Programa de Aceleração Marielle Franco inspira lideranças femininas ao engajamento proposto pelo Dia Internacional contra a Discriminação Racial

“Nós, mulheres negras, somos a vanguarda do movimento feminista nesse país. Nós, povo negro, somos a vanguarda das lutas sociais deste país,  porque somos os que sempre ficaram para trás, aquelas e aqueles para os quais nunca houve um projeto real e efetivo de integração social.”  A frase da filósofa, escritora, ativista do movimento negro brasileiro, diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra e uma das fundadoras do Fundo Baobá para Equidade Racial, Sueli Carneiro, retrata de forma fiel o que tem marcado, ao longo da história, a busca pelos direitos de igualdade na sociedade brasileira..

As mulheres têm tido papel preponderante nessa busca, pois além de se posicionarem e lutarem pelos direitos de todas, todos, todes , têm buscado e alcançado vitórias, mas ainda há muito a conquistar contra o racismo estrutural e a desigualdade social. 

O Dia Internacional contra a Discriminação Racial foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ser uma espécie de lembrete pela conscientização contra o racismo em todo 21 de março. Ele tem origem a partir do massacre ocorrido em Shaperville (Joanesburgo), na África do Sul, também em  21 de março, mas em 1960. A população negra saiu às ruas protestando contra a Lei do Passe, que a obrigava a só circular apenas por locais pré-determinados. Mesmo sendo uma ação pacífica, a polícia sul-africana abriu fogo contra os manifestantes. Morreram 69 pessoas, mulheres e homens, e outras 186 ficaram feridas. Essa é a informação oficial. Os números podem ser bem maiores. 

O racismo anda de mãos dadas com a morte, pactua com a violência e é amigo íntimo da opressão. Sempre foi assim. Continua sendo assim no mundo moderno. A conscientização relacionada ao respeito ao outro, independentemente de sua cor, religião, raça, orientação sexual ou identidade de gênero ainda não contagiou toda a  humanidade. Mas sua influência está crescendo. As manifestações ocorridas ao redor do mundo após a morte do negro norte-americano George Floyd e da negra norte-americana Breonna Taylor, ambos assassinados por policiais, lançam uma luz de esperança na busca por uma sociedade em que a equidade racial seja exercida por todos, todas e todes. 

George Floyd e Breonna Taylor, ambos assassinados nos Estados Unidos

Lucia Xavier, assistente social, ativista dos direitos humanos no Brasil,  coordenadora-geral do Criola, organização social que trabalha na defesa dos direitos das mulheres negras, afirma que o racismo impede toda forma de desenvolvimento. “Enquanto houver racismo não haverá democracia. Para que a população negra alcance a equidade faz-se necessário enfrentar o racismo, a discriminação racial e as formas correlatas de intolerância, efetivando direitos e estabelecendo políticas de ações afirmativas para dirimir as desigualdades. Além de alcançar o acesso e a participação nos espaços de decisão e deliberação”, disse. 

Lucia Xavier, assistente social, ativista dos direitos humanos no Brasil,  coordenadora-geral do Criola

Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco

A fala de Lucia Xavier remete ao que foi escrito e dito pela administradora, doutora em Ciências Sociais e também fundadora do Fundo Baobá, Luiza Bairros: “Não se trata mais de ficarmos o tempo todo implorando, digamos assim, para que os setores levem em conta nossas questões, que abram espaços para que o negro possa participar. Essa fase efetivamente acabou. Daqui para a frente, vamos construir nossas próprias alternativas e, a partir dessas alternativas, criar para o povo negro como um todo no Brasil uma referência positiva”. Se estivesse viva, Luiza Bairros teria completado 63 anos de idade no dia 27 de março.

O Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco , lançado pelo Fundo Baobá em 2019 em parceria com a Ford Foundation, Open Society Foundations, Instituto Ibirapitanga e W.K. Kellogg Foundation, surge à luz da alteração. O principal objetivo do Programa de Aceleração é ampliar a participação e consolidar mulheres negras cis e trans em posições de poder e influência, através de investimento em suas formações políticas e técnicas. 

