No dia 23 de junho, o Fundo Baobá para Equidade Racial, ao lado do FA.VELA, organizou o evento virtual de encerramento das atividades formativas do Edital de Recuperação Econômica de Pequenos Negocios de Empreendedores (as) Negros (as).
Com o apoio do Instituto Coca-Cola Brasil, Coca-Cola Fundation, Banco BV e Instituto Votorantim, o Programa de Recuperação Econômica apoiou empreendimentos comandados por pessoas negras, localizados em comunidades periféricas, territórios rurais e urbanos, alguns em contexto de vulnerabilidade socioeconômica.
O evento contou com a participação dos 137 empreendedores, que compõem as 46 iniciativas apoiadas pelo edital, além dos membros da diretoria do Fundo Baobá e da equipe de planejamento, articulação e execução das formações coordenadas pelo FA.VELA.
Quem conduziu a primeira parte do evento de encerramento foi a auxiliar de projetos do FA.VELA, Lavínni Moraes, que apresentou dados referentes à jornada formativa com atividades síncronas e assincronas. Do dia 29 de março até o dia 22 de junho foram realizadas 30 aulas ao vivo, além de 17 aulas gravadas, em diversos formatos, como vídeo aulas e podcasts.
Ao longo do processo de formação, foi implementado um sistema de monitoramento, que culminou como uma boa fotografia dos esforços e dos resultados alcançados por empreendedores(as) que, em trio, compunham as iniciativas apoiadas. Por meio de um questionário aplicado no início e no final da capacitação foi perceptível a evolução dos empreendedores em muitos aspectos. No que diz respeito ao “Planejamento e Gestão de Negócios”, no primeiro mapeamento, 14% das iniciativas em funcionamento não tinham estruturação de metas e princípios. No segundo mapeamento, esse número foi zerado, mostrando que 100% das iniciativas em funcionamento contava agora com estruturação de metas e princípios.
Outro item que chamou atenção foi o das “Parcerias”. No primeiro questionário, apenas 49% das iniciativas contavam com parceiros de negócios. No final do curso, este número chegava a 87%.
No campo de “Comunicação e Marketing”, no primeiro mapeamento 62% das iniciativas investiam em comunicação e marketing. Porém, no segundo questionário, o número de iniciativas que passaram a investir nessa área subiu para 91%.
Foram apresentados também indicadores de desenvolvimento dos negócios individuais. No primeiro mapeamento, apenas 42% dos empreendimentos possuíam CNPJ, no segundo mapeamento este número subiu para 64%.
Sobre “Planejamento e Gestão de Negócios” em nível individual, no primeiro relatório, 57% funcionavam com estruturação de metas e princípios, porém no segundo relatório, o percentual subiu para 86%.
No campo de “Comunicação e Marketing”, cerca de 66% dos empreendimentos individuais investiram neste diferencial, entretanto, no segundo mapeamento, este número subiu para 77%.
Sobre “Parcerias”, se em um primeiro momento 68% dos empreendimentos contavam parceiros de negócios, no segundo mapeamento 83% dos empreendimentos funcionavam com parcerias.
Após apresentação dos indicadores de desempenho, foi realizada uma retrospectiva do conteúdo das aulas e uma apresentação dos professores e mentores que contribuíram com essa formação, Inclusive, as mentorias individuais foram bastante elogiadas. Uma pesquisa de satisfação mostrou que a cada 10 participantes, 9,84 ficaram satisfeitos com os atendimentos individuais personalizados.
Emoção tomou conta
A empreendedora Danieli Carvalho Silva, do Emprega – Oficina de Costura, juntamente com Ana Cristina Carvalho Silva e Ana Claudia Salgado, todas de São Paulo, foi a primeira a abrir a sessão de emocionados agradecimentos. Ela fez questão de lembrar que ser empreendedor é uma coisa que já está no sangue de cada um de nós: “A gente já é empreendedor. Temos isso na nossa cultura”, relembrou a empreendedora, que começou o seu primeiro negócio ainda na infância: “Eu tentei vender doce na porta da casa da minha avó, esse foi o meu primeiro treinamento, de conseguir vender, de saber o que é se relacionar com as pessoas e o que é trabalhar. Desde então, eu venho tentando conquistar o meu espaço”.
Danieli inscreveu o seu empreendimento ao lado da mãe e da tia. Agradeceu pela oportunidade de participar do Programa de Recuperação Econômica do Fundo Baobá, principalmente por se sentir mais fortalecida: “O programa me mostrou que se eu não estiver fortalecida e se eu não tiver o meu próprio negócio, como que eu vou conseguir gerar renda para outras pessoas? Então, dentro do nosso projeto, que é empreender e ensinar as pessoas por meio da costura, outras pessoas negras podem ter o seu próprio negócio. A gente conseguiu desenvolver uma marca e com as aulas e as conversas que a gente teve, conseguimos nos organizar melhor”, afirmou.
Pauliana Rita do Nascimento, da Turismo Rural, Tradições Quilombola, do estado da Paraíba, estava exultante com uma decisão tomada por sua irmã e parceira de negócio Severina Maria do Nascimento. A terceira componente é a também irmã, Edinalva Rita do Nascimento. “Estou muito grata pela grande surpresa que tive ao longo desse processo. Nossa iniciativa é formada por três irmãs. A Severina falou que vai voltar a estudar. Ela percebeu que, independente da idade, é possível sim”, disse.
Dayana Barros Oliveira, do Pescadoras Artesanais Beneficiárias e Integradas, do Rio de Janeiro, tem como parceiras Luciana Oliveira Machado e Erlineia Barros de Sousa Viana. Dayana comemorou a evolução da comunicação do negócio das pescadoras. “Aprendi muito e quero levar isso para o resto da vida. Antes, ninguém sabia do nosso negócio. Nunca tínhamos colocado em nada. Agora, estamos no Facebook, no Instagram e muita gente já está nos procurando”, afirmou em declaração que foi sustentada por sua parceira de negócio Luciana: “Agradeço ao FA.VELA e ao Baobá por terem mudado nossas vidas”.
Falando pelo FA.VELA, João Souza, seu co-fundador e diretor de novos negócios e parcerias, elogiou a perseverança das e dos envolvidos. “Muitas falas bem potentes aqui. Isso é muito rico, porque deu certo. Ter esses feedbacks de vocês fazem a gente ver que está no caminho certo.”
Finalizando o evento, a diretora executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, falou do caráter de mudança social que o edital de Recuperação Econômica tem. “Sofremos todas as consequências que o racismo impõe em nossa sociedade. Acreditamos no trabalho de todos vocês. Não temos dúvida de que investir nos empreendedores negros é o que vai mexer nessa estrutura social”, concluiu.