Programa de Recuperação Econômica apoia empreendedores negros em meio à pandemia

O Programa de Recuperação Econômica do Fundo Baobá para Equidade Racial, foi lançado no dia 11 de novembro de 2020 em uma iniciativa que contou com a parceria com a Coca-Cola Foundation, Instituto Coca-Cola Brasil, Banco BV e Instituto Votorantim.  O objetivo era apoiar pequenos empreendimentos liderados por pessoas negras em comunidades periféricas ou territórios em contexto de vulnerabilidade socioeconômica no país, que tenham pequenos negócios com faturamento de até R$ 6.750,00.

Em 39 dias de inscrições abertas, a organização recebeu 700 propostas de pequenos empreendedores. Na primeira fase de triagem, 598 inscrições foram validadas, passando para a fase de avaliação das propostas em si. Dessas, 273 seguiram para a etapa de entrevistas virtuais. Elas foram realizadas pela organização FA.VELA, parceira operadora do Fundo Baobá para este projeto. Segundo Ludmila Correa, representante da FA.VELA, as conversas foram fundamentais para seleção de iniciativas empreendedoras para o programa. “Durante as entrevistas pudemos conhecer diversas realidades, ramos e formas de empreender desenvolvidas nas diferentes regiões do Brasil, variando de entrevistas com empreendedores quilombolas, ribeirinhos, da zona rural e do meio urbano. Acreditamos que muitas iniciativas têm perspectiva de expansão, promovendo impacto territorial por meio da geração de renda, desenvolvimento sócio econômico, fortalecimento da atuação em rede, entre outros benefícios. O processo de entrevistas foi fundamental para o diálogo e entendimento da realidade de cada empreendedor, possibilitando verificar a adequação da iniciativa proposta para o programa, assim, colaboramos recomendando os participantes de forma mais assertiva e coerente”.

Ludmila Correa, gerente de projetos e programas do Fa.Vela

Após o processo de entrevistas, 141 iniciativas  foram recomendados ao comitê selecionador, que elegeu as 47, cujos nomes foram divulgados no dia 26 de fevereiro e serão contempladas com os recursos financeiros e de formação do programa. Uma das integrantes do comitê selecionador foi a consultora de negócios de diversidade e inclusão, Caroline Conceição Moreira: “Acredito que, por eu trabalhar com empreendedorismo, consegui contribuir com meu olhar de eterna captadora de talentos. Foi uma experiência incrível poder acessar tantos projetos potentes e saber que estas pessoas terão uma oportunidade incrível de potencializar seus empreendimentos”. 

Quem também utilizou a profissão ao seu favor, durante a sua participação no comitê selecionador, foi a psicóloga e diretora da Teçá Impacto, Marcela Bacchin: “Fiquei muito honrada de poder fazer parte do comitê de seleção do edital e trouxe meu conhecimento de 15 anos no apoio de empreendedores da base da pirâmide como estratégia de combate à pobreza, à serviço da definição de critérios para avaliação de maturidade das propostas e de um olhar propositivo de equilibrar a seleção com recorte de gênero, e territorialidade”. Marcela acredita que esse equilíbrio durante a seleção das iniciativas fez justiça aos selecionados: “Dessa forma, o grupo participante do comitê teve uma atuação de garantir o equilíbrio territorial dos investimentos e a prioridade para projetos do nordeste, liderados majoritariamente por mulheres e pessoas LGBTQI+”.

Marcela Bacchin, psicóloga e diretora da Teçá Impacto

Foi esse entendimento e processo coletivo entre os membros do comitê que ganhou elogios do diretor da Techsocial, conselheiro do Anjos do Brasil – um grupo de investidores anjo – e também conselheiro fiscal do Fundo Baobá para Equidade Racial, Marco Fujihara: “Eu gostei muito porque, principalmente, foi um processo coletivo, não foi a minha opinião sozinha que influenciou na escolha, mas todo processo coletivo é muito rico, porque você ouve a opinião das pessoas, elas ouvem a sua opinião, e você acaba achando um caminho do meio sempre, não tem aquele melhor ou pior”. Assim como também elogiou as iniciativas apoiadas: “Eu gostei muito das iniciativas empreendedoras inscritas pelo vínculo comunitário que elas tinham, o que tornou tudo bastante criativo e produtivo”. 

Marco Fujihara, diretor da Techsocial e conselheiro fiscal do Fundo Baobá

Para a psicóloga e coordenadora de projetos de impacto em inclusão produtiva, Crisfanny Souza Soares, integrar o comitê foi um privilégio: “Estar em contato com ideias e iniciativas empreendedoras que virão a ser respostas efetivas na recuperação da economia e no desenvolvimento de modelos de negócios inovadores, trouxe para roda a visão de quem conhece, reconhece e apoia quem movimenta a economia brasileira: os 99% micro e pequenos empreendedores, e investiu no desenvolvimento de metodologias de apoio, parcerias de acesso para inclusão produtiva”. 

