Edital Carreiras em Movimento: Baobá promove primeiro encontro para orientar os 337 selecionados

Representantes de 20 estados mais o Distrito Federal receberam orientações sobre edital que promove conhecimento em busca da empregabilidade

A participação em um edital do Baobá – Fundo para equidade Racial é o início de uma jornada de transformação e conhecimento. Para as 337 pessoas selecionadas pelo edital Carreiras em Movimento, a nova jornada foi iniciada em fevereiro com a realização da 1ª Reunião de Orientações Gerais do edital. Resultado de  uma parceria entre o Fundo Baobá e o Mover – Movimento pela Equidade Racial, o edital faz parte do Programa Presente e Futuro em Movimento, que tem como objetivo o desenvolvimento de pessoas negras em competências técnicas, habilidades socioemocionais e comportamentais, além de elevar o potencial de empregabilidade das mesmas nos setores privado, público e no terceiro setor. 

O edital Carreiras em Movimento foi lançado pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial em setembro de 2023. Sua dotação é de R$ 5 a R$ 10 mil que deverão ser usados pelos beneficiados de forma estratégica para ampliar seus potenciais de empregabilidade por intermédio de, por exemplo, cursos de formação, aquisição de equipamentos, intercâmbios e formas de aprendizado ou investimento  que possam catapultar suas carreiras. 

As 337 pessoas selecionadas representam 20 estados brasileiros mais o Distrito Federal. O encontro aconteceu de forma virtual em dois períodos, e a mediação ficou a cargo da coordenadora de Projetos do Baobá, Tainá Medeiros. Ela iniciou o encontro colocando os propósitos. “Teremos algumas reuniões, alguns encontros reservados para que a gente tire dúvidas, converse e dê detalhes sobre as atividades que estão previstas. Quero dizer que é uma alegria ter esse momento com vocês e aproveito para dar as boas-vindas”, disse. 

As perguntas eram encaminhadas pelos beneficiados para um chat para respostas posteriores. Algumas das dúvidas giraram em torno dos seguintes temas: entrega de documentação, emissão do contrato; abertura de conta bancária; data de depósito para as parcelas de R$ 5 mil e de R$ 10 mil; obrigatoriedade de participação nas jornadas formativas e prestação de contas. 

Tainá Medeiros encerrou o encontro falando sobre prioridades do Baobá.: “O intuito do Baobá ao construir um edital é conseguir organizar possibilidades que possam contribuir para o enfrentamento dos impactos do racismo e para a ampliação de oportunidades justas para a população negra”. E concluiu: “Nós vamos estar juntos, sempre dialogando, apoiando vocês para informar o que vai ser feito e como terá que ser feito”. 

As dúvidas dos selecionados poderão ser sanadas a partir desses contatos:  

email: programa_presente_futuro_em_movimento@baoba.org.br

 whatsapp: (11) 9 6062-0978 

Iniciativas do Baobá têm como foco principal a Justiça Social

O Dia Mundial da Justiça Social, comemorado no último dia 20 de fevereiro, foi estabelecido pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em novembro de 2007, com o objetivo de desenvolver um diálogo entre os países para garantia de justiça, dignidade e direitos humanos de modo equânime para todas as pessoas. A data também está atrelada a vários aspectos urgentes da sociedade, como igualdade de oportunidades, acesso à educação e à saúde, inclusão e respeito à diversidade, justiça criminal e econômica, direitos humanos, entre outros.

Para o Baobá, justiça Social é uma importante bússola. Ao longo de seus 12 anos de atuação, a organização vem desenvolvendo estratégias assertivas para perpetuar esse pacto coletivo em promoção de uma reparação social. Essa atuação consiste em transferir recursos, através de editais, para que agentes de transformação social selecionados possam promover transformações e mudanças reais. É através desses agentes que o Baobá amplia seu escopo de atuação, alcançando lugares, territórios e organizações onde a filantropia tradicional ainda não opera.

Na prática, o modus operandi do Baobá é o de uma agenda filantrópica baseada nos valores da ética, efetividade na gestão, transparência e justiça social, que é fortalecida através de doadores no Brasil e no exterior, os quais acreditam que é urgente discutir a justiça social como uma agenda prioritária na busca constante por políticas públicas internacionais e nacionais. 

Até 2022, foram mais de 870 iniciativas apoiadas, que tiveram impacto direto nas vidas de mais de 1 milhão de pessoas e reforçam o compromisso do Baobá – Fundo para Equidade Racial com as organizações e lideranças negras que protagonizam essa importante transição e realizam grandes ações de enfrentamento ao racismo estrutural. Um exemplo é o Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, que faz parte do programa Equidade Racial e Justiça, aberto em 2023. Por meio dele, o Baobá apoiou 10 projetos em todo território nacional. Eles tiveram a oportunidade de fortalecer estratégias de ativismo, resistência e resiliência frente às injustiças raciais recorrentes. 

Segundo a diretora de Programa, Fernanda Lopes, para se pensar a Equidade Racial e Justiça, é necessário reconhecer que a justiça é um conjunto de mecanismos que busca harmonizar pretensões e interesses conflitantes de uma sociedade. E ao exercer tais direitos através do edital, foi possível alinhar a justiça com o cenário de dignidade plena para a população negra, contando com o apoio dessas 10 instituições selecionadas que são comprometidas com o bem viver de uma parcela da sociedade que ainda é invisibilizada.

Ao realizar esse movimento o Baobá – Fundo para Equidade Racial garante o acesso aos direitos, previstos em lei, na tentativa de corrigir qualquer desigualdade e ilegalidade não combatida pelo Estado. Essa forma de agir faz do Baobá um dos protagonistas na perpetuação da filantropia participativa e um forte aliado para que as organizações e instituições comunitárias consigam mapear determinados problemas e difundir possíveis soluções, diminuindo o cenário atual de desigualdade social e provendo a justiça social entre todos.

Ato de doar humaniza as pessoas e mobiliza a sociedade por mudanças

As psicólogas canadenses Elizabeth Warren Dunn e Lara Beth Aknin, junto com o também psicólogo norte-americano Michael Irwin Norton, realizaram uma pesquisa que determinou que o sentimento de felicidade de algumas pessoas era maior quando elas destinavam parte do dinheiro que ganhavam na promoção do bem estar para terceiros. Ou seja: promover o bem para outras pessoas é tão ou mais compensador que fazer algo em causa própria. 

Quando se estimula o bem de alguma forma, regiões do cérebro que geram a sensação de prazer são ativadas, o que produz o sentimento de felicidade. A importância dessa pesquisa para quem atua no terceiro setor está diretamente ligada à ação de doar. O terceiro setor vive do que é ofertado por pessoas físicas e por pessoas jurídicas (empresas de grande, médio e pequeno porte).   

Os agentes que atuam no terceiro setor no Brasil têm uma preocupação em comum: como motivar muito mais gente a fazer doações que propiciem bem estar para um sem número de outras pessoas em situação de necessidade? Como chegar a esses potenciais doadores? Como falar com eles e elas? Como incentivar?

A recente pesquisa realizada pelo IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), em 2022, determinou que entre os brasileiros com idade superior a 18 anos, 84% fizeram algum tipo de doação: dinheiro, tempo dedicado (trabalho voluntário) ou mesmo bens. As pessoas dentro dessas características tinham rendimento que ultrapassava um salário mínimo, atualmente em R$ 1.412,00 (vigente desde 1.º de janeiro de 2024).  

Ao serem perguntados sobre se as organizações do terceiro setor dependiam da colaboração das pessoas para funcionar, 58% responderam que sim. Ainda se aprofundando no mesmo tema, 44% reconheceram a importância do trabalho do terceiro setor na busca de solução para problemas sociais e ambientais no Brasil. Outro dado interessante é que o ato de doação direta para ONGs ou projetos socioambientais foi feito por 36% dos entrevistados na pesquisa do IDIS.   

O Baobá – Fundo para Equidade Racial, que se direciona, de forma exclusiva, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, vem realizando seu trabalho de captação de recursos há 12 anos. Tem firmado importantes parcerias com empresas, fundações e institutos, parceiros que têm dado importante apoio  financeiro. O Baobá já investiu mais de R$ 20 milhões em 19 editais, 861 iniciativas e ações ao longo dessa jornada. Já são mais de 800 mil pessoas impactadas, com investimentos nas cinco regiões do país. 

O Fundo Baobá já conta com doações mensais de pessoas aliadas à nossa missão. Esse número, entretanto, precisa crescer. É necessário alcançar muito mais gente que acredite que o enfrentamento ao racismo é primordial para que o Brasil seja um país justo, de oportunidades igualitárias e que promova o acesso ao ensino, à saúde e ao trabalho. Portanto, divulgar e promover a filantropia para a equidade racial é fundamental.  

Confiança, conexão, empatia, desejo de igualdade e justiça são sentimentos que motivam alguém a se engajar em algo. Não há transformação social sem mobilização. 

Mercado de trabalho brasileiro ainda reproduz o racismo da nossa sociedade

Basta olhar as publicações e editorias especializadas em economia e negócios da imprensa brasileira para constatar que os dirigentes empresariais ainda são maciçamente brancos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam essa impressão. Embora correspondam a 56,1% da população em idade de trabalhar, os negros ocupam apenas 33,7% dos cargos de direção e gerência. De forma geral, a remuneração mensal de um profissional negro é 39,2% menor que a de uma pessoa não negra. Fora do mercado de trabalho, a situação é oposta: 65,1% das pessoas desocupadas são negras.

Esses números, referentes ao segundo trimestre de 2023, não trazem qualquer novidade em relação a levantamentos anteriores. O paradigma colonial, segundo o qual quem manda tem uma cor e quem obedece, outra, permanece presente no século 21, gerando uma incompatibilidade com a garantia de empregabilidade formal e autonomia financeira para a população negra.

A contradição acontece em várias camadas e talvez a constitucional seja a mais óbvia. Ao condenar o racismo, a Constituição Federal implicitamente sugere que ele precisa ser combatido – e uma das formas mais eficientes é justamente a presença de pessoas negras no mercado de trabalho. Esse, aliás, tem sido um dos pilares da atuação do Fundo Baobá desde sua criação, em 2011. A mais recente iniciativa nesse sentido foi o edital Carreiras em Movimento que visa apoiar pessoas negras que atuam no setor privado, auxiliando  no desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas formações e nas mais diversas habilidades socioambientais existentes. No decorrer de 2024 será possível conhecer os selecionados e saber mais sobre suas experiências acompanhando as nossas redes sociais.

Nesse movimento, as empresas têm um papel estratégico, que começa pela seleção e contratação, mas que vai além. Vale ressaltar que quando uma empresa contrata ou promove um profissional, ela faz uma seleção dos melhores. Portanto os negros que fazem parte do mercado de trabalho superaram os inúmeros funis que deixaram milhares de outros jovens para trás. Esses funis começam no acesso à educação, que nem sempre está disponível e na própria qualidade do ensino, além de itens básicos como alimentação, material didático, computador e internet. O apoio do setor privado à educação com equidade pode contribuir muito para acelerar esse processo. Equidade racial no ambiente de trabalho formal começa antes, com o apoio para que a população negra consiga alcançar as vagas oferecidas, e deve ir além, criando condições internas de acolhimento aos profissionais negros. 

