No dia 16 de abril, o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco promoveu um momento de interação e troca de experiências entre suas participantes e atores estratégicos, através da plataforma Zoom.
Além de todas as selecionadas e apoiadas pelo Programa, participaram desse momento de integração virtual representantes das fundações e institutos que apoiam o programa, como Alejandra Garduño e Sebastian Frias, da Fundação Kellogg, Átila Roque, da Fundação Ford, Lígia Batista, da Open Society Foundations, e Mohara Valle, do Instituto Ibirapitanga. Membros dos comitês de investimento e finanças e, também, da assembleia geral e do conselho deliberativo do Fundo Baobá, como Giovanni Harvey, presidente do conselho deliberativo, e a filósofa e ativista na luta antirracista Sueli Carneiro também estiveram presentes.
Harvey agradeceu a todas as mulheres e entidades que estavam representadas no encontro virtual. Disse que, embora nossa sociedade sofra com o racismo estrutural, iniciativas como a do Programa de Aceleração “ajudam a mudar contextos e paradigmas”. Já Sueli Carneiro, durante a sua fala, ressaltou a importância desse momento histórico virtual: “Em março nós rememoramos mais um ano sem Marielle Franco, e hoje nós inauguramos, dessa maneira, esse processo de integração e interação das nossas apoiadas do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. É importante sempre lembrar que essa iniciativa foi a resposta necessária ao covarde assassinato de Marielle Franco, a resposta de todos e todas nós – defensores dos direitos humanos e a resposta de todas nós que lutamos pela promoção social, visibilidade e representatividade das mulheres negras”.
Dirigindo a fala às selecionadas, Sueli disse: “Vocês são as herdeiras desse sonho e das lutas que o sustentam. Cada uma de vocês respondem às dimensões que estão colocadas como desafios para afirmação individual e coletiva das mulheres negras, que vêm sendo identificados, sobretudo, pelo protagonismo político das mulheres negras. Esses desafios podemos dividir em quatro pontos fundamentais: A necessidade de fortalecimento das organizações políticas de mulheres negras; a necessidade e a urgência de formação de quadros políticos e técnicos; o combate sistemático ao racismo e aos estereótipos que aprisionam as mulheres negras; e a construção de novos imaginários para as mulheres negras”.
Por fim, Sueli Carneiro ressaltou: “Esse programa foi a forma encontrada de honrar a memória de Marielle Franco e o seu legado de coragem, luta e compromisso com as causas populares, e com um Brasil mais justo e igualitário”.
A família de Marielle Franco também participou do encontro virtual. Marinete Silva, mãe da vereadora, reforçou a importância do empodeamento das mulheres negras: “É muito bom saber que o Fundo Baobá está empenhado em manter esse projeto e que está presente na vida dessas mulheres que têm muita vontade de vencer”. Anielle Franco, a irmã, agradeceu a participação, além de demonstrar alegria ao ver o grupo de mulheres reunido: “Tenho muito orgulho de estar aqui com vocês e faço minhas as palavras de muitas participantes aqui, pois recebemos de vocês todo o apoio para a nossa família que tem passado por várias provações durante este tempo”. Luyara Franco, a única filha de Marielle Franco e uma das líderes em processo de aceleração, também teve a palavra: “Agradeço a parceria, porque a gente não faz nada sozinha. Construir a nossa história ao lado dessas mulheres é muito gratificante”.
Entre as muitas falas e discursos, em aproximadamente duas horas de interação, Alejandra Garduño, diretora da Fundação Kellogg para a América Latina, ressaltou a importância da atuação do Fundo Baobá no planejamento do programa de desenvolvimento de novas lideranças. Ela destacou que espera, em breve, encontrar todas as participantes pessoalmente, quando a pandemia passar. “É necessário continuar trabalhando e contribuindo para promover a equidade racial. Espero estar perto de vocês e ouvir de cada uma detalhes de seus projetos para ver de que maneira podemos contribuir com soluções”.
A diretora e Sebastian Frias, oficial responsável pelas iniciativas de promoção da equidade racial na Fundação Kellogg, também afirmaram que o momento é muito importante para transformar os sistemas que produzem desigualdades no mundo. Para isso, contam com uma liderança, como o Baobá, que ajuda a guiar as ações nas comunidades. “Esperamos que as pessoas selecionadas aproveitem esse programa para fortalecer a sua liderança e continuar pressionando pela justiça social”, disse Sebástian.
O diretor da Fundação Ford para o Brasil e América Latina, Átila Roque destacou a massiva representação negra entre os participantes do encontro virtual, reforçando: “Olhando para todas essas carinhas aqui, é muito emocionante ver o quanto avançamos na luta pela democracia e na luta contra o racismo”. Ele também destacou a importância de programas como este na promoção da equidade racial em nosso país.
Entre as selecionadas, a pesquisadora Durvalina Rodrigues, pós-graduada em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça e em Políticas e Gestão do Cuidado, pautou sua fala nos aspectos políticos. Disse que estava orgulhosa de ser a porta-voz dos coletivos selecionados e que escutou representantes dessas organizações. Nessa escuta, entre outros aspectos, detectou o expressivo aumento da violência racial contra mulheres, principalmente as quilombolas. “Portanto, o Fundo Baobá, ao nos apoiar, nos dá a chance de olhar para isso e intervir.”
A jornalista Jaciara Novaes Mello (PR), agradeceu as oportunidades que o Programa está ofertando a cada uma daquelas mulheres e, particularmente, à ela. Disse também que o vivemos um tempo paradoxal, mas também de aprendizado. “O programa está mudando o patamar de todas nós e essa interação permite que a gente se inspire na experiência de cada uma”.
Juliana de Oliveira Ferreira, de Goiânia (GO), à frente do projeto “Movimentos Atlânticos”, frisou o quanto o Programa foi essencial em sua jornada de desenvolvimento: “Este edital me abriu várias possibilidades de trabalho e de estudo. Através dele eu comprei livros que eu sonhava em adquirir para a minha formação. Portanto, a minha fala aqui é apenas de agradecimento”.
Gratidão também resume o discurso de Monalyza Ferreira Alves Pereira, à frente do projeto “De uma para muitas – Transformação, Comunicação e Formação em Gestão de Políticas Públicas”, no Rio de Janeiro que trabalha na formação de gestores públicos, reconheceu o quanto o Programa é importante na construção de uma sociedade igualitária: “Nós ainda temos muito trabalho e desafios pela frente, que serão coroados com muita conquista e inspiração. Só tenho que agradecer por essa oportunidade”.
Lançado em setembro do ano passado pelo Fundo Baobá, o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras busca a paridade real, em todos os lugares, instituições, organizações não governamentais, sindicatos, empresas privadas e públicas, organismos internacionais, estruturas formais do Estado (Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário) e no próprio movimento social, para que cada vez mais, as vozes, as falas, e a produção política e intelectual das mulheres negras em papel de liderança sejam ouvidas, percebidas e reconhecidas nos espaços onde o poder simbólico e material é exercido. Foi concebido e será implementado para que mais mulheres negras quebrem o “teto de vidro” e possam fazer das suas capacidades coletivas e individuais instrumentos potentes para que cada vez menos mulheres negras fiquem para trás.