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Autor: Baobá - Fundo para Equidade Racial

Publicado em 17 de maio de 2022

Revolta dos Malês: com ela o povo preto acreditou na luta pela liberdade

Considerada o maior levante urbano da América Latina no século 19, a revolta não alcançou seu objetivo mas reforçou, nos negros, o desejo de liberdade 

   Por Wagner Prado

O ano era 1979. O mês, fevereiro e, no Brasil, era Carnaval. A escola de samba Mocidade Alegre, de São Paulo, ousou na avenida com um desfile afro fantástico. 

Algo não visto até então. Muita empolgação de seus componentes para falar da que é considerada, até hoje, a maior e mais forte revolta negra ocorrida no país: a Revolta dos Malês. A Mocidade Alegre não ficou com o título de campeã, que foi para o Camisa Verde e Branco com o enredo Almôndegas de Ouro. Informações dão conta de que a Mocidade Alegre teria sofrido um boicote por parte dos militares (o Brasil estava sob a ditadura militar), que não digeriram a ousadia de se falar em uma revolta negra por liberdade. 

“Surge em 25 de janeiro, um novo sol de esperança” 

Visto pelo ponto de vista militar, o desfile da Mocidade Alegre era subversivo já no primeiro verso de seu samba. Falar em “sol de esperança” era algo muito mal visto. Poderia dar cadeia. Mas o primeiro verso do samba enredo retratava o que será contado agora, utilizando outros versos marcantes sobre a Revolta dos Malês. 

“Vindos da Mãe África distante, ostentados em toda fidalguia, eles estavam em Salvador, Bahia”

Malê vem de Imalê, palavra yorubá que significa muçulmano. Os malês eram africanos que professavam a fé islâmica. Trazidos à força para o Brasil, foram fixados na Bahia. Lá, continuaram professando sua religião de origem e comunicando-se entre si na língua árabe. Em seus países de origem, muitos deles eram nobres e, dada essa condição, não se conformavam em ser escravizados e expostos a toda sorte de castigos impostos pelos seus senhores. O desejo de liberdade foi crescendo. 

Allah ‘akbar  (Deus é maior) 

A liberdade de professar a religião muçulmana era latente. Os malês passaram a tramar um levante. Oito nomes lideravam as ações: Ahuna, Pacífico Licutan, Manoel Calafati, Sule, Gustardi, Dassalu,  Luis Sanim e Elesbão do Carmo. O principal ideário era transformar a cidade de Salvador em uma nação islâmica.  Isso significava pôr fim ao catolicismo. As pessoas brancas e mestiças teriam seus bens confiscados e, em caso de resistência, seriam mortos. Os não islâmicos também seriam mortos ou escravizados. 

“Num lamento triste e solitário, negro pedia a Alah seu protetor, forças e coragem nessa hora, que a vitória seria em seu louvor”

Os líderes programaram a revolta para a madrugada do dia 25 de janeiro de 1835. A data coincidia o último dia do Ramadã (período sagrado para os muçulmanos, quando eles jejuam buscando o equilíbrio entre corpo e espírito) com o dia de Nossa Senhora da Guia. A cidade de Salvador estaria em festa, muita gente nas ruas e um certo relaxamento por parte das forças de segurança. A ideia era sair do Alto da Vitória até chegar ao prédio onde ficava a sede do governo e tomá-lo. 

“E na hora da razão, foguetes alvorada e traição, da vitória nada resta mais, revolta teve outra solução”

Os revoltosos, porém, não contavam com um fator que mudou tudo: a traição. Movida por um drama pessoal, a escravizada Guilhermina Rosa de Souza delatou o plano dos malês. Guilhermina fora abusada quando jovem e deu à luz uma filha, Teresa. A menina estava com idade por volta dos 13 anos quando o fazendeiro, seu proprietário, decidiu que Teresa seria vendida. Guilhermina não queria ter a filha separada dela e viu na delação a única forma de dar um fim a esse processo. Contou tudo ao fazendeiro que, por sua vez, levou a informação às autoridades. A marcha dos malês foi interceptada e contida no bairro de Água dos Meninos depois de fortes combates.  

Setenta dos malês foram mortos. 200 aprisionados e condenados a penas de açoite, degredo e morte. Alguns líderes foram mortos em 12 de maio de 1835.  

“E na Bahia se comemora assim, tem festas e danças e a lavagem do Bomfim”

A Revolta dos Malês foi frustrada em seus objetivos de tomar a cidade de Salvador e transformá-la em uma república islâmica. Mas o seu grande mérito foi transformar-se no embrião da liberdade. A articulação conseguida por seus líderes em 1835 repercutiu pelo país. Os escravizados perceberam que tinham o poder de articular-se e trabalhar visando a liberdade, que acabou vindo em 1888.  

                  PARA SABER MAIS SOBRE A REVOLTA DOS MALÊS

 

    Livro Documentário / Filme                Live
Rebelião Escrava no Brasil

João José Reis

https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11221

Revolta dos Malês

Direção: Belisario França / Jefferson De 

https://sesctv.org.br/programas-e-series/revolta-dos-males/

 

Revolta dos Malês 

(História em Minutos) 

https://www.youtube.com/watch?v=JdAo-FMATMg&t=5

 

Publicado em 12 de maio de 2022

Mais médicos e médicas pretos no Brasil poderiam  melhorar o atendimento de saúde da população negra 

Por Wagner Prado

A população preta brasileira seria melhor atendida em termos de saúde se os médicos e médicas fossem também pretos? A questão não é de fácil resposta. O Brasil é incipiente em termos de estudos ou pesquisas nesse sentido. A  existência da Lei 12.288, de 20 de julho de 2.010, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, garante à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos individuais e coletivos, além do combate ao racismo, à discriminação e às demais formas de intolerância correlatas. Portanto, a criação do Estatuto da Igualdade Racial é o reconhecimento de que o racismo e a discriminação advinda dele existem no Brasil. 

Nos Estados Unidos, um questionamento sobre um melhor atendimento médico à população preta foi obtido a partir da constatação ocorrida em uma pesquisa. A George Washington University, localizada na capital Washington, indicou ter encontrado disparidades na forma de tratamento dispensada ao 1,8 milhão de bebês nascidos no estado da Flórida. As chances de sobrevivência dos recém-nascidos sofrem variações significativas se comparados os atendimentos feitos por médicos e médicas brancos aos feitos por médicos e médicas pretos. Os Estados Unidos e o Reino Unido destacam-se no que se relaciona à produção científica sobre racismo e inequidades raciais no setor da saúde. 

De acordo com o relatório que acompanha a pesquisa da George Washington University, os recém-nascidos negros que foram cuidados por médicos e médicas também negros tiveram redução de 39% a 58% na taxa de mortalidade. No universo oposto, ou seja, os bebês negros cuidados por médicos e médicas brancos tiveram três vezes mais possibilidades de vir a óbito. O relatório sugere que médicos e médicas negros cuidam bem dos bebês que têm a sua etnia e, ao mesmo tempo, cuidam bem de recém-nascidos brancos.

Presença de médicos e médicas negras no Brasil

Jurema Werneck, médica e diretora da Anistia Internacional no Brasil, foi moradora de favela no Rio de Janeiro. Seu sonho era cursar algo voltado para o mundo das artes. Porém, uma quase imposição de seu pai, gerada pela indecisão de Jurema sobre o que cursar na faculdade, acabou levando-a à Medicina da Universidade Federal Fluminense. Sobre a presença de médicos e médicas negros, ela diz: “Ainda é pouco, mas para mim é uma riqueza que não se compara. Quando eu me formei médica e fui trabalhar na Prefeitura do Rio de Janeiro, escolhi trabalhar na favela.  Mas por que eu fui trabalhar na favela? Eu nasci na favela. Não fiz nada assim: ‘Ahhh, eu escolhi ser uma pessoa legal e vou trabalhar em favela’. Não, gente! Na favela moram meus amigos, meus parentes e um montão de gente que eu não conheço. Mas lá é o meu ambiente, eu conheço aquele lugar. Eu só voltei para casa”, disse ela ao portal Nós, Mulheres da Periferia.  

O Código de Ética Médica,  do Conselho Federal de Medicina, em seu capítulo IV Artigo 23, proíbe médicos de “tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma sob qualquer pretexto”. Mesmo assim, é evidente que casos de discriminação podem ocorrer. Difícil é chegar a eles. A maioria das denúncias são feitas diretamente nos sites do Conselho Federal de Medicina ou nos sites dos Conselhos Regionais de Medicina e arbitradas por um conselho interno. 

O Fundo Baobá tem como missão promover a equidade racial. Um dos seus  quatro eixos de atuação é o Viver com Dignidade. Nele, ações de promoção da saúde e qualidade de vida, a prevenção de doenças, bem como os seus agravos, são prioridades. Ter um atendimento de saúde digno é fundamental para o equilíbrio psicossocial de qualquer  ser humano. 

A falta de atendimento digno, porém, foi o que motivou pesquisa feita pelo Instituto AzMina em 2021. 100 mulheres foram ouvidas para relatar casos de racismo ocorridos  dentro de consultórios ou em unidades de saúde. O cenário é estarrecedor. Dentre as 100, 82% eram mulheres de pele escura: pretas – 60,6%; pardas – 19,2% e indígenas – 3%.  68% foram unânimes em afirmar que já haviam enfrentado racismo em seus atendimentos médicos. 16% disseram que talvez tivessem sofrido. As ocorrências aconteceram durante atendimentos ginecológicos (43), clínicos (40), dermatológicos (19) e obstétricos (10). 

O Brasil alcançou em 2020 a marca de 500 mil médicos. A Universidade de São Paulo (USP) realizou em 2019 um estudo batizado de Demografia Médica, que delineou como os médicos que estavam se formando naquele ano se declararam em relação a suas cor e raça, 67,1% se autodeclararam brancos; 24,3% disseram ser pardos; como negros, apenas 3,4% definiram-se. As políticas de ações afirmativas, a política de cotas, o maior acesso e permanência da população preta em cursos superiores, como medicina, poderão fazer com que os cenários mostrados aqui mudem. As escutas estão sendo feitas e as ações de transformação estão sendo implantadas e acontecendo na sociedade. Vai levar um tempo, mas a mudança está vindo. 

Publicado em 10 de maio de 202210 de maio de 2022

 Primeiro Encontro com empreendedoras(es) selecionadas(os) no Edital Negros, Negócios e Alimentação

Por Ingrid Ferreira

O Edital Negros, Negócios e Alimentação – Recife e Região Metropolitana, uma iniciativa do  Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a General Mills, teve seu primeiro encontro online com as e os 14 empreendedores(as) selecionados(as), o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, a diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, e membros das equipes  programática, financeira e de comunicação.

O grupo selecionado é prioritariamente composto por mulheres, tendo também uma travesti e um homem; a maioria tem entre 25 e 44 anos de idade, mas também conta com pessoas de 55 a 64 anos; 9 das pessoas que empreendem têm ensino superior completo, as demais possuem ensino médio e/ou fundamental. O grupo selecionado tem residência na zona urbana, em territórios periféricos, mas seus negócios não necessariamente estão localizados na periferia. 

O encontro teve como intuito falar sobre  o Fundo Baobá, suas áreas de atuação, apresentar a metodologia de trabalho e as regras adotadas pela instituição para o edital em questão,  dar detalhes sobre como o Baobá irá acompanhar as e os selecionados no período em que estiver vigente a parceria e tirar dúvidas. Além disso, o encontro foi uma ponte para criar uma rede de relacionamentos.

As empreendedoras e os empreendedores  ao se apresentarem, falaram um pouco sobre seus negócios, uma delas foi Angélica Nobre de Lima Silva fundadora do empreendimento Angú das Artes, que tem uma proposta de aproveitamento integral dos alimentos, utilizando a casca das frutas e vegetais para fazer parte das suas receitas, o que além de ser uma forma de negócio também possui uma preocupação ambiental: diminuir a produção de lixo orgânico.

Durante o encontro também foi apresentado um perfil geral do grupo selecionado:  vários negócios são familiares e surgiram a partir de um momento de dificuldade, transformando-se em renda principal de uma família toda, além de contar com um forte apoio da comunidade para o seu funcionamento. 

Os empreendimentos possuem diversos formatos. Há restaurantes, cozinhas industriais, delivery, buffet e comida de rua, e cada proposta receberá o valor de R$30 mil dividido em parcelas. As pessoas negras que empreendem e foram selecionadas também receberão apoio técnico através de jornadas formativas. 

Fernanda Lopes, diretora de Programa do Fundo Baobá, fala sobre a importância desse apoio e construção coletiva, ressaltando a necessidade de manter viva a memória histórica das realizações de pessoas negras, e como grandiosos são esses feitos. Trazendo isso para o Baobá, ela explica que:  “Ao longo desses anos, o Fundo já doou mais de R$15 milhões e estimamos que já tenhamos  impactado  indiretamente quase 1 milhão de vidas. Nossa missão é promover oportunidades justas para que as pessoas e as organizações se desenvolvam e tenham autonomia para alcançar os seus objetivos, por isso nos nossos editais não apoiam apenas com recursos financeiros. No caso do Negros Negócios, as jornadas formativas vão contribuir para que vocês se fortaleçam na gestão dos seus empreendimentos e para que o sucesso, os maiores ganhos, cheguem mais rápido”.

O edital Negros, Negócios e Alimentação: Recife e Região Metropolitana,  deixará seu legado, apoiando empreendedoras e empreendedores, gerando renda no estado onde nasceu o Fundo Baobá. Desde a sua criação, até 2019, a sede do Baobá estava localizada em Recife. Nada mais justo que este olhar cuidadoso para um terreno que é tão fértil. 

Publicado em 28 de abril de 202230 de abril de 2022

Resultados do Primeiro Ano do Programa Já É superam expectativas

Alunas aprovadas em universidades contam como foi o processo de preparo para o vestibular e a alegria de estar realizando um sonho

Por Ingrid Ferreira

O Programa Já É do Fundo Baobá para Equidade Racial está no seu segundo ano de execução, mas os frutos do primeiro ano continuam a serem colhidos com excelência, a cada dia que se passa, chegam as notícias das (os) alunes que estão sendo aprovades em universidades públicas e particulares, o segundo grupo composto por PROUNIstas, com bolsas de 100% e 50%.

O Programa tem apresentado metas e indicadores surpreendentes, por exemplo, a meta de permanência era de 75%, mas o resultado obtido foi de 88%; a taxa esperada de aprovação era 20%, superando as expectativas, ela foi de 32%; a meta dos alunos aprovados em faculdades privadas via PROUNI ou com bolsa de estudos (integral ou parcial) era de 50%, o que temos é  58% dos aprovados com bolsa que variam de 100 a 50% e de 42% aprovados para universidades públicas.

O Fundo Baobá conversou com alguns alunes para saber como está sendo viver esta realização. Uma das pessoas entrevistadas foi Caroline Vitória Rocha dos Santos, 18 anos, aprovada em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de São Paulo – USP.

Caroline Vitória Rocha dos Santos

Caroline conta que: “No início dos estudos, a USP não estava dentro dos meus planos, nem passava na minha cabeça colocá-la como uma das opções no SISU. Mas depois de um tempo, com os encontros, mentoria, eu me questionava,  “Mas por que você não pode estar lá?”, “Por que você não pode colocar como uma das suas opções?”, “O que te impede de fazer isso?”, “Se fulano conseguiu, por que você não conseguiria?”’.

Em sua fala, Caroline traz a tona muitas questões sociais que perpassam a realidade de jovens negros e periféricos, em que é possível visualizar a necessidade de reconhecer a USP e outros espaços acadêmicos e de excelência, como aqueles em que pessoas pretas podem e devem estar, ocupando o seu lugar de direito, como estudantes.

A aluna da USP continua a contar a sua história declarando como através de seus questionamentos internos, conseguiu mudar a sua perspectiva sobre si mesma: “Comecei a estudar, fazendo pequenas metas e usando estratégias, percebi que meu desempenho estava melhorando, mas ainda estava insegura e pesquisando outras opções de universidades. Foi quando fiz a prova e infelizmente não consegui alcançar a nota de corte, mas como estava próxima, manifestei interesse no curso de Gestão de Políticas Públicas da USP. A lista de espera saiu, e minha colocação não era tão boa, mas ainda tinha 3 listas de chamada, em meio a isso tudo, consegui um bom desconto no curso da UNIP e escolhi fazer. Depois de 3 semanas, já tinha esquecido das listas de espera da USP. Quando menos esperava recebi um e-mail dizendo “bem-vinda a USP”’.

Além de Caroline, temos diversos outros exemplos que reiteram a importância de oportunidades justas, da valorização dos sonhos e provam a grandiosidade do Programa Já É. A aluna Thais Sousa, de 22 anos, também foi aprovada na USP para cursar Pedagogia e ela conta que sente uma grande felicidade por esse momento e que aprendeu a importância de não desistir dos seus sonhos e metas.

