Escolhida pela ONU (Organização das Nações Unidas), a data do dia 21 de março representa o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Nesse mesmo dia no ano de 1960 na cidade de Joanesburgo, na Africa do Sul, mais de 20 mil pessoas da comunidade negra africana marchavam em protesto contra a Lei do Passe, criada pelo Partido Nacional como uma das medidas racistas projetadas pelo Apartheid. No dia em questão as tropas militares do governo abriram fogo contra a população, matando quase 70 pessoas e ferindo cerca de 180. O fato é historicamente conhecido como o Massacre de Shaperville.
O Brasil não passou pelo Apartheid, mas na sociedade é evidente a influência do período escravocrata que marcou a sua formação como nação.Em pleno século XXI, as estatísticas brasileiras são alarmantes, como é possível ver nos dados apresentados pela Agência Brasil: “Foram 3.290 mortes em operações policiais em 2021 na Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Dessas, 2.154 vítimas (65%) eram negras – utilizando como referência o critério do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que considera negros a soma de pardos e pretos”.
A Lei 7.716 (Lei de Crime Racial) existe desde 1989, quando foi decretado como crime qualquer ação resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, mas só em 2023 foi que a Lei 14.532 foi sancionada e Injúria Racial também passou a ser considerada como crime de racismo. Como consta no site do Senado: “Enquanto o racismo é entendido como um crime contra a coletividade, a injúria é direcionada ao indivíduo”.
O Baobá – Fundo para Equidade Racial, procurando trabalhar em seus editais uma forma de mudar os direcionamentos sociais através dos projetos contemplados, contou com o Vidas Negras: Dignidade e Justiça, com foco em atuar pelo enfrentamento à violência racial sistêmica, proteção comunitária e promoção da equidade racial, enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes e reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. A discriminação, ainda que seja um crime em lei, assola a vida da população negra em todos os campos, marginalizando grupos e indivíduos.
Todo trabalho alcançado pelo Fundo Baobá, só se faz possível pelo caminho da filantropia, como no caso do edital Vidas Negras, mencionado acima, que foi apoiado pelo Google.Org. Todas as empresas que se colocam como apoiadoras de projetos em prol da comunidade negra provam o seu compromisso com a quebra da lógica escravocrata em que a sociedade foi construída, promovendo condições dignas, sociais e financeiras, para pessoas negras que passam a ter mais possibilidade de reconhecimento por seus méritos diante da ótica social, o que tende a quebrar as barreiras da discriminação racial que fazem a realidade de pessoas negras destoar da realidade sócioeconomica de pessoas brancas.
Dos valores que são agregados enquanto grantmaker, o Fundo, além de aplicar recursos direto nos projetos, oferece assessoria técnica, psicológica e o acompanhamento durante todo o processo do edital. Seguindo a explicação do site Direção Cultura: “Grantmaking é a ação filantrópica voltada ao repasse de recursos financeiros, de forma estruturada, a iniciativas, projetos ou programas – sociais, ambientais, culturais ou científicos.
O Fundo Baobá para equidade racial conta com fundo patrimonial em ampliação, o endowment. O endowment é uma fonte de financiamento de longo prazo composta por doações que apoiam a missão do Baobá. Anualmente, os rendimentos dessa conta são distribuídos para viabilizar as ações da organização em prol da equidade racial. Os rendimentos provenientes do endowment proporcionam à organização a liberdade e a agilidade necessárias para investir em ações consideradas fundamentais para a promoção da equidade racial no Brasil em diferentes áreas de atuação. As doações para o endowment são essenciais para garantir a perenidade e sustentabilidade financeira do Fundo.
Ao realizar a sua contribuição, você está investindo no futuro da instituição e na continuidade do seu impacto transformador na sociedade. Como se tornam permanentes, as doações asseguram recursos financeiros contínuos para a organização, possibilitando o planejamento a longo prazo e o desenvolvimento de projetos de maior impacto social, pois enquanto outras fontes de financiamento podem ser afetadas por crises econômicas, inflação ou outras situações imprevisíveis, o endowment se mantém estável, garantindo recursos para o Fundo Baobá mesmo em cenários complexos.
Para mais informações sobre o trabalho que o Fundo Baobá realiza em luta contra o racismo estrutural, você pode acessar o site clicando aqui.
