Jovens homossexuais e transexuais falam da importância do programa para inclusão de gênero e de sexualidade nas universidades
Por Marcos Furtado, do Perifaconnection, em parceria com o Fundo Baobá para Equidade Racial
O que uma mulher trans, um homem trans e um homossexual que moram em São Paulo têm em comum? Eles estão entre os 100 contemplados pela bolsa do programa ‘Já É: Educação e Equidade Racial’ para fazer um cursinho pré-vestibular. Lucca Catherine, Breno Ribeiro e Victor Passos terão apoio educacional, psicossocial e vocacional durante a preparação para a seleção do ingresso ao ensino superior. No entanto, ainda existem muitos jovens LGBTQIA+ que nem ao menos se imaginam estudando. Afinal, qual a importância de iniciativas que incentivam a diversidade e a inclusão de gênero e de sexualidade nas universidades?
Para a vestibulanda, que se identifica como mulher trans, Lucca Catherine, de 22 anos, “estar em uma universidade mostrando que a gente (pessoas trans) não é só estereótipos. Somos inteligência, conhecimento e capazes de mais. E provar esse tipo de força de não ser cis no mundo cis faz a gente adquirir experiências, como quando nos tratam com o nome errado, nos expulsam do banheiro e nos agridem na rua. Então a gente pode levar para a universidade essa interseccionalidade que as pessoas ainda não entendem”, pontua.
Lucca, que mora em Americanópolis, na Zona Sul de São Paulo, deseja cursar ciências sociais para ensinar outras pessoas sobre questões que envolvem a luta contra a LGBTfobia. O desejo da jovem torna-se ainda mais importante quando se olha para as estatísticas.
Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) apontam que, em 2020, o Brasil, infelizmente, foi o país que mais matou pessoas transexuais do mundo. Com 175 mortes, o ano passado foi o 12º consecutivo em que o país apareceu no topo da lista.
Com a bolsa do ‘Já É’, Lucca considera que terá um importante apoio para atingir os seus objetivos. “Quando recebi a notícia que tinha sido aprovada, eu fiquei muito feliz”, lembra. “Quero poder ajudar a expandir o conhecimento das pessoas sobre questões sociais da melhor forma possível.”
Da mesma maneira, Victor Passos, de 23 anos, percebe a importância da inclusão e representatividade de pessoas LGBTQIA+ na produção de conhecimento acadêmico. “Eu sempre achei necessário que esses corpos ocupem esses espaços para que a gente possa humanizar pessoas que a sociedade lida como anormais”, afirma.
Com o sonho de fazer a graduação de artes cênicas, o jovem, que vive em Taboão da Serra, município da região metropolitana de São Paulo, sonha em trabalhar com televisão. “Acho muito importante a gente ter uma série, como ‘Pose’, trazendo pessoas transexuais e travestis como personagens principais.”
Breno Ribeiro, de 17 anos, passou por algumas dificuldades dentro de casa, no bairro de Jardim Aracati, em São Paulo, para que alguns membros de sua família o tratassem com os pronomes adequados a um homem trans, sua identidade de gênero. A mudança veio com o tempo e os próprios parentes do rapaz perceberam o quanto isso foi positivo.
O bolsista do ‘Já É’ tem a intenção de cursar física e sonha em algum dia trabalhar com astronomia. Ciente da baixa presença e permanência de pessoas LGBTQIA+ nas universidades, Breno, morador do Jardim Aracati, na Zona Sul de São Paulo, acredita que programas como o do Fundo Baobá agregam para os alunos, que têm a oportunidade de se desenvolverem, e para as instituições, que aprendem quais maneiras de incluir e aumentar o bem-estar dessas pessoas.
Ter contato com diversidade, seja sexual, de raça, de lugares, de culturas e de pessoas com deficiência na universidade é muito importante para conhecer novos olhares sobre a vida”, avalia. “É ruim viver numa bolha que só tem gente igual. As pessoas são diferentes e a gente precisa ter contato com essas diferenças.”
Lucca, Victor e Breno são três dos 100 jovens que representam a diversidade de gênero, sexualidade, raça, local de moradia e de pessoas com deficiência que o Fundo Baobá quer ver se desenvolver no mercado de trabalho. O programa ‘Já É’ é o primeiro passo desse processo que, dentre tantas bandeiras, tem a causa LBGTQIA+ como uma de suas prioridades.