Fundo Baobá divulga a lista de selecionados para Programa Já É: Educação para Equidade Racial

Hoje, 10 de dezembro, celebramos o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Foi também em um dia 10 de dezembro, no ano de  1948, durante a assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), em Paris (França), que foi instituída a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Composta por 30 artigos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos traz os direitos que todo ser humano tem ao nascer e ao longo de toda vida, entre eles, está a educação. No 26ª artigo diz que “Todo ser humano tem direito à educação”, e ainda reforça que “A educação será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais”.

Acreditando na importância da educação para a promoção da justiça social, que o Fundo Baobá para Equidade Racial, com o apoio da Citi Foundation, lançou o Programa Já É: Educação para Equidade Racial.

Lançado no dia 10 de julho de 2020, para apoiar 100 jovens negros, residentes em bairros periféricos de São Paulo e outros municípios da região metropolitana, a acessarem o ensino de nível superior. O programa inclui não só os custos dos estudos em cursinho preparatório para o vestibular e as despesas com transporte e alimentação ao longo do programa.

Ele prevê também atividades voltadas para o enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo e para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais e ainda mentoria com profissionais de diferentes formações acadêmicas, experiências profissionais e de vida.

O Programa Já É, teve 245 pessoas inscritas, até o encerramento das inscrições no dia 9 de agosto de 2020. A segunda etapa de seleção do edital foi classificatória e aconteceu dentro do período de 05 de outubro a 10 de novembro. Foram convidados para a entrevista 211 candidatos, no qual 120 participaram da entrevista.

Hoje anunciamos as 100 pessoas selecionadas para participar do Programa Já É: Educação para Equidade Racial. Confira abaixo a lista em ordem alfabética:

1 – Alan David Vieira Hildebrando
2 – Aline Castro
3 – Ana Claudia Rocha de Souza
4 – Ana Júlia Melo de Lucas
5 – Ana Maria Silva Oliveira
6 – Ângela Ferreira da Silva
7 – Antonio Gustavo Ribeiro Da Silva
8 – Aretha Victoria Ramos dos Santos
9 – Barbara Oliveira Guimaraes dos Santos
10 – Beatriz Moreira Passos da Silva
11 – Beatriz Sampaio do Nascimento
12 – Bianca Paixao Silva
13 – Bruna Cypriano da Silva Pacheco
14 – Camila Carvalho Santos
15 – Carlos Eduardo de Castro Cerqueira
16 – Caroline Cristina Santos Gino
17 – Cherisch Dantas Invangelho
18 – Clarissa Beatriz Da Costa Bulling
19 – Eduardo Silva de Souza
20 – Emily Tauany Souza Andrade Pereira
21 – Erick dos Santos Rodrigues
22 – Fernanda Ferreira dos Santos
23 – Flavia Martins de Santana
24 – Gabriel Lima Viana Silva
25 – Gabriella Beltrão Martins Mota
26 – Gabrielly Maria Silva
27 – Geovana de Carvalho Teles de Amorim
28 – Geovanna da Silva Melo
29 – Giovanna Oliveira Correia da Silva
30 – Giovanna Vitória Dos Santos Xavier
31 – Gustavo de Jesus Oliveira
32 – Gustavo de Jesus Soares
33 – Ikaro Ricardo Sampaio Cruz Vieira
34 – Ione Vitor Mendes
35 – Isabella Alcantara dos Santos
36 – Isabella Amaro da Costa Oliveira
37 – Isaque Rodrigues de Oliveira
38 – Izabel dos Santos Neimeir
39 – Jaini Da Silva Macedo
40 – Jakeline Souza Lima
41 – Jefferson Luis Ramos do Nascimento
42 – Jessica Santos Paixão
43 – João Gabriel Ribeiro dos Santos
44 – João Pedro Araújo da Silva
45 – João Victor dos Santos Bezerra
46 – Joyce Cristina Nogueira
47 – Julia Camile Da Silva Santos
48 – Julia Firmino Gabriel
49 – Karine Lopes dos Santos
50 – Kerollyn Silva Alves
51 – Ketlen Leandra Carvalho
52 – Laiza Catarine Ferreira Diniz
53 – Larissa Araujo Aniceto
54 – Laryssa Lorrany Gonçalves de Oliveira/ Leonardo
55 – Laura Tatiana Alves Mendonça Prates
56 – Laysa Stefani de Almeida Brito
57 – Leandro Gomes de Oliveira
58 – Livia Ferreira Estanislau
59 – Luana Silva Santos
60 – Lucca Catherine Ferreira dos Santos
61 – Luiz Benedito Ferreira de Oliveira
62 – Luiz Fernando Muniz Oliveira
63 – Luiz Vinicius Reis Silva
64 – Luíza Firmino Gabriel
65 – Maria Eduarda Da Silva Souza
66 – Mateus Gomes dos Santos
67 – Maura Maria de Araujo Ramos
68 – Max Juan Oliveira Santos
69 – Mayara Maria Malta
70 – Maysa Silva Dias
71 – Melissa de Jesus Calixto Costa
72 – Micheli Karoline da Silva Santos
73 – Murilo Alves de Oliveira
74 – Naomi Brito
75 – Natália dos Anjos Oliveira
76 – Natalini Santos de Jesus
77 – Natan Conceição da Silva Santos
78 – Natanael Teodoro dos Santos
79 – Nayara Silva de Oliveira
80 – Nicholas Welington Crisologo Gonçalves
81 – Paulo Vicco
82 – Raphaela Dos Santos Moura
83 – Raquel Pinheiro De Carvalho
84 – Rayane Jesus Santos
85 – Rayanne Caetano da Silva
86 – Rhasna Neves Ferreira
87 – Rubianne Yasmini de Paula Araujo
88 – Tallita Soares de Andrade
89 – Taluma Gabriely Sousa Ferreira
90 – Taynara Silva Santos
91 – Thais Vieira Costa
92 – Thauany Christina Gabriel Aniceto
93 – Thereza Eliete Oliveira Ribeiro/ Breno Oliveira Ribeiro
94 – Vanessa da Silva Souza
95 – Victor dos Passos Moreira
96 – Vinicios Gabriel Salatiel
97 – Vinicius Ribeiro
98 – Vitoria de Jesus Damasceno
99 – Vitoria Nunes
100 – Wellington Marcelino