Lançado no dia 10 de julho, o edital teve 245 pessoas inscritas, até o encerramento das inscrições no dia 9 de agosto de 2020. O Programa Já é inclui uma bolsa de estudos em um cursinho preparatório para o vestibular, atividades voltadas para o enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo e para a ampliação das habilidades socioemocionais e acadêmicas, incluindo programa de mentoria. Além dos itens citados, as despesas de transporte e alimentação também serão custeadas ao longo do Programa, que deve ter duração de 12 meses a partir de março de 2021.
O Programa Já É: Educação para Equidade Racial, é para jovens de ambos os sexos, mas priorizam jovens de sexo masculino, jovens transsexuais, jovens mães, jovens que tenham cumprido medidas socioeducativas, e jovens que residem em bairros, territórios ou comunidades periféricas.
Como descrito no edital, a segunda etapa de seleção será classificatória e acontecerá no período de 05 de outubro a 10 de novembro (entrevista individual, realizada em ambiente virtual, por profissionais especializados). Todas as pessoas serão contactadas por e-mail para o agendamento das entrevistas individuais. Fiquem de olho em seus e-mails.
Confira as 211 pessoas selecionadas para próxima etapa do processo seletivo do programa.
Nome Completo
Cidade/Município
1 – Adrian Silva de Jesus
São Paulo
2 – Agatha Endy Mendes do Rosario
Taboão da Serra
3 – Alan David Vieira Hildebrando
São Paulo
4 – Alice Silva Gomes
São Paulo
5 – Alline Castro
Caieiras
6 – Ana Aparecida Rodrigues da Silva
Osasco
7 – Ana Beatriz da Cruz Santos Souza
Taboão da Serra
8 – Ana Claudia Rocha de Souza
São Paulo
9 – Ana Júlia Melo de Lucas
São Paulo
10 – Ana Maria Silva Oliveira
São Paulo
11 – Anderson Costa da Silva
São Paulo
12 – Andressa Ferreira da Silva
São Paulo
13 – Andressa Furtado da Silva
São Paulo
14 – Ângela Ferreira da Silva
São Paulo
15 – Anna Beatriz da Silva Garcia
São Paulo
16 – Antônio Gustavo Ribeiro da Silva
São Paulo
17 – Any Elisa Peixoto Cirino dos Santos
São Paulo
18 – Aretha Victoria Ramos dos Santos
São Paulo
19 – Ariane Pereira da Silva
Juquitiba
20 – Barbara Oliveira Guimaraes dos Santos
São Paulo
21 – Barbara Thayna de Castro Barboza Silva
São Paulo
22 – Beatriz Moreira Passos da Silva
São Paulo
23 – Beatriz Oliveira Mendes
Taboão da Serra
24 – Beatriz Pereira de Souza
São Paulo
25 – Beatriz Sampaio do Nascimento
São Caetano do Sul
26 – Bianca Braz de Lima
Taboão da Serra
27 – Bianca Paixao Silva
São Paulo
28 – Bianca Silva Alves
São Paulo
29 – Breno Oliveira Ribeiro
São Paulo
30 – Bruna Afonso de Oliveira
São Bernardo do Campo
31 – Bruna Cypriano da Silva Pacheco
São Paulo
32 – Bruno Aparecido Justino Conceição
São Paulo
33 – Camila Carvalho Santos
São Paulo
34 – Carlos Eduardo de Castro Cerqueira
São Paulo
35 – Caroline Cristina Santos Gino
São Paulo
36 – Caroline Vitória Rocha dos Santos
São Paulo
37 – Celine Alves dos Santos
Embu das Artes
38 – César Augusto da Silva Rocha
São Paulo
39 – Cherisch Dantas Invangelho
São Paulo
40 – Clarissa Beatriz Da Costa Bulling
São Paulo
41 – Daniel da Rosa Tandu
São Paulo
42 – Deáwilla Oliveira de Souza
São Paulo
43 – Eduardo Silva de Souza
São Paulo
44 – Elen Felix dos Santos
São Paulo
45 – Eloí Gabriela Carvalho Mello Firmiano
São Paulo
46 – Emily Tauany Souza Andrade Pereira
São Paulo
47 – Érica Martins Marques
São Paulo
48 – Erick dos Santos Rodrigues