Thais Sousa Silva

Thais conta que seu irmão foi o primeiro da família a ingressar na faculdade, mas que ela é a primeira a entrar numa universidade pública. Ao ser questionada do porque ela escolheu cursar Pedagogia, ela conta que: “Era um sonho de criança e principalmente eu percebi que aprendo ensinando para outra pessoa”.

O processo de aprendizado é contínuo, e em todos os campos ele se faz essencial, como é possível ver na fala da Jakeline Souza Lima, que tem 22 anos e foi aprovada na Unesp (Instituto de Artes), para cursar arte – teatro, e contou que: “O Programa de mentoria agregou muito, principalmente a mentoria coletiva – o Black Coach. Acho que, primeiramente, o fato de ouvir pessoas que passaram pelo mesmo processo que nós, ouvir as dicas que eles tinham para oferecer e também ouvir as pessoas que estavam no processo comigo, foi algo que ajudou muito a não me sentir só e me dar coragem para continuar”. 

Jakeline Souza Lima

Outra entrevistada também foi a Mayza Silva Dias, de 19 anos, que começou a cursar Gestão Hospitalar, na Universidade de Santo Amaro. Mayza conta que, ao escolher a universidade, levou em conta a questão da logística e método de ensinar que a mesma aplica; falou que as mentorias individuais e coletivas trouxeram muita sabedoria e ensinamento para sua vida, agregando conhecimentos que ela nunca tinha visto. Ao ser questionada sobre o atual momento de sua vida, ela fala: “Estou em um momento de mudanças e emoções muito grande, me sinto lisonjeada por tudo isso”.

Mayza Silva Dias

O Programa Já É segue no seu segundo ano de execução e, em breve, muitas outras histórias serão contadas, provando que iniciativas que promovem oportunidades justas reiteram a força e o poder transformador que a educação possui.

Publicado em 28 de abril de 202230 de abril de 2022

Organizações participantes do Vidas Negras: Dignidade e Justiça não se detêm diante de perseguições e desafios

O CEAP, do Rio de Janeiro, e a Associação do Jongo Dito Ribeiro, de Campinas, enfrentam a perseguição religiosa, mas não desistem de seus objetivos de justiça

Por Wagner Prado

Em 2019, levantamento feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Especializada) apontou que 222 mil pessoas moravam pelas ruas do Brasil. Em 2021, a população carcerária no Brasil era de 682 mil pessoas, incluindo aí presos provisórios. Ou seja, pessoas presas e não julgadas. Os casos de intolerância religiosa registrados entre janeiro e junho de 2019 pelo disque 100 do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos foi de 354. Dentro desses, as religiões de matriz africana foram as mais atacadas. A insegurança alimentar aumentou de forma mais que significativa no Brasil. A pandemia da Covid-19 agravou esse quadro, mas o processo de crescimento da pobreza alimentar é anterior à pandemia. 

O quadro descrito acima mostra uma sociedade em declínio em vários aspectos sociais. Saúde, Educação e Trabalho que, juntos compõem o tripé da sustentação em qualquer sociedade,  nem foram explorados mas o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em fevereiro de 2022, divulgou que a taxa de desemprego era de 8,8%  atingindo 12 milhões de pessoas. 

Existe urgência no sentido de fazer com que a igualdade seja alcançada de fato e de direito  e provoque um equilíbrio social entre os detentores do poderio econômico e aqueles que não têm acesso aos benefícios que o dinheiro pode trazer. Há muito se fala em uma distribuição de renda mais equânime e sobre o potencial impacto no exercício dos direitos. Mas o jogo político nunca permite que isso aconteça. 

A sociedade civil vem se movimentando  no sentido de provocar o equilíbrio social. Algo que possa gerar uma melhor distribuição de renda, além de um sem número de melhores oportunidades para todos, nos mais diferentes segmentos, orientadas pelos princípios da justiça. Uma movimentação no sentido de fazer com que o fosso de desigualdade  existente entre ricos e pobres não aumente ainda mais. o que tem contribuído para o crescimento de injustiças nos mais diferentes setores. 

Um dos editais do Fundo Baobá para Equidade Racial, o Vidas Negras: Dignidade e Justiça  foi lançado em maio de 2021 em parceria com o Google.org,  destinou R$ 100 mil para 12 organizações, além de investimentos indiretos de treinamento e assessorias técnicas para o fortalecimento institucional. Os projetos inscritos tiveram que versar sobre um desses quatro temas:   a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. 

A Associação do Jongo Dito Ribeiro, de Campinas, inscreveu o projeto que leva o mesmo nome da Associação, dentro do eixo da “Proteção Comunitária e Promoção da Equidade Racial. Já o CEAP (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), do Rio de Janeiro, trabalha o eixo “Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial”.  O CEAP inscreveu o projeto Observatório da Liberdade Religiosa. 

Líder da Associação do Jongo do Dito Ribeiro,  Alessandra Ribeiro Martins, exalta a luta que eles têm enfrentado no caminho da construção de uma rede comunitária para enfrentamento da discriminação racial, de gênero, religiosa e sexual. A união em torno de objetivos comuns, segundo ela, é que trará força às diferentes comunidades. “Nós vimos a necessidade de consolidar uma rede de segurança, proteção, visibilidade e engajamento coletivo em pautas comuns, de forma que possibilite a proteção de nossos territórios, a proteção dessas lideranças e um combate efetivo frente às discriminações, intolerâncias e perseguições. E para isso é necessário pautas comuns e ações que sejam no âmbito das redes sociais, seja no âmbito das intervenções territoriais comuns. Uma pauta comum”, disse. 

Alessandra Martins – Associação Jongo Dito Ribeiro

Para Marcelo Santos, do CEAP, a questão da preservação da cultura negra dentro do ambiente escolar é uma das pautas comuns citadas por Alessandra Ribeiro Martins.  A aceitação por parte dos estudantes negros, negras e negres é boa. O mesmo não se nota entre os alunos não negros. “São percepções que variam de acordo com os territórios  e níveis de maturidade dos alunos, negros e não negros. Para os alunos negros, em geral, a recepção é boa e quase sempre conecta a atenção ao conteúdo. Mas para os alunos não negros a recepção, em geral, é vista como algo supérfluo  em um primeiro momento, mas quando provocados com a metodologia aplicada aos valores civilizatórios africanos e afrobrasileiros, conseguimos incentivar reflexão crítica sobre o racismo estrutural que vivemos”,  afirma.

Marcelo Santos – CEAP

As duas organizações realizam um forte trabalho em defesa das religiões de matriz africana, que sofrem grande perseguição, mesmo no Rio de Janeiro, onde a presença negra é muito forte. “O CEAP defende a liberdade de crença e culto, garantidos na Constituição Federal, mas ainda há sim muita resistência, fundamentada no preconceito racial e influenciada pelo conservadorismo de algumas lideranças religiosas neopentecostais”, revela Marcelo. “Nós sofremos aqui, diretamente em nossa comunidade, um ataque. Porque a nossa casa de cultura é uma casa de cultura de matriz africana que,  para além da manutenção e salvaguarda do Jongo,  temos um terreiro de umbanda,  temos um espaço de exposição da memória do Jongo, falando das diversas comunidades,  e a gente sabe que a gente demarca essa cultura de matriz africana, essa afrodescendência, e sabemos que isso traz uma exposição. Então,  a gente construiu ao longo do nosso trabalho uma rede que já trava a luta frente às discriminações no âmbito da cultura”, afirma Alessandra. 

O ano eleitoral de 2022 e a polarização política têm açodado disputas.  “A polarização política evidenciou o racismo e, consequentemente, a intolerância religiosa. Não sei se o fato incentivou ainda mais o CEAP, mas certamente fez com que pudéssemos adaptar as formas e ações pedagógicas dos nossos projetos”, disse Marcelo Santos. 

Alessandra Ribeiro Martins, da Associação Jongo Dito Ribeiro, destaca que a cidade de Campinas tem o racismo bem evidenciado. “O racismo em Campinas, para além de físico – a gente não vê preto no centro da cidade, parece que não tem preto aqui -, e aí,  quando você vai para as regiões mais periféricas,  você vê uma grande aglutinação. Ele (o racismo)  também tem a ver com território. Existe um lado da cidade que sempre recebeu investimentos, que sempre foi desenvolvido, que sempre teve bons equipamentos, acesso, mobilidade e um outro lado que ficou esquecido. Então, temos tentado junto com outros atores, como assistência social, como a saúde e a própria Secretaria da Educação, levar cultura, mesmo que pontual, nesses territórios. A gente sabe que não daremos conta de unir a cidade em um projeto antirracista, mas a gente sabe que vai dar conta de semear o antirracismo em vários lugares. E é nesse sentido que a gente tem atuado”, afirmou. 

Ambos finalizam falando da importância de estarem parte do grupo contemplado pelo edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. “Ser acolhido por uma instituição como o Baobá, que mais do que compartilhar um recurso ela nos forma concretamente. Cada relatório que eles mandam a gente revisar, cada pergunta que eles refazem nos ajuda a compreender qual é a lógica desse universo e nos deixa mais fortes também para esse novo momento”, conclui Alessandra Ribeiro Martins. “A importância da nossa seleção se dá na oportunidade de profissionalizarmos alguns serviços de apoio para garantir melhores resultados”, afirma Marcelo Santos.

Publicado em 28 de abril de 202230 de abril de 2022

A costura da sobrevivência

Como comunidades quilombolas estão se movimentando para manter a sua existência por intermédio da manutenção de sua cultura e da sua agricultura

Por Wagner Prado

A cidade de Cristália, em Minas Gerais, e a localidade de Jacarequara, no Pará, estão distantes uma da outra em 2.318 km. Cristália tem 5.760 habitantes, de acordo com o Censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010. Por estimativa, não teria chegado a 6.000 pessoas nos últimos 12 anos. Jacarequara, no município de Santa Luzia do Pará, tem  55 famílias em 2022.  Poucas semelhanças. Mas uma delas aproxima muito as duas localidades: a presença de comunidades quilombolas.

O Brasil tem cerca de 6 mil comunidades quilombolas, conforme dados da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mais de 70% delas estão concentradas em quatro estados brasileiros: Maranhão, Minas Gerais, Bahia e Pará. A agricultura e a pecuária são a principal atividade econômica nos quilombos. Além disso, os quilombolas procuram preservar sua cultura por intermédio da oralidade ancestral, ou seja: ouvir os antepassados, aprender com o legado deixado por eles, cultuá-los e disseminar o conhecimento por eles passado. 

Em outubro de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou, em parceria com a Conaq e tendo apoio da IAF (Inter-american Foundation), o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça com o objetivo de apoiar iniciativas de organizações quilombolas na recuperação e sustentabilidade econômica, promoção da soberania e segurança alimentar e defesa dos direitos.   

O edital faz parte das ações da Aliança entre Fundos por Justiça Racial, Social e Ambiental, que reúne o Fundo Baobá, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental. O Quilombolas em Defesa: Vidas,  Direito e Justiça selecionou 35 organizações para serem apoiadas com R$ 30 mil cada para a realização de atividades e investimentos indiretos por meio de treinamentos, encontros e  assessorias técnicas para o fortalecimento institucional . 

O estado de Minas Gerais, por exemplo, teve cinco projetos selecionados. Um deles, o da Associação da Comunidade Quilombola do Paiol. Os trabalhos ainda estão sendo iniciados, embora o pessoal do Paiol já esteja na estrada de realizações há mais de 10 anos. A ação que será implantada pelas mulheres quilombolas do Paiol é a Costura, atividade que está ligada à história humana desde a era Paleolítica ou era da Pedra Lascada. Isso é muito mais que muito tempo. 

Estabelecer as oficinas de costura vai redundar em movimentação intensa na comunidade. De primeira, terão que ser comprados máquinas de costura, tecidos, agulhas, cadeiras e mesas, entre outros. Os cursos de capacitação em corte e costura serão dados pelas anciãs da comunidade (oralidade ancestral). A elaboração da trajetória produtiva das quilombolas está toda estruturada visando orientação sobre finanças e empreendedorismo para que as costureiras possam ser as gestoras de seus próprios negócios. 

No Pará

O estado do Pará teve um projeto selecionado, o da Associação Quilombola Vida para Sempre Jacarequara, do município de Santa Luzia do Pará. Em mais de 10 anos de existência, a Vida para Sempre vem se dedicando à defesa do patrimônio físico, social e cultural dos quilombolas, em busca da valorização das expressões ancestrais da cultura afro-brasileira e a promoção do uso sustentável e preservação dos recursos naturais, estimulando atividades de manejo e cultivo de práticas agrícolas. 

O projeto inscrito pela Associação Quilombola Vida para Sempre Jacarequara está ligado ao Eixo 2 do edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, que versava sobre Promoção da Soberania e Segurança Alimentar nas Comunidades Quilombolas. Ele foi batizado de “Flor da Pedra: práticas agroecológicas e fortalecimento sociocultural”. 

Com a implantação do projeto, que está sendo iniciado e passa a ganhar corpo, a Vida para Sempre pretende implantar tecnologias de sistemas agroflorestais para garantir que a produção agrícola permaneça como fonte de renda para a manutenção econômica e segurança alimentar. 

A forma como isso será alcançado, como bem acontece entre quilombolas, será iniciada pela conversa. Rodas de conversa e cursos formativos relacionados a práticas agrícolas; curso prático sobre plantio; curso sobre identificação e produção de canteiro de mudas de espécies madeireiras e frutíferas; formação de mutirões para a construção de viveiros de mudas, além de capacitação para identificação de áreas que tenham potencial para plantio. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial foi buscar as palavras de Anne Karine Pereira Quaresma, líder da Associação da Comunidade Quilombola do Paiol, em Crisália (MG) e de Manoel Venil Barros Nogueira, da Associação Quilombola Vida para Sempre Jacarequara, em Santa Luzia do Pará, para saber como tem sido esse planejamento depois de terem sido selecionados e como isso tem impactado suas comunidades. 

Anne Karine Pereira Quaresma – Associação Quilombola do Paiol
Manoel Barros Nogueira – Associação Vida Para Sempre Jacarequara

Entre os  objetivos de vocês está o desenvolvimento de ações de resgate cultural. Que ações, especificamente, são essas? 

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Produção de peças de vestuário que remetam à cultura Quilombola, contendo, por exemplo,  símbolos e frases sobre resistência e resiliência. Promover também momentos de troca de experiência em volta de fogueiras, para que as mulheres engajadas no projeto compartilhem a vivência no processo de corte e costura artesanal. 

A partir do termo “resgate” é possível deduzir que a cultura quilombola está sendo esquecida?

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Infelizmente, sim. Muito da nossa cultura tem se perdido com o tempo. 

Vocês falam em “Valorização da identidade dos sujeitos quilombolas”. Essa identidade tem sido desvalorizada de que forma? 

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Por um tempo, nós quilombolas da comunidade Paiol fomos vítimas de muito preconceito no município por sermos quilombolas. Por isso,  temos destacado sempre a importância em valorizar nossa identidade. 

O desenvolvimento econômico sustentável vocês vão realizar por intermédio de um programa voltado ao exercício do Corte e Costura.  Quantas pessoas vão trabalhar com isso? Serão apenas mulheres ou homens também estão incluídos? Qual o maquinário e em que quantidade vocês terão que conseguir? 

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Nosso projeto foi pensado apenas para mulheres Quilombolas da nossa comunidade. A princípio com a quantidade de 15 mulheres. Para tanto vamos precisar da compra de todo o material necessário para a costura. Como máquina de costura, tecidos, agulhas, tesouras, dentre outros. 

A produção do trabalho de Corte e Costura será comercializada apenas dentro da comunidade ou vocês vão buscar o público externo também?

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Vamos buscar um público externo também. Por isso,  parte do recurso será disponibilizado para o marketing e publicações acerca do processo de corte e costura. Para alcançarmos um público maior. 

O aprendizado que vocês estão recebendo dentro da jornada de conhecimento será utilizado como? Já é possível ter uma ideia? 

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Todo o aprendizado será utilizado para potencializar as vendas dos produtos. 

Qual a importância de vocês terem sido escolhidos para ser beneficiados pelo edital Quilombolas em Defesa, do Fundo Baobá para Equidade Racial?  

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Ter sido escolhido pelo edital foi uma conquista incrível. Este é nosso primeiro projeto aprovado. Sentimos que enquanto Associação estamos no caminho certo na defesa dos direitos do nosso povo e também na busca por melhores condições de vida dos quilombolas a partir do trabalho e da geração de renda.

Há algo que vc gostaria de falar e que não tenha sido perguntado aqui? Se sim, fique à vontade. 

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Gostaria apenas de expressar nossa felicidade em poder contar com o apoio de toda a equipe do Baobá. 

A preservação de recursos naturais por meio do manejo e cultivo de práticas agrícolas, florestais, artesanais. Isso está dentro dos conceitos mais modernos sobre preservação ecológica. Por que a natureza é tão importante para os quilombolas? 

