“Um povo sem o conhecimento de sua história passada, origem e cultura é como uma árvore sem raízes”. A frase do ativista político jamaicano Marcus Garvey define muito bem o sentimento que tomou conta de um grupo de 10 pessoas da cidade de Porteiras, na região do Cariri cearense, distante 540 km da capital Fortaleza.
Eles se uniram em torno da preservação da história da cidade em que nasceram ou vivem. Para isso, fundiram-se em um núcleo para fomentar a cultura no local. Assim, criaram o grupo Retratores da Memória de Porteiras.
Um retrator de memória pode ser definido como uma pessoa que se dedica a resgatar lembranças que foram esquecidas em algum canto. Dessa forma, essas dez pessoas — incluindo dois quilombolas, duas pessoas com deficiência e quatro integrantes da comunidade LGBTQIAP+ — se definem e atuam para combater o esquecimento que cerca a cidade de 17 mil habitantes.
Carliane Ventura conta histórias e positiva a autoestima preta. Crédito: Nívia Uchõa
No dia 21 de setembro, os Retratores da Memória de Porteiras estavam em festa e, com eles, boa parte da cidade. Comemoravam os 17 anos de sua primeira grande conquista: a fundação da Casa da Memória de Porteiras, onde funciona o Museu Comunitário, e os 10 anos desde que o grupo se transformou em Associação Retratores da Memória de Porteiras.
Essa transformação proporcionou, entre outras coisas, a possibilidade de receberem doações e apoio financeiro, viabilizando assim seus projetos e a preservação cultural.
Um desses apoios veio do Baobá – Fundo para Equidade Racial. Em agosto de 2022, a Associação dos Retratores de Porteiras fez sua inscrição para o edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial. Apresentaram o projeto Educar para Aquilombar, focado nos cinco eixos de trabalho da Associação: Memória e Museologia Social; Educação Patrimonial, Ambiental e Antirracista; Artes e Cidadania; História Regional e Práticas de Leitura; Gênero e Direitos Humanos.
Como resultado de sua aprovação no edital, a organização cearense foi beneficiada com R$ 175 mil que permitiram o avanço em várias frentes. Por exemplo, formações de educação patrimonial quilombola e antirracista para crianças, adolescentes e jovens da comunidade quilombola dos Souza de Porteiras, visando a construção da identidade negra e quilombola, e a valorização da cultura da infância negra.
O trabalho tem por meta também fortalecer a construção da autoestima positiva quilombola, mediante o reconhecimento do patrimônio cultural quilombola. Os recursos também permitiram estimular a recuperação de objetos que colaborem nas ações educativas inclusivas e antirracistas, e que fortaleçam a atuação social dos Retratores da Memória de Porteiras (Remop) em ações afirmativas.
Perpetuando a cultura em Porteiras. Crédito: Lino Fly Kariri
Como parceiro da Associação Retratores da Memória de Porteiras, o Fundo Baobá foi convidado a participar das comemorações de aniversário do Espaço Aberto à Cultura, o Espacult, onde está inserida a Casa da Memória de Porteiras. A coordenadora de Projetos do Baobá, Taina Medeiros, Cientista Social graduada pela Universidade Federal de São Paulo, e a assistente de Programas e Projetos, Edmara Pereira, também Cientista Social graduada pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, estiveram em Porteiras e participaram das comemorações.
“Foi importante estar lá para conhecer, por exemplo, a Casa da Memória, que é um espaço dedicado à preservação de vários itens ligados à história e às pessoas que tiveram histórias inusitadas e viraram personagens ilustres da cidade”, afirmou Taina Medeiros.
Para Edmara Pereira, a visita ao sertão cearense e o trabalho de preservação cultural feito pela Associação dos Retratores da Memória de Porteiras trouxe reminiscências de sua infância e adolescência. Acontece que os objetos que compõem a Casa da Memória vieram de doação dos moradores. O que fez Edmara ter recordações foi uma plantadeira, também conhecida por matraca.
“Era o objeto que meu pai usava para plantar feijão. Essa lembrança trouxe à tona imagens da minha infância e adolescência no interior da Bahia, revelando como a memória se transforma em uma ferramenta educativa essencial para preservação de histórias, tradições e valores que definem uma cultura, contribuindo assim para a valorização da identidade negra”, disse.
O mesmo efeito ocorrido com Edmara é o que o grupo formador da Associação dos Retratores da Memória de Porteiras quer que ocorra com as crianças, adolescentes e jovens negros da cidade para que valorizem e preservem a história do lugar em que nasceram ou vivem.
Edmara Pereira e Tainá Medeiros, representantes do Baobá no Porteiras (CE) Crédito: Lino Fly Kariri
“Ao longo dos nossos 20 anos de atuação, estabelecemos muitas parcerias para realização das nossas atividades e o projeto Educar para Aquilombar, do Edital Educação e Identidades Negras foi fundamental para que pudéssemos desenvolver, junto à comunidade Quilombola dos Souza, formações dos jovens e crianças, ampliando a participação de jovens negros nas políticas culturais, além do fortalecimento institucional da Associação REMOP. Criamos a partir desse projeto o Núcleo IDA (Núcleo de Inclusão, Diversidade e Ações Afirmativas) com o intuito de fortalecer as lideranças juvenis e a construção das identidades negra e quilombola. Agora após a finalização do projeto, pretendemos dar continuidade ao funcionamento no Núcleo, promovendo ações educativas e formativas e a continuidade do projeto Brincando no Quilombo”, detalhou Lucilene Inocência da Silva, empresária que ocupa a posição de tesoureira na Associação Retratores da Memória de Porteiras.
A cultura do Marabaixo é uma das mais autênticas expressões culturais do estado do Amapá, vinculada à história de resistência e preservação da identidade negra na região. Ela tem raízes profundas no período colonial e na luta dos povos afrodescendentes pela manutenção de suas tradições e costumes, sobretudo nos territórios quilombolas.
O Marabaixo envolve música, dança, cânticos e rituais que celebram a ancestralidade e a cultura africana, sendo praticado principalmente durante festividades populares em comunidades negras do estado.
Dentro desse contexto cultural e de resistência, o Movimento Nação Marabaixeirafoi fundado em 2016 como um coletivo de pessoas de diversas áreas profissionais, todas unidas pelo mesmo propósito: fortalecer a identidade negra, empoderar lideranças e preservar a cultura ancestral nos territórios pretos do Amapá.
O movimento tem como foco principal proporcionar o conhecimento histórico-cultural do Marabaixo às comunidades escolares, utilizando essa tradição como ferramenta pedagógica para combater o racismo e valorizar a diversidade cultural amapaense.
Um dos projetos mais significativos do movimento nesse sentido é o Projeto Cantando Marabaixo nas Escolas. O projeto adota uma abordagem lúdica e pedagógica para divulgar a cultura do Marabaixo sob a ótica de uma educação antirracista e anticolonialista, disseminando a manifestação tanto dentro quanto fora do ambiente escolar.
Ao promover a integração entre os saberes populares e formais, o movimento busca tornar o Marabaixo uma prática comum no cotidiano escolar, criando um espaço para a valorização da cultura negra e o combate às desigualdades sociais e raciais.
O crescimento institucional do Movimento Nação Marabaixeira foi impulsionado pelo edital Educação e Identidades Negras, que ampliou o alcance do projeto para além do esperado inicialmente. Com essa oportunidade, o movimento conseguiu beneficiar um número maior de pessoas, consolidando-se como uma referência na promoção da cultura afro-amapaense e na luta por uma educação mais inclusiva.
Representantes da Nação Marabaixeira, dançarinos do Marabaixo e Equipe Baobá
“Poder contar com o apoio educacional, organizacional e financeiro de instituições como o Baobá proporciona a várias organizações desenvolver a sua autonomia, e poder se estruturar de maneira mais profissional. Esse apoio foi o pontapé inicial para nosso fortalecimento enquanto organização. Não podemos deixar de evidenciar o aprendizado através de vídeos e orientações dos consultores. É interessante ainda frisar que conseguimos ter capacidade para alcançar mais escolas, educandos, municípios, públicos diferentes e, assim, salvaguardar e propagar nossa manifestação cultural”, disse a professora Lizia Celso, uma das gestoras do Movimento Nação Marabaixeira.
Vale destacar que, apesar de suas raízes africanas, a cultura do Marabaixo não tem ligação direta com religiões de matrizes africanas, o que permitiu que muitos praticantes de denominações religiosas, como os pentecostais, se apropriassem dessa manifestação cultural.
Baobá no Amapá
Fazer a conexão com as necessidades do outro, e entender as principais mensagens levou o Baobá – Fundo para Equidade Racial ao estado do Amapá no mês de outubro para ver de perto as realizações do Projeto Marabaixo nas Escolas, promovido pelo Movimento Nação Marabaixeira.
O Diretor Executivo do Baobá, Giovanni Harvey, a Gerente de Comunicação e Mobilização de Recursos, Janaina Barbosa, a Gerente de Articulação Social, Caroline Almeida, e a Assistente de Projetos, Camila Santos estiveram no Amapá. Além da aproximação com o Movimento Nação Marabaixeira, também realizaram encontros e conversas com representantes de movimentos negros amapaenses.
A importância do Baobá ter ido a campo – estratégia que compõe o plano de ações do Fundo – é definida por Rosivaldo da Silva Gomes, mais conhecido por Dinho Paciência, Coordenador de Projetos Pedagógicos e Elaboração de Projetos do Movimento Nação Marabaixeira: “A importância da vinda do Baobá aqui, junto a nós, é a ratificação do nosso fazer, enquanto movimento preto, pela visibilidade, protagonismo e formação de lideranças da nossa gente. Pelo que o Fundo Baobá é, pela representatividade que tem, ele é o nosso selo de validade, de qualidade e de abertura de portas. A partir dessa vinda, as pessoas visualizaram aquilo que a gente faz, porque nós tivemos o Baobá aqui para confirmar isso”, afirmou Dinho.
Para o idealizador e fundador do Nação Marabaixeira, João Carlos do Rosario Souza, o Carlos Piru, o trabalho feito pelo Baobá contribui para que a cultura amapaense, mais especificamente, a Marabaixeira, tenha alcançado outros pontos do país.
“O Estado do Amapá sempre esteve isolado do resto do Brasil, em todos os aspectos. Com o advento das redes sociais isso acabou, pois podemos interagir com o mundo. Foi assim que conhecemos o Baobá e o Baobá nos conheceu. Recebê-los aqui foi histórico, desafiador e gratificante. Nos deu a certeza de que estamos no caminho certo e que podemos conduzir nossa própria história a partir dos nossos projetos. O projeto Cantando Marabaixo nas Escolas começou em 2017 e desde então nossa luta é bastante intensa na busca de apoio em todos os sentidos. Porém, nunca fomos tratados dessa forma, mesmo o projeto alcançando essa expressão nacional e alcançando o Amapá adentro. Portanto, gratidão ao Fundo Baobá”, concluiu.
