Conheça a força coletiva que move Goiás rumo a Brasília no próximo dia 25

Em Goiás, o Comitê Estadual da Marcha das Mulheres Negras tem mostrado que a organização coletiva é um ato de resistência, mas também de transformações concretas. A mobilização começou com a formação de um grupo de 156 voluntárias, integrantes da Rede Goiana de Mulheres Negras, espalhadas por diferentes territórios urbanos e rurais do estado. São mulheres cis e trans, com idades entre 16 e 89 anos, ligadas a organizações de mulheres negras, movimentos populares, coletivos feministas e também mulheres independentes.

A estrutura do Comitê reflete a diversidade dessa rede: há comitês operativos, como o Executivo e o de Comunicadoras, e comitês temáticos, que atuam diretamente em  assuntos como educação antirracista, justiça climática, saúde, cultura, saberes ancestrais e participação política. Cada grupo reúne cerca de 12 mulheres, que articulam ações e mobilizam territórios, fortalecendo a capilaridade da Marcha em mais de 50% dos municípios goianos.

Nos últimos meses, as ações do Comitê se expandiram por todo o estado: rodas de conversa, encontros formativos, campanhas de prevenção à violência, oficinas de comunicação antirracista e desfiles carnavalescos com o estandarte da Marcha. Foram mais de 200 eventos e iniciativas, incluindo feiras de economia criativa, cursos de capacitação, incidência política, ações em escolas e universidades, produções audiovisuais e atividades culturais com foco na valorização das mulheres negras do Cerrado.

Essas experiências fortalecem a identidade coletiva, ampliam a formação política e conectam gerações, especialmente para as mais jovens, que vêm ganhando protagonismo no processo.Segundo levantamento do Comitê, 38,4% das participantes têm entre 16 e 29 anos. Essas jovens estão introduzindo novas linguagens, tecnologias e sua energia transformadora para o movimento. Atualmente, mulheres jovens lideram grupos temáticos estratégicos, como os de Justiça Ambiental, Cultura e Comunicação.

Além disso, está em formação a Organização Mulheres Negras Jovens em Marcha, iniciativa que surge de um processo de mentoria, escuta e afeto, voltado à construção de projetos de vida e ao fortalecimento das lideranças negras do futuro.

Os desafios são muitos, desde conciliar pautas diversas, superar as desigualdades regionais até enfrentar a falta de recursos e lidar com a sobrecarga das múltiplas jornadas das mulheres. Mas, porém como destacam as articuladoras, cada obstáculo se converte em um convite à invenção coletiva.

Entre as estratégias que fortalecem o grupo destacam-se: a criação de agendas compartilhadas, o mapeamento de demandas territoriais, a escuta como prática política, e o rodízio na liderança dos processos. As ações ações formativas também são prioridade, mostrando-se fundamentais para fortalecer vínculos e ampliar o protagonismo das mulheres negras, especialmente as da base, que hoje assumem o centro das decisões e a condução de comitês e projetos.

Nos últimos meses, o Comitê de Goiás concentrou esforços na realização de três Encontros Regionais e um Encontro Estadual, preparando diretamente a Caravana para Brasília, onde milhares de mulheres negras de todo o país se reunirão na Segunda Marcha Nacional das Mulheres Negras, no dia 25 de novembro. Além disso, seguem em curso as atividades de comunicação, capacitação e planejamento para o pós-Marcha, assegurando que o legado desse processo permaneça vivo nos territórios.

“Estaremos juntas no caminho de luta e afeto que herdamos das gerações que nos antecederam. Nossa história carrega o legado da justa reparação. A construção do bem viver é condição possível para o futuro. Levante das Pretas 2025,” afirma Janira Sobre, coordenadora do Comitê Impulsor da Marcha das Mulheres Negras de Goiás.

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Mulheres Negras do Piauí realizam atividades em territórios quilombolas para mobilização da 2ª Marcha de Mulheres Negras

Para ampliar e diversificar a mobilização nacional, o Comitê da Marcha das Mulheres Negras do Piauí tem intensificado os encontros com lideranças locais. No fim de agosto foram realizadas várias atividades na Comunidade Quilombola Arthur Passos, em Jerumenha (PI). Com a participação de mais de 300 pessoas das comunidades quilombolas de Brejo, Potes e Tapuio, foram debatidos temas como: Desafios e perspectivas na implementação da educação escolar quilombola, direitos humanos e justiça ambiental, defesa do território e soberania quilombola e Mulheres quilombolas na construção dos saberes e do bem-viver.

O Comitê do Piauí é composto por 32 organizações – de sindicatos a várias entidades do Movimento Negro. A construção da Segunda Marcha das Mulheres Negras 2025, que vai ocorrer em novembro, em Brasília, tem sido marcada pela força coletiva de mulheres que, em diferentes territórios do Brasil, reafirmam a centralidade da luta contra o racismo, o sexismo e todas as formas de opressão às mulheres negras. A quilombola Maria Rosalina dos Santos, 62 anos, tem se destacado nos encontros regionais organizados no Piauí ao compartilhar seus conhecimentos, que incluem sabedoria ancestral.

Para ela, um dos principais desafios enfrentados pelas mulheres quilombolas é a invisibilidade. E está intimamente ligado ao fato de que o processo histórico dessas mulheres é de marginalização social, econômica, política e cultural. Ainda que ocupem papel central na preservação da memória, na resistência comunitária e na defesa dos territórios, elas são frequentemente apagadas das narrativas oficiais e pouco representadas. A participação de mulheres quilombolas nesses encontros no Piauí reafirma a defesa do território, da cultura e do modo de vida comunitário.

