de apoios individuais.

O que significa acelerar o desenvolvimento de lideranças?

Significa investir, oferecer oportunidades e ferramentas para observar as realidades, intervir e transformar. E outras palavras, em pouco mais de um ano, equipar essas mulheres com visão, mentalidade e o conjunto de habilidades necessárias para aumentar seu impacto e aproveitar todo o seu potencial de liderança criativa. Isso inclui processos formativos para a mediação de conflitos, gestão de riscos, coordenação e gestão de equipes, elaboração e implementação de planos sucessórios, comunicação assertiva, entre outros.

O programa Marielle Franco é um parceria com o Instituto Marielle Franco?

Não. O Programa de aceleração do desenvolvimento de lideranças femininas negras é uma iniciativa do Baobá: Fundo para a promoção da equidade racial.

A família da Marielle acenou recentemente que várias pessoas e instituições têm se aproveitado da imagem da vereadora. Como vocês enxergam isso?

Essa definição foi construída com o objetivo de contribuir em uma pauta antiga e ainda necessária do movimento social negro: as mulheres. Portanto, o Fundo Baobá está seguindo a esteira da estratégia de atuação do movimento social negro desde a década de 1970. O assassinato da vereadora Marielle Franco precisa, portanto, foi um divisor de águas para reiterar que mulheres negras e, toda população negra, têm direito à vida e garantidas de que lideranças como ela não sejam ceifadas. Infelizmente, os recursos que buscamos para os projetos de fortalecimento de lideranças negras femininas chegaram após a morte da parlamentar. Investidores sociais buscaram o Fundo Baobá por ser o único a trabalhar exclusivamente com a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. O Programa de aceleração do desenvolvimento de lideranças femininas negras surge, então, como uma resposta a essa perda irreparável, para honrar a trajetória dela e impulsionar o desenvolvimento de lideranças no sentido de permitir que mais rapidamente mulheres ocupem espaços estratégicos, a partir dos investimentos que serão feitos nelas.  A família apoia e reitera a importância do Programa para a construção de uma sociedade mais justa, onde a equidade racial seja reconhecida como elemento fundamental, tanto que autorizou o uso do nome de Marielle Franco. 

Se o programa já estava sendo desenhado antes mesmo da morte da vereadora, porque só foi batizado com o nome dela depois?

O Fundo Baobá pretende contribuir para a construção de uma sociedade onde o lugar, as vozes e as ações de mulheres negras sejam devidamente reconhecidas como determinantes nos processos de desenvolvimento social, político, econômico, científico, cultural e ambiental.  Quanto ao nome do Programa, entendemos que seria uma maneira de homenagear a parlamentar negra e impulsionar o desenvolvimento de lideranças, como ela e outras, no sentido de permitir que mais rapidamente mulheres ocupem espaços estratégicos, em diversos espaços de atuação, a partir dos investimentos que serão feitos.

Um pouco depois da morte da vereadora saiu na imprensa que seriam investidos US$10 milhões (de dólares) no programa. Como esse recurso será investido? A partir de quando?

Essa informação não procede. O Programa de aceleração do desenvolvimento de lideranças femininas negras: Marielle Franco contou com três apoiadores iniciais:Instituto Ibirapitanga, Ford Foundation e Open Society Foundation. Juntos, eles doaram U$ 3 milhões. Desse recurso, US$ 2,7 milhões (quase R$ 10 milhões de reais) serão aplicados no apoio às organizações da sociedade civil e também no apoio individual às 120 beneficiárias. Ao receber essa doação o Fundo Baobá recebeu um novo aporte da Kellogg Foundation, no valor de US$ 3,5 milhões, que serão empregados em atividades programáticas relacionadas ao Programa, outros projetos e, também, serão utilizados para alavancar o funcionamento do próprio Fundo.

E os outros quase US$ 7 milhões que foram incrementados com os recursos da Kellogg? Para onde vai esse dinheiro?

O novo aporte da Kellogg Foundation não é exclusivo para Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras. Esse recurso é destinado para custear atividades programáticas relacionadas ao Programa de Aceleração, outros projetos e, para alavancar o funcionamento e operação do próprio Fundo.

O que o Fundo Baobá tem feito para exigir justiça para o caso Marielle Franco?

O Fundo Baobá não é um órgão de monitoramento. Contudo, assim como toda a sociedade brasileira, apoia e aguarda com esperança o esclarecimento do caso e a responsabilização dos envolvidos.

Qual é a opinião do Fundo Baobá sobre o assassinato de Marielle? Vocês acham que a milícia e parlamentares estão envolvidos no caso?

Aguardamos com esperança o esclarecimento do caso e a responsabilização dos envolvidos.

Vocês acham que foi um crime de ódio, por ela ser negra, mulher, bissexual e favelada?

Não temos conhecimento de nenhum elemento que aponte para esse caminho. Aguardamos com esperança o esclarecimento do caso e a responsabilização dos envolvidos.


Fundo Baobá

O que é o Fundo Baobá? Qual é a sua missão? Como atua?

O Fundo Baobá é uma organização brasileira criada em 2011 que opera com exclusividade em prol da equidade racial para a população negra, mobilizando pessoas e recursos, no Brasil e no exterior.

Para o alcance de sua missão – promover a equidade racial no Brasil, o Fundo Baobá trabalha fortalecendo e investindo, por meio de editais e apoios direcionais, em organizações e lideranças negras, comprometidas com o enfrentamento ao racismo, a promoção da equidade racial e da justiça social.

Parte significativa do trabalho do Fundo Baobá está voltado para o investimento na região nordeste do país, por entender que essa região é estratégica para a promoção da equidade racial, por sua composição demográfica, seu histórico de resiliência e inovação neste campo. 

Porque o Nordeste é apresentado como território prioritário de atuação do Fundo Baobá?

A priorização da região nordeste deve-se ao compromisso assumido pela instituição quando de sua fundação, e ao fato de que, ao mesmo tempo em que a área encontra importantes desafios para o alcance da equidade racial, também é potência. É a região com a maior proporção de população negra do país, maior contingente jovem e feminino. Os investimentos corretos em educação, saúde e qualidade de vida; na ampliação do acesso no mercado de trabalho e qualificação dos quadros; uma apropriação da memória como elemento chave para a transformação do presente e do futuro,  podem surtir grande efeito na consolidação de um imaginário social positivo e na  mobilidade socioeconômica das famílias e comunidades do nordeste, trazendo contribuições significativas para o desenvolvimento do país como um todo.

Para o Fundo Baobá o que significa promover a equidade racial?

Promover a equidade racial é contribuir para criar resiliência e aumentar a capacidade individual, comunitária e institucional para o exercício à vida com dignidade, adaptação e crescimento com justiça, diante de crises severas, estresse crônico e exposição sistemática ao racismo.

Mas a missão do Fundo Baobá é promover a equidade racial para população negra. O que isto significa?

Para o Fundo Baobá promover a equidade racial para a população negra significa investir em organizações, projetos e pessoas capazes de reduzir e eliminar qualquer obstáculo colocado para a população negra brasileira no acesso a bens, serviços e direitos, para que ela possa alcançar e desfrutar, em patamar de igualdade, todas as oportunidades.  Também significa compreender as dinâmicas e intervir em contextos de desequilíbrios e abusos de poder subjacentes aos grupos raciais.  O Fundo Baobá entende que a promoção da equidade racial para a população negra é um processo contínuo, alicerçado no enfrentamento ao racismo e na reparação das desigualdades injustificáveis, já constituídas como iniquidades.

Para o Fundo Baobá, diversidade e equidade racial são sinônimos?

A Equidade é a justiça aplicada ao caso concreto e não está ligado ao exercício das leis e, sim, ao tribunal da consciência. Nós do Fundo Baobá distinguimos a justiça racial da diversidade.  Pode haver diversidade sem equidade.  Um foco de diversidade aborda principalmente os sintomas do racismo – com o objetivo de minimizar as tensões raciais e maximizar a capacidade das pessoas de tolerar a diferença e se dar bem.  Um enfoque de justiça racial aborda, principalmente, as causas da desigualdade e as soluções e estratégias para a produção de equidade.

Como funciona a composição do Fundo Patrimonial?

Para cada R$ 1,00 captado em território nacional, a Fundação Kellogg doa outros R$ 3,00. E, para cada R$ 1 captado no exterior, a mesma fundação doa outros R$ 2 – até que se alcance a meta de US$ 25 milhões. O objetivo é que esse valor arrecadado fique em uma espécie de poupança, de modo que, ao longo dos anos, seja possível financiar, com os rendimentos, projetos de organizações da sociedade civil afro-brasileira e/ou que contribuam para a causa da equidade racial a longo prazo. Grande parte dos esforços estão concentrados na captação de recursos para que isso ocorra no menor tempo possível.

Como o Fundo Baobá seleciona os projetos que apoia?

Prioritariamente por meio de editais e chamamentos públicos com indicadores e critérios de seleção específicos.

Quais são temas prioritários de investimento do Fundo Baobá? 

Estamos em um processo de consolidação e expansão de nossos investimentos. Temos 4 eixos prioritários: educação, desenvolvimento econômico, comunicação e memória, vida com dignidade. No eixo viver com dignidade apoiamos projetos de promoção à saúde da população negra e qualidade de vida; prevenção e atenção às vítimas de violência; exercício da sexualidade e dos direitos reprodutivos; acesso à terra, à infraestrutura em comunidades rurais e urbanas (água, luz, esgoto, asfaltamento, etc.); prevenção e atenção à vítimas de racismo religioso. No eixo educação apoiamos projetos que promovam ampliação das possibilidades de educação formal e não formal; livre formação política, incidência em espaços de poder e controle social; enfrentamento ao racismo no espaço escolar; ampliação das habilidades socioemocionais e construção de projetos de vida entre adolescentes;  formação avançada em universidades do exterior/; ou mesmo inovação na área de ciência e tecnologia. No eixo de comunicação e memória o Fundo apoia projetos de valorização e difusão de bens culturais materiais e simbólicos (produção artística – música, dança, canto, literatura etc.; práticas culturais tradicionais e inovadoras); mídia negra. No eixo de desenvolvimento econômico a centralidade dos investimentos está em iniciativas que visem a melhoria das condições socioeconômicas da população negra; e o empreendedorismo.

Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco

O Baobá: Fundo para Equidade Racial é o primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil.

Mediante apoio financeiro, técnico e institucional, o Fundo Baobá investirá em organizações da sociedade civil, grupos e coletivos liderados por mulheres negras e em lideranças femininas negras. Com o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, previsto para acontecer ao longo de cinco anos, o Fundo espera que as mulheres negras apoiadas tenham mais subsídios para acessar espaços de tomada de decisão, mobilizar mais pessoas para a luta antirracista, por justiça, equidade social e racial e transformar o mundo a partir de suas experiências.

O Programa é o resultado da parceria entre Baobá – Fundo para Equidade Racial, Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations.

Quem pode participar?
No edital “Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras”, podem participar mulheres negras ativistas ou com perfil técnico, cis, trans, residentes no Brasil, de áreas urbanas ou rurais, de qualquer faixa etária a partir de 18 anos, diversos níveis de escolaridade ou filiação religiosa, residentes no Brasil.
No edital “Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras”, podem participar organizações, coletivos e grupos de mulheres negras, que residam no Brasil e tenham 18 anos e mais.

Editais, como se inscrever?

As inscrições para o edital de apoio individual intitulado “Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras” , encerraram-se no dia 18 de outubro de 2019, 23h59min, horário de Brasília.

O edital de apoio à organizações, grupos e coletivos  “Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras”,  teve suas inscrições encerradas no dia 25 de outubro de 2019, 23h59min, horário de Brasília.

Só serão aceitas propostas cadastradas por meio do aplicativo do Fundo Baobá, clique aqui para acessar.
Não se esqueça de fazer o download também do manual de instalação e preenchimento do aplicativo.

Divulgação dos Resultados

Os projetos selecionados para os 2 editais, “Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras” e “Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras”, serão divulgados no dia 10 de dezembro de 2019 em todos os canais oficiais da organização.

Gravação dos webinários

Nos dias 07 e 08 de outubro de 2019, fizemos uma conversa ao vivo mostrando o passo a passo de inscrição e respondendo dúvidas das interessadas em participar dos dois editais do Programa. Para você que não pôde participar, disponibilizamos os links abaixo.

Conversa sobre o edital “Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras”

Conversa sobre o edital “Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras”

Dúvidas?

Acesse nossa página de perguntas e respostas sobre o edital.

Troca de experiências sobre meninas e mulheres nas Ciências

Projeto promove encontro entre estudantes do ensino médio e pesquisadoras para discutir a participação das mulheres em carreiras nas Ciências.

Investiga Menina, projeto financiado pelo Fundo Baobá, por meio do Edital Negras Potências, promoveu, em 15 de março, um encontro presencial entre as estudantes do ensino médio e pesquisadoras negras. Essa é a 4ª edição do projeto, que acontece na cidade de Goiânia (Goiás) e impacta diretamente, 150 alunas/os do Colégio Estadual Solon Amaral.

Clarissa Alves Bernardes, 17 anos, relata que o  projeto Investiga Menina trouxe para ela uma nova perspectiva para encarar a realidade. “Com as aulas ministradas e as conversas que tivemos, consegui me encontrar como uma mulher que sonha produzir Ciências. Com a ajuda do Investiga Menina, mantenho esse sonho vivo dentro de mim. Antes de ser apresentada ao projeto, confesso que estava confusa quanto ao meu futuro, entretanto após o projeto posso afirmar, com toda certeza, que a carreira científica é o que quero para mim”.

As beneficiárias do Investiga Menina são jovens como Clarissa, estudantes do ensino médio e também integrantes e participantes do Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado.

O projeto existe desde 2016, está na 4ª edição e com o apoio do Negras Potências vai até o mês de agosto de 2019. A iniciativa é da professora de química, Anna Maria Canavarro Benite, vinculada a Universidade Federal de Goiás (UFG), doutora em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).
Segundo Anna Maria não se discute a produção de mulheres em sala de aula, muito menos as influências dessas produções para a sociedade. E, quando o recorte é racial, não se tem notícias em currículo oficial ou material didático, sobre qualquer mulher negra brasileira cuja contribuição seja celebrada no mundo acadêmico.

O projeto surge da parceria entre o Laboratório de Pesquisa em Educação Química e Inclusão – LPEQI-UFG e o Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado, e atua na aproximação entre as  estudantes e as práticas científicas por meio de ações direcionadas em laboratórios de química. O projeto visibiliza as práticas, as pesquisas e as histórias de vida realizando entrevistas com as cientistas brasileiras, possibilitando que elas visitem a escola parceira, destacando as suas contribuições e inspirando estudantes do ensino médio a seguirem as carreiras das exatas e científicas.

O apoio ao projeto, liderado pela professora de química, está ancorado na missão estratégica do Fundo Baobá para equidade racial, na medida em que o direito à educação de qualidade é um dos eixos estratégicos de atuação do Fundo. O investimento no projeto Investiga Menina se dá por meio do edital Negras Potências. O investimento do Fundo Baobá em educação está alinhado com o Programa de Ação da Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial e Intolerâncias Correlatas (2001) que reitera a importância do reconhecimento das contribuições culturais, econômicas, políticas e científicas feitas por africanos e afrodescendentes e com a Agenda Global de Desenvolvimento Sustentável onde, em 2015, os países se comprometeram a alcançar uma série de metas, entre elas, assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos e todas.

Saiba mais:
Dia 28 de abril é comemorado o Dia Internacional da Educação, essa data foi escolhida, pois foi exatamente nesse dia que terminava o Fórum Mundial de Educação, realizado em Dakar, no Senegal, no ano 2000. A data é lembrada como uma oportunidade de reflexão entre educadores, alunos e pais sobre a qualidade de ensino oferecido e a importância dos valores educacionais para a formação de crianças, adolescentes e adultos.

Os países que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU) definiram, em 2015,  uma agenda de desenvolvimento sustentável composta por 17 objetivos, conhecidos como Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030. Para a conexão entre ciência e mulheres destacamos os: o ODS 4 Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos, em especial a meta 4.5 eliminar as disparidades de gênero na educação e garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo as pessoas com deficiência, povos indígenas e as crianças em situação de vulnerabilidade e o ODS 5 Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas, na meta  5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres.


Imagem: Alunas/os do Colégio Estadual Solon Amaral

Calendário do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco

Investir na promoção da equidade racial, por meio de aportes financeiros em iniciativas individuais ou coletivas direcionadas exclusivamente para a população negra é a missão do Fundo Baobá e dialoga com os esforços na luta contra o racismo e pela eliminação da discriminação racial.

O Fundo Baobá acredita que, com mais estrutura, investimentos e oportunidades, as mulheres negras líderes que atuam em diversos campos poderão:

  • acessar espaços de poder (simbólico e material);
  • mobilizar mais pessoas para a luta contra o racismo, por equidade racial e justiça social; e
  • transformar o mundo a partir de suas experiências.

Juntando esforços para investir nessas potências, o Instituto Ibirapitanga, Ford Foundation e Open Society Foundation, doaram juntos U$ 3 milhões ao Fundo Baobá, que lançará o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. A maior parte do recurso, cerca de R$10 milhões, será aplicada no apoio direto às organizações, grupos, coletivos e lideranças femininas negras.

Editais

Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Liderança Femininas Negras: Marielle Franco, com vigência de 2019 a 2024, tem como foco ampliar e consolidar a participação de lideranças femininas negras em posições de poder e influência por meio do investimento em formação política e técnica, fortalecer organizações, grupos e coletivos de mulheres negras e, ao mesmo tempo, fazer um tributo à trajetória e à vida de Marielle Franco, brutalmente assassinada aos 14 dias de março de 2018.

O programa começa com o lançamento de dois editais. No primeiro, “Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras”, aproximadamente 60 mulheres negras terão seu desenvolvimento acelerado, por meio da oferta das ferramentas essenciais para que elas, que já são lideranças em diversos campos de atuação, possam acessar espaços de poder – simbólico e material, transformando o mundo a partir de suas experiências, por justiça e equidade social e racial.
Já no edital “Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras”. cerca de 10 organizações da sociedade civil, grupos e coletivos de mulheres negras também poderão ser apoiadas.

Lançamento

Os editais serão lançados em 03 de setembro de 2019. A seleção e divulgação das propostas escolhidas acontecerá até novembro de 2019. Veja o novo cronograma abaixo e assine nossa newsletter para ver todas as novidades! 

Para saber mais

O Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao Massacre de Shaperville, que ocorreu na mesma data em 1960, na África do Sul.

Programa Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras

Apresentando o Programa
Na contribuição da construção de uma sociedade mais justa e equânime para todas e todos, o Fundo Baobá em parceria com a Ford Foundation, Open Society Foundations, Instituto Ibirapitanga e a W.K. Kellogg Foundation, apresenta as diretivas do Programa  Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras.

O “Programa Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras”, foi concebido para ampliar a participação e consolidar mulheres negras em posições de poder e influência, através de investimento em suas formações políticas e técnicas.

Os resultados imediatos esperados pelo Programa são em duas frentes:
1- Organizações, coletivos e grupos de mulheres fortalecidos em suas capacidades, atuando em redes e potencializando a liderança de mulheres negras;
2- Lideranças negras fortalecidas em suas capacidades políticas e técnicas e atuando em espaços de poder na sociedade civil organizada, no setor privado ou público governamental.

