Conheça a força coletiva que move Goiás rumo a Brasília no próximo dia 25

Em Goiás, o Comitê Estadual da Marcha das Mulheres Negras tem mostrado que a organização coletiva é um ato de resistência, mas também de transformações concretas. A mobilização começou com a formação de um grupo de 156 voluntárias, integrantes da Rede Goiana de Mulheres Negras, espalhadas por diferentes territórios urbanos e rurais do estado. São mulheres cis e trans, com idades entre 16 e 89 anos, ligadas a organizações de mulheres negras, movimentos populares, coletivos feministas e também mulheres independentes.

A estrutura do Comitê reflete a diversidade dessa rede: há comitês operativos, como o Executivo e o de Comunicadoras, e comitês temáticos, que atuam diretamente em  assuntos como educação antirracista, justiça climática, saúde, cultura, saberes ancestrais e participação política. Cada grupo reúne cerca de 12 mulheres, que articulam ações e mobilizam territórios, fortalecendo a capilaridade da Marcha em mais de 50% dos municípios goianos.

Nos últimos meses, as ações do Comitê se expandiram por todo o estado: rodas de conversa, encontros formativos, campanhas de prevenção à violência, oficinas de comunicação antirracista e desfiles carnavalescos com o estandarte da Marcha. Foram mais de 200 eventos e iniciativas, incluindo feiras de economia criativa, cursos de capacitação, incidência política, ações em escolas e universidades, produções audiovisuais e atividades culturais com foco na valorização das mulheres negras do Cerrado.

Essas experiências fortalecem a identidade coletiva, ampliam a formação política e conectam gerações, especialmente para as mais jovens, que vêm ganhando protagonismo no processo.Segundo levantamento do Comitê, 38,4% das participantes têm entre 16 e 29 anos. Essas jovens estão introduzindo novas linguagens, tecnologias e sua energia transformadora para o movimento. Atualmente, mulheres jovens lideram grupos temáticos estratégicos, como os de Justiça Ambiental, Cultura e Comunicação.

Além disso, está em formação a Organização Mulheres Negras Jovens em Marcha, iniciativa que surge de um processo de mentoria, escuta e afeto, voltado à construção de projetos de vida e ao fortalecimento das lideranças negras do futuro.

Os desafios são muitos, desde conciliar pautas diversas, superar as desigualdades regionais até enfrentar a falta de recursos e lidar com a sobrecarga das múltiplas jornadas das mulheres. Mas, porém como destacam as articuladoras, cada obstáculo se converte em um convite à invenção coletiva.

Entre as estratégias que fortalecem o grupo destacam-se: a criação de agendas compartilhadas, o mapeamento de demandas territoriais, a escuta como prática política, e o rodízio na liderança dos processos. As ações ações formativas também são prioridade, mostrando-se fundamentais para fortalecer vínculos e ampliar o protagonismo das mulheres negras, especialmente as da base, que hoje assumem o centro das decisões e a condução de comitês e projetos.

Nos últimos meses, o Comitê de Goiás concentrou esforços na realização de três Encontros Regionais e um Encontro Estadual, preparando diretamente a Caravana para Brasília, onde milhares de mulheres negras de todo o país se reunirão na Segunda Marcha Nacional das Mulheres Negras, no dia 25 de novembro. Além disso, seguem em curso as atividades de comunicação, capacitação e planejamento para o pós-Marcha, assegurando que o legado desse processo permaneça vivo nos territórios.

“Estaremos juntas no caminho de luta e afeto que herdamos das gerações que nos antecederam. Nossa história carrega o legado da justa reparação. A construção do bem viver é condição possível para o futuro. Levante das Pretas 2025,” afirma Janira Sobre, coordenadora do Comitê Impulsor da Marcha das Mulheres Negras de Goiás.

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Mulheres negras, latino-americanas e caribenhas convocam à mobilização política e à participação na Marcha de novembro

O 25 de  julho atravessa fronteiras, une lutas e ecoa histórias silenciadas

Em 25 de julho foi celebrado o Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, data instituída em 1992 durante um encontro de mulheres afro-Latinas-Americanas e afro-caribenhas na República Dominicana. No Brasil, a data também é comemorada e marca o Dia Nacional da Mulher Negra, em homenagem à Teresa de Benguela – líder quilombola que foi símbolo da resistência negra no século XVIII.

A 13ª edição do Julho das Pretas é um momento de reflexão profunda, reconhecimento, memória e ancestralidade feminina, que são fundamentais para dar visibilidade às pautas históricas e atuais dessas mulheres. É neste contexto que ganha destaque a II Marcha das Mulheres Negras — Por Reparação e Bem Viver, em fase de organização e mobilização em todo o país. Prevista para ocorrer em Brasília, no próximo dia 25 de novembro, a Marcha tem expectativa de reunir um milhão de mulheres negras e estrangeiras, reforçando seu protagonismo na luta por justiça racial, social, climática e de gênero.

