O Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, lançado em setembro de 2019 pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, teve evento inaugural no Rio de Janeiro. Além da família da vereadora assassinada em 14 de março de 2018, estiveram presentes cerca de 250 pessoas entre elas financiadores, membros da Assembleias Geral e Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, lideranças do movimento de mulheres negras, movimento negro e do movimento feminista. O principal, porém, estava por vir quando das inscrições e definição dos nomes das mulheres que receberam apoio financeiro e técnico para ampliação de suas habilidades.
Entre tantas mulheres que, com seus esforços, vêm transformando as vidas de outras estão a advogada, atriz e mestra em Ciências Sociais Dina Alves e a também advogada, com pós-graduação em Direito Penal, Lorena Borges. A primeira é de São Paulo e a segunda, de Minas Gerais.
O fato de estarem sendo apoiadas pelo Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco tem dado um incremento maior à vida dessas mulheres. Dina, por exemplo, tem utilizado as diferentes plataformas em que atua para ampliar a defesa dos direitos das mulheres negras. “Minha atuação está focada em múltiplas dimensões (profissional, acadêmica e ativista) na luta e defesa intransigente pela vida das mulheres negras. Atuar nestas dimensões tem me permitido construir uma agenda de Direitos Humanos racializada junto a mulheres negras em diferentes pautas. Assim, tenho construido redes e identificado atores na luta contra o genocídio antinegro a partir da pauta do encarceramento e mortes” diz.
Lorena Borges encontrou significância na atuação com os povos quilombolas e na defesa de sua cultura em Minas Gerais. “Atuo como diretora cultural de eventos da Juventude de Terreiro Cenarab – MG (Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira). Faço parte da comunidade quilombola Manzo N’gunzu Kaiango, onde atuo no desenvolvimento, gestão e execução de projetos. O nosso principal eixo de atuação é o desenvolvimento e emancipação das mulheres da nossa comunidade. Meus trabalhos são voltados para o empoderamento e para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna, onde a igualdade de gênero e racial estejam presentes. Para isso organizo e ministro formações, palestras e oficinas em comunidades tradicionais de matriz africana”, afirma.
O trabalho que Lorena vem desenvolvendo tem ajudado na preservação da memória cultural das raízes africanas. “Através deste trabalho alcançamos o fortalecimento e a criação de redes entre nós, que além de possibilitar troca de saberes também ajudam na organização das comunidades tradicionais de matriz africana e geram visibilidade e engajamento para nossas ações”, diz. Já o trabalho de Dina tem foco nas mulheres encarceradas. “A construção de redes em torno do debate sobre encarceramento em massa, feminismo negro e abolicionismo penal passa pelo fortalecimento da nossa identidade de mulher negra na luta antirracista. Estes anos de estudos e ativismo me proporcionaram acúmulo teórico e inspiração para fortalecer as redes e os vínculos com diversos coletivos feministas nacionais e internacionais”, conclui.
Ser parte do Programa de Aceleração tem contribuído para que Dina siga investindo na defesa das mulheres privadas de liberdade e ainda incremente o intercâmbio entre as mulheres negras em diferentes territórios. “O fortalecimento das redes de mulheres negras traduz-se em fortalecimento da nossa autonomia, independência e autoconhecimento. As trocas sobre a política do autocuidado e da importância da preservação de dados pessoais – num contexto de assustador incremento da violência contra as mulheres negras – são conquistas imensuráveis”, afirma Dina.
Lorena Borges também comemora o fato de estar no Programa de Aceleração. “Os avanços na minha formação acadêmica e os caminhos que venho traçando em prol de me consolidar como pesquisadora me trazem grande satisfação. Significa estar honrando a minha ancestralidade e contribuindo com as gerações futuras”, conclui.
Sobre o programa
O Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, é uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial, lançada em setembro de 2019, em parceria com a Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations.
O intuito do Programa é fomentar lideranças femininas negras, de forma individual ou coletiva. Para que mulheres negras tenham mais subsídios para acessar espaços de tomada de decisão; mobilizem mais pessoas para a luta antirracista, por justiça, equidade racial e social e transformem o mundo a partir de suas experiências.