As ações desenvolvidas pelo Programa de Aceleração foram a sustentação para que a professora de Comunicação e Empreendedorismo, gerente de projetos e co-fundadora do projeto Ecociclo, a baiana Hellen Caroline dos Santos Sousa, colocasse suas ideias na rua e com muito sucesso. A Ecociclo foi criada a partir da ideia de desenvolvimento de um absorvente 100% biodegradável e brasileiro. “Em 2019 a Universidade de Michigan (EUA) nos convidou para apresentar lá o nosso plano de negócios”, disse Hellen. Além do desenvolvimento do Ecociclo, o apoio do Marielle Franco fez surgir uma nova Hellen Caroline. “O trabalho do Fundo Baobá tem sido justo, maravilhoso e honesto. É a primeira vez que o Brasil tem algo tratado com tanto cuidado, como tem que ser para nós, mulheres pretas. Algo que nos dá ferramentas e a oportunidade de escolha sobre o que fazer com essas ferramentas. Além do que, foi a primeira vez que eu pude pensar a minha vida com estratégia”, afirmou. 

Hellen Caroline dos Santos Sousa, professora de Comunicação e Empreendedorismo, gerente de projetos e co-fundadora do projeto Ecociclo

Lucia Xavier enaltece a importância do Programa Marielle Franco para o coletivo de mulheres negras brasileiras. “É uma das mais importantes iniciativas em prol das mulheres negras no Brasil. Além de ser a maior ação afirmativa para o desenvolvimento de habilidades, profissionalização, participação cívica e de empoderamento de jovens mulheres negras cis e trans. O programa traz como marca política o apoio aos projetos de vida e o fortalecimento das lideranças, transferindo também tecnologias sociais para o desenvolvimento de ações, o enfrentamento do racismo patriarcal  cis-heteronormativo”, afirmou. 

Os objetivos do Programa de Aceleração Marielle Franco possibilitaram à pedagoga e mestra em Educação pela Universidade Federal do Acre, Sulamita Rosa, da Rede de Formação para Mulheres Negras, Indígenas e Afro-indígenas do Acre,  implementar seu PDI (plano de desenvolvimento individual).  “Trabalho com formação para enfrentar o racismo e contribuir com a inserção de mulheres negras nos espaços de poder, com foco no ambiente acadêmico”, disse. Desde que iniciou seu trabalho, a proximidade e a influência sobre outras mulheres têm sido suas maiores conquistas. “O reconhecimento das outras mulheres e os feedbacks com relação a continuar nesse meu sonho têm me incentivado muito”, revela.

Sulamita Rosa, pedagoga e mestra em Educação pela Universidade Federal do Acre e integrante da Rede de Formação para Mulheres Negras, Indígenas e Afro-indígenas do Acre

 

Combate às questões de vulnerabilidade

No contexto do Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, a luta das mulheres tem foco também no combate ao sexismo e outras questões que as colocam em situação de vulnerabilidade. Lucia Xavier cita a Carta das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver como o guia nessa luta. “Na carta, o movimento de mulheres negras declara as diferentes reivindicações no campo dos direitos, mas entra também nas possibilidades de inverter o padrão dessa civilidade que convive pacificamente com o racismo e as desigualdades raciais”, argumenta.  Já em termos de avanços, Xavier fala dos diferentes focos nos quais as futuras conquistas estão centradas: “As estratégias políticas adotadas para enfrentar o racismo patriarcal cis-heteronormativo são aquelas relacionadas à incidência política por direitos; o fortalecimento das mulheres negras cis e trans e suas organizações; a mobilização política; a articulação com diferentes setores da sociedade brasileira e internacional para ampliação da luta contra o racismo; a disseminação do pensamento das mulheres negras cis e trans; e a mudança do padrão  desumano, excludente, violento e hierarquizante das civilidades”, afirma.  

Ativismo antirracista

Para o escritor Oswaldo Faustino, autor de A Legião Negra – A Luta dos Afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932 e  Nei Lopes – Retratos do Brasil Negro, Shaperville marcou o início de uma grande jornada de conquistas em todas as vertentes em que ocorria a discriminação por cor, raça e sexo. “O Massacre de Shapeville é um marco não só na história da luta contra o Apartheid sul-africano, mas na própria luta antirracista e contra as discriminações de todos os gêneros no mundo todo,  em especial nos países onde a diáspora africana aconteceu em números mais expressivos. Ele mudou a postura do Congresso Nacional Africano (CNA), que pregava a não violência frente aos ataques policiais, gerou manifestações internacionais de consciência racial  e angariou solidariedade pela causa negra em povos dos cinco continentes”, afirmou Faustino.