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre): A nossa territorialidade, isto é, a identidade que temos como comunidade quilombola, envolve a relação existente entre nós e com a natureza presente no território da comunidade. Assim, a natureza está envolvida em todo nosso cotidiano e nosso modo de vida, a nossa cultura envolve a natureza. Desse modo, a natureza é essencial para o nosso modo de vida quilombola.

Quando vocês falam em “implantação de tecnologia de sistemas agroflorestais, unindo uma alternativa de fonte rentável para subsistência econômica e segurança alimentar da comunidade”. Em termos práticos, que tecnologia é essa? Qual é alternativa de fonte rentável? 

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) –  A Sistema Agroflorestal é uma tecnologia social com grande potencial em aliar conservação ambiental com subsistência e fonte renda para agricultores familiares. É um tecnologia inovadora frente ao modo de produção hegemônico convencional, a exemplo do monocultivo. Esta tecnologia refere-se à transferência de conhecimento e técnicas de cultivos sustentáveis e de base agroecológica, que dialogam com os saberes tradicionais dos agricultores familiares. Esta tecnologia se constitui em um projeto de vida, buscando gerar produção e renda agrícola a partir de cultivos de curto, médio e longo prazos de forma integradas.

O projeto de vocês procura dar mais modernidade aos seus sistemas de produção. É isso? A comunidade está preparada para isso?:  

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) – Será um processo de aprendizagem e formação contínua, e no decorrer do desenvolvimento do projeto, os participantes terão oportunidades de unir experiencias anteriores, que tiveram por articulação com o movimento negro estadual e cooperativa de agricultores  do município, com a possibilidade de implementação prática dessa tecnologia social.

O acesso a elementos que fazem parte da chamada vida moderna, como o acesso às mídias digitais, é fundamental hoje para a sobrevivência quilombola?

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) –  Sim, as mídias digitais é de fundamental importância, por ser um dos meios que utilizamos em prol de mantermos a comunicação ativa e também de nos oferecer a oportunidade de  participarmos de articulação com outras entidades e movimentos e, também, conseguir financiamentos, como foi o caso deste Edital.

Vocês já conseguiram identificar que tipos de estratégias serão usadas para fortalecer os produtos que são produzidos por vocês. 

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) – Esperamos que, com esse projeto, tenhamos a possibilidade que construir estratégias de fortalecimento de nossa produção.

Quão importante é para vocês terem sido beneficiados pelo programa Quilombolas em Defesa, do Fundo Baobá para Equidade Racial? 

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) – É de suma importância para o momento atual, pois estamos em processo de fortalecimento de nossa Associação. Assim, o edital possibilita construir estratégias que poderão tornar-se  fonte de renda na  produção agrícola. Mas também no fortalecimento da identidade da comunidade com a importância da Associação como organização coletiva e que luta pela melhoria da comunidade.

Existe algo que não foi perguntado e você gostaria de falar? Se sim, fique à vontade.

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) – Uma entidade que fortalece a nossa identidade negra e quilombola possui suma importância para nós. Esperamos que esta parceria com o Fundo Baobá possa render grandes frutos para nossa comunidade.

Publicado em 28 de abril de 202228 de abril de 2022

O acesso de negros ao ensino superior  e a importância de programas como o Já É

O Fundo Baobá traz uma reflexão sobre o caminho trilhado por jovens estudantes negros, negras e negres até finalmente sua tão sonhada entrada na universidade

Por Gabi Coelho

O acesso de pessoas negras à universidade é um acontecimento recente quando comparado com as demais dificuldades que essa porcentagem da população brasileira enfrenta. Retomando a constante discussão sobre o uso do termo “negro”, cabe destacar que o mesmo é a junção dos grupos autodeclarados pretos e pardos. De acordo com o cientista político Cristiano Rodrigues em entrevista ao jornal Estado de Minas, a adoção do termo possui um caráter sociológico onde as desigualdades sociais e raciais experienciadas por ambos os grupos os aproximariam. 

Hoje, 28 de abril, é o Dia da Educação e é de suma importância falar que, por mais que o total de negros nas universidades tenha crescido nos últimos anos – entre 2010 e 2019 o aumento percentual foi de 400% -, o acesso ainda é desigual levando em consideração a informação de que em torno de 56% do total da população brasileira é composto por negros.  Além disso, conforme a professora e advogada Tainan Maria Guimarães Silva e Silva em seu artigo “O colorismo e suas bases históricas discriminatórias”, o processo de miscigenação forçada que ocorreu no Brasil a partir da colonização e o posterior apoio do Estado a fim de incentivar a vinda de imigrantes europeus para o país com o intuito de promover o “clareamento” da população são exemplos de como os negros sempre foram vistos como indesejados.

Também é importante ressaltar que essa mistura trouxe consequências. As diferenças de tratamento acabaram fragmentando a unidade dentro do grupo racial e, consequentemente, dificultando o reconhecimento da negritude por parte dos sujeitos entendidos como “mestiços”, os pardos, enquanto empurravam os negros de pele retinta para as margens da sociedade: “A valorização do mestiço em detrimento do negro de cor escura, a sua tolerância no ambiente de predominância branca e conservadora e a propagação de que o clareamento poderia melhorar e fazer evoluir a raça negra permanecem até hoje no imaginário social, ainda que disfarçados”, afirma Silva na página 17 do texto citado. 

Baseado nos argumentos da professora e advogada, é possível compreender como o colorismo trata das diferentes tonalidades de pele e como isso é capaz de impactar na autodeclaração dos sujeitos e, por consequência,  nos dados sobre cor/raça do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)  e nas diferentes formas de articulação do movimento negro a fim de fazer com que os negros percebam como o racismo estrutural se articula com o objetivo de promover conflitos entre eles usando de elementos pautados pela discriminação e embranquecimento dos indivíduos de cor de pele não-retinta.

 A Política de Cotas, ou ações afirmativas, trata da Lei nº 12.711, sancionada em agosto de 2012. Foi a partir dela que 50% do total das vagas nas universidades e institutos federais passaram a ser reservadas para alunos oriundos integralmente do sistema público de ensino. Dentro desses 50%, há também “subdivisões”, onde podemos encaixar as vagas destinadas para pretos, pardos e indígenas. Sendo assim, esse sistema foi atrelado ao Sistema de Seleção Unificada (SiSu), um programa governamental já existente desde 2010, cujo intuito inicial era o de reservar vagas para estudantes que realizassem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2019, 56,2% da população brasileira comporia a categoria de negros (9,4% de pretos e 46,8% de pardos). A partir dessas informações é importante refletir sobre o caminho trilhado por essas pessoas até finalmente sua tão sonhada entrada na universidade, daí a necessidade de projetos como o Programa Já É, do Fundo Baobá para Equidade Racial, que visa promover o acesso de jovens negros, negras e negres ao ensino de nível superior. 

O caminho percorrido por essas pessoas pode ser percebido a partir de diferentes óticas: desde a Educação Básica precarizada, passando por questões familiares que batem à porta devido condições sociais historicamente explicáveis pela ineficiência do Estado em lidar com as consequências da realidade pós-abolição da escravatura, até a realização de um vestibular conteudista, cuja estrutura tradicionalmente acentua a disparidade entre a presença de negros e brancos nas universidades utilizando-se da enorme diferença entre o ensino público e o ensino privado no Brasil.

Enquanto um Programa voltado para auxiliar jovens negros e periféricos a entrarem na universidade através da promoção de um curso pré-vestibular e da concessão de vale-transporte e vale-alimentação após o retorno presencial das aulas, o Já É foi lançado em fevereiro de 2021 e selecionou 85 jovens, dos quais 75 seguiram matriculados e 69 participaram ativamente de todas atividades até  o final de 2021. Além disso, as e os estudantes receberam computadores e chips de internet para que seguissem com os estudos participando das aulas online. Aulas presenciais não estavam acontecendo devido às  limitações impostas pela pandemia da Covid-19. Em seu primeiro ano, o Fundo Baobá para Equidade Racial contou com o apoio de três instituições para a realização do Programa Já É: Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology.  

As ações afirmativas no ensino superior devem ir além das cotas para garantir o acesso, é necessário garantir a permanência. Segundo o site do QueroBolsa, a taxa de evasão no Ensino Superior entre pessoas negras foi de aproximadamente 28% no ano de 2019. Dentre os principais motivos que levam à evasão temos: “(…) turno integral que impossibilita trabalhar, textos em inglês; professores na área de saúde que pedem para alunos comprarem materiais e equipamentos caros; funcionários despreparados para lidar com negros.” Quando falamos sobre permanência e evasão de jovens negros nas universidades, podemos relembrar um dos pilares do Programa Já É: Entrada e permanência no ensino superior (investimentos em alunos, alunas e alunes do ensino médio, em cursos preparatórios para o vestibular e nos primeiros meses do curso de graduação). 

Do grupo de 75 estudantes do Ja é, 24 tiveram sucesso nos vestibulares, o que significa um percentual de aprovação de 32%. A presença de estudantes negros nas universidades brasileiras também irá possibilitar, futuramente, que profissionais da Educação negros adentrem em espaços como esses, visto que a formação de indivíduos negros se faz necessária para que os mesmos sejam profissionalmente qualificados a fim de ocupar os mais diferentes cargos. Sem esquecer de mencionar a importância da universidade em relação à transformação pessoal e profissional a qual esses estudantes estarão sujeitos, dado que o ambiente universitário, além de proporcionar o enriquecimento profissional, também estará possibilitando o estabelecimento de vínculos de amizade e experiências capazes de  transformar a perspectiva desses jovens.

Veja a lista de jovens que ingressaram na universidade com apoio do Programa Já É:

           Aluno/Aluna       Instituição / Curso Modelo
Ana Claudia Rocha de Souza Universidade São Judas / Psicologia                         Privado
Ana Maria Silva Oliveira UNIFESP / Administração                             Público
Anna Beatriz da Silva Garcia SENAC / Fotografia                         Privado
Antonio Gustavo Ribeiro Universidade Santo Amaro / História Privado
Breno Oliveira Ribeiro UNIFESP / Ciências Sociais                         Público
Caroline Vitória R. dos Santos USP / Gestão Pública                         Público
Carlos Eduardo de Castro Cerqueira UFRJ / Administração                             Público 
Isaque Rodrigues de Oliveira Anhembi-Morumbi / Publicidade e Propaganda                             Privado
Jakeline Souza Lima UNESP / Artes  Público 
Joselaine Romão Soares Centro Universitário Cidade Verde / Engenharia de Software                       Privado
Joyce Cristina Nogueira  USP / Lazer e Turismo                              Público
Karina Leal de Souza USP / Arquitetura                            Público
Karine Lopes dos Santos Anhembi-Morumbi / Relações Públicas                      Privado
Larissa Araujo Aniceto USP / Letras Público
Laysa Stefani de Almeida Brito UNIP / Enfermagem                         Privado
Luiz Felipe Motta da Silva Faculdade Americana / Enfermagem                         Privado
Mayza Silva Dias Universidade Santo Amaro / Gestão Hospitalar                       Privado
Melissa de Jesus Calixto Costa Universidade São Judas Tadeu / Direito Privado
Natalia dos Anjos Oliveira FMU / Engenharia Química                         Privado
Nicholas W.Crisólogo. Gonçalves Centro Universitário Ítalo Btasileiro / Educação Física                        Privado
Raphaela dos Santos UNIP ou Estácio / Biomedicina Estético ou Estética e Cosmetologia Privado
Taynara Silva Santos UNIFESP / ABI – Ciências Sociais Público
Thais Sousa Silva USP / Pedagogia                           Público
Vitória Nunes Martins Anhembi-Morumbi / Design Gráfico                       Privado

 

 

 

Publicado em 27 de abril de 202230 de abril de 2022

Doadores Individuais do Fundo Baobá

Entrevistados falam da importância de criar uma cultura de doação e unificar a sociedade em prol de causas sociais

Por Ingrid Ferreira

O Fundo Baobá é o primeiro fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Ao longo de seus 11 anos de atuação, além de ser apoiado por grandes empresas, tem contado com parcela da população que está abraçando a causa e comprometendo-se em contribuir com essa questão tão crucial.

O Fundo conversou com dois doadores individuais que, ao conhecerem o Baobá, decidiram se engajar para que a sociedade seja mais justa e, para que, através dos editais promovidos pelo Fundo, haja mais qualidade de vida para a população negra.

Uma dessas pessoas é a Ana Maria Assis, ou dona Ana, como ela prefere ser chamada. Dona Ana era funcionária da Justiça Federal e se aposentou há um ano, durante a pandemia ela sentiu a necessidade de auxiliar a população de alguma forma e ao conhecer o trabalho do Fundo Baobá, ela decidiu apoiar a causa por meio da doação para a instituição.

Ana Maria Assis

Ao ser questionada sobre o que a fez interessar-se em dirigir a sua doação para o Baobá, ela diz o seguinte: “Achei interessante a perspectiva de formar lideranças negras, pois acho que esse é o caminho, a educação e organização, para superar a enorme desigualdade do país e as dificuldades enfrentadas pelo povo negro”.

Dona Ana traz pontos de extrema importância em sua fala, como a excelência de criar uma cultura de doação na população brasileira e como isso repercute socialmente. A doadora destaca que, ainda que não seja de imediato, os resultados podem ser observados a curto, médio e longo prazo.

Ela também fala que: “Cada pessoa de condição social e econômica inferior que consegue entrar numa faculdade, completar o ensino médio, ou participar de iniciativas como a do Fundo Baobá, consegue mudar sua vida e a de outras pessoas no entorno, isso representa uma esperança para todos nós”.

As falas de dona Ana destacam a importância do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco cujo objetivo é ampliar a participação de mulheres negras em espaços de poder e tomada de decisão e do Programa Já É que visa apoiar jovens a acessarem o ensino superior e a se manter na universidade.  Em ambos os Programas, pessoas jovens e mulheres têm valorizado e estimulado o direito de sonhar com um futuro melhor e caminhar em direção a ele.

O segundo doador entrevistado é o Thiago Alvim, atualmente Diretor Executivo do Prosas. Thiago conta que não se lembra exatamente quando conheceu o Fundo, mas que uma data muito marcante foi o lançamento da iniciativa em homenagem a Marielle Franco no Congresso do Gife há alguns anos atrás.

Thiago Alvim

Thiago atua na área de investimento social privado e, em sua fala, traz a importância da contribuição para o Baobá: “Acredito que a causa da igualdade racial é um dos temas mais importantes, da atualidade, no Brasil e ainda temos muito para avançar. Somo a isso o formato de atuação do Fundo, que permite que diversas novas vozes sejam ouvidas, valorizando o protagonismo de pessoas negras como parte da solução. Em um país continental e tão diverso, precisamos ampliar o número de atores que conseguem se expressar e ser ouvidos”.

Thiago também fala da importância da coletividade nesse processo de mudança social, o que traz aquele velho ditado do trabalho de formiguinha: apenas uma pessoa doando, pode parecer pouco, mas se cada uma fizer sua parte, contribuindo para o conjunto, grandes coisas poderão ser feitas. 

E como ele disse: “Somando diversas outras pequenas contribuições e contando com a legitimidade e capacidade técnica da equipe do Baobá, milhares de iniciativas em prol da igualdade racial podem ser desenvolvidas pelo Brasil. Problemas complexos, como a desigualdade racial, somente serão resolvidos ou minimizados com a participação de muita gente e, por isso, fico satisfeito de dar minha pequena contribuição. Se valorizo o protagonismo negro, também considero fundamental a conscientização e participação dos brancos na busca de soluções”.

O Fundo Baobá é grato a todas as Donas Anas e Thiagos que acompanham o trabalho que é feito por aqui, enfrentar o racismo e promover a equidade racial no Brasil é um trabalho árduo, porém, contando com o apoio e compromisso de pessoas como vocês, podemos caminhar com mais firmeza, na certeza de que, a cada dia, contribuímos para que mais pessoas negras se desenvolvam e dêem passos à frente.

Publicado em 27 de abril de 202230 de abril de 2022

Baobá na imprensa em Março

Por Ingrid Ferreira

No mês de março o Fundo Baobá para Equidade Racial foi citado em muitas matérias, de diversos veículos, inclusive, veículos de comunicação internacionais, isso decorreu de acordo com a decisão da bilionária Mackenzie Scott, acionista da Amazon, que decidiu doar 3,8 bilhões de dólares a 465 organizações espalhadas pelo mundo, e entre essas, encontra-se o Fundo Baobá.

Na mídia internacional o Baobá foi citado pelo Blog da MacKenzie Scott, Tech Startups, Red Lake Nation News e Spletnik, todos os veículos falando sobre a doação de Mackenzie Scott, já no Brasil, o assunto teve repercussão na Veja, MSN, Meio e Mensagem, Metrópoles, Terra, Isto É Dinheiro, Folha, Suno Notícias, Diário do Centro do Mundo e hojediário.com. 

Outro assunto que também repercutiu na mídia, foi do Programa Já É, que está no seu segundo ano de execução e dessa vez, contando com a parceria da empresa de seguros MetLife, e o assunto foi tema de matérias no Jornal Empoderado, Valor Econômico, Exame, Sonho Seguro, Segs e Sindseg.

