NEGRAS POTÊNCIAS

Apoio: Benfeitoria, Instituto Coca-Cola Brasil e Movimento Coletivo.

Âmbito: nacional

A partir do Negras Potências, o Fundo Baobá para Equidade Racial e parceiros buscaram construir um mecanismo diferente de investimento social privado em organizações negras.

Lançado em fevereiro de 2018, o edital apoiou iniciativas e soluções de impacto que contribuem para o empoderamento de meninas e mulheres negras e que ajudam na visibilidade de agentes da sociedade civil que estão pensando e produzindo para a mudança no cenário nacional, focados na redução das desigualdades raciais e sociais.

16 iniciativas selecionadas receberam suporte e orientação da Benfeitoria para lançarem suas respectivas campanhas de financiamento coletivo. Para cada R$ 1 arrecadado através de apoiadores/ as individuais, o Movimento Coletivo contribui com mais R$ 2, até que a meta mínima – entre R$10 mil e R$100 mil – do projeto fosse atingida. Um terço do valor deveria ser captado via financiamento coletivo e os dois terços restantes sairiam do fundo do Movimento Coletivo. Caso o projeto atingisse a meta, o/a realizador/a receberia todo o recurso e entregaria as recompensas a s pessoas que colaboraram. Caso contrário, todo o valor seria estornado aos apoiadores. 13 iniciativas atingiram a meta e realizaram seus projetos. Contaram com mais de 1.200 apoiadores que fizeram com que as iniciativas de fortalecimento da luta de meninas e mulheres negras saísse do papel.

ORGANIZAÇÕES / PROJETOS APOIADOS

O projeto desenvolveu ações voltadas para a transmissão de conhecimento de ferramentas de gestão e alavancagem de negócios como Marketing Digital e Modelagem de Negócios para mulheres negras, empreendedoras em diversas fases da vida, da juventude até a maioridade. Buscou a democratização do ensino de tecnologias a partir do uso de uma metodologia própria, cujo processo foi impulsionado pelo edital.

“É muito bom sermos amparadas por um Fundo de apoio a projetos e iniciativas em prol da equidade racial e que tem como um dos seus eixos centrais, o apoio às mulheres negras, que trata os projetos com a dignidade, atenção e profissionalismo necessários” Nina Silva, idealizadora
“Com o Movimento, a gente desenvolve senso de comunidade, de identidade e de consumo intencional. É muito importante termos projetos como esse para nos lembrar que é possível viver com dignidade, é possível resgatar nossa humanidade e realeza, mesmo depois de anos vivendo como escravizados. Receber investimentos nos faz alcançar escala para o Projeto. Dessa forma, mais vidas negras são impactadas” Simara Conceição, monitora de marketing digital do projeto, aluna de modelagem de negócios, tornou-se programadora após o curso realizado pelo projeto.

O projeto buscou fortalecer as habilidades empresariais de mulheres negras a partir de um processo de autoconhecimento voltado para o aprimoramento da sua capacidade decisória. O Projeto Afrolab evoluiu e possibilitou o desenvolvimento de uma metodologia própria, pautada nos saberes ancestrais da população negra, cocriada por muitas mãos, além da possibilidade de escala e replicabilidade em formato de franquia social, abertura de novos mercados para escoamento da produção e atuação em rede.

O projeto impactou diretamente mais de 100 famílias de diferentes lugares do país.

“Tudo começa com o processo de autoconhecimento. Para que os empreendedores possam trazer autenticidade para cada produto, é preciso que saibam quem são, quais são as histórias de potência da população negra no Brasil. No final, todos têm a chance de refletir sobre a própria vocação e como isso pode fortalecer a produção. A partir daí, cria-se um plano estratégico de sustentação para o negócio. O Afrolab atua nesse cenário, apoiando esses projetos de empreendedorismo” Adriana Barbosa, uma das criadoras da metodologia do projeto.
“Muito do projeto é reflexo das dificuldades que vivemos no mercado de trabalho por sermos mulheres negras. Essas adversidades nos geraram incômodos tão fortes que decidimos trabalhar para que outras mulheres negras não precisassem passar o que passamos e tivessem mais autonomia para escolher sobre suas carreiras”
“O Fundo Baobá possibilitou encontros com outras iniciativas que foram selecionadas e isso gerou momentos riquíssimos de trocas para nós.”
“Consideramos que o suporte do Fundo Baobá para o nosso aprendizado, desenvolvimento e independência como coletivo. (…). Agora temos consciência de como somos potentes e somos muito gratas pelo primeiro investimento que permitiu tirar nossas ideias do papel.” Gabriella Safe, uma das idealizadoras do projeto Afroricas.