Para que os resultados sejam alcançados, o Programa empenhará esforços técnicos, políticos e financeiros para ampliar e aprimorar capacidades, conhecimentos e habilidades individuais ou institucionais, priorizando os investimentos em:
1- Reforço de capacidades das organizações, coletivos e grupos de mulheres negras;
2- Formação política e técnica de lideranças femininas negras que já atuam em diferentes áreas, setores e territórios, de modo institucionalizado ou não.

O Programa terá 5 anos de duração e suas principais proposições são:
1- Acelerar o desenvolvimento político e técnico de lideranças femininas negras de diferentes idades, orientações sexuais e identidades de gênero, residentes em diferentes estados da federação, nas zonas urbanas e rurais, nas periferias ou nas regiões centrais, e que atuem em diferentes áreas e setores;
2- Fomentar atividades de educação entre pares e atividades colaborativas conduzidas pelas lideranças apoiadas pelo Programa, para compartilhamento de conhecimentos, boas práticas e lições aprendidas
3- Contribuir para que essas mulheres líderes sejam reconhecidas como agentes de mudança;
4- Inserir lideranças com perfil técnico em posições de influência ou tomada de decisão;
5- Fortalecer capacidades de organizações, coletivos e grupos de diferentes regiões do país;
6- Instituir espaços permanentes para intercâmbio;
7- Estimular as ações em rede;
8- Realizar ações de comunicação e mobilização social.

Das lideranças femininas negras apoiadas pelo Programa, espera-se que elas desenvolvam ou aprimorem:
1- a percepção do momento histórico, a consciência e criticidade para ler as circunstâncias, os contextos e dinâmicas territoriais em que vivem;
2-  habilidades extras de relacionamento que levem a persuasão de um amplo grupo, com vistas a efetivação de transformações políticas, econômicas e sociais;
3- a desenvoltura política que lhes permitam ocupar espaços estratégicos em organizações de grande e pequeno portes, locais, nacionais ou internacionais, no setor privado, em instituições públicas governamentais atuando de modo diferente, ousado, criativo e inovador, em busca de objetivos coletivos e explorando da melhor forma suas capacidades técnicas e de liderança.

A sociedade brasileira ainda não reconhece a mulher negra como agente de desenvolvimento social, político, econômico, científico, cultural e ambiental, sendo assim, o principal desafio a ser enfrentado pelo Programa é contribuir para que as mulheres negras, em sua diversidade, consolidem-se como lideranças políticas e ocupem espaços e posições de poder simbólico e material seja em espaços comunitários, sindicatos, associações, coletivos não governamentais organizados; no setor privado; ou mesmo nas estruturas formais do Estado (poderes Executivo, Legislativo, Judiciário), em diferentes setores e áreas de atuação.

Números e estatísticas que justificam o Programa
O último censo demográfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, revelou que a população negra (pessoas autodeclaradas pretas ou pardas) residente no país é de 50,7% (7,6% pretas e 43,1% pardas) e dentro desse número, 53% é composto por mulheres negras.

Nas estatísticas de gênero do IBGE, as desigualdades raciais existem e persistem, onde a taxa de conclusão do ensino superior na faixa etária de 27 a 30 anos foi de 26,5/1000 para homens brancos, 31,6/1000 para mulheres brancas, 9,4/1000 para homens negros e 14,6/1000 para mulheres negras.

No universo acadêmico a proporção de bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que se identificou como negra não chegou a 30%, no período de 2013 a 2017. 35% das bolsas concedidas nas Ciências Exatas e da Terra ou Engenharias são destinadas às mulheres, dentre as bolsistas, somente 26% são negras. Mulheres Negras com doutorado correspondem a 3% do total de docentes da pós graduação. Já as mulheres brancas com a mesma escolaridade na docência da pós são pouco mais de 10 mil ou 19% do total de 53.995 professores nos cursos de doutorado, mestrado e especialização.

Ainda segundo o IBGE, em 2016 a participação proporcional de mulheres em cargos gerenciais correspondia a 39,1% do total, entre as 3.527.000 mulheres que ocupavam estes cargos, 2.511.000 eram brancas e 962.000 eram negras. Em 2017 contabilizou-se 28 cargos ministeriais no governo, dos quais 7,1% eram ocupados por mulheres.

Quando o tema é participação política, das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados, 54 eram ocupadas por mulheres e no Senado eram 13, num universo de 81.

De acordo com levantamento feito pela plataforma Mulheres Negras Decidem, em 2014, apenas 2,5% das despesas de todos os candidatos ao legislativo estava relacionada a candidaturas de mulheres negras, como consequência direta a elegibilidade total neste grupo foi de apenas 1,6%.

A disparidade é tão contundente que somente em 2016, o Senado brasileiro construiu o primeiro banheiro feminino do plenário, até a data, as parlamentares usavam o do restaurante anexo disponível desde 1979, quando a primeira senadora foi eleita. Esse “detalhe” é somente um indicativo de que o local e  – logo, a política – não eram pensados para as mulheres os ocupassem.

O setor privado não apresenta números diferentes. Segundo levantamento do Instituto Ethos feito junto às 500 maiores empresas que atuam no país, apenas 4,7% dos cargos executivos são ocupados por negros; 6,3% dos gerenciais; e 35,7% da folha funcional. Dentre estes, a minoria quase absoluta é composta por mulheres. A revista Forbes, em sua edição de novembro de 2017 elegeu 40 mulheres poderosas, seja por terem recuperado grandes organizações, porque as administram ou porque formam opiniões, ditam moda e inspiram atitudes, dentre elas apenas 1 era negra.

Na Revista Fortune de 2018, dos 500 CEOs eleitos, apenas 24 eram mulheres, ou seja, menos de 5% da lista, das 24 mulheres, somente 2 eram não-brancas e na lista não há nenhuma mulher negra.

De acordo com dados divulgados durante o Fórum Econômico Mundial (2018), existe uma diferença econômica de 58% entre homens e mulheres e vai levar 217 anos para que mulheres tenham o mesmo salário que os homens e alcancem assim representatividade igualitária no mercado de trabalho. O cálculo é feito medindo a quantidade de homens e mulheres que participam da força de trabalho, seus rendimentos e o progresso no trabalho de acordo com os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).   

As mulheres negras lutam desde as primeiras décadas por plena participação política, pelo direito de votar e pela efetividade ao direito de ser a ser votada, como fazia questão de destacar Antonieta de Barros, primeira mulher negra eleita como deputada, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (1934/1937).

O que começou com Antonieta de Barros, certamente não se encerrou em Marielle Franco, ao ter sua vida arrancada de forma extremamente violenta. Nas eleições de 2018, foram eleitas, as mulheres negras: Benedita da Silva (Deputada Federal pelo Rio de Janeiro); Leci Brandão (Deputada Estadual por São Paulo); Olivia Santana (Deputada Estadual pela Bahia); Renata Souza (Deputada Estadual pelo Rio de Janeiro); Dani Monteiro (Deputada Estadual pelo Rio de Janeiro); Mônica Francisco (Deputada Estadual pelo Rio de Janeiro); Talíria Petrone (Deputada Federal pelo Rio de Janeiro); Áurea Carolina (Deputada Federal por Minas Gerais); Leninha (Deputada Estadual por Minas Gerais); Érica Malunguinho (primeira mulher trans Deputada Estadual por São Paulo); Robeyoncé Lima (primeira mulher trans Deputada Estadual por Pernambuco) e Andreia de Jesus (Deputada Estadual por Minas Gerais).

O Programa Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras é a busca de uma paridade real, em todos os lugares, instituições, organizações, sindicatos, empresas privadas e públicas, organismos internacionais, estruturas formais do Estado (Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário) e coletivos, para que cada vez mais, as vozes, as falas, e a produção intelectual das mulheres negras em papel de liderança sejam ouvidas, percebidas e reconhecidas nos espaços onde o poder simbólico e material é exercido.

O Programa foi concebido e será implementado para que mais mulheres negras quebrem o “teto de vidro” e possam fazer das suas capacidades de organização e liderança pontes para que cada vez menos mulheres negras fiquem para trás.

 “Das mulheres negras apoiadas pelo Programa espera-se que a busca pela equidade racial seja primazia em todo e qualquer lugar que venham ocupar, sendo o Programa não um formador, mas sim um otimizador na aceleração do desenvolvimento e ampliação de suas capacidades. Em suas comunidades, organizações, coletivos, grupos, movimentos e instituições, estas mulheres já lideram. Nosso esforço é para e que elas possam ir além”, destaca Fernanda Lopes, Diretora de Programa do Fundo Baobá.

O cronograma com as principais atividades do ano 1 do Programa serão apresentados ainda no mês de março de 2019, e as ações propriamente ditas terão início no segundo semestre.

Em parceria, o Instituto Ibirapitanga, Ford Foundation  e Open Society Foundation doaram o total de recursos financeiros  que correspondem a U$ 3,000,000, para a realização do Programa Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras. Este recurso foi potencializado em função da nossa parceria estabelecida com a W.K. Kellogg Foundation, que prevê a obtenção de contrapartidas para recursos arrecadados pelo Fundo Baobá, onde haverá contrapartida conhecida como matchfunding (3 para 1 em caso de doações nacionais e 2 para 1 em caso de doações internacionais). Neste caso a alavancagem total foi de U$ 7.000,00, sendo que, 50% ou seja U$ 3,500,000, serão aplicados no desenvolvimento do Programa  e operacionalização institucional e  a outra metade dos recursos doados pela W.K. Kellogg Foundation que correspondem a U$ 3,500,000, irão compor o fundo patrimonial da instituição, visando a formação de um mecanismo financeiro que gere sustentabilidade em médio e longo prazos.