O Guia SP 24 Horas e a Redação RG do Uol falaram sobre um projeto dos artistas “Os Gêmeos”, que criaram uma camiseta para celebrar os 10 anos do selo musical, também chamado de camiseta do bem, 100% do lucro obtido com a venda do produto será destinado às instituições sociais Fundo Baobá e Cambuci Solidário.

A Mixvale e o Yahoo!Notícias falaram sobre o Mover, movimento de empresas pela equidade racial iniciado após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas por seguranças no estacionamento do Carrefour em 2020 e sua parceria com o Fundo Baobá.

O GIFE também citou o Fundo Baobá em sua matéria “Recém lançado, estudo traz histórico e panorama dos fundos patrimoniais no Brasil”, que contou com a fala do atual Diretor Executivo da instituição, Giovanni Harvey, que falou a respeito da criação do Baobá, suas metas e focos enquanto organização voltada a equidade racial no país.

No site Criola, o Fundo foi indicado como apoiador de um projeto que busca informações para ampliar diálogo sobre estratégias para avançar na luta contra o racismo sistêmico, na matéria “Consulta pública de Criola irá mapear movimentos e organizações brasileiras voltadas à justiça racial e criminal”.

Apoiadas (os) do Fundo Baobá

No mês de março, a coluna Coletiva Negras que Movem do Portal Geledés, contou com o artigo Cinco Formas de Exercer seu Antirracismo, em que a escritora Jaqueline Fraga fala sobre como o racismo age de forma diferente no Brasil, levando em conta questões como pigmentação da pele e traços marcantes de pessoas negras.

A autora citada acima também escreveu o artigo Na Paz e na Guerra, Continua-se Negro, em que ela cita o episódio ocorrido na Ucrânia, onde há semanas o mundo todo teve conhecimento através das redes sociais que no processo de fuga do país, pessoas brancas estavam tendo privilégios, mediante pessoas negras, para entrarem nos trens.

A Coletiva Negras que Movem é uma iniciativa de mulheres apoiadas na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas: Marielle Franco. O programa é uma realização do Fundo Baobá para Equidade Racial com apoio da Fundação Kellogg, Fundação Ford. Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. 

O Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis de Bocaina publicou a matéria “Cooperação entre Fiocruz e Embrapa fortalece comunidades na promoção da saúde e da agroecologia”, e o Baobá foi citado na fala de Laura Braga, liderança do Quilombo da Fazenda, que é apoiado no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, uma iniciativa do Fundo Baobá em parceria com a Fundação Interamericana.

O Correio Nagô mencionou o Fundo Baobá em sua matéria “Projeto “Racismo Religioso: Respeita Minha Fé!” mapeia violência racial contra terreiros na região metropolitana do Recife”, pois o projeto que está finalizando sua primeira etapa, iniciada em dezembro de 2021, com apoio do Baobá por meio do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça.

O site  Voe News e o gov.br publicaram a matéria “Evento reúne profissionais mulheres do setor aéreo brasileiro para bate-papo sobre gênero e aviação”, que contou com a participação da Laiara Amorim, idealizadora do Quilombo Aéreo e do projeto “Voe Como uma Garota Negra”, além de instrutora no projeto “Pretos que Voam”. Laiara foi apoiada na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. O evento reuniu profissionais mulheres do setor aéreo brasileiro para bate-papo sobre gênero e aviação.

Publicado em 26 de abril de 202226 de abril de 2022

Benedita da Silva e a importância de mais mulheres na política

Ela completa 80 anos no dia 26 de abril e segue atuante na política. Organizações apoiadas pelo Programa Marielle Franco fazem trabalho firme na formação política de mulheres 

Por Gabi Coelho

Em um país onde a população é composta por 51,8% de mulheres (dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019), a representação feminina torna-se cada vez mais um assunto recorrente ao falarmos sobre política. Foi somente no ano de 1932, a partir do Decreto 21.076 assinado pelo então presidente Getúlio Vargas, que as mulheres brasileiras conquistaram o direito a votar e serem votadas, e ainda assim somente em 1965 é que o voto feminino passou a ser obrigatório. Para os que se interessarem pelo contexto histórico da luta feminina pelo voto, a Câmara dos Deputados publicou, em 2019, a segunda edição da obra “O voto feminino no Brasil”.

Neste 26 de abril, a deputada federal Benedita da Silva completa 80 anos. Benedita é um ótimo exemplo da importância da presença de mulheres em cargos políticos. Ela foi a primeira mulher negra a governar um estado brasileiro em abril de 2002 e renunciou ao cargo em dezembro do mesmo ano para assumir como  Ministra da Ação Social no governo Lula. Ainda falando sobre pioneirismo, podemos citar Antonieta de Barros, a terceira mulher eleita no Brasil e a primeira mulher negra a assumir um mandato (Deputada Estadual em Santa Catarina, 1934), além de ter sido a autora do projeto de Lei nº145 (12 de outubro de 1948),  que deu origem ao Dia do Professor.

Existe uma forte sub-representatividade da mulher na política brasileira. Segundo a ONU Mulheres (Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento da Mulheres) e o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Brasil ocupa o antepenúltimo lugar entre países latino-americanos no ranking de paridade política entre homens e mulheres. 

A organização Mulheres Negras Decidem (MND) surgiu no estado do Rio de Janeiro, o estado que foi governado por Benedita da Silva, em 2018. Seu foco: a promoção de um número significativo de mulheres negras no cenário político daquele estado. Colocá-las em evidência e, através do voto, no campo da tomada de decisões. A organização MND foi apoiada na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, do Fundo Baobá em parceria com a Fundação Kellogg, o Instituto Ibirapitanga, a Fundação Ford e a Open Society Foundations. 

Diana Mendes, uma das líderes do MND, falou para o Fundo Baobá sobre a importância de terem sido selecionadas para o Programa Marielle Franco em 2019  e o impulso que isso deu em sua organização. “Nesse processo de desenvolvimento institucional, comunicação e ações de incidência da organização, o Fundo Baobá foi primordial, porque desde o início do movimento a gente tem feito muitas ações, mas eram ações com o nosso investimento pessoal”, afirmou. 

A organização Rede de Mulheres Negras de Pernambuco também está levando o aprendizado para as mulheres, visando fazer com que elas ocupem espaços políticos de importância. “A Rede de Mulheres Negras de Pernambuco organizou processos de formação políticas para qualificar sua própria atuação e apoiar o surgimento de outras lideranças e referências; tem realizado processos de formação política junto a mulheres das entidades Espaço Mulher e Cidadania Feminina e executou um projeto coletivamente pela primeira vez;  fez despertar o desejo de liderança em suas representantes, que  superaram  o receio de trabalhar de maneira virtual, manuseando as plataformas digitais”, respondeu Rosita Maria Marques, da liderança da Rede Mulheres Negras de Pernambuco.   

Quando abordamos diretamente a importância das mulheres na política, podemos falar também sobre a criação de políticas públicas direcionadas para essa grande parcela da população e sobre a identificação e solução de problemas a partir da compreensão das necessidades coletivas partindo das experiências de vida das eleitas enquanto um elemento fundamental para a elaboração de projetos e para o exercício da empatia durante seus mandatos. Outro ponto que merece destaque é que a representação feminina nos cargos políticos precisa de fato abarcar a pluralidade que acompanha esse grupo: mulheres negras, mulheres LGBTQIA+ e demais individualidades, como mulheres com deficiência.

A partir da premissa de diminuir a escassez da participação feminina foi aprovada a Lei nº 9.504/1997, que sofreu uma alteração após a resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Enquanto a lei em questão estabelece que “cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo”, a resolução 23.607/2019 estabelece também que os partidos devem destinar 30% do Fundo Eleitoral (Fundo Especial de Financiamento de Campanha) para campanhas femininas.

Em entrevista para a Câmara Municipal de Piracicaba (SP), a professora de Economia Helena Berlato falou sobre a relevância dessa medida: “A mulher não é incentivada desde pequena a chegar na política, então esses 30% são o mínimo para garantir esta presença, porque quando a gente fala da mulher e de outras figuras também, trazemos um outro olhar, olhares de outros grupos que são importantíssimos para fazer políticas públicas”.

Infelizmente, no último dia 5 de abril, o Congresso Nacional aprovou uma emenda constitucional que isenta de punições os partidos políticos que desrespeitaram a exigência de uma cota mínima de recursos para candidaturas de mulheres e negros em eleições anteriores ao ano de 2022. “A emenda veda, nesses casos, a condenação, pela Justiça Eleitoral, nos processos de prestação de contas de anos anteriores que ainda não tenham transitado em julgado (sentença definitiva) até a data da promulgação”, é o que diz a matéria publicada no G1 Política.

Já no que se refere às eleições municipais de 2020, tivemos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 651 prefeitas  (12,1%) contra 4.750 prefeitos (87,9%) e 9.196 vereadoras (16%) contra 48.265 vereadores (84%). Apesar de admitir o aumento no total de mulheres eleitas, o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, fez um adendo: “Mas também tivemos um aumento nos ataques físicos ou morais a mulheres candidatas. Esse tipo de agressão a mulheres é pior que machismo, é covardia. Precisamos de mais mulheres na política e, portanto, precisamos enfrentar essa cultura do atraso, da discriminação, do preconceito e da desqualificação”. 

Já no que se refere às eleições municipais de 2020, tivemos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 651 prefeitas  (12,1%) contra 4.750 prefeitos (87,9%) e 9.196 vereadoras (16%) contra 48.265 vereadores (84%). Apesar de admitir o aumento no total de mulheres eleitas, o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, fez um adendo: “Mas também tivemos um aumento nos ataques físicos ou morais a mulheres candidatas. Esse tipo de agressão a mulheres é pior que machismo, é covardia. Precisamos de mais mulheres na política e, portanto, precisamos enfrentar essa cultura do atraso, da discriminação, do preconceito e da desqualificação”.

Outra figura importante a ser mencionada é Maria Regina Sousa. Filha de um trabalhador rural e de uma dona de casa, Regina teve 13 irmãos e nasceu em União, uma cidade que fica a 52 km de Teresina (Piauí). Aos 71 anos, Regina assumiu o cargo de governadora do Piauí, tornando-se a primeira mulher a assumir efetivamente esse posto. Filiada ao PT e formada em Letras pela Universidade Federal do Piauí, Sousa também foi a primeira mulher do estado a assumir o cargo de Senadora entre os anos de 2015 e 2018. 

Por fim, mas não menos relevante, o projeto Agenda Marielle, criado pelo Instituto Marielle Franco, é um exemplo de iniciativa voltada para a construção de campanhas eleitorais cujos princípios baseiam-se em “Compromissos com práticas e pautas antirracistas, feministas e populares a partir do legado de Marielle”, o que incluiria pautas como Justiça Racial e Defesa da Vida, Gênero e Sexualidade, Justiça Econômica, Saúde Pública Gratuita e de Qualidade, entre outros.

Publicado em 26 de abril de 202226 de abril de 2022

Baoba Fund announces the Evaluation of the Economic Recovery Program for Black Entrepreneurs

The black population has always undertaken it. Faced with so many challenges and structural racism itself, he had to learn in practice how to create his own businesses, even without incentives or public policies that could meet so many needs.

Blacks and blacks are protagonists when it comes to innovation and a way of undertaking. With business models that really impact the communities where they are inserted, they make a difference with more circular and community formats that run away from traditional capitalist logic.

But have these entrepreneurs managed to keep their businesses active in the midst of the pandemic? What were the biggest challenges? What incentive policies were created or not to support these business leaders working in the communities that were most impacted by the pandemic?

Thinking about the most diverse challenges that were presented and that still extend throughout the country, the Baobá Fund for Racial Equity, in partnership with Coca Cola Foundation, Coca Cola Brazil Institute, BV and Votorantim Institute, launched in November 2020 the Program for Economic Recovery of Small BusinessEs of Black Entrepreneurs.

Together with Fa.vela – an entrepreneurial, innovative, digital and inclusive education and learning hub – we followed 46 initiatives and 137 entrepreneurs from all over Brazil throughout 2021, and they received financial support of R$30,000 per initiative.

With consultancies, workshops and processes of exchange and learning in a virtual way, we understand the power to financially support these enterprises, reaching the end of 2021 celebrating the permanence of these small businesses, which not only strengthen the ecosystem of Afroentrepreneurship in Brazil, but also of all the territorialities where they operate.

 

Why support black enterprises?

With a wide diversity of business, we can once again notice the creative powers that come from the edges of both cities and countryside, which still suffers from racism in our country.

More than half of the Brazilian population is black, composed of about 56% black and brown. Of these, ibge (Brazilian Institute of Geography and Statistics) estimates that at least 14 million are entrepreneurs. A market that moves up to 1.73 trillion of the country’s economy annually.

With the pandemic, the entire business ecosystem has been shaken. The Global Entrepreneurship Monitor Survey (GEM 2020), conducted in Brazil in partnership with Sebrae (Brazilian Service for Support to Micro and Small Enterprises) and IBPQ (Brazilian Institute of Quality and Productivity), showed that, from 2019 to 2020, the number of entrepreneurs in Brazil fell from 53.4 million to 43.9 million.

But if there is a niche that suffered even more, this was certainly that of small entrepreneurs, especially black and peripheral:

The research “The impact of the coronavirus pandemic on small businesses”, developed by Sebrae in partnership with the Getúlio Vargas Foundation (FGV) with 7,403 entrepreneurs, in June 2020, shows that businesses led by the black population were the most impacted, mainly because they serve essentially in person (45%). Among whites, the proportion was 36%.

Of all the interviewees, 70% of the businesses were conducted by blacks who lived in municipalities where the partial or total closure of the establishments occurred. In this scenario, the majority were young, women and with a low level of education.

The necessary isolation to brake the new coronavirus came full of difficulties for the maintenance of the business itself. The same survey indicates that 46% of black-led enterprises had to temporarily stop operating.

In the midst of a crisis scenario, black entrepreneurs still had more refusal when borrowing (61%) when compared to whites (55%), even the amount requested by blacks ($28,000) was 26% lower than whites ($37,000).

Taking this scenario into consideration, our goal with the Economic Recovery Program was to support black entrepreneurs and entrepreneurs from the peripheries to go through this moment of crisis caused by the Covid-19 pandemic.

At the end of the program, we carried out a process of evaluation of results, with the objective of telling how these women and men, distributed throughout all corners of Brazil, are making a difference in their territories. Even in the face of an economic crisis, they continue to turn the local economy, in addition to multiplying their knowledge and services to others and new entrepreneurs.

 

Evaluation paths

To arrive at the results of the program, we have the support of an external consultancy, Window 8, and we have traveled some paths together with supporters, performers and participants of the program. The first step was the analysis of information and documents collected during the program, such as the survey of registrations and other databases of participants in the production processes, narrative reports and accountability prepared by the entrepreneurs themselves.

The reports prepared by the Fa.vela Hub were also important references to arrive at the details of the evaluation, and also to define the main points of transformation desired by the program through a Theory of Change.

The Theory of Change allowed delimiting the desired impact of the program: the promotion of a dignified life for black subjects and families through the improvement of their financial conditions. In addition, the main results, products, interventions and target audience were highlighted, as well as the premises of the program.

From there, interviews were conducted with stakeholders and listening groups with program participants. The data and information collected were analyzed and consolidated in a full report and in an executive summary (available for download here).

 

Profile of participants

“There are no edicts that support the northeast and the black population,” was a recurring phrase in the evaluation process of the program.

Understanding the importance of geographic diversity and the reality of initiatives located in the north and northeast, with support below what they need, the Economic Recovery Program prioritized these regions in the selection of entrepreneurs.

The Northeast is the place where most of the selected initiatives are concentrated, especially Bahia (37%). To speak in territory at this time of pandemic is to remember that Covid-19 has not affected populations only in the highest peaks of the disease, but also economically, including in the post-first wave of the disease.

With unemployment hitting record highs in 2021, many people have had to resort to formal work or else raise their own means of survival and sustainability. The program was important for supporting businesses of people who work mainly alone (44%) or with their families (31%). In addition, more than 60% of the supported enterprises employed at least one (one) person in their activity (informally or formally) during the implementation of the Program.

 

Black women: business leaders

We selected 46 initiatives composed of three black entrepreneurs and entrepreneurs throughout Brazil, covering a whole 137 entrepreneurs. The main age group of participation is between 25 and 35 years (43%), followed by people who are between 36 and 50 years old (36%). More than half of the enterprises (56%) are made up exclusively of women, showing how the program mainly impacted black women.

In relation to schooling, there was an important distribution among people with different levels of education: 25% have completed high school, 24% have completed higher education and 26% have completed higher education.

 

Entrepreneurship from the peripheries

Among the businesses supported by the program, most fall into four segments:

food (19%), crafts (13%), agriculture (12%), sewing (12%) and beauty (8%). The Program also supported initiatives in the areas of fashion and clothing, tourism, health, communication, culture and events, education, fishing and service delivery.