O projeto nasceu para mostrar referências de profissionais negras realizadas com suas escolhas e que também vivem essa busca constante por desenvolvimento e evolução. Desenvolveu conteúdos gratuitos, didáticos, populares e atemporais (veiculados no Youtube e Instagram) sobre desenvolvimento profissional e pessoal para mulheres negras, trabalhando em parceria com outras iniciativas e instituições para a divulgação de oportunidades e ações afirmativas voltadas para esse grupo populacional.

Teve como proposta a inserção da identidade étnica e racial, de maneira positiva, no universo infantil feminino através de brinquedos, bonecas, que reflitam a estética negra. O projeto foi realizado em 12 escolas públicas, onde ocorreram contações de história e foram distribuídos gratuitamente 120 brinquedos. As atividades alcançaram 4366 crianças de Salvador e Lauro de Freitas/ BA.

“É muito importante quando a gente vê uma criança se reconhecer no brinquedo… ter outros modelos, que não o da pobreza, da violência, e saber que a pele negra, tão negada e excluída, também tem uma história linda” Georgia Nunes, idealizadora do projeto Amora Brinquedos Afirmativos (BA).
“O projeto Amora veio enriquecer, porque está ratificando a importância de afirmar a identidade da nossa cidade de Salvador. A maioria da nossa população é negra e a gente precisa ter consciência da nossa responsabilidade, da nossa identidade.” Noêmia Góes, coordenadora pedagógica da Escola Municipal Fonte do Capim, que recebeu o projeto.

O Projeto Casa das Pretas é uma atividade de grande alcance. Em dois anos alcançou diretamente em torno de 1000 pessoas – 99% de mulheres negras –, impactando a comunidade negra do Rio de Janeiro. O projeto visou o fortalecimento político e econômico das mulheres negras para impactar na redução das violências de gênero e na situação de desigualdade econômica experienciada por elas. Realizou atividades como oficinas de fomento à economia solidária; rodas de estudo e leitura sobre feminismo negro; cursos para desenvolvimento acadêmico (preparação para o mestrado e doutorado); cursos de dança e percussão; todos voltados para o público feminino negro. Observou-se o desenvolvimento de habilidades nos temas dos cursos: vídeo- -documentário, feminismo negro, percussão, danças africanas e desenho e grafite em mural.

“A Casa das Pretas está aberta a todos que estão/ são comprometidos com a luta antirracista e com defesa dos direitos humanos das mulheres negras”
“Tivemos sempre a casa lotada, com muitas mulheres ansiosas por conhecer, debater, fazer cursos, dançar, trabalhar a cultura. Foi um projeto que causou um grande impacto na cidade do Rio de Janeiro” Edmeire Exaltação, idealizadora.
“O espaço que dão para as mulheres pretas é incrível… Pude levar minha sobrinha e foi importante para mim, porque têm surgido diversas questões que não sei lidar e lá tive apoio e ensinamento a partir dos depoimentos de outras mulheres” Jéssica do Carmo, de 24 anos, participante dos encontros do Circuladô de Oyá (SP) na Uneafro” Jéssica do Carmo, de 24 anos, participante dos encontros do Circuladô de Oyá (SP) na Uneafro.

O projeto nasceu da necessidade de compreender os motivos que levam jovens negras a desistirem do cursinho pré-vestibular oferecido pela organização. Com o objetivo de fomentar a discussão da discriminação interseccional de gênero, raça e classe que atinge as mulheres negras, foram realizados encontros, em 29 dos 32 núcleos da Uneafro em 2019, e um encontro geral que reuniu 50 mulheres negras, em Mogi das Cruzes/SP. Ao todo, 540 estudantes e 35 coordenadoras de núcleos participaram das atividades do projeto. A expectativa para 2020 é que os encontros do Circuladô estejam no cronograma de todos os núcleos. Há também a proposta de um curso de formação permanente voltado para as jovens negras. Além de tornar possível a permanência das alunas nos cursinhos preparatórios, os encontros de formação nos Núcleos de Educação Popular da Uneafro Brasil têm como objetivo criar uma rede de fortalecimento que capacite e empodere as estudantes negras para a atuação política social nas comunidades e nas relações sociais.

O grafite e o hip hop são agentes de cultura e cidadania no projeto Cores do Amanhã, que atua há mais de dez anos na Comunidade do Totó, em Recife/PE. O espaço cultural atende crianças, jovens e adultos em mais de 20 oficinas culturais e esportivas, além de desenvolver um trabalho especificamente voltado para mulheres, focado no empoderamento e no combate à violência.