Na organização dessas ações estão os Comitês Impulsores Estaduais, Regionais e Municipais, organizados por Unidade Federativa e Coordenados por articulações como AMNB (Articulação de Organizações de Mulheres Negras), Rede de Mulheres Negras do Nordeste, Rede Fulanas (Amazônia), Fórum Nacional de Mulheres Negras, CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), entre outros.

Diante da convocação nacional para a II Marcha, diversas mulheres negras, quilombolas, LGBTs, religiosas de matriz africana, entre outras, marcharam no dia 25 de julho em várias cidades do país: Belém (PA), Eusébio (CE), Feira de Santana (BA), Garanhus (PE), João Pessoa (PB), Maceió (AL), Manaus (AM), Pelotas (RS), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São José do Rio Preto (SP), São Luís (MA), São Paulo (SP) e Teresina (PI). E Além disso, os comitês organizaram atividades diversas. 

O comitê estadual do Amazonas, por exemplo, garantiu presença na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com atividades como Oficina de Carimbó, Oficina de Tranças, Oficina de Colorismo e um convite especial para um evento da Associação dos Docentes da Universidade. Nesse dia, a professora e diretora da Faculdade de Psicologia – FAPSI, Iolete Ribeiro, que também é membro do Comitê Amazonense da Marcha das Mulheres Negras, aproveitou para destacar a necessidade de mobilização e organização da Marcha em novembro.

Já O Antonietas Em Marcha Santa Catarina realizou, no decorrer de julho, rodas de conversa, palestras e encontros regionais no Vale do Itajaí. As mulheres presentes reafirmaram que suas caminhadas pessoais são um ato político diário, pois resistem cotidianamente a um estado branco e conservador. Ainda na Região Sul, o Comitê de Mulheres Negras do Rio Grande do Sul participou do programa “Vozes dos Quilombos” – na rádio Negritudes, além de uma roda de conversa com o tema: Tecendo caminhos para a Marcha das Mulheres Negras na Faculdade de Educação da  UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). 

No Comitê Impulsor Estadual de São Paulo, diversas cidades também realizaram encontros regionais, como Campinas e o ABC, que promoveram atividades como Oficina de Políticas de Cuidado e Autocuidado na Perspectiva do Bem Viver, com a Mestra Reisa Cristiane de Paula Venancio, formada em Ciências da Motricidade pela UNESP (Universidade Estadual Paulista) e uma live com o tema Justiça ambiental e bem viver: jovens e mulheres negras em marcha por um novo pacto civilizatório. No encontro virtual, foi possível criar um espaço de reflexão coletiva sobre justiça climática, interseccionalidade de gênero, raça, território e o protagonismo de jovens e mulheres negras na construção de futuros sustentáveis.

Em Feira de Santana, na Bahia, dez anos após a primeira caravana, as portas do sertão se abriram novamente para o fortalecimento das mulheres negras de toda Bahia. O Comitê Impulsor do Território Portal do Sertão convocou todas as mulheres para se reunirem e pensarem juntas o planejamento e a mobilização da Marcha que irá ocorrer em novembro. 

No Centro-Oeste, em Mato Grosso, também ocorreram encontros regionais em Cuiabá e no município de Sinop, além de rodas de conversa com a Comunidade de Matriz Africana do Candomblé e Umbanda, no Centro Histórico de Cuiabá. Houve também incidências nas ruas da Cidade de Cáceres, com distribuição de panfletos de esclarecimento sobre a Marcha.

A Marcha Nacional das Mulheres Negras está sendo construída de norte a sul do Brasil e já conta com núcleos de mobilização internacional em 35 países, sendo uma importante ferramenta de mobilização política e de denúncia. Por conta da mobilização que gera, o evento também abre espaço para a discussão de ações concretas para o enfrentamento das múltiplas formas de opressão que atravessam a vida das mulheres negras no Brasil. E o Baobá – Fundo para Equidade Racial apoia essa luta reafirmando seu compromisso com o fortalecimento da democracia e a defesa dos direitos das mulheres negras no Brasil.

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Crédito: Arquivo Pessoal

Marcha das Mulheres Negras: um relato de quem esteve lá há 10 anos atrás

Conheça a história de Juliana Gonçalves e sua trajetória no movimento de mulheres negras

Juliana Gonçalves é mãe, jornalista e militante do movimento negro — uma mulher em movimento, articuladora política, pesquisadora, feminista negra, periférica, afrolatina e, acima de tudo, um corpo livre. Atualmente, gerencia um projeto de inovação na área da Comunicação na Embaixada Preta, o Bioma Comunicação Ancestral.

Mestra em Filosofia pela Universidade de São Paulo, onde pesquisou o Bem Viver em narrativas de mulheres negras, ela também integra a Marcha das Mulheres Negras de SP, onde, desde 2018, coordena o curso de formação política para mulheres negras chamado Narrativas de Liberdade.