Criada por três mulheres negras engenheiras, a Oficina de Inovação e Ancestralidade (OIA) lançou dia 02/08, a plataforma digital Orumverso, que visa a troca de saberes periféricos, a partir de uma ótica ancestral-futurista potencializada pelo uso da tecnologia. A plataforma é uma oportunidade para fazer a conexão em rede para co-criar futuros possíveis, rompendo barreiras territoriais e linguísticas, além de oferecer aos empreendedores negros ferramentas poderosas para superar barreiras históricas e acelerar o crescimento de seus negócios.
Na prática, na plataforma digital é possível se conectar com projetos e negócios de pessoas negras através de e-commerce e até de ferramentas de gestão financeira e marketing digital, por exemplo. Funciona como uma vitrine digital para que empreendedores negros possam exibir seus produtos e serviços, em um ambiente que favorece o movimento de colocar a mão na massa e criar coletivamente projetos, ferramentas e soluções tecnológicas.
A ferramenta também se destaca pela inovação tecnológica, impacto social e potencial de público, pois proporciona a oportunidade de atingir um vasto mercado no qual o empreendedorismo negro está em ascensão e em busca por inovação e acessos. É ainda uma maneira de ampliar a discussão e o desenvolvimento de ciências e tecnologia que levem em conta características socioculturais e periféricas que, muitas vezes, distanciam a população negra de fazer e produzir tecnologia.
A Oficina de Inovação e Ancestralidade surgiu em 2017, nos corredores da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde as três engenheiras se conheceram, formando um coletivo que questionava e movimentava o meio acadêmico, debatendo a temática de tecnologias sociais e ancestrais, além de estimular na periferia discussões e produções afrofuturísticas.
Thalita Lopes – Diretora de comunidade da OIA. Créditos: Laís Reverte
O projeto teve apoio do Baobá – Fundo para Equidade Racial que acreditou ser possível a construção da OIA e do projeto Orumverso. Através do Edital Educação e Identidades Negras, lançado em 2022 e com o apoio da Imaginable Futures e da Fundação Lemann, o projeto se apresentou como um esforço conjunto para o enfrentamento ao racismo e a consolidação de práticas de promoção da equidade racial no setor educação
Para Karina Karin, diretora de tecnologia da OIA Hub, a Orumverso é uma jornada direcionada e intencional, assim como foram os sete primeiros anos da OIA. Para ela, todo ser humano deve se entender como um ser tecnológico, um ser que produzia tecnologia em um passado escravagista marcado por diversos apagamentos. É necessário que se pense em erradicar essa distância e que se produzam novas tecnologias e saberes a partir das experiências ancestrais e da subjetividade sociocultural da população periférica. Para além disso, Karina Karin, uma das desenvolvedoras, foi selecionada para representar o Brasil no Global Peace Summit, em Nova York, entre os dias 09 e 12 de dezembro de 2024, onde poderá discutir o uso da inteligência artificial e suas aplicações como uma das ferramentas para promover a paz no mundo.
A aplicação de tecnologias sociais pelo Orumverso pode amplificar esse movimento, oferecendo aos empreendedores negros as ferramentas necessárias para prosperar em um mercado globalizado, pois não só apoia o desenvolvimento de negócios negros, mas também serve como um exemplo de como a tecnologia pode ser utilizada para promover a igualdade e a inclusão social.
Para saber mais sobre a plataforma, acesse: OrumVerso.
Nina Fola é militante do movimento negro, socióloga, produtora cultural e doutoranda em sociologia. Atualmente é a liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké – Pensamento de mulheres negras, um grupo de formação que apoia, estuda e fomenta a produção de conhecimento das mulheres negras desde 2016. O grupo surgiu a partir da iniciativa de três mulheres negras acadêmicas que identificaram que as necessidades da população negra e feminina do Rio Grande do Sul não eram consideradas.
Nina Fola, liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké
A atuação do Coletivo, um dos selecionados no edital Educação e Identidades Negras, do Baobá – Fundo para Equidade Racial, vem se destacando com maior incidência e suprindo cada vez mais as necessidades emergenciais da população negra e feminina após um dos maiores eventos climáticos extremos no Brasil, ocorrido em maio no RS. Elas vêm enfatizando o desfavorecimento em termos salariais, profissionais e acadêmicos da população negra que representa 21,19% dos habitantes do estado segundo o IBGE.
Anteriormente a uma das maiores catástrofes climáticas da história do estado do RS, o coletivo atuava principalmente na formação de mulheres negras a partir de leituras e discussões de produções escritas e artísticas de autoria das mesmas. Atinúké, nome que significa, em Iorubá, “aquela que merece carinho desde o ventre”, faz um resgate ancestral da potencial intensidade do que é o amor, o carinho e a força transmitida no ventre de uma mulher negra. São forças oriundas da resistência ancestral que as fazem enfrentar desafios de uma sociedade patriarcal, racista e misógina.
No levantamento realizado pelo Observatório das Metrópoles de Porto Alegre, pode-se visualizar que um contingente expressivo da população pobre e preta foi afetado durante as fortes chuvas do mês de maio em bairros populosos da cidade, como o Sarandi, na região Norte, nas ilhas e na região metropolitana, a exemplo de Canoas, Cachoeirinha, Alvorada, Gravataí, Sapucaia do Sul e São Leopoldo. A água tomou conta também de praticamente toda a cidade de Eldorado do Sul e Guaíba.
Nina explica que nos bairros mais afetados, onde o estado não opera prontamente nem os torna visíveis, são as comunidades de quilombo e terreiros que atuam para identificar e amenizar os impactos oriundos das chuvas que impossibilitam a população negra de viver com dignidade e respeito. São também os quilombos e os terreiros que estão na linha de frente acolhendo, monitorando e fornecendo alimentos básicos e moradia para parte dessa população, pois alguns têm medo de ir até os abrigos e serem vítimas de violências raciais e de gênero nesses locais.
Ao relembrar diversos desafios desse cotidiano, Nina afirma que as necessidades que vieram após o evento climático extremo são muito particulares e ao mesmo tempo muito similares às da pandemia de Covid-19, em 2020. Ela relata que a experiência que obteve participando do edital Educação e Identidades Negras a fez conduzir com maestria todas as adversidades impostas pelas fortes chuvas. Para ela, foi de extrema importância vislumbrar o Fundo Baobá, não só como financiador do recurso recebido, mas também pela base sólida de aprendizado e conhecimento que adquiriu com as várias palestras, assessorias e assistências necessárias nesse processo.
Coletivo Atinúké
Nina constatou que as dificuldades das mulheres negras e, consequentemente, da população negra no RS, ficaram muito mais evidentes e são desproporcionais em relação ao restante da população. Os desafios encontrados por esse grupo são maiores, especialmente as mulheres negras, que sofrem com a falta de acesso a abrigos seguros, cuidados médicos, medicamentos, alimentos adequados e a reestruturação de suas vidas, empregos e renda futuros, além de acesso às políticas públicas.
Diante desses fatos, ela questiona a dificuldade em acessar e identificar as políticas públicas necessárias para enfrentar esse momento caótico. Para suprir as necessidades básicas, é crucial ter dados sobre essa parte da população. Atualmente, o possível e viável é atuar nas questões mais urgentes, como fornecer alimentação e moradia para garantir a sobrevivência dessas pessoas.
“Se é interesse político atender a esse público, é fundamental que sejam implementadas medidas afirmativas de urgência, que mobilizem a sociedade civil, mas também a imediata criação de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial e de gênero, visando a garantia de direitos fundamentais, financiamentos, oportunidades de emprego e renda, assim como justiça social para as mulheres negras no Rio Grande do Sul”, afirma Nina. Para ela, é essencial uma ação emergencial direcionada a estas mulheres que, ela acredita, vai ter um reflexo positivo para as pessoas. Quando atuam direcionadas, as mulheres negras modificam um contexto social e não somente uma mulher ou uma família.
“Se é interesse político atender a esse público, é fundamental que sejam implementadas medidas afirmativas de urgência, que mobilizem a sociedade civil, mas também a imediata criação de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial e de gênero, visando a garantia de direitos fundamentais, financiamentos, oportunidades de emprego e renda, assim como justiça social para as mulheres negras no Rio Grande do Sul”, afirma Nina. Para ela, é essencial uma ação emergencial direcionada a estas mulheres que, ela acredita, vai ter um reflexo positivo para as pessoas. Quando atuam direcionadas, as mulheres negras modificam um contexto social e não somente uma mulher ou uma família.
O ano de 2023 foi marcante na história do Baobá – Fundo para Equidade Racial. Ao longo dos últimos 12 meses, lançamos editais, firmamos parcerias e aderimos a compromissos cruciais para a equidade racial.
Logo nos primeiros meses de 2023, o Baobá divulgou o resultado do Edital Educação e Tecnologia, que teve como objetivo apoiar organizações e empresas negras que atuassem no desenvolvimento ou ampliação das capacidades técnicas das pessoas negras na área de tecnologia. Com parceria do MOVER – Movimento pela Equidade Racial, foram investidos e destinados R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) para 16 iniciativas negras de educação em tecnologia. Ainda nos primeiros meses, lançamos uma aliança entre o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental, em que foi possível reunir narrativas sobre os primeiros projetos apoiados pelo grupo em 19 estados brasileiros. O objetivo principal foi apresentar resultados da estratégia inédita no campo da filantropia para justiça social. Os resultados podem ser conferidos no site (aliancaentrefundos.org.br).
Em março, um dos pontos altos do ano: o primeiro encontro de estudantes e mentores do Edital Já É, que visa favorecer a entrada e permanência de adolescentes e jovens no ensino superior. Os estudantes visitaram a sede do MetLife Foundation, apoiadora do edital,e puderam se conhecer pessoalmente, visto que todos os encontros da mentoria realizada pela MetLife ocorreram virtualmente. Conversas sobre ingresso no mercado de trabalho, habilidades socioemocionais e comportamento foram valorosas para os estudantes.
Outro encontro que vale mencionar foi a primeira reunião presencial com os participantes do Edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. O encontro ocorreu em Recife e foi uma excelente oportunidade de conhecer os projetos de perto e apreciar as brilhantes iniciativas de enfrentamento ao racismo e valorização da identidade e cultura negra no campo da educação.
Nos meses de abril, maio e junho o Baobá participou do 12º Congresso GIFE – “Desafiando estruturas de desigualdades”, do Fórum Interconselhos para construção do Plano Plurianual Participativo (PPA) e do evento que reuniu B3 Social e Pacto de Promoção da Equidade Racial para discutirmos sobre Investimento Social Privado. Ambos foram uma ótima oportunidade para reconhecer as raízes da desigualdade e intervir em favor de oportunidades justas, para que o desenvolvimento seja pleno em sua forma individual, social, econômica, cultural, ambiental e política, como ressalta a diretora de Programas do Baobá, Fernanda Lopes.