“Essa é uma parceria importantíssima. A coalizão de 4 fundações na luta em prol da equidade racial é uma resposta contundente, acerca da relevância e urgência para a pauta da equidade racial no Brasil. Ver a mobilização de novos atores para o campo das relações raciais, a fim de contribuir para a eliminação do racismo e iniquidades históricas que afetam majoritariamente a população negra, nos dá a certeza que este movimento de parceria será observado como uma boa prática e irá gerar novos doadores interessados em se aliar ao Fundo Baobá, para juntos construirmos um país mais justo e equânime”, afirma Selma Moreira, Diretora executiva do Fundo Baobá.

Quem foi Marielle Franco
Marielle Francisco da Silva (Marielle Franco) era mulher negra, mãe, socióloga formada pela PUC-Rio, onde ingressou através do Programa Universidade para Todos (Prouni), com mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense(UFF) com o tema “UPP: a redução da favela em três letras”, em sua primeira disputa eleitoral foi a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro em 2016, com 46.502 votos, coordenava a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, presidiu a Comissão permanente de Defesa da Mulher também na Alerj, era uma dos quatro relatores da comissão que monitorava a intervenção federal na segurança pública do estado, trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm),  com temas de cultura e educação através de três eixos: raça, gênero e cidade.

Iniciou sua militância em Direitos Humanos após ingressar no pré vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, na ‘guerra às drogas’ no Complexo da Maré.

Era mãe de Luyara dos Santos, 19 anos e esposa de Mônica Benício.

Marielle Franco foi assassinada aos 38 anos, dentro do seu carro, na noite de 14 de março de 2018 no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, após sair de encontro de mulheres negras intitulado “Jovens Negras Movendo as Estruturas”. Além da vereadora, Anderson Pedro Gomes, motorista do veículo, também foi baleado e veio a falecer.

Para além de toda a repercussão nacional, o assassinato de Marielle Franco ganhou eco fora do Brasil, jornais como The New York Time, The Washington Post, The Guardian e a rede ABC News noticiaram o caso.

Até a data presente (08/02/2019), quase 11 meses após o seu assassinato, os culpados ainda não foram apontados.

Bolsas de Pós Graduação para Estudantes Negros em Universidades Americanas

O Fundo Baobá, comprometido em fomentar a equidade racial e na formação de lideranças negras, junto com a W.K. Kellogg Foundations, firmou parceria com a Fundação Lemann, organização não-governamental sem fins lucrativos que trabalha com educação e formação de lideranças, na criação e administração de um fundo patrimonial de R$ 7,5 milhões de reais voltado para o apoio a estudantes negros brasileiros através de bolsas de pós graduação nas universidades de Harvard, Columbia, Stanford e MIT.

O recurso doado pela Fundação Lemann irá compor o fundo patrimonial – compromisso firmado entre a W.K. Kellogg Foundation e o Fundo Baobá em 2011.

O fundo patrimonial terá cinco por cento dos seus rendimentos destinados à concessão das bolsas para estudantes negros em programas de pós graduação nas áreas de:
– Saúde
– Educação
– Gestão Pública.

As universidades parceiras do Programa Lemann Fellowship, da Fundação Lemann, são: Harvard, Columbia, Stanford, MIT, Illinois de Urbana-Champaign (UIUC) e Oxford.

Essas Instituições, em colaboração com a Fundação Lemann, há mais de 10 anos oferecem bolsas individuais e oportunidades de desenvolvimento profissional a pessoas que trabalham com impacto social.

Como funciona o fundo patrimonial
Por meio de práticas jurídicas, administrativas e de gestão pautadas na transparência, o Fundo Baobá está construindo um Fundo Patrimonial formado por doações contínuas de empresas, organizações e pessoas físicas. Essas doações recebem uma contrapartida da Fundação Kellogg, sendo de 3 para 1 em caso de doações nacionais e 2 para 1 em caso de doações internacionais, em um processo conhecido por matchfunding.

“O Baobá é a única organização brasileira que opera com exclusividade em prol da equidade racial, mobilizando pessoas e recursos, no Brasil e no Exterior, com vistas a apoiar projetos que promovam a justiça social através de organizações afro-brasileiras da sociedade civil”, explica Selma Moreira, Diretora Executiva.

“As experiências adquiridas em instituições internacionais de excelência são elementos que ainda faltam no processo de desenvolvimento de capacidades de estudantes brasileiros negros. A parceria estabelecida entre Fundo Baobá, W.K. Kellogg Foundation e Fundação Lemann é de suma importância para a população negra e a sociedade brasileira como um todo porque reitera que as transformações sociais se sustentam caso haja melhor e maior investimento na educação, na interculturalidade e na ampliação das redes de contatos”, afirma Fernanda Lopes, Diretora de Programa do Fundo Baobá.

Para concorrerem às bolsas, os estudantes deverão participar do Ponte de Talentos, programa preparatório da Fundação Lemann, que está aberto até o dia 10 de fevereiro.

As bolsas integrais oferecidas pela parceria entre Fundo  Baobá, W.K. Kellogg Foundation e Fundação Lemann estarão disponíveis para os estudantes aceitos pelas universidades parceiras a partir de 2021.


Na imagem: Selma Moreira (Diretora Executiva – Fundo Baobá), Felipe Proto (Gerente de Projetos – Lemann), Fernanda Lopes (Diretora de Programa – Fundo Baobá), Luciana Elmais (Analista de Projeto – Lemann) e Neimy Escobar (Coordenadora de Projetos – Lemann).

A Resistência como prática diária

O 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra – nos mostra que resistências se constroem de forma diária.

Para chegarmos nesse dia, milhões de negros e negras se insurgiram, quebraram correntes e fizeram de seus corpos e almas territórios de liberdade. Alguns são conhecidos, como Zumbi dos Palmares e sua companheira Dandara. Outros, não tiveram seus nomes escritos na história, mas como coletividade, deram suporte para que esses guerreiros e guerreiras conseguissem ganhar essa batalha e fossem lembrados no tempo presente.

A Militância e o ativismo de hoje estão sob ataque.
Mas sabemos que a vida é uma intensa e contínua luta para o povo negro, todos os dias. Angela Davis afirma que direitos são conquistas e precisamos lutar por eles. Nada está posto, e em especial a liberdade, direito conquistado às custas de muito sangue derramado.

A onda de conservadorismo que assola a sociedade brasileira também reverbera em países como  Estados Unidos, França, Alemanha e Itália, por exemplo, soa como uma resposta ao cansaço generalizado das denúncias de crimes de corrupção política que se arrastam por anos, sem uma penalidade aos corruptores, mas acima de tudo, é uma resposta de quem não quer abrir mãos de seus privilégios com o contínuo avanço das conquistas dos ditos grupos minoritários: negros, Lgbtqi+ e mulheres.

A tal resistência, que é necessária a cada dia mais, é construída por exemplos cotidianos como esses:

Absolvição de Babiy Quirino

A estudante e modelo negra Bárbara Querino, 20 anos, foi acusada de um suposto roubo, em setembro de 2017, sendo que ela foi  “reconhecida pelos cabelos” por uma das vítimas. No entanto, na data do crime, ela se encontrava a trabalho no Guarujá e tem como prova fotos e vídeos.
Bárbara Querino, conhecida como Babiy  foi absolvida de um dos processos pelo qual foi acusada. De acordo com a defesa, a Justiça inocentou a modelo de um suposto roubo de carro de luxo e objetos de valor.

Saiba mais sobre o caso aqui.

Conceição Evaristo como homenageada do Enem 2018

A escritora mineira Conceição Evaristo foi a homenageada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2018. Trechos de sua obra foram selecionados e impressos nas provas do Enem. Uma das responsabilidades do participante no Enem é transcrever a frase apresentada na capa do Caderno de Questões para o Cartão-Resposta. Cada tipo de prova – são quatro cores diferentes, além das provas acessíveis – tem uma frase diferente. Uma das frases usadas na prova do Enem é: “E não há quem ponha um ponto final na história”.

Eloá e Maria das Graças e a importância da educação
A estudante Eloá Oliveira Rosa, 13 anos, participava de uma sarau literário com pais e alunos em sua escola, quando foi chamada para receber o certificado de destaque de desempenho escolar, emocionando assim sua mãe, Maria das Graças, que não esperava ver a filha entre os alunos selecionados para receber a honraria.

Leia mais sobre aqui.

A youtuber Nátaly Neri lança a série Negritudes Brasileiras

Negritudes Brasileiras, é um documentário de longa-metragem sobre identidades raciais brasileiras que estreou dia 12 de novembro no YouTube. A série foi idealizada por Nátaly Neri, produzido pela Gleba do Pêssego e conta com a participação da historiadora Giovana Xavier, da arquiteta Joice Berth e dos jornalistas Alê Santos e Aline Ramos.
“O ideário da democracia racial recusa o conflito”, afirma Nátaly

Escolinha Maria Felipa

A Escola Afro-Brasileira Maria Felipa surgiu da ideia de jovens negras e negros que, na busca por educarem suas filhas e filhos a partir de outros marcos civilizatórios, pensaram em uma escola que valorizasse as constituições ancestrais não apenas europeias, mas que reconhecesse a forte influência ameríndia e fundamentalmente africana na formação sociocultural brasileira. A escola possui educação infantil bilíngue e está localizada no bairro da Federação em Salvador, Bahia.

Conheça mais sobre a Escolinha aqui.

Selo Sueli Carneiro

Começou na semana passada a pré-venda do novo livro de Sueli Carneiro: Escritos de uma vida.
O livro tem apresentação de Djamila Ribeiro, prefácio de Conceição Evaristo e texto de orelha de Átila Roque, o livro reúne uma série de artigos publicados por Sueli ao longo de sua vida, com textos que abordam temáticas imprescindíveis para refletir sobre a sociedade e moldar o pensamento contemporâneo. A publicação é a primeira do selo que homenageia Sueli Carneiro levando o seu nome.