Mais do que um espaço de organização, esses encontros regionais com as mulheres negras do Piauí são momentos de escuta, partilha e construção política. Para Maria Rosalina, a Marcha representa continuidade e esperança. E a certeza de que o caminho foi aberto em 2015 e segue pulsando e que, em 2025, envolverá mais vozes e histórias. Portanto, participar dos encontros regionais do Piauí é também garantir que as demandas das mulheres quilombolas – como acesso a políticas públicas, proteção dos territórios e valorização das tradições – estejam no centro da agenda da Marcha.

Com sua atuação, Maria Rosalina inspira novas gerações de mulheres a se organizarem, mostrando que a luta pela vida digna, pela memória e pelo futuro é um legado que atravessa o tempo. Sua voz, somada a tantas outras, reafirma que a Segunda Marcha das Mulheres Negras 2025 é uma construção coletiva que nasce a partir dos quilombos, das periferias, das aldeias e de todos os cantos do Brasil.

Ceça Santos, vice presidente da Comunidade Artur Passos

Halda Regina, principal responsável pelas atividades nesses territórios quilombolas, e representante do Comitê do Piauí, afirma que é importante priorizar a organização e participar dos encontros para conhecer melhor a trajetória dessas mulheres e suas lutas.“Não estamos sentadas, acomodadas, esperando que algum governante faça algo por nós. Somos nós, as mulheres negras, que vamos exigir dignidade e bem viver deste país. Foi duro presenciar a morte e a violência contra nosso povo, mas não estamos caladas. Nunca silenciamos”, afirma.

As ações previstas para os próximos meses são encontros de rodas de conversa descentralizados, com caráter formativo, pautando o tema central da Marcha nos municípios de Parnaíba e de Cocal, além de atividade com mulheres que professam religiões de matriz africana.

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Mulheres do Comitê impulsor do Tocantins compartilham experiências da Marcha 2025

Uma das protagonistas do Comitê Impulsor Estadual da Marcha das Mulheres Negras no Tocantins, Maria Eunice da Conceição Silva, 59 anos, é ativista e participou da primeira Marcha das Mulheres Negras, em novembro de 2015, em Brasília. Nascida em São João dos Patos, no Maranhão, e filha de pais analfabetos, Eunice foi trabalhadora doméstica dos 15 aos 20 anos. A família saiu da cidade natal com destino a Araguaína, no Tocantins, buscando uma condição melhor de vida. Na época, Maria Eunice tinha apenas 14 anos. Mais crescida, conciliou o trabalho doméstico com os estudos e, em pouco tempo, tornou-se professora do ensino fundamental. Atualmente, é aposentada da rede municipal de Araguaína, mas ainda exerce atividades na rede estadual.

A Marcha das Mulheres Negras começou a fazer parte da vida dela quando atuava no Sindicato dos Profissionais da Educação em 2009. Como parceiro, o sindicato potencializou algumas atividades em Araguaína, fazendo com que Maria Eunice se encantasse com algumas das principais lutas que foi conhecendo. Quando soube da Marcha das Mulheres Negras, não hesitou. “Desde então eu quis ir! Eu precisava ir! Uma Marcha de Mulheres Pretas? Oxe! Como assim? Preciso ver! E fui! Que lindeza!”, afirma.

Ela também se recorda de uma senhora negra, cadeirante, e outra preta que empurrava a cadeira de rodas, e como elas choravam de felicidade por participar da Marcha. Essa imagem a marcou muito. “Chorei também por presenciar a força dela!” Eunice se sente uma nova pessoa a partir da Marcha de 2015. Afirma que se sentiu verdadeiramente preta e  com a obrigação de lutar, de fazer com que outras mulheres entendessem a luta de uma mulher negra na sociedade.

Na ocasião, a ida até Brasília foi repleta de desafios, mas também de um sentimento de pertencimento. Junto com outras mulheres, viajou primeiro para Palmas e, de lá, seguiu até Brasília. Ficaram hospedadas no Estádio Mané Garrincha, que serviu como ponto de apoio para acesso ao básico – banho, higiene, etc. “Nunca imaginei um evento dessa magnitude e com tantas mulheres negras juntas. Eu senti pertencimento  e me descobri negra! Era como se eu tomasse posse de um espaço que nunca havia sido meu. E agora, lá fosse meu lugar, meu povo, minha gente”, afirma.

Mobilizando o Tocantins

O Comitê Impulsor Estadual da Marcha das Mulheres Negras no Tocantins se estruturou em 2024 frente à necessidade de mobilização nacional para que as mulheres negras se organizassem e divulgassem suas ações e pautas. Atualmente composto por oito organizações, grupos e coletivos, o comitê reúne diversas mulheres e atua realizando  ações políticas e de denúncia contra todas as formas de violência contra as mulheres negras.


O comitê se mobiliza com reuniões contínuas, duas por mês, que podem ser vivências de samba, saraus, feijoadas, rodas de conversa, mesas redondas e até encontros estaduais. A ideia é atrair mais mulheres para se engajarem em ações, como saúde integral, saúde mental, soberania alimentar, cuidado, justiça racial, espaços de poder, entre outras.