Outro ponto alto desse ano foi o fortalecimento de uma instituição centenária que nos ensina, através do seu legado, como fazer filantropia negra no Brasil: a Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), importante instituição que esteve à frente das principais conquistas da população negra brasileira, recebeu uma doação de R$ 500 mil do Baobá – Fundo para Equidade Racial. “Esta é a primeira vez que o Baobá decide, politicamente, sem edital, fazer uma doação e faz isso com dinheiro próprio. Dinheiro gerado pelas operações do Baobá, que nos propiciam fazer uma doação expressiva”, relata Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo.
Em 2023 o Baobá aderiu ao Compromisso Internacional da Filantropia sobre as Mudanças Climáticas (International Philanthropy Commitment on Climate Change), movimento global liderado pela WINGS, formado por organizações filantrópicas dedicadas a discutir soluções para os desafios climáticos que a humanidade enfrenta, mas que atinge de maneira desproporcional as populações mais vulneráveis. Desta forma, o Baobá honra seu objetivo por uma vida com dignidade e por um desenvolvimento econômico justo para a comunidade negra.
Juntamente com a Rede Comuá, o Baobá participou também do movimento dedicado a refletir sobre os contextos e práticas das filantropias comunitárias e de justiça socioambiental, o Mês da Filantropia Que Transforma, na qual foi realizada a live “Transformando com Propósito: Medindo o Impacto na Filantropia Negra”, com o objetivo de contextualizar as diferentes práticas da filantropia, discutir como a medição de impacto fortalece iniciativas sociais, além de compartilhar as experiências vividas e alcançadas pelo Baobá.
O último trimestre do ano coincidiu com a finalização do projeto Saúde Mental Quilombola; Direitos, Resistência e Resiliência com a exibição de um minidocumentário em Oeiras do Pará, com a participação da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Coordenação Estadual das Associações de Comunidades Remanescentes de Quilombo (Malungu/Estado do Pará) e a Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto à Baixinha (ARQIB). O audiovisual idealizado pelo Baobá e executado pela Negritar Produções traz reflexões dos quilombolas no que diz respeito a um resgate de autoconhecimento, empoderamento e identidade racial.
A finalização do Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, em outubro de 2023, também proporcionou ao Fundo Baobá a premiação com o Selo Direitos Humanos e Diversidade, da Prefeitura de São Paulo. O selo é um reconhecimento anual a iniciativas de empresas privadas, órgãos públicos, organizações da sociedade civil e coletivos de todos os portes que promovam e defendam os direitos humanos e a diversidade na cidade de São Paulo. Para Tainá Medeiros, coordenadora de Programas, a premiação não só demonstra a necessidade de promover ações semelhantes no campo da filantropia, mas também evidencia a carência e necessidade de ampliação de políticas públicas que garantam a interrupção dessas violações de direitos. Além da premiação, o Baobá finda o ciclo do Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça com um minidocumentário com depoimentos de representantes de algumas das organizações beneficiadas.
O ano também foi marcado pelo fortalecimento da parceria entre o Baobá e o Mover, que juntos lançaram o Edital Carreiras em Movimento. Ele visa ampliar o acesso de pessoas negras ao mercado de trabalho, através de atividades voltadas para o desenvolvimento ou ampliação de habilidades socioemocionais e comportamentais. Os selecionados foram prioritariamente pessoas negras, com 18 anos ou mais, ensino superior concluído até 2019, e que atuassem ou desejassem atuar nos setores privado, público ou terceiro setor. Além de estarem no início de suas carreiras profissionais ou buscando mobilidade na carreira, incluindo transição ou ascensão.
Olhar o passado para direcionar o nosso futuro é uma das ferramentas mais utilizadas pelo Baobá no decorrer desses 12 anos de existência. E é assim que chegaremos em 2024, dispostos a observar os aprendizados e experiências do que foi esse 2023.
Entre os dias 24 e 26 de agosto, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, proporcionou um momento valioso para os projetos apoiados no Edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial, na cidade de Recife. Nesses dias aconteceu o primeiro evento presencial com as instituições selecionadas, que teve como objetivo proporcionar um espaço único para compartilhar experiências, aprendizados, avanços e os próximos desafios de cada projeto.
Ao todo foram 12 organizações, grupos e coletivos selecionados, de oito estados brasileiros mais o Distrito Federal. Cada um recebeu R$ 175.000,00 de apoio financeiro para a implementação de projetos de enfrentamento ao racismo e valorização da identidade e cultura negra no campo da educação, além de aumentar a representação de pessoas negras dentro da esfera educacional formal e não formal. O edital é uma parceria com a Imaginable Futures e Fundação Lemann e integra o Programa de Educação e Equidade Racial do Fundo Baobá.
O Edital Educação e Identidades Negras reforça o compromisso do Fundo Baobá com a educação antirracista do país e a cobrança no cumprimento efetivo da lei 10.639/03, que determina o ensino da história e cultura afro-brasileira na educação básica. Ao todo são 20 anos da lei 10.639, os desafios são inúmeros e os avanços escassos. Muitas instituições não cumprem a designação da lei por falta de formação, compromisso político ou até mesmo desconhecimento da obrigatoriedade. A implementação da lei é uma oportunidade ímpar para ampliar o debate sobre reconhecimento, justiça, desenvolvimento, memória e transformação social. A ausência de monitoramento e avaliação por parte das autoridades estaduais e municipais de educação, reitera o descompromisso com o enfrentamento ao racismo e com o exercício dos direitos da população negra, afirma a diretora de programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes.
Durante o encontro, as instituições tiveram a oportunidade de se conhecer melhor através de dinâmicas simples, mas que carregavam em si uma memória materializada em palavras e objetos que representavam a história e o legado de cada uma das organizações. Essas trocas fomentaram um olhar mais atento sobre os desafios vividos nas unidades escolares formais, sobre a necessidade de aprimoramento e/ou implementação de novas propostas pedagógicas, capazes de fazer dialogar o formal e o informal na educação. Segundo Dinho Paciência, representante do Movimento Nação Marabaixeira, o Baobá é muito mais que uma instituição financeira: é um mecanismo de antecipação de propostas que só aconteceriam a longo prazo.
Para Fernanda Lopes, diretora de Programa do Baobá, “Transformar as manifestações culturais negras, as práticas tradicionais de ensino e aprendizagem, em algo que o sistema formal reconheça e incorpore, é uma das maneiras de contribuir para a construção de uma sociedade democrática”. Para ela, o Edital Educação e Identidades Negras é um marco, pois ele reitera a necessidade de produzir e divulgar conhecimentos e práticas negras populares, tradicionais e eruditas, ao mesmo tempo em que promove novas atitudes e valores, pautados nos direitos humanos e na pluralidade étnico-racial, que devem permear toda e qualquer ação educativa. Além disso, Fernanda destaca o fato de as instituições donatárias reconhecerem que a atuação em rede será um grande diferencial, reforçando o que, para o Fundo Baobá, é um indicador de sucesso, as parcerias estabelecidas entre donatários como estratégia de enfrentamento ao racismo, resistência e resiliência em todas as áreas de atuação.
Segundo o Censo da Educação Superior de 2019, mulheres ocupam menos de 15% das cadeiras universitárias em todas as áreas pesquisadas. Dos jogos digitais às engenharias, os homens sempre representam mais de 85% entre o total de estudantes. Além das disparidades no que diz respeito ao acesso nas universidades, a visão ainda reforça a hegemonia colonial de compreender o mundo. As mulheres participam em praticamente todas as grandes áreas do conhecimento, porém são, em sua maioria, nas áreas ligadas ao cuidado e minoria nas áreas de ciências.
No artigo “A relação entre as discussões de gênero e o ensino de ciências: a criação de um grupo de pesquisa no ensino médio”, a autora Paloma Santos afirma que não se discute a mulher em sala de aula, não se dá visibilidade às questões pertencentes ao feminino, nem a influência e participação de mulheres nas ciências, na sociedade, nas artes, nas religiões e na vida. A química, a física e a matemática são reafirmadas, principalmente pela prática dos educadores, como essencialmente masculinas.
Para mudar essa situação, foi criado o Projeto Investiga Menina!, do Coletivo Negro(a) Tia Ciata. Ele surgiu dentro da UFG – Universidade Federal de Goiás em 2009 a partir de uma demanda social para inserir mais meninas negras, sobretudo periféricas, dentro das carreiras de Ciências, Exatas e Tecnologias. Seu objetivo principal é desenvolver propostas pedagógicas buscando estabelecer o diálogo entre o corpo feminino negro e o conhecimento químico, de modo a contemplar o Ensino de Ciências, Exatas e Tecnologias a partir de uma matriz cultural não eurocêntrica, pois ainda há uma norma colonizadora, branca e masculina nas produções científicas.
O projeto enfatiza a urgência de cultura africana e afro-brasileira nos ensinos de Ciências, Exatas e Tecnologia, pois acreditam que quanto mais diverso e plural, elas conseguem aumentar o número de modelos de produção de ciências e respostas que podem dar para a sociedade brasileira. Por esse motivo, o Projeto Investiga Menina! foi um dos contemplados no Edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que faz parte do Programa de Educação e Equidade Racial do Fundo Baobá, apoiado pelas instituições Imaginable Futures e Fundação Lemann. A intenção principal do edital é a promoção ao enfrentamento ao racismo no campo da educação, a valorização da identidade e cultura negra no segmento educacional, além do fortalecimento das lideranças e o aumento da representação de pessoas negras dentro da esfera educacional.
A instituição selecionada recebeu um aporte de R$175 mil, e segundo Anna Benite, coordenadora do Projeto Investiga Menina!, foi uma parceria bastante significativa, pois deu a possibilidade das atividades serem executadas, além de poder ter vivenciado um diálogo franco e aberto com o Fundo Baobá.
“Transformar esse modelo significa atuar diretamente no investimento dos currículos. Se a gente vê dentro dos modelos de produção, na própria difusão do conhecimento científico, a gente vai estar investindo em novas janelas de futuro.” afirma Anna Benite.
O projeto Investiga Menina! vem desenvolvendo ações no decorrer de 2023 com o aporte recebido do Fundo Baobá e segue proporcionando novos olhares no que contempla o ensino de química brasileiro. A profa. Dra. Simone Maria de Moraes, que foi estudante de escola pública de periferia, afirma que vem conseguindo desenvolver novas práticas em suas aulas de matemática abordando os jogos africanos e outros elementos da cultura africana. Dessa maneira é possível transmitir a herança ancestral dentro da sala de aula e o fortalecimento da utilização da Lei 10.639/03, que estabelece o ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio.