O mercado de trabalho passa por inúmeras mudanças e o que foi chamado de proletariado no século 19 agora constitui o precariado, no qual a remuneração permanece espremida, exigindo extensas horas de prestação de serviços. Um estudo feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) a pedido da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) constatou que mais de 60% dos profissionais que prestam serviço aos principais aplicativos de entregas e transporte no Brasil se autodeclaram negros e mais da metade não tem outra fonte de renda além do serviço que prestam a essas empresas. Esse novo modelo de relação de trabalho, fortemente dominado pelo avanço da tecnologia e que se sustenta com muita similaridade ao período escravocrata, está em total contradição com a promoção da dignidade humana preconizada pela Constituição. 

Seja no mercado formal ou pelo empreendedorismo, pessoas negras ainda enfrentam barreiras que reforçam séculos de exclusão, opressão e desigualdade. O enfrentamento deste desafio é responsabilidade de qualquer organização que esteja comprometida com a promoção de um mundo melhor, onde os negros possam protagonizar determinados espaços, contribuindo assim com toda a sua riqueza de conhecimento e suas experiências de vida. Não há como construir reparação e reputação das grandes empresas brasileiras sem um envolvimento ativo no combate às causas do racismo.

O conceito e a prática do desenvolvimento de pessoas negras promovidos pelo Fundo Baobá nos editais que fomentam essa forma de inserção econômica prevê o apoio para a formação de um mundo melhor, além de garantir a promoção da diversidade racial nas empresas.

Retrospectiva 2023

O ano de 2023 foi marcante na história do Baobá – Fundo para Equidade Racial. Ao longo dos últimos 12 meses, lançamos editais, firmamos parcerias e aderimos a compromissos cruciais para a equidade racial.

Logo nos primeiros meses de 2023, o Baobá divulgou o resultado do Edital Educação e Tecnologia, que teve como objetivo apoiar organizações e empresas negras que atuassem no desenvolvimento ou ampliação das capacidades técnicas das pessoas negras na área de tecnologia. Com parceria do MOVER – Movimento pela Equidade Racial, foram investidos e destinados R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) para 16 iniciativas negras de educação em tecnologia. Ainda nos primeiros meses, lançamos uma aliança entre o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental, em que foi possível reunir narrativas sobre os primeiros projetos apoiados pelo grupo em 19 estados brasileiros. O objetivo principal foi apresentar resultados da estratégia inédita no campo da filantropia para justiça social. Os resultados podem ser conferidos no site (aliancaentrefundos.org.br). 

Em março, um dos pontos altos do ano: o primeiro encontro de estudantes e mentores do Edital Já É, que visa favorecer a entrada e permanência de adolescentes e jovens no ensino superior. Os estudantes visitaram a sede do MetLife Foundation, apoiadora do edital,e puderam se conhecer pessoalmente, visto que todos os encontros da mentoria realizada pela MetLife ocorreram virtualmente. Conversas sobre ingresso no mercado de trabalho, habilidades socioemocionais e comportamento foram valorosas para os estudantes.

Outro encontro que vale mencionar foi a primeira reunião presencial com os participantes do Edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. O encontro ocorreu em Recife e foi uma excelente oportunidade de conhecer os projetos de perto e apreciar as brilhantes iniciativas de enfrentamento ao racismo e valorização da identidade e cultura negra no campo da educação.

Nos meses de abril, maio e junho o Baobá participou do 12º Congresso GIFE – “Desafiando estruturas de desigualdades”, do Fórum Interconselhos para construção do Plano Plurianual Participativo (PPA) e do evento que reuniu B3 Social e  Pacto de Promoção da Equidade Racial para discutirmos sobre Investimento Social Privado. Ambos foram uma ótima oportunidade para reconhecer as raízes da desigualdade e intervir em favor de oportunidades justas, para que o desenvolvimento seja pleno em sua forma individual, social, econômica, cultural, ambiental e política, como ressalta a diretora de Programas do Baobá, Fernanda Lopes.

Outro ponto alto desse ano foi o fortalecimento de uma instituição centenária que nos ensina, através do seu legado, como fazer filantropia negra no Brasil: a Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), importante instituição que esteve à frente das principais conquistas da população negra brasileira, recebeu uma doação de R$ 500 mil do Baobá – Fundo para Equidade Racial. “Esta é a primeira vez que o Baobá decide, politicamente, sem edital, fazer uma doação e faz isso com dinheiro próprio. Dinheiro gerado pelas operações do Baobá, que nos propiciam fazer uma doação expressiva”, relata Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo. 

Em 2023 o Baobá aderiu ao Compromisso Internacional da Filantropia sobre as Mudanças Climáticas (International Philanthropy Commitment on Climate Change), movimento global liderado pela WINGS, formado por organizações filantrópicas dedicadas a discutir soluções para os desafios climáticos que a humanidade enfrenta, mas que atinge de maneira desproporcional as populações mais vulneráveis. Desta forma, o Baobá honra seu objetivo por uma vida com dignidade e por um desenvolvimento econômico justo para a comunidade negra. 

Juntamente com a Rede Comuá, o Baobá participou também do movimento dedicado a refletir sobre os contextos e práticas das filantropias comunitárias e de justiça socioambiental, o Mês da Filantropia Que Transforma, na qual foi realizada a live “Transformando com Propósito: Medindo o Impacto na Filantropia Negra”, com o  objetivo de contextualizar as diferentes práticas da filantropia, discutir como a medição de impacto fortalece iniciativas sociais, além de compartilhar as experiências vividas e alcançadas pelo Baobá.

O último trimestre do ano coincidiu com a finalização do projeto Saúde Mental Quilombola; Direitos, Resistência e Resiliência com a exibição de um minidocumentário em Oeiras do Pará, com a participação da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Coordenação Estadual das Associações de Comunidades Remanescentes de Quilombo (Malungu/Estado do Pará) e a Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto à Baixinha (ARQIB). O audiovisual idealizado pelo Baobá e executado pela Negritar Produções traz reflexões dos quilombolas no que diz respeito a um resgate de autoconhecimento, empoderamento e identidade racial.

A finalização do Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça,  em outubro de 2023, também proporcionou ao Fundo Baobá  a premiação com o Selo Direitos Humanos e Diversidade,  da Prefeitura de São Paulo. O selo é um reconhecimento anual a iniciativas de empresas privadas, órgãos públicos, organizações da sociedade civil e coletivos de todos os portes que promovam e defendam os direitos humanos e a diversidade na cidade de São Paulo. Para Tainá Medeiros, coordenadora de Programas, a premiação não só demonstra a necessidade de promover ações semelhantes no campo da filantropia, mas também evidencia a carência e necessidade de ampliação de políticas públicas que garantam a interrupção dessas violações de direitos. Além da premiação, o Baobá finda o ciclo do Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça com um minidocumentário com depoimentos de representantes de algumas das organizações beneficiadas. 

O ano também foi marcado pelo fortalecimento da parceria entre o Baobá e o Mover, que juntos lançaram o Edital Carreiras em Movimento. Ele visa ampliar o acesso de pessoas negras ao mercado de trabalho, através de atividades voltadas para o desenvolvimento ou ampliação de habilidades socioemocionais e comportamentais. Os selecionados foram prioritariamente pessoas negras, com 18 anos ou mais, ensino superior concluído até 2019, e que atuassem ou desejassem atuar nos setores privado, público ou terceiro setor. Além de estarem no início de suas carreiras profissionais ou buscando mobilidade na carreira, incluindo transição ou ascensão. 

Olhar o passado para direcionar o nosso futuro é uma das ferramentas mais utilizadas pelo Baobá no decorrer desses 12 anos de existência. E é assim que chegaremos em 2024, dispostos a observar os aprendizados e experiências do que foi esse 2023.

Temas ligados às mudanças sociais colocaram o Baobá na mídia em 2023

Esta não é uma retrospectiva sobre o que foi o ano para o Baobá – Fundo para Equidade Racial em termos de aparição na mídia, pois haveria muito mais para ser mostrado ao revisitar nosso 2023. Aqui estão onze matérias que mostram a versatilidade do Baobá dentro dos temas que geraram a sua existência: o enfrentamento ao racismo e a busca pela equidade. 

Para alcançar isso, os caminhos percorrem temas que crescem em importância dentro da sociedade, uma vez que se percebe cada dia mais a relevância de valores comprometidos com o enfrentamento ao racismo, a promoção da equidade racial e da justiça social.

O Baobá acredita que seja possível provocar um avanço que contribua para a mudança real, através de temas como Filantropia Negra; Filantropia para Justiça Social; Preservação da Cultura Negra; Incentivo ao Empreendedorismo Negro; Incentivo ao Emprego; Incentivo à Presença de Negros em cursos superiores; Incentivo ao Estudo e Combate às Desigualdades. E foram essas temáticas abordadas em alguns dos principais veículos de comunicação do país.  

Embarque na leitura, e contemple novas perspectivas para se engajar na luta por um Brasil e por um Mundo de direito à igualdade.  

  • O Estado de S.Paulo – O que é  Filantropia Negra? Conheça o Fundo de R$ 118 milhões

https://www.estadao.com.br/brasil/o-que-e-filantropia-negra-conheca-o-fundo-de-r-118-milhoes/

  • Nexo Jornal – Como a filantropia pode ser ferramenta de mudança 

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2023/11/13/Como-a-filantropia-pode-ser-ferramenta-de-mudan%C3%A7a-social?posicao-home-esquerda=2

  • Notícia Preta – Baobá doa R$ 500 mil à Sociedade Protetora dos Desvalidos 
  • Times Brasília – Reabertura de inscrições edital Carreiras em Movimento 

https://timesbrasilia.com.br/concurso-e-emprego/parceria-entre-o-baoba-fundo-para-equidade-racial-e-o-mover-movimento-pela-equidade-racial-visa-fortalecer-potencialidades-e-com-isso-alavancar-oportunidades-de-trabalho/

  • Observatório do Terceiro Setor – Edital destina verba para apoiar carreira de pessoas negras
  • G1 – Vagas do Edmilson – Edital Carreiras e Movimento

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/blog/edimilson-avila/post/2023/08/14/classificados-do-edimilson-veja-as-vagas-de-emprego-da-semana-de-14-a-18-de-agosto.ghtml

  • O Tempo (Belo Horizonte – Edital Carreiras em  Movimento

https://www.otempo.com.br/cidades/projeto-quer-facilitar-acesso-de-pessoas-negras-a-empregos-veja-como-participar-1.3214016

  • Neo Mondo –  Baobá, mais de uma década de trabalho em prol da equidade racial
  • Folha de S.Paulo – Fundo Baobá e B3 firmam parceria para financiar bolsas a estudantes negros

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/05/b3-e-fundo-baoba-firmam-parceria-para-financiar-bolsas-para-estudantes-negros.shtml

  • Valor Econômico – Baobá e B3 firmam parceria para dar bolsas de estudos a estudantes negros

https://valor.globo.com/empresas/esg/noticia/2023/05/25/fundo-baoba-e-b3-firmam-parceria-para-dar-bolsa-de-estudos-a-estudantes-negros.ghtml

  • UOL – Gife discute importância do investimento social no combate às desigualdades

https://www1.folha.uol.com.br/folha-social-mais/2023/04/congresso-gife-discute-importancia-do-investimento-social-no-combate-as-desigualdades.shtml

Vidas Negras recebe selo da Prefeitura de São Paulo

O Baobá – Fundo para Equidade Racial é uma das organizações que recebeu o Selo de Direitos Humanos e Diversidade da Prefeitura de São Paulo. O Selo é um reconhecimento anual a iniciativas de empresas privadas, órgãos públicos, organizações da sociedade civil e coletivos de todos os portes que promovam e defendam os direitos humanos e a diversidade na cidade de São Paulo. A Cerimônia de Premiação do Selo acontece nesta terça-feira (05/12) no Sesc Pinheiros.