Para Janaina Costa Rodrigues, 42 anos, articuladora do comitê impulsor da MMN no Tocantins, e participante da Marcha de 2015, aquele ano deu o impulso para a criação de coletivos auto-organizados de mulheres negras. 

“Mulheres negras são a vanguarda dos movimentos sociais”, afirma. Elas têm estratégias de ação participativa, pensam em qualidade de vida e políticas públicas para o conjunto da sociedade. Portanto, atender as reivindicações de mulheres negras é também pensar justiça para o Brasil. São essas mulheres que estão em diversas lutas sociais e com a presença delas garantimos uma nova sociedade mais inclusiva.”

Desde sua criação, em 2024, o comitê vem realizando atividades como encontros de formação, reuniões de articulação, mesas com temas como: “Bem viver na perspectiva das mulheres negras e quilombolas”, entre outras. Além de visitas institucionais para captação de parcerias, campanhas online e lançamentos das cartilhas sobre reparação e bem viver. 

As ações previstas para os próximos meses são três rodas de conversa descentralizadas, com caráter formativo, pautando a temática central da Marcha: Reparação e Bem Viver. As atividades vão ocorrer em Araguaína, no quilombo Pé do Morro e no quilombo Ilha São Vicente. Além disso, ainda está prevista a realização da 2ª Feijoada das Pretas, que conta com o recurso financiado pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial, o qual destinou 25 mil reais para o Comitê do Tocantins para que o mesmo viabilizasse e mobilizasse as atividades previstas. A 2º Feijoada será realizada em Palmas e em Araguaína, bem como a realização de visitas institucionais para captação de parcerias. 

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Crédito: Acervo do Coletivo Ajunta Preta

Mulheres negras, latino-americanas e caribenhas convocam à mobilização política e à participação na Marcha de novembro

O 25 de  julho atravessa fronteiras, une lutas e ecoa histórias silenciadas

Em 25 de julho foi celebrado o Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, data instituída em 1992 durante um encontro de mulheres afro-Latinas-Americanas e afro-caribenhas na República Dominicana. No Brasil, a data também é comemorada e marca o Dia Nacional da Mulher Negra, em homenagem à Teresa de Benguela – líder quilombola que foi símbolo da resistência negra no século XVIII.

A 13ª edição do Julho das Pretas é um momento de reflexão profunda, reconhecimento, memória e ancestralidade feminina, que são fundamentais para dar visibilidade às pautas históricas e atuais dessas mulheres. É neste contexto que ganha destaque a II Marcha das Mulheres Negras — Por Reparação e Bem Viver, em fase de organização e mobilização em todo o país. Prevista para ocorrer em Brasília, no próximo dia 25 de novembro, a Marcha tem expectativa de reunir um milhão de mulheres negras e estrangeiras, reforçando seu protagonismo na luta por justiça racial, social, climática e de gênero.

Na organização dessas ações estão os Comitês Impulsores Estaduais, Regionais e Municipais, organizados por Unidade Federativa e Coordenados por articulações como AMNB (Articulação de Organizações de Mulheres Negras), Rede de Mulheres Negras do Nordeste, Rede Fulanas (Amazônia), Fórum Nacional de Mulheres Negras, CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), entre outros.

Diante da convocação nacional para a II Marcha, diversas mulheres negras, quilombolas, LGBTs, religiosas de matriz africana, entre outras, marcharam no dia 25 de julho em várias cidades do país: Belém (PA), Eusébio (CE), Feira de Santana (BA), Garanhus (PE), João Pessoa (PB), Maceió (AL), Manaus (AM), Pelotas (RS), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São José do Rio Preto (SP), São Luís (MA), São Paulo (SP) e Teresina (PI). E Além disso, os comitês organizaram atividades diversas. 

O comitê estadual do Amazonas, por exemplo, garantiu presença na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com atividades como Oficina de Carimbó, Oficina de Tranças, Oficina de Colorismo e um convite especial para um evento da Associação dos Docentes da Universidade. Nesse dia, a professora e diretora da Faculdade de Psicologia – FAPSI, Iolete Ribeiro, que também é membro do Comitê Amazonense da Marcha das Mulheres Negras, aproveitou para destacar a necessidade de mobilização e organização da Marcha em novembro.

Já O Antonietas Em Marcha Santa Catarina realizou, no decorrer de julho, rodas de conversa, palestras e encontros regionais no Vale do Itajaí. As mulheres presentes reafirmaram que suas caminhadas pessoais são um ato político diário, pois resistem cotidianamente a um estado branco e conservador. Ainda na Região Sul, o Comitê de Mulheres Negras do Rio Grande do Sul participou do programa “Vozes dos Quilombos” – na rádio Negritudes, além de uma roda de conversa com o tema: Tecendo caminhos para a Marcha das Mulheres Negras na Faculdade de Educação da  UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). 

No Comitê Impulsor Estadual de São Paulo, diversas cidades também realizaram encontros regionais, como Campinas e o ABC, que promoveram atividades como Oficina de Políticas de Cuidado e Autocuidado na Perspectiva do Bem Viver, com a Mestra Reisa Cristiane de Paula Venancio, formada em Ciências da Motricidade pela UNESP (Universidade Estadual Paulista) e uma live com o tema Justiça ambiental e bem viver: jovens e mulheres negras em marcha por um novo pacto civilizatório. No encontro virtual, foi possível criar um espaço de reflexão coletiva sobre justiça climática, interseccionalidade de gênero, raça, território e o protagonismo de jovens e mulheres negras na construção de futuros sustentáveis.