Outro membro do comitê foi Marcelo Rocha, mais conhecido como DJ Bola, um dos articuladores do coletivo A Banca. Para ele, integrar o comitê selecionador foi um grande aprendizado, além de uma imensa felicidade também: “Quando a Selma Moreira (diretora-executiva do Fundo Baobá) me disse que havia mais de 700 inscritos buscando apoio para tocar as suas iniciativas no Brasil todo, eu me senti muito feliz, porque isso é uma evidência do quanto o povo negro é potente e o quanto de mudança tem as quebradas”. Na visão do produtor cultural, a periferia tem uma enorme potência e bagagem, e iniciativas como o programa de Recuperação Econômica do Fundo Baobá, potencializa ainda mais os talentos existentes nesse meio: “A gente tem que sair dessa ótica da escassez, porque a periferia tem muito conteúdo, tem muito produto e tem muito serviço. Então, o Fundo Baobá conseguiu evidenciar mais uma vez a luta do povo preto, do pessoal LGBTQ+ e das mulheres, elas que sempre tiveram à frente iniciativas que trouxeram transformações dentro de casa, e agora elas estão à frente de iniciativas empreendedoras”.

Marcelo Rocha, DJ Bola, um dos articuladores do coletivo cultural A Banca

A pandemia da covid-19 ainda não chegou ao fim, pelo contrário: mesmo com a vacina aprovada em território nacional e com um plano de imunização que pretende vacinar toda a população ainda esse ano, apenas uma fatia minúscula da população recebeu a segunda dose da vacina até o momento, enquanto a média móvel diária de novos casos da doença atingiu patamares surpreendentes, com expectativa de chegarmos a meio milhão de mortes em breve. Com os governos estaduais implementando medidas sutis de isolamento para conter o avanço da doença e o colapso hospitalar, que acarreta  falta de leitos, estresse e exaustão de profissionais, os comércios e os pequenos empreendimentos voltam a fechar, o que resulta também em uma crise financeira. Entretanto, é preciso afirmar que os pequenos empreendimentos negros são de sobrevivência e existem, desde antes da crise sanitária, num contexto de desigualdade e racismo estrutural. Justamente dentro desse contexto que considera a relevância de ações como o Programa de Recuperação Econômica, considerando que a população negra, independente do cenário, é mais penalizada com as desigualdades: “A proposta do edital de recuperação econômica para empreendedores negros, busca atender uma demanda de pessoas vulnerabilizadas, de forma a fortalecer a sinergia entre empreendedores e ainda trazendo impacto positivos para os territórios ao qual eles fazem parte”, afirma Marcela Bacchin. “Sendo assim, essa é uma iniciativa que promove a dinamização econômica dos territórios, o desenvolvimento de novos negócios e a geração de renda através de atividades produtivas em diferentes setores. Serão produtos e serviços oferecidos por empreendedores negros para seus territórios, gerando o desenvolvimento local e valorização da comunidade negra”, completa.

Caroline Moreira frisa a importância de ações como essa, considerando o quadro desigual que o negro se encontra na sociedade brasileira: “É de extrema importância pensar nas questões raciais como foco, tendo em vista que os empreendedores negros são os que mais se prejudicam independente do cenário e falando em pandemia com certeza o fundo é uma possibilidade incrível de criar oportunidades para empreendedoras”.

Caroline Conceição Moreira, consultora de negócios de diversidade e inclusão

Crisfanny Soares afirma que o Programa de Recuperação Econômica movimenta dois pontos cruciais para a sustentabilidade das iniciativas: “O primeiro é o acesso ao capital financeiro e o segundo é a capacitação empreendedora que apoiará a estruturação e adaptação a dos negócios neste novo contexto que exige novas habilidades”, a gerente de projetos ainda confirma que o que mais lhe chamou a atenção neste edital foi a proposta de convergir negócios e suas propostas de valor para atuação em um mesmo território: “Além de inovadora, a proposta potencializa a visão de parcerias estratégicas comunitárias que podem fortalecer a economia local e mobilizar o surgimento de novos negócios ampliando o impacto”.

Crisfanny Souza Soares, psicóloga e coordenadora de projetos de impacto em inclusão produtiva

Ainda sobre a vacinação no Brasil, mas trazendo um inédito recorte racial, uma pesquisa feita pela Agência Pública, a partir dos dados de 8,5 milhões de pessoas que receberam a primeira dose da vacina, mostra que a cada duas pessoas brancas, apenas uma pessoa negra recebeu a vacina, o que equivale a 1,48% da população negra vacinada, contra 3,66% da população branca vacinada. Para Marco Fujihara, o racismo está enraizado em toda estrutura do país e medidas como essa do Fundo Baobá, ajudam a promover a equidade racial: “A questão da equidade racial tem que ser colocada na pauta do dia sempre. O racismo é uma coisa que existe, e a primeira maneira de combater o racismo é acreditar que ele existe. Portanto, esse trabalho do Fundo Baobá é necessário e tem que ser ampliado”.

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