O Fundo Baobá para Equidade Racial agiu de forma atemporal ao compreender as necessidades sociais que surgiriam com a pandemia do novo Coronavírus.
Por Ingrid Ferreira
O ano de 2020 foi marcado pelo início da pandemia da Covid-19 no país, e com a crise sanitária, a população sofreu. Os impactos da crise econômica foram intensificados, as restrições impostas pelo isolamento social afetaram, principalmente, as pessoas que já viviam em condições de vulnerabilidade.
Avaliando esse cenário, o Fundo Baobá para Equidade Racial, usando recursos próprios e remanejando outros vindos da Fundação Ford e que seriam destinados a atividades voltadas para o seu próprio fortalecimento institucional, lançou no dia 5 de abril de 2020 o edital “Doações Emergenciais no Contexto da Pandemia da Covid-19”, para apoiar iniciativas individuais ou de organizações que respondessem às necessidades mais imediatas da comunidade negra naquele momento.
A seleção priorizou ações de prevenção e apoio às pessoas, famílias e comunidades mais carentes em todo o Brasil. As iniciativas selecionadas, em sua maioria, eram voltadas à aquisição, fabricação e distribuição de insumos de prevenção como máscaras, produtos de higiene pessoal e de limpeza; aquisição e distribuição de cestas básicas e/ou marmitas, além da produção de conteúdos e disseminação de informações sobre a Covid-19 .
O edital foi pensado e implementado em tempo recorde, dada à emergência e à possibilidade do colapso social que estava por vir e, de fato, veio. De acordo com o boletim da Fiocruz “Observatório Covid-19”, o ano de 2021 terminou com mais de 600 mil óbitos e 22 milhões de casos registrados por Covid-19; no estudo realizado pela Rede de Pesquisa Solidária “Boletim do Políticas Públicas & Sociedade“, é apresentado que homens negros morrem mais por Covid-19 quando comparados aos homens brancos, ainda que em ocupações socialmente interpretadas como de elite (engenharia, direito, arquitetura).Mulheres negras morrem mais que todos os demais segmentos populacionais (homens negros e brancos e mulheres brancas) em quase todas os setores em que estejam atuando profissionalmente.
Segundo dados que se encontram no e-book “O que aprendemos com nossas respostas à pandemia?”, que foi feito com o intuito de apresentar as ações emergenciais realizadas pelo Fundo Baobá no início da pandemia e seus resultados: Em apenas 12 dias, o edital recebeu 1.037 inscrições de todas as regiões do país, sendo 387 iniciativas de organizações sociais e 650 iniciativas de pessoas (indivíduos). Foram selecionadas 215 propostas individuais e 135 propostas de organizações. Cada iniciativa recebeu até R$ 2,5 mil para ações de prevenção em comunidades periféricas, de difícil acesso e populações vulneráveis.
Distribuição das propostas apoiadas por região do país (apoios para indivíduos e organizações)
Ao analisar relatórios e ouvir relatos observou-se que o maior desafio enfrentado pelos indivíduos apoiados pelo Baobá foi de atender todas as demandas apresentadas pelas pessoas atendidas, representado por 32,3%; já no caso das organizações, 28,6% afirmam que a maior dificuldade foi conscientizar a população acerca dos riscos da pandemia. Foi acertado o investimento do Baobá em iniciativas individuais porque as lideranças recebendo um primeiro apoio, poderiam buscar outros, não por acaso entre os indivíduos apoiados o menor desafio enfrentado foi mobilizar parceiros/atores estratégicos (4,0%), o medo de se infectar existia, mas não foi impeditivo (ainda que alguns tenham adoecido ou perdido familiares durante o período de implementação das ações). Entre as organizações o menor desafio foi o de proteger voluntários (1,8%).
No depoimento da selecionada Pâmella Santos, do bairro da Pavuna, no Rio de Janeiro, é possível perceber a grandiosidade das ações que o edital ajudou a promover: “Eu e mais quatro jovens mapeamos uma comunidade muito vulnerável, dentro do Complexo da Pedreira, que tinha esgoto a céu aberto, e levamos kits de higiene. Mesmo usando máscara, era nítida a felicidade no olhar em receber algo que eles não tinham condições de comprar”.
O contexto de emergência sanitária deixou ainda mais nítida a necessidade do enfrentamento ao racismo estrutural vivenciado por diferentes grupos negros. Como descrito no e-book: “As iniciativas incluíram ações dirigidas à população negra no geral, comunidades periféricas, idosos, população em situação de rua, prostitutas, travestis e transgêneres, quilombolas, indígenas, migrantes e refugiados e crianças matriculadas nos primeiros anos do ciclo básico, pessoas residentes em territórios urbanos ou rurais, centrais ou periféricos.”
Mais de 54 mil pessoas (prioritariamente pessoas negras, de sexo feminino e idade superior a 30 anos) foram indiretamente beneficiadas pelo Baobá a partir das ações implementadas por indivíduos e mais de 57 mil pessoas (prioritariamente pessoas negras ou indígenas, de sexo feminino e idade superior a 30 anos) por meio das ações realizadas pelas organizações.
É possível observar a grandiosidade da iniciativa nos relatos das (os) apoiadas (os), como é o caso da fala da Francisca Luciene da Silva de Natal no Rio Grande do Norte: “O projeto do Baobá abriu portas para que outras instituições, outros parceiros viessem e dessem a sua contribuição”. A apoiada Thalyta Cunha, da região de Del Castilho no Rio de Janeiro em seu depoimento também mostra a importância desse projeto a longo prazo quando fala que “Eu sou fruto de um projeto assim, e hoje eu me vejo como uma ferramenta, para que essas pessoas passem pela mesma evolução que eu passei”.
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