Em novembro de 2018 aconteceu o evento mais importante da instituição, o VII Encontro Cores Femininas, que reúne diversas artistas, grafiteiras e mulheres do hip hop de todo o país. Com a ajuda do edital, foi possível melhorar o espaço e adquirir materiais para os workshops e as vivências planejadas para o evento, que incluem troca de experiências, conscientização para o enfrentamento das várias formas de violência e para adquirir autonomia financeira.

As atividades ocorreram de forma muito positiva, com a participação média de 25 a 30 mulheres, porém com registro de momentos com até 50 mulheres. Houve a participação de uma jovem negra trans e a alegria de poder trocar experiências e fortalecer sua luta.

 Como resultado, as participantes das vivências continuam a se encontrar e se apoiam em situaçõ es cotidianas.

“É um projeto político, é uma arte política. A importância de ter só mulher preta na produção e no elenco, acho que fez toda a diferença. A relação interpessoal e o desenrolar também foi único.” Bárbara Assis, atriz e participante do documentário.
“Acredito que o documentário nos ajudou a protagonizar nossas narrativas…. Sem esse apoio o projeto não teria acontecido e não teria ganho o peso e a amplitude que ele ganhou (…). O Fundo foi a primeira instituição que nos concedeu recursos, que confiou no nosso trabalho. Precisou que um Fundo gerido por pessoas negras, preocupado com a luta antirracista, chegasse até nós e à nossa militância, para viabilizar esse projeto.” Quézia Lopes, criadora do documentário Corpos Invisíveis.

Corpos Invisíveis é um longa metragem que discute temas como racismo, seu aspecto estruturante das relações sociais no Brasil, da invisibilização e inviabilização das mulheres negras em uma sociedade machista. O documentário ouviu histórias de mulheres pretas e pardas e suas lutas contra o machismo, o sexismo e o racismo e possibilitou a discussão sobre formas, através da arte, de tirar a mulher negra da invisibilidade.

Realizado por 22 mulheres negras e para mulheres negras, o documentário teve bastante adesão e fomentou discussões acerca de questões humanitárias urgentes na sociedade: construção de narrativas, afetos, cura, sororidade e quilombagem. Desse modo, atestou a potência em se comunicar com meninas e mulheres negras. Todas as mulheres que ingressaram na equipe técnica do filme e no elenco relataram que se identificaram com as questões abordadas no roteiro do filme, seja em suas histórias de vida ou de suas mães e avós.

O projeto teve por objetivo o fomento de capacidades técnicas que possibilitaram a inserção de mulheres negras no mercado de trabalho, através de oficinas de costura. 10 mulheres negras em situação de vulnerabilidade social do bairro de Sarandi, em Porto Alegre/RS participaram das oficinas de corte e costura e customização, promovidas, durante 6 meses. Com a execução do projeto, a instituição ganhou mais visibilidade, ao ponto de criarem uma loja virtual de alcance nacional para divulgar os produtos.

“Não era só o apoio financeiro, era o apoio emocional que me faltava naquele momento. O projeto me salvou de um poço de dor profunda” Maria Lopes, participante das oficinas de corte e costura do projeto.
“O investimento foi de suma importância para realização do projeto, oportunizando a essas mulheres negras mostrarem suas potencialidades, para saberem que outro caminho é possível.” Vera Lúcia Cintra, diretora da ONG.
“Os trabalhos realizados através do edital colaboram com a constituição de novas modelagens para a atuação das Doulas dentro da atenção primária à Saúde. Muito do que se referencia sobre doulas tem um olhar sobre o trabalho de parto em si, com o suporte realizado neste momento” Morgana Eneile, que dirige a associação.

O projeto teve por objetivo promover o acesso à informação de qualidade sobre gestação, parto e puerpério, salientando a questão da violência obstétrica vivenciada por mulheres. O acompanhamento presencial por doulas para mulheres em situação de privação de liberdade também foi uma das ações realizadas. O projeto foi implementado nas Clínicas da Família na Zona Oeste do Rio de Janeiro, especificamente em Realengo, com a atuação em atividades coletivas de gestantes em atenção pré-natal. Ao mesmo tempo, foi articulada uma cooperação com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, através da Coordenação de Direitos da Mulher, para elaboração e publicação de uma cartilha de Direitos e um mecanismo de acompanhamento de denúncias. O projeto abriu outras portas para a instituição de mais construções para mulheres que não tinham oportunidade de acessar outras modelagens de atenção perinatal, baseadas em atividades coletivas.

