Troca de experiências sobre meninas e mulheres nas Ciências

Projeto promove encontro entre estudantes do ensino médio e pesquisadoras para discutir a participação das mulheres em carreiras nas Ciências.

Investiga Menina, projeto financiado pelo Fundo Baobá, por meio do Edital Negras Potências, promoveu, em 15 de março, um encontro presencial entre as estudantes do ensino médio e pesquisadoras negras. Essa é a 4ª edição do projeto, que acontece na cidade de Goiânia (Goiás) e impacta diretamente, 150 alunas/os do Colégio Estadual Solon Amaral.

Clarissa Alves Bernardes, 17 anos, relata que o  projeto Investiga Menina trouxe para ela uma nova perspectiva para encarar a realidade. “Com as aulas ministradas e as conversas que tivemos, consegui me encontrar como uma mulher que sonha produzir Ciências. Com a ajuda do Investiga Menina, mantenho esse sonho vivo dentro de mim. Antes de ser apresentada ao projeto, confesso que estava confusa quanto ao meu futuro, entretanto após o projeto posso afirmar, com toda certeza, que a carreira científica é o que quero para mim”.

As beneficiárias do Investiga Menina são jovens como Clarissa, estudantes do ensino médio e também integrantes e participantes do Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado.

O projeto existe desde 2016, está na 4ª edição e com o apoio do Negras Potências vai até o mês de agosto de 2019. A iniciativa é da professora de química, Anna Maria Canavarro Benite, vinculada a Universidade Federal de Goiás (UFG), doutora em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).
Segundo Anna Maria não se discute a produção de mulheres em sala de aula, muito menos as influências dessas produções para a sociedade. E, quando o recorte é racial, não se tem notícias em currículo oficial ou material didático, sobre qualquer mulher negra brasileira cuja contribuição seja celebrada no mundo acadêmico.

O projeto surge da parceria entre o Laboratório de Pesquisa em Educação Química e Inclusão – LPEQI-UFG e o Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado, e atua na aproximação entre as  estudantes e as práticas científicas por meio de ações direcionadas em laboratórios de química. O projeto visibiliza as práticas, as pesquisas e as histórias de vida realizando entrevistas com as cientistas brasileiras, possibilitando que elas visitem a escola parceira, destacando as suas contribuições e inspirando estudantes do ensino médio a seguirem as carreiras das exatas e científicas.

O apoio ao projeto, liderado pela professora de química, está ancorado na missão estratégica do Fundo Baobá para equidade racial, na medida em que o direito à educação de qualidade é um dos eixos estratégicos de atuação do Fundo. O investimento no projeto Investiga Menina se dá por meio do edital Negras Potências. O investimento do Fundo Baobá em educação está alinhado com o Programa de Ação da Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial e Intolerâncias Correlatas (2001) que reitera a importância do reconhecimento das contribuições culturais, econômicas, políticas e científicas feitas por africanos e afrodescendentes e com a Agenda Global de Desenvolvimento Sustentável onde, em 2015, os países se comprometeram a alcançar uma série de metas, entre elas, assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos e todas.

Saiba mais:
Dia 28 de abril é comemorado o Dia Internacional da Educação, essa data foi escolhida, pois foi exatamente nesse dia que terminava o Fórum Mundial de Educação, realizado em Dakar, no Senegal, no ano 2000. A data é lembrada como uma oportunidade de reflexão entre educadores, alunos e pais sobre a qualidade de ensino oferecido e a importância dos valores educacionais para a formação de crianças, adolescentes e adultos.

Os países que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU) definiram, em 2015,  uma agenda de desenvolvimento sustentável composta por 17 objetivos, conhecidos como Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030. Para a conexão entre ciência e mulheres destacamos os: o ODS 4 Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos, em especial a meta 4.5 eliminar as disparidades de gênero na educação e garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo as pessoas com deficiência, povos indígenas e as crianças em situação de vulnerabilidade e o ODS 5 Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas, na meta  5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres.


Imagem: Alunas/os do Colégio Estadual Solon Amaral

Calendário do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco

Investir na promoção da equidade racial, por meio de aportes financeiros em iniciativas individuais ou coletivas direcionadas exclusivamente para a população negra é a missão do Fundo Baobá e dialoga com os esforços na luta contra o racismo e pela eliminação da discriminação racial.

O Fundo Baobá acredita que, com mais estrutura, investimentos e oportunidades, as mulheres negras líderes que atuam em diversos campos poderão:

  • acessar espaços de poder (simbólico e material);
  • mobilizar mais pessoas para a luta contra o racismo, por equidade racial e justiça social; e
  • transformar o mundo a partir de suas experiências.

Juntando esforços para investir nessas potências, o Instituto Ibirapitanga, Ford Foundation e Open Society Foundation, doaram juntos U$ 3 milhões ao Fundo Baobá, que lançará o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. A maior parte do recurso, cerca de R$10 milhões, será aplicada no apoio direto às organizações, grupos, coletivos e lideranças femininas negras.

Editais

Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Liderança Femininas Negras: Marielle Franco, com vigência de 2019 a 2024, tem como foco ampliar e consolidar a participação de lideranças femininas negras em posições de poder e influência por meio do investimento em formação política e técnica, fortalecer organizações, grupos e coletivos de mulheres negras e, ao mesmo tempo, fazer um tributo à trajetória e à vida de Marielle Franco, brutalmente assassinada aos 14 dias de março de 2018.

O programa começa com o lançamento de dois editais. No primeiro, “Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras”, aproximadamente 60 mulheres negras terão seu desenvolvimento acelerado, por meio da oferta das ferramentas essenciais para que elas, que já são lideranças em diversos campos de atuação, possam acessar espaços de poder – simbólico e material, transformando o mundo a partir de suas experiências, por justiça e equidade social e racial.
Já no edital “Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras”. cerca de 10 organizações da sociedade civil, grupos e coletivos de mulheres negras também poderão ser apoiadas.

Lançamento

Os editais serão lançados em 03 de setembro de 2019. A seleção e divulgação das propostas escolhidas acontecerá até novembro de 2019. Veja o novo cronograma abaixo e assine nossa newsletter para ver todas as novidades! 

Para saber mais

O Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao Massacre de Shaperville, que ocorreu na mesma data em 1960, na África do Sul.

Programa Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras

Apresentando o Programa
Na contribuição da construção de uma sociedade mais justa e equânime para todas e todos, o Fundo Baobá em parceria com a Ford Foundation, Open Society Foundations, Instituto Ibirapitanga e a W.K. Kellogg Foundation, apresenta as diretivas do Programa  Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras.

O “Programa Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras”, foi concebido para ampliar a participação e consolidar mulheres negras em posições de poder e influência, através de investimento em suas formações políticas e técnicas.

Os resultados imediatos esperados pelo Programa são em duas frentes:
1- Organizações, coletivos e grupos de mulheres fortalecidos em suas capacidades, atuando em redes e potencializando a liderança de mulheres negras;
2- Lideranças negras fortalecidas em suas capacidades políticas e técnicas e atuando em espaços de poder na sociedade civil organizada, no setor privado ou público governamental.

Para que os resultados sejam alcançados, o Programa empenhará esforços técnicos, políticos e financeiros para ampliar e aprimorar capacidades, conhecimentos e habilidades individuais ou institucionais, priorizando os investimentos em:
1- Reforço de capacidades das organizações, coletivos e grupos de mulheres negras;
2- Formação política e técnica de lideranças femininas negras que já atuam em diferentes áreas, setores e territórios, de modo institucionalizado ou não.

O Programa terá 5 anos de duração e suas principais proposições são:
1- Acelerar o desenvolvimento político e técnico de lideranças femininas negras de diferentes idades, orientações sexuais e identidades de gênero, residentes em diferentes estados da federação, nas zonas urbanas e rurais, nas periferias ou nas regiões centrais, e que atuem em diferentes áreas e setores;
2- Fomentar atividades de educação entre pares e atividades colaborativas conduzidas pelas lideranças apoiadas pelo Programa, para compartilhamento de conhecimentos, boas práticas e lições aprendidas
3- Contribuir para que essas mulheres líderes sejam reconhecidas como agentes de mudança;
4- Inserir lideranças com perfil técnico em posições de influência ou tomada de decisão;
5- Fortalecer capacidades de organizações, coletivos e grupos de diferentes regiões do país;
6- Instituir espaços permanentes para intercâmbio;
7- Estimular as ações em rede;
8- Realizar ações de comunicação e mobilização social.

Das lideranças femininas negras apoiadas pelo Programa, espera-se que elas desenvolvam ou aprimorem:
1- a percepção do momento histórico, a consciência e criticidade para ler as circunstâncias, os contextos e dinâmicas territoriais em que vivem;
2-  habilidades extras de relacionamento que levem a persuasão de um amplo grupo, com vistas a efetivação de transformações políticas, econômicas e sociais;
3- a desenvoltura política que lhes permitam ocupar espaços estratégicos em organizações de grande e pequeno portes, locais, nacionais ou internacionais, no setor privado, em instituições públicas governamentais atuando de modo diferente, ousado, criativo e inovador, em busca de objetivos coletivos e explorando da melhor forma suas capacidades técnicas e de liderança.

A sociedade brasileira ainda não reconhece a mulher negra como agente de desenvolvimento social, político, econômico, científico, cultural e ambiental, sendo assim, o principal desafio a ser enfrentado pelo Programa é contribuir para que as mulheres negras, em sua diversidade, consolidem-se como lideranças políticas e ocupem espaços e posições de poder simbólico e material seja em espaços comunitários, sindicatos, associações, coletivos não governamentais organizados; no setor privado; ou mesmo nas estruturas formais do Estado (poderes Executivo, Legislativo, Judiciário), em diferentes setores e áreas de atuação.

Números e estatísticas que justificam o Programa
O último censo demográfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, revelou que a população negra (pessoas autodeclaradas pretas ou pardas) residente no país é de 50,7% (7,6% pretas e 43,1% pardas) e dentro desse número, 53% é composto por mulheres negras.

Nas estatísticas de gênero do IBGE, as desigualdades raciais existem e persistem, onde a taxa de conclusão do ensino superior na faixa etária de 27 a 30 anos foi de 26,5/1000 para homens brancos, 31,6/1000 para mulheres brancas, 9,4/1000 para homens negros e 14,6/1000 para mulheres negras.

No universo acadêmico a proporção de bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que se identificou como negra não chegou a 30%, no período de 2013 a 2017. 35% das bolsas concedidas nas Ciências Exatas e da Terra ou Engenharias são destinadas às mulheres, dentre as bolsistas, somente 26% são negras. Mulheres Negras com doutorado correspondem a 3% do total de docentes da pós graduação. Já as mulheres brancas com a mesma escolaridade na docência da pós são pouco mais de 10 mil ou 19% do total de 53.995 professores nos cursos de doutorado, mestrado e especialização.

Ainda segundo o IBGE, em 2016 a participação proporcional de mulheres em cargos gerenciais correspondia a 39,1% do total, entre as 3.527.000 mulheres que ocupavam estes cargos, 2.511.000 eram brancas e 962.000 eram negras. Em 2017 contabilizou-se 28 cargos ministeriais no governo, dos quais 7,1% eram ocupados por mulheres.

Quando o tema é participação política, das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados, 54 eram ocupadas por mulheres e no Senado eram 13, num universo de 81.

De acordo com levantamento feito pela plataforma Mulheres Negras Decidem, em 2014, apenas 2,5% das despesas de todos os candidatos ao legislativo estava relacionada a candidaturas de mulheres negras, como consequência direta a elegibilidade total neste grupo foi de apenas 1,6%.

A disparidade é tão contundente que somente em 2016, o Senado brasileiro construiu o primeiro banheiro feminino do plenário, até a data, as parlamentares usavam o do restaurante anexo disponível desde 1979, quando a primeira senadora foi eleita. Esse “detalhe” é somente um indicativo de que o local e  – logo, a política – não eram pensados para as mulheres os ocupassem.

O setor privado não apresenta números diferentes. Segundo levantamento do Instituto Ethos feito junto às 500 maiores empresas que atuam no país, apenas 4,7% dos cargos executivos são ocupados por negros; 6,3% dos gerenciais; e 35,7% da folha funcional. Dentre estes, a minoria quase absoluta é composta por mulheres. A revista Forbes, em sua edição de novembro de 2017 elegeu 40 mulheres poderosas, seja por terem recuperado grandes organizações, porque as administram ou porque formam opiniões, ditam moda e inspiram atitudes, dentre elas apenas 1 era negra.

Na Revista Fortune de 2018, dos 500 CEOs eleitos, apenas 24 eram mulheres, ou seja, menos de 5% da lista, das 24 mulheres, somente 2 eram não-brancas e na lista não há nenhuma mulher negra.

De acordo com dados divulgados durante o Fórum Econômico Mundial (2018), existe uma diferença econômica de 58% entre homens e mulheres e vai levar 217 anos para que mulheres tenham o mesmo salário que os homens e alcancem assim representatividade igualitária no mercado de trabalho. O cálculo é feito medindo a quantidade de homens e mulheres que participam da força de trabalho, seus rendimentos e o progresso no trabalho de acordo com os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).   