The contemplated initiatives are located mainly in urban areas (73%) and in the peripheries (77%), showing the importance, once again, of local businesses.

Being in the peripheries also symbolized a challenge, given the long distances, since some initiatives opted for the delivery format, requiring thinking means of transport for these deliveries, as we can see in this statement.

“We had already started the project and the project gave an incentive for us to continue. In this time of pandemic we had to take a break from the service because of the agglomerations. We had to pause a year and a half. Another idea came up that we had so as not to be totally stopped. We had the idea to deliver cake, but the city is 8 km from our community. The project came about in an hour of great challenge, improved the initiative.”

 

The impact on communities

The entrepreneurs related to their communities in the most different ways, either by disseminating content, by sharing the learning acquired throughout the program or, then, supporting the donation of basic baskets in the face of food insecurity that was imposed through out the Brazilian territory in the midst of the health crisis.

According to the reports of entrepreneurs, at least 16% say that their communities are an important consumer public. In addition, 27% of businesses generate jobs in the territory, as we can see when we hear some reports like this: “We were able to give more visibility, increase the workforce and increase the space. With the larger space, it gave more visibility and attracted more audience. It made a big difference. Today our initiative is more able to receive the public that we are receiving today. We can also help more people in the community,” they point out.

The program was a great promoter of the feeling of belonging in relation to the community, since there was an incentive to look around and think about the business through the local population, in addition to strengthening the territories themselves, as one of the entrepreneurs says: “For us, it is important the impact of our activities and enterprises on the community,   because we believe we can grow together. Therefore, we carry out workshops, trainings, conversation wheels improving the techniques of each entrepreneur and dialoguing knowledge with the community.”

 

Program findings and powers

From the arrival of the program to the evaluation process, black and black entrepreneurs were acquiring several learnings, able to ensure the survival of their business and also expand the impact they already had on their locations.

According to the business leaders themselves, 3,020 people living in the communities close to the projects were indirectly benefited, as the program positively fostered the spirit of belonging to the communities where they are inserted and encouraged local actions.

Throughout the program, formative processes were the heart of the journey. In total, 447 hours were dedicated to learning, 282 of which were dedicated to mentoring customized each business.

Since the peripheries are already known spaces of knowledge sharing – a practice inherited by the experience lived in community by quilombos and indigenous territories – in the program this experience of sharing learning was also evident in the testimonies collected.

Entrepreneurs narrated the realization of actions to disseminate content and resources to the communities where they are inserted, which contributed to this expansion on a larger scale of the program, also strengthening the ties of business, especially among black women.

Mentoring was also beneficial to broaden understanding of projects, defines priorities, ask questions and also carry out longer-term planning, since the program has brought these people tools about entrepreneurial practice.

According to the participants’ reports, 69% stated that they had overcome the main challenges they had at the beginning of the program. In addition, there was a 22% increase in business formalization.

All this occurred from the expansion of awareness about the importance of key elements for the maintenance and continuation of the business, such as documentation, accountability and communication planning.

 

Far beyond the program: subjectivities under construction

If there is one element that has crossed the entire Brazilian society in the midst of the pandemic, this was certainly internet access. Whether to be close to family or friends or, to access basic rights, such as Emergency Assistance, the internet proved fundamental.

The country, however, still has a great challenge when we talk about access, especially in territories further away from the central regions. This scenario was no different when we looked at the reality of the entrepreneurs contemplated in the program.

At least 82% of them claim that, with the program, they managed to overcome the challenges and inserted their business into the virtual universe, making digital inclusion one of the great gains of the program, since it was allowed to invest in the purchase of computers or internet points.

It is possible to understand the importance of the program when listening to the entrepreneurs themselves. “We had no prospect of anything. We had a business that started gradually. With the edict I went a long time without believing what had happened. We bought raw materials, equipment we needed.”

 

The challenges of black women who undertake

When we talk about entrepreneurship, it is important to remember that, even full of creativity and great ideas, the black population still faces structural challenges to access the entrepreneurship market.

This fact could also be noticed during the realization of the project, given the fact that many people could not devote themselves entirely to their business, because they needed to supplement the income in various ways, not having time to focus on their personal project. Of the entrepreneurs and entrepreneurs supported, 53% had in the enterprise a complementary source of income and for 47% the business was the main source of income. Somehow, the program also managed to support these people, who in some cases were about to give up investing time in their ideas.

About this, they reflect on the difficulties of living in their own business. “We know that black women making money, we are often there trying to make our business become our main source of income, but we have other employment relationships to be able to supplement the income.”

 

Mental Health and Self-Esteem of the Black Population

The mental health and self-esteem of black women are also unmeasured impacts that are worth noting, because they say about the personal strengthening of these leaders and the possibility of continuing their projects with autonomy.

“We didn’t believe that a project could target black and poor people without wanting anything in return. We didn’t believe we’d have visibility,” says one of the entrepreneurs heard.

When we heard the public supported by the project, the racial issue was also in evidence. For them and them, the program was a way to reflect once again on the racial prejudices they experience as black people, including to undertake, becoming a limiting person of their own work.

For one of them, if there’s a way to “hit the system in the face” is when black women can show their abilities. “It is when we put the face to the slap and prove that it is possible, especially us, women, black, young, rural, maroons. It has a whole baggage that is out of the pattern of a society that is prejudiced the way it is ours,” he points out.

 

Impact and continuous learning process

More than financial resources, it is confirmed the importance of uniting entrepreneurs with tools that enable them to continue their business, even after the end of resources equal to those of the program.

“The edict did not only give money, also taught how to follow, showed other paths,” pointed out some of the entrepreneurs heard and heard.

Showing paths of autonomy, especially financial, and ways of undertaking that continue the central idea is a way to continue impacting both the enterprises and the communities themselves. Among the preferred courses are those related to financial issues, in addition to sales and digital marketing. At least 68% of the participants stated that they had learned from the program.

“Money was something we lacked. Having an edict that would allow us to move in some way was very good. When we found out that the formative processes were still going to take place, it was very much married to what we had already been talking about. The project has already come with a complete package. They were the three ideal routes that we didn’t even expect, but it was in the package. “

 

Final reflections

The program met a real demand for increased vulnerability of the small and nano entrepreneur, caused by the worsening of the pandemic, and may realize that, even the objective being economic recovery, the project also had indirect and personal impacts for each selected person.

Even though it is not possible to measure how financial resources will continue to collaborate for the maintenance of the business, with the end of the program, it is possible to say that mentors and consultancies have mainly strengthened entrepreneurs and entrepreneurs with essential knowledge to continue following with their ventures.

We highlight that it is always important to consider the aspects of development of personal skills and abilities, as these are the greatest highlights at the end of the project, also influencing the continuity of entrepreneurial activities after intervention.

 

We highlight some of the greatest results:

# 46 initiatives and 137 entrepreneurs directly impacted

#3,020 people linked to the communities of the enterprises were impacted indirectly, with 77% of the initiatives concentrated in the peripheries.

# 88% of entrepreneurs said they use part of the resource to acquire electronic equipment to participate in the virtual activities of the program

#40% of the expenses included in the category other expenses are related to courses and /or technical consultancies to support the business, which demonstrates how these and these entrepreneurs are thinking about their business also in the medium and long term.

# At least 68% of participants stated that they had learned from the program. There were 447 hours of training, 282 of which were dedicated to mentoring customized to each business.

# 69% of entrepreneurs overcame the main challenges they had at the beginning of the program.

# There was a 22% increase in business formalization.

# At least 82% of them said that, with the program, they managed to overcome the challenges and inserted their business into the virtual universe.

# 78% acquired raw material and performed acquisition or maintenance of equipment.

# 75% bought from community suppliers and 57% declared that the clientele increased considerably.

# The Baobab Fund Notice was, for many, the first opportunity to mobilize external resources, impacting the participants’ self-confidence.

# The statements of strengthening among black women appeared spontaneously in the evaluation process, showing the importance of actions to increase self-esteem and self-confidence.

# The creation of networking networks among entrepreneurs from different locations in this time of crisis can be seen as one of the greatest subjective and qualitative gains of the project.















Publicado em 26 de abril de 202226 de abril de 2022

Baoba Fund creates, in Brazil, the first Giving Circle led by black people

Black philanthropy must mobilize to exercise the donation, aiming to promote projects that work racial equity and social justice for the black population.

By Wagner Prado

 November 30, 2021 is considered a historic mark for the Baoba Fund for Racial Equity. In the year it completed 10 years of activities, Baoba Fund, the only fund dedicated exclusively to the promotion of racial equity for the black population in Brazil, launched its Giving Circle. And why is the brand historic? The Baoba Fund is an organization commanded by black people and engaged in issues related to the Brazilian black people. The Giving Circle created by Baoba is the first in the country and the only one that has blacks in the lead. Baoba Fund is planting a seed so that black philanthropy can be up and strong in Brazil. The mission of the Baoba Fund is to provide financial resources, which provide support so that programs, projects, initiatives of organizations, groups and collectives black or by Baoba itself are implemented. From 2014 to 2021, Baoba invested approximately R$ 15 million in 833 black initiatives, including emergency support in the context of the COVID-19 pandemic. Indirectly, it has impacted more than half a million lives nationwide.

➜ Black Women’s Leadership Development Acceleration Program: Marielle Franco – aims to make collectives and groups of black women strengthened in all their capacities, in addition to developing the potential to strengthen the leadership of black women. The supporting partners are Ford Foundation, Ibirapitanga Institute, Kellogg Foundation and Open Society Foundation.

➜ Program JA É: Education and Racial Equity – aims to provide scholarships in preparatory courses for the entrance exam. The program also offers vocational guidance and psychosocial support, transportation voucher, meal and internet, for black youth, aged between 17 and 25 years, living in the city of São Paulo or Greater São Paulo. The school trajectory of these students has to have been done in a public school. In the first year of support, the partners were Citi Foundation, Demarest Lawyers and Amadi Technology.

➜ Black Lives, Dignity and Justice – is intended to support initiatives of organizations, social movements, black collectives that seek to develop practical actions to combat racism, systemic violence and criminal injustices in Brazil. The three examples of edicts, launched between 2019 and 2021, give an idea of the importance of carrying out the act of donation so that an incalculable number of people can benefit from responsible social actions.

 

Giving Circle

The Philanthropy for Racial Equity Program is an initiative that aims to promote the values of philanthropy for racial equity and will be based on the following criteria: Consistency, Sustainability, Coherence and Trust. They will be invited to be part of national and international black leaders, influential in their areas of activity. They will be responsible for leading the first Giving Circle for Racial Equity in Brazil. In addition, they will play a fundamental role in raising the prominence of black people in Brazilian philanthropy. It will also be up to these leaders to support the Baoba Fund in expanding the relationship and engagement of individual donors in potential donations between R$ 5,000 and R$ 50,000, according to the level of engagement.  The goal will be to increase the transformative impact of investment in black organizations that work throughout Brazil and that contribute to the fight against racism. Periodic meetings will be held with donors to:– strengthen the culture of donation in favor of combating racism,– promoting black leaders,– inspiring new donors,– sharing stories and celebrating the results achieved from donations. The Philanthropy for Racial Equity Seal will be made available to all black leaders who are part of the Giving Circle.

 

Synonymous with engagement and big donor

For most people, formula one world champion Lewis Hamilton is a driver who has already put his name into history. At the end of 2021, he received the title of Sir from the Government of England, and was officially recognised as a Knight of the Order of the British Empire, which confers on him a status of nobility. Hamilton was the eighth highest-paid sportsman in the world in 2021, according to a survey by Forbes magazine, having reached $82 million in revenues (nearly $425 million).  Hamilton’s political activism and status as a millionaire sportsman come together in the sense of social co-responsibility. The sports star invests part of what he earns in Education. Lewis Hamilton’s goal is to contribute to structural issues that prevent equal access to educational means, especially with regard to black students. “Any young person on the planet deserves the same right to receive a great education. Families should not consider careers for their children thinking: Well, this career does not serve, because there is no way to mu son enter this area. There’s no one who looks like us in this area. So, the representation is an important achievement”, said the heptacampeão in an interview in November, when he competed and won in São Paulo the Brazilian GP.

 

An idea that makes greater sense if you’re part of the link

The theme remains philanthropy. First, however, let us resort to etymology: a study that defines the origin and evolution of words. So the origin of philanthropy lies in the junction of two Greek words. Phylums, which means friendship, love, and anthropo, humanity. Love for humanity can be exercised in many ways. The gathering of people aiming for the well-being of others is one of them. And the privilege of this meeting does not involve only people with better purchasing power. Those who cannot contribute financially can do so in other ways. That’s what the donation is called. The donation can be defined as one of the collaboration tools that takes advantage of small, medium and large amounts offered and are directed to social actions. But it’s not just money that makes a donation. It can also occur with hours of volunteer work in the most different ways.

 

Philanthropy for Social Justice and Racial Equity

The model of economic development that has become entrenched in the world throughout history has weakened people individually. Aspects such as justice, dignity and equality were forgotten so that others, of infinitely lesser value, would take their places. Inequality in various sectors is causing people to reunite seeking a common strengthening. They are even trying to escape official assistance, which directs and directs a help, but does not take people out of the mass grave. That’s changing. Communities are taking science of their power of movement and articulation. They no longer want to receive funds that are used to maintain the status of those who already hold power and see the vulnerable as eternally bordering on exclusion. The masses want power too. What philanthropy for social justice and racial equity aims at is to get power back to these masses and reach the black masses. Through donations, a whole contingent of excluded people will be valued and will achieve well-being in education, well-being at work, well-being in health, well-being in housing. Above all, you will achieve respect and will be respected.

 

Giving Circles History

One of the ways philanthropists have designed to gather sums that could sponsor the common good are the Giving Circles. From the beginning of the 19th century (1800 to 1899), American society began to move around the formation of associations that aimed at the social good. The father of this is the French thinker and politician Alexis Tocqueville (1805-1859). For him, equality between people was the main feature of democracy and the egalitarian development of society would be a process that could not be stopped. American entrepreneur and author Kevin Eikenberry defined The Giving circles: “Giving circles are voluntary groups that allow individuals to raise their money (and sometimes their time as volunteers) to support organizations of mutual interest. They also offer opportunities for education and engagement among participants about philanthropy and social change, connecting them to charities, their communities, and each other.” When Eikenberry talks about education opportunities, this refers directly to the formation of Historically Black Colleges and Universities (HBCU), which began to be formed in the second half of the 1800s in the United States. They were instituted to lead the African-American population to higher education. Today, there are more than 100, most of them originating from Giving circles.  A fact that illustrates well the action of Giving circles and philanthropists linked to them occurred at Morehouse College (an HBCU) in Atlanta (Georgia) in 2020. Black American billionaire Robert F. Smith, owner of Vista Equit Partnes, who is a technology activist who campaigns for the anti-racist cause and whose personal assets exceed $7 billion, attended morehouse students’ graduation. There, he announced a $40 million donation to pay off the student debts of all graduates.  

 

Brazilian painting

Although the world has been suffering from the Covid-19 pandemic for two years, some positive aspects should be highlighted. The culture of donation in Brazil has grown in the last five years, according to research published by the Institute of Social Development (IDIS).” The impact of the pandemic, which forced some people to retire in their homes ended up harming mainly those who choose to donate work and not finances. In any case, Brazilian society is more aware of the work of institutions that seek philanthropy to obtain resources and be able to activate their projects.    The Baoba Fund for Racial Equity, working for 10 years seeking to expand the opportunities for individual and collective development for the black Brazilian population in the areas of Education, Labor, Employment and Income, Health, Access to Justice, believes that its contribution is fundamental so that we can transform mentalities and generate fair opportunities. The investments made through programs and projects by the Baobá Fund, its results and the way to donate for this social transformation to continue being carried out are on the baoba.org.br

Publicado em 26 de abril de 202226 de abril de 2022

Experience of three organizations selected in the notice, launched in 2019, shows the efficiency of the Program and its influence in its territories of operation

For the market, the effectiveness of a project can be scaled in several ways: grandeur, profitability, reach, number of involved (direct and indirect beneficiaries). In the projects and programs created by the Baobab Fund for Racial Equity, the analysis is based on factors that are far beyond the coldness of spreadsheets, huge numbers, sometimes lifeless and without history. The fact that Baobab’s projects and programs are focused on development and social justice makes the eye on the eye, the personal relationship, the small and the great individual changes, and so many other aspects, into something much more than relevant.

The Black Women’s Leadership Acceleration Program: Marielle Franco, launched in September 2019, in its first edition, had two edicts. The first, aimed at the support of groups, collectives and organizations of black women. The second, individual support for black leaders. Here, we will focus on the 14 organizations chosen from the 15 that were selected. Here we will focus on 3 of the 14 organizations that followed until the end of the Program (originally 15 organizations, groups and collectives selected).

The objective of the edict is to make the collectives, organizations and groups of black women strengthened in all their capacities, know and further develop their potential, increasing the leadership of black women. From this, mobilize and engage other people and institutions in the search for justice, racial and social equity. The Program is a partnership of the Baobab Fund with the Kellogg Foundation, Ibirapitanga Institute, Ford Foundation and Open Society Foundations.

