Olimpíada de Tóquio 2020: Negras, Negres, Negros de Ouro, Prata e Bronze

Baobá - Fundo para Equidade Racial

19 de agosto de 2021

Por Wagner Prado

Os recém-encerrados Jogos Olímpicos Tóquio 2020, a 32ª edição da Olimpíada, foram marcados pela diversidade, com 163 atletas LGBTQIA+, a inclusão de cinco novos esportes: surfe, skate, karatê, escalada, beisebol/softbol, ameaça de punição a um protesto político e, no âmbito brasileiro, a conquista de 21 medalhas, superando as 19 dos Jogos Olímpicos Rio 2016, o que deu ao Brasil sua melhor colocação em Jogos Olímpicos, o 12º lugar, uma posição acima do 13º lugar no Rio, há cinco anos. 

Dessas 21 medalhas, oito atletas negras e negros foram responsáveis por 9 medalhas. Rayssa Leal (prata/skate),  Isaquias Queiroz (ouro/canoagem), Rebeca Andrade (ouro e prata/ginástica artística), Hebert Conceição (ouro/boxe), Beatriz Ferreira (prata/boxe), Abner Teixeira (bonze/boxe), Alisson dos Santos (bronze/atletismo) e Thiago Braz (bronze/salto com vara). Isso sem contar esportes coletivos, onde estão Fernanda Garay e Ana Cristina (prata/vôlei feminino) e Lucão, Abner, Daniel Alves, Gabriel Menino, Guilherme Arana, Claudinho, Matheus Cunha, Paulinho, Richarlison e o responsável pelo gol do título, Malcom (ouro/futebol). 

Ouro, prata e bronze: Hebert Conceição (boxe), Rayssa Leal (skate) e Alisson dos Santos (atletismo), foram alguns dos medalhistas negros nas Olimpíadas em Tóquio

A influenciadora digital e desportista Mia Lopes, baiana de Salvador e radicada em São Paulo, faz uma análise do que foi a participação dos atletas negros em Tóquio. Mia é criadora do Afroesporte, que mesmo no momento pré-olímpico passou a fazer postagens sobre os nomes negros que estariam na disputa no Oriente e suas possibilidades.

Mia Lopes experimentou muito mais o sucesso agora com a Olimpíada de Tóquio. O Afroesporte acabou sendo fonte de informação e pesquisa para muita gente que recorreu à página para incrementar seu nível de informação sobre os e as atletas negras e negros. “Por incrível que pareça eu não esperava que o Afroesporte fosse performar tão bem em plataformas como o Linkedin, por exemplo. Daí, com as interações, passei a focar em outras plataformas também. Ainda não conseguimos mensurar tudo, mas assim que nosso business intelligence fechar esses números, vamos divulgar”, disse Mia. 

Mia Lopes, criadora do Afroesporte

Mia é atleta amadora e considera que as atletas  e os atletas do Brasil são, primeiramente, fruto de seu próprio talento nato, que acabou saltando barreiras. “Eu gosto sempre de falar que a Olimpíada surgiu de forma extremamente  excludente. Ela nasceu racista e machista. Sem negros e mulheres, nem nas arquibancadas”, disse. O fato de o Brasil ter entre medalhadas e medalhados essa presença negra é importante. “Tem o pessoal aí que fala: ‘ah, tem gente aí que ganha o Bolsa Atleta (programa de incentivo do Governo Federal que destina salários de acordo com resultados e representatividade de competidores). Mas, e se a gente for botar na ponta da caneta quanto custa a vida de uma ou um atleta? Assessoria esportiva. É preciso treinar, ter orientação de nutricionista, ter suplementação alimentar. R$ 8 mil não são somente para o esporte, acaba sendo pelo conjunto dessas coisas. Aí não dá conta”, afirma.

Para Mia Lopes, o próximo ciclo de preparação olímpica, que será de apenas três anos devido ao adiamento de Tóquio de 2020 para 2021, por conta da Pandemia da Covid-19, será difícil para atletas brasileiros. Talentos como Rebeca Andrade, que alcançou ouro e prata na ginástica artística, podem surpreender. “Quero dar o exemplo da minha avó. Ela fazia uma feijoada todo domingo uma feijoada muito famosa, e ninguém sabia do que era feito essa feijoada. O segredo da feijoada de Dona Santa era a xepa da feira que ela ia no final da tarde com a minha mãe e os outros filhos catar.  Ela pegava os ossos do boi que eram jogados fora. Ela pegava a cabeça do gado. Ela raspava assim embaixo da orelha, onde tem muita carne, pra fazer a feijoada do domingo. O que os nossos atletas estão fazendo é uma feijoada muito boa com a xepa da feira e dando um show de beleza, de garra e determinação”, disse.

QUER IMPULSIONAR A CULTURA DE DOAÇÃO?

Doe para o Fundo Baobá para Equidade Racial
Junte-se a nós.
DOE AGORA