Em Feira de Santana, na Bahia, dez anos após a primeira caravana, as portas do sertão se abriram novamente para o fortalecimento das mulheres negras de toda Bahia. O Comitê Impulsor do Território Portal do Sertão convocou todas as mulheres para se reunirem e pensarem juntas o planejamento e a mobilização da Marcha que irá ocorrer em novembro. 

No Centro-Oeste, em Mato Grosso, também ocorreram encontros regionais em Cuiabá e no município de Sinop, além de rodas de conversa com a Comunidade de Matriz Africana do Candomblé e Umbanda, no Centro Histórico de Cuiabá. Houve também incidências nas ruas da Cidade de Cáceres, com distribuição de panfletos de esclarecimento sobre a Marcha.

A Marcha Nacional das Mulheres Negras está sendo construída de norte a sul do Brasil e já conta com núcleos de mobilização internacional em 35 países, sendo uma importante ferramenta de mobilização política e de denúncia. Por conta da mobilização que gera, o evento também abre espaço para a discussão de ações concretas para o enfrentamento das múltiplas formas de opressão que atravessam a vida das mulheres negras no Brasil. E o Baobá – Fundo para Equidade Racial apoia essa luta reafirmando seu compromisso com o fortalecimento da democracia e a defesa dos direitos das mulheres negras no Brasil.

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Crédito: Arquivo Pessoal

Marcha das Mulheres Negras: um relato de quem esteve lá há 10 anos atrás

Conheça a história de Juliana Gonçalves e sua trajetória no movimento de mulheres negras

Juliana Gonçalves é mãe, jornalista e militante do movimento negro — uma mulher em movimento, articuladora política, pesquisadora, feminista negra, periférica, afrolatina e, acima de tudo, um corpo livre. Atualmente, gerencia um projeto de inovação na área da Comunicação na Embaixada Preta, o Bioma Comunicação Ancestral.

Mestra em Filosofia pela Universidade de São Paulo, onde pesquisou o Bem Viver em narrativas de mulheres negras, ela também integra a Marcha das Mulheres Negras de SP, onde, desde 2018, coordena o curso de formação política para mulheres negras chamado Narrativas de Liberdade.

Seu primeiro contato com a Marcha aconteceu de forma orgânica, como parte de um percurso político e afetivo. Em 2013, como parte do grupo Comunicadoras Negras — iniciativa articulada por várias entidades em parceria com a ONU Mulheres —, ela participou da cobertura da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

“Lá foi anunciada pela primeira vez a Marcha das Mulheres Negras, tomando um auditório cheio de mulheres negras e sacerdotisas entoando cantos iorubá. O momento, profundamente espiritual, ancestral e simbólico, trouxe à Juliana um chamado, uma convocação do tempo que exigia dela e das demais mulheres uma coragem coletiva.”

Sendo uma das 15 mulheres selecionadas para participar de um programa voltado a jovens lideranças, ela conheceu mulheres de múltiplas identidades, como indígenas, quilombolas, ciganas e tantas outras, que atuavam a partir de seus territórios. Foram intensas trocas entre elas, que permitiram reflexões críticas sobre o papel e os limites das instituições internacionais e sobre a atuação nos contextos locais.

Foi depois desse programa que ela se aproximou da construção da Marcha das Mulheres Negras em 2015.

Ao se deparar com as particularidades do movimento negro de São Paulo — que é múltiplo, potente e também atravessado por desigualdades territoriais —, ela enfatiza que, mesmo com realidades distintas, o movimento busca sempre articular cultura, educação, comunicação, moradia, política institucional e saberes tradicionais. Pois, como em muitos outros estados, desde 2015, elas permanecem em marcha, em constante movimento.

“O movimento é feito por nós, com nossos corpos, nossas histórias, nossos gestos cotidianos. Não é preciso estar em um palanque para ser movimento. Você é quando cuida, quando pergunta, quando sonha”, afirma Juliana.

Sobre as demandas das mulheres na década passada e as demandas atuais, ela traz uma reflexão sobre uma ênfase em denunciar o racismo estrutural, o genocídio da juventude negra, a violência doméstica e o silenciamento nas instituições. Hoje, em 2025, essas pautas permanecem urgentes, mas ganham contornos mais amplos: há uma demanda crescente por pensar a sociedade a partir de outro paradigma.

“Hoje falamos de saúde integral, mental, soberania alimentar, economia do cuidado, justiça racial e comunicação como espaço de poder. As mulheres negras também exigem estar no centro das decisões, das tecnologias, da política institucional”, afirma.

Para ela, não vivemos quaisquer 10 anos. Foram anos de uma conjuntura cruel, que incidiu com ainda mais violência e requintes de crueldade sobre a população negra, com muitos retrocessos nas conquistas quilombolas, indígenas e na luta das mulheres em si.

A mensagem que Juliana gostaria de deixar para as mulheres negras que ainda não se sentem parte do movimento é que é, sim, louvável estarmos vivas — e, mais ainda, estarmos organizadas para enfrentar não só a luta da sobrevivência diária, mas também para a construção de outra sociedade.

“A força da Marcha de 2015 foi, justamente, termos olhado para o que une, sem silenciar as diferenças”, afirma Juliana.

Então, estão todas convidadas: as cis, as LBTs, as candomblecistas, as evangélicas, as trabalhadoras, as estudantes, as imigrantes, as mais novas e as mais velhas, as mulheres com deficiência, as militantes, as independentes etc.