To exemplify the transformations that occurred with the organizations that participated in the Program, we invited three of them to dialogue: Abayomi – Collective of Black Women in Paraíba; Ginga Suburb Women’s Movement (Salvador, Bahia) and the Black Women’s Network of Pernambuco. 

Abayomi/PB acts in the protection and promotion of women’s rights. including confronting violence. Ginga/BA and the Black Women’s Network of Pernambuco are aligned with the same thematic area. The variation is in the design that each presented.

The Paraiba press conference Abayomi signed up with the Project Obirim Dudu: Moving Structures Against Racism.  It consists in the production and dissemination of information on the conditions of black women in Paraíba, with the objective of contributing to the fight against racial issues, ensuring intellectual support and, consequently, material, and strengthening the institutional of organizations. Ginga brought the Project Black Women, Elaborating Strategies, Strengthening Knowledge, which sought to instrumentalize entities to compete, more equitably, to raise funds through edicts. The general objective was to train women working in social movements and leaders of entities in favor of other women, especially black women, in fundraising, through training in the elaboration of social intervention projects in Salvador and the metropolitan region. The Black Women’s Network of Pernambuco implemented Olori: Black and Peripheral Women Producing Leadership, whose focus was to promote a process of political formation for several women aiming at the construction of a collective project in the future. The first step was the institutional strengthening of three organizations that already operated in partnership so that they could be able to offer these courses of political training and technical training to the militants, who will be future leaders. 

 

Transformation

Applying in an edict from the Baobab Fund is not simply getting the rating and receiving the financial allocation. The organization knows from the first moment that it will undergo an intense process of transformation.  In the case of the Black Female Leadership Acceleration Program: Marielle Franco, the goal at the end of five years, the expected time for the duration of the Program, is to have a range of organizations, collectives and groups of black women strengthened in its most diverse functionalities, which will enhance and generate greater prominence of entities commanded by black women.

In order to enhance the action of these organizations and promote networkaction, formative activities were implemented. The Ngo Criola and the Amma Psique and Negritude Institute were facilitators of this implementation.  With Criola there were 14 meetings, lasting 3 hours each, from April to November 2020, which were about racism, sexism, lesbo and transphobia, public policies and social control, black female leadership, activist security. Each of these meetings had an average audience of 90 people. Amma, on the other hand, worked on the issue of confronting racism and its psychosocial effects. There were 5 meetings, also lasting 3 hours each, with an average audience of 20 people per class in each of them. Three classes were made available.

For the leaders of the individual support notice, coach sessions were offered to support and ensure the implementation of their individual development projects, in addition to the training activities mentioned above.

The Baoba Fund also scheduled and held virtual meetings (individual and group) to meet to awaken and strengthen potentials. From March to December 2021, there were 190 individualized visits and another 700, by message and telephone, denigring doubts, overturning insecurity and clarifying uncertainties arising mainly in the context of the pandemic. The meetings and attendances contributed so that they could create favorable conditions to achieve their individual and collective goals.

 

Partnerships

Achieving excellence requires effort, focus, resilience and unity.  For barriers that arise in journeys of transformation to be overcome, acting in isolation is not the best way. Establishing partnerships is extremely important. The leaders supported individually or collectively by the Black Female Leadership Acceleration Program: Marielle Franco reiterated that the search for partners (or the strengthening of established partnerships) is something that can enable the achievement of results, given the experiences that can be shared, responsibilities that can be shared, skills that can be complemented, external connections that can be achieved,  financial contribution that can be generated, in addition to many other variables. Among the 14 organizations chosen, 43% acknowledged having expanded their capacity to mobilize new partners; 36% said this capacity was under full construction and 7% were unanimous in the diagnosis that the ability to mobilize new partners was full.

Among the individually supported black female leaders, the establishment of partnerships aimed at achieving the intended objectives was total.  365 supported firmed partnerships with institutions; 187, with individuals and 85% reported having joined others also supported.

 

Looking to the future

After the journey of learning and transformation and aware of its new potentialities, making future projections of growth and achievements became the goal of these organizations.

 

Abayomi:

“The support of the Baobab Fund designed us as an organization capable of executing projects and showed us to other supporters. Therefore, we intend to follow this path of claiming other financing to sustain our political action. Our plans for the next 12 months are, from the project (approved) of the FBDH (Brazil Human Rights Fund), the continuity of actions in the territories, institutional strengthening and the maintenance of political articulations and mobilizations together with local, regional and national organizations and movements. In our planning is the sending of project proposals for the production of content and information and conducting courses and training. We also intend to incorporate the issue of violence against black women and black health as priorities for the next two years,” said Durvalina Rodrigues Lima, the organization’s representative.

 

Ginga Suburb Women’s Movement: 

“Based on the learning acquired with the execution of this project, we will launch ourselves in more complex edicts, with greater security about management. This experience also provided us with new articulations and networkactions, which we intend to continue, such as the realization of monthly lives with representatives of the entities that make up this new established network, for dialogue on themes aligned with the objectives of our collective. We are starting the community garden project, with the support of Terra Vida Soluções Ecológicas, from the urban composting system, which can contribute so that our group can become a reference point in the territory, as a multiplier of sustainable practices”, says Carine Lustosa, member of Ginga.

 

Network of Black Women of Pernambuco:

“Female Citizenship – maintain dialogue with the women who participated in the formations, to contribute to the strengthening of these leaders in their territories. Exercise the learning about organizational planning in the activities and actions of the institution. Seek and compete for notices for presentation of projects. Women’s Space – seek partnerships. With the possibility of the CNPJ we will seek edicts for our financial sustainability. And we will continue what we already do: caring, welcoming, supporting and strengthening women not only in the group, but also in the community of Passarinho,” says Rosita Maria Marques, of the Network’s management.

 

Impacts

The actions promoted by the organizations Abayomi – Collective of Black Women in Paraíba;  The Ginga (Salvador) Women’s Movement and the Black Women’s Network of Pernambuco give the idea of the impact that they and the other 11 organizations have had on the communities of the territories in which they operate.  The work carried out by them reached 20,066 people, 17,056 women (85%) and 3,010 men (15%). Knowledge sharing and learning actions reached 9,741 black people (women and men – 74%) and 3,370 non-black (26%).

 

Indirect Beneficiaries – collective support notice

Among other achievements, Abayomi has achieved: a) greater circulation of information about the black population to subsidize the fight against racism; b) strengthened communities and the broadening of the debate on the conditions of black women in the context of the pandemic; c) maintained the articulation with different activists and organizations, including the Aya Minicourse.

Ginga promoted: a) training of women working in social movements and leaders of entities for women, especially black women; b) training in the preparation of social intervention projects in Salvador and metropolitan region; c) the course promoted by Ginga was adapted to the remote format, due to the pandemic of Covid-19, making it possible to reach entities from the interior of the state.

The Black Women’s Network of Pernambuco organized: a) political training processes to increasingly qualify their own activities and support the emergence of other leaders and references; b) political training process with women of the entities Espaço Mulher e Cidadania Feminina and executed a project collectively for the first time; c) the awakening of leadership in their leaders, who overcame the fear of working virtually, handling digital platforms.

The projects conceived by the organizations, groups and collectives of black women supported by the Black Women’s Leadership Acceleration Program: Marielle Franco indirectly benefited 20,505 people, at different stages of the life cycle, inside and outside the country, living in urban and rural areas, with or without access to formal education. These, of course, will have the power to influence many others, from the relationships that have been established and from the knowledge they have managed to achieve.

 

Gratitude

Sulamita Rosa da Silva, graduated in Pedagogy and Master’s degree in Education from the Federal University of Acre (Ufac) and phD student in Education from the University of São Paulo, was awarded the individual support notice of the Black Women’s Leadership Acceleration Program: Marielle Franco. Leader of the Women’s Network – Network of Formations for Black, Afro Indigenous and Indigenous people of Acre, demonstrates his gratitude for the support received: “I shared learning and knowledge in the form of courses, events, podcasts, publications among others, contributing to the communication and memory of black intellectuals, who contributed so much to the understanding of Brazilian culture in a decolonial way. I also developed podcasts as a way of popularizing scientific knowledge, in addition to beginning to articulate academic writing with black feminist thinking, aiming at an emancipatory and self-defined education. I had a short narrative published in the book – Carolinas: the new generation of Brazilian black writers, the result of the formative process of the Literary Festival of the Periphery (Flup), with 180 black authors from all over Brazil”, he said.

In the notice that selected 63 women and, in the end, had 59 supported, the states of the Northeast (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraiba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte and Sergipe) concentrated the largest number of supported: 26. Supported black female leaders shared learning sprees with more than 500,000 people in their professional, study and militancy networks. Among the people reached are non-binary, transgenic and transvestite people, maroons, migrants, refugees, adults, adolescents, young and old.

Baobab Fund for Racial Equity did a work of analysis and tabulation of data of the Program of Acceleration of Female Leaders: Marielle Franco. For more details, please visit this link.

Publicado em 20 de abril de 202220 de abril de 2022

Memória e cultura negra nos desfiles das escolas de samba

Escolas de samba e seus grandes espetáculos reforçam a sabedoria e resistência de grandes nomes da história do povo preto brasileiro

Por Gabi Coelho

O Carnaval brasileiro, além de ser considerado um dos maiores eventos do mundo, também contribui para a movimentação da economia a partir do turismo e do comércio, visto que a última estimativa feita pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro aponta que, somente em relação à cidade, o carnaval movimentou aproximadamente R$ 4 bilhões no ano de 2020. 

O Carnaval, como uma das manifestações populares ligadas à cultura negra, está inserido em um dos eixos trabalhados pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, que é o da Comunicação e Memória. Nele, o Baobá incentiva a valorização e a difusão de bens culturais materiais e simbólicos, com música, dança, teatro,  literatura, canto, vertentes presentes no Carnaval. 

Para a História, a memória atua como um importante mecanismo de compreensão não só dos acontecimentos, mas também do cotidiano, dos hábitos e das culturas dos mais diversos povos. Dessa forma, podemos entender que as escolas de samba, enquanto manifestações culturais extremamente ricas, também possuem seu lugar na memória nacional.  Historiadores que voltam suas pesquisas para o carnaval tomaram como “marco inicial” das escolas de samba a fundação do que inicialmente seria um bloco carnavalesco, a “Deixa Falar”, no ano de 1928 no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, ainda que existam agremiações fundadas anteriormente.

Mas e a grande questão: onde a memória e cultura negra se encaixam nesse cenário? Em uma entrevista, o escritor e sambista Haroldo Costa afirmou para o jornal O Globo  que na época do Entrudo (um tipo de festa popular que antecedeu o carnaval moderno,   onde pessoas lançavam farinha, água, areia etc umas nas outras e entrou em declínio no ano de 1854 por repressão policial),  os ex-escravizados não possuíam participação nas brincadeiras carnavalescas. Isso só foi acontecer no momento em que senhoras negras vestiram-se de branco e entoaram canções em procissões religiosas, o que teria dado origem às alas de baianas do atual carnaval. Apesar disso, diz Haroldo, somente após a virada do século XIX para o século XX, os negros passaram de fato a  ter destaque na festa, uma vez que os blocos de subúrbio surgiram e deram origem a escolas como a Estação Primeira de Mangueira (década de 1920). 

A temática da negritude apareceu de fato em 1950 até que, em 1960, a Acadêmicos do Salgueiro homenageou o primeiro negro na história do carnaval, Zumbi dos Palmares, com o samba enredo “Quilombo dos Palmares”. De lá para cá, diversas outras escolas de samba compreenderam a importância e necessidade de falar sobre a vida, história e cultura do povo preto, o que mais colaborou para o enriquecimento do carnaval. E é justamente por tamanha contribuição que o carnaval, lá no início, foi ganhando a fama de uma festa popular, uma festa que podia ser frequentada por todas as classes, mas que era majoritariamente preta em sua frequência e elaboração. 

Rafael Rezende, estudante de mestrado e integrante do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF),  ao falar sobre sua pesquisa em relação ao carnaval afirmou: “A maior contribuição do negro nesse processo creio ter sido na elaboração de gêneros musicais apropriados para a folia, como o samba, o samba-enredo, o maracatu, o afoxé e o axé”, afirmou. Ademais, “os negros ainda participaram ativamente das várias modalidades da festa, criando os cordões, as escolas de samba e muitos blocos famosos, além da temática negra ser comumente explorada nos enredos das escolas de samba”. 

A efeito de exemplificação da representação dessa cultura negra escolas de samba de São Paulo, como Colorado do Brás, Vai-Vai, Mocidade Alegre e Unidos de Vila Maria voltam a  mostrar na avenida enredos que preservam a cultura e a memória da história negra. A Colorado vai mostrar Carolina, a Cinderela Negra do Canindé, sobre a escritora, cantora e atriz Carolina Maria de Jesus.  O Vai-Vai leva para a avenida o conceito africano  da Sankofa, que é a busca do passado para trabalhar melhor o futuro. A Mocidade Alegre mostrará a obra e a vida de Clementina de Jesus (Quelémentina, cadê você?), uma das grandes damas do samba,  e a Unidos de Vila Maria enaltece a igualdade entre as raças (O Mundo precisa de cada um de nós). 

Ainda em São Paulo, mais especificamente na Praça da Liberdade, a fundadora da Sociedade Recreativa Beneficente Esportiva da Escola de Samba Lavapés Pirata Negro, Deolinda Madre, mais conhecida como Madrinha Eunice ou tia Eunice, recebeu uma linda homenagem no dia 2 de abril de 2022: uma estátua de bronze de aproximadamente 1,70m de altura. Fundada na fronteira entre o bairro da Liberdade e Cambuci, a Lavapés que conta com a atuação do ator, sambista  e grande defensor da cultura sambística, Ailton Graça na presidência desde o ano de 2019. A informação que circula entre a população paulistana em relação ao nome escolhido por Madrinha Eunice seria de que as pessoas negras descalças vinham de diferentes lugares da cidade e utilizavam o chafariz daquele local para lavar seus pés e assim dar continuidade à sua rotina que poderia incluir ir à igreja, ao samba ou ao trabalho.

 No caso do Rio de Janeiro, a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis trará para a Sapucaí neste carnaval o samba enredo “Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor” cujo tema central é a contribuição intelectual negra como ferramenta para contribuir para um Brasil mais africano. Outra novidade deste ano é a presença de Helena Theodoro, intelectual negra, que está à frente do enredo da Escola de Samba Salgueiro, mostrando a resistência e sabedoria da mulher preta. 

Já no grandioso carnaval de Salvador, três blocos afro se destacam: Bankoma, Cortejo Afro e Ilê Aiyê. O último, por exemplo, traz forte inspiração do movimento negro norte-americano. Todos esses blocos são retratados no documentário “Samba de Santo – resistência afro-baiana”, que foi dirigido pelo músico e produtor Betão Aguiar e sua estreia aconteceu na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo entre os dias 22 de outubro e 4 de novembro de 2020.

Publicado em 14 de abril de 202214 de abril de 2022

Diretor Executivo do Fundo Baobá Participa da Série Grantmaking do Podcast GIFE

Giovanni Harvey conta como funciona os grantmakers e grantees na estrutura do Fundo Baobá

Por Ingrid Ferreira

O Diretor Executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial, Giovanni Harvey, participou da Série Grantmaking, do Podcast GIFE, um podcast destinado a discutir temáticas de investimento social privado, falando sobre dinâmicas de poder entre grantmakers e grantees – doadores e apoiados, buscando discutir a temática da prática de doação para o fortalecimento da sociedade civil.

A apresentadora Danielle Prospero convida Giovanni a refletir sobre os desafios diários no relacionamento de grantmakers e grantees, e as oportunidades para o fortalecimento das organizações financiadas e o impacto socioambiental positivo a partir da prática de grantmaker.

Danielle ainda explica que: “Grantmaker participativo é a prática que consiste em compartilhar ou transferir o poder de decisão sobre a gestão dos grants, ou seja, dos recursos doados pelos filantropos e investidores sociais às iniciativas e organizações beneficiárias, os grantees”.

A apresentadora ressalta também que a perspectiva é de reconhecer que as pessoas afetadas pelos problemas de determinadas comunidades, possuem legitimidade para falar de suas vivências e assim determinar quais são as prioridades para o uso dos recursos financeiros que lhe são acessados. O que contempla o modelo de trabalho do Fundo Baobá através de seus editais.

Giovanni explica como essas diretrizes são aplicadas no Fundo Baobá: “Essa experiência no Baobá, está conectada com o próprio processo de criação do Fundo, que foi construído a partir de uma mobilização, estimulada pela Fundação Kellogg no processo de retorno dos investimentos da Kellogg no Estados Unidos há cerca de 15 anos, e a Fundação mobilizou instituições e pessoas do movimento negro, principalmente concentradas na região Nordeste a constituir mecanismo impulsor, que pudesse desenvolver o papel de financiar as iniciativas de base do movimento negro no Brasil”.

