No dia 6 de agosto de 2020, o Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com a Fundação Ford, lançou o edital Chamada Para Artigos – Filantropia para Promoção da Equidade Racial no Brasil no Contexto Pós-pandemia da Covid-19.
A principal premissa da iniciativa, que integra o projeto Consolidando Capacidades e Ampliando Fronteiras, realizado em parceria com a Fundação Ford, foi selecionar até 20 artigos inéditos, que contribuam para aprimorar a ação de filantropia para equidade racial no Brasil, pós-pandemia da Covid-19. Uma edição eletrônica bilíngue (português-inglês) de um livro com os artigos será publicada em 2021, ano em que o Fundo Baobá completa 10 anos de fundação.
Para figurar como primeiro(a) autor(a) do artigo, era preciso ser especialista, mestre ou doutor(a) com produção acadêmica concernentes às áreas priorizadas pelo Fundo Baobá, como educação, juventude negra, racismo religioso, violência de gênero, além de ciência e tecnologia, desenvolvimento econômico, comunicação, arte e memória, violência racial e violência contra a população LGBTQI+.
Para a diretora executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, Selma Moreira, esta publicação, elaborada no contexto da pandemia, poderá trazer elementos que subsidiem nossa ação institucional: “Os números da Covid-19 não deixam dúvidas sobre quem são as principais vítimas. Ao mesmo tempo em que a pandemia explicitou as consequências do racismo que permeia as estruturas sociais do Brasil, ela também acentuou as desigualdades que marcam nosso país. Com esta chamada, quisemos entender esse cenário, que acentuou os problemas conhecidos e trouxe ainda mais desafios para a promoção da equidade racial e da justiça social.”.
Ao longo de dois meses, o edital recebeu 75 artigos de todas as cinco regiões do país. A primeira etapa da seleção contou com o apoio de um grupo de 19 doutoras e doutores, de diferentes áreas de conhecimento, que atuaram como pareceristas para realizar análise crítica dos artigos.
Entre os pareceristas estava a doutora em Ciência Social e mestre em Antropologia e escritora, Heloisa Pires: “A minha contribuição se deu como parecerista, com análise e recomendações para os artigos submetidos ao Edital de Chamadas do Fundo Baobá, principalmente, na comunicação intergeracional. É uma oportunidade para perceber interesses indicativos de demandas e as abordagens dos temas”. Segundo Heloisa a iniciativa do Fundo Baobá em publicar os artigos é importante para localizar a origem da desigualdade racial: “Publicizar uma experiência tão propositiva é fundamental. Pelo potencial de mapeamento, em particular o contexto de pandemia, situação política brasileira e, nível de reflexão dos inscritos. O material pode vir a ser inspiração para iniciativas similares que auxiliem a mapear principais questões saídas dos processos e autorias em destaque por região”.
Outro membro da equipe de seleção foi o Pró-Reitor de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis (PROPAAE) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Carlos Alberto Santos de Paulo, que tem uma proximidade com o trabalho realizado pelo Fundo Baobá: “A relação que tenho com a organização, está intrinsecamente associada à defesa dos direitos dos segmentos mais vulneráveis da sociedade brasileira, neste sentido a interseccionalidade entre raça, gênero e desigualdades”. Sobre os artigos analisados, Carlos Alberto teve uma reação bastante satisfatória com os conteúdos abordados pelos participantes do edital: “Os textos que analisei são de vital importância por traduzir a emergência de práticas ancestrais hoje traduzidas em movimentos matrilineares de resistência, acolhimento em redes sociais nos bairros periféricos de maior vulnerabilidade social, tendo nas mulheres negras mais velhas seus elos tradicionais de manutenção da tradição e da cultura”.
“Ter participado deste processo reforça o meu compromisso de contribuir com um país em que a produção acadêmica faça sentido para os verdadeiros beneficiários”, foram as palavras da PhD em Odontologia, coordenadora de projetos, membro do GT Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva e pesquisadora na UFRJ – Saúde bucal e Doença Falciforme em parceria com o Ministério da Saúde, Márcia Alves. “Minha relação com o trabalho do Fundo Baobá é a disseminação do conhecimento para promover a busca da Equidade e da justiça social. Ao integrar a equipe de pareceristas deste edital, avaliei o compartilhamento de práticas, saberes e vivências e experiências, inclusive no campo científico de temas e abordagens que respondem às demandas das populações”. Acerca dos textos aprovados por ela, Marcia é bem enfática sobre a importância desta produção: “O edital é uma possibilidade de induzir produção científica, cultural, artística e comunitária sobre temáticas relacionadas à população negra e ou as populações vulnerabilizadas, dando protagonismo destas produções lideradas por autores negras e negros.”
Ao serem questionados se a publicação desses artigos pelo Fundo Baobá poderá contribuir para o segmento aos quais estão dirigidos, Heloisa Pires acredita que a publicação panorâmica permitirá o debate entre artigos e poderá estimular desdobramentos: “Ela contribui para o exercício de afinar argumentos, relacioná-los em ambiente que valoriza a formação com foco nas relações raciais”. Carlos Alberto afirma que a grande contribuição é registrar o resgate da solidariedade em artigos para o grande público: “Creio que o resgate e a análise dessas práticas de solidariedade tradicional verificadas pela rede sempre presente dessas mulheres negras (tias, avós e mães), que serão expressas na publicação, poderá sinalizar outras formas de organização que se observa de forma empírica, mas quando traduzida em artigos e veiculados para o grande público dará visibilidade a antigas formas de sociabilidade que perduram até o presente momento como forma de resistência ancestral”. Já Márcia Alves acredita que a relevância do tema contribui para longevidade da publicação: “Novas perspectivas de referenciais teórico-práticos pelo reconhecimento da relevância temática quando do resultado da publicação e ao mesmo tempo, do incentivo financeiro para que novos estudos/experiências sejam realizados ou mesmo continuados”.
Após o trabalho de seleção dos pareceristas, o Fundo Baobá chegou ao número de 19 artigos aprovados. A organização entrou em contato com os autores dos textos, checando se havia interesse em seguir no processo. Todos tiveram um prazo para fazer os ajustes recomendados pelos(as) pareceristas e devolver para uma nova análise. Caso seja necessário a realização de mais ajustes, os autores serão contatados novamente, agora com base nas recomendações da equipe da editora Ogum’s Toque, responsável pela obra.
Todos os autores aprovados, receberam a quantia de R$ 2,500.00, ofertada pelo edital e estão garantidos na publicação que será um livro eletrônico e já está em fase de produção, com o lançamento previsto para outubro, inserido no conjunto de atividades em celebração ao aniversário de 10 anos do Fundo Baobá.
Para a diretora de programa do Fundo Baobá para Equidade Racial, Fernanda Lopes, a realização deste edital foi muito importante, considerando que todos os autores e autoras apresentaram importantes recomendações para os investimentos programáticos a serem realizados pelo Fundo Baobá no pós-pandemia e que, independente da publicação, as contribuições serão levadas em consideração nos processos de tomada de decisão da organização: “A proposta é que, cada vez mais, possamos atuar em parceria com a comunidade acadêmica dado que a filantropia para equidade racial ainda é uma área pouco estudada no Brasil”.
Confira agora a lista dos 19 artigos selecionados para publicação do Fundo Baobá.