São Paulo
49 – Eva Mayra Vulcão Dantas de Feitosa
São Paulo
50 – Ewerton de Jesus Lima
São Paulo
51 – Exaucee Cathy Kalambay
São Paulo
52 – Felipe Marinho de Jesus Souza
São Paulo
53 – Felipe Marino de Souza
São Paulo
54 – Fernanda Ferreira dos Santos
São Paulo
55 – Flávia Martins de Santana
São Paulo
56 – Flávio Luiz Ferreira Pedroso
São Paulo
57 – Gabriel Lima Viana Silva
São Paulo
58 – Gabriel Tavares de Melo da Cruz
São Paulo
59 – Gabriela da Silva Santana
São Paulo
60 – Gabriela de Sousa Monteiro
Santo André
61 – Gabriella Beltrão Martins Motta
São Paulo
62 – Gabriella Santos Sampaio Silva
São Paulo
63 – Gabrielly Maria Silva
São Paulo
64 – Geovana de Carvalho Teles de Anorim
São Paulo
65 – Geovanna da Silva Melo
Osasco
66 – Giovana clemente da Silva
São Paulo
67 – Giovanna Caroline Alves Ferreira
Embu das Artes
68 – Giovanna Oliveira Correia da Silva
Franco da Rocha
69 – Giovanna Vitória Dos Santos Xavier
São Paulo
70 – Gizele Lucas
São Paulo
71 – Guilherme Augusto da Silva
São Paulo
72 – Guilherme Dias da Silva
São Paulo
73 – Guilherme Henrique de Andrade Leme
Diadema
74 – Gustavo de Jesus Oliveira
São Paulo
75 – Gustavo de Jesus Soares
São Paulo
76 – Gustavo Ferreira da Costa
São Paulo
77 – Gustavo Moraes da Silva
Diadema
78 – Heloísa Cristina Rosendo Cardoso
São Paulo
79 – Heloísa de Sena Muniz Campos
São Paulo
80 – Henrique Araújo de Oliveira
São Paulo
81 – Ikaro ricardo sampaio Cruz Vieira
Francisco Morato
82 – Ione Vitor Mendes
São Paulo
83 – Isabela Queiroz da Silva
São Paulo
84 – Isabella Alacantara dos Santos
São Paulo
85 – Isabella Amaro da Costa Oliveira
São Paulo
86 – Isaque Rodrigues de Oliveira
São Paulo
87 – Izabel dos Santos Neimeir
Osasco
88 – Jaini Da Silva Macedo
São Paulo
89 – Jakeline Souza Lima
Itapevi
90 – Janaina Santana Silva
São Paulo
91 – Jaqueline Aparecida Becca
São Paulo
92 – Jefferson Gervaes Barbosa
São Paulo
93 – Jefferson Luis Ramos do Nascimento
Barueri
94 – Jeniffer Vitor Rodrigues da silva
São Paulo
95 – Jenyfer Aparecida Nunes Ferreira
São Paulo
96 – Jessica Santos Paixao
São Paulo
97 – João Gabriel Ribeiro dos Santos
São Paulo
98 – João Pedro Araújo da Silva
São Paulo
99 – João Victor dos Santos Bezerra
São Paulo
100 – Joselaine Romão Soares
Carapicuíba
101 – Joyce Cristina Nogueira
São Paulo
102 – Juan Estelino do Nascimento
Francisco Morato
103 – Júlia Amorim Souto
Osasco
104 – Julia Camile da Silva Santos
São Paulo
105 – Julia Firmino Gabriel
Barueri
106 – Julia Gomes
Mauá
107 – Juliana Daniela Barbosa
São Paulo
108 – Juliana Martins Barbosa
Cotia
109 – Kairo Ilace Gonçalves
Taboão da Serra
110 – Karina Leal de Souza
São Paulo
111 – Karine Lopes dos Santos
São Paulo
112 – Katheryn Firme de Souza
São Paulo
113 – Kathleen Cristina Furtado do Amaral
São Paulo
114 – Kauan Michael Soares Amancio
São Paulo
115 – Kenya Cristina Santana Pereira
São Paulo
116 – Kerollyn Silva Alves
São Paulo
117 – Ketlen Leandra Carvalho
São Paulo
118 – Lais Alexandra Urbano Xavier
São Paulo
119 – Laiza Catarine Ferreira Diniz
São Paulo
120 – Larissa Araujo Aniceto
São Paulo
121 – Larissa Bento da Silva
São Paulo
122 – Larissa de Lima Gonçalves
São Paulo
123 – Larissa Lima Ferreira
São Paulo
124 – Larissa Vitória de Moura Jacinto
São Paulo
125 – Laryssa Lorrany Gonçalves de Oliveira
Ferraz de Vasconcelos
126 – Laura Tatiana Alves Mendonça Prates
São Paulo
127 – Laysa Stefani de Almeida Brito
Diadema