As mulheres negras lutam desde as primeiras décadas por plena participação política, pelo direito de votar e pela efetividade ao direito de ser a ser votada, como fazia questão de destacar Antonieta de Barros, primeira mulher negra eleita como deputada, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (1934/1937).

O que começou com Antonieta de Barros, certamente não se encerrou em Marielle Franco, ao ter sua vida arrancada de forma extremamente violenta. Nas eleições de 2018, foram eleitas, as mulheres negras: Benedita da Silva (Deputada Federal pelo Rio de Janeiro); Leci Brandão (Deputada Estadual por São Paulo); Olivia Santana (Deputada Estadual pela Bahia); Renata Souza (Deputada Estadual pelo Rio de Janeiro); Dani Monteiro (Deputada Estadual pelo Rio de Janeiro); Mônica Francisco (Deputada Estadual pelo Rio de Janeiro); Talíria Petrone (Deputada Federal pelo Rio de Janeiro); Áurea Carolina (Deputada Federal por Minas Gerais); Leninha (Deputada Estadual por Minas Gerais); Érica Malunguinho (primeira mulher trans Deputada Estadual por São Paulo); Robeyoncé Lima (primeira mulher trans Deputada Estadual por Pernambuco) e Andreia de Jesus (Deputada Estadual por Minas Gerais).

O Programa Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras é a busca de uma paridade real, em todos os lugares, instituições, organizações, sindicatos, empresas privadas e públicas, organismos internacionais, estruturas formais do Estado (Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário) e coletivos, para que cada vez mais, as vozes, as falas, e a produção intelectual das mulheres negras em papel de liderança sejam ouvidas, percebidas e reconhecidas nos espaços onde o poder simbólico e material é exercido.

O Programa foi concebido e será implementado para que mais mulheres negras quebrem o “teto de vidro” e possam fazer das suas capacidades de organização e liderança pontes para que cada vez menos mulheres negras fiquem para trás.

 “Das mulheres negras apoiadas pelo Programa espera-se que a busca pela equidade racial seja primazia em todo e qualquer lugar que venham ocupar, sendo o Programa não um formador, mas sim um otimizador na aceleração do desenvolvimento e ampliação de suas capacidades. Em suas comunidades, organizações, coletivos, grupos, movimentos e instituições, estas mulheres já lideram. Nosso esforço é para e que elas possam ir além”, destaca Fernanda Lopes, Diretora de Programa do Fundo Baobá.

O cronograma com as principais atividades do ano 1 do Programa serão apresentados ainda no mês de março de 2019, e as ações propriamente ditas terão início no segundo semestre.

Em parceria, o Instituto Ibirapitanga, Ford Foundation  e Open Society Foundation doaram o total de recursos financeiros  que correspondem a U$ 3,000,000, para a realização do Programa Marielle Franco de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras. Este recurso foi potencializado em função da nossa parceria estabelecida com a W.K. Kellogg Foundation, que prevê a obtenção de contrapartidas para recursos arrecadados pelo Fundo Baobá, onde haverá contrapartida conhecida como matchfunding (3 para 1 em caso de doações nacionais e 2 para 1 em caso de doações internacionais). Neste caso a alavancagem total foi de U$ 7.000,00, sendo que, 50% ou seja U$ 3,500,000, serão aplicados no desenvolvimento do Programa  e operacionalização institucional e  a outra metade dos recursos doados pela W.K. Kellogg Foundation que correspondem a U$ 3,500,000, irão compor o fundo patrimonial da instituição, visando a formação de um mecanismo financeiro que gere sustentabilidade em médio e longo prazos.

“Essa é uma parceria importantíssima. A coalizão de 4 fundações na luta em prol da equidade racial é uma resposta contundente, acerca da relevância e urgência para a pauta da equidade racial no Brasil. Ver a mobilização de novos atores para o campo das relações raciais, a fim de contribuir para a eliminação do racismo e iniquidades históricas que afetam majoritariamente a população negra, nos dá a certeza que este movimento de parceria será observado como uma boa prática e irá gerar novos doadores interessados em se aliar ao Fundo Baobá, para juntos construirmos um país mais justo e equânime”, afirma Selma Moreira, Diretora executiva do Fundo Baobá.

Quem foi Marielle Franco
Marielle Francisco da Silva (Marielle Franco) era mulher negra, mãe, socióloga formada pela PUC-Rio, onde ingressou através do Programa Universidade para Todos (Prouni), com mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense(UFF) com o tema “UPP: a redução da favela em três letras”, em sua primeira disputa eleitoral foi a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro em 2016, com 46.502 votos, coordenava a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, presidiu a Comissão permanente de Defesa da Mulher também na Alerj, era uma dos quatro relatores da comissão que monitorava a intervenção federal na segurança pública do estado, trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm),  com temas de cultura e educação através de três eixos: raça, gênero e cidade.

Iniciou sua militância em Direitos Humanos após ingressar no pré vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, na ‘guerra às drogas’ no Complexo da Maré.

Era mãe de Luyara dos Santos, 19 anos e esposa de Mônica Benício.

Marielle Franco foi assassinada aos 38 anos, dentro do seu carro, na noite de 14 de março de 2018 no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, após sair de encontro de mulheres negras intitulado “Jovens Negras Movendo as Estruturas”. Além da vereadora, Anderson Pedro Gomes, motorista do veículo, também foi baleado e veio a falecer.

Para além de toda a repercussão nacional, o assassinato de Marielle Franco ganhou eco fora do Brasil, jornais como The New York Time, The Washington Post, The Guardian e a rede ABC News noticiaram o caso.

Até a data presente (08/02/2019), quase 11 meses após o seu assassinato, os culpados ainda não foram apontados.

Bolsas de Pós Graduação para Estudantes Negros em Universidades Americanas

O Fundo Baobá, comprometido em fomentar a equidade racial e na formação de lideranças negras, junto com a W.K. Kellogg Foundations, firmou parceria com a Fundação Lemann, organização não-governamental sem fins lucrativos que trabalha com educação e formação de lideranças, na criação e administração de um fundo patrimonial de R$ 7,5 milhões de reais voltado para o apoio a estudantes negros brasileiros através de bolsas de pós graduação nas universidades de Harvard, Columbia, Stanford e MIT.

O recurso doado pela Fundação Lemann irá compor o fundo patrimonial – compromisso firmado entre a W.K. Kellogg Foundation e o Fundo Baobá em 2011.

O fundo patrimonial terá cinco por cento dos seus rendimentos destinados à concessão das bolsas para estudantes negros em programas de pós graduação nas áreas de:
– Saúde
– Educação
– Gestão Pública.

As universidades parceiras do Programa Lemann Fellowship, da Fundação Lemann, são: Harvard, Columbia, Stanford, MIT, Illinois de Urbana-Champaign (UIUC) e Oxford.

Essas Instituições, em colaboração com a Fundação Lemann, há mais de 10 anos oferecem bolsas individuais e oportunidades de desenvolvimento profissional a pessoas que trabalham com impacto social.

Como funciona o fundo patrimonial
Por meio de práticas jurídicas, administrativas e de gestão pautadas na transparência, o Fundo Baobá está construindo um Fundo Patrimonial formado por doações contínuas de empresas, organizações e pessoas físicas. Essas doações recebem uma contrapartida da Fundação Kellogg, sendo de 3 para 1 em caso de doações nacionais e 2 para 1 em caso de doações internacionais, em um processo conhecido por matchfunding.

“O Baobá é a única organização brasileira que opera com exclusividade em prol da equidade racial, mobilizando pessoas e recursos, no Brasil e no Exterior, com vistas a apoiar projetos que promovam a justiça social através de organizações afro-brasileiras da sociedade civil”, explica Selma Moreira, Diretora Executiva.

“As experiências adquiridas em instituições internacionais de excelência são elementos que ainda faltam no processo de desenvolvimento de capacidades de estudantes brasileiros negros. A parceria estabelecida entre Fundo Baobá, W.K. Kellogg Foundation e Fundação Lemann é de suma importância para a população negra e a sociedade brasileira como um todo porque reitera que as transformações sociais se sustentam caso haja melhor e maior investimento na educação, na interculturalidade e na ampliação das redes de contatos”, afirma Fernanda Lopes, Diretora de Programa do Fundo Baobá.

Para concorrerem às bolsas, os estudantes deverão participar do Ponte de Talentos, programa preparatório da Fundação Lemann, que está aberto até o dia 10 de fevereiro.

As bolsas integrais oferecidas pela parceria entre Fundo  Baobá, W.K. Kellogg Foundation e Fundação Lemann estarão disponíveis para os estudantes aceitos pelas universidades parceiras a partir de 2021.


Na imagem: Selma Moreira (Diretora Executiva – Fundo Baobá), Felipe Proto (Gerente de Projetos – Lemann), Fernanda Lopes (Diretora de Programa – Fundo Baobá), Luciana Elmais (Analista de Projeto – Lemann) e Neimy Escobar (Coordenadora de Projetos – Lemann).

A Resistência como prática diária

O 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra – nos mostra que resistências se constroem de forma diária.

Para chegarmos nesse dia, milhões de negros e negras se insurgiram, quebraram correntes e fizeram de seus corpos e almas territórios de liberdade. Alguns são conhecidos, como Zumbi dos Palmares e sua companheira Dandara. Outros, não tiveram seus nomes escritos na história, mas como coletividade, deram suporte para que esses guerreiros e guerreiras conseguissem ganhar essa batalha e fossem lembrados no tempo presente.

A Militância e o ativismo de hoje estão sob ataque.
Mas sabemos que a vida é uma intensa e contínua luta para o povo negro, todos os dias. Angela Davis afirma que direitos são conquistas e precisamos lutar por eles. Nada está posto, e em especial a liberdade, direito conquistado às custas de muito sangue derramado.

A onda de conservadorismo que assola a sociedade brasileira também reverbera em países como  Estados Unidos, França, Alemanha e Itália, por exemplo, soa como uma resposta ao cansaço generalizado das denúncias de crimes de corrupção política que se arrastam por anos, sem uma penalidade aos corruptores, mas acima de tudo, é uma resposta de quem não quer abrir mãos de seus privilégios com o contínuo avanço das conquistas dos ditos grupos minoritários: negros, Lgbtqi+ e mulheres.

A tal resistência, que é necessária a cada dia mais, é construída por exemplos cotidianos como esses:

Absolvição de Babiy Quirino

A estudante e modelo negra Bárbara Querino, 20 anos, foi acusada de um suposto roubo, em setembro de 2017, sendo que ela foi  “reconhecida pelos cabelos” por uma das vítimas. No entanto, na data do crime, ela se encontrava a trabalho no Guarujá e tem como prova fotos e vídeos.
Bárbara Querino, conhecida como Babiy  foi absolvida de um dos processos pelo qual foi acusada. De acordo com a defesa, a Justiça inocentou a modelo de um suposto roubo de carro de luxo e objetos de valor.

Saiba mais sobre o caso aqui.

Conceição Evaristo como homenageada do Enem 2018

A escritora mineira Conceição Evaristo foi a homenageada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2018. Trechos de sua obra foram selecionados e impressos nas provas do Enem. Uma das responsabilidades do participante no Enem é transcrever a frase apresentada na capa do Caderno de Questões para o Cartão-Resposta. Cada tipo de prova – são quatro cores diferentes, além das provas acessíveis – tem uma frase diferente. Uma das frases usadas na prova do Enem é: “E não há quem ponha um ponto final na história”.

Eloá e Maria das Graças e a importância da educação
A estudante Eloá Oliveira Rosa, 13 anos, participava de uma sarau literário com pais e alunos em sua escola, quando foi chamada para receber o certificado de destaque de desempenho escolar, emocionando assim sua mãe, Maria das Graças, que não esperava ver a filha entre os alunos selecionados para receber a honraria.

Leia mais sobre aqui.

A youtuber Nátaly Neri lança a série Negritudes Brasileiras

Negritudes Brasileiras, é um documentário de longa-metragem sobre identidades raciais brasileiras que estreou dia 12 de novembro no YouTube. A série foi idealizada por Nátaly Neri, produzido pela Gleba do Pêssego e conta com a participação da historiadora Giovana Xavier, da arquiteta Joice Berth e dos jornalistas Alê Santos e Aline Ramos.
“O ideário da democracia racial recusa o conflito”, afirma Nátaly

Escolinha Maria Felipa

A Escola Afro-Brasileira Maria Felipa surgiu da ideia de jovens negras e negros que, na busca por educarem suas filhas e filhos a partir de outros marcos civilizatórios, pensaram em uma escola que valorizasse as constituições ancestrais não apenas europeias, mas que reconhecesse a forte influência ameríndia e fundamentalmente africana na formação sociocultural brasileira. A escola possui educação infantil bilíngue e está localizada no bairro da Federação em Salvador, Bahia.

Conheça mais sobre a Escolinha aqui.