É preciso Esperançar.
E esses exemplos de lutas diárias feitas no presente, mostram que as conquistas e vitórias de outras pessoas negras, que fortalecem toda a coletividade, podem fazer com que enxerguemos para além das perdas cotidianas que incluem o campo da política.

É preciso manter o fio da esperança conectado às práticas diárias. Se conectar com outras pessoas que potencializam ações para o amanhã. É preciso fazer das margens o centro. Refletir e continuar lutando pelas conquistas de quem veio antes e não tirar os olhos do horizonte de possibilidades ao colocar a coletividade negra como fonte primeira das ações que nos afastam de um passado de precariedade e nos impulsionam para um presente de movimentos e um futuro de abundância.

Que esse 20 de novembro nos lembre disso.

Créditos:
Imagem destaque: dazzle jam/nappy

O medo como ruptura dos processos democráticos

Quem não sentiu mal nos últimos meses por causa da intensa e tensa polarização política? Discussão entre familiares, brigas com amigos, ofensas e até ameaças. Rompimentos.

Relações que geralmente se davam no campo do privado (família e relações afetivos-sexuais) foram ampliadas para o campo do coletivo através de sentimentos como: medo, angústia, lamento, frustração, luto e muita tristeza.

Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em 2 de outubro o clima pouco amistoso e a situação política do país provocam raiva e tristeza em mais de 65% dos eleitores brasileiros.

Nesse período eleitoral, duas figuras políticas centralizam toda a tensão e cerca de 147 milhões de adultos votantes concentram suas energias focando nesses dois polos, já que todas as relações sociais são relações políticas, são nesses campos que os personagens políticos se fundem e as opiniões distintas acabam gerando mais atritos.

A psicanalista Maria Homem é taxativa: “O aumento do ódio e da violência tem relação direta com a diminuição do debate e o motivo é a exaustão, não de uma pessoa mas do sistema inteiro”.

“Estamos vivendo uma patologia da mente, realmente a gente não consegue elaborar, muito menos comunicar, então a gente tem uma descarga, uma onda catártica, que atropela tudo e que é um berro. A gente tem certeza de quem são os culpados e temos igualmente a certeza de quem são os benfeitores”, afirma a psicanalista que vai mais a fundo e compara o cenário atual com o aprendizado de um bebê: quando não consegue falar, precisa berrar, chorar e gritar para ser ouvido.

Ângela Soligo, presidente da Abep (Associação Brasileira de Ensino de Psicologia) lista alguns efeitos colaterais psicológicos dessas eleições: “Primeiro é o aumento e a exacerbação das atitudes extremadas, ou totalmente contra ou a favor, sem ponderar, refletir, sobre o significado dessas atitudes e das ideias que elas carregam. A consequência é o fanatismo, e o fanatismo em geral é obscurantista, ele impede que as pessoas reflitam sobre sentimentos, ideias e ações. Num momento de polarização, o pensamento fica comprometido. O que vem à frente são fortes emoções, as crenças acima de tudo e o desprezo pelo pensar. É a impossibilidade do diálogo, o que fica marcado é o sentimento de ódio. Ele se tornou a marca de muitos discursos. Odiar nessas circunstâncias é abrir mão da racionalidade. Outro sentimento que vai marcar é o da impotência e desesperança. Há pessoas que olham para o que está acontecendo e sentem que não podem fazer nada. Como se tudo fosse mais forte que elas, daí o sentimento que vem junto é a desesperança. Não posso fazer nada, quero ir embora”.

Para a psicanalista Amanda Mont’Alvão o ódio está sendo exercido sem mediação e sem os freios trazidos pelo processo de civilização e esse sentimento faz com que a aceitação das diferenças no convívio estejam impraticáveis e que as pessoas envoltas nessa onda de sentimentos negativos se sintam intimidadas.

Para não ser inundado por essa onda é preciso investir em práticas de saúde mental, estabelecer redes solidariedade e de apoio mútuo, buscar caminhos e modos de vida que permitam sonhar, planejar e criar, indo além de meramente sobreviver.  

Essa eleição está tendo o ódio e o medo como modus operandi, mas o pós eleições pode ser definido pelo amor, pela conversa, pelo respeito e pelo olho no olho.

Fontes:
Huffpost Brasil
Data Folha
Nexo Jornal

O Fazer Político em 2018

Discutir política em 2018 não está se mostrando nada fácil. Nem tão pouco tranquilo.
A polarização está cada vez mais acirrada e os ânimos estão exaltados.
Seja na roda de amigos, no grupo de mensagens instantâneas da família, em redes sociais, discutir política tem sido tomar partido, se posicionar e muitas vezes nas medidas mais radicais, cortar relações com quem pensa diferente.
Estão todos sensíveis e reativos a qualquer posição contrária.

O que fazer para não cair no discurso vazio e sem sentido de alguns candidatos, se instrumentalizar sobre propostas irreais e conhecer algumas outras formas do fazer político?
Que tal colocar em discussão a pouca ou quase nula presença de mulheres em posições de poder, em especial as mulheres negras?

E quebrar alguns mitos, como o de pessoas negras não votam em candidatos negros?

Listamos logo abaixo, algumas iniciativas que podem te ajudar a perceber as várias esferas do fazer político e a se instrumentalizar para reconhecer candidatos ou propostas com falsas soluções para problemas reais.

  Rede Umunna (que significa clã ou irmandade em igbo, língua falada em parte da Nigéria), foi criada a partir da iniciativa de cinco mulheres negras que acreditam que as mudanças sociais transformadoras se darão através da qualificação e da discussão sobre o debate político. A rede existe para engajar mulheres negras no debate eleitoral e que conecta essas mulheres na discussão da política institucional e nos espaços de poder.

A iniciativa foi criada por Ana Carolina Lourenço – Cientista Social, Gabriele Roza – Jornalista, Juliana Marques – Estatística, Lorena Pereira – Analista de Sistemas e Diana Mendes – Relações Internacionais e Políticas Públicas, que se juntaram durante a imersão do programa Mina de Dados, idealizado pela Transparência Brasil, em parceria com data_labe e a Preta Lab . As idealizadoras da Rede Umunna crêem na criação de espaços seguros para o fortalecimento de mulheres negras na política brasileira. Um dos dados levantados pela Rede é que as mulheres negras são o maior grupo demográfico do país, somando 27% da população brasileira e no entanto são menos de 2% no congresso nacional.

Diante dessa dado, a Rede Umunna lançou a campanha #MulheresNegrasDecidem, cujo objetivo é continuar o longo legado de movimentos de mulheres negras que lutam pelo avanço dos direitos através do fortalecimento de processos eleitorais.

“Mulheres Negras Decidem é uma declaração de crença no poder das gerações atuais em cumprir a promessa democrática”.

Através de mapeamento e análise de dados produzidos por órgãos oficiais de pesquisa, a Rede Umunna derrubou diversos mitos amplamente difundidos, especialmente em época de eleições.

“Negros não votam em negros”.
A justiça eleitoral não faz recorte racial do eleitorado, o que impossibilita uma análise que conecte diretamente eleitores negros e candidatos negros. O perfil demográfico da zona que a candidatura foi mais votada não é uma leitura suficiente para esta afirmação.
A análise completa desse mito você pode ler aqui: 

“Existem poucas mulheres negras eleitas porque elas não se candidatam”.
O universo de mulheres negras candidatas é próximo ao número total de mulheres brancas candidatas. Contudo nas eleições de 2014, mulheres negras foram 12,6% das candidaturas a deputado federal, mas apenas 1,9% das eleitas.
A análise completa desse mito você pode ler aqui:

 Observatório Brasil 50 – 50, uma iniciativa de organizações de mídias, pesquisa e da sociedade civil (Gênero e número, Instituto Patrícia Galvão, Instituto Alziras com apoio da ONU Mulheres e da pesquisadora e professora da UnB Flávia Biroli) foi lançado na metade do mês de setembro  apresentando análises, dados e reportagens em prol da paridade de gênero no debate eleitoral e político do país para o fortalecimento dos processos democráticos.

Os conteúdos publicados pelo Observatório têm como objetivo fornecer informações de qualidade para fundamentar o debate de gênero e política e publicizar que a parcela da população que busca por igualdade não está sozinha.

Duas das pesquisas que estão sendo produzidas são: um perfil das prefeitas no Brasil de 2017 a 2020 a ser lançado em breve e um mapeamento de todas as mulheres na disputa eleitoral em 2018, que você pode acessar aqui.

E um dos mais importantes levantamentos  – já que nas eleições de 2018 serão 6 candidatos a votar (deputado federal, deputado estadual, primeira vaga de senador, segunda vaga de senador, governador e presidente da República) – dentro da publicação Gênero e Número é a campanha #MeRepresenta, onde você escolhe os temas mais importantes para você (Gênero, raça, lgbts, povos tradicionais e meio ambiente, trabalho/saúde e educação, segurança e direitos humanos, corrupção, drogas, migrantes), seleciona o Estado e o site lista todas as candidatas e os candidatos, bem como  seus respectivos partidos, para você escolher qual mais trata dos temas que são caros a você.

–  Rede de Justiça Criminal é formada por oito organizações não governamentais (Centro de Estudos de segurança e Cidadania; Conectas direitos humanos; Instituto de Defensores de Direitos Humanos; Instituto de Defesa do Direito de Defesa; Instituto Sou da Paz; Instituto Terra, Trabalho e Cidadania; Justiça Global; Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares) que promovem ações de advocacy, buscando a disseminação de informação, a promoção de debate público, a elaboração e o encaminhamento de propostas, junto aos atores do sistema de justiça criminal e a sociedade civil, nos eixos de dados e transparência, direitos e garantias e violência institucional.

A iniciativa colocou no ar a campanha #EleiçõesSemTruque, com o objetivo de ajudar as eleitoras e os eleitores a identificar propostas  que possíveis candidatos(as) tentam projetar para solucionar problemas antigos com resoluções ilusórias, no campo da segurança e da justiça.