128 – Lázaro Pereira Almeida
Ferraz de Vasconcelos
129 – Leandro Gomes de Oliveira
São Paulo
130 – Leticia Raquel Leme de Jesus
São Paulo
131 – Leticia Santana Costa
Taboão da Serra
132 – Livia Ferreira Estanislau
São Paulo
133 – Luana Santana Moreira
São Paulo
134 – Luana Silva Santos
São Paulo
135 – Lucas Dantas dos Santos
São Paulo
136 – Lucca Catherine Ferreira dos Santos
São Paulo
137 – Luiz Benedito Ferreira de Oliveira
Mogi das Cruzes
138 – Luiz Felipe Motta da Silva
São Paulo
139 – Luiz Fernando Muniz Oliveira
São Paulo
140 – Luiz Leonardo Barbosa Junior
Ribeirão Pires
141 – Luiz Vinicius Reis Silva
São Paulo
142 – Luíza Firmino Gabriel
Barueri
143 – Malcolm da Silva Barreto
São Paulo
144 – Marcos Agostinho da Silva Filho
Jandira
145 – Maria Eduarda da Silva Souza
São Paulo
146 – Maria Taís Borges
São Paulo
147 – Mariana Soares Santos de Souza
São Paulo
148 – Mateus Gomes dos Santos
São Paulo
149 – Matheus Monteiro de Almeida Rodrigues dos Santos
Projeto promove encontro entre estudantes do ensino médio e pesquisadoras para discutir a participação das mulheres em carreiras nas Ciências.
O Investiga Menina, projeto financiado pelo Fundo Baobá, por meio do Edital Negras Potências, promoveu, em 15 de março, um encontro presencial entre as estudantes do ensino médio e pesquisadoras negras. Essa é a 4ª edição do projeto, que acontece na cidade de Goiânia (Goiás) e impacta diretamente, 150 alunas/os do Colégio Estadual Solon Amaral.
Clarissa Alves Bernardes, 17 anos, relata que o projeto Investiga Menina trouxe para ela uma nova perspectiva para encarar a realidade. “Com as aulas ministradas e as conversas que tivemos, consegui me encontrar como uma mulher que sonha produzir Ciências. Com a ajuda do Investiga Menina, mantenho esse sonho vivo dentro de mim. Antes de ser apresentada ao projeto, confesso que estava confusa quanto ao meu futuro, entretanto após o projeto posso afirmar, com toda certeza, que a carreira científica é o que quero para mim”.
As beneficiárias do Investiga Menina são jovens como Clarissa, estudantes do ensino médio e também integrantes e participantes do Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado.
O projeto existe desde 2016, está na 4ª edição e com o apoio do Negras Potências vai até o mês de agosto de 2019. A iniciativa é da professora de química, Anna Maria Canavarro Benite, vinculada a Universidade Federal de Goiás (UFG), doutora em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN). Segundo Anna Maria não se discute a produção de mulheres em sala de aula, muito menos as influências dessas produções para a sociedade. E, quando o recorte é racial, não se tem notícias em currículo oficial ou material didático, sobre qualquer mulher negra brasileira cuja contribuição seja celebrada no mundo acadêmico.
O projeto surge da parceria entre o Laboratório de Pesquisa em Educação Química e Inclusão – LPEQI-UFG e o Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado, e atua na aproximação entre as estudantes e as práticas científicas por meio de ações direcionadas em laboratórios de química. O projeto visibiliza as práticas, as pesquisas e as histórias de vida realizando entrevistas com as cientistas brasileiras, possibilitando que elas visitem a escola parceira, destacando as suas contribuições e inspirando estudantes do ensino médio a seguirem as carreiras das exatas e científicas.