Essa premiação se dá por meio do Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, iniciado em  maio de 2021 pelo Baobá com apoio do Google.org. Um dos principais objetivos do edital era o apoio a instituições negras que enfrentam o racismo, a violência racial e as incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil. Foram beneficiadas diretamente doze organizações negras, das quais 75% tinham a maior parte da coordenação composta por mulheres cis ou trans, sete delas com mais de 10 anos de atuação. 

Tainá Medeiros, coordenadora de programas do Fundo Baobá, reconhece que receber o Selo de Direitos Humanos e Diversidade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo é um reconhecimento significativo do trabalho realizado pelo Fundo Baobá e a valorização de uma iniciativa extremamente importante como o Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. Ao trazer à tona um debate necessário sobre violações de direitos e injustiças raciais sofridas pela população negra brasileira, o edital se apresentou como uma oportunidade de fortalecer organizações que estão desenvolvendo estratégias essenciais de resistência e de enfrentamento ao racismo neste contexto. 

A premiação não só demonstra a necessidade de promover ações semelhantes no campo da filantropia, mas também evidencia a carência e necessidade de ampliação de políticas públicas que garantam a interrupção dessas violações de direitos e proporcionem meios de reparação à população que foi vítima delas. Neste sentido, o prêmio reconhece a importância da continuidade da luta por justiça e equidade racial”, afirma Tainá.

Evaluation of the initiative on entrepreneurship and the food sector points to the strengthening of businesses and communities

Midiã Noelle

The initiative invested in resources, and capacitation of 14 companies in Recife and its Metropolitan Region, selected through a Request for Proposals.

By the end of 2021, in a challenging economic outlook worsen by the Covid-19 pandemic, three private social investors – Baobá Fund for Racial Equity, General Mills, and Verizon – launched the Request for Proposals Black Business Food. Part of a broader Program for Economic Recovery and Black Entrepreneurs, the initiative aimed at directing resources and specific support for those facing social and economic challenges, and presented itself as an important alternative to strengthen and increase resilience in 14 companies of Black entrepreneurs in Recife and its Metropolitan Region.

Why invest in the food sector in Pernambuco?

Because it is vital in difficult moments, the food sector was selected as the focus of the request for proposals, amidst the resilience of nano-, micro-, and small businesses led by the Black population of Pernambuco, one of the most diverse and culturally rich states in Brazil. In order to adapt to new circumstances, local entrepreneurs took advantage of a growing demand for delivery services of essential goods in the food sector. 

It is notable the impact of the food sector outlook in all states of the country, especially in Pernambuco. It has 18,960 companies in the food sector, corresponding to 3.5% of all companies in Pernambuco, slightly above the national average (3%). Most of these businesses (90.35%) are Individual Micro-Companies (MEIs, in the Portuguese acronym) and Micro-Companies (ME, in the Portuguese acronym, 6.63% of businesses), percentages similar to national averages (respectively, 86.33% and 10.18%). The growth is also visible in Sebrae’s studies that point to the opening of 3,032 new MEIs in the food sector of Pernambuco between March and Abril of 2020, following a national trend.

Strategically, the request for proposals selected the Metropolitan Region of Recife, involving 14 towns, including the capital, that concentrate 56% of businesses formalized up to May 2020. Six of these towns concentrate 90% of food businesses (48% in Recife itself). Notably, 37% of all food businesses in the region are in the category of street vendors, which goes to show the diversity of entrepreneurs in such dynamic sector.

As part of the evaluation process of its investment, focusing on learning and improvement of the support offered, Fundo Baobá relied on an external consultant, Janela 8. The evaluation methodology included document analyses, online research, interviews, and focal groups, allowing for a holistic analysis of the results, which are systematized in the Executive Summary

The support injected considerable resources in capacitation and strengthening of the 14 companies supported in Recife and its Metropolitan Region. It also offered a set of benefits to selected people. Besides the seed-capital of R$ 30,000, the funding included the assistance of Fa.vela (a hub of education and entrepreneurship innovative, digital, and inclusive learning), which provided a series of activities: diagnostics, and customized improvement plans; constant technical assistance; online education and mentorship; and organizing live meetings for networking, and sharing of experiences.

Profiles of people and companies supported

The diversity of the food sector was present in the profiles of supported businesses, comprising from catering to food delivery services, food trucks, and restaurants. The supported group had a majority of women, but also different gender identities: 11 cis women, one transvestite, one cis man and one transgender man, with ages going from 18 to 64. Regarding education, most entrepreneurs had graduated in college (65%). 

It should be noted that 86% of supported projects (12 of them) are in urban areas, mainly in peripheral regions (71% or ten companies). At the start of the project, most entrepreneurs had a monthly family income up to R$ 3,135.

Isamara Costa, one of the entrepreneurs supported, owns Acarajé da Tia Joana, a kiosk selling and delivering acarajés, beverages, and desserts. The inspiration for the company came from her mother, Lucivânia. “A Black woman, recently separated, with two children to raise, she started selling food at the Praça da Várzea, and stayed there for five years”, Isamara recalls. “Then, she was invited to sell her food at the Madalena, where we remain to this day. I started in 2018, and here I am.” Isamara responded to the request for proposals in order to make true a dream: to have her mother’s face as the symbol of Acarajé da Tia Joana. 

Impact on lives and communities

The focus on the food sector in a specific territory allowed for targeted investments, and for more exchange between entrepreneurs facing similar challenges. Most of supported businesses (71%) have their company as the main source for family income, while for 29% the business is a supplemental income. Thus, results go beyond the impact on the entrepreneurs’ life, and reach their families.

As for the strengthening of businesses, the main changes are connected to general management improvement, including financial organization and productivity increase. Companies have recorded an increase in revenue and in number of clients. These changes were noted throughout the duration of the project, and are still valid today, more than a year after the end of the initiative.

One of the women entrepreneurs described how the initiative improved the situation of her business, and contributed to also improve her quality of life: “In my personal life, I managed to have a wage, and to take a week of vacation after years working non-stop. Now, we’re planning to open a physical location in order to expand the business and reach more clients. We never lose the focus on being a business led by Blacks, and serving with excellence the peripheries of the North Zone of Recife”.

Racial awareness, and the strengthening of Black identities

The support also stood out for its inclusive and sensitive approach. An important differential is that the initiative was developed by Black people, and focused on the Black population. As a result, it is clear that it had a crucial role not only for businesses, but also in building a stronger community for debates about race, and confronting racism: 64% of entrepreneurs report an increase in self-esteem, and 82% acknowledge a broaden racial awareness.

In general, the Black Business Food support was a successful initiative, by the design of the support offered, and by its execution. It stands out for focusing on Black entrepreneurs in the food sector, and for offering a broad support, including financial resources, education, and exchanges among peers.

It worked as leverage, i.e., changes that would take much longer to happen were potentialized by the intervention. Such transformation might eventually happen, but in a much slower pace, and with partial results for most businesses.

Lessons learned with the Black Business Food, and its impact resonate not only in business itself, but also in communities, in the self-esteem and empowerment of the Black population in Pernambuco, and by extension in the whole country.

Avaliação do edital de empreendedorismo e alimentação aponta para o fortalecimento dos negócios e das comunidades

Midiã Noelle

Iniciativa investiu em recursos e no fortalecimento de capacidades de quatorze negócios em Recife e Região Metropolitana

Em um cenário de desafios econômicos agravados pela pandemia da Covid-19, três investidores sociais privados – Baobá – Fundo para Equidade Racial, General Mills e Verizon – lançaram no final de 2021 o Edital Negros Negócios Alimentação. Parte do Programa de Recuperação Econômica e Empreendedores(as) Negros(as), a iniciativa buscou direcionar recursos e suporte específico para aqueles que enfrentam desafios sociais e econômicos e se apresentou como uma importante alternativa para fortalecer e elevar a resiliência de 14 negócios empresas de empreendedores e empreendedoras negros(as) de Recife e Região Metropolitana. 

Por que investir no ramo alimentício em Pernambuco?

Por ser um dos mais vitais em momentos adversos, o setor alimentício foi selecionado como foco do edital, em meio à resiliência de nano, micro e pequenos negócios liderados pela população negra de Pernambuco, um dos estados mais diversos e culturalmente ricos do Brasil. O aumento da demanda por serviços de entrega e a oferta de bens essenciais tornaram o ramo uma opção de destaque para empreendedores e empreendedoras que procuram se adaptar às novas circunstâncias.

O cenário do setor alimentício no país tem um impacto notável em todos os estados do país e em Pernambuco esse impacto é evidente. Com um total de 18.960 empresas na área de alimentação, o setor representa 3,5% do total de empresas do estado, ligeiramente acima da média nacional de 3%. A maioria desses empreendimentos (90,35%) é de Microempreendedores Individuais (MEIs) e de Microempresas (ME, 6,63%), porcentagens semelhantes às nacionais (86,33% de MEIs e 10,18% de MEs). Esse crescimento é destaque também em estudos do Sebrae, que apontam a abertura de 3.032 novos MEIs em Pernambuco entre março e abril de 2020, em várias áreas do segmento alimentício, seguindo uma tendência nacional.

Estrategicamente, o edital selecionou a Região Metropolitana de Recife, que abrange 14 cidades, incluindo a capital, devido à concentração significativa de empresas – 56% dos negócios formalizados até maio de 2020. Dentre essas cidades, apenas seis concentram 90% dos empreendimentos de alimentação, com Recife concentrando 48% dessas empresas. Notavelmente, 37% dos negócios da região se enquadram na categoria de serviços ambulantes de alimentação, demonstrando a diversidade de empreendimentos nesse setor dinâmico.

Como parte do processo de avaliação de seus investimentos, tendo como foco a aprendizagem e a melhoria dos apoios oferecidos, o Fundo Baobá contou com o suporte de uma consultoria externa, a Janela 8. A metodologia de avaliação incluiu análise de documentos, pesquisa online, entrevistas e grupos focais, permitindo uma análise holística dos resultados, que estão sistematizados neste Resumo Executivo

O edital representou um investimento significativo na capacitação e fortalecimento das 14 empresas apoiadas em Recife e sua região metropolitana, bem como apresentou um conjunto de benefícios para as pessoas selecionadas. Além do capital-semente de até R$ 30 mil, o apoio incluiu assessoria do Fa.vela (um núcleo de educação e aprendizagem empreendedora, inovadora, digital e inclusiva), que fez o diagnóstico e elaborou planos de melhorias personalizados, ofereceu assessoria técnica constante, formações e mentorias online, e organizou encontros presenciais para networking e compartilhamento de experiências.

Os perfis de pessoas e empresas apoiadas


A diversidade do setor alimentício se refletiu nos perfis dos negócios apoiados, abrangendo desde bufês para festas até serviços de comida por encomenda ou entrega, food trucks e restaurantes. O grupo apoiado foi composto majoritariamente por mulheres, mas também contemplou diferentes identidades de gênero: 11 mulheres cis, uma travesti, um homem cis e um homem trans, com idades entre 18 e 64 anos. Em relação à formação educacional, a maior parte (65%) dos empreendedores concluiu o ensino superior.

