No Dia de Adolescentes, é essencial reconhecer a importância da promoção da educação em nosso país

Baobá - Fundo para Equidade Racial

21 de setembro de 2021

Por Marcos Furtado e Mônica Moreira, do Perifa Connection,  em parceria com Vinícius Vieira 

Hoje é celebrado no Brasil o “Dia de Adolescentes”, uma data instituída no país no ano de 1996.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui uma população de 211 milhões de pessoas, dos quais 69,8 milhões são crianças e adolescentes entre zero e 19 anos de idade, o que representa 33% da população total do país.

Mais da metade de todas as crianças e adolescentes brasileiros são afrodescendentes e um terço dos cerca de 820 mil indígenas do país é criança. A região onde se concentra a maior população nessa faixa etária é a Sudeste, com mais de 89 milhões de crianças e adolescentes.

Entretanto, mesmo com esse número elevado no país, há adolescentes vivendo em situação domiciliar de extrema pobreza. Um levantamento realizado pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), em 2019, relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), mostra que 9,1 milhões de adolescentes vivem em lares com uma renda per capita mensal inferior ou igual a um quarto de salário mínimo.

Outro dado alarmante envolvendo os adolescentes, é relacionado ao aumento da taxa de homicídos entre adolescentes e jovens no país. Segundo os dados do Atlas da Violência 2020, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostra que 30.873 jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos foram mortos em 2018 no Brasil, quantidade que equivale a 53,3% dos registros da pesquisa.

Quando o assunto é educação, trazendo para o recorte racial, uma pesquisa do IBGE, de 2018, mostrou que um terço dos brasileiros entre 19 e 24 anos não havia conseguido concluir o ensino médio naquele ano. Entre os que não conluíram esta etapa, 44,2% são homens jovens negros. Muitos dos motivos que mostram a evasão escolar corresponde ao fato de o adolescente negro, com menos de 18 anos, ingressar mais cedo no mercado de trabalho.

Pensando nisso, que o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou em 2020 o Programa Já É: Educação e Equidade Racial, em parceria com a Fundação Citi, com a premissa de potencializar a educação dos jovens negros de regiões vulneráveis, impulsionando para ajudá-los a ultrapassar o estreito gargalo que impede seu acesso a boas universidades e, posteriormente, a postos de trabalho mais altos na hierarquia das empresas.

Quem faz parte do Programa Já É é a adolescente Mayara Maria Malta, de 17 anos, moradora do bairro de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Antes mesmo de ela terminar o ensino médio, ela ingressou em um curso técnico em administração. No entanto, após alguns cortes, a instituição em que a jovem estuda teve sua carga horária reduzida e concentrou as matérias da formação geral nos dois primeiros anos, deixando para o terceiro apenas a profissional. “A gente aprendeu tudo (do ensino médio) no primeiro e no segundo ano. Foi tudo muito rápido e puxado”, explica. 

Além das alterações na estrutura do ensino de sua escola, a vestibulanda também teve que lidar com os impactos do isolamento social que a pandemia da Covid-19 trouxe para o sistema de ensino. Com a mãe desempregada, o pai afastado do trabalho por questões de saúde, as irmãs com seus filhos em casa e a instabilidade do sinal da internet em alguns cômodos, a vestibulanda precisou se reinventar para estudar. “Eu cheguei a estudar na cozinha e é aquele vai e vem de criança correndo e gritando. Foi bem complicado”, conta.

Mayara Maria Malta, 17 anos

E mesmo diante de todas as adversidades, Mayara encontrou na produção de conteúdo para as redes sociais uma maneira de melhorar o seu estado de saúde emocional. “Eu consegui controlar toda essa ansiedade na internet. Acredito que muitos jovens entraram na internet por conta disso. Então eu consegui sair dessa situação não me distraindo, mas produzindo conteúdo para alcançar outras pessoas.” O que começou como uma forma de driblar toda a pressão dos estudos no ano pandêmico se converteu na identificação de uma carreira: o marketing digital. “No curso técnico de administração, eu tive contato com marketing. E sabe quando você se apaixona? E aí no ano passado eu fui buscar mais sobre isso. Foi quando eu comecei a falar sobre o assunto no meu perfil no Instagram.”

Caminhando para se tornar uma influenciadora digital, Mayara tem consciência da importância do que é produzido na internet. Tanto é que outras temáticas presentes em suas publicações são os cuidados com a aparência e autoestima. “Eu já me autosabotei muito, principalmente no mundo em que a estética é muito importante. Comecei a ir para frente nesse assunto quando comecei a me aceitar, a cuidar de mim e conhecer a Mayara de verdade”, conta.

Do outro lado da capital, mais precisamente em Interlagos, bairro localizado no extremo da zona sul da cidade de São Paulo, vive Luiz Felipe Motta da Silva, junto com os pais e seus quatro irmãos. Com 18 anos de idade, Luiz teve a experiência do ensino médio integrado ao técnico de nutrição, que foi importante para que o jovem descobrisse o gosto que tinha pela área da saúde. Mas, durante a pandemia, o amor pela Medicina falou mais alto e Luiz decidiu que não queria ser nutricionista. “Eu já pensei em vários cursos, Biomedicina, Enfermagem, Biologia. Mas aceitei que Medicina é algo que eu quero muito e estou disposto a tentar passar, mesmo que eu fique alguns anos tentando”.

Por amar praticar esportes, como vôlei, Felipe gostaria de seguir uma especialização que trabalhe diretamente com atletas. Porém, ele diz estar aberto a conhecer outras áreas da Medicina até definir o que seguir.

Luiz Felipe Motta da Silva, 18 anos

Luiz também conta que tinha o plano de fazer intercâmbio no exterior, mas por alguns problemas, não deu certo. Agora ele pretende realizar esse sonho antigo durante a faculdade. “Fico triste até hoje por não ter ido para os Estados Unidos, mas quero tentar fazer um semestre da faculdade fora do país. Eu quero muito viajar e conhecer outros lugares. Meu destino dos sonhos é ir pra Cidade do Cabo, na África do Sul, eu vi que eles falam vários dialetos e quero aprender mais inglês com eles”, afirma o jovem.

O Brasil ainda tem muito o que avançar na proteção dos adolescentes e na promoção dos seus direitos. Acompanhando a trajetória de adolescentes negros como a de Mayara e de Luiz Felipe, além dos outros 82 jovens selecionados no Programa Já É, fica evidente o quanto a educação é essencial para construção de uma sociedade equânime.

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