Para esse ato político-social, o Baobá, Fundo para Equidade Racial,  fez um investimento histórico de R$ 1,25 milhão, garantindo apoio à mobilização, logística, articulação e engajamento de mulheres negras em todo o Brasil, com foco especial nas comunidades quilombolas.

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Fundo Baobá participa de planejamento estratégico de comunicação para a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras

Nos dias 19 e 20 de maio, o Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver realizou em Brasília um planejamento estratégico de comunicação, com participação do Fundo Baobá e outras organizações parceiras. O evento reuniu representantes de 35 organizações do movimento negro e parceiras para estruturar as ações de comunicação visando a grande mobilização marcada para 25 de novembro de 2025.

Construção coletiva de estratégias

Durante os dois dias de encontro, foram desenvolvidas diretrizes para:

  • Fortalecer a coesão das mensagens da Marcha
  • Visibilizar territórios e saberes das mulheres negras
  • Engajar diferentes públicos na mobilização

“Poder pensar juntas na comunicação de uma mobilização deste porte foi muito especial”, destacou Xavier Amorim, Assistente de Comunicação do Fundo Baobá. “Ao reunir diversas mulheres negras, podemos ampliar o olhar para as inúmeras subjetividades de mulheres que devemos e queremos mobilizar para o dia 25 de novembro.”

O trabalho coletivo contou com metodologias participativas que permitiram a construção conjunta de estratégias, com facilitação do Instituto Cultura, Comunicação e Incidência (ICCI).

Compromisso e apoio institucional

Todas as organizações presentes assumiram compromissos concretos para amplificar as narrativas da Marcha em suas redes e territórios. Como parceiro estratégico, o Fundo Baobá não apenas apoia financeiramente esta iniciativa, mas também fortalece essa construção coletiva que amplifica o poder de organização das mulheres negras e seu papel transformador na sociedade brasileira.

A Marcha de 2025 marca os 10 anos da primeira edição histórica e representa um marco na luta por direitos e visibilidade das mulheres negras brasileiras. Com esse apoio, o Fundo Baobá reafirma seu papel fundamental no fortalecimento das organizações do movimento negro e na promoção da justiça social.

Organizações participantes

Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB); Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong); Ação Educativa; Associação de Trabalhadoras Domésticas Tereza de Benguela; Associação Gênero e Número; Casa N’Dengo; Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ); Criola; Escola Longa; Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FONATRANS); Geledés – Instituto da Mulher Negra; Imaginable Futures; Instituto Afrolatinas; Instituto Cultura, Comunicação e Incidência (ICCI); Instituto Ibirapitanga; Comitê Estadual Goiás da Marcha das Mulheres Negras; Marcha das Mulheres Negras de São Paulo; Movimento Mulheres Negras Decidem; Agência Narra; Observatório da Branquitude; Odara – Instituto da Mulher Negra; Oxfam Brasil; Pretas Candangas; Quid; Rede de Mulheres Negras do Nordeste; e Revista Afirmativa.

Saiba mais sobre nosso apoio à Marcha das Mulheres Negras 2025.

A força coletiva que mobiliza a Marcha das Mulheres Negras desde 2015

A mobilização para a Marcha das Mulheres Negras de 2025 é construída por mulheres que estiveram presentes desde sua primeira edição, realizada em novembro de 2015, em Brasília. Articuladoras, militantes e lideranças de diferentes gerações e territórios do Brasil marcham na luta por reparação diante das injustiças históricas, contra o racismo e pelo Bem Viver.

Entre elas está Piedade Marques, filósofa, articuladora da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e atual coordenadora do projeto social Eu voto em negras.

“Foi uma militância e uma formação baseada em debate, leitura, informação. Tive a sorte e a oportunidade de fazer parte do Afoxé Alafin Oyó — grupo cultural e religioso de Pernambuco —, que foi meu espaço de ‘aquilombamento’. Era o nosso gueto, onde eu podia ser uma menina preta livre, sem precisar alisar o cabelo. Isso nos dava uma sensação de liberdade”, afirma.

Na fotografia, vemos Piedade Marques, filósofa, articuladora da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e atual coordenadora do projeto social Eu voto em negras. uma mulher negra em pé, sorridente, com os cabelos trançados e presos com um detalhe vermelho. Ela veste uma regata estampada com a imagem de uma figura feminina negra em trajes tradicionais e com uma espada em punho, além de um short branco com bordados. Ao fundo, há um mural artístico em tons de preto e branco, com traços que remetem a elementos culturais e figuras humanas. A expressão da mulher transmite confiança e serenidade, em um ambiente que valoriza a identidade afro-brasileira.
Piedade Marques, filósofa, articuladora da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e atual coordenadora do projeto social Eu voto em negras.

A faísca da Marcha das Mulheres Negras nasceu em 2013, durante a III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, com a formação do Comitê Impulsor Nacional da Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. 

O comitê foi composto por organizações como a Articulação Nacional de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas (Conaq), a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad) e o Movimento Negro Unificado (MNU).

A Marcha como processo político e social de longo prazo

A construção da Marcha demanda meses — e, muitas vezes, anos — de preparação: encontros regionais, reuniões, estudos, debates e mobilizações nas comunidades. Trata-se de uma expressão coletiva do protagonismo das mulheres negras na luta contra o racismo, o sexismo e outras formas de opressão. Mais do que um ato político, a Marcha afirma um novo projeto de sociedade pautado no Bem Viver.