Observa-se, também, que 86% dos projetos apoiados (12 deles) estão em área urbana, majoritariamente em regiões periféricas (71% ou dez empresas). No início da execução dos projetos, a maioria dos(as) empreendedores(as) tinha uma renda familiar mensal de até R$ 3.135. 

Isamara Costa é uma das pessoas apoiadas pelo edital. Responsável pelo Acarajé da Tia Joana, ao lado da mãe, Lucivânia, especializou-se em venda de acarajés, bebidas e sobremesas. Sua empresa opera num quiosque e via entregas em domicílio. Ela diz que a inspiração veio da matriarca. “Mulher negra, recém-separada de um baiano e com dois filhos para criar”, relata. “Começou vendendo na Praça da Várzea e ficou lá cerca de cinco anos. Depois foi convidada para vender na Madalena, onde vendemos até hoje. Em 2018 eu entrei e lá estou.” Isamara explica que concorreu ao edital para realizar o sonho de estruturar o Acarajé da Tia Joana com o rosto da mãe como marca de apresentação.

Impactos nas vidas e nas comunidades

O enfoque no setor alimentício em um território específico permitiu investimentos direcionados e mais trocas entre empreendedores que passam por desafios similares. A maioria (71%) dos que foram apoiados tem seu negócio como a principal fonte de renda familiar, enquanto para 29% é apenas uma fonte de renda complementar. Nesse sentido, os resultados vão para além do impacto na vida dos empreendedores e alcançam suas famílias. 

No âmbito do fortalecimento dos negócios, as principais mudanças referem-se a melhorias generalizadas na gestão, incluindo organização financeira e aumento de produtividade. Além disso, as empresas registraram aumento no faturamento e no número de clientes. Essas mudanças foram percebidas não apenas ao longo e após o término dos investimentos realizados, mas mantêm-se até hoje, mais de um ano depois da iniciativa. 

Uma das empreendedoras avaliou como o edital melhorou a situação de seu negócio e contribuiu para melhorar sua qualidade de vida: “Na minha vida pessoal consegui ter um salário, consegui tirar uma semana de férias depois de anos sem parar e agora estamos no planejamento para abrir o nosso ponto físico em 2024 e, assim, expandir e atingir mais clientes. Sem perder o foco no fato de ser um negócio liderado por negros e com toda raiz periférica, atendendo as periferias da Zona Norte do Recife com a maior excelência”.

Consciência racial e fortalecimento das identidades negras 

O edital também se destacou pela abordagem inclusiva e sensível. O fato de ser uma iniciativa desenvolvida por pessoas negras, com foco na população negra, é um diferencial importante. Com 64% dos empreendedores/as relatando um aumento na autoestima e 82% indicando uma ampliação de sua consciência racial, ficou evidente que o edital desempenhou um papel crucial não apenas nos negócios, mas também na construção de uma comunidade mais fortalecida para os debates sobre raça e enfrentamento ao racismo.

De maneira geral, o Edital Negros Negócios Alimentação foi uma iniciativa de sucesso tanto pelo desenho do apoio oferecido quanto por sua execução. Destaca-se por focar em empreendedores/as negros/as do setor de alimentação e por oferecer um suporte abrangente, incluindo recursos financeiros, formação e trocas entre pares. 

Funcionou como alavanca, ou seja, mudanças que levariam muito mais tempo para acontecer foram potencializadas pela intervenção. São transformações que até poderiam ter acontecido, mas a passos muito mais lentos e com resultados parciais para a maioria dos negócios.

As lições aprendidas com o Edital Negros Negócios Alimentação e os impactos dessas ações repercutem não apenas nos negócios, mas também nas comunidades, na autoestima e no empoderamento da população negra em Pernambuco e, por extensão, em todo o país.

Documentário relata o encerramento do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça

Lançado em  maio de 2021 pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial, com apoio do Google.org, o Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça chega ao final do seu ciclo com a expectativa plenamente atingida no que diz respeito ao apoio a  instituições negras que enfrentam o racismo, a violência racial e as incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil. A importância do edital originou um minidocumentário com depoimentos de representantes de algumas das organizações beneficiadas. A realização é da Terra Preta Produções.

O Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça beneficiou diretamente doze organizações negras, das quais 75% tinham a maior parte da coordenação composta por mulheres cis ou trans. Sete delas com mais de 10 anos de atuação. Sendo impactadas indiretamente 7210 pessoas privadas de liberdade, 67% mulheres cis e trans; 23% travestis e 15% homens cis e trans. Além das pessoas privadas de liberdade, 5.113 familiares também foram indiretamente impactados por ações realizadas com apoio do edital. No sistema socioeducativo, 3594 adolescentes e jovens em cumprimento de medidas foram beneficiados e 2.838 familiares. E com relação às vítimas em decorrência de violência policial, um total de 2.606 pessoas vitimadas, com viés racial beneficiadas indiretamente e 1.579 familiares de vítimas fatais ou sobreviventes de violência policial com viés racial.

“Há um entendimento de que o Estado brasileiro precisa ser responsabilizado por todas as injustiças cometidas contra o povo negro. Mas, para que isso se torne uma medida real e que seja realmente efetiva para todos, precisamos nos debruçar sobre esse tema com dados e produção de conhecimento. Só assim será possível reparar todos os danos sofridos nos territórios”, afirma a socióloga, diretora e co-fundadora da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Nathalia Oliveira, uma das beneficiárias do Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. 

Além de Nathalia Oliveira, aparecem com importantes depoimentos no documentário, o historiador, Dudu Ribeiro, também fundador e diretor executivo da Iniciativa Negra;  Maria das Graças Nacort, da Amafavv (Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violência do estado do Espírito Santo); a assistente social, Lúcia Xavier, do Criola  e a advogada Carol Bispo, do Elas Existem – Mulheres Encarceradas . .  

, O que os dados mostram é que pessoas negras continuam sendo o principal grupo vitimado pela violência,  independentemente da ocorrência registrada, e chegam a 83,1% das vítimas de intervenções policiais. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, com dados de 2022, em relação ao perfil étnico-racial das vítimas, 76,5% dos mortos eram negros. Em relação ao Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), segundo Larissa Camerino, Mestre em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília, existe uma falta de atenção em saúde e os cuidados a adolescentes privados de liberdade. 

“A política socioeducativa ainda é permeada por estigmas, por desconhecimento de processos e por compreensões retrógradas, alicerçadas em uma concepção menorista e meramente punitiva, de que o(a) jovem autor(a)  de ato infracional se torna como que menos “digno/a” de direitos. Em um sistema em que as nossas internações têm cor, raça e gênero definidos muito antes do cometimento dos delitos, abordar sobre direitos desses jovens é, antes de mais nada, afirmá-los enquanto sujeitos de direitos e trazer à discussão as diversas omissões vivenciadas em paralelo”,  afirma Larissa em entrevista à Fiocruz Brasília, em julho de 2023.

Ainda que com a tarefa concluída, Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá, entende que é papel e responsabilidade do Estado Brasileiro garantir políticas públicas que retardem o nível de desigualdade racial e de gênero, refletido na Justiça criminal brasileira.

Para Nathalia Oliveira, co-fundadora e dretora executiva responsável pelo Projeto Iniciativa Negra por Direitos, Reparação e Justiça, apoiado pelo Baobá, a verdadeira reparação histórica para a população negra passa por construção de memória, justiça e verdade, criando uma comissão de verdade que investigue dados e a averiguação e responsabilização sobre casos específicos, como a participação de agentes do Estado em crimes contra a humanidade, e o paradeiro de pessoas desaparecidas em meio a esses conflitos. Além de anistia a pessoas envolvidas em conflitos, mudanças legislativas e institucionais para o fim de contendas,  e outras ações urgentes para reparar anos de injustiças criminais ao povo negro.

Pessoas negras são detentoras das suas próprias histórias, ainda que por muitos anos não tenham tido protagonismo dela. A história do povo preto não se resume somente ao período escravocrata, mas é mantida em condições desiguais até os dias atuais por interesses políticos e sociais. Tal imigração forçada de africanos, durante o tráfico transatlântico de pessoas escravizadas,  deixou para trás centenas de histórias, mas que ainda temos em nós a memória e a resistência do lugar de onde viemos. Tal memória perpassa pela luta em garantir dignidade e justiça para os nossos atuais, que é o que consumou o edital, através de um modelo de filantropia participativa utilizado pelo Baobá, que vem permitindo que as organizações tenham autonomia e identifiquem soluções para se reinventar perante desafios tortuosos que as desigualdades sociais os impõem.

Fundo Baobá consegue alcançar as cinco regiões do Brasil

Após doze anos de atuação, Baobá segue sendo pioneiro em promover a transformação social pelos quatro cantos do País

Uma grande missão foi posta para o movimento negro brasileiro com esta frase: “Baobá, a árvore símbolo da sustentabilidade da causa da equidade racial. Cultive e regue essa ideia”. Ela foi dita por Magno Cruz, uma das grandes referências de liderança negra no Nordeste brasileiro, lá em 2009, aos futuros membros do que viria a se tornar o primeiro e maior fundo patrimonial no Brasil dedicado exclusivamente à promoção da equidade racial para a população negra.

Ao longo dos anos, o Brasil testemunhou projetos políticos que mantiveram pessoas negras em situações precárias e marginalizadas, perpetuando assim uma estrutura de opressão e exclusão social. Isso contribuiu para uma população muito invisibilizada, no que tange à construção e à prática de políticas públicas existentes para a redução de desigualdades sociais e opressões vividas até hoje pela população negra. 

“Dar a conhecer sobre a nossa forma de atuação, seleção e realização das doações é garantir que nosso trabalho chegue em territórios onde o poder público ou mesmo o investimento social privado não chega. É isso é um dos nossos grandes desafios”, afirma Fernanda Lopes, Diretora de Programa do Fundo Baobá.

É preciso olhar para o passado para seguir em frente, assim nos ensina a filosofia Africana Sankofa. E é exatamente o que faz o Baobá – Fundo para Equidade Racial no decorrer desses 12 anos de existência, atuando prioritariamente em territórios desassistidos, com o objetivo principal de fomentar a justiça social apoiando iniciativas negras de Norte ao Sul do Brasil. Ao exercitar esse olhar, atualmente mais de 800 iniciativas apoiadas já foram beneficiadas pelo Fundo patrimonial. E nesses anos de atuação do Fundo Baobá, a estratégia principal para contribuir com o avanço socioeconômico da população negra do País, se destaca por um amplo processo de escuta ativa envolvendo, prioritariamente,  lideranças e organizações, com atuação prioritária nos eixos Viver com Dignidade, Educação, Desenvolvimento Econômico e Comunicação e Memória. O que resulta em mais de 16 milhões de reais investidos em projetos de transformação social por todo o País, sendo mais de setecentos mil na região Norte, sete milhões na região Nordeste, seiscentos mil na região Centro-Oeste, seis milhões na região Sudeste e setecentos mil na região Sul.

“É com muita alegria que conseguimos finalizar o Projeto Olori: mulheres negras e periféricas construindo lideranças, com a ajuda do Baobá que além de trazer muita alegria nos desafiou a trabalhar coletivamente. Nós somos 3 organizações de mulheres negras de periferia de Recife, que hoje afirma que o que fica de legado é a aproximação de mulheres da comunidade que não nos conheciam e agora desejam participar de uma das 3 organizações”, afirma Rosa Marques, realizadora de um dos projetos apoiados na 1ª turma do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco.