Seu primeiro contato com a Marcha aconteceu de forma orgânica, como parte de um percurso político e afetivo. Em 2013, como parte do grupo Comunicadoras Negras — iniciativa articulada por várias entidades em parceria com a ONU Mulheres —, ela participou da cobertura da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

“Lá foi anunciada pela primeira vez a Marcha das Mulheres Negras, tomando um auditório cheio de mulheres negras e sacerdotisas entoando cantos iorubá. O momento, profundamente espiritual, ancestral e simbólico, trouxe à Juliana um chamado, uma convocação do tempo que exigia dela e das demais mulheres uma coragem coletiva.”

Sendo uma das 15 mulheres selecionadas para participar de um programa voltado a jovens lideranças, ela conheceu mulheres de múltiplas identidades, como indígenas, quilombolas, ciganas e tantas outras, que atuavam a partir de seus territórios. Foram intensas trocas entre elas, que permitiram reflexões críticas sobre o papel e os limites das instituições internacionais e sobre a atuação nos contextos locais.

Foi depois desse programa que ela se aproximou da construção da Marcha das Mulheres Negras em 2015.

Ao se deparar com as particularidades do movimento negro de São Paulo — que é múltiplo, potente e também atravessado por desigualdades territoriais —, ela enfatiza que, mesmo com realidades distintas, o movimento busca sempre articular cultura, educação, comunicação, moradia, política institucional e saberes tradicionais. Pois, como em muitos outros estados, desde 2015, elas permanecem em marcha, em constante movimento.

“O movimento é feito por nós, com nossos corpos, nossas histórias, nossos gestos cotidianos. Não é preciso estar em um palanque para ser movimento. Você é quando cuida, quando pergunta, quando sonha”, afirma Juliana.

Sobre as demandas das mulheres na década passada e as demandas atuais, ela traz uma reflexão sobre uma ênfase em denunciar o racismo estrutural, o genocídio da juventude negra, a violência doméstica e o silenciamento nas instituições. Hoje, em 2025, essas pautas permanecem urgentes, mas ganham contornos mais amplos: há uma demanda crescente por pensar a sociedade a partir de outro paradigma.

“Hoje falamos de saúde integral, mental, soberania alimentar, economia do cuidado, justiça racial e comunicação como espaço de poder. As mulheres negras também exigem estar no centro das decisões, das tecnologias, da política institucional”, afirma.

Para ela, não vivemos quaisquer 10 anos. Foram anos de uma conjuntura cruel, que incidiu com ainda mais violência e requintes de crueldade sobre a população negra, com muitos retrocessos nas conquistas quilombolas, indígenas e na luta das mulheres em si.

A mensagem que Juliana gostaria de deixar para as mulheres negras que ainda não se sentem parte do movimento é que é, sim, louvável estarmos vivas — e, mais ainda, estarmos organizadas para enfrentar não só a luta da sobrevivência diária, mas também para a construção de outra sociedade.

“A força da Marcha de 2015 foi, justamente, termos olhado para o que une, sem silenciar as diferenças”, afirma Juliana.

Então, estão todas convidadas: as cis, as LBTs, as candomblecistas, as evangélicas, as trabalhadoras, as estudantes, as imigrantes, as mais novas e as mais velhas, as mulheres com deficiência, as militantes, as independentes etc.

Para esse ato político-social, o Baobá, Fundo para Equidade Racial,  fez um investimento histórico de R$ 1,25 milhão, garantindo apoio à mobilização, logística, articulação e engajamento de mulheres negras em todo o Brasil, com foco especial nas comunidades quilombolas.

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Fundo Baobá participa de planejamento estratégico de comunicação para a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras

Nos dias 19 e 20 de maio, o Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver realizou em Brasília um planejamento estratégico de comunicação, com participação do Fundo Baobá e outras organizações parceiras. O evento reuniu representantes de 35 organizações do movimento negro e parceiras para estruturar as ações de comunicação visando a grande mobilização marcada para 25 de novembro de 2025.

Construção coletiva de estratégias

Durante os dois dias de encontro, foram desenvolvidas diretrizes para:

  • Fortalecer a coesão das mensagens da Marcha
  • Visibilizar territórios e saberes das mulheres negras
  • Engajar diferentes públicos na mobilização

“Poder pensar juntas na comunicação de uma mobilização deste porte foi muito especial”, destacou Xavier Amorim, Assistente de Comunicação do Fundo Baobá. “Ao reunir diversas mulheres negras, podemos ampliar o olhar para as inúmeras subjetividades de mulheres que devemos e queremos mobilizar para o dia 25 de novembro.”

O trabalho coletivo contou com metodologias participativas que permitiram a construção conjunta de estratégias, com facilitação do Instituto Cultura, Comunicação e Incidência (ICCI).

