Jovens vêem cursinhos populares como oportunidades para diminuir desigualdade entre ensino público e privado

Para diversos alunos provenientes de escolas públicas, o cursinho popular é a possibilidade de aumentar as chances de cursar uma graduação

Por Tâmara Regina, do Perifaconnection, em colaboração com o Fundo Baobá para Equidade Racial

Quando se fala em cursos pré-vestibulares não é difícil ouvir relatos como: “aprendi mais em um ano, do que em 11” ou “foi a partir dele que eu me senti preparado para prestar o vestibular”. Os conhecimentos cobrados em provas de universidades deveriam ser adquiridos ano após ano, durante toda a vida escolar do aluno. Porém, muitas vezes, a expectativa está longe da realidade, principalmente por parte dos alunos que são provenientes do ensino público.

Em 2017, após a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), apenas 650 escolas ficaram na categoria “melhor nota, com a média de 712,91,”. O que representa, 10% do total das escolas. Deste total de “melhor nota”, 82% são privadas e 18% são públicas. Sendo que as escolas públicas desse grupo são formadas por escolas federais ou estaduais de ensino técnico. Esses dados são de um levantamento da Folha de S. Paulo baseado em dados do Ministério da Educação e Cultura (MEC).

Este é o caso de Taynara Santos, 21, e de Ketlen Carvalho, 24, que buscam melhorar o conhecimento adquirido na escola para chegar bem preparadas para o vestibular. “Minha expectativa é conseguir uma nota boa no Enem para ganhar uma bolsa de estudos e aprender também”, afirma Ketlen, que estudou a vida toda em escola pública e que já teve a oportunidade de iniciar a faculdade através de uma bolsa de estudos.

Ketlen Leandra Carvalho, 24 anos

A jovem cursou Administração, mas teve que trancar por conta do valor da rematrícula. Ela relata ter abandonado um curso pré-vestibular para começar o curso de administração: “Eu fiz dois meses de curso pré-vestibular e quando eu peguei o material de estudos percebi que tinha muito conteúdo que eu nunca tinha visto”, explica.

Já a Taynara, destaca que um dos diferenciais de fazer curso pré-vestibular é estar com o conteúdo fresco na cabeça: “Quando estava no segundo ano, eu fiz o Enem pela primeira vez, como a minha mente estava fresca, eu fui bem. Se comparar aos outros anos que eu fiz, depois de terminar o ensino médio, fui bem melhor lá atrás”, conta a jovem.

Taynara Silva Santos, 21 anos

Para os adolescentes Rayane Santos, Eduardo de Souza e Nicholas Gonçalves, ambos de 17 anos, que atualmente estão no terceiro ano do ensino médio, o cursinho irá compensar o déficit do ano letivo de 2020/2021, agravado pelas dificuldades do ensino à distância. Em comum, vêem na possibilidade de fazer um curso pré-vestibular a oportunidade de suprir o que faltou no fundamental e no médio.

Correndo atrás do prejuízo

O terceiro ano será um desafio para esses jovens, que a princípio terão aulas híbridas – metade on-line e metade presencial.  Para Rayane, estudar em casa foi muito difícil porque a escola não chegou a ter aula remota. “Foi só conteúdo e apostila. [Em casa] era o pessoal falando alto e eu tentando me concentrar. Foi uma bagunça, muito difícil mesmo”, afirma a adolescente, que considera que de tudo que só conseguiu absorver 50% do conteúdo aprendido no ano passado.

Rayane Jesus Santos, 17 anos

Já o Eduardo relata que não conseguia reter todos os conteúdos das aulas. “Não conseguia aprender com as aulas on-line, mas quando era para fazer as atividades, eu estudava e conseguia entender as matérias”, explica. No entanto, ele pondera: “Foi melhor do que eu esperava”.

Eduardo Silva de Souza, 17 anos

Com Nicholas não foi diferente. Ele conta que, mesmo tendo estudado em colégio particular até a sexta série, a escola pública não foi ruim. Ainda assim, não é possível falar de bom aproveitamento. “Eu não estava esperando, mas o meu rendimento caiu no ensino médio. No primeiro ano não fui bem, no segundo foi difícil por conta da Covid-19 e agora temos o terceiro que está por vir”, explica o adolescente que acredita que de todo o conteúdo que deve levar para realizar uma prova de vestibular aprendeu cerca de  60%. Os motivos são distintos, mas todos os cinco jovens vão tentar compensar em um ano tudo que deveriam ter aprendido em mais de três.

Nicholas Welington Crisologo Gonçalves, 17 anos

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