Identificar, reconhecer e reproduzir o modus operandi de filantropia negra, através do histórico de atuação das irmandades também é uma das ferramentas essenciais para entender a história da população negra e como elas operavam desde dos primórdios para garantir desde cartas de alforria até velórios dignos para os negros. A estratégia de grupos engajados na luta contra o racismo estrutural, potencializa as tecnologias sociais concebidas e implementadas nas comunidades, fortalecendo assim o ecossistema empreendedor, em especial investindo em nano e micro negócios. Isso resulta em mobilizar ativos produtivos locais, apoiando estudantes, profissionais e pesquisadores que atuam em diversas áreas do conhecimento na ampliação de suas habilidades técnicas e socioemocionais.

“Quando falamos de filantropia pode parecer que falamos apenas de dinheiro, mas filantropia também pode ser usar nossa liderança e influência para trazer outras pessoas que talvez não se sentissem poderosas o suficiente para falar sobre a cura racial e sobre progresso racial. A influência da filantropia pode mudar mentalidades sociais e perspectivas tanto quanto programas financiados”, afirma Hélio Santos, professor, consultor e ativista da causa racial no Brasil.

A governança do Baobá tem reiterado a necessidade e urgência de continuar atuando com uniformidade em todas as cinco regiões do Brasil, tanto na mobilização e articulação de investidores sociais privados quanto no desempenho e promoção de equidade racial em todas as regiões do país. 

Projeto ‘Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência’ e seu legado de mudanças e perspectivas

O processo vivenciado até aqui trouxe à luz os impactos gerados nos seis meses de vivência, de janeiro a julho de 2023, de execução do projeto projeto ‘Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência’, promovido pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial com apoio da Johnson & Johnson, e somente possível de ser realizado a partir do movimento de união e catalização da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Coordenação Estadual das Associações de Comunidades Remanescentes de Quilombo (Malungu/Estado do Pará), Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto à Baixinha (ARQIB), do admirável empenho da equipe técnica da psicologia, direto e comunicação junto às comunidades, transpondo os estigmas e até mesmo a falta de entendimento sobre o que seria saúde mental. Uma emocionante união que possibilitou a troca de conhecimentos e informações, e, sobretudo, o impulso à vida. 

Viver esta experiência na Amazônia é viver toda a potencialidade, cultura, desafios e ancestralidade que só existem nela, é respirar o ar puro, ar com cheiro de Amazônia, de verde e de terra molhada. Vivenciar os territórios é ajustar-se a um tempo que propicia a contemplação, ato que para quem vive a aceleração dos centros urbanos há de gerar um nível de estranheza, pois nos territórios existe a possibilidade tangível da experiência do tempo de qualidade. 

A partir da execução do projeto “Saúde Mental” conhecemos e compartilhamos da rotina de 12 comunidades quilombolas, e seus dois anexos, que mantêm seus modos de operação e vida à base da pesca e da roça, do açaí, de tecnologias vivas que estão presentes em seus habitats. O que nos fez refletir sobre a visão da tecnologia ser algo comumente associada à modernidade, ao digital, quando nos territórios a tecnologia pode ser entendida como uma inteligência, como tudo aquilo que é utilizado para resolver e melhorar a vida das pessoas de forma individual ou em coletivo. 

A cidade está logo ali, a 50 minutos da Região do Baixo Tocantins, mas mesmo assim as limitações que cercam esse espaço são inimagináveis. E falar de saúde mental é também falar das dificuldades que cercam essas regiões, que sofrem com a falta de estrutura mínima para terem uma vida plena, o que afeta diretamente o dia-a-dia, e nesse sentido o projeto também trouxe uma perspectiva de cuidado e de uma abordagem cautelosa diante da realidade dos territórios. Salomão Santos, que faz parte do conselho diretor da Malungu disse: “O problema da doença é que ela não é causada somente “pela doença”, então a gente não pensa em tratá-la isoladamente, mas tratar a sua causa, tratar o problema que a trouxe”. Entender que a ausência de estruturas sociais afeta as subjetividades humanas é algo de extrema importância na compreensão de que muitos fatores podem desencadear um processo de adoecimento emocional. 

Para Teógino Ferreiro, morador do território, ao caminhar pela  sua comunidade, Cupu,  já é possível notar diferenças do antes e depois do projeto ter iniciado, “Nós sentimos a diferença que o projeto trouxe, vemos as melhorias e mudanças. Mesmo o foco sendo saúde mental, muito foi dito sobre saneamento básico, você anda aqui hoje nas ruas, já vemos as casas mais limpas, mais arrumadas, limpeza, quintal, e tudo isso faz parte da mudança. Na minha vida pessoal, eu tenho dois filhos adolescentes e é um desafio criá-los no mundo de hoje, mas a partir de algumas orientações, eu senti que consegui fazer diferente com eles, isso impactou até na vida escolar deles. O pacto da saúde com a educação”.

Nilva Martins, presidente da ARQIB, também reforçou a importância de cada profissional para essa mudança de perspectiva, aprendizado e fortalecimento da comunidade. “Através da oficina de direito eu pude ter um conhecimento maior sobre os nossos direitos. A equipe de enfermagem conseguiu alcançar mulheres que eu não estava conseguindo alcançar. A equipe da Negritar conseguiu alcançar pessoas que talvez não conseguissem se expressar, mas que hoje como a gente ouve relatos, essas pessoas estão conseguindo se expressar melhor. A equipe da psicologia nem se fala, né?”, relatando que cada atividade e ação desenvolvida plantou uma semente de mudança. 

E para falar de direito quilombola é preciso falar sobre direito à vida, para Magno Nascimento, consultor da Malungu, “Sem direito não tem vida. Esse é o ponto central dessa proposta. Sem direito não há a possibilidade das pessoas viverem. Elas vão apenas sobreviver de alguma forma“. E para ele, a partir da realização transversal do projeto “Saúde Mental”, houve um possibilitar e um incentivo a novas experiências e expectativas para as comunidades. 

O acesso básico ao direito à saúde é fundamental para que se viva uma vila plena, os atravessamentos que acontecem nas comunidades muitas das vezes também são coletivos e estão associados a outros fatores e direitos que estão ausentes ou comprometidos. “A saúde, ou a falta dela, não é uma questão individual, nunca é uma questão individual. Sempre tem outras questões que vão atravessar diretamente essa individualidade. E aqui a questão do território, da questão agrária está diretamente ligada às questões de violações de direitos”, pontua a psicóloga Bianca Tsubaki. 

Essa compreensão de que o todo influencia nas individualidades foi essencial para o diálogo sobre saúde mental e como se sobressair na elaboração de estratégias possíveis e que pudessem fazer sentido para todos os envolvidos. Nisso, as oficinas de comunicação foram essenciais, pois atuaram como um fio condutor do projeto, entendendo as pessoas como protagonistas de suas narrativas, colocando-as para se enxergarem como multiplicadoras de informações através das suas histórias, vivências e do uso das novas tecnologias. 

Após seis meses de implementação, o projeto chega ao seu fim, mas com força e com resultados de impacto positivos que ainda estão reverberando não só para as comunidades que comungaram desta realização, mas para todos que fizeram parte, que partilharam conhecimentos e que contribuíram nesta construção. Foram 685 pessoas alcançadas diretamente, em mais de 60 atividades realizadas pelas equipes técnicas nas 14 comunidades do território. Números importantes, mas que simbolizam muito mais que uma estatística, pois são relacionados a processos subjetivos e que ainda poderão ecoar através de cada espaço, grupo e pessoa impactada individualmente, para dentro de suas casas, entre seus familiares e outros membros de sua comunidade e de outros territórios.

Encerramento de ciclo do Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça

Lançado em  maio de 2021 pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial, com apoio do Google.org, o Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça chega ao final do seu ciclo com a expectativa plenamente atingida no que diz respeito ao apoio a  instituições negras que enfrentam o racismo, a violência racial e as incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil.

O Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça beneficiou diretamente doze organizações negras, das quais 75% tinham a maior parte da coordenação composta por mulheres cis ou trans. Sete delas com mais de 10 anos de atuação. Sendo impactadas indiretamente 7210 pessoas privadas de liberdade, 67% mulheres cis e trans; 23% travestis e 15% homens cis e trans. Além das pessoas privadas de liberdade, 5.113 familiares também foram indiretamente impactados por ações realizadas com apoio do edital. No sistema socioeducativo, 3594 adolescentes e jovens em cumprimento de medidas foram beneficiados e 2.838 familiares. E com relação às vítimas em decorrência de violência policial, um total de 2.606 pessoas vitimadas, com viés racial beneficiadas indiretamente e 1.579 familiares de vítimas fatais ou sobreviventes de violência policial com viés racial.

“Há um entendimento de que o Estado brasileiro precisa ser responsabilizado por todas as injustiças cometidas contra o povo negro. Mas, para que isso se torne uma medida real e que seja realmente efetiva para todos, precisamos nos debruçar sobre esse tema com dados e produção de conhecimento. Só assim será possível reparar todos os danos sofridos nos territórios”, afirma a socióloga, diretora e co-fundadora da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Nathalia Oliveira, uma das beneficiárias do Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. 

O que os dados mostram é que pessoas negras continuam sendo o principal grupo vitimado pela violência,  independentemente da ocorrência registrada, e chegam a 83,1% das vítimas de intervenções policiais. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, com dados de 2022, em relação ao perfil étnico-racial das vítimas, 76,5% dos mortos eram negros. Em relação ao Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), segundo Larissa Camerino, Mestre em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília, existe uma falta de atenção em saúde e os cuidados a adolescentes privados de liberdade. 

“A política socioeducativa ainda é permeada por estigmas, por desconhecimento de processos e por compreensões retrógradas, alicerçadas em uma concepção menorista e meramente punitiva, de que o(a) jovem autor(a)  de ato infracional se torna como que menos “digno/a” de direitos. Em um sistema em que as nossas internações têm cor, raça e gênero definidos muito antes do cometimento dos delitos, abordar sobre direitos desses jovens é, antes de mais nada, afirmá-los enquanto sujeitos de direitos e trazer à discussão as diversas omissões vivenciadas em paralelo”,  afirma Larissa em entrevista à Fiocruz Brasília, em julho de 2023.

Ainda que com a tarefa concluída, Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá, entende que é papel e responsabilidade do Estado Brasileiro garantir políticas públicas que retardem o nível de desigualdade racial e de gênero, refletido na Justiça criminal brasileira.

Para Nathalia Oliveira, co-fundadora e dretora executiva responsável pelo Projeto Iniciativa Negra por Direitos, Reparação e Justiça, apoiado pelo Baobá, a verdadeira reparação histórica para a população negra passa por construção de memória, justiça e verdade, criando uma comissão de verdade que investigue dados e a averiguação e responsabilização sobre casos específicos, como a participação de agentes do Estado em crimes contra a humanidade, e o paradeiro de pessoas desaparecidas em meio a esses conflitos. Além de anistia a pessoas envolvidas em conflitos, mudanças legislativas e institucionais para o fim de contendas,  e outras ações urgentes para reparar anos de injustiças criminais ao povo negro.

