Giovanni Harvey, diretor Executivo do Fundo Baobá, fala em live sobre direitos humanos no Brasil de 2022

Encontro promovido pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) teve  participação da psicóloga Cinthya Ciarallo e mediação de Yuri Silva  

Por Flavio Carrança

O que esperar da luta pelos direitos humanos no Brasil neste ano tão importante para o país?  Este foi o tema da live promovida em fevereiro pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, o IREE Direitos Humanos.     No período recente, houve no Brasil um desmonte das políticas públicas para a área desses direitos, com cortes de orçamento e o abandono de instrumentos elaborados para uma política nacional no setor. O diretor executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial, Giovanni Harvey, foi um dos participantes, junto com a psicóloga Cinthya Ciarallo, que atua como docente e desenvolve trabalhos técnicos voltados para a defesa dos direitos humanos em diferentes áreas.  A mediação foi de Yuri Silva, coordenador do IREE.

Lembrando que falas muito graves e ofensivas feitas por ocupantes do governo tiveram até certo momento suas gravidades relativizadas, Harvey destacou o fato de que, mesmo com certa demora, a truculência, a brutalidade e o grotesco de diversas declarações feitas por ocupantes de cargos no primeiro escalão do atual governo acabaram por provocar uma reação em determinados setores. ”Eu sempre convivi em espaços majoritariamente constituídos por pessoas brancas e comecei a ver  pessoas brancas que nunca se manifestaram sobre essa questão, ou que pensam a partir da branquitude, se manifestarem de uma forma que eu nunca vi ao longo de décadas. O que quero dizer com isso: que nosso desafio é resgatar o fio da história e não perder essas alianças que foram estabelecidas nesses últimos tempos. Acho fundamental. Nesse aspecto, o papel das empresas privadas, das organizações sociais e da sociedade civil é extremamente importante.”

Cinthya Ciarallo destacou a importância de se discutir a comunicação, diante do grande desafio representado pelo mundo digital, lembrando a importância do papel da informação no resultado da eleição de 2018. Ressaltou ainda que mesmo pessoas que têm um mínimo de compreensão sobre o que é uma postura ética com relação aos direitos humanos têm medo de serem constrangidas ou canceladas em suas bolhas caso vistam a camisa dessa causa. “Falar de direitos humanos é muito bonito, porque é um palco, é super panfletário, dentro dos pares, mas em que medida realmente as pessoas conseguem compreender que a gente está falando de violências estruturais? Então,  acho que o grande desafio que a gente tem é que hoje, como ainda seguimos numa lógica muito polarizada – ‘ele é do mal, eu sou do bem’ –  ela não tem nos permitido discutir efetivamente que lugar nós ocupamos nessa história toda, do quanto que a gente está disposto a abrir mão, do quanto que gente está disposto, numa disputa de poder numa sociedade desigual, a abrir mão de parcela do que a gente chama de privilégio, do que a gente chama de poder.”   

Giovanni Harvey reiterou ver um avanço com relação aos direitos humanos no campo da iniciativa privada e do terceiro setor, lembrando que existe um desafio para quem atua nesse campo: fazer com que tais pessoas permaneçam mobilizadas em torno dessa agenda, de maneira a possibilitar a construção de uma aliança mais qualificada do que existiu anteriormente.  Segundo o diretor executivo do Fundo Baobá, antes, o ambiente na iniciativa privada não era tão permeável a esse debate. Enfrentava-se muita resistência de atores e atrizes que hoje têm um comportamento diferente.  Para ele, o desafio hoje colocado é de como resgatar o fio da história sem que essas pessoas se retraiam: “Eu sempre falo que temos que construir uma visão de onde queremos chegar. Não podemos ficar o tempo inteiro apenas com uma pauta de reivindicação. O que a equidade constrói? Sem desconsiderar toda essa barbárie, a gente consegue fazer esse enfrentamento e ao mesmo tempo construir um ideário de desenvolvimento que contemple a diversidade como um elemento central de um projeto de desenvolvimento do país em todas as suas dimensões”.

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