Selo Sueli Carneiro

Começou na semana passada a pré-venda do novo livro de Sueli Carneiro: Escritos de uma vida.
O livro tem apresentação de Djamila Ribeiro, prefácio de Conceição Evaristo e texto de orelha de Átila Roque, o livro reúne uma série de artigos publicados por Sueli ao longo de sua vida, com textos que abordam temáticas imprescindíveis para refletir sobre a sociedade e moldar o pensamento contemporâneo. A publicação é a primeira do selo que homenageia Sueli Carneiro levando o seu nome.

É preciso Esperançar.
E esses exemplos de lutas diárias feitas no presente, mostram que as conquistas e vitórias de outras pessoas negras, que fortalecem toda a coletividade, podem fazer com que enxerguemos para além das perdas cotidianas que incluem o campo da política.

É preciso manter o fio da esperança conectado às práticas diárias. Se conectar com outras pessoas que potencializam ações para o amanhã. É preciso fazer das margens o centro. Refletir e continuar lutando pelas conquistas de quem veio antes e não tirar os olhos do horizonte de possibilidades ao colocar a coletividade negra como fonte primeira das ações que nos afastam de um passado de precariedade e nos impulsionam para um presente de movimentos e um futuro de abundância.

Que esse 20 de novembro nos lembre disso.

Créditos:
Imagem destaque: dazzle jam/nappy

O medo como ruptura dos processos democráticos

Quem não sentiu mal nos últimos meses por causa da intensa e tensa polarização política? Discussão entre familiares, brigas com amigos, ofensas e até ameaças. Rompimentos.

Relações que geralmente se davam no campo do privado (família e relações afetivos-sexuais) foram ampliadas para o campo do coletivo através de sentimentos como: medo, angústia, lamento, frustração, luto e muita tristeza.

Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em 2 de outubro o clima pouco amistoso e a situação política do país provocam raiva e tristeza em mais de 65% dos eleitores brasileiros.

Nesse período eleitoral, duas figuras políticas centralizam toda a tensão e cerca de 147 milhões de adultos votantes concentram suas energias focando nesses dois polos, já que todas as relações sociais são relações políticas, são nesses campos que os personagens políticos se fundem e as opiniões distintas acabam gerando mais atritos.

A psicanalista Maria Homem é taxativa: “O aumento do ódio e da violência tem relação direta com a diminuição do debate e o motivo é a exaustão, não de uma pessoa mas do sistema inteiro”.

“Estamos vivendo uma patologia da mente, realmente a gente não consegue elaborar, muito menos comunicar, então a gente tem uma descarga, uma onda catártica, que atropela tudo e que é um berro. A gente tem certeza de quem são os culpados e temos igualmente a certeza de quem são os benfeitores”, afirma a psicanalista que vai mais a fundo e compara o cenário atual com o aprendizado de um bebê: quando não consegue falar, precisa berrar, chorar e gritar para ser ouvido.

Ângela Soligo, presidente da Abep (Associação Brasileira de Ensino de Psicologia) lista alguns efeitos colaterais psicológicos dessas eleições: “Primeiro é o aumento e a exacerbação das atitudes extremadas, ou totalmente contra ou a favor, sem ponderar, refletir, sobre o significado dessas atitudes e das ideias que elas carregam. A consequência é o fanatismo, e o fanatismo em geral é obscurantista, ele impede que as pessoas reflitam sobre sentimentos, ideias e ações. Num momento de polarização, o pensamento fica comprometido. O que vem à frente são fortes emoções, as crenças acima de tudo e o desprezo pelo pensar. É a impossibilidade do diálogo, o que fica marcado é o sentimento de ódio. Ele se tornou a marca de muitos discursos. Odiar nessas circunstâncias é abrir mão da racionalidade. Outro sentimento que vai marcar é o da impotência e desesperança. Há pessoas que olham para o que está acontecendo e sentem que não podem fazer nada. Como se tudo fosse mais forte que elas, daí o sentimento que vem junto é a desesperança. Não posso fazer nada, quero ir embora”.

Para a psicanalista Amanda Mont’Alvão o ódio está sendo exercido sem mediação e sem os freios trazidos pelo processo de civilização e esse sentimento faz com que a aceitação das diferenças no convívio estejam impraticáveis e que as pessoas envoltas nessa onda de sentimentos negativos se sintam intimidadas.

Para não ser inundado por essa onda é preciso investir em práticas de saúde mental, estabelecer redes solidariedade e de apoio mútuo, buscar caminhos e modos de vida que permitam sonhar, planejar e criar, indo além de meramente sobreviver.  

Essa eleição está tendo o ódio e o medo como modus operandi, mas o pós eleições pode ser definido pelo amor, pela conversa, pelo respeito e pelo olho no olho.

Fontes:
Huffpost Brasil
Data Folha
Nexo Jornal

O Fazer Político em 2018

Discutir política em 2018 não está se mostrando nada fácil. Nem tão pouco tranquilo.
A polarização está cada vez mais acirrada e os ânimos estão exaltados.
Seja na roda de amigos, no grupo de mensagens instantâneas da família, em redes sociais, discutir política tem sido tomar partido, se posicionar e muitas vezes nas medidas mais radicais, cortar relações com quem pensa diferente.
Estão todos sensíveis e reativos a qualquer posição contrária.

O que fazer para não cair no discurso vazio e sem sentido de alguns candidatos, se instrumentalizar sobre propostas irreais e conhecer algumas outras formas do fazer político?
Que tal colocar em discussão a pouca ou quase nula presença de mulheres em posições de poder, em especial as mulheres negras?

E quebrar alguns mitos, como o de pessoas negras não votam em candidatos negros?

Listamos logo abaixo, algumas iniciativas que podem te ajudar a perceber as várias esferas do fazer político e a se instrumentalizar para reconhecer candidatos ou propostas com falsas soluções para problemas reais.

  Rede Umunna (que significa clã ou irmandade em igbo, língua falada em parte da Nigéria), foi criada a partir da iniciativa de cinco mulheres negras que acreditam que as mudanças sociais transformadoras se darão através da qualificação e da discussão sobre o debate político. A rede existe para engajar mulheres negras no debate eleitoral e que conecta essas mulheres na discussão da política institucional e nos espaços de poder.

A iniciativa foi criada por Ana Carolina Lourenço – Cientista Social, Gabriele Roza – Jornalista, Juliana Marques – Estatística, Lorena Pereira – Analista de Sistemas e Diana Mendes – Relações Internacionais e Políticas Públicas, que se juntaram durante a imersão do programa Mina de Dados, idealizado pela Transparência Brasil, em parceria com data_labe e a Preta Lab . As idealizadoras da Rede Umunna crêem na criação de espaços seguros para o fortalecimento de mulheres negras na política brasileira. Um dos dados levantados pela Rede é que as mulheres negras são o maior grupo demográfico do país, somando 27% da população brasileira e no entanto são menos de 2% no congresso nacional.

Diante dessa dado, a Rede Umunna lançou a campanha #MulheresNegrasDecidem, cujo objetivo é continuar o longo legado de movimentos de mulheres negras que lutam pelo avanço dos direitos através do fortalecimento de processos eleitorais.

“Mulheres Negras Decidem é uma declaração de crença no poder das gerações atuais em cumprir a promessa democrática”.

Através de mapeamento e análise de dados produzidos por órgãos oficiais de pesquisa, a Rede Umunna derrubou diversos mitos amplamente difundidos, especialmente em época de eleições.

“Negros não votam em negros”.
A justiça eleitoral não faz recorte racial do eleitorado, o que impossibilita uma análise que conecte diretamente eleitores negros e candidatos negros. O perfil demográfico da zona que a candidatura foi mais votada não é uma leitura suficiente para esta afirmação.
A análise completa desse mito você pode ler aqui: 

“Existem poucas mulheres negras eleitas porque elas não se candidatam”.
O universo de mulheres negras candidatas é próximo ao número total de mulheres brancas candidatas. Contudo nas eleições de 2014, mulheres negras foram 12,6% das candidaturas a deputado federal, mas apenas 1,9% das eleitas.
A análise completa desse mito você pode ler aqui:

 Observatório Brasil 50 – 50, uma iniciativa de organizações de mídias, pesquisa e da sociedade civil (Gênero e número, Instituto Patrícia Galvão, Instituto Alziras com apoio da ONU Mulheres e da pesquisadora e professora da UnB Flávia Biroli) foi lançado na metade do mês de setembro  apresentando análises, dados e reportagens em prol da paridade de gênero no debate eleitoral e político do país para o fortalecimento dos processos democráticos.

Os conteúdos publicados pelo Observatório têm como objetivo fornecer informações de qualidade para fundamentar o debate de gênero e política e publicizar que a parcela da população que busca por igualdade não está sozinha.

Duas das pesquisas que estão sendo produzidas são: um perfil das prefeitas no Brasil de 2017 a 2020 a ser lançado em breve e um mapeamento de todas as mulheres na disputa eleitoral em 2018, que você pode acessar aqui.

E um dos mais importantes levantamentos  – já que nas eleições de 2018 serão 6 candidatos a votar (deputado federal, deputado estadual, primeira vaga de senador, segunda vaga de senador, governador e presidente da República) – dentro da publicação Gênero e Número é a campanha #MeRepresenta, onde você escolhe os temas mais importantes para você (Gênero, raça, lgbts, povos tradicionais e meio ambiente, trabalho/saúde e educação, segurança e direitos humanos, corrupção, drogas, migrantes), seleciona o Estado e o site lista todas as candidatas e os candidatos, bem como  seus respectivos partidos, para você escolher qual mais trata dos temas que são caros a você.

–  Rede de Justiça Criminal é formada por oito organizações não governamentais (Centro de Estudos de segurança e Cidadania; Conectas direitos humanos; Instituto de Defensores de Direitos Humanos; Instituto de Defesa do Direito de Defesa; Instituto Sou da Paz; Instituto Terra, Trabalho e Cidadania; Justiça Global; Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares) que promovem ações de advocacy, buscando a disseminação de informação, a promoção de debate público, a elaboração e o encaminhamento de propostas, junto aos atores do sistema de justiça criminal e a sociedade civil, nos eixos de dados e transparência, direitos e garantias e violência institucional.

A iniciativa colocou no ar a campanha #EleiçõesSemTruque, com o objetivo de ajudar as eleitoras e os eleitores a identificar propostas  que possíveis candidatos(as) tentam projetar para solucionar problemas antigos com resoluções ilusórias, no campo da segurança e da justiça.

Alguns candidatos(as) para atrair atenção de futuros eleitores se utilizam de chamadas ficcionais tais quais: ”Vamos mudar o código penal para acabar com a impunidade” ou “Vou construir mais presídios”, como respostas à população toda vez que algum caso de violência ganha destaque midiático. O que a Rede de Justiça Criminal se propõe a fazer é qualificar o debate sobre segurança e justiça munindo as eleitoras e os eleitores de questionamentos e informações para que estes, analisem quais candidatas e candidatos estão propondo políticas públicas sérias, baseadas em dados e pesquisas e não proferindo um discurso apenas como caça a votos.

Essas foram três das iniciativas que mapeamos que podem te ajudar a ter mais clareza e te auxiliar na tomada de decisão sobre quem são as pessoas que você depositará sua confiança através do seu voto nas eleições de 2018.

Fontes: Imagem – Wendy Andrade
Rede Justiça Criminal 
Eleições sem truque
Mulheres Negras Decidem
Gênero e Número

Resultado final do edital A Cidade Que Queremos


Edital “A cidade que queremos”

O edital “A cidade que queremos”, realizado pelo Fundo Baobá em parceria com a Fundação OAK, foi direcionado a grupos e organizações pró-equidade racial para fomentar e desenvolver cidades mais justas e inclusivas pra todas e todos, combatendo as desigualdades às quais a população negra está submetida.

Esta chamada teve como foco as regiões metropolitanas do Nordeste brasileiro, e em especial a da cidade do Recife e região metropolitana (Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Igarassu, Abreu e Lima, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, Goiana, São Lourenço da Mata, Araçoiaba, Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Moreno e Itapissuma), com o intuito de apoiar organizações pequenas e médias da sociedade civil (OSCs) afro-brasileiras que desenvolvem e  implementem iniciativas inspiradoras voltadas para a participação cidadã, estimulando discussões e atividades na perspectiva do Direito à Cidade, com intuito de reduzir as práticas do Racismo Estrutural e Institucional.

Todas as propostas foram recebidas pelo site do PROSAS: https://prosas.com.br/editais/3780-a-cidade-que-queremos

Confira abaixo a lista de organizações selecionadas:

1 Instituto de Negros de Alagoas/INEG – (AL)
2 Associação de Intercâmbio para educação, cultura e cidadania AIECC – (BA)
3 Instituto CEAFRO/ ICEAFRO – (BA)
4 Ideas – Assessoria Popular (BA)
5 Organização Artístico Cultural Odeart – (BA)
6 Associação Artística Nóis de Teatro – (CE)
7 Grupo Mulher Maravilha/GMM – (PE)
8 Centro Cultural Coco de Umbigada – (PE)
9 Sítio Agatha (PE)
10 Rede de Mulheres Negras de Pernambuco (PE)

Parabenizamos as organizações selecionadas e agradecemos o interesse das demais participantes.