Pessoas negras são detentoras das suas próprias histórias, ainda que por muitos anos não tenham tido protagonismo dela. A história do povo preto não se resume somente ao período escravocrata, mas é mantida em condições desiguais até os dias atuais por interesses políticos e sociais. Tal imigração forçada de africanos, durante o tráfico transatlântico de pessoas escravizadas,  deixou para trás centenas de histórias, mas que ainda temos em nós a memória e a resistência do lugar de onde viemos. Tal memória perpassa pela luta em garantir dignidade e justiça para os nossos atuais, que é o que consumou o edital, através de um modelo de filantropia participativa utilizado pelo Baobá, que vem permitindo que as organizações tenham autonomia e identifiquem soluções para se reinventar perante desafios tortuosos que as desigualdades sociais os impõem.

Filantropia Comunitária e Racismo Ambiental no Brasil: Uma Perspectiva Integrada

A filantropia comunitária é um modelo que busca fortalecer e capacitar as comunidades locais para identificar suas próprias necessidades e buscar soluções sustentáveis. Nesse contexto, a filantropia não se restringe apenas à doação financeira. Ela está além disso: busca também o envolvimento ativo, o compartilhamento de conhecimentos e a colaboração dos indivíduos pertencentes àquela comunidade. A ideia é promover o desenvolvimento e a resiliência das comunidades, levando em consideração suas potencialidades e particularidades.

No Brasil, a filantropia comunitária ganha destaque em diversas iniciativas, como os fundos comunitários, que são criados e geridos pelas próprias comunidades para atender às demandas locais. Um exemplo é o Baobá – Fundo para Equidade Racial em seus quase 12 anos de atuação no apoio a iniciativas voltadas para o enfrentamento ao racismo.

A filantropia comunitária tem se constituído em forte mecanismo de ativismo e pressão contra o racismo ambiental, uma forma de discriminação que ocorre quando comunidades colocadas como racialmente minoritárias são desproporcionalmente afetadas por políticas e práticas ambientais prejudiciais. Isso pode se manifestar na localização de indústrias poluentes em áreas habitadas majoritariamente por pessoas negras, quilombolas e indígenas. Ou ainda pela especulação imobiliária, que empurra populações vulneráveis para áreas de maior risco ambiental e climático. De forma infeliz, o racismo ambiental persiste em várias regiões do Brasil, especialmente em áreas urbanas e periféricas densamente povoadas e em regiões industrializadas. Dados do MapBiomas mostram que de cada 100 hectares de favela, 15 foram construídos em áreas de risco. 

Os eventos climáticos extremos que o Brasil tem experimentado mostram os impactos cada vez mais severos, incluindo enchentes, deslizamentos de terra, secas e tempestades intensificadas. 

No que diz respeito às populações indígenas e quilombolas, a filantropia comunitária já  desempenha papel crucial. Essas comunidades enfrentam desafios políticos, socioeconômicos e ambientais significativos. Como a recente disputa sobre o marco temporal de territórios indígenas mostra, a violência latifundiária mantém um nível de violência institucional semelhante ao  dos séculos de colonialismo. O recente assassinato de mãe Bernardete, em área que passa por processo de desintrusão, na Bahia, é um triste lembrete disso e uma evidência contundente do risco embutido na posse de terras por grupos e populações racializados.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, o Brasil tinha cerca de 896 mil indígenas e aproximadamente 5,9 mil comunidades quilombolas. A filantropia comunitária pode oferecer suporte a essas populações por meio do financiamento de projetos voltados para a segurança jurídica, a preservação cultural, a promoção da educação, o acesso à saúde e o desenvolvimento sustentável. Além disso, é fundamental que essas iniciativas sejam elaboradas e implementadas em parceria com as próprias comunidades, respeitando suas tradições e conhecimentos ancestrais.

Em resumo, a filantropia comunitária e o combate ao racismo ambiental são peças-chave na construção de um Brasil mais equitativo e sustentável, onde todas as comunidades tenham a oportunidade de prosperar e viver em um ambiente saudável e justo. Para que  saudabilidade e justiça alcancem maior número de pessoas, conhecer e apoiar organizações que trabalham com a filantropia, como o Baobá – Fundo para Equidade Racial, é fundamental. Conheça! Apoie! 

No Mês da Filantropia Que Transforma, Baobá faz live para discutir o impacto na filantropia negra

Transformando com Propósito: Medindo o Impacto na Filantropia Negra foi o tema discutido por quatro mulheres negras com vivência no ativismo social

 

O Fundo Baobá é um dos 16 fundos que compõem a Rede Comuá e,  de forma ativa, participou das atividades do Mês da Filantropia Que Transforma, que movimentou setembro. A Rede Comuá desenvolve trabalho cujo principal objetivo é a democratização do acesso a recursos que propiciem a transformação social de pessoas e também organizações. 

Para reforçar a campanha, o Fundo Baobá realizou a live Transformando com Propósito: Medindo o Impacto na Filantropia Negra. A discussão sobre o tema perpassou a questão da formação das irmandades negras, consideradas como o início da filantropia no Brasil, e chegou até a discussão sobre melhores práticas de avaliação e monitoramento nos dias atuais. 

Para discutir a questão foi formada uma mesa  com: Caroline Almeida, assistente executiva do Baobá – Fundo Para a Equidade Racial;  Eli Odara Theodoro, gestora de instituição de ensino fundamental e médio; e Lívia Guimarães,  especialista em gestão de projetos sociais. A mediação da conversa coube a Fernanda Lopes, diretora de Programa do Baobá desde 2019.

Caroline Almeida começou a conversa questionando a ideia de que há uma falta de capacidade nas organizações negras de base comunitária para planejar, fazer gestão e fazer prestação de contas. “Isso é um mito, sem sombra de dúvidas. Lógico que não podemos ser ingênuas de pensar que isso não é aquela tática repugnante de uma mentira dita mil vezes se tornar uma verdade. E essa repetição está nos esforços para que isso se torne uma quase verdade. As organizações sociais negras do país foram criadas no Século 19. Elas reuniam pessoas expostas a vários riscos e mazelas. Cumpriam um papel de promover um seguro social. O decreto legislativo de criação da Previdência Social é de 1923. Antes disso, um século antes, as  organizações sociais negras já faziam isso. É mito de que essas capacidades não existem. Elas estão ali. Precisamos olhar para essas capacidades e fazer esforços para ampliação dessas potencialidades que já estão no campo”, afirmou. 

As mudanças positivas e negativas pelas quais o mundo vem passando também provocam impacto na filantropia, a ponto de novos modelos de relação filantrópica estarem sendo criados e assumidos – tanto por quem faz a filantropia como por quem recebe os benefícios dela. Isso foi analisado por Lívia Guimarães: “É importante pensar uma nova filantropia. Uma filantropia não hegemônica. As práticas avaliativas podem ser grandes aliadas, pois os processos de avaliação estão sendo usados para poder implementar ações. Essas práticas estão dentro de um contexto de dar visibilidade ao uso transparente de recursos e vemos as práticas avaliativas como mecanismos de aprendizado institucional tanto para donatários quanto para as organizações doadoras. A avaliação participativa dialoga muito com essa filantropia que transforma, na medida em que ela se coloca como uma ferramenta contra- hegemônica, que busca a horizontalidade entre os pares, que tenta fazer frente a essa simetria de poder que há dentro do contexto do investimento social”, disse. 

Os diferentes ângulos pelos quais temos que analisar situações em que estamos envolvidos foram a tônica da participação de Eli Odara Theodoro. Coube a ela definir o papel das instituições filantrópicas como fomentadoras da transformação da realidade de associações, grupos e coletivos por elas beneficiados. Eli começou falando em afeto, pois segundo ela foi o afeto e dedicação oferecidos pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial que propiciou a entrada da organização quilombola da qual ela faz parte (Associação Cultural de Agricultores Familiares das Comunidades Quilombolas de Santo Antônio e Vidal)  como donatária do edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça. “Tivemos afeto. Porque tudo foi feito com muita paciência e com uma explicação muito bem detalhada. Essa assistência técnica que nós, como organização civil organizada, conseguimos agora, com um edital construído especificamente para a comunidade quilombola. Quando o Baobá nos envia eixos para que a gente se adeque ao que mais está dentro do nosso enfrentamento, isso demonstra um olhar de afeto para saber como nossa comunidade está e o que ela precisa naquele momento. Só oferecer o recurso não vai resolver o problema. Tem que ser dada a formação também”, afirmou.

Sintetizando o espírito da conversa que movimentou a live, fica o seguinte conceito sobre filantropia:  Filantropia Transformadora é a que capta as necessidades e expectativas do coletivo, identifica potencialidades, estimula e dá fortalecimento a essas potencialidades no sentido de chegar a soluções para problemas que cercam diferentes comunidades. .  

Assista a live “Transformando com Propósito: Medindo o Impacto na Filantropia Negra”: 

Saiba mais sobre as participantes: 

Caroline Almeida é graduada em Administração pela Universidade Federal da Bahia com atuação de 11  anos com organizações sociais.

 

Eli Odara Theodoro é gestora de instituição de ensino fundamental e médio, tecnóloga em teatro, produtora cultural, designer,  educadora e  mobilizadora social, poeta e extensionista em direitos humanos, educação quilombola, história da africa, cultura negra e o negro no Brasil,  licenciada em teatro pela Universidade Federal da Bahia.

 

Lívia Guimarães,  pedagoga de formação,  é especialista em gestão de projetos sociais, pesquisadora do Programa de Ciências Humanas e Sociais, e desenvolve pesquisa de doutorado no campo das teorias interseccionais, articulando as categorias raça, gênero e sexualidade.

Fernanda Lopes, diretora de Programa do Baobá desde 2019, compôs por 11 anos a equipe do Fundo de População das Nações Unidas, escritório Brasil. Fernanda é a responsável pela elaboração da teoria da mudança que orienta a implementação do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco.

Juvenicídio e Acesso à Justiça no Nordeste: apoiada por edital do Fundo Baobá defende tese de doutorado

A juventude de 15 a 29 anos, negra, pobre, do sexo masculino, e nordestina, representa a maioria das vítimas de homicídio no país. E após a morte desses jovens, são as famílias enlutadas, em sua maior parte constituída por mulheres e pessoas negras, que passam a lidar com o Sistema de Justiça Criminal no processo de investigação, julgamento e responsabilização. Estas são as principais conclusões da tese de doutorado “Juvenicídio e Acesso à Justiça no Nordeste: Atravessamentos de Raça, Classe e Gênero nas Narrativas de Famílias de Vítimas do Estado”, defendida por Jenair Silva, uma das donatárias da primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. 

O trabalho da pesquisadora denuncia o “juvenicidio” que está ocorrendo no Brasil, uma vez que a juventude se constitui como parte social mais afetada pela dinâmica homicida, que é presente na realidade brasileira devido à prática do Estado de violação de direitos humanos, que tem como resultado o aumento da violência urbana, oriunda de uma ampla repressão e criminalização da pobreza. 

“É imediato reconhecer que existe uma estrutura que se articula intencionalmente para vitimizar jovens negros a partir de uma consubstância de raça, gênero e classe. Ações superficiais como “formação de policiais” não resultam nas ações necessárias para gerar segurança às nossas juventudes. É preciso realmente pensar em ações, projetos, programas e políticas que cheguem às raízes da questão e, de fato, contribuam com a mudança”,  afirma Jenair, em entrevista ao Baobá.