Valdecir Nascimento, atualmente com 65 anos, também foi uma das protagonistas na concepção e organização da Marcha de 2015. Fundadora do Odara – Instituto da Mulher Negra, sua trajetória se entrelaça com a luta cotidiana das mulheres negras e com a busca coletiva por estratégias de resistência e sobrevivência. 

Na década de 1980, Valdecir encontrou o movimento negro e, paralelamente, começou a questionar narrativas enquanto atuava como catequista (pessoa que leva a fé cristã a crianças, jovens e adultos) — entre elas, a releitura do poema O Deus Negro, de Neimar de Barros.

Desde cedo, passou a refletir e sonhar com um novo caminho para o Bem Viver das mulheres negras e de suas famílias. Filha de um ogã de terreiro (pessoa responsável por tocar e cantar), Valdecir carrega saberes ancestrais ligados à cura física e espiritual proporcionada pelas religiões de matriz africana.

“Em 2012, em Brasília, quando Nilma Bentes propôs um encontro de mulheres negras para discutir articulações que nos fortalecessem, senti que era uma proposta potente, que precisava ser acolhida por todas. Era a chance de nos afirmarmos como sujeitas políticas diante da sociedade brasileira — e assim foi feito, com a realização da Marcha em 2015”, relembra Valdecir.

Para ela, o maior legado daquela Marcha está na metodologia adotada e na capacidade de romper com a subalternidade histórica imposta às mulheres negras. É nelas, acredita, que reside a força transformadora capaz de mudar o país.

Tanto Piedade quanto Valdecir desejam que a Marcha de 2025 seja marcada pela esperança. Elas acreditam na força coletiva e afetiva das mulheres negras para construir um novo mundo — um mundo onde possam ser livres e moldar a realidade de acordo com seus próprios valores, e não segundo as imposições políticas e ideológicas dos opressores.

Para mais informações sobre a Marcha, acesse: https://marchadasmulheresnegras.com.br 

Rumo à Marcha das Mulheres Negras 2025: mobilização por Reparação e Bem Viver

Rumo à Marcha das Mulheres Negras 2025: mobilização por Reparação e Bem Viver

No próximo dia 25 de novembro, milhares de mulheres negras vão se reunir para marcharem por Reparação Histórica e Bem Viver, em Brasília – DF. Marcham por uma exigência de políticas e medidas concretas que enfrentem as desigualdades raciais e sociais, que assegurem oportunidades reais para a população negra, que garantam o direito de sonhar e realizar, de envelhecer com dignidade, de acessar uma educação de qualidade, de se alimentar bem, e de ter acesso à saúde integral.

E pelo Bem Viver que representa uma proposta de organização política e social que rompe com o modelo individualista, explorador e desenvolvimentista centrado no capital, ou seja que proponha uma organização coletiva para a ascensão das mulheres negras na sociedade em todas as regiões do Brasil.

Mulheres negras sorrindo em círculo, vistas de baixo para cima, reunidas em Recife para o planejamento do Março de Lutas em preparação para a Marcha das Mulheres Negras 2025.
Mulheres negras reunidas para o planejamento do Março de Lutas em Recife (PE)

Com o objetivo principal de denunciar as diversas formas de opressão que atingem de maneira potencializada as mulheres negras, o movimento coletivo do Março de Lutas foi criado em 2019 pelo Odara – Instituto da Mulher Negra e é construído pela Articulação de Organizações Negras Brasileiras (AMNB) e a Rede de Mulheres negras do Nordeste.

A 7ª edição reforça uma agenda coletiva dos movimentos de mulheres negras, promovendo reflexões sobre o combate ao racismo e ao patriarcado, além de propor um novo olhar sobre o 8 de março, data que marca o Dia Internacional da Mulher.

Grupo de mulheres negras sorrindo e vestindo roupas coloridas e estampadas com a campanha "Prevenção é Afeto", durante mobilização do 8M em Goiás, fortalecendo a construção da Marcha das Mulheres Negras 2025
8 de Março em Goiás

Durante o mês de março foram realizadas 167 atividades, de 83 organizações, grupos e coletivos, em 19 estados, nas 5 regiões do Brasil. Foram rodas de conversa, oficinas, festivais, seminários e outras ações que são o fio condutor desta mobilização. Todas essas atividades têm por meta  alcançar o número histórico de 1 milhão de mulheres negras nas ruas da capital federal. Costurando experiências, saberes e resistências por todo o país, este ano, o chamado ganha ainda mais potência, direcionando os passos rumo à marcha.

Mulheres dos centros e dos quilombos; das universidades e das escolas primárias; atletas; artistas; profissionais da educação e da comunicação; engenheiras; cientistas; motoristas de aplicativos; agricultoras; donas de casa; empreendedoras; trabalhadoras do campo e da cidade; cristãs e candomblecistas; religiosas ou não; entre outras. 

Mulheres negras reunidas em círculo sob árvores, em uma roda de conversa no Quilombo do Cedro, em Mineiros (GO), como parte das articulações para a Marcha das Mulheres Negras 2025.
Reunião de mulheres negras no Quilombo do Cedro, em Mineiros (GO)

Para Maria Conceição Costa, a Ceça, uma das integrantes da Coordenação Nacional do Comitê impulsor da Marcha das Mulheres Negras, a marcha cumpriu o seu papel em 2015 como um impulsionador para a organização dessas mulheres. Após a marcha houve um fortalecimento significativo das mulheres do Nordeste, ainda que tenham relatos de ocorrências de opressão durante a marcha.

