Pessoas com deficiência, o esporte e as estratégias de afirmação

Por intermédio de suas conquistas no Esporte, as PcDs (Pessoas com Deficiência) mostram para os capacitistas que são capazes de fazer qualquer coisa

Por Wagner Prado

Em 1944, o mundo ainda estava sacudido pelo flagelo da II Guerra Mundial, que terminaria um ano depois. Um neurologista de origem alemã, Ludwig Guttmann, recebeu do governo do Reino Unido o aval para abrir um centro de reabilitação para tratar lesões na coluna. O público eram os soldados feridos em batalha. Ludwig Guttman acreditava na prática esportiva como principal forma de reabilitação. Aquilo foi o embrião para o que havia começado como recreação visando reabilitação,  se transformasse em competitividade entre pessoas com deficiências. 

Como muitas ideias evoluem, Ludwig Guttmann levou seu desejo de promover uma competição entre cadeirantes para a organização dos Jogos Olímpicos de 1948 em Londres. Nascia ali a intenção de promover jogos exclusivos para PcD, chamados então de Jogos Paraolímpicos. A realização dos primeiros Jogos Paraolímpicos ocorreu em Roma, em 1960 e, desde então, acontecem a cada quatro anos após os Jogos Olímpicos.

Competir esportivamente foi e é uma grande conquista das pessoas com deficiência. Porém, algumas conquistas acabam por esconder tantas outras batalhas que estão sendo travadas por este segmento da população e a sociedade, em sua quase totalidade, não tem conhecimento. 

Uma dessas batalhas é contra o que se denomina Capacitismo, que é a atitude de discriminar, tratar com preconceito e opressão qualquer pessoa com deficiência física e motora, visual, auditiva, intelectual e de aprendizado. Criou-se o conceito de que pessoas com deficiência são inferiores. Dar a elas tratamento de comiseração é, também, uma forma de capacitismo.

O Brasil tem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para combater o capacitismo, foi instituída a Lei Federal 13.146, em 6 de julho de 2015, que é o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Em seu artigo 4º, a Lei diz que  “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.

Ainda no terreno das leis federais, a Lei 8.213 de 1991, batizada como Lei de Cotas, determina que empresas que tenham de 100 a 200 funcionários reservem 2% das vagas para PcD. Essa porcentagem vai crescendo de acordo com o número de empregados/as e chega ao máximo de 5% para empresas que tenham mais de 1001 colaboradores/as. 

A fuga da invisibilidade, a ocupação de espaços que movam a  opinião pública, a busca pela conscientização sobre os direitos das pessoas com deficiência,  têm sido uma missão para muites. O movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI) foi criado por negros para combater os impactos das intersecções entre racismo, capacitismo e a discriminação a pessoas negras com deficiência. O grupo está bem ativo nas redes sociais e fora delas também.

A prática esportiva tem sido uma forma de afirmação encontrada por PcDs para trazer o olhar da sociedade sobre suas conquistas e também  reivindicações. Na última edição da Paraolimpíada de Tóquio, realizada em agosto de 2021, o Brasil levou 253 atletas, sua maior delegação. Um deles, o nadador estreante Gabriel Geraldo Araújo, o Gabrielzinho, de 19 anos. Competindo na categoria S2 (o “S” é de Swimming/Natação e o 2 classifica nadadores com limitações físico motoras). Gabrielzinho nasceu com Focomelia, um tipo de anomalia que provoca a má formação de braços, mãos, pernas e pés. A mãe de Gabriel, Eneida Magna dos Santos,  descobriu o problema quando estava em seu quinto mês de gravidez. 

Gabriel Geraldo Araújo, o Gabrielzinho

A vida não foi fácil e ninguém disse que seria. Gabriel desde muito cedo, antes de completar um ano, já estava em um centro de reabilitação para aprender a dar os primeiros passos e, com o crescimento, ganhar autonomia. A natação competitiva veio aos 13 anos, quando foi inscrito nos Jogos de Minas Gerais para Deficientes por um professor de Educação Física. De lá até Tóquio o caminho foi de muitas vitórias, mas, acima de tudo, muito esforço visando o próprio aperfeiçoamento. Gabriel Araujo alcançou três medalhas na  Paralimpíada japonesa: dois ouros e uma prata. Pela competência de atleta e pelo carisma, ganhou fama e aproveitou para levantar bandeiras: “Na minha vida sempre foi assim, ‘vai lá e faz’. As pessoas, todas, têm que entender que nós somos deficientes, mas nós somos capazes de fazer tudo”, afirmou o campeão paralímpico em entrevista ao site ge.com .

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