Parabéns a todas as pessoas selecionadas. O Fundo Baobá para Equidade Racial entrará em contato por e-mail com todos vocês. As aulas começam em março de 2021, mas em fevereiro haverá encontro virtual para orientações gerais. Também nesse mês acontece a assinatura do contrato de bolsa e benefícios.

As e os jovens selecionadas(os) pelo Programa JÁ É serão periodicamente avaliadas por profissionais especializados em relação ao seu desempenho e performance no processo preparatório para o vestibular e, além disso deverão frequentar as atividades obrigatórias e apresentar relatórios periódicos de progresso, seguindo as orientações e formulários disponibilizados pelo Fundo Baobá.

Caso haja desistência, as pessoas que estiverem na lista de espera serão convocadas. A convocação irá acontecer no início de março de 2021.

Confira a lista de espera em ordem de classificação

LISTA DE ESPERA EM ORDEM DE CLASSIFICACAO
1 – Alice Silva Gomes
2 – Anna Beatriz da Silva Garcia
3 – Caroline Vitória Rocha Dos Santos
4 – Kenya Cristina S. Pereira
5 – Karina Leal de Souza
6 – Joselaine Romão Soares
7 – Malcolm Da Silva Barreto
8 – Thiago Nery da Silva
9 – Thaís Lopes de Souza
10 – Thais Sousa Silva
11 – Luiz Felipe Motta da Silva
12 – Heloisa Cristina
13 – Marcos Agostinho da Silva Filho
14 – Ewerton de Jesus Lima
15 – Pietra Isabelle dos Reis

 

Mulheres na STEM

A inserção de meninas e mulheres na área das exatas, em qualquer estágio do ensino – seja no médio técnico ou superior – (ainda) é muito pequena, principalmente porque é associado às ciências a racionalidade, enquanto às mulheres por meio de alegorias de gênero são estereotipadas como sentimentais demais, emotivas demais. Some um fato ao outro e o resultado é: As ciências não são para as mulheres.

Repensar as práticas escolares com foco em equidade, de acordo com a professora e física Katemari Rosa, do Instituto de física da UFBA (Universidade Federal da Bahia), também passa pela construção de ações afirmativas que garantam maior representatividade na ciência. “As mulheres mais excluídas do processo científico no país são as mulheres negras”, diz a docente, ao mencionar que o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) só adicionou o box raça no currículo Lattes em 2013. O que temos? A falta de dados sobre quantas mulheres negras estão fazendo ciências.  

Existe uma naturalização das desigualdades de oportunidades, incentivos e perspectivas entre homens e mulheres que por muitas vezes, a consequência é a falta e a negação das mulheres em quererem partilhar esses espaços. Depois de formadas, essas mulheres tem que lidar com atitudes de menosprezo, desconfiança das suas capacidades e ainda o diferença salarial para o mesmo serviço prestado, quando homens cientistas costumam ganhar até R$2.000 a mais do que as mulheres que ocupam o mesmo cargo.

São esses alguns dos motivos que levam as mulheres a desistirem da carreira, mesmo depois de passarem pelos percalços nada fáceis para se formarem em uma área que o tempo todo, parece salientar que elas estão ocupando um espaço que não às pertence.

Uma das questões mais recorrentes quando apontamos uma perspectiva de gênero e racial a falta de mulheres, em especial de mulheres negras dentro das ciências, é: Qual a importância disso?

A resposta não requer grandes elaborações, já que foi comprovado que a inserção de mulheres nas áreas em que geralmente elas não são bem vindas é uma questão de direitos humanos e justiça social e resulta em espaços e empresas mais diversas e portanto mais lucrativas. Diversidade nos espaços de poder, resulta na geração de uma melhor ciência, que pode ser entendida como: outras formas de produção de conhecimento e multiplicidade dos pontos de vista.  