A Politização da Imagem

As imagens não são inocentes.
Elas não são meramente ilustrações, elas produzem conteúdos, elas informam.

As imagens precisam ser politizadas e precisamos, enquanto agentes, nos perguntar a cada imagem vista: O que ela quer dizer? Quem a produziu, fez com qual intuito? Qual mensagem ela quer passar?

As imagens produzem memória e como sabemos, um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história é aquele que desconhece seus valores, suas glórias e as lutas pelas quais seus ancestrais passaram, logo essas pessoas não tem do que se orgulhar, não tem onde se inspirar e acabam engolindo como verdade, muitas falácias que são ditas, produzidas e disseminadas por quem está na hegemonia.

Há duas semanas atrás, foi ao ar um comercial do dia dos pais feito por uma grande rede de cosméticos e perfumes. O comercial era simples: Um pai que através de tentativas divertidas, quer se inserir na “turma” dos filhos, demonstrando que é por meio de erros e acertos que se faz necessária a presença paterna na criação dos filhos.

O comercial possui 30 segundos, foi vinculado no youtube e até o presente momento (15 de agosto) esses são os resultados:
Mais de 10 milhões de visualizações
11 mil comentários
128 mil likes
18 mil dislikes


O número alto de negativações se deu por um motivo: A família retratada no comercial é negra. Todos os integrantes, mãe, pai e 3 filhos.

A título de comparação, no comercial de dia dos pais de 2016, composto por uma família toda branca, o número de dislikes foi de pouco mais de 3 mil.

O comercial incomodou tanto porque se propôs a ser inovador, ao trazer como família tradicional uma família composta por pessoas negras. O que não é comum quando falamos de mídias televisivas, onde somente pessoas não negras são retratadas em comerciais de creme dental e aqueles clássicos de café da manhã.

Estendamos um pouco mais a questão de poder da imagem. Quantas famílias negras foram retratadas em novelas, séries, comerciais, filmes, propagandas, fora da questão racial, só existindo, em toda a sua complexidade e situações cotidianas?

Mesmo quando determinada produção televisiva se passa na Bahia, por exemplo, que conta com a maior população de maioria negra fora do Continente Africano, o casting é composto quase que exclusivamente de pessoas não negras.

Chiquinha Gonzaga, que era uma compositora negra, foi interpretada por uma atriz branca.
Machado de Assis, um escritor negro, teve sua imagem num comercial de um grande banco, totalmente embranquecida.

As pessoas negras vêm tendo as suas imagens vinculadas, durante décadas nas mídias em geral, a estereótipos negativos, a famílias desestruturadas, a comportamentos criminosos, a atitudes irresponsáveis.

Isso por si só constitui um imaginário coletivo que afirma que todas as pessoas negras são, agem, pensam e se comportam da forma como as mídias as retratam.

As imagens contam histórias, reforçam padrões, convencionam comportamentos.
Precisamos estar atentas a elas.

Um tributo a Sueli Carneiro

Neste 25 de julho, quando se comemora o dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha, conheça um pouco da trajetória política e militante de Sueli Carneiro, inspiração de mobilização e luta para gerações de mulheres pelo Brasil por equidade racial.
O Fundo Baobá tem a honra de contar com sua participação no Conselho Deliberativo.


“Indignação sempre foi a palavra que mais me impulsionou. Odeio injustiça.
Luto pela construção de uma sociedade multirracial e pluricultural, onde a diferença seja vivida como equivalência e não mais como inferioridade”


Aparecida Sueli Carneiro Jacoel, nasceu em 24 de junho de 1950 na cidade de São Paulo, é Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Filósofa, escritora, ativista anti racismo e uma das principais pensadoras do País. Fundadora e diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, primeira organização negra e feminista independente de São Paulo, que completou 30 anos em 2018. E abriga o único programa brasileiro de orientação na área de saúde específico para mulheres negras. Semanalmente mais de trinta mulheres são atendidas por psicólogos e assistentes sociais e participam de palestras sobre sexualidade, contracepção, saúde física e mental.

Sua laureada trajetória foi reconhecida pelos seguintes prêmios:
– Prêmio Benedito Galvão (2014)
– Prêmio Direitos Humanos da República Francesa
– Prêmio Bertha Lutz (2003)
– Prêmio de Direitos Humanos Franz de Castro Holzwarth (Menção Honrosa)
– Prêmio Itaú Cultural 30 anos

É de sua autoria uma das reflexões que mais corroboram a discussão acerca da Branquitude como objeto e tema de pesquisa:

“Uma das características do racismo é a maneira pela qual ele aprisiona o outro em imagens fixas e estereotipadas, enquanto reserva para os racialmente hegemônicos o privilégio de serem representados em sua diversidade. Assim, para os publicitários, por exemplo, basta enfiar um negro no meio de uma multidão de brancos em um comercial para assegurar suposto respeito e valorização da diversidade étnica e racial e livrar-se de possíveis acusações de exclusão racial das minorias. Um negro ou japonês solitários em propaganda povoada de brancos representam o conjunto de suas coletividades. Afinal, negro e japonês são todos iguais, não é?

Brancos não. São individualidades, são múltiplos, complexos e assim devem ser representados. Isso é demarcado também no nível fenotípico em que é valorizada a diversidade da branquitude: morenos de cabelos castanhos ou pretos, loiros, ruivos, são diferentes matizes da branquitude que estão perfeitamente incluídos no interior da racialidade branca, mesmo quando apresentam alto graus de morenice, como ocorre como alguns descendentes de espanhóis, italianos ou portugueses que, nem por isso, deixam de ser considerados ou de se sentirem brancos.   

A branquitude é, portanto, diversa e multicromática. No entanto, a negritude padece de toda sorte de indagações”.

Sueli Carneiro é uma das maiores críticas ao feminismo hegemônico e sua visão universalizante da figura feminina. É também uma das grandes contribuidoras do feminismo negro, como resgate histórico do protagonismo das mulheres negras em lutas emancipatórias e pela humanidade negada pelos processos escravocratas.

Suas palavras acerca do mal uso do termo diversidade, nos dá uma dimensão exata da problemática de se colocar referenciais diferentes dentro do mesmo contexto, produzindo assim falsas simetrias sobre diferenças que não são equivalentes:

“O conceito de diversidade tem tido múltiplos usos e abusos na nossa tradição cultural. Não é um conceito do qual eu goste muito, porque historicamente ele se presta a nivelar contradições sociais de natureza, alcance e magnitude distintos. Na prática, diversidade se transforma em uma lista de lavanderia: negro, indígena, mulher, gay, idoso, pessoa com deficiência. É um conceito que descontextualiza as diferenças socialmente construídas, pois as trata como ambivalentes”.

Sueli Carneiro possui dois livros publicados: Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil (2011), pelo Selo Negro e Mulher Negra: Política governamental e a Mulher (1985) em parceria com Thereza Santos e Albertina de Oliveira Costa.

O reconhecimento da intelectualidade da mulher negra ainda encontra barreiras, nítido reflexo das discriminações de raça e gênero presentes na sociedade brasileira, como ilustram os episódios a seguir.

Em um evento realizado em meados de 2017, na Academia Carioca de Letras, Carolina Maria de Jesus era a homenageada da noite. Seu livro mais conhecido, Quarto de despejo, foi publicado em mais de 24 países e versa sobre as agruras e durezas da vida de privações por ser uma moradora da favela do Canindé. Porém todo esse reconhecimento – de ser a homenageada da noite e ser reconhecida em vários países como uma escritora consagrada – não impediu que um renomado professor de literatura brandasse aos quatro ventos: “Isso pode ser um diário e há inclusive o gênero, mas definitivamente, isso não é literatura. Cheio de períodos curtos e pobres, Carolina, sem ser imagética, semi-analfabeta, não era capaz de fazer orações subordinadas, por isso esses períodos curtos”.

Carolina Maria de Jesus era a homenageada do evento, tema da palestra ministrada pelo professor, motivo da cerimônia, assunto do encontro e conteúdo principal do mês dentro do projeto que a Academia Carioca de Letras homenagearia outras escritoras. E isso tudo não foi impedimento para que o referido professor, afirmasse categoricamente e sem nenhum constrangimento que a escrita de Carolina não é literatura.

Essa estrutura perversa que não consegue reconhecer que mulheres negras são produtoras de cultura e escritoras.

Mais recentemente em 2018, acabou de acontecer uma campanha online que contou com mais de 20 mil assinaturas em apoio à candidatura de Conceição Evaristo para a Academia Brasileira de letras (ABL), uma instituição que foi criada por um homem negro – Machado de Assis – e ainda assim não possui nenhuma mulher negra no seu quadro de Imortais em 120 anos de existência.

O cenário que esses dois episódios ilustram, demonstra a  extrema importância de uma editora anunciar que lançará um selo editorial que leva o nome de uma das maiores pensadoras do País.

O Selo Sueli Carneiro será publicado pelo Grupo Editorial Letramento, cujo objetivo é publicar obras de pensadoras (es) negras brasileiras e internacionais.

Com prefácio de Conceição Evaristo e apresentação de Djamila Ribeiro, o livro será lançado em breve.

“Sueli Carneiro nos brinda com uma coletânea de artigos publicados ao longo da vida e que refletem sobre a necessidade de se pensar novos marcos civilizatórios. O pensamento feminista negro de Sueli Carneiro, é fundamental e atual para o debate racial e de gênero e construção de um modelo alternativo de sociedade”, afirma Djamila Ribeiro.

Assista ao vídeo de divulgação

 

O reconhecimento da trajetória, luta, vida e obra das mulheres negras se faz urgente.
Afinal, tantos avanços só foram possíveis porque mulheres negras anônimas ou de maior visibilidade como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Sueli Carneiro e tantas outras, pavimentaram os caminhos e abriram portas para todas nós.

Vida Longa a Sueli Carneiro.  

Fontes: Publisnews, CEERT, Opera Mundi
Imagem: Revista Trip

Seleção de Projetos Negras Potências

É com muita felicidade, que anunciamos o resultado do Edital Negras Potências!
Ao todo, foram selecionados 16 projetos de impacto de diversas regiões do Brasil.

O canal Negras Potências é uma parceria entre Fundo Baobá e Benfeitoria, com apoio de Coca-Cola Brasil e Movimento Coletivo. Juntos, reunimos projetos de impacto que contribuem para o empoderamento de meninas e mulheres negras que agora vão contar com a sua contribuição!

Lista de Projetos selecionados:

Afreektech

O projeto desenvolverá ações voltadas para a transmissão de conhecimento de ferramentas de gestão e alavancagem de negócios como Marketing Digital e Modelagem de Negócios com foco em mulheres negras.

Afrolab

O projeto buscará fortalecer as habilidades empresariais de mulheres negras a partir de um processo de autoconhecimento voltado para aprimoramento da sua capacidade decisória.

Afroricas

O projeto desenvolverá material audiovisual voltado para a difusão de informações relevantes para o desenvolvimento das mulheres negras no mercado de trabalho.

Amora

Tem como proposta a inserção da identidade étnica e racial, de maneira positiva, no universo infantil feminino através de brinquedos, bonecas, que reflitam a estética negra. Em 2017 ganhou o Prêmio Laureate Brasil Jovem Empreendedor Social.

Casa das pretas

Através de atividades como oficinas de fomento à economia solidária; rodas de estudo e leitura sobre feminismo negro; cursos para desenvolvimento acadêmico (acesso a mestrado e doutorado); cursos de dança e percussão; todos voltados para o público feminino negro, o projeto tem por objetivo o fortalecimento político e econômico das mulheres negras a fim de impactar na redução das violências de gênero e situação de desigualdade econômica por elas experenciadas.

Circuladô de oya

Tem por objetivo fomentar a divulgação e discussão da discriminação interseccional de gênero, raça e classe que atinge as mulheres negras a partir do fomento à participação deste público em espaços de formação e atuação política junto a comunidades, instituições e em redes sociais. As ações terão núcleos de Educação Popular como lócus de desenvolvimento e propagação.

Cores Femininas

O projeto tem por objetivo o empoderamento de mulheres negras através de ações culturais – grafite e hip hop – a serem realizadas de maneira colaborativa e comunitária. A troca de experiências, conscientização para enfrentamento das várias formas de violência bem como autonomia financeira também estão presentes em seus objetivos. O recurso arrecadado durante a campanha de crowdfunding será utilizado, principalmente, para a compra de materiais.

Corpos Invisíveis

O projeto tem por objetivo principal a realização de longa metragem no qual serão discutidos temas como racismo, seu aspecto estruturante das relações sociais no Brasil, da invisibilização e inviabilização das mulheres negras em uma sociedade machista.

Costurando redes

O objetivo principal centra-se na realização de oficinas de costura buscando o fortalecimento econômico de mulheres negras e seu empoderamento, autoestima e autonomia de maneira que sejam instrumentalizadas para lidar com questões cotidianas como a violência doméstica e a desigualdade de acesso a oportunidades profissionais e de renda.