Escritor Oswaldo Faustino

Fundo Baobá na Imprensa em Fevereiro

No dia 11 de fevereiro, o presidente do conselho deliberativo do Fundo Baobá para Equidade racial, Giovanni Harvey,  participou do “Webinar: Direitos Humanos e Empresas”, organizado pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE). Além de Giovanni, participaram do evento virtual, o presidente do IREE, Walfrido Warde, o economista e pesquisador do INSPER, Michael França, o jornalista, coordenador de direitos humanos do IREE e coordenador do Coletivo de Entidades Negras, Yuri Silva e a presidente do conselho do Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil, Luiza Trajano.

Em sua fala inicial, Giovanni Harvey citou a importância daquele evento que buscava reiterar a importância dos direitos humanos dentro de uma instituição privada: “O tema do evento é extraordinário, as empresas privadas têm um papel importantíssimo no que diz respeito às pautas sociais, elas são instituições educacionais”. Na ocasião, Giovanni fez questão de relembrar um diálogo que teve com o empresário e doutor em engenharia metalúrgica e materiais, Alfredo Laufer, na época do pensamento nacional das bases empresariais, durante a transição democrática, nos anos 1980, no qual falava da função educacional que as empresas cumpriam junto aos seus funcionários: “Muitas vezes nas empresas, os funcionários tinham acesso à condições sanitárias e de alimentação, coisas que não tinham em sua residência. E eram influenciados pela convivência no ambiente de trabalho, que essas pessoas passavam a investir nas melhorias de saúde e de vida dos seus lares”, reflete Giovanni, que ainda faz um paralelo com a atual situação: “Hoje, a pauta trabalhada dentro das empresas se ampliou e envolve questões como democracia e direitos humanos”.

Durante o webinar, ao ser questionado pelo jornalista Yuri Silva, sobre qual era o papel do estado e do setor privado no debate das pautas dos direitos humanos, Giovanni Harvey fez questão de lembrar da sua experiência profissional nos dois lados: nos entes federativos (município, estado e governo federal) em oito oportunidades diferentes, e na iniciativa privada: “Não há comparação entre a musculatura que o estado tem para formular, implementar e gerir políticas públicas de direitos humanos, em comparação com as empresas. O estado detém prerrogativas que as empresas privadas não têm. Mas, por outro lado, as empresas têm um papel fundamental nessa luta, tem um papel subsidiário, um papel educativo, um papel à partir dos seus valores, dos seus princípios, da sua capacidade de influenciar a sociedade através da publicidade e das boas práticas”, diz Giovanni, que faz questão de mencionar a importância das instituições privadas no momento atual: “No contexto como esse que nós estamos vivendo que há uma interdição do Estado, em relação a agenda de direitos humanos, as empresas tomaram para si essa responsabilidade, elas saíram de uma zona de conforto. Claro que são papéis distintos, as empresas não substituíram o Estado, elas não têm a força que o Estado tem, elas não têm a capacidade legislativa que o Estado tem, mas elas têm o papel fundamental, nessa conjuntura que o Brasil está vivendo hoje, com a interdição de segmentos importantes do Estado, as empresas adquiriram protagonismo fundamental e, graças a sociedade civil e as empresas privadas, nós estamos conseguindo manter essa agenda no momento no qual o Estado deixa a desejar como protagonista desse processo”, finaliza.

Para acompanhar o evento na íntegra, basta assistir o vídeo abaixo: 

No dia 8 de fevereiro, a doutora, filósofa, ativista, uma das fundadoras do Fundo Baobá para Equidade Racial e membro do conselho deliberativo da organização, Sueli Carneiro, foi premiada pela Associação de Estudos Latino Americano (Lasa). Em nota oficial, a entidade afirma: “A Dra. Carneiro, recebe este prêmio por sua vasta produção acadêmica centrada nas relações raciais e de gênero na sociedade brasileira, (…) bem como pelo seu destacado compromisso no âmbito das políticas educativas”.

A premiação de Sueli Carneiro foi destaque em uma matéria no portal UOL escrita pela jornalista e escritora, Bianca Santana. No texto, Bianca relembra momentos importantes da trajetória da doutora Sueli, como a publicação do seu primeiro livro “Mulher Negra: Política Governamental e a Mulher”, em 1985. A sua coordenação na pesquisa em todos os cartórios e fóruns do estado de São Paulo para identificar condenações por discriminação racial com aplicação da Lei Afonso Arinos, no ano de 1989. Além da criação do Programa de Direitos Humanos de Geledés – Instituto da Mulher Negra.

