As barreiras que quatro jovens negras enfrentam para ingressar nos cursos mais concorridos da universidade pública

As estudantes Luiza, Emily, Isabella e Clarissa sonham em estudar na universidade mais cobiçada do país, a USP

Por Kátia Flora, do Perifaconnection, em parceria com o Fundo Baobá para Equidade Racial

A escolha de um curso superior para jovens que terminam o ensino médio não é uma tarefa fácil. A maioria sai de escolas públicas sem perspectivas, por falta de um ensino de qualidade e que dê suporte ao estudante para ingressar numa universidade. Por isso, o auxílio de políticas públicas têm reforçado o incentivo para esses candidatos, como a Lei 12.711, conhecida como a Lei de Cotas, que serviu para a diminuição desse cenário desigual na educação.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados no estudo  Desigualdade Sociais por Cor ou Raça Brasil (2019),  mostram  que pretos e pardos representam 50,3% do número de estudantes no ensino superior vindo da rede pública. Apesar desse avanço, de acordo com a Quero Bolsa, plataforma de inclusão no ensino superior, a taxa de estudantes negros para medicina é menor que 30%.Os cursos de psicologia e biologia seguem na mesma proporção.

Iniciativas como o Programa Já É, do Fundo Baobá, tendem a melhorar esse panorama na sociedade e viabilizar a entrada dos estudantes negros nas universidades.

É o caso da Luiza Firmino Gabriel, 18 anos, uma das jovens selecionadas que pretende fazer medicina. O seu sonho é entrar na Universidade de São Paulo (USP) e para isso tem o apoio da mãe Cíntia Firmino Gabriel, 52 anos, professora do ensino fundamental que incentiva a filha a focar nos livros de literatura para os vestibulares. Luiza promete se dedicar aos estudos e fica entusiasmada com a oportunidade que está recebendo. “Será uma conquista para uma jovem negra ser médica pediatra”, diz.

Luiza Firmino Gabriel, 18 anos

A estudante, moradora do bairro Vila Porto, em Barueri, região metropolitana de São Paulo, afirma que na área de medicina não tem referência de profissionais por ter poucos médicos negros. Mas, ela quer fazer a diferença e inspirar jovens a seguir seu caminho. “Tenho vontade de fazer engajamento social como médica e incentivar outras adolescentes negras com o meu trabalho”.

Emily Tauany Souza Andrade Pereira, 19 anos, também quer exercer medicina e conta que a vontade surgiu quando estava no ensino fundamental, nas aulas de biologia e ciências. “Me apaixonei pela profissão que estuda o corpo humano, é fascinante”, diz entusiasmada.

Atualmente, ela trabalha como jovem aprendiz em uma instituição bancária, seis horas por dia. O contrato será encerrado no mês de março deste ano, e assim a estudante vai ter mais tempo para se empenhar no curso pré-vestibular. Emily, moradora do Parque Fernanda, região do Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, tem o apoio dos dois irmãos e da mãe, Marinalva Juvina de Souza, 52 anos, para alcançar o seu sonho.

Emily Tauany Souza Andrade Pereira, 19 anos

O desejo da futura médica pela área de saúde é tão intenso que ela já sabe em qual área pretende seguir: ser cirurgiã torácica. “Nesta especialidade que quero trabalhar vejo muitos homens brancos, não tem referência de negros. Infelizmente a medicina é muito elitista”, enfatiza.

O caso de Isabella Alcântara dos Santos, 17 anos, é um pouco diferente. Antes o seu sonho era cursar medicina, assim como Emily. No entanto, a jovem passou a buscar mais informações sobre a área e percebeu, no primeiro ano do ensino médio, que tem mais afinidade com a área da psicologia. Dedicada aos estudos, a moradora da Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, no ano passado, durante a pandemia, reservava parte do dia para pesquisa dos trabalhos e cursos online.

Isabellla está muito feliz por ser a primeira da família a fazer um curso pré-vestibular e quer estimular o irmão a seguir o mesmo caminho.”Vejo como uma coisa muito boa, no intuito de realizar meu sonho, entrar na USP. Para quem mora na periferia, as dificuldades são muitas, mas não olho pra isso e sim pra onde quero chegar. Penso em abrir meu consultório e atender adolescentes que sofrem com depressão, ansiedade. Eles precisam de cuidado e atenção”.

Isabella Alcântara dos Santos, 17 anos

Com as notícias sobre a pandemia, os insumos e a eficácia das vacinas, despertaram ainda mais o desejo da estudante Clarissa Beatriz da Costa Bulling, 18 anos, em cursar Biologia .”É isso que eu quero seguir no futuro, fazer parte desse meio cientifico”, diz orgulhosa.

A vontade de se aperfeiçoar nesta área surgiu no início de 2020, quando foi com a mãe e o irmão viajar para Manaus. Ao conhecer a cidade, ela se encantou com as florestas, rios e plantas do local.

Clarissa Beatriz da Costa Bulling, 18 anos

Clarissa mora com a mãe e o irmão mais novo. Residem numa casa de cinco cômodos alugada, ela divide o quarto com o irmão, e tem um espaço para guardar os livros e estudar. Com o apoio da família, que mora no bairro Monte Azul, na Zona Sul de São Paulo, e da bolsa de estudos do Programa Já É, a jovem planeja conquistar seus objetivos. Neste ano pretende se compenetrar nos estudos e entrar na USP para cursar biologia. “Quero conviver com a natureza, isso é tudo pra mim”.

Essas jovens têm sonhos e metas, querem vencer obstáculos, mesmo com toda adversidade e barreiras. As famílias são a base para que elas alcancem seus propósitos e as estudantes veem, na iniciativa do  Fundo Baobá, a possibilidade de estimular outros jovens pretos e pardos.

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