Ainda este ano, no mês de setembro, o Projeto Investiga Menina! realizará o III Colóquio Ensino de Ciências para as relações Étnico-raciais: Políticas de Ações Afirmativas. A coordenadora Anna Bennite afirma que essa também será uma das consolidações sólidas para a continuidade e crescimento do projeto. Ela acredita que, uma vez que semeamos na Educação Básica, teremos um futuro melhor de pais com o olhar de cientistas negras.
Organizações apoiadas pelo edital Educação e Identidades Negras promovem ações para impulsionar a equidade racial na educação
Por Wagner Prado
No início de dezembro de 2022, o Fundo Baobá para Equidade Racial divulgou a lista de organizações selecionadas para serem apoiadas pelo edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial. A iniciativa, estabelecida em parceria com a Imaginable Futures e a Fundação Lemann, aportou R$ 2,5 milhões para incentivo financeiro a 12 organizações de oito estados brasileiros mais o Distrito Federal. O objetivo: enfrentar o racismo na educação, promovendo políticas, ações e programas que passem pelas esferas governamentais e não governamentais; valorizando as culturas e identidades negras e fazendo crescer o número de negres, negros e negras na educação formal e não formal. Cada uma das organizações está recebendo R$ 175 mil para o desenvolvimento de seus projetos, que terão 18 meses para serem implantados.
Na busca pelo objetivo a ser alcançado, o que as organizações almejam é que ocorra o cumprimeto das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 (que tornam obrigatório o ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira no currículo escolar); que a perspectiva racial seja introduzida dentro do sistema socioeducativo; que ocorra o incremento do número de mulheres negras em cursos de pós-graduação; que ocorra o incremento do número de pessoas negras na docência universitária; maior engajamento e fortalecimento de lideranças juvenis negras com a temática educacional; uso ampliado da tecnologia em territórios periféricos e comunidades tradicionais como forma de combate ao racismo.
Abaixo, algumas das organizações selecionadas compartilham suas experiências sobre os benefícios que essa jornada de aprendizado, desafios e soluções tem trazido para elas.
Como ser contemplado com o aporte financeiro de R$175.000,00 potencializa a atuação da sua instituição?
Dario Junior (Afoxé Ómi Nile Oginja): Ser contemplados com esse valor é termos a oportunidade de realizar a nossa missão, dentro da visão de mundo de um coletivo negro, e isso nos dá tranquilidade.
Dario Junior – Diretor presidente do Afoxé Ómi Nile Oginja
Quais são os investimentos que vocês pretendem fazer na organização e nas suas lideranças para fortalecer as capacidades institucionais?
Igo Ribeiro (Anpsinep – Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadores): Os investimentos serão voltados para atividade presencial de imersão institucional, na qual serão realizadas avaliações de processos, revisão do planejamento estratégico e da teoria de mudança. A imersão institucional nos dará pistas dos novos desafios a serem enfrentados.
Igo Ribeiro, Coordenador geral da Anpsinep
Vocês já haviam recebido recursos para este fim?
Irailda Leandro de Carvalho (Quilombolas do Mundo Novo): Não. Nunca conseguimos antes, apesar de termos tentado. Esta é a primeira vez que aprovamos um projeto em edital. As desigualdades entre os cidadãos brasileiros têm cara e cor. Em uma fileira nós lutamos por política pública que nos atenda com dignidade. Pois o Estado deveria colocar, igualitariamente, em seu guarda-chuva, educação, moradia, acesso à terra, assistência, saúde e trabalho para todos, como diz a Constituição dita “cidadã” de 1988. Como retrocedemos nesse processo de conquistas visivelmente, nesses últimos anos corremos atrás de todas as possibilidades que surgem, para driblar o sistema e acessar esses recursos para investir no desenvolvimento das nossas comunidades.
Qual a importância de contar com esse tipo de apoio?
Nina Fola (Coletivo Atinuké): A importância é de ser incentivada e fazer com que a gente acredite ainda mais na nossa proposta. Quando a gente passa um edital desses, é uma malha fina. Tantas outras organizações, algumas muito experientes, e a gente é selecionado, a gente acredita que o nosso projeto faz sentido para outras pessoas. Então, é uma importância que nos fortalece de dentro para fora.
Nina Fola – Coletivo Atinuke
Quais são as mudanças esperadas com a realização do projeto, nas pessoas, no território, nas comunidades onde vocês irão realizar as atividades?
Lizia Celso (Movimento Nação Marabixeira): Através do desenvolvimento das atividades espera-se que o Movimento Nação Marabaixeira consiga alcançar mais comunidades e pessoas, para que estas conheçam e se reconheçam na cultura do Marabaixo na prática, através da realização de palestras, no movimentar da dança, no aprendizado da musicalidade e do ritmo.
Como tem sido a experiência dos integrantes da coordenação com esta fase de preparação para o início do projeto?
Almerinda Cunha Oliveira (Mulheres Negras do Acre): as experiências estão sendo boas, mas muito trabalhosas. por mais que eu seja da educação, do fórum, do movimento negro e sindicalista, há muitos anos, estou com dificuldade de colocar as ideias na planilha, nas propostas, para que os que vão nos financiar entendam quais são nossas ideias. Foi dentro dessa assessoria e formação do Baobá que percebemos que nós precisamos contratar uma assessoria para elaboração do planejamento estratégico. Acho que essa formação do Baobá tem sido muito interessante e muito importante. Quando terminarmos esse projeto, seremos outras pessoas.
Almerinda Cunha Oliveira, coordenadora geral da Associação Mulheres Negras do Acre
Começar um novo ano é sempre um momento de relembrar o que foi feito no ano que se passou e desenhar as perspectivas do que está por vir e, dentro de uma organização como o Fundo Baobá para Equidade Racial, isso não poderia ser diferente.
A missão do Baobá de mitigar os impactos do racismo, ampliando oportunidades para o desenvolvimento da população negra, impõe à instituição uma atuação diversa, que vai do apoio a jovens estudantes para o acesso e permanência em universidades e organizações quilombolas em defesa de terra, direitos, renda, saúde e desenvolvimento sustentável. Apoio a organizações, grupos, coletivos, movimentos que atuam no enfrentamento ao racismo religioso e às injustiças raciais no sistema criminal até as pessoas negras que empreendem. Compreender como, por meio de diferentes editais, o Fundo Baobá contribui para promover mudanças individuais e coletivas no ano que se findou, influenciando o presente e o futuro, é o objetivo desta matéria.
Somos a Dona Terra, produzimos alimentos fermentados com uso de técnicas ancestrais para enriquecimento nutricional e conservação dos alimentos, como a kombucha, requeijão vegetal fermentado, mel e melitos, iogurtes naturais, biomassa de macaxeira.
Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas – Paulista/PE
MaMê surgiu em 2017, da necessidade de obter uma renda e participar da educação de meus filhos de perto. Começamos eu e Gabriel, meu filho mais velho, vendendo Brownies e bolos, depois seguimos acompanhando o calendário das festas e participando de feiras e eventos na região metropolitana do Recife. Atualmente a produção e administração da empresa é toda feita por mim. Confeccionamos itens da confeitaria tradicional pernambucana, entre outros produtos doces e salgados sob encomenda ou personalizados para venda em feiras e eventos.
Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte – Olinda/PE
Trata-se de uma cafeteria que tem como proposta trazer um cardápio de comida afetiva, café especial e atendimento humanizado. Costumo dizer que a cafeteria Xêro Café é um lugar de carinho e afeto.
Lucivânia (tia Joana) – Fundadora do Acarajé da Tia Joana – Recife/PE
O Acarajé da Tia Joana é uma empresa familiar, localizada no bairro da Madalena no Recife. Ele foi fundado há mais de 20 anos pela minha mãe Lucivânia (mais conhecida como tia Joana), na praça da Várzea. Força inspiradora para que eu conquistasse espaços que antes eu achava que não poderia. Mulher negra, recém separada e com dois filhos para criar. Após uns 4 anos, ela recebeu um convite para se mudar para o bairro da Madalena, onde trabalhou mais de 15 anos sozinha. Em 2018, perto de concluir a graduação em Engenharia de Produção, decidi aplicar meus conhecimentos para continuar o legado de minha mãe.
Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados – São Lourenço da Mata/PE
O meu projeto é o Capibaribe Doces e Salgados. Começou com a venda de lanches na rua, mas logo as solicitações de encomendas passaram a ser feitas, então a partir desse desejo dos meus clientes, eu fui me aprofundando e estudando para oferecer o serviço e atualmente trabalho inclusive com serviços de buffet.
A ideia do Projeto A Casinha do Licuri surgiu nas atividades de Cartografia Social realizada na comunidade. O projeto foi escrito com objetivo de valorizar o trabalho das mulheres quilombolas, aumentar a renda e gerar autonomia através da produção de derivados do licuri. Durante o ano de 2022, houve oficinas sobre a potencialidade e a viabilidade econômica dos produtos e cozinha experimental. Foi realizado um workshop de empoderamento feminino e, em parceria com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), realizamos o curso Negócio Certo Rural, que incentivou as mulheres a elaborarem o seu próprio negócio.
Francisca das Virgens – Feira das Marias – Feira de Santana/BA
O projeto Feira das Marias tem como principal objetivo fortalecer e fomentar a produção de alimentos realizada por mulheres rurais quilombolas, visando a autonomia financeira feminina. Dessa forma, com o apoio financeiro do Fundo Baobá se tornou possível a realização da Feira das Marias, que é um projeto comunitário.
Edital Educação e Identidades Negras
Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo
Irailda Leandro de Carvalho – Educação Quilombola do Mundo Novo para o Fortalecimento da Identidade Negra – Buíque/PE
Pretendemos com o Projeto “Educação Quilombola do Mundo Novo para o Fortalecimento da Identidade Negra” construir uma proposta pedagógica de educação quilombola em conjunto com professores quilombolas, que possuem formação superior, mesmo que não estejam lecionando no território atualmente, com a participação dos mais velhos, as lideranças e jovens da comunidade, estudantes de graduação que fazem parte no núcleo de estudos da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde, e aplicar as atividades no contraturno da escola. A proposta será vivenciada por professores quilombolas em formação e pelas crianças quilombolas que frequentam a escola localizada no território.
Dario Pereira – Projeto Agogô: o enunciado que faz acontecer – Recife/PE
O “Projeto Agogô: o enunciado que faz acontecer”, é uma iniciativa do Afoxé Omô Nilê Ogunjá, uma associação cultural de tradição afro-brasileira. Em nossa proposta objetivamos a formação da Rede de Vivências Formativas Agogô, sob a perspectiva da Lei 10.639 de 2003, que completa 20 anos de existência (lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio), a partir da articulação de instituições inseridas em contextos formais e não formais, que atuam no enfrentamento ao racismo, na comunidade do Ibura (Recife/PE).
Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Educação na Desconstrução do Racismo – Rio Branco/AC
O nosso projeto vem em resposta a nossa luta pela implementação da Lei 10.639 /11.645 (lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio). O projeto visa sensibilizar e articular parceiros para a criação dos Fóruns de Educação Étnico Racial nos municípios do Acre. Nosso sonho é combater o racismo, o machismo , a homofobia e a intolerância religiosa através da educação, lutamos por isso desde 2003 através de vários movimentos sindicais, CUT, e hoje através da Associação de Mulheres Negras.
Qual foi a importância de ter o seu projeto selecionado pelo Fundo Baobá e a execução dele no ano de 2022?
Edital Negros, Negócios e Alimentação
Rivaneza Silva – Dona Terra
O apoio do Fundo Baobá foi primordial para que conseguíssemos avançar enquanto negócio, nos possibilitou tirar do papel as ideias para melhoria da produção com a aquisição de equipamentos novos e com maior capacidade, contratar uma consultoria para nos orientar nas diretrizes para implementação de uma unidade de beneficiamento e fábrica de Kombucha de acordo com a legislação. E as orientações para gestão de negócios através da jornada formativa que nos fez repensar e buscar reestruturar nosso administrativo e financeiro para que a empresa caminhe de acordo com as metas que planejamos. A formação possibilitou a construção de uma rede de relacionamentos com os demais participantes do Programa, e nos impulsionou na busca por novas parcerias com pessoas e instituições, o que enriqueceu em muito nossa prática e nos possibilitou um novo olhar sobre o negócio.
Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas
Em 2022, devido a algumas dificuldades, eu estava prestes a desistir do negócio. Quando através de amigos, recebi informações sobre o edital Negros, Negócios e Alimentação e me veio a esperança de que dias melhores estavam por vir. A cada etapa que eu passava, pude ter mais certeza que o trabalho tinha que continuar, esse projeto ampliou meus horizontes em vários aspectos. Só o fato de ter sido entrevistada por uma pessoa preta durante a seleção, já me deu uma satisfação e uma sensação de pertencimento, que só confirmavam que o sucesso também nos pertence, me fazendo sentir contemplada mesmo que não chegasse até a etapa final. Toda estrutura do processo formativo, os profissionais envolvidos, poder compartilhar as experiências com os demais contemplados, e tudo que tenho vivenciado, proporcionaram para mim e para o negócio, oportunidades que provavelmente não se apresentariam sem o apoio do Fundo Baobá. Dito isso, não me refiro apenas ao apoio financeiro que é de fato muito importante, principalmente depois do período de pandemia, mas através dessa oportunidade, pude contratar o trabalho de pessoas, seguindo a linha do edital. Priorizando mulheres pretas, pequenos negócios e pessoas da comunidade LGBTQIA+.
Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte
Foi de grande importância, pois o comércio é um universo que ainda não domino completamente. E com o projeto foi possível fazer uma formação em áreas essenciais para um bom gerenciamento do meu negócio, como a área financeira. Tenho aprendido bastante sobre temas que não tinha muito conhecimento e isso tem me ajudado a organizar minha cafeteria.
Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana
O Fundo Baobá para o Acarajé tem sido um divisor de águas, o apoio financeiro deu condição ao Acarajé de realizar compras diretamente com fornecedores, pois antes não se tinha em caixa o valor mínimo para efetuar as compras com preço de atacado, o que levou a termos uma margem de lucro maior e, consequentemente, um capital de giro. Além das aquisições com maquinário e utensílios, o que facilita a produção diária dos quitutes. Sem falar do apoio de mentoria que tivemos durante alguns meses, os professores das aulas foram de suma importância para o desenvolvimento e organização da empresa.
Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados
Quanto a ser selecionada pelo Fundo Baobá, está sendo uma grande oportunidade na minha vida de empreendedora, tanto no investimento como nas capacitações.
Edital Quilombolas em Defesa
Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão
O Fundo Baobá ter aprovado o nosso projeto em 2022 foi providencial, pois estávamos passando por momentos delicados na comunidade.
Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II
A seleção do Projeto Feira das Marias, para nossa instituição revela a importância de iniciativas que possibilitem a geração de renda familiar, fortalecimento de organização comunitária e melhor organização na gestão da instituição.
Edital Educação e Identidades Negras
Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo
Eu não tenho palavras que consigam expressar o tamanho da importância de nosso projeto ser selecionado neste edital. E são vários os motivos que me possibilitam dizer o quanto foi, é, e será importante conseguir chegar até aqui. Primeiro, o tema tem a nossa cara porque há alguns anos estamos lutando por educação escolar quilombola no território. Não conseguimos até agora sensibilizar o poder público para acessar esse direito. Segundo, acreditamos que a nossa liberdade acontecerá quando todos tivermos acesso a educação formal de qualidade e específica quilombola para ocupar os postos de poder da sociedade. Terceiro, construir a identidade quilombola das nossas crianças e jovens, passando pelo conhecimento da força e da história dos nossos antepassados. Quarto, a política pública, garantida por lei, demora décadas para chegar até nós, precisamos sempre procurar outros caminhos e esse edital nos oferece todas essas possibilidades para driblar o sistema, duelar com o racismo institucional e estrutural da sociedade brasileira e oferecer oportunidades ao povo preto quilombola do Mundo Novo, em Buíque-PE.
Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá
A nossa instituição vem trabalhando no desenvolvimento de ações educativas que exaltam a cultura, história e identidades negras. Nesse sentido, o projeto contribui para o fortalecimento de ações de enfrentamento ao racismo, articulando grupos coletivos e instituições de educação formal e não formal, empoderando a cultura e identidade afro-brasileira, além de promover a articulação entre instituições, na comunidade do Ibura (Recife/PE).
Quais são as expectativas para o ano de 2023?
Edital Negros, Negócios e Alimentação
Rivaneza Silva – Dona Terra
Nesse ano de 2023 a meta é finalizar a fábrica e unidade de beneficiamento, faltam 30% para deixar o espaço estruturado, posteriormente seguir com as licenças e aumentar a produção. Planejamos aumentar nossa presença nas redes, espalhar nossa filosofia e inspirar uma alimentação saudável e consciente.
Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas
Para 2023, além da ampliação do negócio, também pretendo garantir a presença da Mamê Comidinhas na elaboração de ações que estejam ligadas ao incentivo do empreendedorismo preto e/ou indígena e de pessoas da minha comunidade.
Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte
As expectativas para 2023 são as melhores possíveis. Tenho certeza que, com o que aprendi até o momento, poderei organizar melhor meu estoque, fichas técnicas de produtos, meu fluxo de caixa, entre outras coisas, além de otimizar meu tempo para alavancar as vendas e me tornar mais conhecida na área de cafeteria.
Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana
A expectativa para esse ano de 2023 é que possamos continuar aplicando tudo o que foi adquirido em questão de conhecimento com as mentorias que o Fundo Baobá nos proporcionou e não parar por aí. Ir em busca de mais conhecimentos e novidades para que o nosso negócio venha alavancar ainda mais.
Maria da Paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados
E para o ano de 2023 continuarei trabalhando e crescendo para melhorar cada dia mais a minha vida e da minha família.
Edital Quilombolas em Defesa
Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão
O ano de 2023, com certeza será um ano marcante para o projeto. Agora no mês de janeiro será o lançamento dos nossos produtos “Balai, o licuri da Bocaina”, na feira da VII Jornada de Agroecologia da Bahia. Ainda este ano iremos levar o projeto de lei de preservação da área de licuri para a câmara de vereadores do município de Piatã.
Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II
Para o ano de 2023, estamos com o propósito de aumentar nossas atividades produtivas, ampliando a feira para os formatos virtual e presencial, assim como criar fundos de trocas de produtos da roça, a exemplo de aproveitar as frutas sazonais para fazer polpas, bem como sementes naturais existentes na comunidade. Com isso, objetivamos dinamizar a produção e comercialização da comunidade, proporcionando melhor geração de renda para as Marias do Quilombo.
Edital Educação e Identidades Negras
Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo
As expectativas são muitas, 2023 será o ano de receber as maiores parcelas do recurso para investir e colocar em prática as principais ações do projeto. O meu principal compromisso será com o sucesso do trabalho.
Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá
Desenvolver nossas ações educativas com estrutura financeira, para materializar produtos e ferramentas que edifiquem a formação de uma rede de produção de conhecimento anti-racista, que constam nas diretrizes da lei 10.639/03.
Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Associação de Mulheres Negras do Acre e seus Apoiadores
Em 2023 pensamos em executar o projeto e consolidar o nosso sonho. Acabamos de realizar a Jornada de Formação em Gênero e Raça em todos os municípios do Acre. Nosso projeto consiste em sensibilizar gestores e movimentos sobre a necessidade da implementação da Lei 10.639 da forma correta, através de ações online e algumas presenciais. Criar parcerias e formar um comitê de criação dos fóruns municipais, realizar um seminário estadual com dois representantes por município, dos que criarem os Fóruns. Nesse processo vamos fortalecer lideranças negras no protagonismo de combater o racismo através da educação. Essa é a nossa luta pela vida e direitos das mulheres.
Tendo a possibilidade de falar em um local acolhedor sobre suas vivências, algumas das pessoas donatárias dos editais sentiram-se à vontade para complementar as suas respostas, falando sobre os seus sentimentos ao participar dos editais do Fundo Baobá. Confira abaixo:
Edital Negros, Negócios e Alimentação
Rivaneza Silva – Dona Terra
Gratidão por todo apoio e que mais empresas de sucesso se inspirem em apoiar projetos que possibilitem a transformação na vida das pessoas.
Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas
Quero agradecer a todes envolvides, sejam pessoas ou empresas pela oportunidade, exaltar a organização e estrutura do projeto, que traz para o povo preto, mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIA+, a possibilidade de se potencializar e potencializar seus negócios, gerando emprego, renda e a acima de tudo combater o racismo e o preconceito.
Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte
Quero dizer o quanto fiquei impressionada e satisfeita com o tratamento que recebemos de todos os profissionais que fazem o Fundo Baobá. A atenção recebida, o material disponibilizado, as dicas. O aprendizado que adquirimos vai do campo profissional ao campo pessoal e isso é algo que não tem preço.
Edital Quilombolas em Defesa
Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II
A partir da realização da Feira das Marias na Comunidade Quilombola de Candeal II, percebemos a importância de atividades como essa para contribuir para o fortalecimento da identidade quilombola. Com isso, notamos a necessidade de ampliar a discussão sobre o reconhecimento do território quilombola para as demais comunidades que compõem o distrito de Matinha, em Feira de Santana, visando o fortalecimento e preservação de todo território quilombola de Matinha.