” Valorizamos o que medimos, mas nem sempre medimos o que valorizamos”, pesquisas setorizadas do Capes e do CNPq não possuem dados sobre gênero e menos ainda sobre raça na STEM (acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

“Nós precisamos de dados. Não apenas dados do governo, mas das escolas. Temos que saber a quantidade de diretoras, professoras de física e alunos que ganharam prêmios”, exemplifica a pesquisadora brasileira Márcia Barbosa, professora titular da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e integrante da Academia Brasileira de Ciências, a pesquisadora defendeu que as escolas precisam repensar a forma como trabalham seus conteúdos. “A construção social que determina que o cientista é um homem barbudo, de jaleco branco e com uma caneta no bolso não tem nada a ver com a construção do conhecimento. Temos que mudar tudo.”

Há dois fatores em comum entre todas as grandes empresas: a falta de liderança feminina, apenas 9% das CEOs do mundo são mulheres e uma grande disparidade entre mulheres em cargos iniciais e aquelas que chegam no topo.

O funil vai ficando cada vez menor, por uma série de fatores que já são bastante conhecidos: divisão desigual de afazeres domésticos e cuidados com a família, o que dificulta e muito a conciliação de carreira e responsabilidades familiares; a questão da maternidade, que ainda torna a contratação de mulheres menos vantajosas aos olhos de muitos empregadores; e não menos importantes que esses dois primeiros pontos, temos os viéses inconscientes, as chamadas “crenças” que influenciam os processos de seleção, avaliação e promoção dentro das organizações, tais quais: o pensamento cultural que faz com que mulheres e homens acreditem que existem atividades e funções ‘para eles’ e ‘para elas’.

Alice de Paiva Abreu, professora emérita da UFRJ (Universidade Federal do rio de Janeiro) e diretora do GenderInSITE, um programa internacional que estuda STEM (acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e equidade de gênero, afirma que: “Se os países não puderem aproveitar todos os seus talentos, certamente eles sofrerão em termos de desenvolvimento econômico.” e alerta para o fato de estamos pautando em 2018 a mesma agenda de mudanças que foi construída em 1995 e até o presente momento segue com as mesmas demandas:
1. Equidade de gênero na educação científica e tecnológica.
2. Remover obstáculos nas carreiras científicas e tecnológicas de mulheres.
3. Tornar a ciência receptiva às necessidades da sociedade.
4. Fazer com que o processo decisório de ciência e tecnologia seja mais atento à questão de gênero.
5. Ter um melhor relacionamento com sistemas de conhecimento locais.
6. Enfrentar questões éticas em ciências e tecnologia.
7. Melhorar a coleta de dados desagregados por sexo para os tomadores de decisão.
8. Promover igualdade de oportunidades nos grandes sistemas de ciência, tecnologia, engenharia, matemática e inovação.

Katemari Rosa enfatiza a importância de políticas públicas que incentivem as meninas negras (políticas públicas focalizadas que se desdobrem em ações afirmativas), “Nós precisamos de políticas públicas de inserção de mulheres e de pessoas negras nas ciências. Precisamos de políticas públicas para se garantir que as pessoas desses grupos sub-representados consigam permanecer quando entrarem nas universidades e tenham sucesso nos cursos. Políticas também para que esses grupos tenham sucesso nas suas carreiras profissionais, tenham possibilidade de ascensão profissional. Não basta nós ampliarmos o acesso de mulheres negras, de pessoas indígenas, dos grupos que estão sub-representados na ciência de maneira geral, a gente precisa trabalhar também pela permanência e pela ascensão”

Suelaine Carneiro, socióloga e coordenadora do programa de educação do Geledés Instituto da Mulher Negra, reiterou o apagamento dos saberes negros nas ciências ( no ensino fundamental e médio) e de como isso se solidifica na “Falta de possibilidades de sonhar”, se não se sabe que é possível chegar, como almejar estar lá?

O Fórum Econômico Mundial estipulou no seu relatório de 2016, The Future of Jobs, que empregos na área de informática e matemática terão um aumento de 3,21% até 2020, influenciada principalmente pela urbanização, pelo crescimento de países em desenvolvimento e por avanços tecnológicos. Para esse fenômeno, ele deu o nome de Quarta Revolução Industrial.

Como estamos preparando, estimulando e incentivando as meninas e mulheres negras a seguirem no caminho das STEM (acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) para estarem aptas as vagas que surgirão em 2020? Como diminuir esse gap de gênero?