Compromisso e apoio institucional

Todas as organizações presentes assumiram compromissos concretos para amplificar as narrativas da Marcha em suas redes e territórios. Como parceiro estratégico, o Fundo Baobá não apenas apoia financeiramente esta iniciativa, mas também fortalece essa construção coletiva que amplifica o poder de organização das mulheres negras e seu papel transformador na sociedade brasileira.

A Marcha de 2025 marca os 10 anos da primeira edição histórica e representa um marco na luta por direitos e visibilidade das mulheres negras brasileiras. Com esse apoio, o Fundo Baobá reafirma seu papel fundamental no fortalecimento das organizações do movimento negro e na promoção da justiça social.

Organizações participantes

Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB); Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong); Ação Educativa; Associação de Trabalhadoras Domésticas Tereza de Benguela; Associação Gênero e Número; Casa N’Dengo; Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ); Criola; Escola Longa; Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FONATRANS); Geledés – Instituto da Mulher Negra; Imaginable Futures; Instituto Afrolatinas; Instituto Cultura, Comunicação e Incidência (ICCI); Instituto Ibirapitanga; Comitê Estadual Goiás da Marcha das Mulheres Negras; Marcha das Mulheres Negras de São Paulo; Movimento Mulheres Negras Decidem; Agência Narra; Observatório da Branquitude; Odara – Instituto da Mulher Negra; Oxfam Brasil; Pretas Candangas; Quid; Rede de Mulheres Negras do Nordeste; e Revista Afirmativa.

Saiba mais sobre nosso apoio à Marcha das Mulheres Negras 2025.

Fundo Baobá doa R$ 1,25 milhão para a Marcha das Mulheres Negras 2025

Marcha das Mulheres Negras 2025

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver espera reunir um milhão de mulheres negras em Brasília (DF), no dia 25 de novembro de 2025. Esse ato político-social receberá um investimento histórico de R$ 1,25 milhão do Baobá – Fundo para Equidade Racial, garantindo apoio à mobilização, logística, articulação e engajamento de mulheres negras em todo o Brasil, com foco especial nas comunidades quilombolas.

O anúncio foi feito no início de dezembro, durante o Encontro Regional de Mulheres Negras do Nordeste, realizado em Recife (PE). Na ocasião, Caroline Almeida, Gerente de Articulação Social do Baobá, reafirmou o compromisso da organização com a luta das mulheres negras e a mobilização nacional, e destacou:

“Estamos articulando e contribuindo com as diversas frentes envolvidas nesse processo, apoiando tanto a mobilização local quanto a coordenação nacional, com um foco especial nas mulheres quilombolas, que têm um papel central nesta caminhada. Este é um esforço coletivo, com a confiança de que as mulheres negras terão voz ativa em cada etapa do processo até a grande Marcha.”

Apoio financeiro e divisão do investimento

O aporte de R$ 1,25 milhão será distribuído da seguinte forma:

R$ 350 mil – Comitê Nacional para garantir a presença de mulheres na marcha
R$ 25 mil por estado – Destinados à mobilização em todas as 27 unidades federativas
R$ 225 mil – Exclusivamente para a articulação de mulheres quilombolas.

Segundo Fernanda Lopes, Diretora de Programas do Fundo Baobá, esse apoio está alinhado às prioridades da organização, que incluem fortalecer a memória e história da população negra, gerar renda e combater o racismo e o sexismo.

Por que a Marcha das Mulheres Negras é fundamental?

Embora representem 28% da população brasileira, mulheres negras enfrentam os piores índices sociais. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública:

👉🏾 63,9% das vítimas de feminicídio no Brasil são mulheres negras
👉🏾 61,6% das vítimas de estupro têm até 13 anos e 52,2% são negras

Apesar dos desafios estruturais, são elas que estão na linha de frente da luta por justiça social e direitos humanos, enfrentando diretamente a violência do sistema carcerário, a criminalização das populações negras e periféricas e as violações de direitos promovidas pelo Estado.

Sua atuação é essencial em movimentos por moradia digna, saúde, educação e segurança alimentar, além da defesa dos direitos territoriais de comunidades quilombolas, indígenas e tradicionais. Também desempenham um papel fundamental no fortalecimento da memória e da identidade da população negra, garantindo que suas histórias e contribuições para a sociedade brasileira sejam reconhecidas e valorizadas.

História da Marcha das Mulheres Negras

A Marcha das Mulheres Negras teve sua primeira edição em 2015, reunindo 100 mil mulheres em Brasília. O evento foi resultado de quatro anos de mobilização, iniciados em 2011, com ações em diversos estados e a formação de comitês estaduais e municipais. Esse processo fortaleceu a identidade política das mulheres negras, ampliou sua participação na esfera pública e impulsionou o crescimento de organizações femininas negras.