Costurando sonhos

O projeto tem por objetivo o fomento de capacidades técnicas que possibilitem a inserção de mulheres negras no mercado de trabalho através de oficinas na área de costura.

Doula a quem quiser

O projeto tem por objetivo promover o acesso à informação de qualidade sobre gestação, parto e puerpério, salientando a questão da violência obstétrica vivenciada por mulheres. O acompanhamento presencial por doulas para mulheres em situação de privação de liberdade também está presente nas ações a serem realizadas.

Editora Nasurdina

O projeto objetiva a consolidação de uma editora que potencialize jovens autoras negras, independentes, oferecendo-lhes infraestrutura para criação e produção de material.

Investiga Menina

O projeto tem por objetivo, através da articulação com professoras e pesquisadoras negras, brasileiras, fomentar o interesse de meninas negras pelas áreas das ciências exatas no campo do conhecimento tendo em vista esta carecer de representatividade negra, feminina.

Revista Arquitetas Negras Vol.1

O projeto tem por objetivo a produção de publicação (revista) especializada em arquitetura e urbanismo a fim de dar visibilidade ao trabalho e o contexto social no qual se dá o trabalho de mulheres negras que atuam na profissão.

Sororidade
Uma nova forma de relação

O projeto pretende realizar a montagem de espetáculo artístico, circo-teatro, a ser apresentado em escolas públicas de ensino médio na periferia da cidade de Recife com o objetivo de mobilizar mulheres jovens articulando-as para que enfrentem as violências experienciadas por este público naquela região.

Sou Negra e quero falar

O projeto tem como objetivo principal o fomento da discussão de temas como racismo, combate ao machismo, violência de gênero, direitos reprodutivos, descriminalização do aborto, feminismo negro por mulheres negras, blogueiras. A proposta é a realização de workshop cujo conteúdo centra-se em subsidiar tecnicamente jovens negras, produtoras de conteúdo em meios alternativos, para que propaguem a discussão destes temas.

Esses são os 16 projetos selecionados. Nosso muito obrigada a todas que enviaram suas iniciativas.

15 anos das Cotas

“O que nós conquistamos não foi porque a sociedade abriu a porta, mas porque forçamos a passagem”
Conceição Evaristo

O ano era 2001 e acontecia em Durban, na África do Sul, a III Conferência contra a Xenofobia e Discriminação. Os representantes dos Movimentos Negros Brasileiro, denunciavam ao mundo os efeitos nefastos do ‘racismo à brasileira’, que apesar de aparentemente silenciosos, estavam bastante presentes nos discursos e nas ações naturalizadas que sustentavam na condição de marginalidade e desigualdade de oportunidades entre negros e brancos, as pessoas negras desde o tempo da escravidão.

A denúncia trouxe a tona a falaciosa democracia racial, escancarando de vez que quando se trata de relações étnico-raciais, o País vive de aparências. Com isso foi impossível manter a ‘boa reputação internacional’ e a denúncia serviu como estopim para que houvesse um comprometimento formal no combate ao racismo e no desenvolvimento nacional de ações que visassem a reparação histórica nos dias atuais.

É nesse contexto que surgem as ações afirmativas, fruto da luta dos movimentos negros.

O Sistema de Cotas foi adotado pelo primeira vez na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em 2001. A  Universidade de Brasília (UnB) foi a primeira Instituição Federal de Ensino Superior a adotar o Sistema de Cotas, em 2004.
A Lei Federal de número 12.711 só foi aprovada em 2012, tornando legal e obrigatório que as Universidades, Institutos e Centros Federais reservem 50% das suas vagas para estudantes oriundos de escolas públicas, dentre elas há reserva de percentual especial destinada a estudantes negros (auto identificados como pardo ou preto) e indígenas.

Como funciona a reserva de vagas, segundo o MEC

As Cotas são constitucionais e altamente relevantes, elas auxiliam na diminuição das desigualdades raciais remanescentes de fenômenos sociais que precisam ser enfrentados e atuam como alternativa para a busca de igualdade através da promoção de condições equânimes entre negros e brancos. Seus impactos são profundos, pois permitem o avanço da diversidade e da pluralidade nas diversas instituições brasileiras, a começar pelos espaços acadêmicos.

Embora atualmente ainda existam diversas pessoas e setores sociais que discordem da implementação das Cotas, elas já são uma realidade brasileira, portanto havendo consenso sobre a sua aceitação ou não, elas são garantidas por lei.

Depois de mais de 15 anos desde as primeiras experiências de ações afirmativas no ensino superior, o percentual de negros que concluíram a graduação cresceu de 2,2% em 2000, para 9,3% em 2017.

O Censo do Ensino Superior elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) também evidencia o aumento do número de matrículas de estudantes negros em cursos de graduação. Em 2011, do total de 8 milhões de matrículas, 11% foram feitas por alunos negros, em 2016, ano do último Censo, o percentual de negros matriculados subiu para 30%.

O professor Nelson Inocêncio, que integra o Núcleo de Estudos Afro Brasileiros (NEAB) da Universidade de Brasília (UnB) é categórico ao afirmar: “Antes de falar em igualdade racial, temos que pensar em equidade racial, que exige políticas diferenciadas. Se a política de cotas não for suficiente, ainda que diminua o abismo entre brancos e negros, a gente vai ter que ter outras políticas. Não é possível que o país continue, depois de 130 de abolição da escravatura, com essa imensa lacuna entre negros e brancos”.  

Para além da discussão pelo confronto dicotômico (pró vs contra) é necessário ampliar o debate acerca do desempenho acadêmico do estudante cotista e as ações de inclusão e permanência desse sujeito.

Contrariando as previsões estatísticas de que haveria um desnivelamento educacional entre estudantes cotistas e os não-cotistas e com isso uma queda na qualidade do ensino superior, estudos apontam que o desempenho médio do aluno cotista não é inferior ao do aluno não-cotista, sendo algumas vezes, inclusive, superior e qual não foi a surpresa ao analisar que a taxa de evasão escolar entre esses estudantes é menor também entre os estudantes cotistas, mesmo esse aluno tendo vários obstáculos contra si, tais quais: a questão financeira, a dupla jornada daqueles que trabalham e estudam, o transporte, moradia e aqueles vinculados a permanência.

Por permanência entende-se que não basta somente que o processo de inserção (vestibular) seja afetado pelas Cotas, mas também que os espaços acadêmicos ofereçam ações que ultrapassem a questão de ingressão: aulas de reforço, bolsas de auxílio, bolsa alimentação, fornecimento de moradias, o debate sobre a questões étnicos-raciais no espaço universitário.

Com a adoção do Sistema de Cotas os espaços acadêmicos estão cada vez mais plurais resultando assim em lugares com mais possibilidades criativas, em mudanças nas agendas de pesquisa e na produção de conhecimento acadêmico desfocado do olhar europeu/colonizador. Esses espaços estão se tornando cada vez mais descolonizados e com pessoas negras como pesquisadores e produtores de conhecimento e não mais somente como objetos de pesquisa.

130 anos da falsa abolição

O último domingo, 13 de maio de 2018, foi lembrado como a data de 130 anos de abolição da escravatura, quando foi assinada a Lei Áurea.

O que pouca gente sabe é que quando a lei foi assinada – por pressão econômica internacional inglesa (e que, como solução o governo monárquico criou a Lei Eusébio de Queirós, em 1850, que extinguiu definitivamente o tráfico negreiro) e não por benevolência –  a quantidade de pessoas negras mantida escravizadas eram menor do que se apregoava, pois apesar da data ser conhecida como uma marco – na ocasião – as revoltas organizadas por pessoas negras que estavam libertas, já tinham garantido a liberdade de muitas outras.

Em 1871, foi decretada a Lei do Ventre Livre, que estabelecia que todos os filhos de escravizados a partir daquele ano seriam considerados livres. Com as leis de extinção do tráfico negreiro e a abolição gradual através da lei do Ventre Livre, o trabalho cativo estava fadado a acabar.

Isso pra dizer que não. Não foi concessão, não foi canetada de uma pessoa branca salvadora, mas sim luta e várias micro revoluções de um povo que nunca se deixou abater ou deixou de lutar, através da recusa ao trabalho, de rebeliões, fugas em massa, formação de Quilombos e das lutas abolicionistas.

De acordo com o Censo de 1872 a população total de estrangeiros no Brasil era de 382.132, separando os brancos por origem: 125.876 portugueses, 40.056 alemães e 8.222 italianos, entre outras nacionalidades. Os negros eram considerados todos do mesmo grupo: africanos, esses eram 176.057 vivendo no país, porém, divididos apenas entre escravizados:138.358 e alforriados: 37.699.

A política de embranquecimento se faz mais notável nesse período com a chegada dos primeiros grupos de imigrantes europeus, já que em 350 anos de tráfico negreiro, foram trazidos à força, através de sequestro e cárcere, cerca de 4 milhões de africanos e entre os anos de 1870 e 1930 vieram morar no país praticamente 4 milhões de imigrantes europeus.   

O jornalista e escritor negro José do Patrocínio, dedicou sua vida à causa abolicionista, não se limitando a lutar por escrito contra a escravidão, mas realizando conferências públicas, ajudando na fuga de muitas pessoas escravizadas e organizando núcleos abolicionistas, militando ativamente até o triunfo da causa, em 13 de maio de 1888.

O engenheiro negro André Rebouças, se juntou a José do Patrocínio e ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, participando também da Confederação Abolicionista e redigindo os estatutos da Associação Central Emancipadora.

O advogado negro Luís Gama, conseguiu libertar mais de 500 pessoas escravizadas, desenvolvendo intensa atividade abolicionista no jornalismo.

O Brasil, no entanto carrega o fardo histórico de ter sido um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão, perdendo somente para a Mauritânia, que fica no noroeste do Continente Africano e aboliu o sistema escravocrata em 1981.

De acordo com o levantamento feito pelo site slavevoyages.org, entre os séculos XVI e XIX, cerca de 4,8 milhões de escravizados foram trazidos à força para o Brasil e investigadores brasileiros descobriram alguns nomes dados aos navios, que desvelaram a natureza cínica e perversa dos escravocratas. Segundo Daniel Domingues da Silva, um dos historiadores responsáveis, os nomes dos navios eram escolhidos pelos donos dos barcos que “pensavam que estavam ajudando a resgatar a alma dos africanos para o reino de Deus, ou seja, trazendo os escravos de uma terra onde o paganismo imperava para a cristandade”.

O historiador listou oito dos barcos descobertos:

1. Amável Donzela (1788 a 1806)
Travessias realizadas: 11
Escravizados transportados: 3.838
Escravizados mortos durante a viagem: 298

2. Boa Intenção (1798 a 1802)
Travessias realizadas: 02
Escravizados transportados: 845
Escravizados mortos durante a viagem: 76

3. Brinquedo dos Meninos (1800 a 1826)
Travessias realizadas: 11
Escravizados transportados: 3.179
Escravizados mortos durante a viagem: 220

4. Caridade (1799 a 1836)
Travessias realizadas: 20
Escravizados transportados: 6.263
Escravizados mortos durante a viagem: 392

5. Feliz Destino (1818 a 1821)
Travessias realizadas: 03
Escravizados transportados: 1.139
Escravizados mortos durante a viagem: 104

6. Feliz Dias a Pobrezinhos (1882)
Travessias realizadas: 01
Escravizados transportados: 355
Escravizados mortos durante a viagem:120

7. Graciosa Vingativa (1840 a 1845)
Travessias realizadas: 10
Escravizados transportados: 1.257
Escravizados mortos durante a viagem: 125

8. Regeneradora (1823 a 1825)
Travessias realizadas: 07
Escravizados transportados: 1.959
Escravizados mortos durante a viagem: 159

Os impactos de 14 de maio continuam presentes na sociedade brasileira – a contínua desassistência por parte do Estado – pois não foram implementadas medidas de ajustes sociais e econômicos de inserção da população negra, como por exemplo, viabilidade ao acesso a terra e à moradia, políticas de saúde, educação e trabalho.

O que se vive (ainda) hoje é uma reconstrução do racismo estrutural, é a continuidade de uma dívida que tem se mostrado histórica.

É lembrar para não esquecer, mas não celebrar.

Fontes: Palmares.gov.br; Uol educação; slavevoyages.org;.
Ilustração Angola Janga – Marcelo D’Salete.

Edital: A Cidade Que Queremos

O Fundo Baobá em parceria com a Fundação OAK, está lançando o edital:
A Cidade Que Queremos.

A chamada para a apresentação de projetos está direcionada para grupos e organizações Pró Equidade Racial com projetos que visem fomentar e desenvolver cidades mais inclusivas e justas para todas e todos.

O edital é exclusivo para as regiões metropolitanas do Nordeste Brasileiro (Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe) e em especial para a cidade do Recife e região metropolitana (Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Igarassu, Abreu e Lima, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, Goiana, São Lourenço da Mata, Araçoiaba, Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Moreno e Itapissuma).