Hoje já existem algumas iniciativas, comunidades e programas para mulheres em tecnologia, dentre eles:

PrograMaria: Atua em São Paulo e oferece curso de introdução à programação com foco em desenvolvimento web
PretaLab: iniciativa do Rio de Janeiro que atua no protagonismo das meninas e mulheres negras e indígenas nos campos da inovação e tecnologia
Reprograma: atua em São Paulo inspirando, empoderando e educando mulheres, por meio de conhecimentos de computação e ferramentas de capacitação profissional
MariaLab: coletivo em São Paulo que tem como objetivo encorajar, empoderar e unir mulheres através do interesse pela cultura hacker
PyLadies: comunidade mundial que foi trazida ao Brasil com o propósito de instigar mais mulheres a entrarem na área tecnológica
Django Girls: comunidade que oferece workshops de desenvolvimento web para mulheres iniciantes
Meninas Digitais: programa que apresenta as áreas de TI para alunas do ensino médio/tecnológico
Mulheres na Tecnologia: organização sem fins lucrativos que contribui para o protagonismo feminino na era digital

Fontes:
Parte das falas das mulheres nessa matéria foram colhidas durante o Seminário Elas nas Exatas, realizado pelo Fundo Elas, no Rio de janeiro no mês de março.

http://porvir.org/referencias-na-escola-sao-importantes-para-trazer-mais-mulheres-paras-as-exatas/

https://www.napratica.org.br/carreira-em-tecnologia-para-mulheres/

https://www.napratica.org.br/como-e-carreira-para-mulheres-em-ciencias-tecnologia-engenharia-e-matematica/

http://www.cienciaecultura.ufba.br/agenciadenoticias/entrevistas/katemari-rosa/

#JulhodasPretas ou As histórias que as mulheres negras contam em primeira pessoa

Diva Guimarães e Conceição Evaristo  por Walter Craveiro/El País

“Então um dia
Outras mulheres negras
Das mesmas fileiras que nós
Nos ensinaram que tudo que tínhamos aprendido
Era uma grande farsa.
Foi quando aprendemos a lutar.”

Desensinamentos, de Jenyffer Nascimento.


Conseguimos neste julho sair da invisibilidade imposta e sair também do lugar de protagonizar o ano somente em dois meses específicos: maio por conta das comemorações da abolição da escravatura e novembro, por conta do dia 20, dia nacional da consciência negra.

Julho foi farto, intenso e um mês marcado por iniciativas que marcaram a vida das mulheres negras em todo o país e que ficou conhecido como #JulhodasPretas.

A começar pelo dia 25 de julho, data que se comemora o Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, e para adquirirmos cada vez mais visibilidade, começamos a história com Tereza de Benguela, uma das maiores heroínas negras do Brasil.

“Rainha Tereza”, como ficou conhecida em seu tempo, viveu na década de XVIII no Vale do Guaporé, no Mato Grosso. Ela liderou o Quilombo de Quariterê após a morte de seu companheiro, José Piolho, morto por soldados. Segundo documentos da época, o lugar abrigava mais de 100 pessoas, com aproximadamente 79 negros e 30 índios. O quilombo resistiu da década de 1730 ao final do século. Tereza foi morta após ser capturada por soldados em 1770 – alguns dizem que a causa foi suicídio; outros, execução ou doença.    

Sua liderança se destacou com a criação de uma espécie de Parlamento e de um sistema de defesa. Ali, era cultivado o algodão, que servia posteriormente para a produção de tecidos. Havia também plantações de milho, feijão, mandioca, banana, entre outros.

Após ser capturada em 1770, o documento afirma: “em poucos dias expirou de pasmo. Morta ela, se lhe cortou a cabeça e se pôs no meio da praça daquele quilombo, em um alto poste, onde ficou para memória e exemplo dos que a vissem”. Alguns quilombolas conseguiram fugir ao ataque e o reconstruíram – mesmo assim, em 1777 foi novamente atacado pelo exército, sendo finalmente extinto em 1795. (https://goo.gl/n3QYZi )

 

Flip Preta


A grande e mais enegrecida de todas as suas edições, a 15ª FLIP (Feira Internacional de Literatura de Paraty) de 2017 foi fruto da luta e da reivindicação das mulheres negras na edição anterior, quando embora homenageando a poeta Ana Cristina Cesar e de ter 17 mulheres entre os 39 escritores de sua programação, não tinha nenhuma pessoa negra entre esses 39 nomes.

Na edição anterior, as escritoras Ana Maria Gonçalves e Conceição Evaristo tiveram falas bastante contundentes.sobre essa ausência. Conceição Evaristo questionou:
“Em 2008, na Alemanha, a então ministra da cultura Marta Suplicy, comentando sobre o baixo número de negros na comitiva do Brasil, respondeu a um repórter alemão que não existiam escritores negros brasileiros à altura daquele evento internacional. Neste ano, em Paris, na delegação brasileira, entre 42 pessoas, tinham apenas 3 negros. Era a cota para exemplificar a diversidade brasileira”.

Ana Maria Gonçalves foi ainda mais enfática sobre a importância da postura de luta para ser tratada como igual: “Faço literatura engajada, sobre política e gênero. É muito difícil para a gente ser respeitada como autora. Temos que brigar por nosso espaço, para sair desse lugar de personagem exótico. Precisamos mostrar nossa qualidade, outro ponto de vista. Ainda tenho a visão utópica da arte como instrumento de mudança da sociedade. É necessário abandonar modelos e estruturas obsoletas, como nossa política”, reitera. (https://goo.gl/GXD2qj )

Em 2017, a curadoria da Flip mudou. A jornalista cultural e historiadora Joselia Aguiar  assumiu a direção do empreitada e com isso parece que as mudanças foram de fato significativas, como a homenagem ao autor negro Lima Barreto e a presença de 10 escritoras e escritores negros entre 42 convidados: Conceição Evaristo, Ana Maria Gonçalves, Djaimilia Pereira de Almeida, Edimilson de Almeida Pereira, Grace Passô, Marlon James, Scholastique Mukasonga, Ricardo Aleixo, Paul Beatty e Lázaro Ramos.