O Diretor Executivo também ressalta que o Fundo Baobá tem investido em uma ferramenta de contato com as comunidades beneficiadas através dos projetos, para construir um modelo de feedback e assim tornar possível a visão dos resultados dos trabalhos propostos, aperfeiçoando a capacidade do Baobá na hora de gerir seus recursos, para impactar no ecossistema e relações sociais no Brasil.

Danielle pergunta a respeito dos desafios enfrentados na prática e o que ainda precisa ser mudado nesse cenário, e Giovanni responde: “Nós temos uma grande preocupação, que é de criar indicadores de impacto real do que o Baobá está fazendo, precisamos mostrar pra sociedade onde esse recurso vem sendo aplicado, onde e como o recurso está chegando, quais os resultados que estão sendo alcançados; o diálogo da participação é o que permite à sociedade cobrar do Baobá, o que permite o Fundo destinar uma melhor aplicação desses recursos”.

Giovanni explica que o Baobá procura ser um Fundo com uma atuação especializada em um determinado tema, sendo ele um tema em transformação, que muito tem sido tratado em sociedade, pautando que as pessoas tem tomado para si e falado da questão racial em todos os meios, coisa que antes ocorria dentro dos grupos engajados na militância racial; cita também como exemplo, o caso do assassinato de Moïse e o fato de sua família fazer essa ligação do que aconteceu com a discriminação racial, pautando que há cerca de 30 anos atrás, as famílias muitas vezes não conseguiam construir essa ligação, ficando a encargo do movimento negro, que era rechaçado socialmente por levantar essas pautas.

Harvey levanta a questão acima para falar que, em sua percepção, o caso de Moïse, entre tantos outros que ocorrem diariamente, prova que a ação das famílias das vítimas tem assumido o protagonismo liderando os movimentos sociais, pois são essas famílias que têm tomado a iniciativa para as movimentações sociais; além de que em alguns outros casos, as próprias vítimas tem assumido esse papel, ao realizar denúncias de violências as quais foram expostas.

Ligando diretamente ao assunto de oportunidades, caminhos e tendências na direção do grantmaker participativo, Giovanni coloca que o Baobá como instituição tem o dever de se preparar, para que em situações como essa, saiba atuar dando a visibilidade para que essas pessoas possam ter protagonismo do seu lugar de legitimidade.

Para acessar o episódio do podcast que contou com a participação do Diretor Executivo, Giovanni Harvey, clique aqui.

Publicado em 6 de abril de 202210 de abril de 2022

Tour por São Paulo conecta estudantes do Programa Já É à história negra da cidade

Alunes do Já É participaram de ação que conta a história e contribuição negra na cidade de São Paulo

Por Ingrid Ferreira

O Programa Já É, uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial, está em seu segundo ano de execução e,  no dia 19 de março, um grupo de estudantes participou de uma ação de reconhecimento da história e presença negra em pontos da cidade de São Paulo, aos quais visitou.

A atividade fez parte do encerramento do ano um do Programa. Em sua primeira edição o Já É, contou com o apoio da Citi Foundation,  Demarest Advogados e Amadi Technology; em que o programa foi dirigido a jovens de 17 a 25 anos que já tivessem concluído ou estivessem cursando o 3º ano do ensino médio em escolas públicas e que residissem no município de São Paulo e região metropolitana.

O responsável por guiar o grupo nesse percurso foi Allan da Rosa, que é escritor, poeta, dramaturgo, historiador e angoleiro (capoeirista). Allan também é mestre e doutor em Educação pela USP. 

Autor de Pedagoginga, Autonomia e Mocambagem, sobre culturas negras e educação popular, Allan também coordenou seminários e publicações referentes às obras e trajetórias de Jorge Ben, Muniz Sodré, Itamar Assumpção, entre outros. Ainda, como editor, criou o clássico selo Edições Toró no princípio do Movimento de Literatura Periférica de SP.

Allan da Rosa também apresentou oficinas, conferências, recitais e cenas em todas as regiões do Brasil, universidades, bibliotecas e centros comunitários de Moçambique, Cuba, México, Estados Unidos, Colômbia, Argentina e Bolívia. Recentemente publicou a obra  Águas de Homens Pretos (2021), que é o resultado de sua tese de doutorado.

Allan da Rosa – Responsável pelo tour do Programa Já É

O encontro de todes ocorreu no escritório do Fundo Baobá, localizado no centro histórico de São Paulo,  e de lá deu-se início às descobertas pela cidade. Pontos pelos quais as pessoas  sempre andaram, mas não conheciam a história contida por trás de cada uma das casas de comércio, ruas, monumentos, praças e prédios antigos com que se deparavam.

Durante todo o trajeto, iniciado na Praça da República, as associações entre os locais e seus elementos históricos   foram feitas, enquanto o percurso se desenhava até o Largo do Arouche, onde se  encontra a estátua de Luiz Gama; passando pela Igreja da Irmandade da Nossa Senhora dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu e terminando no bairro da Liberdade, onde estão a Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados e a Capela Nossa Senhora das Almas dos Aflitos.

Luiz Gama foi advogado, escritor e jornalista, ele nasceu em Salvador no dia 21 de junho de 1830, de uma mãe negra liberta e um pai fidalgo português, por quem foi vendido como escravo e levado para São Paulo; Gama, entre outros títulos, detém o de patrono da abolição da escravidão no Brasil.

A Igreja da Irmandade da Nossa Senhora dos Homens Pretos representa um ponto de encontro de resistência, pois as irmandades de homens pretos surgiram no período colonial escravocrata e era uma forma de socialização, resistência e cooperação entre escravizados, libertos e aliados, bem como de mobilização de recursos para compra de cartas de alforria, para realização de funerais dignos, casamentos, ou mesmo batizados.

Já o bairro da Liberdade, apesar de ser conhecido por ser um bairro japonês, carrega muito viva a presença negra em seu território, tanto que Allan explica que o local onde hoje ocorre a feirinha, era chamado de quadrilátero do terror no século XIX, pois a composição do cenário consistia na delegacia, local onde acontecia os espancamentos, a forca e o cemitério; não por acaso a Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados encontra-se ali presente.

E a  Capela Nossa Senhora das Almas dos Aflitos, era uma capela cemitério destinada às pessoas excluídas da sociedade, tudo que está construído em seu entorno, recobre corpos que ali foram enterrados.  O cemitério é de 1774 e a capela de 1779.

A emoção foi tamanha que o aluno Victor dos Passos Moreira disse em seu relato: “Eu tinha conhecimento sobre a história da Liberdade, mas sobre Luiz Gama me chocou bastante, ao saber que ele foi um dos advogados mais importantes do país e ainda é. Eu não tinha ouvido falar de Luiz Gama no ensino fundamental, no ensino médio e tampouco no cursinho pré vestibular”.

Victor dos Passos Moreira – Aluno do Programa Já É

A fala de Victor evidencia como o apagamento histórico acontece, apesar de as pessoas caminharem sempre pelos mesmos lugares, muitas vezes elas não sabem o que realmente se passou ali.

A  aluna Caroline Cristina Santos ressaltou a importância da atividade para o processo de pertencimento: “Acho que ter esse tipo de informação interfere no ponto de vista que temos da cidade. Por exemplo, eu tinha vontade de ir conhecer a feirinha da Liberdade, um dos pontos mais visitados de São Paulo e eu nunca iria imaginar o que aconteceu lá. Isso me faz ter mais curiosidade e vontade de pesquisar e buscar cada vez mais informações”.

Caroline Cristina Santos – Aluna do Programa Já É

A aluna Karine Lopes dos Santos disse: “O encontro foi muito bom, eu já havia feito um parecido em 2018, mas o Allan citou coisas que passavam despercebidas por mim antes. Agora,  tenho um novo olhar ao sair de casa. Além disso, eu gostaria de ouvir também sobre os bairros mais extremos e periféricos”.

Karine Lopes dos Santos – Aluna do Programa Já É

Além de ser um momento muito especial de reconhecimento da cidade para as e os estudantes, foi a chance de se conhecerem pessoalmente, já que muites só haviam tido contato virtual, por estudarem em horários e unidades diferentes do cursinho pré-vestibular.

Allan da Rosa contou: “Realizo esse trabalho há vários anos, com turmas de contextos e proveniências diferentes. Atuamos pedagogicamente nas ruas, tanto as do Centro quanto das periferias. Trabalho com várias organizações e movimentos sociais profissionalmente, mas também faço “por conta”, ou seja, como militância e prática pedagógica, que ocorre sem recebimento financeiro”. 

Trabalhos como o de Allan são fundamentais para que as pessoas possam construir um olhar crítico sobre suas realidades, conhecendo a história que as cerca a todo  momento.

Publicado em 4 de abril de 202210 de abril de 2022

Vidas Negras, Dignidade e Justiça: as organizações e seus trabalhos de campo

O edital destinou apoio financeiro de R$ 100 mil a 12 organizações. O Instituto Negra do Ceará e a Elas Existem, por exemplo, têm implantado fortes ações junto a seus públicos 

                                              Por Wagner Prado

Em maio de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial fez o lançamento do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, em parceria com a Google.org. O edital é parte do programa Equidade Racial e Justiça. O Vidas Negras: Dignidade e Justiça constitui-se em uma oportunidade para que organizações negras fortaleçam estratégias de ativismo, resistência e resiliência diante das injustiças raciais recorrentes. Ele é  destinado ao apoio a organizações  que desenvolvem  ações práticas de enfrentamento ao racismo, à violência e às injustiças criminais de perfil racial. 

Com o apoio da Google.org o Fundo Baobá pode financiar projetos de 12 (doze) organizações, cada uma recebendo R$ 100 mil.  Os projetos dialogam com três grandes temas: a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. 

O investimento programático do Fundo Baobá, ou seja, a destinação de suas doações está voltada para quatro eixos de atuação: 1) Viver com Dignidade; 2) Educação; 3) Desenvolvimento Econômico e 4) Comunicação e Memória. O edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça está sob o eixo Viver com Dignidade, que incentiva ações de promoção da saúde e qualidade de vida; prevenção de doenças e seus agravos; prevenção e atenção às vítimas e pessoas afetadas pela violência racial; enfrentamento ao racismo religioso e proteção de suas vítimas; acesso à terra; acesso à infraestrutura; proteção e defesa dos direitos das comunidades quilombolas em geral.

Aqui, vamos colocar foco em duas organizações que apresentaram projetos dentro do eixo temático c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes. As organizações são o INEGRA-CEe a Elas Existem – Mulheres Encarceradas, do Rio de Janeiro, mas que desenvolve seu projeto no estado do Acre.  O INEGRA-CE apresentou o projeto Levante Pretas: Resistências Coletivas. Seu objetivo é promover o desinternamento e o desencarceramento, além de estimular propostas de enfrentamento às violências e violações sofridas por pessoas em situação de encarceramento. O projeto tem foco também nos familiares dessas pessoas. Já o Elas Existem – Mulheres Encarceradas trouxe o projeto O Acre Existe: Mulheres Negras Resistem e Se Fortalecem – Pelo Desencarceramento Feminino, que vai atuar na diminuição das desigualdades de raça e gênero dentro do sistema de Justiça Criminal do estado do Acre. 

A atuação do INEGRA-CE e da Elas Existem leva a uma reflexão sobre a questão da Necropolítica no Brasil. A Necropolítica, conceito definido  pelo filósofo africano nascido em Camarões, Achille Mbembe, no início deste século, evidencia a forma como diferentes governos administram a morte. O conceito é simples e terrível: consiste na promoção de políticas restritivas a determinadas populações no acesso a condições mínimas de sobrevivência; também consiste na criação de áreas, territórios em que a morte é algo autorizado. Isso é como marcar com um símbolo na testa aqueles que devem morrer, quando devem morrer e como devem morrer. A descrição tem alguma similaridade com o que ocorre com as populações em estado de abandono no Brasil? Analise! 

Entrevistamos Cícera Maria da Silva, líder do INEGRA-CE, e Caroline Mendes Bispo, da Elas Existem – Mulheres Encarceradas. 

Cícera Silva – INEGRA-CE

 

Caroline Bispo – Elas Existem – Mulheres Encarceradas

Fundo Baobá – O INEGRA-CE trabalha na busca pela igualdade de gênero e etnicorracial. O que vocês têm desenvolvido para chegar a isso?

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) – Todas as nossas ações, desde nossa fundação, têm como objetivo a construção da igualdade e da equidade de gênero e raça como horizonte. Nesse sentido, temos desenvolvido ações de formação política em gênero, raça, direitos humanos e justiça, bem como apoio a grupos produtivos de mulheres negras, ações educativas em escolas e apoio a comunidades quilombolas. Também participamos de espaços diversos como apoio ao movimento de mulheres negras, associações de mulheres, e lugares que fomentam a criação e monitoramento das políticas públicas, contribuindo com metodologias, instigando e potencializando os debates que impulsionam essas transformações.

Fundo Baobá – Descreva os locais onde vocês têm atuado? 

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) –  Atuamos na cidade de Fortaleza, especialmente com as comunidades periféricas, bem como junto a associações de moradores/as, grupos produtivos e comunidades quilombolas de municípios mais próximos. 

Temos inserção no Instituto Penal Feminino Auri Moura Costa, na Central de Alternativas Penais, nas Audiências de Custódia, Seminários Acadêmicos e Populares e, atualmente, dentro dos territórios com adolescentes que cumpriram medidas socioeducativas, sobreviventes do sistema prisional, na Frente Estadual pelo Desencarceramento, etc.

Fundo Baobá – O racismo tem sido agente operante quando se fala na condenação e encarceramento do povo negro (homens adultos, mulheres adultas e jovens). Que realidade vocês têm encontrado nesse sentido no Ceará? 

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) – No Ceará, temos uma realidade perversa, que tem como alvo de suspeição a população negra, empobrecida e periférica. Com 95% da população carcerária feminina sendo composta por mulheres negras, o Ceará é um estado encarcerador, além do agravante de que a grande maioria das prisões são provisórias. Vale ressaltar ainda o contexto pandêmico que reduziu as visitas no sistema prisional, o que piora muito as condições materiais e a saúde psicológica da população encarcerada. Embora lutemos por isso, não podemos esperar com otimismo por políticas de segurança pública que assegurem e respeitem os direitos humanos quando o biopoder e a necropolítica são os parâmetros do próprio Estado.

Fundo Baobá – Entre tantos objetivos de vocês junto às populações encarceradas, vocês também levam a cultura. De que forma?  

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) –  A cultura para nós é, para além de festividades, uma forma de resistência. É também um meio para levar alegria, entretenimento e conhecimento para nossas irmãs negras encarceradas. Nossas ações com a população encarcerada incluem a presença do Maracatu, batuque, poesias, livros, músicas, cantigas populares, oficina de tranças e turbantes. Ter encerrado um projeto no presídio feminino Auri Moura Costa com a presença do Maracatu Nação Fortaleza, além de inovador, foi muito potente, marcante e emocionante para nós e, sobretudo, para as mulheres encarceradas.

Fundo Baobá – O trabalho não envolve apenas as mulheres apenadas, envolve o entorno delas também (familiares, amigos…). Esse contato é feito como? Parentes e amigos têm abraçado a causa de vocês?

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) – Para alcançar os familiares realizamos ações/ conversas com eles em dias de visita no sistema prisional e no socioeducativo. Além disso, estabelecemos parceria com o Coletivo Vozes, de mães e familiares do sistema socioeducativo e prisional, o qual  reúne e desenvolve ações com os familiares. Os familiares e sobretudo as mães são os porta-vozes de seus entes presos/as. Trazem as denúncias de violências e violações contra os mesmos no cárcere. Então, diante disso sentem a necessidade de aderir à causa e à luta, embora essa tarefa organizativa não seja fácil, haja vista as demandas mais urgentes com seus entes aprisionados, tais como assessoria jurídica, manutenção da saúde psicológica e preocupações com a integridade física e com a própria vida.

Fundo Baobá – Além do Ceará, vocês pretendem atuar em outros estados?

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) – Por enquanto não, diante dos desafios apresentados à nossa atuação coletiva, nos deixando vulneráveis frente ao sistema de justiça que ameaça, persegue e criminaliza as defensoras de direitos humanos.

Contudo, reconhecemos ser importante firmar parcerias com outras organizações e coletivos que trabalham no enfrentamento ao desencarceramento e desinternamento, para pensar em estratégias seguras e eficazes de atuação coletiva. 

Fundo Baobá – Para o Instituto Negra do Ceará,  qual a importância de ter sido selecionado pelo edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça? 

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) –  Para o Instituto Negra do Ceará, ser selecionado por alguns financiadores, incluindo o Fundo Baobá, além de honroso, soa para nós como reconhecimento de nossa maturidade e competência, o que nos fortalece e nos traz confiança.