Alguns candidatos(as) para atrair atenção de futuros eleitores se utilizam de chamadas ficcionais tais quais: ”Vamos mudar o código penal para acabar com a impunidade” ou “Vou construir mais presídios”, como respostas à população toda vez que algum caso de violência ganha destaque midiático. O que a Rede de Justiça Criminal se propõe a fazer é qualificar o debate sobre segurança e justiça munindo as eleitoras e os eleitores de questionamentos e informações para que estes, analisem quais candidatas e candidatos estão propondo políticas públicas sérias, baseadas em dados e pesquisas e não proferindo um discurso apenas como caça a votos.

Essas foram três das iniciativas que mapeamos que podem te ajudar a ter mais clareza e te auxiliar na tomada de decisão sobre quem são as pessoas que você depositará sua confiança através do seu voto nas eleições de 2018.

Fontes: Imagem – Wendy Andrade
Rede Justiça Criminal 
Eleições sem truque
Mulheres Negras Decidem
Gênero e Número

Resultado final do edital A Cidade Que Queremos


Edital “A cidade que queremos”

O edital “A cidade que queremos”, realizado pelo Fundo Baobá em parceria com a Fundação OAK, foi direcionado a grupos e organizações pró-equidade racial para fomentar e desenvolver cidades mais justas e inclusivas pra todas e todos, combatendo as desigualdades às quais a população negra está submetida.

Esta chamada teve como foco as regiões metropolitanas do Nordeste brasileiro, e em especial a da cidade do Recife e região metropolitana (Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Igarassu, Abreu e Lima, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, Goiana, São Lourenço da Mata, Araçoiaba, Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Moreno e Itapissuma), com o intuito de apoiar organizações pequenas e médias da sociedade civil (OSCs) afro-brasileiras que desenvolvem e  implementem iniciativas inspiradoras voltadas para a participação cidadã, estimulando discussões e atividades na perspectiva do Direito à Cidade, com intuito de reduzir as práticas do Racismo Estrutural e Institucional.

Todas as propostas foram recebidas pelo site do PROSAS: https://prosas.com.br/editais/3780-a-cidade-que-queremos

Confira abaixo a lista de organizações selecionadas:

1 Instituto de Negros de Alagoas/INEG – (AL)
2 Associação de Intercâmbio para educação, cultura e cidadania AIECC – (BA)
3 Instituto CEAFRO/ ICEAFRO – (BA)
4 Ideas – Assessoria Popular (BA)
5 Organização Artístico Cultural Odeart – (BA)
6 Associação Artística Nóis de Teatro – (CE)
7 Grupo Mulher Maravilha/GMM – (PE)
8 Centro Cultural Coco de Umbigada – (PE)
9 Sítio Agatha (PE)
10 Rede de Mulheres Negras de Pernambuco (PE)

Parabenizamos as organizações selecionadas e agradecemos o interesse das demais participantes.

A Politização da Imagem

As imagens não são inocentes.
Elas não são meramente ilustrações, elas produzem conteúdos, elas informam.

As imagens precisam ser politizadas e precisamos, enquanto agentes, nos perguntar a cada imagem vista: O que ela quer dizer? Quem a produziu, fez com qual intuito? Qual mensagem ela quer passar?

As imagens produzem memória e como sabemos, um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história é aquele que desconhece seus valores, suas glórias e as lutas pelas quais seus ancestrais passaram, logo essas pessoas não tem do que se orgulhar, não tem onde se inspirar e acabam engolindo como verdade, muitas falácias que são ditas, produzidas e disseminadas por quem está na hegemonia.

Há duas semanas atrás, foi ao ar um comercial do dia dos pais feito por uma grande rede de cosméticos e perfumes. O comercial era simples: Um pai que através de tentativas divertidas, quer se inserir na “turma” dos filhos, demonstrando que é por meio de erros e acertos que se faz necessária a presença paterna na criação dos filhos.

O comercial possui 30 segundos, foi vinculado no youtube e até o presente momento (15 de agosto) esses são os resultados:
Mais de 10 milhões de visualizações
11 mil comentários
128 mil likes
18 mil dislikes


O número alto de negativações se deu por um motivo: A família retratada no comercial é negra. Todos os integrantes, mãe, pai e 3 filhos.

A título de comparação, no comercial de dia dos pais de 2016, composto por uma família toda branca, o número de dislikes foi de pouco mais de 3 mil.

O comercial incomodou tanto porque se propôs a ser inovador, ao trazer como família tradicional uma família composta por pessoas negras. O que não é comum quando falamos de mídias televisivas, onde somente pessoas não negras são retratadas em comerciais de creme dental e aqueles clássicos de café da manhã.

Estendamos um pouco mais a questão de poder da imagem. Quantas famílias negras foram retratadas em novelas, séries, comerciais, filmes, propagandas, fora da questão racial, só existindo, em toda a sua complexidade e situações cotidianas?

Mesmo quando determinada produção televisiva se passa na Bahia, por exemplo, que conta com a maior população de maioria negra fora do Continente Africano, o casting é composto quase que exclusivamente de pessoas não negras.

Chiquinha Gonzaga, que era uma compositora negra, foi interpretada por uma atriz branca.
Machado de Assis, um escritor negro, teve sua imagem num comercial de um grande banco, totalmente embranquecida.

As pessoas negras vêm tendo as suas imagens vinculadas, durante décadas nas mídias em geral, a estereótipos negativos, a famílias desestruturadas, a comportamentos criminosos, a atitudes irresponsáveis.

Isso por si só constitui um imaginário coletivo que afirma que todas as pessoas negras são, agem, pensam e se comportam da forma como as mídias as retratam.

As imagens contam histórias, reforçam padrões, convencionam comportamentos.
Precisamos estar atentas a elas.

Um tributo a Sueli Carneiro

Neste 25 de julho, quando se comemora o dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha, conheça um pouco da trajetória política e militante de Sueli Carneiro, inspiração de mobilização e luta para gerações de mulheres pelo Brasil por equidade racial.
O Fundo Baobá tem a honra de contar com sua participação no Conselho Deliberativo.


“Indignação sempre foi a palavra que mais me impulsionou. Odeio injustiça.
Luto pela construção de uma sociedade multirracial e pluricultural, onde a diferença seja vivida como equivalência e não mais como inferioridade”


Aparecida Sueli Carneiro Jacoel, nasceu em 24 de junho de 1950 na cidade de São Paulo, é Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Filósofa, escritora, ativista anti racismo e uma das principais pensadoras do País. Fundadora e diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, primeira organização negra e feminista independente de São Paulo, que completou 30 anos em 2018. E abriga o único programa brasileiro de orientação na área de saúde específico para mulheres negras. Semanalmente mais de trinta mulheres são atendidas por psicólogos e assistentes sociais e participam de palestras sobre sexualidade, contracepção, saúde física e mental.

Sua laureada trajetória foi reconhecida pelos seguintes prêmios:
– Prêmio Benedito Galvão (2014)
– Prêmio Direitos Humanos da República Francesa
– Prêmio Bertha Lutz (2003)
– Prêmio de Direitos Humanos Franz de Castro Holzwarth (Menção Honrosa)
– Prêmio Itaú Cultural 30 anos

É de sua autoria uma das reflexões que mais corroboram a discussão acerca da Branquitude como objeto e tema de pesquisa:

“Uma das características do racismo é a maneira pela qual ele aprisiona o outro em imagens fixas e estereotipadas, enquanto reserva para os racialmente hegemônicos o privilégio de serem representados em sua diversidade. Assim, para os publicitários, por exemplo, basta enfiar um negro no meio de uma multidão de brancos em um comercial para assegurar suposto respeito e valorização da diversidade étnica e racial e livrar-se de possíveis acusações de exclusão racial das minorias. Um negro ou japonês solitários em propaganda povoada de brancos representam o conjunto de suas coletividades. Afinal, negro e japonês são todos iguais, não é?

Brancos não. São individualidades, são múltiplos, complexos e assim devem ser representados. Isso é demarcado também no nível fenotípico em que é valorizada a diversidade da branquitude: morenos de cabelos castanhos ou pretos, loiros, ruivos, são diferentes matizes da branquitude que estão perfeitamente incluídos no interior da racialidade branca, mesmo quando apresentam alto graus de morenice, como ocorre como alguns descendentes de espanhóis, italianos ou portugueses que, nem por isso, deixam de ser considerados ou de se sentirem brancos.   

A branquitude é, portanto, diversa e multicromática. No entanto, a negritude padece de toda sorte de indagações”.

Sueli Carneiro é uma das maiores críticas ao feminismo hegemônico e sua visão universalizante da figura feminina. É também uma das grandes contribuidoras do feminismo negro, como resgate histórico do protagonismo das mulheres negras em lutas emancipatórias e pela humanidade negada pelos processos escravocratas.

Suas palavras acerca do mal uso do termo diversidade, nos dá uma dimensão exata da problemática de se colocar referenciais diferentes dentro do mesmo contexto, produzindo assim falsas simetrias sobre diferenças que não são equivalentes:

“O conceito de diversidade tem tido múltiplos usos e abusos na nossa tradição cultural. Não é um conceito do qual eu goste muito, porque historicamente ele se presta a nivelar contradições sociais de natureza, alcance e magnitude distintos. Na prática, diversidade se transforma em uma lista de lavanderia: negro, indígena, mulher, gay, idoso, pessoa com deficiência. É um conceito que descontextualiza as diferenças socialmente construídas, pois as trata como ambivalentes”.

Sueli Carneiro possui dois livros publicados: Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil (2011), pelo Selo Negro e Mulher Negra: Política governamental e a Mulher (1985) em parceria com Thereza Santos e Albertina de Oliveira Costa.

O reconhecimento da intelectualidade da mulher negra ainda encontra barreiras, nítido reflexo das discriminações de raça e gênero presentes na sociedade brasileira, como ilustram os episódios a seguir.