Um dos grandes marcos dessa mobilização foi a Carta das Mulheres Negras, documento entregue à Presidência da República e à sociedade brasileira. Nele, foram apresentados dados sobre desigualdade racial e de gênero, além de propostas para um novo pacto civilizatório baseado no conceito de Bem Viver. O documento abrange demandas por direitos urbanos, segurança pública, justiça ambiental, seguridade social, educação, cultura e outras pautas essenciais.

Desde então, as mulheres negras seguem “em marcha”, reforçando suas lutas por justiça e reparação histórica. Para a próxima edição, a expectativa é mobilizar 1 milhão de mulheres na capital federal, consolidando seu protagonismo na luta contra o racismo, o feminicídio, o genocídio da população negra e a negação dos direitos dos povos e comunidades tradicionais.

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver conta com 11 organizações em seu Comitê Nacional e se baseia em dois pilares fundamentais:

✊🏿 Bem Viver – Um modelo de sociedade que valoriza justiça social, equidade e cuidado coletivo, priorizando o bem comum em vez do individualismo. Defende a diversidade cultural, a autonomia das comunidades e uma gestão descentralizada.

✊🏿 Reparação Histórica – Uma luta por reconhecimento e justiça, exigindo reparação pelos danos da escravidão e do colonialismo. O foco está na restituição de direitos sobre o corpo, a cultura, a terra e a autonomia dos povos negros e indígenas.

A Marcha reafirma o compromisso das mulheres negras com a construção de um Brasil mais justo, igualitário e antirracista, fortalecendo redes locais, nacionais e internacionais de articulação feminista e política.

Fundo Baobá e o compromisso com a equidade racial

Sueli Carneiro, presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, destaca a relevância desse apoio:

“O Fundo Baobá foi criado com a ambição de ser um vetor fundamental para o fortalecimento da agenda racial no Brasil. Este apoio à Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver reflete nosso compromisso em tornar essa causa uma realidade concreta, reafirmando a necessidade da presença efetiva das mulheres negras nas decisões políticas e sociais. Investir nesse movimento é, para nós, uma ação estratégica rumo à justiça social.”

Além do suporte financeiro, o Fundo Baobá mobiliza outros atores da sociedade civil, ampliando a força da Marcha e garantindo sua realização em 2025.

O apoio à Marcha das Mulheres Negras 2025 representa um avanço significativo na luta por equidade racial, direitos humanos e justiça social. Com esse investimento, a organização reafirma seu compromisso com o fortalecimento da democracia e a defesa dos direitos das mulheres negras no Brasil.

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#JulhodasPretas ou As histórias que as mulheres negras contam em primeira pessoa

Diva Guimarães e Conceição Evaristo  por Walter Craveiro/El País

“Então um dia
Outras mulheres negras
Das mesmas fileiras que nós
Nos ensinaram que tudo que tínhamos aprendido
Era uma grande farsa.
Foi quando aprendemos a lutar.”

Desensinamentos, de Jenyffer Nascimento.


Conseguimos neste julho sair da invisibilidade imposta e sair também do lugar de protagonizar o ano somente em dois meses específicos: maio por conta das comemorações da abolição da escravatura e novembro, por conta do dia 20, dia nacional da consciência negra.

Julho foi farto, intenso e um mês marcado por iniciativas que marcaram a vida das mulheres negras em todo o país e que ficou conhecido como #JulhodasPretas.

A começar pelo dia 25 de julho, data que se comemora o Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, e para adquirirmos cada vez mais visibilidade, começamos a história com Tereza de Benguela, uma das maiores heroínas negras do Brasil.

“Rainha Tereza”, como ficou conhecida em seu tempo, viveu na década de XVIII no Vale do Guaporé, no Mato Grosso. Ela liderou o Quilombo de Quariterê após a morte de seu companheiro, José Piolho, morto por soldados. Segundo documentos da época, o lugar abrigava mais de 100 pessoas, com aproximadamente 79 negros e 30 índios. O quilombo resistiu da década de 1730 ao final do século. Tereza foi morta após ser capturada por soldados em 1770 – alguns dizem que a causa foi suicídio; outros, execução ou doença.    

Sua liderança se destacou com a criação de uma espécie de Parlamento e de um sistema de defesa. Ali, era cultivado o algodão, que servia posteriormente para a produção de tecidos. Havia também plantações de milho, feijão, mandioca, banana, entre outros.

Após ser capturada em 1770, o documento afirma: “em poucos dias expirou de pasmo. Morta ela, se lhe cortou a cabeça e se pôs no meio da praça daquele quilombo, em um alto poste, onde ficou para memória e exemplo dos que a vissem”. Alguns quilombolas conseguiram fugir ao ataque e o reconstruíram – mesmo assim, em 1777 foi novamente atacado pelo exército, sendo finalmente extinto em 1795. (https://goo.gl/n3QYZi )

 

Flip Preta


A grande e mais enegrecida de todas as suas edições, a 15ª FLIP (Feira Internacional de Literatura de Paraty) de 2017 foi fruto da luta e da reivindicação das mulheres negras na edição anterior, quando embora homenageando a poeta Ana Cristina Cesar e de ter 17 mulheres entre os 39 escritores de sua programação, não tinha nenhuma pessoa negra entre esses 39 nomes.

