A pressão para decidir o que cursar na graduação

O processo para decidir qual carreira seguir e como ele afeta de diferentes formas os jovens vestibulandos.

Segundo dados divulgados  pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), com base no Censo de Educação Superior 2,  cerca de 56% dos estudantes que acessaram a faculdade acabaram desistindo no decorrer ou trocaram de curso durante a graduação. Muitos deles em decorrência de uma escolha insatisfatória, que não lhes trouxe o retorno esperado. Tal situação deixa alguns jovens indecisos na hora de escolher por qual caminho seguir na universidade. Com a proximidade das provas de vestibulares, é aumentada a pressão interna e externa  para que essa escolha seja feita o quanto antes.

Por que é tão difícil decidir com certeza qual carreira seguir? Vinícius Ribeiro da Silva, de 23 anos e morador da comunidade de Paraisópolis em São Paulo, pretende ser a primeira pessoa de sua família a ingressar no ensino superior e quer tomar a decisão certa quando o fizer. Ele teme escolher uma área que lhe dê pouca satisfação e retorno no futuro, além disso, receia a falta de garantia de sucesso. “Eu vou fazer um curso, terminar e acabar trabalhando em outra área. Então, aquele tempo ali foi perdido”, comenta.

Além disso, a desigualdade social é um fator que potencializa a pressão interna. Jovens de baixa renda como Vinicius precisam se estabelecer financeiramente com mais urgência se comparados a outras classes sociais. Apesar do estudo trazer benefícios, quando ele não trás retorno financeiro pode se tornar uma frustração. “Então pensa, periferia, gastar maior tempão estudando pra depois não ter uma garantia? Pessoas da periferia não têm essa condição.”

“Meus pais sempre me apoiaram, claro, mas eu me cobro muito, sabe?” É o que diz Ana Maria Silva Oliveira, de 18 anos. Ela explica que a pressão para decidir o que cursar, vem muito mais de si mesma do que de sua família. Segundo a jovem, é muito angustiante não ter essa resposta tão importante. “É muito difícil escolher pelas matérias. Em quais áreas eu vou conseguir trabalhar? Mais especificamente, como é na prática? Porque na teoria, assim, está tudo na internet. Aí não sei se vou exercer essas atividades. Mas e na prática será que é assim mesmo? Igual? Então essa é a dúvida”, desabafa.

Ana Maria Silva Oliveira, 18 anos

Por outro lado, outros jovens passam por esse processo com mais leveza. Para alguns deles, o foco principal é estudar para tentar entrar na universidade, mas sem pensar tanto na questão da escolha. É a situação de Geovana de Carvalho Teles de Amorim, de 17 anos, que diz oscilar entre momentos de nervosismo e calmaria em relação a essa situação. Segundo a menina, seus pensamentos vagam entre saber que precisa parar de pensar no assunto e ao mesmo tempo tomar uma decisão de certa forma rápida.

Geovana de Carvalho Teles de Amorim, 17 anos

Para Geovana, um ponto que alivia essa pressão é o fato de o Programa Já É, do Fundo Baobá, oferecer orientações para os jovens. “Eu vou ter pessoas que vão me ajudar nesse caminho para a universidade, que vão me auxiliar, me dar apoio e instruções quando eu precisar. Então, eu fiquei tranquila e feliz”, disse ela.

Assim como Geovana, Vitória Nunes Martins, de 17 anos, apesar de se preocupar em decidir o que cursar na faculdade, prefere focar na experiência positiva do momento em que vive. Ela que não esperava passar no Programa Ja É e se sente aliviada com a segurança que o projeto oferece.

Em relação à pressão para tomar uma decisão, ela diz que não chega nem da parte de sua família e nem dela: “Nunca me pressionaram, mas eu também não me pressionei e eu espero achar a resposta nesse ano mesmo. Assim, eu vou estar estudando para fazer as provas e nesse meio tempo eu quero tá pesquisando o que isso mais se encaixa comigo, só que eu nunca decidi nada, nunca tive nada em mente, pois sempre fui deixando”. Ela destaca o fato de estar na universidade para expandir seus conhecimentos, aproveitar novas oportunidades e acredita que independente do curso que escolher, será um momento incrível.

Vitória Nunes Martins, 17 anos

Apesar da indecisão, das incertezas e das dúvidas, algo conforta esses jovens: a certeza de estarem no caminho certo. Através de iniciativas de Instituições como o Fundo Baobá, eles estarão no rumo para seus objetivos. Mesmo sem a incerteza do futuro, eles têm a consciência de que independentemente do curso escolhido, a educação cumprirá seu papel de potencializar suas trajetórias.