SPD celebra 193 anos de história, resistência e fortalecimento institucional

Em 16 de setembro, a Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) completou 193 anos de fundação. Criada em 1832, em Salvador, a instituição é um marco da resistência negra no Brasil e um símbolo de organização coletiva, solidariedade e luta por liberdade e justiça social. A SPD nasceu em um período escravocrata, quando negros e negras libertos decidiram unir esforços para garantir a liberdade de outros ainda em situação de escravização.

Assim surgiu o sistema de cotização, uma forma de contribuição coletiva para a compra de alforrias (cartas expedidas por proprietários de pessoas escravizadas decretando a liberdade deles). Esse movimento coletivo deu origem a uma das primeiras experiências de cooperativismo e autogestão negra de que se tem notícia no Brasil. Desde então, a Sociedade Protetora dos Desvalidos tem mantido sua independência financeira e institucional, atuando sem apoio governamental direto.

Em 2023, a SPD recebeu um impulso decisivo para sua modernização e sustentabilidade. Por meio de uma doação de R$500 mil do Baobá – Fundo para Equidade Racial, a entidade iniciou um processo de reestruturação administrativa e fortalecimento institucional, sem abrir mão de sua autonomia e de seus valores históricos.

O apoio foi um reconhecimento ao papel histórico da SPD e buscou ampliar sua capacidade de atuação, fortalecendo ações como o espaço terapêutico para mulheres, a Casa de Angola, local que acolhe estudantes africanos que vêm estudar no Brasil, além de outras iniciativas sociais e educativas voltadas à promoção da equidade racial.

Para Camila Carvalho, assistente de projetos do Fundo Baobá, as transformações ocorridas na SPD são um reflexo direto de seu compromisso com a preservação da memória e com a modernização da gestão. “Dentre as mudanças indicadas pelos próprios membros da SPD, podemos destacar o  ambiente de trabalho mais colaborativo, a melhoria da área administrativa e o impacto positivo nas questões contábeis e fiscais que fortaleceram a gestão da instituição, possibilitando o alcance de novas oportunidades de crescimento e fortalecimento, além do aumento da visibilidade da organização, proporcionando novos cenários promissores”, diz. 

A partir da parceria com o Fundo Baobá, a SPD passou a investir na capacitação de sua equipe, no planejamento estratégico e na reorganização dos processos administrativos. As melhorias se refletem no clima organizacional, nas receitas e na eficiência operacional. As transformações também ampliaram a presença da SPD em debates sobre inclusão racial e justiça social, com novas campanhas educativas e ações de conscientização.

Caroline Almeida, gerente de articulação social do Fundo Baobá, acompanha de perto a trajetória da SPD e afirma que tem sido uma experiência inspiradora e educativa: “É muito bom acompanhar, agora ainda mais de perto, devido à parceria com o Fundo Baobá, como a Sociedade Protetora dos Desvalidos vem mantendo suas tradições e a coerência institucional ao longo do tempo. A trajetória da SPD é marcada pela resistência, pela organização coletiva e pela fidelidade a um propósito que atravessa quase dois séculos”, afirma. 

Caroline destaca que o processo de reorganização foi conduzido com responsabilidade e respeito aos princípios da fundação da SPD: “A confiança estabelecida entre as instituições permitiu que a SPD conduzisse, com serenidade, disciplina e retidão, um processo cuidadoso de reorganização da sua gestão, criando bases mais sólidas para as transformações que se seguiram. Sem perder de vista seus valores fundadores, a organização tem alinhado tradição e modernização, dando um grande exemplo de comprometimento com sua missão e seu propósito.”

Ela conclui afirmando que celebrar os 193 anos da SPD é também celebrar o futuro. “Para o Fundo Baobá, é uma honra caminhar ao lado de uma organização histórica que segue inspirando gerações, reafirmando a importância da autogestão e da autonomia negra. Celebrar os 193 anos da SPD é, também, celebrar a continuidade dessa parceria que simboliza reconexão, enraizamento e futuro”, celebra. 