A matéria completa pode ser lida aqui.

No dia 26 de fevereiro, o portal Seu Dinheiro, fez uma matéria divulgando o evento Expert ESG, organizado pela XP Investimentos no mês seguinte, entre os dias 2 a 5 de março, reunindo os principais experts do mercado financeiro para debater investimentos sustentáveis. Entre os participantes, estava a diretora-executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, Selma Moreira, que participou do terceiro dia de evento, voltado para “governança corporativa”, discutindo como a cultura corporativa e os líderes empresariais estão migrando para um modelo mais consciente e sustentável de negócios. Neste dia, além de Selma Moreira, o Expert ESG contou com Raj Sisodia, co-fundador e co-presidente do Conscious Capitalism Inc. e professor da Babson College. Halla Tomasdottir, empresária e CEO do B Team (organização que tem liderado um movimento global para ressignificar o papel dos negócios na sociedade) e ex-candidata à Presidência da Islândia. Luis Henrique Guimarães, CEO da Cosan. Marcelo Furtado, fundador da Zscore/BlockC, membro de Conselhos e do Comitê de Sustentabilidade da Duratex e da Marfrig. Gilson Finkelsztain, CEO da B3; e Renato Franklin, CEO da Movida.

A programação completa do evento, você pode conferir aqui.

Apoiadas do Fundo Baobá são destaque na imprensa

E como não poderia ser diferente, as nossas apoiadas do Fundo Baobá ganharam mais uma vez destaque na imprensa, com as suas ações, conhecimentos e com as suas contribuições para promoção da equidade racial.

No dia 11 de fevereiro, a jornalista Midiã Noelle, apoiada do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, escreveu uma coluna para o jornal Folha de São Paulo, dando a sua opinião sobre a representatividade negra no reality show Big Brother Brasil, da Rede Globo de Televisão. No texto “BBB 21: desserviço e contribuição ao ódio racial”, Midiã traz uma reflexão de como as importantíssimas pautas raciais foram reduzidas e ridicularizadas no programa, assim como os participantes negros, em nome do entretenimento.

O texto completo, você pode ler aqui.

Por fim, outra liderança do Programa Marielle Franco também ganhou destaque na mídia em fevereiro, a liderança comunitária, integrante do coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste e do Centro Popular de Direitos Humanos (CPDH), ambos em Recife (PE), teve a sua participação no webinar “Mudança climática: sujeito feminino?” divulgada no portal eCycle.

O evento virtual que vai acontecer no dia 6 de maio, é organizado pelo Observatório do Clima, em parceria com a organização ambiental Imaflora, e trará discussões sobre impacto de gênero nas variações climáticas no Brasil e ao redor do mundo, além da criação de um grupo de trabalho para propor ações na intersecção entre os dois assuntos.

Saiba mais sobre o evento e de como participar aqui.

 

Veja as matérias completas abaixo:

09/02/2021 – IREE Webinar: Direitos Humanos e Empresas:
https://iree.org.br/iree-webinar-direitos-humanos-e-empresas/

09/02/2021 – Sueli Carneiro recebe prêmio da Lasa por sua produção acadêmica:
https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/bianca-santana/2021/02/09/sueli-carneiro-recebe-premio-da-lasa-por-sua-producao-academica.htm 

26/02/2021 – XP promove evento online e gratuito com experts do mercado para discutir ESG – entre os convidados estão Yuval Harari, Jean Case e Luiza Trajano:
https://www.seudinheiro.com/2021/xp-branded/xp-promove-evento-online-e-gratuito-com-experts-do-mercado-para-discutir-esg-entre-os-convidados-estao-yuval-harari-jean-case-e-luiza-trajano/ 

 

Matérias sobre apoiados do Fundo Baobá

11/02/2021 – Midiã Noelle – BBB 21: desserviço e contribuição ao ódio racial:
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/perifaconnection/2021/02/bbb-21-desservico-e-contribuicao-ao-odio-racial.shtml

26/02/2021 – Sarah Marques – Observatório do Clima e Imaflora promovem webinar sobre gênero e mudança climática:
https://www.ecycle.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=9401&Itemid=