O apoio ao projeto, liderado pela professora de química, está ancorado na missão estratégica do Fundo Baobá para equidade racial, na medida em que o direito à educação de qualidade é um dos eixos estratégicos de atuação do Fundo. O investimento no projeto Investiga Menina se dá por meio do edital Negras Potências. O investimento do Fundo Baobá em educação está alinhado com o Programa de Ação da Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial e Intolerâncias Correlatas (2001) que reitera a importância do reconhecimento das contribuições culturais, econômicas, políticas e científicas feitas por africanos e afrodescendentes e com a Agenda Global de Desenvolvimento Sustentável onde, em 2015, os países se comprometeram a alcançar uma série de metas, entre elas, assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos e todas.
Saiba mais: Dia 28 de abril é comemorado o Dia Internacional da Educação, essa data foi escolhida, pois foi exatamente nesse dia que terminava o Fórum Mundial de Educação, realizado em Dakar, no Senegal, no ano 2000. A data é lembrada como uma oportunidade de reflexão entre educadores, alunos e pais sobre a qualidade de ensino oferecido e a importância dos valores educacionais para a formação de crianças, adolescentes e adultos.
Os países que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU) definiram, em 2015, uma agenda de desenvolvimento sustentável composta por 17 objetivos, conhecidos como Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030. Para a conexão entre ciência e mulheres destacamos os: o ODS 4 Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos, em especial a meta 4.5 eliminar as disparidades de gênero na educação e garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo as pessoas com deficiência, povos indígenas e as crianças em situação de vulnerabilidade e o ODS 5 Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas, na meta 5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres.
Imagem: Alunas/os do Colégio Estadual Solon Amaral
“Ensine a sua menina que papéis de gênero são totalmente absurdos. Nunca lhe diga para fazer ou deixar de fazer alguma coisa ‘porque você é menina’. ‘Porque você é menina’ nunca é razão para nada. Jamais” Chimamanda Ngozi Adichie
A população brasileira, segundo dados do último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, ultrapassou o total de 207,7 milhões de pessoas. Mais da metade deste total (53,6%) é composto por pessoas que se autodeclaram negras e neste grupo metade são mulheres.
Contudo, fazer parte do grupo racial quantitativamente majoritário da população não significa, para homens e mulheres negras, igualdade de acesso a direitos. Da mesma forma que a paridade proporcional entre os gêneros no interior deste grupo não impede que as mulheres negras ocupem a base da pirâmide no que se refere a rendimentos no mercado de trabalho ou recebam atendimento de saúde qualitativamente inferior ao disponibilizado às mulheres brancas nos postos do Sistema Único de Saúde (SUS).
Dados do Ministério da Saúde revelam que o percentual de mortalidade materna entre as mulheres negras no SUS chega a 60%. Entre as mulheres brancas este índice é de 34% e enquanto o atendimento pré natal alcança 74,5% nesse grupo, para as mulheres negras o percentual é de 55,7% no sistema de saúde público. Outro dado que compõe este quadro de desigualdade se refere aos níveis de mortalidade de crianças negras e brancas, cuja assimetria passou de 21% para 40% nos últimos vinte anos.
Em se tratando de distribuição de renda, segundo dados do IBGE divulgados em 2015, dentre os 10% mais pobres no Brasil, 76% são negros o que significa que de cada quatro pessoas que se encontram nesta categoria econômica três são negras. Por outro lado na faixa dos 1% mais ricos, 79% são brancos.
Ao voltar o olhar para o mercado de trabalho, a “Pesquisa Mulheres e Trabalho: breve análise do período 2004-2014” realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aprofunda a informação acerca de rendimentos ao revelar que as mulheres negras recebem a menor remuneração em comparação com a do grupo homens brancos: menos de 40% da renda média calculada em R$ 2.393,00. Ainda de acordo com a mesma pesquisa citada, o desemprego também atinge de maneira proporcionalmente maior as mulheres negras em comparação com os homens brancos tendo alcançado o nível de 10,2% em 2014 para o primeiro grupo frente 4,5% para o segundo.
As trabalhadoras negras são maioria no mercado de trabalho informal, atuando em atividades reconhecidas como autônomas, além de corresponderem a 39,08% da força de trabalho empregada na execução de atividades laborais consideradas precárias.
No acesso ao ensino as assimetrias permanecem, apesar dos avanços e conquistas resultantes das Políticas de Ação Afirmativas que vêm sendo implementadas nos país nos últimos cinco anos. O percentual de pessoas brancas com 25 anos (ou mais) com menos de um ano de estudo é de 7,4%, negras 14,4%. O percentual de analfabetos negros ultrapassa os 4% ao passo que as pessoas brancas somam 1,8%.
