Por Wagner Prado

Em 18 de julho de 1988, um show realizado no antigo estádio de Wembley, em Londres (Inglaterra), chamou a atenção do mundo. Artistas dos Estados Unidos, da Europa e da África estavam unidos para celebrar o aniversário de Nelson Mandela, líder da revolução contra o Apartheid (regime de separação racial) na África do Sul. Mandela completava então 70 anos de vida. Desses 70, 25 ele havia passado na cadeia. Sentenciado a cumprir prisão perpétua em 1963, ele havia sido acusado de traição por liderar revoltas que colocavam o regime segregacionista em cheque. Mandela era líder do CNA (Congresso Nacional Africano) e, para derrubar o Apartheid, encorajava a luta armada.

Rolihlahla Mandela nasceu em 1918 em uma tribo no povoado de Mvezo, província do Cabo Oriental, na África do Sul. Devido à influência inglesa na colonização sul-africana, quando foi matriculado na escola foi determinado a ele um nome inglês. Em homenagem ao almirante Horatio Nelson, da Marinha Britânica, que se tornou famoso por ter enfrentado as tropas de Napoleão Bonaparte, Mandela acabou recebendo o nome Nelson. Ele foi para a escola porque fazia parte da aristocracia tribal. Era sobrinho do rei e isso o ajudou a chegar ao nível universitário. 

A luta contra as injustiças influenciaram a vida de Nelson Mandela desde cedo. Ao ingressar na Universidade de Fort Hare, a única da África do Sul  que aceitava alunos negros, logo  se envolveu com a política estudantil. Ao protestar contra a qualidade da comida que era servida aos alunos, recebeu uma reprimenda. Entre baixar a cabeça, se retratar e seguir a trilha dos contestadores, ficou com a segunda opção, deixou a universidade e mudou-se para Joanesburgo. Acabou concluindo o curso de Direito, por correspondência, na Universidade da África do Sul. Para sobreviver em Joanesburgo, consegue um emprego como guarda em uma mina de ouro. Ali, toma conhecimento de todas as atrocidades pelas quais os negros passavam como funcionários e cidadãos. 

Sua trajetória como advogado começa em 1942. Um escritório de Direito abre uma vaga destinada a um negro. Mandela consegue a vaga e exercendo seu trabalho toma contato com o Congresso Nacional Africano. Crítico, ele discorda da passividade do CNA no que dizia respeito à falta de posicionamento diante das atrocidades que a segregação impunha ao povo preto. Mandela funda a Liga da Juventude do CNA, uma ala radical pela defesa dos valores culturais negros sul-africanos. A Liga da Juventude do CNA prega a desobediência civil contra o regime segregacionista. 

Shaperville

O Massacre de Shaperville, em março de 1960, foi determinante para a prisão de Mandela. A população negra decidiu protestar de forma pacífica contra a Lei do Passe. Eles eram obrigados a portar uma caderneta que determinava os lugares para onde poderiam ir. Quem fosse pego em outra área que não as determinadas na caderneta era preso de forma sumária. Cerca de 30 mil pessoas foram para as ruas pedir o final da Lei do Passe. A polícia decidiu acabar com a Marcha atirando, com isso seus agentes assassinaram 69 pessoas. Outras 186 foram feridas. Mandela foi arrolado como um dos responsáveis pela Marcha, acusado de traição e condenado à prisão perpétua em 1963 com outros líderes do CNA e do Congresso Pan-Africano. 

O massacre, a prisão de Mandela e outros líderes fizeram o mundo prestar maior atenção no que acontecia na África do Sul. Em 1976, com Mandela preso há 13 anos, rebeliões contra o Apartheid eclodiram por todo país. A revolta era principalmente contra a obrigatoriedade de se falar o africâner nas escolas, língua derivada do holandês e que foi desenvolvida na África do Sul no período de colonização. O governo rechaçou as rebeliões matando 1.000 pessoas e prendendo outras 6.000. Movimentos antiapartheid passaram a surgir no mundo todo, pedindo o fim do regime e, a reboque, a libertação de Mandela e de outros líderes. 

Contrainformação

Para provar que o preso Mandela era  bem tratado na prisão de Robben Island, as autoridades sul-africanas promoveram um convite a jornalistas de vários países para irem à prisão e se avistarem com ele. Mandela não perdeu a oportunidade, aproveitou a presença dos jornalistas e falou da situação do seu país. Como resultado, acabou transferido de Robben Island para a prisão de Pollsmoor, onde ficou de 1982 a 1988. Depois de Pollsmoor, uma nova transferência, agora para a prisão de Victor Verster, onde ficou de 1988 a até sua libertação em 1990.  

