Por Ingrid Ferreira

Em 21 de junho de 1830, nasceu em Salvador – Bahia um grande ícone da história brasileira; autodidata, abolicionista, republicano, jornalista e advogado, é ele, Luiz Gama, que é comparado a Zumbi dos Palmares em sua importância na luta anti escravocrata no Brasil, como é possível conferir no relato do jornalista e escritor Laurentino Gomes e na produção audiovisual do canal Tempo História.

Gama nasceu livre, filho de uma mulher africana chamada Luiza Mahim e ao que tudo indica, guerreira e islâmica. Há rumores que ela participou da Revolta dos Malês e, por essa razão, não pôde participar da criação do filho. Por outro lado, o pai era um fidalgo português importante na Bahia da época, que estava com dívidas de jogos e vendeu o próprio filho como escravo.

Naquele tempo, as pessoas escravizadas na Bahia tinham fama de revoltosas, o que não despertava o interesse dos senhores de engenho em comprá-las, por isso o menino foi mandado para o Rio de Janeiro e depois para o interior de São Paulo, em Campinas, onde chegou quando estava com 10 anos.

Em São Paulo, aos 17 anos aprendeu a ler, mostrando que além de tudo era autodidata. Em seus estudos sobre direito descobriu que sua venda havia sido ilegal, pois ele era um homem livre. Tendo provas disso, ele fugiu do cativeiro. A história de Luiz Gama se assemelha muito à história do filme norte-americano “12 anos de escravidão”, de 2013, que fala justamente de um homem negro livre, que é sequestrado e vendido como escravo.

Diante de sua história, como forma de tratar desse momento tão difícil de sua vida, Gama decidiu nunca revelar o nome de seu pai; por outro lado, sua mãe sempre foi uma grande figura para ele, tanto que chegou a procurá-la, porém, infelizmente não teve sucesso, como é possível ver nos registros de cartas que deixou, falando de seu pai, sua mãe e suas lutas.

Após esse processo, Luiz Gama serviu durante 6 anos a força pública, depois foi nomeado escrivão de polícia, cargo que ocupou durante 15 anos, até que foi demitido por ser alguém envolvido em causas que lutavam pela liberdade. Após esse acontecimento, ele pediu a um juiz o direito de advogar na comarca de São Paulo, sendo nomeado como um rábula (advogado sem formação), e nesse mesmo período tornou-se jornalista, decidido a escrever contra as injustiças da época como forma de denúncia.

O trabalho no jornal teve início através da parte técnica. Ele aprende o ofício de montagem dos jornais, formatação manual como era na época e distribuição. Nisso ele passa a dedicar-se à escrita, tornando-se sócio e proprietário de uma tipografia e dedicando-se às letras dentro do Direito e do Jornalismo, sendo um homem da mídia do seu tempo, inclusive estampando nos jornais as ameaças de morte que ele recebia.

Por intermédio de sua luta pela abolição e pela república, Luiz Gama foi uma celebridade do seu tempo, ainda que tenha morrido muito jovem aos 52 anos, vítima de diabetes. Gama deixou um legado surpreendente, tendo libertado, ao longo de sua vida,  mais de 500 pessoas escravizadas. 

Apesar de ser um homem negro vivendo uma vida atípica para a época, Gama sabia muito bem das dificuldades que assolavam a vida do seu povo, tanto que declarou que todo escravo que atacasse o seu senhor, independentemente da situação, estava agindo em legitima defesa.

Mesmo com todas as vitórias ao longo de sua vida, Gama não deixou bens em dinheiro para sua família ao falecer, mas com certeza deixou um grande legado para todos, em seu velório, as pessoas se revezavam para carregar o seu caixão. Atualmente, encontra-se na Praça da República em São Paulo , uma estátua de seu busto que o homenageia, além de uma instituição que carrega o seu nome e é uma associação civil sem fins lucrativos formada por um grupo de juristas, acadêmicos e militantes dos movimentos sociais que atuam na defesa das causas populares.

Foto realizada com estudantes do Programa Já É e equipe do Fundo Baobá em tour por São Paulo, com o guia Allan da Rosa

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