Na tese, a mesma dialogou sobre vários fatores que contribuem para o estado atual da situação – mais de 42% dos homicídios de jovens brasileiros, de 15 a 29 anos, ocorre no Nordeste: o racismo, o aumento da pobreza, o aprofundamento das desigualdades, a potencialização do discurso do “bandido bom é bandido morto” por governos recentes, entre outras questões objetivas e simbólicas, que contribuem significativamente para esse quadro que a fez refletir que as iniciativas para a assistência ideal ainda não são expressivas e, ainda assim, boa parte vem das organizações não governamentais. 

Para Jenair, é importante que o Estado se responsabilize com os impactos causados a partir da sua vitimização, direta ou indireta, em todas as suas ordens – econômicas, com a garantia de acesso ao trabalho, e as necessidades básicas de vida das famílias empobrecidas, necessidades psicológicas, ofertando suporte psicológico a toda a família no atravessamento do luto e jurídico, produzindo segurança institucional das famílias com oferta de programas específicos que conhecem a realidade e oferecem suporte jurídico às famílias nordestinas.

A tese teve inspiração no método Materialista Histórico Dialético, como uma intencionalidade de aproximação da realidade a partir das pessoas que constroem seus contextos. Nesse sentido, na impossibilidade de ouvir os jovens negros vítimas de homicídio, Jenair ouviu os familiares dessas vítimas, sobretudo as mães que estão em processo de luta por memória, verdade e justiça pela vida retirada dos seus filhos.

Jenair Silva, que é natural de Iguatu – Ceará, se conectou com a juventude negra através da sua militância em um encontro nacional da juventude negra em 2007. Naquela oportunidade teve a chance de dialogar sobre o homicídio de jovens de Natal, Rio Grande do Norte. A partir disso, foi possível ampliar o debate e aprofundar estudos sobre as políticas de produção de morte no Brasil. Sua jornada recebeu um impulso importante quando foi selecionada pelo Edital proposto pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial juntamente com a Fundação Kellogg, Fundação Ford, Open Society Foundations e Instituto Ibirapitanga que busca ampliar a participação de mulheres negras em posições de poder e influência, através de investimento em seus planos de desenvolvimento individual, formações políticas e técnicas e ainda no fortalecimento das organizações, grupos, coletivos liderados por elas..

Descubra mais histórias inspiradoras e impactantes da primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. E se prepare para o que está por vir, pois a segunda edição está chegando!

Setembro é dedicado a transformações sociais que a filantropia provoca

O Fundo Baobá, junto com outras organizações da Rede Comuá, fomenta o debate a partir do tema “Medindo o que Importa”

Visando a captação de recursos, setembro, o Mês da Filantropia que Transforma, é dedicado a debater, dar maior visibilidade e incrementar práticas de filantropia comunitária e justiça socioambiental. O período será repleto de conversas, informações e encontros versando, entre outros temas, sobre: formas de medir o impacto das ações realizadas, o lançamento da pesquisa Filantropia que Transforma; Comunicação Inclusiva; Acessibilidade Digital; Filantropia Comunitária e Histórias de Impacto, que será uma série de vídeos com narrativas de organizações que ampliaram seus impactos a partir de doações. 

O mês de agosto, por exemplo, foi ímpar na história de 12 anos de atividade do Baobá – Fundo para Equidade Racial. O fundo patrimonial destinou uma doação de R$ 500 mil para a SPD (Sociedade Protetora dos Desvalidos), entidade histórica sediada na Bahia. A SPD é a primeira organização civil negra formada na América Latina. Na sua base de criação, a busca pelo direito à liberdade, nos seus mais amplos sentidos: do bem viver, de pensamento e política. 

Para enriquecer a discussão, o Fundo Baobá vai lançar no dia 28 de setembro a live “Transformando com Propósito: Medindo o Impacto na Filantropia Negra”, com o  objetivo de contextualizar suas diferentes práticas; discutir como a prática da medição de impacto fortalece iniciativas sociais; compartilhar as experiências vividas e alcançadas pelo Fundo nas ações que tem desenvolvido; compartilhar as evidências de transformação social que resultam de projetos filantrópicos e, por último, provocar a reflexão dos participantes quanto às lições aprendidas e como elas podem ser aplicadas em suas próprias vivências filantrópicas. Toda a programação do Mês da Filantropia que Transforma pode ser vista aqui.  

A Rede Comuá é composta por mais de 20 fundos temáticos, fundos comunitários e organizações doadoras, que atuam nos campos da justiça socioambiental, direitos humanos e desenvolvimento comunitário, apoiando grupos, coletivos, movimentos e organizações civis.

Historicamente, a filantropia negra atua pela promoção da justiça social, pelo bem viver, pela produção de conhecimento, pelo fortalecimento de organizações e desenvolvimento de pessoas, pela autonomia e sustentabilidade financeira das pessoas e organizações apoiadas. 

A live feita pelo Baobá, que irá para o ar no dia 28 pelo youtube e faz reflexões sobre a filantropia negra e seu papel na transformação social, processos avaliativos, como a filantropia compreende as capacidades de gestão das organizações de base comunitária, o que efetivamente importa medir para deixar evidentes as transformações, entre outros assuntos. 

Exercer a filantropia é trabalhar com uma ferramenta que, entre outras coisas, contribui e muito para gerar o pensamento crítico. A partir dele ocorre a busca pelas tão desejadas transformações sociais.

Relato Narrativo: Projeto Saúde Mental Quilombola

Semeando mudanças

Promovido em conjunto pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e Coordenação Estadual das Associações de Comunidades Remanescentes de Quilombo (Malungu/Estado do Pará), Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto a Baixinha (ARQIB), o projeto “Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência”, iniciado em dezembro de 2022  com apoio da Johnson & Johnson, buscou dialogar com lideranças comunitárias, trabalhadores da saúde, juventude, homens e mulheres, em uma espécie de coligação na criação de estratégias para o resgate da autoestima de pertencer a um quilombo.  

De oficinas de saúde mental para profissionais da saúde e da educação, à criação de redes de apoio, o projeto desencadeou transformações. A saúde mental deixou de ser um tabu e se tornou um tema aberto para discussão, promovendo o bem-estar individual e coletivo.

As parcerias com profissionais de saúde, comunicação e lideranças quilombolas, fortaleceram a iniciativa, permitindo a identificação de problemas e ações conjuntas, gerando uma abordagem de cuidado integral.

Os relatos a seguir ilustram como as ações concretas do projeto moldaram uma nova realidade, desencadeando ondas de transformação coletiva e convidando a um olhar mais profundo sobre os impactos alcançados.

Ampliando horizontes dos profissionais da saúde e educação

A estratégia de implementação se deu pelo fortalecimento das bases da comunidade, capacitando profissionais de saúde e educação, com técnicas de acolhimento, identificação e encaminhamento adequado para os casos de saúde mental. Essas pessoas se tornaram multiplicadores da informação, trazendo cuidado e conhecimento às comunidades quilombolas atendidas. “As atividades de formação foram voltadas ao desenvolvimento de competências técnicas pelos participantes”, revelou Álvaro Palha, psicólogo e líder da equipe multidisciplinar responsável pelas oficinas sobre saúde mental. 

A partir das oficinas, que abordaram desde saúde mental até doenças crônicas, os profissionais de saúde se fortaleceram como pilares de uma rede de apoio capaz de identificar e cuidar das necessidades da comunidade. Essas atividades abriram portas para uma abordagem integral da saúde.

“Eu aprendi a enxergar a saúde de uma forma diferente, mais ampla.” – Maria do Ó, Agente Comunitária de Saúde.

Da mesma forma, profissionais da educação experimentaram uma transformação significativa por meio do projeto, adquirindo uma compreensão aprimorada dos desafios e necessidades que permeiam as comunidades. As oficinas proporcionaram a eles a habilidade de identificar sinais de alerta relacionados à saúde mental em seus alunos, facilitando uma abordagem mais atenciosa. O processo educativo, visto como principal meio de transmissão de conhecimentos, evoluiu para uma poderosa ferramenta de empoderamento, abrangendo não apenas o aspecto acadêmico, mas também o emocional e cultural dos alunos e alunas.

Comunicação para o bem viver

“As oficinas de vídeo me deram coragem para compartilhar nosso modo de vida.” – Sinalva Vieira Martins

Ao entrarmos nas comunidades quilombolas, entender os modos de comunicação e educação já estabelecidos é fundamental pensar na comunicação participativa, envolvendo as pessoas da comunidade, não só como receptores, mas como protagonistas dos conteúdos produzidos. Nas oficinas, foram trabalhados temas como comunicação não violenta e o fortalecimento dos vínculos entre lideranças e moradores, valorizando a riqueza dos saberes locais e suas formas de repasse. A partir de seus celulares, foi possível roteirizar, captar e editar imagens. “A oficina de audiovisual foi muito importante para gente por conta do conteúdo que nós aprendemos e entendemos. O celular é uma ferramenta que nos ajuda a divulgar pequenas coisas, ele é usado também para fazer algumas denúncias, que também ajudam muitas pessoas. E sobre as nossas atividades, fizemos um minicurso de como gravar, tirar fotos, fazer colagem, cortes e muitas coisas legais, a gente se divertiu muito com tudo isso”, relata Gilberto Ribeiro, morador da Comunidade de Baixinha.

“Conseguimos registrar e entender como a comunidade cada vez mais se comunica, se fortalece, se potencializa, se movimenta e funciona. O objetivo foi mostrar como usar essa ferramenta, o vídeo, em prol da transformação, de educação e de arte”, conta Tamara Mesquita, do Negritar.

Um novo olhar

“Agora, quando meu filho fica triste, eu entendo que pode ser algo mais profundo.” – Morador Anônimo

O projeto teve um impacto profundo nas comunidades, transformando a forma como os moradores encaram a saúde mental. Antes, a tristeza ou o isolamento eram muitas vezes minimizados, mas agora os moradores reconhecem os sinais sutis de questões emocionais e se sentem mais à vontade para procurar apoio e orientação.

As mulheres nas comunidades sentiram uma mudança significativa, passando de uma posição onde suas necessidades de saúde eram negligenciadas para serem ouvidas e respeitadas. Além disso, os profissionais de saúde também notaram uma mudança em sua abordagem, trabalhando em conjunto com as comunidades para promover a saúde mental.

Maria do Ó, uma Agente Comunitária de Saúde, destacou como o projeto aprimorou sua capacidade de identificar problemas de saúde mental e encaminhá-los adequadamente. Além disso, Sinalva Vieira Martins, outra agente comunitária de saúde, enfatizou a confiança que desenvolveu para lidar com questões emocionais e uma grande mudança em sua forma de comunicação e na compreensão das necessidades dos moradores.

O que nos reserva o futuro?

O impacto deixado pelo projeto Saúde Mental Quilombola é profundo e ressoa nas vozes dos moradores e profissionais que estiveram envolvidos. Marinilva, presidente da ARQIB, compartilha a importância do conhecimento adquirido: “Este projeto nos brindou com conhecimento e voz. Essa é uma herança que transmitiremos adiante.”

Por meio da educação, capacitação e empoderamento, o projeto pavimentou o caminho para uma compreensão mais ampla e inclusiva da saúde mental, resultando em uma comunidade mais unida, informada e resiliente.

O compartilhamento de saberes se tornou um fator importante para todas as pessoas. As atividades de conscientização não somente informaram, mas também fortaleceram os moradores, incentivando-os a participar ativamente na defesa de seus direitos e bem-estar, além de estreitar significativamente os laços de confiança e colaboração entre profissionais e comunidades.