Em um evento realizado em meados de 2017, na Academia Carioca de Letras, Carolina Maria de Jesus era a homenageada da noite. Seu livro mais conhecido, Quarto de despejo, foi publicado em mais de 24 países e versa sobre as agruras e durezas da vida de privações por ser uma moradora da favela do Canindé. Porém todo esse reconhecimento – de ser a homenageada da noite e ser reconhecida em vários países como uma escritora consagrada – não impediu que um renomado professor de literatura brandasse aos quatro ventos: “Isso pode ser um diário e há inclusive o gênero, mas definitivamente, isso não é literatura. Cheio de períodos curtos e pobres, Carolina, sem ser imagética, semi-analfabeta, não era capaz de fazer orações subordinadas, por isso esses períodos curtos”.

Carolina Maria de Jesus era a homenageada do evento, tema da palestra ministrada pelo professor, motivo da cerimônia, assunto do encontro e conteúdo principal do mês dentro do projeto que a Academia Carioca de Letras homenagearia outras escritoras. E isso tudo não foi impedimento para que o referido professor, afirmasse categoricamente e sem nenhum constrangimento que a escrita de Carolina não é literatura.

Essa estrutura perversa que não consegue reconhecer que mulheres negras são produtoras de cultura e escritoras.

Mais recentemente em 2018, acabou de acontecer uma campanha online que contou com mais de 20 mil assinaturas em apoio à candidatura de Conceição Evaristo para a Academia Brasileira de letras (ABL), uma instituição que foi criada por um homem negro – Machado de Assis – e ainda assim não possui nenhuma mulher negra no seu quadro de Imortais em 120 anos de existência.

O cenário que esses dois episódios ilustram, demonstra a  extrema importância de uma editora anunciar que lançará um selo editorial que leva o nome de uma das maiores pensadoras do País.

O Selo Sueli Carneiro será publicado pelo Grupo Editorial Letramento, cujo objetivo é publicar obras de pensadoras (es) negras brasileiras e internacionais.

Com prefácio de Conceição Evaristo e apresentação de Djamila Ribeiro, o livro será lançado em breve.

“Sueli Carneiro nos brinda com uma coletânea de artigos publicados ao longo da vida e que refletem sobre a necessidade de se pensar novos marcos civilizatórios. O pensamento feminista negro de Sueli Carneiro, é fundamental e atual para o debate racial e de gênero e construção de um modelo alternativo de sociedade”, afirma Djamila Ribeiro.

Assista ao vídeo de divulgação

 

O reconhecimento da trajetória, luta, vida e obra das mulheres negras se faz urgente.
Afinal, tantos avanços só foram possíveis porque mulheres negras anônimas ou de maior visibilidade como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Sueli Carneiro e tantas outras, pavimentaram os caminhos e abriram portas para todas nós.

Vida Longa a Sueli Carneiro.  

Fontes: Publisnews, CEERT, Opera Mundi
Imagem: Revista Trip

Seleção de Projetos Negras Potências

É com muita felicidade, que anunciamos o resultado do Edital Negras Potências!
Ao todo, foram selecionados 16 projetos de impacto de diversas regiões do Brasil.

O canal Negras Potências é uma parceria entre Fundo Baobá e Benfeitoria, com apoio de Coca-Cola Brasil e Movimento Coletivo. Juntos, reunimos projetos de impacto que contribuem para o empoderamento de meninas e mulheres negras que agora vão contar com a sua contribuição!

Lista de Projetos selecionados:

Afreektech

O projeto desenvolverá ações voltadas para a transmissão de conhecimento de ferramentas de gestão e alavancagem de negócios como Marketing Digital e Modelagem de Negócios com foco em mulheres negras.

Afrolab

O projeto buscará fortalecer as habilidades empresariais de mulheres negras a partir de um processo de autoconhecimento voltado para aprimoramento da sua capacidade decisória.

Afroricas

O projeto desenvolverá material audiovisual voltado para a difusão de informações relevantes para o desenvolvimento das mulheres negras no mercado de trabalho.

Amora

Tem como proposta a inserção da identidade étnica e racial, de maneira positiva, no universo infantil feminino através de brinquedos, bonecas, que reflitam a estética negra. Em 2017 ganhou o Prêmio Laureate Brasil Jovem Empreendedor Social.

Casa das pretas

Através de atividades como oficinas de fomento à economia solidária; rodas de estudo e leitura sobre feminismo negro; cursos para desenvolvimento acadêmico (acesso a mestrado e doutorado); cursos de dança e percussão; todos voltados para o público feminino negro, o projeto tem por objetivo o fortalecimento político e econômico das mulheres negras a fim de impactar na redução das violências de gênero e situação de desigualdade econômica por elas experenciadas.

Circuladô de oya

Tem por objetivo fomentar a divulgação e discussão da discriminação interseccional de gênero, raça e classe que atinge as mulheres negras a partir do fomento à participação deste público em espaços de formação e atuação política junto a comunidades, instituições e em redes sociais. As ações terão núcleos de Educação Popular como lócus de desenvolvimento e propagação.

Cores Femininas

O projeto tem por objetivo o empoderamento de mulheres negras através de ações culturais – grafite e hip hop – a serem realizadas de maneira colaborativa e comunitária. A troca de experiências, conscientização para enfrentamento das várias formas de violência bem como autonomia financeira também estão presentes em seus objetivos. O recurso arrecadado durante a campanha de crowdfunding será utilizado, principalmente, para a compra de materiais.

Corpos Invisíveis

O projeto tem por objetivo principal a realização de longa metragem no qual serão discutidos temas como racismo, seu aspecto estruturante das relações sociais no Brasil, da invisibilização e inviabilização das mulheres negras em uma sociedade machista.

Costurando redes

O objetivo principal centra-se na realização de oficinas de costura buscando o fortalecimento econômico de mulheres negras e seu empoderamento, autoestima e autonomia de maneira que sejam instrumentalizadas para lidar com questões cotidianas como a violência doméstica e a desigualdade de acesso a oportunidades profissionais e de renda.

Costurando sonhos

O projeto tem por objetivo o fomento de capacidades técnicas que possibilitem a inserção de mulheres negras no mercado de trabalho através de oficinas na área de costura.

Doula a quem quiser

O projeto tem por objetivo promover o acesso à informação de qualidade sobre gestação, parto e puerpério, salientando a questão da violência obstétrica vivenciada por mulheres. O acompanhamento presencial por doulas para mulheres em situação de privação de liberdade também está presente nas ações a serem realizadas.

Editora Nasurdina

O projeto objetiva a consolidação de uma editora que potencialize jovens autoras negras, independentes, oferecendo-lhes infraestrutura para criação e produção de material.

Investiga Menina

O projeto tem por objetivo, através da articulação com professoras e pesquisadoras negras, brasileiras, fomentar o interesse de meninas negras pelas áreas das ciências exatas no campo do conhecimento tendo em vista esta carecer de representatividade negra, feminina.

Revista Arquitetas Negras Vol.1

O projeto tem por objetivo a produção de publicação (revista) especializada em arquitetura e urbanismo a fim de dar visibilidade ao trabalho e o contexto social no qual se dá o trabalho de mulheres negras que atuam na profissão.

Sororidade
Uma nova forma de relação

O projeto pretende realizar a montagem de espetáculo artístico, circo-teatro, a ser apresentado em escolas públicas de ensino médio na periferia da cidade de Recife com o objetivo de mobilizar mulheres jovens articulando-as para que enfrentem as violências experienciadas por este público naquela região.

Sou Negra e quero falar

O projeto tem como objetivo principal o fomento da discussão de temas como racismo, combate ao machismo, violência de gênero, direitos reprodutivos, descriminalização do aborto, feminismo negro por mulheres negras, blogueiras. A proposta é a realização de workshop cujo conteúdo centra-se em subsidiar tecnicamente jovens negras, produtoras de conteúdo em meios alternativos, para que propaguem a discussão destes temas.

Esses são os 16 projetos selecionados. Nosso muito obrigada a todas que enviaram suas iniciativas.

15 anos das Cotas

“O que nós conquistamos não foi porque a sociedade abriu a porta, mas porque forçamos a passagem”
Conceição Evaristo

O ano era 2001 e acontecia em Durban, na África do Sul, a III Conferência contra a Xenofobia e Discriminação. Os representantes dos Movimentos Negros Brasileiro, denunciavam ao mundo os efeitos nefastos do ‘racismo à brasileira’, que apesar de aparentemente silenciosos, estavam bastante presentes nos discursos e nas ações naturalizadas que sustentavam na condição de marginalidade e desigualdade de oportunidades entre negros e brancos, as pessoas negras desde o tempo da escravidão.

A denúncia trouxe a tona a falaciosa democracia racial, escancarando de vez que quando se trata de relações étnico-raciais, o País vive de aparências. Com isso foi impossível manter a ‘boa reputação internacional’ e a denúncia serviu como estopim para que houvesse um comprometimento formal no combate ao racismo e no desenvolvimento nacional de ações que visassem a reparação histórica nos dias atuais.

É nesse contexto que surgem as ações afirmativas, fruto da luta dos movimentos negros.

O Sistema de Cotas foi adotado pelo primeira vez na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em 2001. A  Universidade de Brasília (UnB) foi a primeira Instituição Federal de Ensino Superior a adotar o Sistema de Cotas, em 2004.
A Lei Federal de número 12.711 só foi aprovada em 2012, tornando legal e obrigatório que as Universidades, Institutos e Centros Federais reservem 50% das suas vagas para estudantes oriundos de escolas públicas, dentre elas há reserva de percentual especial destinada a estudantes negros (auto identificados como pardo ou preto) e indígenas.