Na edição anterior, as escritoras Ana Maria Gonçalves e Conceição Evaristo tiveram falas bastante contundentes.sobre essa ausência. Conceição Evaristo questionou:
“Em 2008, na Alemanha, a então ministra da cultura Marta Suplicy, comentando sobre o baixo número de negros na comitiva do Brasil, respondeu a um repórter alemão que não existiam escritores negros brasileiros à altura daquele evento internacional. Neste ano, em Paris, na delegação brasileira, entre 42 pessoas, tinham apenas 3 negros. Era a cota para exemplificar a diversidade brasileira”.

Ana Maria Gonçalves foi ainda mais enfática sobre a importância da postura de luta para ser tratada como igual: “Faço literatura engajada, sobre política e gênero. É muito difícil para a gente ser respeitada como autora. Temos que brigar por nosso espaço, para sair desse lugar de personagem exótico. Precisamos mostrar nossa qualidade, outro ponto de vista. Ainda tenho a visão utópica da arte como instrumento de mudança da sociedade. É necessário abandonar modelos e estruturas obsoletas, como nossa política”, reitera. (https://goo.gl/GXD2qj )

Em 2017, a curadoria da Flip mudou. A jornalista cultural e historiadora Joselia Aguiar  assumiu a direção do empreitada e com isso parece que as mudanças foram de fato significativas, como a homenagem ao autor negro Lima Barreto e a presença de 10 escritoras e escritores negros entre 42 convidados: Conceição Evaristo, Ana Maria Gonçalves, Djaimilia Pereira de Almeida, Edimilson de Almeida Pereira, Grace Passô, Marlon James, Scholastique Mukasonga, Ricardo Aleixo, Paul Beatty e Lázaro Ramos.

A mesa de maior repercussão do evento, sob o tema A pele que habito, ficou por conta do ator e escritor Lázaro Ramos que optou por ler um capítulo que ficou de fora do seu recém lançado livro, “Na minha pele” – o título mais vendido da história da feira. Falou ainda sobre a importância de encararmos a grande problemática do Brasil hoje: o genocídio dos jovens negros, e foi enérgico ao afirmar que o próximo passo na discussão sobre racismo no país é a vergonha na cara.

Mas a grande surpresa foi Diva Guimarães, a grande estrela do evento, que não por acaso, nessa mesma mesa, teve todos os holofotes lançados para si ao emocionar as pessoas que ali estavam e todas as outras que puderam assistir ao seu vídeo que teve até o presente momento mais de 12 milhões de visualizações.

A professora Diva Guimarães é o retrato de uma geração de mulheres negras que foram caladas por muito tempo, que tiveram seus saberes negados por serem orais, por não virem respaldados por uma instituição acadêmica. Todas as mulheres negras têm ou já tiveram uma “Diva” dentro de suas casas.

Catálogo Intelectuais Negras Visíveis

Essa ausência de escritoras negras e negros na edição de 2016 da FLIP, teve como resposta uma carta aberta (https://goo.gl/HQFwiv ) aos organizadores da Feira, escrita pelas integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A carta assinada pela coordenadora do Grupo, a professora Giovana Xavier, questionava essa ausência e elencava uma série de escritoras negras que poderiam perfeitamente figurar entre as autoras convidadas: “Esse silenciamento do nosso existir em uma feira que se reivindica como cosmopolita, mas está mais para Arraiá da Branquidade, insere-se no passado-presente de escravidão, no qual a mulher negra é representada, vista e tratada como um corpo a ser dissecado. Um pedaço de carne que está no mundo para servir. Um objeto a ser estudado e narrado pelo outro branco. Foi assim com Maria Firmina dos Reis, mulher negra do Maranhão, autora de Úrsula, o primeiro romance abolicionista da história do Brasil, datado de 1859 e que, embora reeditado pela Editora Mulheres em 2004, mantém-se desconhecido da maioria das pessoas”.

Essa carta aberta foi o pontapé inicial para uma iniciativa inédita de mapeamento de mulheres negras e suas áreas de especialização, organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras. O catálogo intitulado Intelectuais Negras Visíveis reflete o lema usado pelo Grupo Intelectuais Negras em suas ações: “Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando a sua própria história”.

A publicação conta com projeto gráfico de Maria Júlia Ferreira, foi coordenada por Giovana Xavier, feita por Amanda Sanches, Conceição Seixas, Janete Ribeiro e Núbia Oliveira e editada em parceria com a Editora Malê. Os trabalhos das 153 profissionais negras listadas estão apresentados nas categorias: Academia e Pesquisa, Afroempreendedorismo, Artes (Cinema, Dança, Música, Teatro e TV), Artes Visuais, Coletivo de Mulheres Negras, Comunicação e Mídias, Direitos Humanos, Intelectuais Públicas, Literatura, Professoras de Educação Básica e Saúde.