Álvaro Palha observou a mudança na dinâmica entre profissionais e a comunidade: “Os profissionais evoluíram de meros prestadores de serviços para parceiros de cuidado.” 

Direitos quilombolas, saúde mental, saúde da mulher e doenças crônicas deixaram de ser questões distantes e inacessíveis. “Antes, eu tinha pouco conhecimento sobre nossos direitos. Agora, posso defendê-los”, declara Cleonice, uma moradora cujo sustento provém da agricultura e venda de bolos.

Por fim, falar dos direitos básicos à terra e a sua própria identidade é reforçar o protagonismo de cada quilombola e fornecer subsídios para sua recuperação. Aquilombar é um processo de resistência, é um mecanismo de defesa na luta pelo direito à vida e à liberdade.

 

Fundo Baobá faz primeiro encontro presencial com participantes do Edital Educação e Identidades Negras

Entre os dias 24 e 26 de agosto, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, proporcionou um momento valioso para os projetos apoiados no  Edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial, na cidade de Recife. Nesses dias aconteceu o primeiro evento presencial com as instituições selecionadas, que teve como objetivo proporcionar um espaço único para compartilhar experiências, aprendizados, avanços e os próximos desafios de cada projeto. 

Ao todo foram 12 organizações, grupos e coletivos selecionados, de oito estados brasileiros mais o Distrito Federal. Cada  um recebeu R$ 175.000,00 de apoio financeiro para a implementação de projetos de enfrentamento ao racismo e valorização da identidade e cultura negra no campo da educação, além de aumentar a representação de pessoas negras dentro da esfera educacional formal e não formal. O edital é uma parceria com a Imaginable Futures e Fundação Lemann e integra o Programa de Educação e Equidade Racial do Fundo Baobá.

O Edital Educação e Identidades Negras reforça o compromisso do Fundo Baobá com a educação antirracista do país e a cobrança no cumprimento efetivo da lei 10.639/03, que determina o ensino da história e cultura afro-brasileira na educação básica. Ao todo são 20 anos da lei 10.639, os desafios são inúmeros e os avanços escassos. Muitas instituições não cumprem a designação da lei por falta de formação, compromisso político ou até mesmo desconhecimento da obrigatoriedade. A implementação da lei é uma oportunidade ímpar para ampliar o debate sobre reconhecimento, justiça, desenvolvimento, memória e transformação social. A ausência de monitoramento e avaliação por parte das autoridades estaduais e municipais de educação, reitera o descompromisso com o enfrentamento ao racismo e com o exercício dos direitos da população negra, afirma a diretora de programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes.

Durante o encontro, as instituições tiveram a oportunidade de se conhecer melhor através de dinâmicas simples, mas que carregavam em si uma memória materializada em palavras e objetos que representavam a história e o legado de cada uma das organizações. Essas trocas fomentaram um olhar mais atento sobre os desafios vividos nas unidades escolares formais, sobre a necessidade de  aprimoramento e/ou implementação de novas propostas pedagógicas, capazes de fazer dialogar o formal e o informal na educação. Segundo Dinho Paciência, representante do Movimento Nação Marabaixeira, o Baobá é muito mais que uma instituição financeira: é um mecanismo de antecipação de propostas que só aconteceriam a longo prazo. 

Para Fernanda Lopes, diretora de Programa do Baobá, “Transformar as manifestações culturais negras, as práticas tradicionais de ensino e aprendizagem, em algo que o sistema formal reconheça e incorpore, é uma das maneiras de contribuir para  a construção de uma sociedade democrática”. Para ela, o Edital Educação e Identidades Negras é um marco, pois ele reitera a necessidade de produzir e divulgar conhecimentos e práticas negras populares, tradicionais e eruditas, ao mesmo tempo em que promove  novas atitudes e valores, pautados nos direitos humanos e na pluralidade étnico-racial, que devem permear  toda e qualquer ação educativa. Além disso, Fernanda destaca o fato de as instituições donatárias reconhecerem que a atuação em rede será um grande diferencial, reforçando o que, para o Fundo Baobá, é um indicador de sucesso, as parcerias estabelecidas entre donatários como estratégia de enfrentamento ao racismo, resistência e resiliência em todas as áreas de atuação. 



Filantropia Negra no Brasil: Sociedade Protetora dos Desvalidos recebe doação de R$ 500 mil do Fundo Baobá

Entre as muitas histórias inspiradoras que ilustram a tradição da filantropia negra no Brasil, uma delas merece atenção especial: a fundação da Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), na cidade de Salvador, Bahia, em 16 de setembro de 1832, por Manoel Vitor Serra, um negro africano liberto. A Protetora, como era conhecida,  foi um marco histórico na luta contra a desigualdade e a discriminação racial. Fundada por trabalhadores negros, a organização tinha como objetivo principal fornecer auxílio mútuo e amparo aos mais necessitados. Através de suas ações filantrópicas, a sociedade apoiava pessoas escravizadas a conseguirem sua alforria, bem como dar suporte aos membros que ficassem desempregados. 

Com base nessa vocação de luta pela igualdade de direitos, combate ao racismo em todas as suas formas e progresso da comunidade negra é que o Baobá decidiu  fazer uma doação de R$ 500 mil para a SPD. A pesquisadora social e membra da governança da Sociedade Protetora dos Desvalidos, Ligia Margarida Gomes, relata a importância da doação: “O Baobá, para nós, sempre foi uma grande esperança. Poder estar aqui nessa parceria é um momento muito especial. O Baobá foi criado para atender as demandas que sempre ansiamos e sempre foram reprimidas. Cada vitória que ele alcança é uma vitória nossa. O que o Baobá está ajudando a fortalecer também  nos fortalece”, afirmou Ligia. 

O diretor executivo do Baobá – Fundo para Equidade Racial, Giovanni Harvey, enaltece a importância histórica da SPD dentro do rol das conquistas do povo negro no Brasil, desde o início dos sequestros ocorridos em África, ainda no século 16. “Esta é a primeira vez que o Baobá decide, politicamente,  sem edital, fazer uma doação e faz isso com dinheiro próprio. Dinheiro gerado pelas operações do Baobá, que nos propiciam fazer uma doação expressiva”, disse. A SPD terá toda autonomia no que se refere à gestão do recurso oferecido. 

A relação entre a população negra no Brasil e a filantropia remonta a tempos coloniais, quando as irmandades negras destacaram-se como importantes estruturas organizacionais. Os primeiros registros dessas irmandades datam do século XVII, com uma expansão significativa no século XVIII, época do auge do tráfico escravista no país. Essas organizações foram criadas originalmente na Europa e, posteriormente, se expandiram para as colônias portuguesas, como o Brasil. Eram espaços de resistência e solidariedade diante da hostilidade imposta pelo regime escravocrata. Elas permitiam que os negros ocupassem e definissem formas de atuação social, custeando despesas como funerais, além de promoverem ações para auxílio mútuo e compra de cartas de alforria. A filantropia, quando exercida coletivamente, cria uma força unificadora capaz de impulsionar mudanças significativas na sociedade.

O Brasil, porém, traz um contexto histórico de muita importância no que se refere à formação dessas irmandades e Ligia Margarida Gomes explica o porquê. “A Sociedade Protetora dos Desvalidos é a primeira organização civil negra da América Latina. No Brasil, a primeira instituição de negros foi formada em Salvador, Bahia, e é a SPD. Essa organização foi criada com base no que vocês (dirigindo-se à equipe executiva do Fundo Baobá) estão ajudando a construir e a pensar, que é o resgate de direitos”, afirmou. 

Em suas composições, as irmandades valorizavam a equidade de gênero, contando com a participação ativa de mulheres negras em sua governança. Essas estruturas também tinham uma relação direta com o sagrado, praticando a fé e estimulando a solidariedade entre os membros. E a questão sagrada foi usada com astúcia pelo povo negro. “Quando a Revolta dos Búzios não dá certo por vários fatores,  Manoel Vitor Serra pensou em uma forma de ultrapassar as dificuldades. Os negros, por exemplo, não podiam se reunir. Dois pretos juntos já era considerado revolução. Eram abatidos. Só podiam se reunir em igrejas. E eles precisavam se articular para ultrapassar as dificuldades. Conseguiram isso de várias formas. Daí terem usado o nome de Irmandade, pelo fato de só poderem se reunir nas igrejas”, disse. 

Giovanni Harvey, a partir da linha histórica traçada por Ligia Margarida Gomes, contextualiza a importância da doação feita pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial: “A decisão de fazer essa doação diz respeito à história  da Sociedade Protetora dos Desvalidos, que é uma história que fomos privados de conhecer e que está ligada à história do Brasil. Ligada à história do Brasil que se tentou construir e que foi reprimida. Mas um  Brasil que resistiu e não desapareceu”, concluiu. 

Ao longo do século XIX, essas irmandades mudaram a forma de atuação com a interrupção do tráfico de escravos e a abolição oficial da escravatura, mas o objetivo de seu trabalho e sua existência permanece urgente. Todos os indicadores econômicos e sociais comprovam que a população negra ainda precisa das mudanças significativas que podem ser impulsionadas pela filantropia. Por isso, agosto, Mês da Filantropia Negra,  é uma ocasião especial para destacar as contribuições valiosas à sociedade.

A diretora de Programa do Baobá, Fernanda Lopes,  explica a importância histórica da filantropia negra.  “Até hoje negam esses tipos de investimento, porque é conhecendo mais a nossa história, conhecendo melhor o passado é que olhamos melhor o presente e podemos desenhar melhores planos de futuro.  E desenhar melhores planos de futuro coloca o povo da hegemonia em um lugar que eles não desejam estar. Fortalecer a SPD é fortalecer o Baobá”, definiu Fernanda. . 

 

O associativismo, que envolve a união de indivíduos em torno de objetivos comuns, permitiu que a Sociedade Protetora dos Desvalidos consolidasse sua independência para agir de maneira mais eficaz. Por meio dessa organização, foi possível a muitos compartilhar recursos, conhecimentos e experiências, fortalecendo assim a comunidade negra como um todo.

O cooperativismo, por sua vez, trouxe uma abordagem econômica que permitia à comunidade negra superar barreiras e desafios impostos pelo racismo. Ao unirem forças e recursos, os membros da Protetora e outras irmandades que se formaram conseguiram desenvolver projetos conjuntos, como a criação de cooperativas de produção e consumo, visando a autonomia financeira e ao empoderamento econômico da comunidade. Essas iniciativas eram fundamentais não apenas para garantir a sobrevivência, mas também para fortalecer a autoestima e a resiliência negra.

A filantropia negra no Brasil tem raízes históricas profundas nas irmandades negras, que surgiram como espaços de resistência e solidariedade no período escravocrata. Hoje, a desigualdade racial persistente no país destaca a importância de iniciativas como as do Baobá – Fundo para Equidade Racial, que nos quase 12 anos de atuação traçou uma rota de enfrentamento ao racismo e atua na promoção da equidade.  

O Mês da Filantropia Negra nos convida a refletir se é justo que a desigualdade racial ainda conte prioritariamente com a ação coletiva dos próprios negros. A mudança de paradigma depende de avanços promovidos pelos movimentos sociais e exige o engajamento de toda a sociedade para construir um país mais justo. A equidade racial é um requisito essencial para uma democracia plena e um futuro próspero para todos, todas e todes. 

Para contribuir no combate ao racismo, busca da equidade e justiça social, acesse www.baoba.org.br  e faça parte dessa transformação.