No mês de novembro e dezembro de 2022 o Fundo Baobá para Equidade Racial teve presença notável na mídia a começar pela participação de Hélio Santos, membro da Assembleia Geral do Baobá, no Programa Roda Viva da TV Cultura, sendo notícia no Portal TV Streaming, O Universo da TV, Africas e Z1 Portal. A TV Cultura também contou com a participação da Diretora de Programa, Fernanda Lopes falando, entre outros temas, sobre como as políticas afirmativas podem trazer grandes transformações para a população negra no Brasil e para o país como um todo.
A Imaginable Futures citou o edital “Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial” na publicação Renovando Nosso Compromisso com a Equidade Racial no Brasil. O edital é uma parceria entre a Imaginable, Fundação Lemann e Fundo Baobá e também foi citado pelo Portal C3.
O Estadão e o site Head Topics publicaram a matéria “Fundo Baobá: Investimento em equidade racial não é aposta, é respeito”. Na matéria o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, fala sobre investimento social privado e a agenda da equidade racial. Giovanni também foi mencionado pelo Mundo Negro como um dos palestrantes na “1ª Conferência Empresarial ESG Racial”.
O blog Juruá Online, mencionou o Fundo Baobá como um dos integrantes da Aliança Entre Fundos no título “Com sistema agroflorestal, indígenas apostam em projeto para recuperar 305 hectares de área degradada no AC”. E a Gabacom citou o Fundo como uma das três organizações de enfrentamento ao racismo no Brasil para conhecer.
O site Todas as Notícias apresentou o livro “História Social da Beleza Negra” escrito pela Giovana Xavier, uma das mulheres apoiadas pelo Baobá no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras Marielle Franco. A Casa da Cultura de Canaã dos Carajas em seu evento Cinema na Casa, exibiu o documentário “Não Serei Interrompida”, projeto apoiado pelo Fundo.
Ano novo pode significar novas oportunidades, novas chances, novas metas, mas olhar para o ano que se despede e analisar os desafios superados, as mudanças experimentadas, os acontecimentos e feitos que o marcaram, é crucial. É nesse clima de ano novo que o Fundo Baobá para Equidade Racial relembra alguns dos momentos importantes para a instituição no ano de 2022.
Giovanni representou o Fundo Baobá na “Live do Valor”: “Engajamento com causas é tendência no setor”. E o Fundo também foi destaque nos canais de televisão Globo Roraima e SBT Pará ao falar sobre o edital Negros, Negócios e Alimentação. Ainda na televisão, o Baobá foi representado pela Diretora de Programa, Fernanda Lopes, no programa Estação Livre, da TV Cultura falando sobre equidade racial em várias áreas.
Em 2022, dois editais foram lançados pelo Fundo Baobá: O Negros, Negócios e Alimentação, voltado para o apoio de empreendimentos gastronômicos de Recife e Região Metropolitana e o Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que apoia iniciativas de enfrentamento ao racismo e consolidação de práticas de promoção da equidade racial no setor Educação (espaços formais e não formais).
O Fundo Baobá deu segmento ao seu projeto do Círculo de Doação liderado por pessoas negras no Brasil, fortalecendo a importância do ato de doar para transformar e promover justiça social. Em 2021, o resultado de nossas ações de captação junto a indivíduos foi uma arrecadação de R$ 276.889,46 — (US$ 49.822,66).
O Baobá filiou-se ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), organização que congrega 160 associados. A filiação levou o Baobá a ser convidado para a COP 27, que aconteceu no Egito. A Diretora de Programa, Fernanda Lopes, esteve presente em duas mesas, sendo a “#PhilanthropyForClimate: Um movimento global da filantropia para enfrentar a crise climática” e no Debate sobre mulheres na ação climática, que abriu as atividades do Brazil HUB na COP 27. O site Brazil Climate Hub também disponibilizou material com avaliações sobre os resultados da Conferência do Clima do Egito. O Fundo Baobá aderiu ao movimento global sobre filantropia para mudança climática, reiterando que, no Brasil, a população negra, os povos originários e outros grupos racializados, são os que mais perdem com as injustiças climáticas, por isso a importância estratégica de incorporar mais esta dimensão entre as prioridades de investimento programático.
O ano também foi marcado pela doação da filantropa Mackenzie Scott, que destinou um aporte financeiro de US$ 5 milhões para o Fundo Baobá, doação que gerou grande repercussão na mídia nacional e internacional e deflagrou, no ecossistema de investimento social privado nacional, uma reflexão sobre confiança, movimentos disruptivos no exercício do poder econômico e filantropia.
Projetos de 8 estados brasileiros e Distrito Federal, representando 12 organizações, grupos e coletivos negros estão selecionados pelo edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. As organizações selecionadas representam os estados do Acre e Amapá (Norte); Bahia, Ceará e Pernambuco (Nordeste); Goiás (Centro Oeste); Rio de Janeiro (Sudeste); Rio Grande do Sul (Sul) e o Distrito Federal. Todas, ao longo dos próximos 18 meses, vão desenvolver projetos que têm como ponto comum o combate ao racismo na Educação. O edital Educação e Identidades Negras: Politicas de Equidade Racial é uma iniciativa do Fundo Baobá, que tem como apoiadores na iniciativa a Imaginable Futures e a Fundação Lemann.
O enfrentamento ao racismo por meio de políticas, ações e programas governamentais e não governamentais; a valorização da cultura das identidades negras, e o aumento de pessoas negras nos espaços de decisão e poder dentro do setor formal e não formal da educação, são as metas do edital. A Imaginable Futures e a Fundação Lemann, parceiros do Fundo Baobá, fizeram, em conjunto, um aporte de R$ 2,5 milhões no edital para que as 12 selecionadas recebam, cada uma, R$ 175 mil. O recurso restante será utilizado na realização de atividades formativas, assessoria técnica e reuniões de ajustes. para ajustes e trocas de experiências. Todas essas atividades serão promovidas e coordenadas pelo Fundo Baobá.
Perfil dos Selecionados
Há uma grande diversidade quando são pinçados os dados que fazem a composição das 12 organizações selecionadas pelo edital. Como dito acima, elas fazem parte de 8 estados brasileiros mais o Distrito Federal. Se formos analisar o tempo de atividade de cada uma, vamos encontrar, 2 (duas) delas já têm mais de 16 anos de atuação (Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá e Pesquisadores e Associação Retratores da Memória de Porteiras); 3 (três) atuam entre 11 e 15 anos (Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadores – Anpsinep, Cineclube Bamako e Coletivo Negro(a) Tia Ciatá; 5 (cinco) atuam de 6 a 10 anos (Associação de Mulheres Negras do Acre e Seus Apoiadores, Centro Comunitário de Audiovisual Luiz Orlando, Coletivo Atinúké, Movimento Nação Marabaixeira e Ponto de Cultura Grupo EX 13) 2, finalizando, 2 (duas) estão constituidas e atuam de 2 a 5 anos (Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo e Oficina de Inovação e Ancestralidade).
Olhando o recorte da influência geográfica, 3 (três) desenvolvem suas atividades de forma nacional; uma concentra seu trabalho em uma região do Brasil; cinco trabalham em seus estados de origem e três especificamente nos municípios em que estão localizadas. Com relação ao perfil do corpo diretivo, oito têm pessoas com 30 anos ou mais no seu corpo diretivo; três têm equilíbrio entre jovens (29 anos ou menos) e adultos (30 anos ou mais) e uma tem corpo diretivo composto por jovens (29 anos ou menos).
No quesito gênero, os grupos diretivos de nove organizações têm em sua composição diretiva pessoas de grupo LGBTQIAPN+. Três não têm. Pessoas especiais estão presentes na direção de três organizações. Dez dos grupos selecionados possuem parceiros que os auxiliam em termos financeiros e dois deles têm parceiros pontuais, que dão suporte para ações programáticas.
Para se habilitarem ao edital as organizações que se inscreveram tiveram que fazer uma análise apurada sobre o que pretendiam propor, além das respostas que serão dadas frente aos desafios previamente mapeados. Em termos de desafios, os seguintes tópicos foram apontados pelas organizações: Logística, transporte e alimentação para profissionais, estudantes e membros; impactos emocionais psicológicos na saúde mental de educadores e estudantes; invisibilidade das mulheres negras nas ciências e tecnologias; negação e desvalorização das identidades e culturas negras e quilombolas; pouca aplicação da Lei 10.639/03 nas ciências exatas e da natureza; falta de ferramentas para efetivação de políticas públicas; falta de ações voltadas para a elevação da autoestima de estudantes; baixa formação de novas lideranças femininas negras que atuam na educação; racismo religioso de educadores e das comunidades ao entorno.
Vencidas as dificuldades previstas, o caminho leva à busca dos resultados esperados ao final do projeto. E as perspectivas vislumbradas pelas organizações, grupos e coletivos participantes do edital são bem animadoras: Escolas sensibilizadas para implantação da Leis 10.639/2003 e 11.645/2008; perspectiva racial introduzida dentro do sistema socioeducativo; mais mulheres negras na pós-graduação; docência universitária e cargos de alto escalão; parcerias e maior articulação com comunidades e grupos locais; aprendizados dos projetos incorporados pelos espaços de educação; jovens, pais, professores e gestores da educação interessados no terma do projeto; lideranças negras juvenis fortalecidas e engajadas com o tema da educação; metodologias que fortaleçam processos de atendimento, escolarização e escuta; uso da tecnologia ampliado na periferia e em comunidades tradicionais para enfrentar o racismo e fortalecer as identidades negras; jovens negros com uma percepção positiva sobre si e sua comunidade.
Toda essa interação e desenvolvimento ao longo do projeto são vistas como geradoras de transformações pessoais e institucionais marcantes. Entre elas, foram apontadas as seguintes como focos: Habilidades gerenciais potencializadas; capacidade de intervenção ampliada; aumento do interesse por saberes científicos; fortalecimento das relações; ampliação do engajamento político; qualificação na produção e disseminação de conteúdos e na realização de processos formativos;fortalecimento de nossas relações com comunidades e com nossos parceiros. Tudo isso irá fortalecer no corpo diretivo das instituições o desenvolvimento de habilidades de liderança como: Comunicação estratégica e assertiva; ação em rede e atuação junto a parceiros; visão crítica e tomada de decisões; cursos e treinamentos técnicos específicos; gestão de tempo e priorização; análise de contextos complexos, mapeamento de atores e riscos.
As associações, grupos e coletivos selecionados consideram o trabalho com educação fundamental para que questões relativas às diferenças sociais sejam corrigidas, assim como a difusão da cultura negra. A fala de Irailda Leandro, da Associação Dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo, da cidade de Buíque, em Pernambuco, revela isso: “Só vamos sair desse ciclo de pobreza e desigualdade com Educação”. Carlos Peru, líder do Movimento Nação Marabaixeira, de Macapá, no Amapá, fala sobre uma particularidade do seu estado. “50% da população do Amapá se declara negra. Com a nossa participação nesse edital, vamos chegar ao nosso objetivo de difundir a cultura negra em nosso estado.”
