Rumo à Marcha das Mulheres Negras 2025: mobilização por Reparação e Bem Viver

Rumo à Marcha das Mulheres Negras 2025: mobilização por Reparação e Bem Viver

No próximo dia 25 de novembro, milhares de mulheres negras vão se reunir para marcharem por Reparação Histórica e Bem Viver, em Brasília – DF. Marcham por uma exigência de políticas e medidas concretas que enfrentem as desigualdades raciais e sociais, que assegurem oportunidades reais para a população negra, que garantam o direito de sonhar e realizar, de envelhecer com dignidade, de acessar uma educação de qualidade, de se alimentar bem, e de ter acesso à saúde integral.

E pelo Bem Viver que representa uma proposta de organização política e social que rompe com o modelo individualista, explorador e desenvolvimentista centrado no capital, ou seja que proponha uma organização coletiva para a ascensão das mulheres negras na sociedade em todas as regiões do Brasil.

Mulheres negras sorrindo em círculo, vistas de baixo para cima, reunidas em Recife para o planejamento do Março de Lutas em preparação para a Marcha das Mulheres Negras 2025.
Mulheres negras reunidas para o planejamento do Março de Lutas em Recife (PE)

Com o objetivo principal de denunciar as diversas formas de opressão que atingem de maneira potencializada as mulheres negras, o movimento coletivo do Março de Lutas foi criado em 2019 pelo Odara – Instituto da Mulher Negra e é construído pela Articulação de Organizações Negras Brasileiras (AMNB) e a Rede de Mulheres negras do Nordeste.

A 7ª edição reforça uma agenda coletiva dos movimentos de mulheres negras, promovendo reflexões sobre o combate ao racismo e ao patriarcado, além de propor um novo olhar sobre o 8 de março, data que marca o Dia Internacional da Mulher.

Grupo de mulheres negras sorrindo e vestindo roupas coloridas e estampadas com a campanha "Prevenção é Afeto", durante mobilização do 8M em Goiás, fortalecendo a construção da Marcha das Mulheres Negras 2025
8 de Março em Goiás

Durante o mês de março foram realizadas 167 atividades, de 83 organizações, grupos e coletivos, em 19 estados, nas 5 regiões do Brasil. Foram rodas de conversa, oficinas, festivais, seminários e outras ações que são o fio condutor desta mobilização. Todas essas atividades têm por meta  alcançar o número histórico de 1 milhão de mulheres negras nas ruas da capital federal. Costurando experiências, saberes e resistências por todo o país, este ano, o chamado ganha ainda mais potência, direcionando os passos rumo à marcha.

Mulheres dos centros e dos quilombos; das universidades e das escolas primárias; atletas; artistas; profissionais da educação e da comunicação; engenheiras; cientistas; motoristas de aplicativos; agricultoras; donas de casa; empreendedoras; trabalhadoras do campo e da cidade; cristãs e candomblecistas; religiosas ou não; entre outras. 

Mulheres negras reunidas em círculo sob árvores, em uma roda de conversa no Quilombo do Cedro, em Mineiros (GO), como parte das articulações para a Marcha das Mulheres Negras 2025.
Reunião de mulheres negras no Quilombo do Cedro, em Mineiros (GO)

Para Maria Conceição Costa, a Ceça, uma das integrantes da Coordenação Nacional do Comitê impulsor da Marcha das Mulheres Negras, a marcha cumpriu o seu papel em 2015 como um impulsionador para a organização dessas mulheres. Após a marcha houve um fortalecimento significativo das mulheres do Nordeste, ainda que tenham relatos de ocorrências de opressão durante a marcha.

Mulheres negras seguram faixa da Marcha das Mulheres Negras 2025 durante o carnaval de São Luís (MA), reafirmando a luta por reparação histórica e bem viver em meio à celebração popular.
 Mulheres negras presentes no carnaval de São Luís (MA)

“É importante fortalecer não só as capitais para 2025, mas um número maior de cidades e os interiores Brasil afora, pois a realidade das mulheres negras ainda é muito crítica. São elas as que mais morrem pela ausência de saúde, são as que mais choram pelos seus filhos assassinados pela violência do estado, são as mais perseguidas por conta da sua fé, das suas guias, e as que mais sofrem violência obstétrica”, afirma Ceça.