Através da articulação com professoras e pesquisadoras negras brasileiras, o projeto fomenta o interesse de meninas negras pelas áreas das ciências exatas no campo do conhecimento, reconhecendo a carência de representatividade negra e feminina. Para sua 4a edição, contou com o apoio do Edital Negras Potências.

O projeto surge da parceria entre o Laboratório de Pesquisa em Educação Química e Inclusão – LPEQI da UFG Universidade Federal de Goiás e o Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado, e atua na aproximação entre as estudantes e as práticas científicas por meio de ações direcionadas em laboratórios de química. Visibiliza práticas, pesquisas e histórias de vida realizando entrevistas com as cientistas brasileiras, possibilitando que elas visitem a escola parceira, destacando as suas contribuições e inspirando estudantes do ensino médio a seguirem as carreiras das exatas e científicas. Em março de 2019, um encontro presencial entre as estudantes do ensino médio e pesquisadoras negras na cidade de Goiânia/ GO e impactou diretamente 150 alunas/os do Colégio Estadual Solon Amaral.

“O investimento do Negras Potências nos mostra que ainda tem financiadores que acreditam nas ONGs e fazem doações para melhorar a formação e disseminar informação sobre boas práticas pedagógicas” Deuzilia Pereira da Cruz , coordenadora geral.
“Com as aulas ministradas e as conversas que tivemos, consegui me encontrar como uma mulher que sonha produzir Ciências. Com a ajuda do ‘Investiga, Menina!’, mantenho esse sonho vivo dentro de mim. Antes de ser apresentada ao projeto, confesso que estava confusa quanto ao meu futuro, entretanto após o projeto posso afirmar, com toda certeza, que a carreira científica é o que quero para mim” Clarissa Alves Bernardes, estudante e participante do projeto.

O projeto propôs a produção de publicação especializada em arquitetura e urbanismo a fim de dar visibilidade ao trabalho e o contexto social no qual se dá o trabalho de mulheres negras que atuam na profissão.

 

O lançamento da publicação do 1o volume da revista Arquitetas Negras aconteceu em agosto de 2019. O conteúdo foi construído de forma colaborativa, por meio de uma chamada de projetos a serem publicados. A partir da publicação, foi realizado junto ao SESC Pinheiros, em São Paulo/SP, o evento “Mulheres Negras na Arquitetura: Pioneirismo e Contemporaneidade”, com três mesas de debate e uma maratona de projetos. O projeto recebeu diversos relatos contando o quanto foi essencial descobrir o Arquitetas Negras na trajetória de estudantes ou mulheres negras formadas – pela primeira vez, essas mulheres se sentiram representadas nas suas profissões.

“Sempre fui uma pessoa interessada na luta pelos direitos humanos, mais especificamente ligados ao movimento negro. Participei de encontros, diretórios e redes, mas sempre tive a impressão de que não estava contribuindo para mudanças estruturais no meu campo de conhecimento. Com o Projeto Arquitetas Negras hoje eu sinto que estamos todas juntas, unindo nossas forças para mudarmos nossa realidade social” Gabriela Mattos, idealizadora.
“O projeto surgiu para promover o debate de raça e gênero na arquitetura e no urbanismo. Entretanto, gerou uma rede com cerca de 400 arquitetas negras cadastradas, nos levando a pensar em mais ações para prestar serviços de responsabilidade social. Isso mostra que nossa profissão tem uma função social, nós não queremos só mudar nossa área, queremos juntas modificar as estruturas da nossa sociedade” Gabriela Mattos, idealizadora.

 

Outro resultado expressivo é a visibilidade gerada a partir do projeto. Em 2018, Gabriela Mattos (idealizadora) e Bárbara Oliveira (participante) foram convidadas para falar sobre o projeto no Casa Vogue Experience, evento de workshops e palestras da Casa Vogue. Em 2019, Gabriela recebeu convite para divulgar o projeto no Congresso Natural de Arquitetura e na IV Cham International Conference, evento sobre diáspora africana que aconteceu em Julho de 2019, em Lisboa.

Através de um espetáculo denominado Flores Fortes, composto apenas por mulheres circenses, o projeto foi criado para conscientizar mulheres jovens e adolescentes sobre as diversas formas agressão contra as mulheres e as possíveis formas de defesa das mesmas na sociedade, trabalhando com o conceito de sororidade.

A montagem de espetáculo artístico, circo-teatro, foi apresentada em escolas públicas de ensino médio na periferia da cidade de Recife com o objetivo de mobilizar mulheres jovens articulando-as para que enfrentem as violências experienciadas por este público naquela região.


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