O Edital “Vidas Negras: Dignidade e Justiça”, em especial, nos é importante por várias razões, mas sobretudo por proporcionar aos adolescentes/jovens do sistema socioeducativo assistência jurídica e atendimento psicológico, dois campos de grande carência junto a esse público e que lhes traz o sentimento de proteção, segurança e cuidado. Então,  para nós isso traz uma grande dimensão simbólica. 

Outro aspecto muito relevante desse edital é nos permitir a ampliação do debate com familiares e a sociedade civil sobre o desencarceramento e desinternamento, via realização do seminário estadual e outras ações de caráter mais lúdico. Portanto, algumas coisas não conseguimos mensurar ainda, mas temos a certeza de que o edital é de suma importância para o nosso público e para a construção da dignidade, da justiça e do bem viver que almejamos para o nosso povo preto.

Associação Elas Existem 

Fundo Baobá – A Elas Existem já desenvolvia o trabalho no Rio de Janeiro e no Mato Grosso. Efetivamente, os trabalhos no Acre já estão acontecendo? 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Nosso trabalho teve início em outubro de 2021, com a minha vinda para o Acre, onde comecei a fazer um mapeamento não só dos trabalhos que poderiam ser efetuados, mas também da equipe que seria contratada para me ajudar nessa empreitada aqui. A Elas Existem continua as atividades no Rio de Janeiro, de forma online em Cuiabá (MT) e iniciou os trâmites também para iniciar as atividades em Porto Alegre. Desde janeiro, efetivamente, a gente está dentro das unidades prisionais aqui no Acre. Tanto em Cruzeiro do Sul como em Tarauacá e aqui em Rio Branco, 

Fundo Baobá – Que ações vocês têm desenvolvido lá? 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Nós estamos realizando o plantão de orientação,  onde uma advogada, uma assistente social e uma estagiária realizam a escuta ativa de todas as presas da unidade de Cruzeiro do Sul e Tarauacá, a fim de fazer uma análise que vai para além do crime e das condições que elas vivem naquele lugar. Através dessa análise a gente pode perceber se o acesso aos direitos para essas mulheres  está sendo efetivo e de que maneira nós podemos encaminhar para outros órgãos e instituições. A gente está realizando também as oficinas de empoderamento e fortalecimento para que essas mulheres sejam reintegradas à sociedade após o cumprimento de suas penas. Por fim, estamos fortalecendo as redes que trabalham e discutem a situação das mulheres dentro dos espaços de privação de liberdade, tanto com as mulheres cis e trans nas unidades prisionais quanto com as adolescentes nas unidades socioeducativas, de forma online.  

Fundo Baobá – O racismo tem sido agente operante quando se fala na condenação e encarceramento do povo negro (homens e mulheres). Que realidade vocês encontraram no estado do Acre? 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Em 2014 foi feito o primeiro levantamento sobre as  mulheres presas no Brasil como um todo. Em 2016 foi publicado esse primeiro relatório, que demonstrou que no estado do Acre 100% das mulheres encarceradas eram mulheres negras. Em 2017, no segundo estudo, esse número mostrou que 97% das mulheres encarceradas eram pretas ou pardas. Quando cheguei aqui, o número de  mulheres que se autodeclaravam como pardas era extremamente grande. Inclusive mulheres negras/pretas que tinham vergonha de se reconhecerem como negras, tentando colocar o moreninha ou mesmo o parda. Então, se a gente para para tentar entender um pouco a situação racial aqui no estado do Acre, é muito mais o apagamento e a necessidade de discutir sobre isso, bem como trazer de que forma o racismo vem atacando a vida dessas mulheres a ponto de elas não quererem se reconhecer. Esse foi o que nós acabamos encontrando aqui: um apagamento e uma invisibilidade das discussões, onde a maioria das pessoas no estado do Acre são brancas, onde as mulheres negras não se vêm como mulheres negras e as mulheres encarceradas acabem encontrando esse duplo estigma, de serem encarceradas e de serem, majoritariamente, de mulheres negras. Dessa forma, discutir a racialidade aqui nesse lugar tem sido fundamental. 

Fundo Baobá – Entre tantos objetivos de vocês junto às mulheres encarceradas, quero destacar um objetivo cultural, que é o de elaborar e distribuir material educativo a ser entregue no ambiente carcerário. 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Atualmente, uma das questões mais importantes para a Elas Existem é o acesso a direitos e facilitar o acesso a direitos. Inclusive, facilitar no entendimento das questões. Hoje, nossa comunicação é uma comunicação rápida, é uma comunicação que alcança principalmente o entendimento. Hoje, preparar materiais mostrando que essas mulheres possuem direitos, elas têm deveres também, mas com informações de forma segura, céleres e com linguajar simples faz muita diferença. Ainda não preparamos o material. Fizemos um estudo e faremos outros ao longo do ano. Mas preparar um material com linguagem rápida e acessível faz com que o acesso a direitos fique ainda mais fácil na vida delas.  

Fundo Baobá – Além do Rio, Mato Grosso e Acre, vocês pretendem atuar em outros estados? 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Sim. Atualmente estamos conversando com o estado do Rio Grande do Sul, para realizar algumas atividades em conjunto com uma organização do próprio território. No estado da Bahia, desde 2016, a gente realiza algumas atividades pontuais e estamos com planos de, no próximo ano, ter uma sede também na cidade de Salvador, fazendo assim cinco pontos do Brasil, como uma forma de demonstrar a importância de ter um olhar diverso sobre as mulheres encarceradas. 

Fundo Baobá – Você mudou-se para o Acre. Pessoalmente, como tem sido encarar essa nova realidade? A causa pela qual você trabalha vale a mudança? 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Vale muito a mudança. Não se trata de ter desistido de tudo no Rio, pelo contrário: é ter exposto todas as coisas que fizemos no Rio e conseguimos amadurecer num estado que é tão pioneiro. O Acre durante muito tempo lutou para mostrar sua existência. Então, ele vem se construindo. E as construções que são feitas são muitas construções que nós, da capital, já estamos fazendo há algum tempo. Então, estar aqui dialogando com portas tão abertas… Hoje a Elas Existem faz parte do Comitê de Prevenção e Combate à Tortura, tem parceria com o Instituto de Administração Penitenciária, tem feito diálogos com o Ministério Público e a Defensoria Pública. Então, dessa forma, não só as parceria como os diálogos fizeram com que valesse mais a pena ainda todas as atividades que executamos tanto no Rio de Janeiro quanto aqui no Acre.   

Fundo Baobá – Para a Elas Existem, qual a importância de ter sido selecionada pelo edital Vidas Negra: Dignidade e Justiça?

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) –  Foi muito importante para a gente ter sido selecionada nesse edital, pois ele nos deu a possibilidade de ter vindo para o Acre. A nossa Associação, apesar dos seis anos de existência,  sempre se manteve presencialmente no Rio de Janeiro. Então, estar atuando aqui no Acre também  faz com que a gente consiga colocar nossa experiência, nosso trabalho  de forma prática, para além da teoria, em outros lugares, com outras perspectivas. Então, ter condições financeiras para ter uma equipe no Norte do país, no interior do Norte do país, onde as discussões não são feitas, mas clarear e abrir a visão para o sistema de justiça criminal e das mulheres também no socioeducativo faz  toda uma diferença. Ser uma das organizações contempladas mudou gradativamente nossa existência como um todo. Poder estar discutindo que o Acre Existe e Elas Resistem mudou ainda mais. 

Publicado em 4 de abril de 202230 de abril de 2022

Baobá na imprensa em Fevereiro

Por Ingrid Ferreira

No mês de fevereiro o Fundo Baobá para Equidade Racial teve participação na mídia com diversos temas, entre estudos, trabalhos de pessoas que foram apoiadas e participação de representantes em eventos.

No Festival 3i, teve a participação da líder no Programa Marielles do Fundo Baobá no evento “Diversidade no jornalismo – Como fazer?”. O Baobá foi comentado na pesquisa “Monitor IDIS de Fundos Patrimoniais no Brasil – Levantamento Completo” do site IDIS. 

O Fundo Brasil, citou o Baobá, ao falar da Aliança entre Fundos em seu site, enquanto isso o veículo Alma Preta fez um compilado de matérias e relembrou o edital Negros, Negócios e Alimentação, lançado em novembro de 2021 do Fundo Baobá em parceria com a empresa alimentícia General Mills.

Coletiva Negras que movem – Portal Geledés

No texto “Por quem eu luto?” do Coletiva Negras que movem, a autora faz uma reflexão a respeito da gratidão que sente pelos seus familiares que lhe asseguraram o direito a tornar-se quem ela é atualmente. 

Em outra postagem, acompanhada pelo título “Servidora negra exonerada pela UFPE luta para reaver o cargo, conquistado pelo sistema de cotas raciais”, a bióloga Nívia Tamires de Souza Cruz conta em artigo o episódio citado no título.

Enquanto na postagem “Sobre Futuros Colecionáveis” a autora fala da importância de construir o universo da tecnologia para que ele seja um ambiente acolhedor e livre de racismo.

Ainda na coluna Coletiva Negras que Movem, foi postada a matéria “Todo dia um golpe diferente. Mas todo dia a mesma dor.”, em que a autora fala como a fere saber o quanto o racismo bloqueia, o quanto humilha e o quanto mata constantemente.

Apoiadas (os) do Fundo Baobá

O Jornal Vida Brasil Texas citou o Baobá como o responsável pelo primeiro edital ao qual o coletivo Quilombo Aéreo foi contemplado, como encontra-se no título “Crônica – Quilombo aéreo: “quantos pretos precisam pra mudar a cor do céu?”.

Já no Diário do Rio encontra-se a matéria “Coletivo Mulheres da Parada, de São Gonçalo, fortalece a comunidade do bairro de Sacramento com distribuição de alimento”, que fala a respeito da donatária Letícia, que através de um dos editais do Baobá, conseguiu auxiliar sua comunidade na luta contra a disseminação do coronavírus.

Publicado em 4 de abril de 202210 de abril de 2022

Fundo Baobá e Empresa MetLife em Parceria no Segundo Ano do Programa Já É

Thais Catucci,  Gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil,  fala sobre colaboração em programa do Fundo Baobá

Por Ingrid Ferreira

A empresa de seguros MetLife é a mais nova parceira do Fundo Baobá para Equidade Racial e responsável por financiar o segundo ano do Programa Já É, que tem como intuito apoiar jovens negros da grande São Paulo e capital a ingressarem na universidade e manterem-se no primeiro ano do curso.

Thais Catucci, Gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil em entrevista ao Fundo Baobá, fala um pouco sobre o que essa parceria representa e como ela se desenha.

Thais Catucci – Gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil

Ao ser questionada do porquê do apoio da MetLife ao segundo ano do Programa Já É, do Fundo Baobá, Thais explica que: “A MetLife busca continuamente apoiar iniciativas que façam sentido para a sociedade e que estejam em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), com os quais ela se comprometeu. Contribuir com a redução das desigualdades é um deles e este projeto contribui para isso”.

O Programa Já É tem apresentado resultados muito positivos do seu primeiro ano, como é possível visualizar na matéria “Já É: Programa de acesso à educação pública de nível superior começa a dar seus primeiros resultados”, em que alunas contam um pouco sobre o que representa para elas e suas famílias a notícia de suas aprovações para ingressarem nos cursos de suas escolhas.

A empresa MetLife disponibilizou o aporte financeiro de R$ 1 milhão para apoio aos jovens, e Thais fala que: “Este valor é destinado ao Fundo Baobá para que possa custear o financiamento das despesas dos jovens com transporte, alimentação e acesso à internet. Mas, nosso apoio vai além do valor destinado ao Programa, também iremos participar com atividades voltadas para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais em esquemas de mentoria com o apoio de nossos colaboradores”.

A Gerente conta que a empresa participa de outros projetos sendo realizados fora do Brasil, inclusive nos EUA, e que a decisão pela parceria com o Fundo Baobá se deu pelo fato de o Baobá ser o primeiro fundo exclusivo para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, o que é de extrema importância no conceito da empresa.

Publicado em 31 de março de 202231 de março de 2022

Fundo Baobá divulga lista final do edital Negros, Negócios e Alimentação com surpresa no número de empreendimentos escolhidos

Edital selecionaria 12 iniciativas gastronômicas. Direção do Fundo decidiu aumentar o número para 14, ampliando ainda mais o apoio aos empreendedores (as) 

                                   Por  Wagner Prado

O dia tão esperado chegou. O Fundo Baobá para Equidade Racial divulga hoje, 31 de março, a lista de 14 empreendimentos agraciados, cada um, com um aporte de R$ 30 mil destinado pelo edital Negros, Negócios e Alimentação. Voltado para empreendedores negres, negros e negras do segmento da gastronomia, o edital foi lançado em novembro de 2021, dirigido especificamente para Recife e Grande Recife. O apoio financeiro irá auxiliar  na recuperação econômica e/ou aceleração desses negócios, nas suas mais diferentes formas: buffets, comida por encomenda, comida delivery, barracas em pontos fixos ou volantes, docerias, restaurantes e outras.  

 

Quando do lançamento do edital, em novembro de 2021, estava previsto que 12 empreendimentos seriam escolhidos. Porém, o Fundo Baobá decidiu ampliar o número para 14. “Estamos bem felizes  com esta possibilidade de agregar recursos próprios ao edital. É o Baobá fazendo o que deve ser feito. Sendo estratégico e consonante com as necessidades e expectativas do campo nos seus investimentos”, afirmou Fernanda Lopes, diretora de Programa do Fundo Baobá.

 

 O Fundo Baobá tem como parceira nesta iniciativa a empresa alimentícia General Mills. O edital Negros, Negócios e Alimentação integra o Programa de Resiliência, Recuperação Econômica e Equidade Racial, lançado no contexto da pandemia da Covid-19. Nano, micro e pequenos negócios das seguintes cidades: Recife, Abreu de Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu, Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Olinda, Paulista e São Lourenço puderam se inscrever.

 

O edital contou com três etapas seletivas. Na última etapa, uma comissão formada pela chef e empreendedora no segmento gastronômico Priscilla Novaes; pelo gestor de projetos sociais da Aliança Empreendedora,  Ariel Pascke; pelo diretor executivo do Instituto C&A, Gustavo Narciso; pelo historiador com pós-graduação em Política e Gestão Cultural, Lindivaldo Leite Júnior e pelo engenheiro, proprietário e diretor de uma empresa de consultoria focada em gestão de investimento verde e sustentável, com e sem alocação de capital, Marco Antonio Fujihara, esteve responsável por fazer a análise das propostas e posterior escolha dos finalistas. Lindivaldo Júnior e Marco Antonio Fujihara representaram os órgãos de governança do Fundo Baobá. 

 

O trabalho da comissão foi gratificante, mas também árduo. Para a chef Priscilla Novaes, que comanda em São Paulo o restaurante Kitanda das Minas, os empreendimentos inscritos tinham um ponto em comum: “Todos os negócios são bons. Mas identifiquei o domínio do empreendedor sobre seu próprio negócio. Esse aspecto de dominar o negócio e saber o que é preciso nele. Também identifiquei aqueles que se interessaram pela formação. Todo aspecto formativo é importante. Os momentos em que meu negócio conseguiu se desenvolver foi quando tive apoio não apenas financeiro, mas apoio na gestão, apoio no maketing”, afirmou.

 

Para o historiador Lindivaldo Leite Junior, de Recife, fazer parte de uma comissão julgadora sempre traz um desafio: “Participar de comissões de avaliação é sempre um desafio, é uma responsabilidade muito grande. Porque você está, de alguma forma, julgando os trabalhos de gente que tem uma batalha cotidiana para organizar. A gente se preocupa em não ser injusto,  já que, em tese, todos que acessaram o edital são merecedores do apoio. Mas nossa tarefa é escolher só alguns. De alguma forma,  tenho sempre satisfação em contribuir com o trabalho do Fundo Baobá e ajudar a manter sua missão, fortalecer seu compromisso com a inclusão racial”, disse. 

 

Ariel Pascke, gestor de projetos sociais, afirmou que a emoção também fez parte do critério de escolha: “Uma grande emoção e responsabilidade, pois chegaram até as minhas mãos iniciativas incríveis. Influenciar na decisão sobre quem seria contemplado pelo edital é se envolver com a história de cada uma das pessoas, negócios, famílias e suas respectivas comunidades. Foi um prazer fazer parte desta seleção. Agora,  estou curioso para saber os próximos passos destes empreendedores e sobre como será o futuro dos seus negócios. Parabéns pela iniciativa, Baobá”, comentou. 

 

Jornada Formativa

Definido o grupo, agora ampliado e composto por 14 empreendimentos, seus responsáveis iniciam uma jornada formativa introdutória, que terá quatro momentos: 1)  Reunião de orientações gerais;  b) Sessões relacionadas à gestão de negócios, com temas diversos; c) Oficina para elaboração do plano orçamentário e cronograma de execução; d) Oficina de orientações sobre como se preparar para prestar contas.  Para a jornada formativa introdutória é necessário que cada empreendedor reserve cerca de 15 (quinze) horas de dedicação. 

 

A lista com os 14 empreendimentos selecionados pode ser conferida AQUI

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