A mesa de maior repercussão do evento, sob o tema A pele que habito, ficou por conta do ator e escritor Lázaro Ramos que optou por ler um capítulo que ficou de fora do seu recém lançado livro, “Na minha pele” – o título mais vendido da história da feira. Falou ainda sobre a importância de encararmos a grande problemática do Brasil hoje: o genocídio dos jovens negros, e foi enérgico ao afirmar que o próximo passo na discussão sobre racismo no país é a vergonha na cara.

Mas a grande surpresa foi Diva Guimarães, a grande estrela do evento, que não por acaso, nessa mesma mesa, teve todos os holofotes lançados para si ao emocionar as pessoas que ali estavam e todas as outras que puderam assistir ao seu vídeo que teve até o presente momento mais de 12 milhões de visualizações.

A professora Diva Guimarães é o retrato de uma geração de mulheres negras que foram caladas por muito tempo, que tiveram seus saberes negados por serem orais, por não virem respaldados por uma instituição acadêmica. Todas as mulheres negras têm ou já tiveram uma “Diva” dentro de suas casas.

Catálogo Intelectuais Negras Visíveis

Essa ausência de escritoras negras e negros na edição de 2016 da FLIP, teve como resposta uma carta aberta (https://goo.gl/HQFwiv ) aos organizadores da Feira, escrita pelas integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A carta assinada pela coordenadora do Grupo, a professora Giovana Xavier, questionava essa ausência e elencava uma série de escritoras negras que poderiam perfeitamente figurar entre as autoras convidadas: “Esse silenciamento do nosso existir em uma feira que se reivindica como cosmopolita, mas está mais para Arraiá da Branquidade, insere-se no passado-presente de escravidão, no qual a mulher negra é representada, vista e tratada como um corpo a ser dissecado. Um pedaço de carne que está no mundo para servir. Um objeto a ser estudado e narrado pelo outro branco. Foi assim com Maria Firmina dos Reis, mulher negra do Maranhão, autora de Úrsula, o primeiro romance abolicionista da história do Brasil, datado de 1859 e que, embora reeditado pela Editora Mulheres em 2004, mantém-se desconhecido da maioria das pessoas”.

Essa carta aberta foi o pontapé inicial para uma iniciativa inédita de mapeamento de mulheres negras e suas áreas de especialização, organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras. O catálogo intitulado Intelectuais Negras Visíveis reflete o lema usado pelo Grupo Intelectuais Negras em suas ações: “Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando a sua própria história”.

A publicação conta com projeto gráfico de Maria Júlia Ferreira, foi coordenada por Giovana Xavier, feita por Amanda Sanches, Conceição Seixas, Janete Ribeiro e Núbia Oliveira e editada em parceria com a Editora Malê. Os trabalhos das 153 profissionais negras listadas estão apresentados nas categorias: Academia e Pesquisa, Afroempreendedorismo, Artes (Cinema, Dança, Música, Teatro e TV), Artes Visuais, Coletivo de Mulheres Negras, Comunicação e Mídias, Direitos Humanos, Intelectuais Públicas, Literatura, Professoras de Educação Básica e Saúde.

 

Angela Davis na UFBA


E no dia em que é comemorado o dia da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha, a professora e filósofa estadunidense Angela Davis, lotou o salão nobre da reitoria da Universidade Federal da Bahia, com a conferência “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo”. O evento foi organizado pela UFBA em parceria com o Instituto Odara, o Coletivo Angela Davis, o Núcleo de Estudos Interdisciplinar da Mulher (NEIM) e a Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).

Angela Davis é ativista, filósofa e feminista negra, mundialmente conhecida por sua trajetória de contribuição política nos Estados Unidos pelos direitos civis das pessoas negras, a luta pela liberdade dos corpos das mulheres negras, contra o encarceramento em massa do povo preto, e pelo mundo sustentável.

A ativista afirmou ser “indescritível” a sensação de viver num país liderado por Trump. “Nós resistiremos. Em todos os dias da administração Trump, resistiremos. Resistiremos ao racismo, à exploração capitalista, ao hetero-patriarcado, à islamofobia e ao preconceito contra pessoas com deficiência. Defenderemos o meio ambiente dos ataques insistentes e predatórios do capital.”

Angela Davis fez menção ao movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), que, nos Estados Unidos, vem ganhando destaque nos últimos anos pela luta contra a violência policial que atinge mais incisiva e cotidianamente a população negra. “Nós sabemos que as transformações históricas sempre começam pelas pessoas. Essa é a mensagem do movimento Black Lives Matter. Quando as vidas negras começarem a realmente importar, significará que todas as vidas têm importância. Quando a vida das mulheres negras importar, o mundo será transformado e saberemos, com certeza, que todas as vidas importam”, destacou a ativista.