As Organizações e seus Projetos
Para conhecer mais de perto os projetos das organizações selecionadas, acesse estelink.
Edital tem por objetivo promover o enfrentamento ao racismo na educação e conta com apoio financeiro da Imaginable Futures e Fundação Lemann
Após realização do processo seletivo, o Fundo Baobá para Equidade Racial divulga as 12 organizações, grupos e coletivos negros selecionados para o edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. Após 181 inscrições e a definição de 83 que passaram para a segunda fase, 24 foram habilitadas à fase final, da qual 12 foram as selecionadas.
Após análise das 83 propostas válidas, uma equipe composta por especialistas em educação e em planejamento, gestão e avaliação de projetos, realizou 40 entrevistas e recomendou 24 propostas para serem avaliadas na etapa final do processo. No dia de hoje (10/11), o Fundo Baobá divulga os nomes das 12 organizações finalistas do Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. Em princípio seriam 10 organizações, mas a governança do Fundo Baobá decidiu pelo apoio a mais dois projetos.
Promover o enfrentamento ao racismo na educação, por meio de projetos, programas, políticas de equidade racial e ações é o foco do edital, que tem apoio financeiro da Imaginable Futures e Fundação Lemann. O aporte destinado pelas instituições parceiras, em conjunto, é de R$ 2,5 milhões. As 12organizações, grupos e coletivos negros selecionados atuam na educação (dentro ou fora de unidades escolares) e têm papel ativo no que se refere ao combate ao racismo.
Na etapa final de seleção, as propostas passaram pela análise de um comitê composto por especialistas, com larga experiência acadêmica e de ativismo na área de educação em relações étnico-raciais. O apoio financeiro a cada uma das organizações, grupos ou coletivos selecionados será de R$ 175.000,00 (Cento e setenta e cinco mil reais) para que implementem seus projetos. O período para realização dos mesmos, que também inclui fortalecimento das capacidades institucionais, será de 18 meses.
Sobre o Fundo Baobá
O Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro fundo dedicado exclusivamente à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, o Fundo Baobá é uma organização sem fins lucrativos que tem por objetivo mobilizar pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para o apoio a projetos e ações pró-equidade racial para a população negra. O Fundo Baobá prioriza apoio a iniciativas negras alinhadas a quatro eixos programáticos: viver com dignidade; educação; desenvolvimento econômico; comunicação e memória. A missão do Baobá é o desenvolvimento de uma agenda filantrópica para a promoção da equidade racial para a população negra calcada em valores como ética, efetividade na gestão e transparência. O Baobá faz parte de uma rede de fundos independentes e fundações comunitárias que realizam filantropia para justiça social – Rede Comuá, e está filiado ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas).
Sobre a Imaginable Futures
A Imaginable Futures é uma organização filantrópica internacional de investimentos orientados pelo impacto social e pela crença de que o aprendizado é a chave para o bem-estar e para a construção de sistemas equitativos e saudáveis. A Imaginable Futures está determinada a mudar os sistemas injustos e a eliminar as barreiras que impedem os alunos, famílias e comunidades de prosperar e alcançar seu potencial máximo. Para isso, colabora com agentes de mudança para resolver desafios de educação complexos e desenvolver soluções que ajudem as comunidades nesse sentido. Com parceiros nos setores público, privado e social no Brasil, na África Subsaariana e nos Estados Unidos, a Imaginable Futures está co-criando soluções em contextos locais, nacionais e globais para alunos de todas as idades. Imaginable Futures é um empreendimento do Grupo Omidyar.
A Fundação Lemann acredita que um Brasil feito por todos e para todos é um Brasil que acredita no seu maior potencial: gente. Isso só acontece com educação de qualidade e com o apoio a pessoas que querem resolver os grandes desafios sociais do país. Nós realizamos projetos ao lado de professores, gestores escolares, secretarias de educação e governos por uma aprendizagem de qualidade. Também apoiamos centenas de talentos, lideranças e organizações que trabalham pela transformação social. Tudo para ajudar a construir um país mais justo, inclusivo e avançado.
A lista de organizações selecionadas para a Terceira Etapa do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial está sendo divulgada hoje (01/11). Da lista fazem parte 24 organizações de 11 estados brasileiros e do distrito federal. O objetivo do edital é o enfrentamento ao racismo na educação por meio de ações, projetos, programas e políticas de equidade racial. Imaginable Futures e Fundação Lemann são os parceiros do Fundo Baobá nessa iniciativa. Imaginable e Lemann, juntas, aportaram R$ 2,5 milhões que serão destinados a 10 organizações, grupos ou coletivos negros atuantes na educação e ativos nas questões referentes ao racismo.
As inscrições para o edital aconteceram entre os dias 3 de agosto e 6 de setembro. Nesse período, 181 inscrições foram feitas por organizações, grupos ou coletivos liderados por, no mínimo, 85% de pessoas pretas. Dessas 181 inscrições, 83 foram consideradas aptas para ir à segunda etapa. Hoje (01/11), após análise das 83 propostas participantes dessa segunda etapa, 24 (vinte e quatro) foram selecionadas e vão à etapa final, quando as 10 organizações selecionadas serão definidas.
Para visualizar as 24 organizações selecionadas para a Etapa 3 do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, você deve acessar este link. A divulgação do resultado final do processo seletivo acontece no dia 10 de novembro. Nesta ocasião a lista ficará disponível no site e redes sociais do Baobá, após as 19h.
O Fundo Brasil publicou a matéria “Aliança entre Fundos participa do evento de 10 anos da Rede de Filantropia para a Justiça Social”, a Aliança Entre Fundos é composta pelo Fundo Baobá, Fundo Brasil e Fundo Casa e estiveram presentes em uma mesa para compartilhar a experiência de filantropia colaborativa durante o evento. A Aliança também foi mencionada em publicação da Revista Filantropia com o seguinte título “Aliança Entre Fundos Apoia Projetos Quilombolas e Indígenas no Enfrentamento da Pandemia da Covid-19”.
E a Câmara Brasileira do Livro e Publish News mencionaram a Presidenta do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Sueli Carneiro, homenageada como Personalidade Literária de 2022 pelo Prêmio Jabuti / CBL, sendo Sueli a primeira Personalidade Literária do Prêmio não proveniente do eixo literatura.
O Baobá também foi mencionado pelo Sonho Seguro e Segs, que publicaram matérias sobre a parceria entre MetLife e Fundo no Programa Já É. O IDIS citou a participação do Diretor Executivo do Fundo Baobá, Giovanni Harvey, na 11ª edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais.
O mês de agosto é o mês da filantropia negra, e o Fundo Baobá esteve fortemente presente na mídia, sendo mencionado por veículos como Yahoo, Valor Econômico, Folha, Jornal Hoje, Crazy Kiwi, Estadão e além de participar do evento “Mês da Filantropia Negra 2022” do GIFE.
O Estadão e o portal Direto da Fonte publicaram sobre o novo edital “Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial” do Fundo Baobá com apoio da Imaginable Futures e da Fundação Lemann, divulgando o lançamento e período de inscrições, de 03 de agosto a 06 de setembro.
E nas redes sociais também teve vários posts dxs apoiadxs falando sobre o Fundo, como é possível ver no instagram em que a @leandracomunica e @averve05 compartilharam a publicação da @juliamoa___ com o seguinte título: “Dança Ancestral: ferramenta de cura e conexão para o corpo negro”.
Duas importantes organizações se juntam ao Fundo Baobá para Equidade Racial em uma iniciativa voltada à Educação. O edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, elaborado pelo Baobá, tem na Imaginable Futures e na Fundação Lemann suas apoiadoras. O foco do edital está em incentivar organizações, grupos e coletivos negros que atuam no combate ao racismo e na promoção da equidade racial no segmento Educação. É notório que o acesso à Educação e a permanência nas instituições de ensino é diferente para brancos e negros no país. O caminho para a solução dessa e outras fontes de exclusão está na adoção de ações afirmativas. Imaginable Futures e Fundação Lemann assumem tais ações como parte de suas politicas públicas e, juntas, estão aportando R$ 2,5 milhões que vão contribuir para que 10 organizações, grupos e coletivos negros ampliem e fortaleçam suas intervenções em espaços educacionais formais e não formais. Imaginable Futures, por intermédio de seu Venture Partner, Fabio Tran, e a Fundação Lemann, por meio de sua Gerente de Equidade Racial, Deloise Bacelar de Jesus, expõem aqui os motivos que as levam a apoiar o edital, a importância de se investir em Educação no Brasil e também como promovem o combate ao racismo dentro de suas próprias instituições e levam esse tema aos seus diferentes grupos de interesse.
O edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial é uma forma de suprir a defasagem que existe no mecanismo de ensino oficial do Brasil?
Fabio Tran – Em todos os estados brasileiros, a diferença entre o percentual de estudantes negros e brancos com níveis adequados de aprendizagem é significativa e se mantém mesmo dentro do mesmo nível socioeconômico (dados do SAEB). Está evidente que a desigualdade racial tem afetado o direito à aprendizagem e, por diversos motivos, o estudante negro tem sido levado a aprender menos. O racismo, enraizado enquanto modelo mental na sociedade, impacta os estudantes negros e suas famílias e os submetem ao preconceito cotidianamente. Esses e outros fatores, que são reflexo do racismo estrutural, afetam diretamente a autoestima e o senso de pertencimento de estudantes negros, impactando na sua performance acadêmica.
Entendemos que se trata de um fenômeno complexo e, para entender e agir com maior profundidade sobre ele, em 2021 a Imaginable Futures realizou um processo de escuta e construção junto a mais de 50 educadores e ativistas negros. Ao final, chegamos em três principais áreas que podem ser alavancadas na busca por uma realidade livre do racismo estrutural, sendo uma delas a razão por que estamos fazendo este edital: garantir a implementação de políticas educacionais que valorizam as identidades e culturas negras, indígenas e quilombolas, aumentando a legitimidade destes grupos dentro do sistema educacional, bem como o seu desempenho e permanência escolar.
As duas outras áreas são: (i) elevar o nível de entendimento sobre questões étnico raciais a fim de alcançarmos uma negritude consciente e uma branquitude crítica, fazendo com que as políticas e as práticas não sejam desenhadas de maneira universalista e (ii) elevar as vozes negras, indígenas e quilombolas através de acesso e representação em posições de liderança, assegurando que essas lideranças possuam conhecimento aprofundado sobre equidade racial e recebam todo o suporte necessário para que consigam permanecer com saúde mental e física dentro desses ambientes.