Mulheres negras seguram faixa da Marcha das Mulheres Negras 2025 durante o carnaval de São Luís (MA), reafirmando a luta por reparação histórica e bem viver em meio à celebração popular.
 Mulheres negras presentes no carnaval de São Luís (MA)

“É importante fortalecer não só as capitais para 2025, mas um número maior de cidades e os interiores Brasil afora, pois a realidade das mulheres negras ainda é muito crítica. São elas as que mais morrem pela ausência de saúde, são as que mais choram pelos seus filhos assassinados pela violência do estado, são as mais perseguidas por conta da sua fé, das suas guias, e as que mais sofrem violência obstétrica”, afirma Ceça.

Para mais informações sobre a Marcha das Mulheres Negras 2025, acesse o Instagram da Marcha das Mulheres Negras.

Participantes da primeira Marcha das Mulheres Negras esperam edição histórica em 2025 

Para 2025, são esperadas um milhão delas, lotando as ruas de Brasília na segunda edição da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver.

Novembro de 2025 pode entrar para a história como o mês do protagonismo das mulheres negras no Brasil. São esperadas um milhão delas, lotando as ruas de Brasília na segunda edição da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver.

A primeira edição aconteceu em novembro de 2015, também na capital do país. Uma década mais tarde, o evento busca representatividade internacional, com a presença de países da América Latina, África e Caribe.

A Marcha das Mulheres Negras será uma grande reivindicação por direitos inegociáveis, que já deveriam ter sido garantidos há séculos às mulheres negras. São questões fundamentais da dignidade humana, como a garantia de direitos econômicos e sociais, o combate à violência, a promoção da igualdade racial, a valorização dos saberes da cultura afro-brasileira e o acesso pleno à saúde e à educação, entre outros.

Maria das Dores Almeida, a Durica, faz parte do Instituto de Mulheres Negras do Amapá (Imena) e integra a Articulação de Organizações de Mulheres Negras (AMNB). Ela participou da primeira Marcha em 2015 e define a importância do que a segunda edição pretende alcançar:

“Participar da Marcha significa fazer parte de um dos momentos mais importantes da história do Brasil, principalmente porque nós estamos lutando por um novo projeto político de nação”, diz.

O que Durica enaltece é reafirmado por Durvalina Rodrigues, integrante da Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras da Paraíba:

“Quando a gente fala de reparação e bem viver, a gente tá querendo um novo modelo de sociedade que nos reconheça e nos coloque no lugar devido – e não em um lugar de marginalização, de subalternização, de negação da nossa resistência e do nosso direito”, afirma.

Um movimento plural por respeito e justiça

A Marcha das Mulheres Negras é um movimento fundamental de luta, com uma capacidade ímpar de articulação. Os 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal, estão representados em sua organização.

Outro aspecto essencial é a diversidade de interseccionalidades que unem essas mulheres. Elas são da cidade, do campo, quilombolas, ribeirinhas, acadêmicas, trabalhadoras de todas as faixas etárias – todas com o mesmo objetivo: respeito e justiça.

Segundo o Censo de 2022 do IBGE, o estado do Pará possui a quarta maior população quilombola do Brasil, com cerca de 135 mil pessoas. Uma de suas lideranças é Valéria Carneiro, integrante da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos – Malungu.

Valéria tem desempenhado um papel fundamental na articulação da Marcha das Mulheres Negras e afirma:

“A Marcha significa afirmar a luta contra o racismo, o feminicídio e toda forma de preconceito e negação de direitos que esse país nos deve. Além disso, a nossa história será contada por nós. Sabemos que temos um 2025 desafiador, principalmente por ser o ano da COP30 no Brasil. Financiamento climático é um dos temas debatidos por mulheres negras, assim como estratégias de adaptação aos impactos das mudanças climáticas. Falar sobre justiça ambiental é garantir o direito à terra e ao território”.

A Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras da Paraíba tem uma conexão direta com o Fundo Baobá em dois momentos. O primeiro é sua participação no Programa Marielle Franco, instituído pelo Baobá em 2019, quando foi selecionada pelo trabalho que desenvolve na defesa dos direitos das mulheres e no combate à violência de gênero. 

A segunda ligação está na própria Marcha das Mulheres Negras, já que o Fundo Baobá é o maior doador financeiro do evento, destinando R$ 1,25 milhão para sua realização.

Embora a Marcha seja protagonizada por mulheres, os homens também podem contribuir com a mobilização.

“Os homens podem contribuir financeiramente com a Marcha, divulgá-la, incentivar mulheres negras da sua família, da sua vizinhança e colegas de trabalho a também participarem da manifestação”, destaca Maria das Dores Almeida, a Durica, do Imena.

Saiba como participar da Marcha das Mulheres Negras neste link

Fundo Baobá doa R$ 1,25 milhão para a Marcha das Mulheres Negras 2025

Marcha das Mulheres Negras 2025

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver espera reunir um milhão de mulheres negras em Brasília (DF), no dia 25 de novembro de 2025. Esse ato político-social receberá um investimento histórico de R$ 1,25 milhão do Baobá – Fundo para Equidade Racial, garantindo apoio à mobilização, logística, articulação e engajamento de mulheres negras em todo o Brasil, com foco especial nas comunidades quilombolas.