Para mais informações sobre a Marcha das Mulheres Negras 2025, acesse o Instagram da Marcha das Mulheres Negras.

Participantes da primeira Marcha das Mulheres Negras esperam edição histórica em 2025 

Para 2025, são esperadas um milhão delas, lotando as ruas de Brasília na segunda edição da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver.

Novembro de 2025 pode entrar para a história como o mês do protagonismo das mulheres negras no Brasil. São esperadas um milhão delas, lotando as ruas de Brasília na segunda edição da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver.

A primeira edição aconteceu em novembro de 2015, também na capital do país. Uma década mais tarde, o evento busca representatividade internacional, com a presença de países da América Latina, África e Caribe.

A Marcha das Mulheres Negras será uma grande reivindicação por direitos inegociáveis, que já deveriam ter sido garantidos há séculos às mulheres negras. São questões fundamentais da dignidade humana, como a garantia de direitos econômicos e sociais, o combate à violência, a promoção da igualdade racial, a valorização dos saberes da cultura afro-brasileira e o acesso pleno à saúde e à educação, entre outros.

Maria das Dores Almeida, a Durica, faz parte do Instituto de Mulheres Negras do Amapá (Imena) e integra a Articulação de Organizações de Mulheres Negras (AMNB). Ela participou da primeira Marcha em 2015 e define a importância do que a segunda edição pretende alcançar:

“Participar da Marcha significa fazer parte de um dos momentos mais importantes da história do Brasil, principalmente porque nós estamos lutando por um novo projeto político de nação”, diz.

O que Durica enaltece é reafirmado por Durvalina Rodrigues, integrante da Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras da Paraíba:

“Quando a gente fala de reparação e bem viver, a gente tá querendo um novo modelo de sociedade que nos reconheça e nos coloque no lugar devido – e não em um lugar de marginalização, de subalternização, de negação da nossa resistência e do nosso direito”, afirma.

Um movimento plural por respeito e justiça

A Marcha das Mulheres Negras é um movimento fundamental de luta, com uma capacidade ímpar de articulação. Os 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal, estão representados em sua organização.

Outro aspecto essencial é a diversidade de interseccionalidades que unem essas mulheres. Elas são da cidade, do campo, quilombolas, ribeirinhas, acadêmicas, trabalhadoras de todas as faixas etárias – todas com o mesmo objetivo: respeito e justiça.

Segundo o Censo de 2022 do IBGE, o estado do Pará possui a quarta maior população quilombola do Brasil, com cerca de 135 mil pessoas. Uma de suas lideranças é Valéria Carneiro, integrante da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos – Malungu.

Valéria tem desempenhado um papel fundamental na articulação da Marcha das Mulheres Negras e afirma:

“A Marcha significa afirmar a luta contra o racismo, o feminicídio e toda forma de preconceito e negação de direitos que esse país nos deve. Além disso, a nossa história será contada por nós. Sabemos que temos um 2025 desafiador, principalmente por ser o ano da COP30 no Brasil. Financiamento climático é um dos temas debatidos por mulheres negras, assim como estratégias de adaptação aos impactos das mudanças climáticas. Falar sobre justiça ambiental é garantir o direito à terra e ao território”.

A Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras da Paraíba tem uma conexão direta com o Fundo Baobá em dois momentos. O primeiro é sua participação no Programa Marielle Franco, instituído pelo Baobá em 2019, quando foi selecionada pelo trabalho que desenvolve na defesa dos direitos das mulheres e no combate à violência de gênero. 

A segunda ligação está na própria Marcha das Mulheres Negras, já que o Fundo Baobá é o maior doador financeiro do evento, destinando R$ 1,25 milhão para sua realização.

Embora a Marcha seja protagonizada por mulheres, os homens também podem contribuir com a mobilização.

“Os homens podem contribuir financeiramente com a Marcha, divulgá-la, incentivar mulheres negras da sua família, da sua vizinhança e colegas de trabalho a também participarem da manifestação”, destaca Maria das Dores Almeida, a Durica, do Imena.

Saiba como participar da Marcha das Mulheres Negras neste link