Angela Davis também denunciou a política de encarceramento em massa, que também se desdobra em racismo institucional, já que afeta desmedidamente a população negra. Destacou a necessidade de se combater as formas institucionais e individuais de violência e cerceamento de liberdades dessas populações, mas sem esbarrar em uma perspectiva de vingança.

“Esta é a chamada feminista negra por formas de justiça que não sejam vingativas. Mulheres negras representam o futuro. Mulheres negras são a esperança de liberdade. Não reivindicamos inclusão numa sociedade racista, misógina, patriarcal e capitalista. Afirmamos o feminismo abolicionista”, afirmou.

Outro ponto alto da fala foi  a política de cotas nas universidades brasileiras, elogiada pela ativista, que disse que os Estados Unidos, embora tentem há décadas implantar algo parecido, jamais conseguiram. “Admito que estou muito mais impactada com o sistema educacional brasileiro que com o norte-americano. Me lembro bem quando no Brasil começaram os debates e na Bahia já vejo ações concretas. Vi isso principalmente em Cachoeira, na Universidade do Recôncavo. Isso nos prova que é mesmo possível garantir acesso à educação formal à população que havia sido excluída historicamente”, defendeu.


Festival Latinidades


Dos dias 27/07 a 30/07 Brasília foi sede do Festival Latinidades – O maior festival de Mulheres Negras da América Latina – que comemorou 10 anos de existência. Foram 4 dias de debates, mesas, workshops e shows que contou com a presença de grandes mulheres negras como a cineasta Viviane Ferreira, a artista plástica Rosana Paulino, a artevista Erica Malunguinho, a afrotransfeminista Maria Clara Araújo dos Passos, a socióloga Vilma Reis, a Youtuber Nátaly Neri, a empresária Ana Paula Xongani, dentre tantas outras.

Com o tema – Horizontes de liberdade: afrofuturismo nas asas da Sankofa, o Latinidades colocou em pauta que tipo de sociedade que estamos construindo hoje.
O festival levantou, na primeira mesa, com o nome “Memórias de Visionárias”, a importância de disputar narrativas sobre a representação e a imagem dos negros nas artes, sejam elas plásticas ou visuais. A artista plástica Rosana Paulino foi enfática ao afirmar: “ É na escola que começa o bombardeio de imagens negativas. Nós temos que fazer o movimento contrário, o processo de substituição, o processo questionador, de livramento de peso, a proposição de novas narrativas e novas imagens”.

A segunda mesa de debates levantou o tema “Miragens do Futuro no Presente”.
A artevista Erica Malunguinho trouxe para a discussão o significado do adinkra Sankofa (que significa voltar no passado para ressignificar o presente) dizendo que:” Nós não somos Resistência, somos Existência! Temos que lembrar que não somos recorte, nós somos fundamento!”

A cineasta Viviane Ferreira, na mesa cujo título era “Afrontosas: agir para Transformar”, trouxe toda a potência de mulher negra do audiovisual com uma fala poderosa sob a necessidade imperiosa de ocupar os espaços hegemônicos: “Estamos em guerra há muito tempo e o audiovisual é o meu front de batalha, o que eu escolhi para guerrear pela disputa simbólica na imagem dos corpos negros. Quando eu digo que estamos em guerra é porque quando dizemos que somos cineastas negras, estamos batendo de frente com a hegemonia e eu digo: eu não abro mão da minha subjetividade para fazer cinema”.

Na mesma mesa, a socióloga Vilma Reis, ovacionada de pé pela plateia, destacou a relevância de ser negro e estar disputando os espaços acadêmicos: “Nas universidades não podemos ser um ponto preto no meio da festa branca, estar na universidade sendo uma pessoa negra consciente, pressupõe realizar tarefas. Nossos diplomas de graduação, mestrado e doutorado não são um fim em si mesmo. Eles não servem para nada, se não libertarem o nosso povo”.

A empresária Ana Paula Xongani falou sobre os processos de construção de sua marca, a Xongani, na mesa “Moda Preta: Poder, lacre e transformação”, e sobre como esses processos incidem na produção e no consumo de uma moda mais consciente: “Sobre processo, o meu start foi observar a minha comunidade e traduzir em peças o que ela está pensando, para que as pessoas saibam o que a gente está falando com essa linguagem não-verbal. Comprar moda afro consciente é mais caro. Mais do que produtores conscientes, precisamos de consumidores conscientes, pois isso é retroalimentado. Quem vai ser empregada é a sua filha, quem vai costurar é a sua tia, ou seja, quem é tá ganhando se não a gente? E tem mais, ser consciente na moda é mais do que consumir pouco, consumir moda vegana, é saber dos processos de transparência, é saber que todas as peças que estão no seu corpo não tem mãos negras escravizadas”.

O Festival Latinidades fechou a sua 10ª edição com um stand up da jornalista baiana Maíra Azevedo mais conhecida como Tia Má, que lotou o auditório do Museu Nacional e com o show da duo americano Oshun.  