As pessoas negras correspondem a 78,9% dentre os 10% da população com maiores chances de serem vítimas de homicídios e possuem 23,5% mais chances de sofrer assassinato em comparação aos indivíduos brancos. A cada cem (100) pessoas assassinadas no Brasil, setenta e uma (71) são negras.
Esses dados são resultado de séculos de acúmulo de desigualdades que se iniciaram ainda no período da escravidão e se mantiveram com a ausência de políticas públicas para inserir a população negra como parte fundamental para o desenvolvimento do país, seja por uma perspectiva humanitária ou econômica. Todos esses dados juntos apontam para um fato no tocante econômico: Somente em 2089, daqui a pelo menos 71 anos, negros e brancos terão uma renda equivalente no país. Essa conta é feita com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), considerando rendimentos como salários, benefícios sociais, aposentadoria, aluguel de imóveis e aplicações financeiras, entre outros.
Mulheres trabalham em média 7,5 horas a mais do que os homens por semana.No carnaval do Rio de Janeiro de 2017, uma mulher foi agredida a cada quatro minutos. Meninas passam mais tempo nos afazeres domésticos do que meninos. Uma pesquisa realizada por algumas universidades americanas aponta que a partir dos seis anos, a menina introjeta a desigualdade de gênero e passa a entender que somente meninos podem ser gênios. Pesquisas apontam que o Brasil é um dos piores países da América do Sul para ser menina.
Esses dados são indicativos assustadores de uma realidade urgente, a necessidade de se discutir a igualdade de gênero desde criança, a discriminação contra a menina hoje é a violência contra a mulher de amanhã, e perpetua um ciclo que fortalece o agressor – seja ele o homem, o Estado que não protege a mulher ou a política que deslegitima – e desune as próprias mulheres, vítimas primeiras de um pensamento social e historicamente construído de que ser mulher é ser menos. E é aqui que entra o empoderamento das mulheres e meninas negras como forma de mudança dessa realidade, como meio para transformar quem é número de estatística em agente da mudança, quem é vista como problema em peça fundamental da resolução. O educador Paulo Freire foi o pioneiro no uso do termo “Empoderamento” no Brasil, ele fez a tradução da palavra criada em 1977 pelo psicólogo americano Julian Rappaport, que transformou o verbo “to empower” (dar poder) no substantivo “empowerment”. O uso do termo foi crescendo desde então e ganhou forças em 2013 com o boom das causas sociais na internet e fazendo uma busca rápida no Google, o termo aparece em mais de 5 milhões de resultados em português e mais de 84 milhões de resultados se a pesquisa for pelo termo em inglês. Empoderamento: É a ação social coletiva de participar de debates que visam potencializar a conscientização civil sobre os direitos sociais e civis. Essa consciência possibilita a aquisição da emancipação individual e também da consciência coletiva necessária para a superação da dependência social e dominação política. O empoderamento devolve poder, dignidade e principalmente liberdade de decidir e controlar seu próprio destino, com responsabilidade e respeito ao outro. Empoderamento feminino: Consiste na concepção do poder das mulheres como forma de exigir equidade de gênero nos variados tipos de atividades sociais, de modo democrático e responsável, é um desafio às relações patriarcais, em relação ao poder dominante do homem e a manutenção dos seus privilégios de gênero e a autonomia no que se refere ao controle dos corpos femininos, das sexualidades e das liberdades.
Empoderamento é então a consciência coletiva que se expressa por meio de ações concretas para fortalecer as mulheres e alcançar a equidade de gênero. Muito se discute o empoderamento pelo viés estético/imagético, a partir principalmente da aceitação dos seus traços capilares, ampliando para o vestuário, os acessórios, ou seja, a forma como o mundo enxerga mulheres e meninas negras, afinal, se reconhecer como um ser humano pleno – não feio e subalternizado – está ligado diretamente a autoestima e orgulho e quando se tem orgulho de quem se é, é mais fácil impactar e influenciar os seus pares e muito mais fácil entender as amarras das estruturas racistas.