Deloise Jesus – A aprendizagem de alunos brancos e alunos pretos é desigual. A diferença é expressiva em todos os estados brasileiros, tanto para alunos de nível socioeconômico alto quanto baixo, revelando os reflexos do racismo estrutural também no processo de aprendizagem. Realizar ações como o edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial é muito estratégico para promover equidade racial. Acreditamos que diferentes esforços são necessários para transformar essa realidade e diminuir as desigualdades, por isso o lançamento do edital é tão bem vindo.
Que iniciativas educacionais podem contribuir para o combate ao racismo?
Fabio Tran – Para além do trabalho relevante e direto de combate ao racismo realizado por diversas organizações como o Fundo Baobá, CEERT, Geledés, IBEAC, dentre tantas outras, é preciso considerar também a influência das políticas públicas governamentais na manutenção ou quebra de estruturas racistas. As políticas públicas educacionais hoje são predominantemente universalistas, desconsiderando o contexto extremamente desigual de que partem estudantes brancos e negros. Sendo assim, uma das formas de combater o racismo estrutural é assegurar, na tomada de decisão das políticas educacionais, o reconhecimento dessas diferenças e desigualdades e o entendimento que equidade não significa necessariamente igualdade. A Lei de Cotas e a Lei 10639 são excelentes exemplos de como romper essas estruturas. E esperamos que as iniciativas apoiadas por esse edital permitam identificar novas formas de combater o racismo e o racismo estrutural.
Fabio Tran – Venture Partner da Imaginable Future
Deloise Jesus – Combater o mito da democracia racial passa por promover estratégias para que educadores e estudantes possam atuar de forma antirracista. Fortalecer o ecossistema de organizações que atuam no combate às desigualdades raciais é essencial para trilhar este caminho.
Como sua organização, interna e externamente, vem abordando o racismo? Há ações direcionadas aos colaboradores e diferentes comunidades nas quais vocês atuam?
Fabio Tran – Como uma organização de investimento social privado, entendemos nossa responsabilidade, dado nossa posição de privilégio em um sistema fundamentado sobre a supremacia de pessoas brancas e sobre outras formas de injustiça.
A equidade racial está no centro da estratégia programática da Imaginable Futures. Temos trabalhado para isso diretamente com organizações comunitárias, através das práticas de educação libertadora das organizações que apoiamos e por meio de recomendações de políticas de apoio para práticas de reparação antirracista, entre outras iniciativas. Além disso, entendemos que o combate ao racismo passa também por uma transformação interna e de como trabalhamos, por isso desde 2019 temos aumentado o letramento racial da equipe e a equidade racial na sua composição, incluindo nossos prestadores de serviço e consultores. A partir de um esforço de diversificar o nosso time, hoje somos uma organização internacional e a maioria dos nossos colaboradores não se identifica como branca. Por fim, como indivíduos, trabalhamos para mudar nossas próprias mentalidades, comportamentos e abordagens. E apesar de todos os nossos esforços, entendemos que, como organização, estamos apenas no começo da nossa jornada antirracista. Temos muito que avançar ainda.
Deloise Jesus – A Fundação Lemann tem estabelecido metas para promover a equidade racial nas escolas, viabilizando ações que garantem uma trilha de formação para educadores e gestores escolares, realização de pesquisas de engajamento de lideranças educacionais no tema, produção de guias diagnósticos de equidade racial nas redes de ensino; entre outras ações que fomentam parcerias estratégicas pela promoção da equidade racial na educação brasileira.
Além disso, buscamos aumentar a diversidade dentro do nosso próprio time. Com iniciativas centradas na redução de vieses para atração, retenção, inclusão e desenvolvimento de talentos, aumentamos a presença de pessoas negras na composição da nossa equipe – hoje, já representam pouco mais de ⅓ da organização (35%). A Rede de Lideranças da Fundação Lemann também passou a contar com um processo seletivo estruturado e focado na ampliação da representatividade entre os membros e viabilizamos programas como o Alcance, que busca promover mais equidade racial e econômica no acesso a programas de mestrado profissional em algumas das melhores universidades do mundo.
Deloise de Jesus – Gerente de Equidade Racial da Fundação Lemann
O edital vai alcançar organizações, grupos e coletivos negros. Que elementos estatístico-sociais levaram sua organização a direcionar esse investimento para a população negra?
Fabio Tran – O racismo estrutural permeia o sistema educacional brasileiro, levando a resultados de aprendizagem muito diferentes. Não surpreende que haja uma sub-representação significativa de grupos de pessoas negras e indígenas em posições de poder. Boa parte dos recursos do investimento social privado no Brasil é destinado à Educação, e boa parte dos estudantes que estão no sistema de ensino público são negros. Apesar disso, há pouco investimento no tema equidade racial na Educação e menos ainda para organizações com lideranças negras. Achamos fundamental direcionar mais investimento social privado para essas organizações.
Deloise Jesus – Diversos indicadores sociais demonstram como o racismo prejudica a população negra. Na Educação, as desigualdades na aprendizagem são contundentes. Um estudo feito pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), analisando dados da avaliação nacional oficial (o Saeb) mostra que, em todos os estados brasileiros, o percentual de crianças pretas com aprendizado adequado é inferior ao de crianças brancas da mesma classe social. Também fica evidente que, quanto mais alto o nível socioeconômico, maior é a diferença entre os aprendizados entre alunos pretos e não pretos.
Se o fator socioeconômico não explica sozinho tais diferenças, então é preciso reconhecer que também – e sobretudo – a Educação precisará olhar para o racismo que está presente nas práticas educacionais, assim como em tantas outras instâncias da sociedade. Na gestão pública, por exemplo, isso se reflete na representatividade em cargos de liderança. No poder executivo federal, apenas 15,2% dos cargos de segundo e terceiro escalões, nas pastas de Educação, Saúde e Economia, são ocupados por pessoas negras. No poder executivo como um todo, nos mesmos escalões, são 17,7%, de acordo com dados do IPEA (2020).
Em termos de política pública, a implementação desse edital poderá gerar alguma base de trabalho que possa ser adotada oficialmente (pelo Governo) e melhorar a política educacional no país?
Fabio Tran – O tema do desenvolvimento das identidades e culturas negras e quilombolas é trabalhado por organizações negras há muito tempo no Brasil. Esse edital vem como um reconhecimento da luta histórica desses grupos pelos seus direitos. Temos a expectativa que, a partir desses projetos, possamos sistematizar melhor e dar mais luz ao trabalho dessas organizações para que elas possam seguir cada vez mais pautando a construção de políticas públicas de equidade, dentro e fora do ambiente de educação formal.
Deloise Jesus – Como país, é urgente chegarmos ao consenso mínimo de que políticas públicas precisam ser construídas a partir da premissa que seus impactos terão efeitos diferentes nas populações brancas e negras. A gestão pública – que elabora, implementa e monitora essas políticas – precisa refletir com mais justiça nossa demografia, ampliando a representatividade de pessoas negras em cargos de liderança.
É possível projetar o que poderá ser alcançado por esse edital em termos sociais?
Fabio Tran – O valor concedido para as organizações contempladas no edital não é só para as ações programáticas dessas organizações. Ele também é destinado ao fortalecimento institucional e desenvolvimento das lideranças das organizações selecionadas. Além do impacto direto das 10 organizações selecionadas na aprendizagem das comunidades em que elas trabalham, esperamos que essas organizações, juntas, influenciem o sistema na direção do que precisa ser feito – e trabalharemos junto ao Fundo Baobá para que essa conexão e esse trabalho em rede aconteça.
Quando vemos as estatísticas da desigualdade social e racial no Brasil podemos ficar desesperançosos com relação ao tema, mas a partir das organizações esperamos enxergar a força e a riqueza da diversidade que a população negra traz para o Brasil, sem ignorar e tentar remediar as consequências negativas do racismo e da opressão desses grupos no país.
Deloise Jesus –Estamos confiantes que a iniciativa é capaz de contribuir com o fortalecimento de organizações para desenvolver novas tecnologias sociais e para ampliar o leque de estratégias disponíveis para a promoção da equidade racial.
Como sua organização define Equidade Racial?
Fabio Tran – Justiça. Equidade. Diversidade. Inclusão. O que chamamos de princípios “JEDI” direcionam tudo o que fazemos. Orientam nossas crenças, embasam nossa estratégia e moldam nossa cultura, operações e ações. Equidade racial para nós significa promover justiça, imparcialidade e equidade nos processos, distribuição de recursos e resultados em instituições e sistemas de educação.
Acreditamos que o acesso equitativo à aprendizagem é fundamental para sociedades saudáveis, justas e prósperas. Cada pessoa, independentemente de raça, formação, etnia, gênero, orientação sexual, religião, renda, saúde e habilidades, deve ter a oportunidade de aprender e tornar o futuro que imagina uma realidade. Sabemos que o racismo, o colonialismo e a cultura patriarcal incorporados nos sistemas educacionais ao redor do mundo fazem com que nem todos tenham a mesma oportunidade de prosperar. Entendemos que o nosso trabalho é sermos parceiros de organizações como o Baobá para eliminar essas barreiras sistêmicas e cocriar soluções para as crianças e jovens e suas respectivas famílias.
Deloise Jesus – Na iniciativa privada e no terceiro setor, precisamos ser mais explícitos e propositivos no enfrentamento dessas desigualdades raciais profundas e sistêmicas. Muito conscientes do tamanho desse desafio, aqui na Fundação Lemann trouxemos o combate às desigualdades raciais para o centro de todas as nossas frentes de atuação. Assim, traçamos uma visão de futuro que conecta nossos objetivos nas frentes de educação e desenvolvimento de lideranças com conquistas de equidade racial.
Promover esse edital é contribuir para a promoção da Equidade Racial?
Fabio Tran – Sim, serão selecionadas até 10 organizações, grupos ou coletivos cujas propostas contribuam para o desenvolvimento, aprimoramento e/ou a implementação de políticas educacionais de identificação e enfrentamento do racismo e para o fortalecimento das identidades e culturas negra, quilombola e indígena, com atenção especial para iniciativas focadas em políticas educacionais para crianças, adolescentes e jovens.
Deloise Jesus – O racismo é uma estrutura social complexa e difícil de combater, por isso diferentes estratégias articuladas entre si são necessárias. Acreditamos que o edital é parte importante desse processo. Temos certeza de que tudo isso é só um começo. E de que há muito o que refletir, aprender, planejar, executar e corrigir para que a pauta ganhe mais prioridade, profundidade e consistência dentro da gestão da nossa organização, e de tantas outras instituições e governos. Esperamos poder somar forças e aprender com quem já está há muito mais tempo à frente dessa agenda e incentivar muitos outros a entrar nela também. Nosso sonho de um Brasil que acredita nas pessoas e de pessoas que acreditam no Brasil certamente depende disso.