A chamada tem como objetivo: Apoiar organizações pequenas e médias da sociedade civil (OSCs) afro-brasileiras que desenvolvem e  implementem iniciativas inspiradoras voltadas para a participação cidadã, estimulando discussões e atividades na perspectiva do Direito à Cidade, com intuito de reduzir as práticas do Racismo Estrutural e Institucional.

As Temáticas são: Educação, Meio Ambiente, Segurança, Lazer e Cultura, Trabalho, Transporte, Habitação, Saúde e Serviços.

Para conhecer mais detalhes e submeter o seu projeto, acesse: https://prosas.com.br/editais/3780 

Mulheres na STEM

A inserção de meninas e mulheres na área das exatas, em qualquer estágio do ensino – seja no médio técnico ou superior – (ainda) é muito pequena, principalmente porque é associado às ciências a racionalidade, enquanto às mulheres por meio de alegorias de gênero são estereotipadas como sentimentais demais, emotivas demais. Some um fato ao outro e o resultado é: As ciências não são para as mulheres.

Repensar as práticas escolares com foco em equidade, de acordo com a professora e física Katemari Rosa, do Instituto de física da UFBA (Universidade Federal da Bahia), também passa pela construção de ações afirmativas que garantam maior representatividade na ciência. “As mulheres mais excluídas do processo científico no país são as mulheres negras”, diz a docente, ao mencionar que o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) só adicionou o box raça no currículo Lattes em 2013. O que temos? A falta de dados sobre quantas mulheres negras estão fazendo ciências.  

Existe uma naturalização das desigualdades de oportunidades, incentivos e perspectivas entre homens e mulheres que por muitas vezes, a consequência é a falta e a negação das mulheres em quererem partilhar esses espaços. Depois de formadas, essas mulheres tem que lidar com atitudes de menosprezo, desconfiança das suas capacidades e ainda o diferença salarial para o mesmo serviço prestado, quando homens cientistas costumam ganhar até R$2.000 a mais do que as mulheres que ocupam o mesmo cargo.

São esses alguns dos motivos que levam as mulheres a desistirem da carreira, mesmo depois de passarem pelos percalços nada fáceis para se formarem em uma área que o tempo todo, parece salientar que elas estão ocupando um espaço que não às pertence.

Uma das questões mais recorrentes quando apontamos uma perspectiva de gênero e racial a falta de mulheres, em especial de mulheres negras dentro das ciências, é: Qual a importância disso?

A resposta não requer grandes elaborações, já que foi comprovado que a inserção de mulheres nas áreas em que geralmente elas não são bem vindas é uma questão de direitos humanos e justiça social e resulta em espaços e empresas mais diversas e portanto mais lucrativas. Diversidade nos espaços de poder, resulta na geração de uma melhor ciência, que pode ser entendida como: outras formas de produção de conhecimento e multiplicidade dos pontos de vista.  

” Valorizamos o que medimos, mas nem sempre medimos o que valorizamos”, pesquisas setorizadas do Capes e do CNPq não possuem dados sobre gênero e menos ainda sobre raça na STEM (acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

“Nós precisamos de dados. Não apenas dados do governo, mas das escolas. Temos que saber a quantidade de diretoras, professoras de física e alunos que ganharam prêmios”, exemplifica a pesquisadora brasileira Márcia Barbosa, professora titular da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e integrante da Academia Brasileira de Ciências, a pesquisadora defendeu que as escolas precisam repensar a forma como trabalham seus conteúdos. “A construção social que determina que o cientista é um homem barbudo, de jaleco branco e com uma caneta no bolso não tem nada a ver com a construção do conhecimento. Temos que mudar tudo.”

Há dois fatores em comum entre todas as grandes empresas: a falta de liderança feminina, apenas 9% das CEOs do mundo são mulheres e uma grande disparidade entre mulheres em cargos iniciais e aquelas que chegam no topo.

O funil vai ficando cada vez menor, por uma série de fatores que já são bastante conhecidos: divisão desigual de afazeres domésticos e cuidados com a família, o que dificulta e muito a conciliação de carreira e responsabilidades familiares; a questão da maternidade, que ainda torna a contratação de mulheres menos vantajosas aos olhos de muitos empregadores; e não menos importantes que esses dois primeiros pontos, temos os viéses inconscientes, as chamadas “crenças” que influenciam os processos de seleção, avaliação e promoção dentro das organizações, tais quais: o pensamento cultural que faz com que mulheres e homens acreditem que existem atividades e funções ‘para eles’ e ‘para elas’.

Alice de Paiva Abreu, professora emérita da UFRJ (Universidade Federal do rio de Janeiro) e diretora do GenderInSITE, um programa internacional que estuda STEM (acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e equidade de gênero, afirma que: “Se os países não puderem aproveitar todos os seus talentos, certamente eles sofrerão em termos de desenvolvimento econômico.” e alerta para o fato de estamos pautando em 2018 a mesma agenda de mudanças que foi construída em 1995 e até o presente momento segue com as mesmas demandas:
1. Equidade de gênero na educação científica e tecnológica.
2. Remover obstáculos nas carreiras científicas e tecnológicas de mulheres.
3. Tornar a ciência receptiva às necessidades da sociedade.
4. Fazer com que o processo decisório de ciência e tecnologia seja mais atento à questão de gênero.
5. Ter um melhor relacionamento com sistemas de conhecimento locais.
6. Enfrentar questões éticas em ciências e tecnologia.
7. Melhorar a coleta de dados desagregados por sexo para os tomadores de decisão.
8. Promover igualdade de oportunidades nos grandes sistemas de ciência, tecnologia, engenharia, matemática e inovação.

Katemari Rosa enfatiza a importância de políticas públicas que incentivem as meninas negras (políticas públicas focalizadas que se desdobrem em ações afirmativas), “Nós precisamos de políticas públicas de inserção de mulheres e de pessoas negras nas ciências. Precisamos de políticas públicas para se garantir que as pessoas desses grupos sub-representados consigam permanecer quando entrarem nas universidades e tenham sucesso nos cursos. Políticas também para que esses grupos tenham sucesso nas suas carreiras profissionais, tenham possibilidade de ascensão profissional. Não basta nós ampliarmos o acesso de mulheres negras, de pessoas indígenas, dos grupos que estão sub-representados na ciência de maneira geral, a gente precisa trabalhar também pela permanência e pela ascensão”

Suelaine Carneiro, socióloga e coordenadora do programa de educação do Geledés Instituto da Mulher Negra, reiterou o apagamento dos saberes negros nas ciências ( no ensino fundamental e médio) e de como isso se solidifica na “Falta de possibilidades de sonhar”, se não se sabe que é possível chegar, como almejar estar lá?

O Fórum Econômico Mundial estipulou no seu relatório de 2016, The Future of Jobs, que empregos na área de informática e matemática terão um aumento de 3,21% até 2020, influenciada principalmente pela urbanização, pelo crescimento de países em desenvolvimento e por avanços tecnológicos. Para esse fenômeno, ele deu o nome de Quarta Revolução Industrial.

Como estamos preparando, estimulando e incentivando as meninas e mulheres negras a seguirem no caminho das STEM (acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) para estarem aptas as vagas que surgirão em 2020? Como diminuir esse gap de gênero?

Hoje já existem algumas iniciativas, comunidades e programas para mulheres em tecnologia, dentre eles:

PrograMaria: Atua em São Paulo e oferece curso de introdução à programação com foco em desenvolvimento web
PretaLab: iniciativa do Rio de Janeiro que atua no protagonismo das meninas e mulheres negras e indígenas nos campos da inovação e tecnologia
Reprograma: atua em São Paulo inspirando, empoderando e educando mulheres, por meio de conhecimentos de computação e ferramentas de capacitação profissional
MariaLab: coletivo em São Paulo que tem como objetivo encorajar, empoderar e unir mulheres através do interesse pela cultura hacker
PyLadies: comunidade mundial que foi trazida ao Brasil com o propósito de instigar mais mulheres a entrarem na área tecnológica
Django Girls: comunidade que oferece workshops de desenvolvimento web para mulheres iniciantes
Meninas Digitais: programa que apresenta as áreas de TI para alunas do ensino médio/tecnológico
Mulheres na Tecnologia: organização sem fins lucrativos que contribui para o protagonismo feminino na era digital

Fontes:
Parte das falas das mulheres nessa matéria foram colhidas durante o Seminário Elas nas Exatas, realizado pelo Fundo Elas, no Rio de janeiro no mês de março.

http://porvir.org/referencias-na-escola-sao-importantes-para-trazer-mais-mulheres-paras-as-exatas/

https://www.napratica.org.br/carreira-em-tecnologia-para-mulheres/

https://www.napratica.org.br/como-e-carreira-para-mulheres-em-ciencias-tecnologia-engenharia-e-matematica/

http://www.cienciaecultura.ufba.br/agenciadenoticias/entrevistas/katemari-rosa/

Lutas Negras – Passado, presente e perspectiva de futuro.

Origem

O 21 de março foi instituído pelas Nações Unidas como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, pois foi nesse mesmo dia,  58 anos atrás que ocorreu um dos maiores genocídios negros da história: o Massacre de Sharpeville, na província de Gauteng na África do Sul. Nesse mesmo dia em 1960, o Congresso Pan-Africanista organizou um protesto contra a Lei do Passe, um documento que continha foto, dados pessoais, números e registros profissionais, além de anotações sobre imposto de renda e ficha criminal, que todas as pessoas negras tinham que carregar sempre e apresentar às autoridades quando solicitadas, sendo sumariamente detidas se estivessem sem ele.

No fim de 1959, o Congresso Nacional AfricanoCNA, em sua conferência anual anunciou que o ano seguinte seria o ano da luta contra o passe, marcando para 31 de março a manifestação, o Congresso Pan-Africanista, que era uma dissidência do CNA, resolveu se antecipar e marcou um protesto pacífico para o dia 21. O líder do CNA, Robert Subukwe, ordenou uma manifestação não-violenta para provocar um pane no sistema político e econômico do país, já que os negros deixariam seus passes em casa, compareceriam a delegacia para serem presos e assim superlotariam as prisões e causariam uma grande falta de mão de obra ocasionando o caos. No entanto a força policial sem aviso ou qualquer organização, abriu fogo contra a manifestação e no final de minutos de disparos, o massacre estava concluído: 69 mortos e mais de 180 pessoas negras feridas.

massacre de Sharpeville

O massacre de Sharpeville foi um divisor na história do apartheid na África do Sul e foi também o acontecimento que fez com que Nelson Mandela abandonasse a política de não violência, sendo preso em junho de 1964.   

Passado

Durante o regime escravocrata no Brasil, os espaços de socialização dos negros escravizados eram restritos aos limites das fazendas e dos engenhos, quando não muito somente dentro das senzalas e nos espaços de trabalho forçados. O que se tentava evitar eram as reuniões entre os negros e assim evitava-se também o planejamento de rebeliões e fugas. Ainda hoje é propagada uma ideia bem errônea de que os africanos que foram sequestrados para fins de escravização, ficaram a espera de alguém que os tirasse dessa situação, quando houve muitos levantes e situações de revoltas e debandadas. Uma das formas de se reunir sem levantar suspeitas, pois o motivo aparente era a comemoração de feriados católicos, eram através das Irmandades Negras que foram uma estratégia encontrada para fortalecer suas identidades e diversidades étnicas em tempos de escravidão, servindo como um espaço para resistir a opressão, praticar a fé, estimular a solidariedade e manter práticas e costumes ancestrais frente a uma sociedade hostil em pleno escravismo colonial.

As irmandades desempenhavam um papel estratégico na sociedade da época pois possibilitava aos negros ocuparem e definirem formas de atuação social e de resistência. Notava-se que nestes grupos a equidade de gênero era um valor importante, pois os relatos históricos apontam o equilíbrio da composição dos poderes, especialmente acerca do modelo de governança para as irmandades com a participação das mulheres negras em cargos estratégicos. Os associados contribuíam com jóias e taxas anuais e em troca recebiam assistência quando doentes, quando presos, quando famintos, mortos e também se cotizavam para comprar a alforria de pessoas escravizadas.

A Irmandade representava um espaço de relativa autonomia negra, na qual seus membros – em torno das festas, assembleias, eleições, funerais, missas e da própria assistência mútua – construíam identidades sociais significativas, no interior de um mundo sufocante e sempre incerto. A Irmandade era uma espécie de família ritual, em que africanos desenraizados de suas terras viviam e morriam solidariamente. Idealizada pelos brancos escravocratas como um mecanismo de domesticação do espírito africano, através da africanização da religião dos senhores, elas vieram a constituir um instrumento de identidade e solidariedade coletivas.  

Festa da Boa morte foto União dos municípios da Bahia

Essas duas manifestações, a primeira na África do Sul de 1960 e a outra no Brasil do século XIX, foram duas das várias lutas negras por emancipação que são pouco difundidas, que não constam nos livros e muitas vezes são sequer mencionadas e lembradas, porém elas aconteceram, foram documentadas e serviram como estímulo e inspiração para as manifestações e lutas do século XXI, como por exemplo, a Marcha das Mulheres Negras contra o racismo, a violência e pelo bem viver, que aconteceu pela primeira vez em 2015 em Brasília.