Como funciona a reserva de vagas, segundo o MEC

As Cotas são constitucionais e altamente relevantes, elas auxiliam na diminuição das desigualdades raciais remanescentes de fenômenos sociais que precisam ser enfrentados e atuam como alternativa para a busca de igualdade através da promoção de condições equânimes entre negros e brancos. Seus impactos são profundos, pois permitem o avanço da diversidade e da pluralidade nas diversas instituições brasileiras, a começar pelos espaços acadêmicos.

Embora atualmente ainda existam diversas pessoas e setores sociais que discordem da implementação das Cotas, elas já são uma realidade brasileira, portanto havendo consenso sobre a sua aceitação ou não, elas são garantidas por lei.

Depois de mais de 15 anos desde as primeiras experiências de ações afirmativas no ensino superior, o percentual de negros que concluíram a graduação cresceu de 2,2% em 2000, para 9,3% em 2017.

O Censo do Ensino Superior elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) também evidencia o aumento do número de matrículas de estudantes negros em cursos de graduação. Em 2011, do total de 8 milhões de matrículas, 11% foram feitas por alunos negros, em 2016, ano do último Censo, o percentual de negros matriculados subiu para 30%.

O professor Nelson Inocêncio, que integra o Núcleo de Estudos Afro Brasileiros (NEAB) da Universidade de Brasília (UnB) é categórico ao afirmar: “Antes de falar em igualdade racial, temos que pensar em equidade racial, que exige políticas diferenciadas. Se a política de cotas não for suficiente, ainda que diminua o abismo entre brancos e negros, a gente vai ter que ter outras políticas. Não é possível que o país continue, depois de 130 de abolição da escravatura, com essa imensa lacuna entre negros e brancos”.  

Para além da discussão pelo confronto dicotômico (pró vs contra) é necessário ampliar o debate acerca do desempenho acadêmico do estudante cotista e as ações de inclusão e permanência desse sujeito.

Contrariando as previsões estatísticas de que haveria um desnivelamento educacional entre estudantes cotistas e os não-cotistas e com isso uma queda na qualidade do ensino superior, estudos apontam que o desempenho médio do aluno cotista não é inferior ao do aluno não-cotista, sendo algumas vezes, inclusive, superior e qual não foi a surpresa ao analisar que a taxa de evasão escolar entre esses estudantes é menor também entre os estudantes cotistas, mesmo esse aluno tendo vários obstáculos contra si, tais quais: a questão financeira, a dupla jornada daqueles que trabalham e estudam, o transporte, moradia e aqueles vinculados a permanência.

Por permanência entende-se que não basta somente que o processo de inserção (vestibular) seja afetado pelas Cotas, mas também que os espaços acadêmicos ofereçam ações que ultrapassem a questão de ingressão: aulas de reforço, bolsas de auxílio, bolsa alimentação, fornecimento de moradias, o debate sobre a questões étnicos-raciais no espaço universitário.

Com a adoção do Sistema de Cotas os espaços acadêmicos estão cada vez mais plurais resultando assim em lugares com mais possibilidades criativas, em mudanças nas agendas de pesquisa e na produção de conhecimento acadêmico desfocado do olhar europeu/colonizador. Esses espaços estão se tornando cada vez mais descolonizados e com pessoas negras como pesquisadores e produtores de conhecimento e não mais somente como objetos de pesquisa.

130 anos da falsa abolição

O último domingo, 13 de maio de 2018, foi lembrado como a data de 130 anos de abolição da escravatura, quando foi assinada a Lei Áurea.

O que pouca gente sabe é que quando a lei foi assinada – por pressão econômica internacional inglesa (e que, como solução o governo monárquico criou a Lei Eusébio de Queirós, em 1850, que extinguiu definitivamente o tráfico negreiro) e não por benevolência –  a quantidade de pessoas negras mantida escravizadas eram menor do que se apregoava, pois apesar da data ser conhecida como uma marco – na ocasião – as revoltas organizadas por pessoas negras que estavam libertas, já tinham garantido a liberdade de muitas outras.

Em 1871, foi decretada a Lei do Ventre Livre, que estabelecia que todos os filhos de escravizados a partir daquele ano seriam considerados livres. Com as leis de extinção do tráfico negreiro e a abolição gradual através da lei do Ventre Livre, o trabalho cativo estava fadado a acabar.

Isso pra dizer que não. Não foi concessão, não foi canetada de uma pessoa branca salvadora, mas sim luta e várias micro revoluções de um povo que nunca se deixou abater ou deixou de lutar, através da recusa ao trabalho, de rebeliões, fugas em massa, formação de Quilombos e das lutas abolicionistas.

De acordo com o Censo de 1872 a população total de estrangeiros no Brasil era de 382.132, separando os brancos por origem: 125.876 portugueses, 40.056 alemães e 8.222 italianos, entre outras nacionalidades. Os negros eram considerados todos do mesmo grupo: africanos, esses eram 176.057 vivendo no país, porém, divididos apenas entre escravizados:138.358 e alforriados: 37.699.

A política de embranquecimento se faz mais notável nesse período com a chegada dos primeiros grupos de imigrantes europeus, já que em 350 anos de tráfico negreiro, foram trazidos à força, através de sequestro e cárcere, cerca de 4 milhões de africanos e entre os anos de 1870 e 1930 vieram morar no país praticamente 4 milhões de imigrantes europeus.   

O jornalista e escritor negro José do Patrocínio, dedicou sua vida à causa abolicionista, não se limitando a lutar por escrito contra a escravidão, mas realizando conferências públicas, ajudando na fuga de muitas pessoas escravizadas e organizando núcleos abolicionistas, militando ativamente até o triunfo da causa, em 13 de maio de 1888.

O engenheiro negro André Rebouças, se juntou a José do Patrocínio e ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, participando também da Confederação Abolicionista e redigindo os estatutos da Associação Central Emancipadora.

O advogado negro Luís Gama, conseguiu libertar mais de 500 pessoas escravizadas, desenvolvendo intensa atividade abolicionista no jornalismo.

O Brasil, no entanto carrega o fardo histórico de ter sido um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão, perdendo somente para a Mauritânia, que fica no noroeste do Continente Africano e aboliu o sistema escravocrata em 1981.

De acordo com o levantamento feito pelo site slavevoyages.org, entre os séculos XVI e XIX, cerca de 4,8 milhões de escravizados foram trazidos à força para o Brasil e investigadores brasileiros descobriram alguns nomes dados aos navios, que desvelaram a natureza cínica e perversa dos escravocratas. Segundo Daniel Domingues da Silva, um dos historiadores responsáveis, os nomes dos navios eram escolhidos pelos donos dos barcos que “pensavam que estavam ajudando a resgatar a alma dos africanos para o reino de Deus, ou seja, trazendo os escravos de uma terra onde o paganismo imperava para a cristandade”.

O historiador listou oito dos barcos descobertos:

1. Amável Donzela (1788 a 1806)
Travessias realizadas: 11
Escravizados transportados: 3.838
Escravizados mortos durante a viagem: 298

2. Boa Intenção (1798 a 1802)
Travessias realizadas: 02
Escravizados transportados: 845
Escravizados mortos durante a viagem: 76

3. Brinquedo dos Meninos (1800 a 1826)
Travessias realizadas: 11
Escravizados transportados: 3.179
Escravizados mortos durante a viagem: 220

4. Caridade (1799 a 1836)
Travessias realizadas: 20
Escravizados transportados: 6.263
Escravizados mortos durante a viagem: 392

5. Feliz Destino (1818 a 1821)
Travessias realizadas: 03
Escravizados transportados: 1.139
Escravizados mortos durante a viagem: 104

6. Feliz Dias a Pobrezinhos (1882)
Travessias realizadas: 01
Escravizados transportados: 355
Escravizados mortos durante a viagem:120

7. Graciosa Vingativa (1840 a 1845)
Travessias realizadas: 10
Escravizados transportados: 1.257
Escravizados mortos durante a viagem: 125

8. Regeneradora (1823 a 1825)
Travessias realizadas: 07
Escravizados transportados: 1.959
Escravizados mortos durante a viagem: 159

Os impactos de 14 de maio continuam presentes na sociedade brasileira – a contínua desassistência por parte do Estado – pois não foram implementadas medidas de ajustes sociais e econômicos de inserção da população negra, como por exemplo, viabilidade ao acesso a terra e à moradia, políticas de saúde, educação e trabalho.

O que se vive (ainda) hoje é uma reconstrução do racismo estrutural, é a continuidade de uma dívida que tem se mostrado histórica.

É lembrar para não esquecer, mas não celebrar.

Fontes: Palmares.gov.br; Uol educação; slavevoyages.org;.
Ilustração Angola Janga – Marcelo D’Salete.

Edital: A Cidade Que Queremos

O Fundo Baobá em parceria com a Fundação OAK, está lançando o edital:
A Cidade Que Queremos.

A chamada para a apresentação de projetos está direcionada para grupos e organizações Pró Equidade Racial com projetos que visem fomentar e desenvolver cidades mais inclusivas e justas para todas e todos.

O edital é exclusivo para as regiões metropolitanas do Nordeste Brasileiro (Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe) e em especial para a cidade do Recife e região metropolitana (Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Igarassu, Abreu e Lima, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, Goiana, São Lourenço da Mata, Araçoiaba, Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Moreno e Itapissuma).

A chamada tem como objetivo: Apoiar organizações pequenas e médias da sociedade civil (OSCs) afro-brasileiras que desenvolvem e  implementem iniciativas inspiradoras voltadas para a participação cidadã, estimulando discussões e atividades na perspectiva do Direito à Cidade, com intuito de reduzir as práticas do Racismo Estrutural e Institucional.

As Temáticas são: Educação, Meio Ambiente, Segurança, Lazer e Cultura, Trabalho, Transporte, Habitação, Saúde e Serviços.

Para conhecer mais detalhes e submeter o seu projeto, acesse: https://prosas.com.br/editais/3780