O termo empoderamento é muita vezes mal interpretado, visto como algo individual e como a continuação da perpetuação das opressões, porém bell hooks o define como algo com significado coletivo, pois trata-se de empoderar a si e aos outros e colocar as mulheres negras como sujeitos ativos de mudança, diz respeito a mudanças sociais numa perspectiva anti racista, anti elitista e anti sexista através de mudanças das instituições sociais e consciência individuais, sendo necessário criar estratégias de empoderamento no cotidiano, em experiências habituais no sentido de reivindicar direito a humanidade.
É necessário o apontamento de que quando falamos de empoderamento de mulheres e meninas negras estamos falando em luta pela equidade, em fortalecer mulheres negras com o objetivo de promover uma sociedade mais justa, afinal a conquista de uma mulher negra não pode ser descolada de seu papel político como exemplo e espelho para diversas outras mulheres. Empoderar aqui, significa tomar consciência dos problemas que afligem as mulheres e meninas negras e criar mecanismos para combatê-los.
Mulheres e meninas negras empoderadas são referências para outras mulheres, são líderes políticas, agentes de transformação, são emblemáticas no desenvolvimento de suas comunidades, na defesa de direitos, na manutenção das tradições culturais e religiosas e se tornam mulheres e meninas negras fortes, engajadas, preparadas para levantar questões, apontar problemas, propor alternativas, liderar processos e se empenhar nas mudanças que são urgentes para alterar os alarmantes dados que assolam a comunidade negra.
Criar novos modelos de projetos colaborativos e participativos, possibilitar a movimentação na estrutura social e econômica em contextos locais, explorar as possibilidades de parceria com as demais organizações, facilitar a mobilização política de mais mulheres, intervir na negociação de interesses, engajar uma articulação coletiva. Esses são apenas alguns dos passos que uma mulher e uma menina negra podem dar ao adquirirem consciência das suas potencialidades, ao se empoderar.
Então, não. Quando falamos de mulheres negras e, principalmente de meninas negras, não estamos falando de algo no campo individual, estamos falando de mudanças na coletividade e consequentemente na sociedade.
Empoderar-se também é tomar pra si o poder da palavra, é quebrar a barreira do silêncio e sobretudo sair do lugar de silenciada. Audre Lorde é categórica quando afirma que “Temos medo, porque a transformação do silêncio em linguagem de ação é um ato de auto revelação e isso sempre parece estar cheio de perigos… No silêncio, cada uma de nós desvia o olhar de seus próprios medos – medo do desprezo, da censura, do julgamento, ou do reconhecimento, do desafio, do aniquilamento. Mas antes de mais nada acredito que tememos a visibilidade, sem a qual entretanto não podemos viver, não podemos viver verdadeiramente. Nesse país em que a diferença racial cria uma constante – ainda que não seja explícita – distorção da visão, as mulheres negras têm sido visíveis por um lado, enquanto que por outro lado nos fizeram invisíveis pela despersonalização do racismo. Ainda dentro de movimento de mulheres tivemos que lutar, e seguimos lutando, para recuperar essa visibilidade que ao mesmo tempo nos faz mais vulneráveis: a de ser negras. porque para sobreviver nesta boca de dragão que chamamos de América, tivemos que aprender esta primeira lição, a mais vital, e não se supunha que fossemos sobreviver. Não como seres humanos. E essa visibilidade que nos faz tão vulneráveis é também a fonte de nossa maior fortaleza. Porque a máquina vai tratar de nos triturar de qualquer maneira, tenhamos falado ou não. Podemos nos sentar num canto e emudecer para sempre enquanto nossas irmãs e nossas iguais são desprezadas, enquanto nossos filhos são deformados e destruídos, enquanto nossa terra está sendo envenenada, podemos ficar quietas em nossos cantos seguros, caladas como se engarrafadas, e ainda assim seguiremos tendo medo”. E seguindo os ensinamentos de Audre Lorde, que façamos mais tentativas de quebrar o silêncio por entender que é ele que nos imobiliza e ainda restam muitos silêncios para romper!
Negras Potências – nosso edital que está no ar – é a busca por iniciativas e soluções de impacto que contribuam para o empoderamento de meninas e mulheres negras, que ajudem na visibilidade dos múltiplos fazeres que as agentes da sociedade civil estão pensando e produzindo para a mudança no cenário nacional, quando falamos de desigualdades raciais e sociais. Acesse e saiba mais: https://benfeitoria.com/canal/negraspotencias