A marcha teve como propósito maior marcar a luta contra o racismo, a luta pela igualdade de direitos, por um país mais justo e democrático e pela defesa de um novo modelo de desenvolvimento baseado na valorização dos saberes e da cultura afro-brasileira. No final da marcha foi a entregue a presidente em exercício, Dilma Rousseff, um manifesto em que foi cobrado do estado brasileiro, entre outras pautas, medidas emergenciais para reduzir a mortalidade de mulheres em especial, de mulheres negras, pois na pesquisa feita pelo Mapa da Violência de 2015, foi percebido um aumento de 54% em dez anos no número de homicídios de mulheres negras. Além disso, a diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka reconhecida internacionalmente por ter atuado na luta contra o apartheid e pelo fim do racismo na África do Sul, participou de uma reunião com as organizadoras da marcha.  

A Marcha foi uma iniciativa de diversas organizações e coletivos do Movimento de Mulheres Negras e do Movimento Negro, contando com o apoio de importantes intelectuais, artistas, ativista, gestores e gestoras que são referência das mais diversas áreas no Brasil, América Latina e do Continente Africano.

Marcha das Mulheres Negras

A Marcha criou a partir de sua mobilização, a oportunidade de diálogo real entre mulheres negras de diferentes vertentes políticas, ideológicas, religiosas, com o fortalecimento mútuo das pautas, permitindo assim a construção a partir dos que as une e não do que as separa. Segundo Juliana Gonçalves em matéria para a revista Carta Capital: “Ao localizar historicamente o que significa ter uma marcha nacional de mulheres negras na trajetória percorrida pelas nossas ancestrais, pelas nossas mais velhas em solo brasileiro, encontramos outro ponto que dá sentido à marcha que está inserida neste contexto histórico de resistência feminina negra que rememora Aqualtune, Acotirene, Luisa Mahin, Dandara, Maria Firmino dos Reis, Carolina de Jesus, Maria Brandão dos Reis, Antonieta de Barros, Lélia Gonzáles, Beatriz Nascimento, Laudelina Campos, Theresa Santos, e tantas outras que aqui chegaram e nasceram. Dar visibilidade a essa luta histórica é fundamental para munir as novas gerações de ferramentas para o combate ao privilégio branco que estrutura a sociedade racista que vivemos”.

O Bem Viver – Futuro

De acordo com Juliana Gonçalves, o conceito de Bem Viver foi reivindicado pelo Movimento de Mulheres Negras, esse conceito não tem nada a ver com prosperidade financeira e sim é uma crítica forte ao modelo desenvolvimentista de sociedade que vivemos. A apropriação do conceito foi feito pelo Movimento de Mulheres Negras em diálogo com político e economista equatoriano Alberto Acosta no seu livro “O Bem Viver – Uma oportunidade para imaginar outros mundos”.

A teoria do Bem Viver nasceu da prática histórica e da resistência dos povos indígenas da América Latina. Ela apresenta uma forma diferente de relacionamento entre os seres humanos, as sociedades e a natureza. Acosta afirma que “o Bem Viver é uma filosofia em construção, e universal, que parte da cosmologia e do modo de vida ameríndio, mas que está presente nas mais diversas culturas”. E cita a ética e a filosofia africana do Ubuntu – “eu sou porque nós somos”.

A noção do Bem Viver propõe também abandonar a ideia de progresso, porque considera que essa noção é discriminatória e violenta. Seus princípios são relacionalidade, complementaridade, reciprocidade e correspondência. O Bem Viver surge para descolonizar a democracia e devolver-lhe seu sentido original, de governo do povo e para o povo. O autor propõe o Bem Viver para evitar a destruição provocada pelos mercados, o capitalismo e a modernidade, ele apresenta o bem Viver não como uma alternativa, mas como a única via que de fato pode se contrapor ao capitalismo. Diferentemente do socialismo, que apresenta a diversidade enquanto recorte dentro da luta contra o capitalismo, O Bem Viver traz a diversidade como fundamento.

Fontes: Artigo Identidade e diversidade étnicas nas irmandades negras no tempo da escravidão de João José Reis, Portal Por dentro da África, Carta Capital, Revista Calle.

Nota Pública de Pesar e Repúdio

Expressamos aqui veementemente o nosso pesar e repúdio ao extermínio cruel da mulher negra MARIELLE FRANCO ocorrida ontem à noite no Rio de Janeiro. O combate à violência racial; ao racismo e ao sexismo; a luta pela cidadania dos oprimidos e a defesa intransigente dos direitos da mulher negra foram as principais frentes em que essa vereadora do PSOL-RJ atuou com destemor e particular êxito.

A morte prematura de MARIELLE FRANCO desfalca de forma cruel as perspectivas para a construção de uma Democracia substantiva no país. O fato de ser mulher, negra e ativista fecunda dos Direitos Humanos, dão pistas para esclarecer essa violência que segue uma escalada seletiva das vítimas.

O FUNDO BAOBÁ tem a missão de promover a Equidade Racial no Brasil. Nesse sentido, buscamos posicionar a Questão Racial como essencial para a Democracia Brasileira.

Fiel a esse propósito, demandamos uma investigação rápida, rigorosa e imparcial do assassinato de MARIELLE FRANCO. Um quadro que combatia sem tréguas a desigualdade racial, social e de gênero, que é, precisamente, o fator crítico que torna o Brasil um País ainda precário de cidadania.

A Sociedade Brasileira aguarda com pressa o pronto esclarecimento desse assassinato covarde de MARIELLE FRANCO. Sua morte deverá inspirar a todos nós a reverter esse quadro desolador que vive o Brasil e, em particular, a cidade do Rio de Janeiro a quem ela tão bem serviu.

15/Março/2018
FUNDO BAOBÁ PARA A EQUIDADE RACIAL
Conselho Deliberativo
Amália Fischer
Ana Toni
Denise Hirao
Elizabeth L. Silva
Hélio Santos
Joelzito Araújo
Luiz Alberto O. Gonçalves
Sueli Carneiro

Conselho Fiscal
Marco Antônio Fujihara
Mário Nelson da Costa Carvalho

Comitê de Investimentos
Edison Carlos Dias
Leonardo Letelier

Dir. Executiva
Selma Moreira

Abordando a Mortalidade Materna entre Comunidades Quilombolas do Estado do Amapá.

O que é morte materna?

Segundo a Classificação Internacional de Doenças – CID – (9ª Revisão, 1975), é “a morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou localização da gravidez ou por medidas tomadas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais”.  

A Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que cerca de 830 mulheres morrem diariamente no planeta devido a causas evitáveis relacionadas à gravidez, ressaltando que 99% dos óbitos ocorrem em países em desenvolvimento, como o Brasil. A investigação se estende e a OMS afirma que 85% das mortes maternas foram por causas evitáveis, como a doença hipertensiva específica da gestação e as hemorragias. E mais, 71% dos óbitos estavam relacionados à atenção de saúde dada no pré-natal, parto e pós-parto.

O Fundo Baobá articulou junto com a Johnson & Johnson, a Associação Cultural de Mulheres Negras/ACMUN que co-elaborou e o Instituto de Mulheres Negras do Amapá/IMENA que desenvolveu, o projeto Abordando a Mortalidade Materna entre Comunidades Quilombolas do Estado do Amapá.

O Projeto foi realizado durante o ano de 2017 ampliando o olhar de cuidado para além do eixo sudeste e chegando a territórios esquecidos pelos serviços públicos de saúde, com ações que beneficiaram três Comunidades Quilombolas: Curiaú, Tessalônica e Carmo do Maruanum, focando na saúde das gestantes negras dessas comunidades e destacando três eixos: Serviço de saúde, capacitação profissional e desenvolvimento comunitário.

Para a elaboração da proposta, o Fundo Baobá realizou uma pesquisa de mapeamento sobre mortalidade infantil e saúde da mulher entre os grupos de mulheres destas comunidades. A construção coletiva da proposta e sua execução permitiu o intercâmbio de experiências, vivências e capacitação de trabalhadores da área de saúde e de ativistas do movimento social sobre a temática da saúde da população negra, em especial no que se refere à mortalidade materna e infantil e sua articulação com o racismo institucional praticado no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

O projeto realizou atividades focadas para as mulheres ativistas e profissionais de saúde que foram capacitadas para a multiplicação de informações específicas sobre o tema; garantiu a qualificação de profissionais de saúde para um melhor atendimento, com um olhar diferenciado para as questões de desigualdade racial e levou informações e orientações para pais e responsáveis sobre a melhoria da qualidade de vida das crianças, que envolve incentivo à higiene e saúde infantil, aleitamento materno, vacinação e nutrição, lembrando sempre da importância do pré-natal, do atendimento livre de preconceito e da eliminação da violência obstétrica.

Além das organizações citadas, as demais organizações envolvidas no projeto foram: Associação Mãe Venina do Quilombo do Curiaú, Rede Fulanas – NAB/Negras da Amazônia Brasileira, Organização dos Advogados do Brasil/OAB Amapá, Instituto AMMA PSIQUE e Negritude.

De acordo com Simone Cruz – ACMUN/Associação Cultural de Mulheres Negras, existe uma relação intrínseca entre racismo institucional e mortalidade materna de mulheres negras:

“O  racismo institucional é definido como a incapacidade de uma instituição em prover um serviço apropriado às pessoas em razão de sua cor, cultura, ou origem étnica, ou seja, qualquer sistema de desigualdade que se baseia em raça e ocorra em instituições, sejam elas públicas ou privadas pode-se afirmar ser racismo institucional. No que se refere ao campo da saúde não é diferente, muitos são os estudos em relação a saúde da população negra que apontam que a população negra tem maior predisposição a doenças como hipertensão, por exemplo. Esta é uma das razões que coloca as mulheres negras no topo das causas por mortalidade materna, justamente por não ter acesso a um tratamento adequado que reconheça e dê conta dessa especificidade, evitando a morte materna. Por outro lado o racismo institucional se apresenta através do tratamento oferecido às mulheres negras no SUS, que também é apontado em estudos que as mulheres negras são menos tocadas em consultas ginecológicas assim como a ideia de também as mesmas suportam mais a dor por serem mulheres “mais fortes’, o que ocorre em quaisquer circunstâncias, inclusive na hora do parto. Situações como essa que podemos afirmar como tratamento inadequado, desigual e racista, uma vez que tais condições, de serem fortes e suportarem a dor, são atribuídos somente às mulheres negras”.

Simone Cruz segue ressaltando a importância do projeto para às Comunidades Quilombolas e as mudanças advindas:   
“A realização deste projeto em comunidades quilombolas justifica-se pela necessidade recorrente no Brasil de se debater as condições desiguais a que são submetidas as mulheres negras em nosso país. Isso significa que o fato de fazer parte de uma comunidade quilombola soma-se a uma condição de subordinação a que as mulheres negras são submetidas, as colocando em uma condição de vulnerabilidade social. Atuar em Comunidades Quilombolas no estado do Amapá  nos permitiu ter uma  dimensão das desigualdades raciais relacionadas à saúde vivenciadas por mulheres negras quilombolas. O Estado do Amapá, localizado no Norte do Brasil, tem uma alta taxa de mortalidade materna, cerca de 20 mortes por mês, e a relevância dos números desta fatalidade ocorre entre as comunidades quilombolas. O resultado evidente deste projeto é o conhecimento obtido por parte das mulheres que foram obtidos a partir de vivências da realidade das suas próprias comunidades e do trabalho que lá já desenvolviam, como no caso das profissionais de saúde. As mudanças no atendimento a outras mulheres e a proposição de ações com abordagem de gênero e raça na comunidade é algo que incluíram em seu cotidiano. Com isso, nossa perspectiva é a melhoria do acesso e a melhor qualificação dos serviços para as mulheres que vivem nas comunidades quilombolas”.

Simone Cruz também pontuou algumas ações que em continuidade ao projeto desenvolvido pela parceria Fundo Baobá + Johnson & Johnson + IMENA + ACMUN podem ajudar a diminuir os índices de mortalidade materna de mulheres negras, como:

– A capacitação dos profissionais de saúde, todos, inclusive e, principalmente, xs médicxs;
– A informação porta a porta, trabalho comunitário;
– As campanhas publicitárias;
– A produção e divulgação dos dados.

A enfermeira e integrante do IMENA, Suzana Cristina Pontes deu seu depoimento sobre a importância do Fundo Baobá na implementação do projeto:

“Quando veio a proposta do projeto, eu achei de extrema importância, porque o estado do Amapá está entre os cinco estados em que a mortalidade materna tem sido crescente, e a gente viu isso. Também foi importante o debate sobre a coleta do quesito raça/cor que foi um ganho muito grande, porque existe uma grande dificuldade da população se autodeclarar a partir dos critérios oficiais do IBGE. A troca de experiência foi muito importante no que se refere ao poder da fala. Então o ganho foi muito grande. Geralmente os projetos têm início, meio e fim e este não tem fim, tem reticências, por que ficou para uma continuidade”.