A Liberdade

Sentindo que a África do Sul poderia passar por uma guerra civil, dado o avanço da extrema direita, que não queria perder os privilégios do Apartheid, e a consequente resistência negra aos direitistas, o então presidente Pieter Botha passou a negociar a libertação de Nelson Mandela. A intenção de Botha era  que Mandela fizesse uma renúncia oficial à luta armada, fato que nunca ocorreu. Tudo estava sendo alinhavado, mas Botha teve uma doença grave que culminou com o seu afastamento da presidência. O bastão foi passado para Frederik De Klerk, que seguiu na mesma estratégia. Em dezembro de 1989, De Klerk manda tirar Mandela da prisão para um encontro na sede do governo sul-africano.  Segundo depoimento de De Klerk, naquela noite do jantar com Mandela, eles não tocaram no assunto da libertação e nem sobre o fim do regime separatista-assassino. Teria sido apenas um encontro de conhecimento mútuo. Porém, dois meses depois, Frederick De Klerk vai até o Parlamento e, em discurso, declara que estavam canceladas todas as prerrogativas que proibiam as atividades do Congresso Nacional Africano, do Congresso Pan-Africano e do Partido Comunista Sul-Africano. Além disso, todos os líderes dessas organizações, detidos pelos seus crimes, seriam libertados. Em 11 de fevereiro de 1990, após 27 anos de cativeiro, Nelson Mandela é libertado. 

Queda do Apartheid    

Para quem pensou que a liberdade colocaria fim aos anseios de Mandela, enganou-se. A busca dele não era pela liberdade. Seu objetivo maior era colocar fim ao regime que oprimia seu povo. Em 13 de fevereiro de 1990, Mandela faz um discurso no estádio Soccer City, em Joanesburgo, e clama pela democracia: “A África do Sul só será livre quando o seu governo for eleito democraticamente”. Mandela sai em viagens ao exterior, angariando simpatia e apoio de grandes líderes mundiais, que o recebiam com honras de chefe de Estado. A pressão pela democracia na África do Sul passou a ser mundial. Frederick De Klerk convoca um plebiscito para saber se as negociações com o CNA continuariam. Apenas a população branca votaria. O “SIM” ganhou de forma esmagadora, com 68% dos votos. O caminho para a convocação de eleições estava aberto. Pelas contribuições em busca do entendimento entre brancos e negros na África do Sul, Nelson Mandela e Frederick De Klerk ganharam o Prêmio Nobel da Paz em 1993. 

Mandela Presidente

Em 27 de abril de 1994 ocorrem as primeiras eleições democráticas na África do Sul. O Congresso Nacional Africano, tendo Nelson Mandela como candidato a presidente, venceu a eleição com 12.237.655 votos; o Partido Nacional ficou com 3.983.690 e o Partido da Liberdade Inkhata ficou com 2.058.294. Mandela se tranformava no primeiro presidente negro a comandar a África do Sul pós-Apartheid. 

Mandela em Filmes, Músicas e Livros

Invictus – filme de 2009

Nelson Mandela é interpretado por Morgan Freeman

Após assumir a presidência, Mandela traça uma estratégia para unir brancos e negros na África do Sul. O esporte é a saída e ele usa a Copa do Mundo de Rúgbi de 1995 para isso.

Mandela: Longo Caminho para a Liberdade – filme de 2013

Nelson Mandela é interpretado por Idris Elba

O filme é baseado na biografia de Mandela, cujo nome é o mesmo do filme. Traça um bom retrato do que forjou o espírito aguerrido e a resiliência de um dos maiores líderes do mundo moderno.

Mandela Day – Música do Simple Minds

A música foi escrita e tocada pela primeira vez no aniversário de 70 anos de Nelson Mandela, durante show no estádio de Wembley, em Londres. O show pedia a liberdade do líder sul-africano.

Free Nelson Mandela – Música do The Specials

Longo Caminho para a Liberdade – Livro de 1994

Relata a infância, juventude, ativismo e os 27 anos em que Mandela passou na prisão.

Cartas da Prisão de Nelson Mandela – O livro traz 200 cartas escritas por Mandela durante os 27 anos em que esteve aprisionado. São registros de inspiradoras reflexões de um homem que soube resistir até alcançar seu objetivo: a queda do regime racista do Apartheid na África do Sul.

Fontes: 

Documentário Nelson Mandela, o Homem por Trás da Lenda – NatGeo

Documentário Nelson Mandela: Apartheid, Racismo e Um Longo Caminho para a Liberdade – Youtube

Show Mandela Day – Julho de 1988 – Youtube

Longo Caminho para a Liberdade – Livro

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