Marcha das Mulheres Negras

E no último domingo de julho e fechando o #JulhodasPretas, o Rio de Janeiro sediou a III Marcha das Mulheres Negras, na Avenida Atlântica, na orla de Copacabana, Zona Sul. A marcha, que foi realizada em outras cidades como Salvador e São Paulo durante a semana, teve como objetivo chamar a atenção para a desigualdade e a discriminação racial vividas diariamente por mulheres negras em todo o País.

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado, entre 2005 e 2015, o percentual de negros e negras universitários saltou de 5,5% para 12,8%. No entanto, esse o crescimento positivo não é igual quando a análise é a ocupação de vagas no mercado formal de trabalho. Mesmo tendo aumentado o número de graduados, os negros continuam com baixa representatividade nas empresas.

Nas organizações, a desigualdade entre brancos e negros aparece de forma gritante. Segundo dados de uma pesquisa do Instituto Ethos, realizada no último ano, pessoas negras ocupam apenas 6,3% de cargos na gerência e 4,7% no quadro executivo, embora representem mais da metade da população brasileira.

Neste contexto, a presença de mulheres negras, em comparação aos homens, é ainda mais desfavorável: elas preenchem apenas 1,6% das posições na gerência e 0,4% no quadro executivo. A situação só se inverte nas vagas de início de carreira ou com baixa exigência de profissional, como em nível de aprendizes (57,5%) e trainees (58,2%).

Outro desafio da população negra é a disparidade salarial. Ainda que tenha diminuído nos últimos anos, os dados sobre desigualdade de renda continuam a registrar um desequilíbrio considerável entre brancos e negros no Brasil.

A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE indica isso. No início de sua série histórica, em 2003, um negro não ganhava nem metade do salário de um branco (48%). Atualmente, pouca coisa melhorou. Fazendo a mesma comparação, em 2015, um negro passou a ganhar pouco mais da metade dos rendimentos de um branco (59%).

Segundo uma das organizadoras da marcha, a psicóloga, professora e vice-presidente do Centro de Tradições Afro-Brasileiras (Cetrab), Dolores Lima, em entrevista à agência brasil (https://goo.gl/CTWL2N ), o espaço escolar segue como um dos lugares onde mais se tem recorrência de casos de racismo: “É uma escola do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21. Imagina isso reforçado pelo racismo, que coloca essas crianças fora desse sistema, porque não se enxergam e não se colocam ali dentro. Passam por um processo de discriminação, em que a própria instituição não prepara os profissionais para a discussão do racismo”.  

Que os passos das mulheres negras em julho sigam reverberando, indo por caminhos abertos pelas ancestrais, pavimentando os caminhos para as mulheres negras do futuro e fazendo de todas as mulheres negras, mulheres potentes e visíveis. Não nós esqueçamos das palavras de Azoilda Loreta da Trindade: “A invisibilidade é a morte em vida”. Vivamos.

Cotas

Após muita luta das Organizações do Movimento Negro, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma das mais elitistas do país, anunciou no final de maio que irá começar a adotar o sistema de cotas para ingresso de alunos negros e vagas para o SISU no vestibular de 2019. O texto debatido, votado e aprovado por unanimidade pelos 59 integrantes do Conselho Universitário (Consu), especificou que 50% dos estudantes devem ser oriundos de rede pública,tendo como meta alcançar 37,5% de candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas.

Segundo Carolina Pinho, Doutora em educação pela Universidade e fundadora do núcleo de consciência negra, em entrevista a página Justificando: “ A Unicamp é extremamente conservadora e surgiu durante a ditadura militar com um projeto de ciências para a disputa entre as nações e para além disso, existe a história da cidade de Campinas, que foi a última cidade do país a abolir a escravidão, ou seja, a última cidade do último país do mundo a abolir a escravidão. Essa vitória – a adoção de sistema de cotas na universidade – é do movimento negro, protagonizada por jovens do movimento negro, organizados em suas próprias organizações políticas, isso é uma vitória gigantesca num quadro desse, ainda mais quando temos um ataque nacional aos nossos direitos, não posso deixar de contextualizar isso também”.
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https://goo.gl/OayZLX )

Além do sistema de cotas, a Unicamp garantiu também a criação de uma Secretaria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade cujo objetivo é a formulação, implementação, gestão e acompanhamento das políticas de ação afirmativa, bem como o combate a quaisquer formas de preconceitos.

E logo depois da Unicamp e pela primeira vez em mais de 100 anos de história, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), pela primeira vez em mais de 100 anos de história, vai aplicar uma política de cotas raciais para os ingressantes no curso de graduação em medicina mais prestigiado do país. No final de mês de junho, a Congregação da faculdade (órgão máximo de decisão da FMUSP) aprovou a adesão parcial ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que usa a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para selecionar estudantes.

50 das 175 vagas de medicina em 2018 serão selecionadas via Sisu/Enem e 125 continuarão oferecidas pela Fuvest e de acordo com o diretor da FMUSP, o professor José Otávio Costa Auler Júnior, os demais cursos da faculdade (fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional) também terão uma parte das vagas destinadas ao Sisu.