 

Angela Davis na UFBA


E no dia em que é comemorado o dia da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha, a professora e filósofa estadunidense Angela Davis, lotou o salão nobre da reitoria da Universidade Federal da Bahia, com a conferência “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo”. O evento foi organizado pela UFBA em parceria com o Instituto Odara, o Coletivo Angela Davis, o Núcleo de Estudos Interdisciplinar da Mulher (NEIM) e a Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).

Angela Davis é ativista, filósofa e feminista negra, mundialmente conhecida por sua trajetória de contribuição política nos Estados Unidos pelos direitos civis das pessoas negras, a luta pela liberdade dos corpos das mulheres negras, contra o encarceramento em massa do povo preto, e pelo mundo sustentável.

A ativista afirmou ser “indescritível” a sensação de viver num país liderado por Trump. “Nós resistiremos. Em todos os dias da administração Trump, resistiremos. Resistiremos ao racismo, à exploração capitalista, ao hetero-patriarcado, à islamofobia e ao preconceito contra pessoas com deficiência. Defenderemos o meio ambiente dos ataques insistentes e predatórios do capital.”

Angela Davis fez menção ao movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), que, nos Estados Unidos, vem ganhando destaque nos últimos anos pela luta contra a violência policial que atinge mais incisiva e cotidianamente a população negra. “Nós sabemos que as transformações históricas sempre começam pelas pessoas. Essa é a mensagem do movimento Black Lives Matter. Quando as vidas negras começarem a realmente importar, significará que todas as vidas têm importância. Quando a vida das mulheres negras importar, o mundo será transformado e saberemos, com certeza, que todas as vidas importam”, destacou a ativista.

Angela Davis também denunciou a política de encarceramento em massa, que também se desdobra em racismo institucional, já que afeta desmedidamente a população negra. Destacou a necessidade de se combater as formas institucionais e individuais de violência e cerceamento de liberdades dessas populações, mas sem esbarrar em uma perspectiva de vingança.

“Esta é a chamada feminista negra por formas de justiça que não sejam vingativas. Mulheres negras representam o futuro. Mulheres negras são a esperança de liberdade. Não reivindicamos inclusão numa sociedade racista, misógina, patriarcal e capitalista. Afirmamos o feminismo abolicionista”, afirmou.

Outro ponto alto da fala foi  a política de cotas nas universidades brasileiras, elogiada pela ativista, que disse que os Estados Unidos, embora tentem há décadas implantar algo parecido, jamais conseguiram. “Admito que estou muito mais impactada com o sistema educacional brasileiro que com o norte-americano. Me lembro bem quando no Brasil começaram os debates e na Bahia já vejo ações concretas. Vi isso principalmente em Cachoeira, na Universidade do Recôncavo. Isso nos prova que é mesmo possível garantir acesso à educação formal à população que havia sido excluída historicamente”, defendeu.


Festival Latinidades


Dos dias 27/07 a 30/07 Brasília foi sede do Festival Latinidades – O maior festival de Mulheres Negras da América Latina – que comemorou 10 anos de existência. Foram 4 dias de debates, mesas, workshops e shows que contou com a presença de grandes mulheres negras como a cineasta Viviane Ferreira, a artista plástica Rosana Paulino, a artevista Erica Malunguinho, a afrotransfeminista Maria Clara Araújo dos Passos, a socióloga Vilma Reis, a Youtuber Nátaly Neri, a empresária Ana Paula Xongani, dentre tantas outras.

Com o tema – Horizontes de liberdade: afrofuturismo nas asas da Sankofa, o Latinidades colocou em pauta que tipo de sociedade que estamos construindo hoje.
O festival levantou, na primeira mesa, com o nome “Memórias de Visionárias”, a importância de disputar narrativas sobre a representação e a imagem dos negros nas artes, sejam elas plásticas ou visuais. A artista plástica Rosana Paulino foi enfática ao afirmar: “ É na escola que começa o bombardeio de imagens negativas. Nós temos que fazer o movimento contrário, o processo de substituição, o processo questionador, de livramento de peso, a proposição de novas narrativas e novas imagens”.

A segunda mesa de debates levantou o tema “Miragens do Futuro no Presente”.
A artevista Erica Malunguinho trouxe para a discussão o significado do adinkra Sankofa (que significa voltar no passado para ressignificar o presente) dizendo que:” Nós não somos Resistência, somos Existência! Temos que lembrar que não somos recorte, nós somos fundamento!”