Crédito das fotos: Shai Andrade

Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) caminha para 193 anos de história como símbolo da resistência negra no Brasil

Organização de quase dois séculos surgiu na Bahia para comprar a liberdade dos escravizados e hoje conta com o apoio do Fundo Baobá.

O dia 16 de setembro de 2025 marcará o aniversário de uma longeva e importante organização negra brasileira, a SPD (Sociedade Protetora dos Desvalidos). Criada em 1832 e prestes a completar 193 anos, nasceu sobre os alicerces do enfrentamento ao racismo, promoção da liberdade religiosa e justiça social. Um dos marcos da luta contra a escravidão no Brasil, a SPD sobreviveu graças ao espírito de cooperativismo que moveu o povo negro na busca pela liberdade.

Na prática, pessoas negras libertas criaram uma forma coletiva de garantir a liberdade de outras ainda escravizadas. A solução para isso foi a cotização: cada pessoa contribuía com o que podia para comprar alforrias.

Desde sua fundação, a SPD atua sem ter dependido de verba pública para sua manutenção. Neilto Barreto, presidente da Assembleia Geral da SPD, destacou esse legado:

“Em todo esse período, nunca dependemos de apoio governamental, seja municipal, estadual ou federal, desde 1832”, declarou Barreto, que estará à frente da organização até 2027.”

Esse quadro mudou em 2023, depois de uma ação do Baobá – Fundo para Equidade Racial. A Sociedade Protetora dos Desvalidos recebeu a doação de R$ 500 mil como forma de contribuição estratégica para o seu desenvolvimento institucional.

A doação do Fundo Baobá veio para fortalecer uma organização negra de quase dois séculos de história, reconhecendo sua trajetória no enfrentamento às desigualdades. O apoio teve como objetivo ampliar sua capacidade de atuação e sustentabilidade, valorizando iniciativas como a manutenção do espaço terapêutico para mulheres, a Casa de Angola — que acolhe estudantes africanos — e outras ações sociais desenvolvidas ao longo do tempo.

Após receber essa doação de R$ 500 mil, a SPD passou por importantes transformações que fortaleceram sua atuação e ampliaram seu impacto social.

“As mudanças observadas pela própria organização demonstram de maneira muito nítida o comprometimento com o resgate e manutenção da memória institucional. Isso é facilmente identificado quando observamos as movimentações feitas pela gestão, não só em executar as ações planejadas para atingir seus objetivos, mas também de ajustar e adequar suas rotas, olhando sempre para caminhos que levem ao fortalecimento institucional”, afirma Camila Carvalho, Assistente de Projetos no Fundo Baobá.

O momento atual da Sociedade Protetora dos Desvalidos é marcado pelo fortalecimento de sua equipe, com foco na ampliação de saberes e capacidades.

“A instituição investiu na capacitação de sua equipe e na implementação de novas estratégias de inclusão racial, promovendo uma abordagem mais abrangente e efetiva na luta contra a desigualdade. Essa parceria também possibilitou a realização de campanhas de conscientização e ações educativas, contribuindo para uma sociedade mais justa e igualitária”, diz Camila.

Planejamento estratégico e renovação geracional

O apoio do Fundo Baobá tem sido fundamental para impulsionar a SPD rumo a uma atuação mais sólida e transformadora, reafirmando seu compromisso com a defesa dos direitos e a promoção da equidade racial. 

Olhando pelo lado prático, a adoção do planejamento estratégico e a reorganização dos processos administrativos, que impactaram positivamente as receitas, melhoraram os fluxos de trabalho e o clima organizacional. Agora, a meta é ampliar a diversidade geracional na organização.

“Nosso maior desafio é a renovação. A juventude precisa se conscientizar da importância de se juntar a nós”, afirmou Ligia Margarida Gomes, da direção da SPD.

Por fim, a preservação da memória foi algo também proporcionado pela ajuda oferecida à Sociedade Protetora dos Desvalidos pelo Fundo Baobá. Em sua sede, no Pelourinho, em Salvador, o mobiliário é remanescente do século XIX. Esse mobiliário foi restaurado como uma forma de conservar a história que carrega.