Desde de 2015, às unidades da Universidade de São Paulo possuem autonomia para aderir ou não ao Sisu (https://goo.gl/jSE412) . No primeiro ano, 85 dos 143 cursos de graduação da USP decidiram aderir ao Enem parcialmente. Os outros 58 decidiram manter 100% das vagas no processo seletivo da Fuvest – incluindo a Faculdade de Medicina de São Paulo, que aderiu ao Sisu, agora em 2017.

Mas o que são as cotas raciais e por que elas são importantes?
As cotas raciais são ações afirmativas que tem como principal função a reparação de desigualdades econômicas, sociais e educacionais no Brasil, tais reparações são efetuadas por meio de políticas públicas ou privadas retributivas e no caso das cotas raciais nas universidades, é feita uma reserva de vagas para o ingresso de cidadãos autodeclarados pretos, pardos e indígenas. Em uma sociedade que historicamente privilegia um grupo social e onde outros foram oprimidos, as cotas surgem como um importante meio de atuação contra a desigualdade social e a favor da democracia e da cidadania.  

A desigualdade no Brasil abrange o âmbito econômico e social com relevante impacto na educação e no acesso a oportunidades. Negros representam 53,6% da população brasileira e, mesmo sendo maioria, apenas 5% ocupam cargos de chefia de empresas. Apenas 25% da população negra têm ensino superior. Entre os brancos, o número é 31%. Segundo dados de 2015 do IBGE, o salário da população negra equivale a 59,2% da população branca. Em se tratando da mulher negra: seu salário equivale a 35% ao de um homem branco, segundo dados do PNAD 2014. Além da escolaridade, o racismo estrutural explicam essa discrepância.
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https://goo.gl/KO6FZT )

reserva de vagas cotas

imagem: http://portal.mec.gov.br/cotas/sobre-sistema.html

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2016, embora o acesso de negros na universidade tenha crescido, a maioria ainda é branca. Os Indicadores Sociais apontam que: em 2004, 16,7% dos alunos pretos e pardos estavam em uma faculdade; em 2014 esse percentual saltou para 45,5% e no caso dos alunos brancos, em 2004, 47,2% frequentavam o ensino superior; dez anos depois, essa parcela passou para 71,4%.

De 2005 a 2015, o número de jovens negros no Ensino Superior cresceu de 5,5% para 12,8%, cabendo ressaltar que, em 1997, apenas 1,8% dos jovens entre 18 e 24 anos que se declaravam negros frequentavam a universidade. (https://goo.gl/4IkcZn )

E qual é o cenário atual das cotas no Brasil?
Em 2000, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ), estipulou a reserva de 50% das vagas dos cursos de graduação para alunos da rede pública de ensino e 12 anos depois a questão chegou no  Supremo Tribunal Federal sendo votada por unanimidade como constitucional. Naquele momento, o Movimento Negro já reivindicava políticas públicas em torno do direito universal de acesso ao ensino superior. A UERJ adota o critério cor/raça em 2003.

Em 2004, a Universidade de Brasília (UnB) aprovou as políticas afirmativas para negros nos vestibulares, sendo a primeira universidade do país a adotar tal sistema. Outras universidades adotaram sistemas de ações afirmativas e hoje todas as universidades federais e 30 das 38 universidades estaduais aderem as cotas raciais nos seus vestibulares.
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https://goo.gl/C14gxo )

A lei fluminense expira em 2018 e deve passar por avaliação da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, que deve melhorá-la e propor a renovação por mais uma década. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal determinou por unanimidade que as cotas raciais são constitucionais e necessárias para corrigir o histórico racista, escravocrata e excludente do Brasil. “As ações afirmativas não são a melhor opção, mas são uma etapa. O melhor seria que todos fossem iguais e livres”, disse na ocasião a ministra Cármen Lúcia.
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https://goo.gl/OGMxGn )

Mais do que somente a entrada nas Universidades, a permanência é pauta nas mais variadas discussões e seminários. Segundo a professora da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) no Mato Grosso do Sul, Eugênia Portela de Siqueira, a partir da implementação das cotas, a universidade passa a ser co-responsável pelo sucesso desses acadêmicos, uma vez que que a política não tem como objetivo apenas dar vagas para determinados grupos sociais, mas sim fazer com que pretos, pardos e indígenas tenham acesso a um nível de ensino do qual, ao longo da história do Brasil, foram excluídos, “ A gestão universitária agora está diante do desafio de garantir a permanência desses alunos, uma vez que eles conquistaram o acesso à universidade”, defende a professora. Eugênia Portela de Siqueira, se refere à permanência como uma inserção plena no ambiente acadêmico, propiciando não apenas condições para que esses estudantes sejam aprovados nas disciplinas em que estão matriculados, mas que participem de iniciação científica, de eventos dentro e fora de sua universidade, de atividades de cultura e lazer, “Precisamos pensar a permanência em dois  aspectos: material e simbólica. A permanência material é comum a todos os estudantes, todos precisam de livros, xerox, transporte, restaurante, laboratórios, computadores. A permanência simbólica é mais subjetiva”, explica a docente.
( https://goo.gl/xhgQrz )