A cineasta Viviane Ferreira, na mesa cujo título era “Afrontosas: agir para Transformar”, trouxe toda a potência de mulher negra do audiovisual com uma fala poderosa sob a necessidade imperiosa de ocupar os espaços hegemônicos: “Estamos em guerra há muito tempo e o audiovisual é o meu front de batalha, o que eu escolhi para guerrear pela disputa simbólica na imagem dos corpos negros. Quando eu digo que estamos em guerra é porque quando dizemos que somos cineastas negras, estamos batendo de frente com a hegemonia e eu digo: eu não abro mão da minha subjetividade para fazer cinema”.

Na mesma mesa, a socióloga Vilma Reis, ovacionada de pé pela plateia, destacou a relevância de ser negro e estar disputando os espaços acadêmicos: “Nas universidades não podemos ser um ponto preto no meio da festa branca, estar na universidade sendo uma pessoa negra consciente, pressupõe realizar tarefas. Nossos diplomas de graduação, mestrado e doutorado não são um fim em si mesmo. Eles não servem para nada, se não libertarem o nosso povo”.

A empresária Ana Paula Xongani falou sobre os processos de construção de sua marca, a Xongani, na mesa “Moda Preta: Poder, lacre e transformação”, e sobre como esses processos incidem na produção e no consumo de uma moda mais consciente: “Sobre processo, o meu start foi observar a minha comunidade e traduzir em peças o que ela está pensando, para que as pessoas saibam o que a gente está falando com essa linguagem não-verbal. Comprar moda afro consciente é mais caro. Mais do que produtores conscientes, precisamos de consumidores conscientes, pois isso é retroalimentado. Quem vai ser empregada é a sua filha, quem vai costurar é a sua tia, ou seja, quem é tá ganhando se não a gente? E tem mais, ser consciente na moda é mais do que consumir pouco, consumir moda vegana, é saber dos processos de transparência, é saber que todas as peças que estão no seu corpo não tem mãos negras escravizadas”.

O Festival Latinidades fechou a sua 10ª edição com um stand up da jornalista baiana Maíra Azevedo mais conhecida como Tia Má, que lotou o auditório do Museu Nacional e com o show da duo americano Oshun.  

Marcha das Mulheres Negras

E no último domingo de julho e fechando o #JulhodasPretas, o Rio de Janeiro sediou a III Marcha das Mulheres Negras, na Avenida Atlântica, na orla de Copacabana, Zona Sul. A marcha, que foi realizada em outras cidades como Salvador e São Paulo durante a semana, teve como objetivo chamar a atenção para a desigualdade e a discriminação racial vividas diariamente por mulheres negras em todo o País.

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado, entre 2005 e 2015, o percentual de negros e negras universitários saltou de 5,5% para 12,8%. No entanto, esse o crescimento positivo não é igual quando a análise é a ocupação de vagas no mercado formal de trabalho. Mesmo tendo aumentado o número de graduados, os negros continuam com baixa representatividade nas empresas.

Nas organizações, a desigualdade entre brancos e negros aparece de forma gritante. Segundo dados de uma pesquisa do Instituto Ethos, realizada no último ano, pessoas negras ocupam apenas 6,3% de cargos na gerência e 4,7% no quadro executivo, embora representem mais da metade da população brasileira.

Neste contexto, a presença de mulheres negras, em comparação aos homens, é ainda mais desfavorável: elas preenchem apenas 1,6% das posições na gerência e 0,4% no quadro executivo. A situação só se inverte nas vagas de início de carreira ou com baixa exigência de profissional, como em nível de aprendizes (57,5%) e trainees (58,2%).

Outro desafio da população negra é a disparidade salarial. Ainda que tenha diminuído nos últimos anos, os dados sobre desigualdade de renda continuam a registrar um desequilíbrio considerável entre brancos e negros no Brasil.

A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE indica isso. No início de sua série histórica, em 2003, um negro não ganhava nem metade do salário de um branco (48%). Atualmente, pouca coisa melhorou. Fazendo a mesma comparação, em 2015, um negro passou a ganhar pouco mais da metade dos rendimentos de um branco (59%).

Segundo uma das organizadoras da marcha, a psicóloga, professora e vice-presidente do Centro de Tradições Afro-Brasileiras (Cetrab), Dolores Lima, em entrevista à agência brasil (https://goo.gl/CTWL2N ), o espaço escolar segue como um dos lugares onde mais se tem recorrência de casos de racismo: “É uma escola do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21. Imagina isso reforçado pelo racismo, que coloca essas crianças fora desse sistema, porque não se enxergam e não se colocam ali dentro. Passam por um processo de discriminação, em que a própria instituição não prepara os profissionais para a discussão do racismo”.  

Que os passos das mulheres negras em julho sigam reverberando, indo por caminhos abertos pelas ancestrais, pavimentando os caminhos para as mulheres negras do futuro e fazendo de todas as mulheres negras, mulheres potentes e visíveis. Não nós esqueçamos das palavras de Azoilda Loreta da Trindade: “A invisibilidade é a morte em vida”. Vivamos.