O anúncio foi feito no início de dezembro, durante o Encontro Regional de Mulheres Negras do Nordeste, realizado em Recife (PE). Na ocasião, Caroline Almeida, Gerente de Articulação Social do Baobá, reafirmou o compromisso da organização com a luta das mulheres negras e a mobilização nacional, e destacou:

“Estamos articulando e contribuindo com as diversas frentes envolvidas nesse processo, apoiando tanto a mobilização local quanto a coordenação nacional, com um foco especial nas mulheres quilombolas, que têm um papel central nesta caminhada. Este é um esforço coletivo, com a confiança de que as mulheres negras terão voz ativa em cada etapa do processo até a grande Marcha.”

Apoio financeiro e divisão do investimento

O aporte de R$ 1,25 milhão será distribuído da seguinte forma:

R$ 350 mil – Comitê Nacional para garantir a presença de mulheres na marcha
R$ 25 mil por estado – Destinados à mobilização em todas as 27 unidades federativas
R$ 225 mil – Exclusivamente para a articulação de mulheres quilombolas.

Segundo Fernanda Lopes, Diretora de Programas do Fundo Baobá, esse apoio está alinhado às prioridades da organização, que incluem fortalecer a memória e história da população negra, gerar renda e combater o racismo e o sexismo.

Por que a Marcha das Mulheres Negras é fundamental?

Embora representem 28% da população brasileira, mulheres negras enfrentam os piores índices sociais. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública:

👉🏾 63,9% das vítimas de feminicídio no Brasil são mulheres negras
👉🏾 61,6% das vítimas de estupro têm até 13 anos e 52,2% são negras

Apesar dos desafios estruturais, são elas que estão na linha de frente da luta por justiça social e direitos humanos, enfrentando diretamente a violência do sistema carcerário, a criminalização das populações negras e periféricas e as violações de direitos promovidas pelo Estado.

Sua atuação é essencial em movimentos por moradia digna, saúde, educação e segurança alimentar, além da defesa dos direitos territoriais de comunidades quilombolas, indígenas e tradicionais. Também desempenham um papel fundamental no fortalecimento da memória e da identidade da população negra, garantindo que suas histórias e contribuições para a sociedade brasileira sejam reconhecidas e valorizadas.

História da Marcha das Mulheres Negras

A Marcha das Mulheres Negras teve sua primeira edição em 2015, reunindo 100 mil mulheres em Brasília. O evento foi resultado de quatro anos de mobilização, iniciados em 2011, com ações em diversos estados e a formação de comitês estaduais e municipais. Esse processo fortaleceu a identidade política das mulheres negras, ampliou sua participação na esfera pública e impulsionou o crescimento de organizações femininas negras.

Um dos grandes marcos dessa mobilização foi a Carta das Mulheres Negras, documento entregue à Presidência da República e à sociedade brasileira. Nele, foram apresentados dados sobre desigualdade racial e de gênero, além de propostas para um novo pacto civilizatório baseado no conceito de Bem Viver. O documento abrange demandas por direitos urbanos, segurança pública, justiça ambiental, seguridade social, educação, cultura e outras pautas essenciais.

Desde então, as mulheres negras seguem “em marcha”, reforçando suas lutas por justiça e reparação histórica. Para a próxima edição, a expectativa é mobilizar 1 milhão de mulheres na capital federal, consolidando seu protagonismo na luta contra o racismo, o feminicídio, o genocídio da população negra e a negação dos direitos dos povos e comunidades tradicionais.

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver conta com 11 organizações em seu Comitê Nacional e se baseia em dois pilares fundamentais:

✊🏿 Bem Viver – Um modelo de sociedade que valoriza justiça social, equidade e cuidado coletivo, priorizando o bem comum em vez do individualismo. Defende a diversidade cultural, a autonomia das comunidades e uma gestão descentralizada.

✊🏿 Reparação Histórica – Uma luta por reconhecimento e justiça, exigindo reparação pelos danos da escravidão e do colonialismo. O foco está na restituição de direitos sobre o corpo, a cultura, a terra e a autonomia dos povos negros e indígenas.

A Marcha reafirma o compromisso das mulheres negras com a construção de um Brasil mais justo, igualitário e antirracista, fortalecendo redes locais, nacionais e internacionais de articulação feminista e política.

Fundo Baobá e o compromisso com a equidade racial

Sueli Carneiro, presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, destaca a relevância desse apoio:

“O Fundo Baobá foi criado com a ambição de ser um vetor fundamental para o fortalecimento da agenda racial no Brasil. Este apoio à Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver reflete nosso compromisso em tornar essa causa uma realidade concreta, reafirmando a necessidade da presença efetiva das mulheres negras nas decisões políticas e sociais. Investir nesse movimento é, para nós, uma ação estratégica rumo à justiça social.”

Além do suporte financeiro, o Fundo Baobá mobiliza outros atores da sociedade civil, ampliando a força da Marcha e garantindo sua realização em 2025.

O apoio à Marcha das Mulheres Negras 2025 representa um avanço significativo na luta por equidade racial, direitos humanos e justiça social. Com esse investimento, a organização reafirma seu compromisso com o fortalecimento da democracia e a defesa dos direitos das mulheres negras no Brasil.

📢 Acompanhe as atualizações da Marcha das Mulheres Negras 2025 e faça parte dessa mobilização!