Além do investimento na atenção primária, nas instalações de saúde e na capacitação profissional, uma das formas de auxiliar na redução dos números quando falasse de mortalidade materna é a estratificação das gestantes e crianças. Essa estratificação consiste na classificação das mulheres grávidas em risco habitual (quando não apresentam fatores de risco individual, sociodemográfico, de história reprodutiva anterior ou doença), risco intermediário (fatores relacionados à raça, etnia, idade, baixa escolaridade e história reprodutiva) ou risco alto (condições pré-existentes como trombose ou doenças específicas da gestação, como infecção urinária de repetição).

Após a estratificação, a atenção a gestante é dada conforme a classificação com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar que inclui enfermeiros, obstetras, psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos e outras especialidades e também a gestante sabe antecipadamente onde terá seu bebê, gerado assim muito mais tranquilidade durante a gestação.

Onde isso acontece? No Paraná, que em seis anos reduziu em 30% a mortalidade materna e agora serve de modelo para a América Latina.
fonte.


Enquanto alguns Estados brasileiros são modelos para outros países, outros estados e mesmo as Comunidades Quilombolas seguem sendo esquecidos pelos serviços públicos de saúde e pelas políticas públicas de assistência, fazendo com que seja cada vez mais importante a participação da sociedade civil e de outras instituições – como o Fundo Baobá e a Johnson & Johnson – na capacitação de profissionais e na ampliação ao acesso às informações sobre saúde e bem viver e fica assim cada vez mais visível perceber como são tomadas as decisões dos gestores de saúde pública sobre quem tem acesso aos direitos básicos, incluindo o primário: O de viver.

Negras Potências – Nós Podemos

“Ensine a sua menina que papéis de gênero são totalmente absurdos. Nunca lhe diga para fazer ou deixar de fazer alguma coisa ‘porque você é menina’. ‘Porque você é menina’ nunca é razão para nada. Jamais”
Chimamanda Ngozi Adichie

 

A população brasileira, segundo dados do último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, ultrapassou o total de 207,7 milhões de pessoas. Mais da metade deste total (53,6%) é composto por pessoas que se autodeclaram negras e neste grupo metade são mulheres.

Contudo, fazer parte do grupo racial quantitativamente majoritário da população não significa, para homens e mulheres negras, igualdade de acesso a direitos. Da mesma forma que a paridade proporcional entre os gêneros no interior deste grupo não impede que as mulheres negras ocupem a base da pirâmide no que se refere a rendimentos no mercado de trabalho ou recebam atendimento de saúde qualitativamente inferior ao disponibilizado às mulheres brancas nos postos do Sistema Único de Saúde (SUS).

Dados do Ministério da Saúde revelam que o percentual de mortalidade materna entre as mulheres negras no SUS chega a 60%. Entre as mulheres brancas este índice é de 34% e enquanto o atendimento pré natal alcança 74,5% nesse grupo, para as mulheres negras o percentual é de 55,7% no sistema de saúde público. Outro dado que compõe este quadro de desigualdade se refere aos níveis de mortalidade de crianças negras e brancas, cuja assimetria passou de 21% para 40% nos últimos vinte anos.

Em se tratando de distribuição de renda, segundo dados do IBGE divulgados em 2015, dentre os 10% mais pobres no Brasil, 76% são negros o que significa que de cada quatro pessoas que se encontram nesta categoria econômica três são negras. Por outro lado na faixa dos 1% mais ricos, 79% são brancos.

Ao voltar o olhar para o mercado de trabalho, a “Pesquisa Mulheres e Trabalho: breve análise do período 2004-2014” realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aprofunda a informação acerca de rendimentos ao revelar que as mulheres negras recebem a menor remuneração em comparação com a do grupo homens brancos: menos de 40% da renda média calculada em R$ 2.393,00. Ainda de acordo com a mesma pesquisa citada, o desemprego também atinge de maneira proporcionalmente maior as mulheres negras em comparação com os homens brancos tendo alcançado o nível de 10,2% em 2014 para o primeiro grupo frente 4,5% para o segundo.

As trabalhadoras negras são maioria no mercado de trabalho informal,  atuando em atividades reconhecidas como autônomas, além de corresponderem a 39,08% da força de trabalho empregada na execução de atividades laborais consideradas precárias.

No acesso ao ensino as assimetrias permanecem, apesar dos avanços e conquistas resultantes das Políticas de Ação Afirmativas que vêm sendo implementadas nos país nos últimos cinco anos. O percentual de pessoas brancas com 25 anos (ou mais) com menos de um ano de estudo é de 7,4%, negras 14,4%. O percentual de analfabetos negros ultrapassa os 4% ao passo que as pessoas brancas somam 1,8%.

As pessoas negras correspondem a 78,9% dentre os 10% da população com maiores chances de serem vítimas de homicídios e possuem 23,5% mais chances de sofrer assassinato em comparação aos indivíduos brancos. A cada cem (100) pessoas assassinadas no Brasil, setenta e uma (71) são negras.

Esses dados são resultado de séculos de acúmulo de desigualdades que se iniciaram ainda no período da escravidão e se mantiveram com a ausência de políticas públicas para inserir a população negra como parte fundamental para o desenvolvimento do país, seja por uma perspectiva humanitária ou econômica.

Todos esses dados juntos apontam para um fato no tocante econômico: Somente em 2089, daqui a pelo menos 71 anos, negros e brancos terão uma renda equivalente no país. Essa conta é feita com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), considerando rendimentos como salários, benefícios sociais, aposentadoria, aluguel de imóveis e aplicações financeiras, entre outros.

Ilustração Talita Marques


Mulheres trabalham em média
7,5 horas a mais do que os homens por semana.No carnaval do Rio de Janeiro de 2017, uma mulher foi agredida a cada quatro minutos. Meninas passam mais tempo nos afazeres domésticos do que meninos. Uma pesquisa realizada por algumas universidades americanas aponta que a partir dos seis anos, a menina introjeta a desigualdade de gênero e passa a entender que somente meninos podem ser gênios. Pesquisas apontam que o Brasil é um dos piores países da América do Sul para ser menina.

Esses dados são indicativos assustadores de uma realidade urgente, a necessidade de se discutir a igualdade de gênero desde criança, a discriminação contra a menina hoje é a violência contra a mulher de amanhã, e perpetua um ciclo que fortalece o agressor – seja ele o homem, o Estado que não protege a mulher ou a política que deslegitima – e desune as próprias mulheres, vítimas primeiras de um pensamento social e historicamente construído de que ser mulher é ser menos.

E é aqui que entra o empoderamento das mulheres e meninas negras como forma de mudança dessa realidade, como meio para transformar quem é número de estatística em agente da mudança, quem é vista como problema em peça fundamental da resolução.

O educador Paulo Freire foi o pioneiro no uso do termo “Empoderamento” no Brasil, ele fez a tradução da palavra criada em 1977 pelo psicólogo americano Julian Rappaport, que transformou o verbo “to empower” (dar poder) no substantivo “empowerment”.

O uso do termo foi crescendo desde então e ganhou forças em 2013 com o boom das causas sociais na internet e fazendo uma busca rápida no Google, o termo aparece em mais de 5 milhões de resultados em português e mais de 84 milhões de resultados se a pesquisa for pelo termo em inglês.

Empoderamento: É a ação social coletiva de participar de debates que visam potencializar a conscientização civil sobre os direitos sociais e civis. Essa consciência possibilita a aquisição da emancipação individual e também da consciência coletiva necessária para a superação da dependência social e dominação política. O empoderamento devolve poder, dignidade e principalmente liberdade de decidir e controlar seu próprio destino, com responsabilidade e respeito ao outro.  

Empoderamento feminino: Consiste na concepção do poder das mulheres como forma de exigir equidade de gênero nos variados tipos de atividades sociais, de modo democrático e responsável, é um desafio às relações patriarcais, em relação ao poder dominante do homem e a manutenção dos seus privilégios de gênero e a autonomia no que se refere ao controle dos corpos femininos, das sexualidades e das liberdades.

Empoderamento é então a consciência coletiva que se expressa por meio de ações concretas para fortalecer as mulheres e alcançar a equidade de gênero.  

Muito se discute o empoderamento pelo viés estético/imagético, a partir principalmente da aceitação dos seus traços capilares, ampliando para o vestuário, os acessórios, ou seja, a forma como o mundo enxerga mulheres e meninas negras, afinal, se reconhecer como um ser humano pleno – não feio e subalternizado – está ligado diretamente a autoestima e orgulho e quando se tem orgulho de quem se é, é mais fácil impactar e influenciar os seus pares e muito mais fácil entender as amarras das estruturas racistas.

O termo empoderamento é muita vezes mal interpretado, visto como algo individual e como a continuação da perpetuação das opressões, porém bell hooks o define como algo com significado coletivo, pois trata-se de empoderar a si e aos outros e colocar as mulheres negras como sujeitos ativos de mudança, diz respeito a mudanças sociais numa perspectiva anti racista, anti elitista e anti sexista através de mudanças das instituições sociais e consciência individuais, sendo necessário criar estratégias de empoderamento no cotidiano, em experiências habituais no sentido de reivindicar direito a humanidade.

É necessário o apontamento de que quando falamos de empoderamento de mulheres e meninas negras estamos falando em luta pela equidade, em fortalecer mulheres negras com o objetivo de promover uma sociedade mais justa, afinal a conquista de uma mulher negra não pode ser descolada de seu papel político como exemplo e espelho para diversas outras mulheres. Empoderar aqui, significa tomar consciência dos problemas que afligem as mulheres e meninas negras e criar mecanismos para combatê-los.

Mulheres e meninas negras empoderadas são referências para outras mulheres, são líderes políticas, agentes de transformação, são emblemáticas no desenvolvimento de suas comunidades, na defesa de direitos, na manutenção das tradições culturais e religiosas e se tornam mulheres e meninas negras fortes, engajadas, preparadas para levantar questões, apontar problemas, propor alternativas, liderar processos e se empenhar nas mudanças que são urgentes para alterar os alarmantes dados que assolam a comunidade negra.

Criar novos modelos de projetos colaborativos e participativos, possibilitar a movimentação na estrutura social e econômica em contextos locais, explorar as possibilidades de parceria com as demais organizações, facilitar a mobilização política de mais mulheres, intervir na negociação de interesses, engajar uma articulação coletiva. Esses são apenas alguns dos passos que uma mulher e uma menina negra podem dar ao adquirirem consciência das suas potencialidades, ao se empoderar.

Então, não. Quando falamos de mulheres negras e, principalmente de meninas negras, não estamos falando de algo no campo individual, estamos falando de mudanças na coletividade e consequentemente na sociedade.

Empoderar-se também é tomar pra si o poder da palavra, é quebrar a barreira do silêncio e sobretudo sair do lugar de silenciada. Audre Lorde é categórica quando afirma que “Temos medo, porque a transformação do silêncio em linguagem de ação é um ato de auto revelação e isso sempre parece estar cheio de perigos… No silêncio, cada uma de nós desvia o olhar de seus próprios medos – medo do desprezo, da censura, do julgamento, ou do reconhecimento, do desafio, do aniquilamento. Mas antes de mais nada acredito que tememos a visibilidade, sem a qual entretanto não podemos viver, não podemos viver verdadeiramente. Nesse país em que a diferença racial cria uma constante – ainda que não seja explícita – distorção da visão, as mulheres negras têm sido visíveis por um lado, enquanto que por outro lado nos fizeram invisíveis pela despersonalização do racismo. Ainda dentro de movimento de mulheres tivemos que lutar, e seguimos lutando, para recuperar essa visibilidade que ao mesmo tempo nos faz mais vulneráveis: a de ser negras. porque para sobreviver nesta boca de dragão que chamamos de América, tivemos que aprender esta primeira lição, a mais vital, e não se supunha que fossemos sobreviver. Não como seres humanos. E essa visibilidade que nos faz tão vulneráveis é também a fonte de nossa maior fortaleza. Porque a máquina vai tratar de nos triturar de qualquer maneira, tenhamos falado ou não. Podemos nos sentar num canto e emudecer para sempre enquanto nossas irmãs e nossas iguais são desprezadas, enquanto nossos filhos são deformados e destruídos, enquanto nossa terra está sendo envenenada, podemos ficar quietas em nossos cantos seguros, caladas como se engarrafadas, e ainda assim seguiremos tendo medo”.

E seguindo os ensinamentos de Audre Lorde, que façamos mais tentativas de quebrar o silêncio por entender que é ele que nos imobiliza e ainda restam muitos silêncios para romper!

Negras Potências – nosso edital que está no ar – é a busca por iniciativas e soluções de impacto que contribuam para o empoderamento de meninas e mulheres negras, que ajudem na visibilidade dos múltiplos fazeres que as agentes da sociedade civil estão pensando e produzindo para a mudança no cenário nacional, quando falamos de desigualdades raciais e sociais.
Acesse e saiba mais: https://benfeitoria.com/canal/negraspotencias