Parceria de sucesso em prol da equidade racial

Apoio do instituto foi fundamental para consolidação do Programa Negras Potências

Por Ana Tacite*

O Instituto Coca-Cola Brasil (ICCB) chega aos 20 anos com sua trajetória focada no objetivo de contribuir para mudar vidas. Criado em 1999, com o intuito de maximizar o investimento social privado realizado pelo Sistema Coca-Cola (fabricantes e Coca-Cola Brasil), trabalhamos para promover a transformação social em larga escala, utilizando as fortalezas do Sistema e de nossos parceiros. 

Ao nos preocuparmos com a transformação social em larga escala, a causa da equidade racial é muito relevante. A desigualdade social é um enorme desafio no Brasil e as diferenças econômicas e sociais são mais profundas quando relacionadas à raça e ao gênero. 

Por exemplo, hoje, os negros são 55,8% da população brasileira, mas essa proporção não se reflete no mercado de trabalho. A trajetória rumo a uma maior igualdade deve ser um esforço coletivo e intencional. Todos precisamos refletir e estar atentos a vieses e estereótipos e facilitar a criação de espaços e oportunidades iguais para negros e mulheres. 

As empresas, entre outras ações, precisam olhar tanto para suas práticas internas de recrutamento, seleção, contratação, retenção e promoção, como também procurar contribuir com o fomento de igualdade racial através de seus investimentos sociais. 

Precisamente foi nessa procura de realizar investimentos sociais focados nessa temática que iniciamos a parceria com o Fundo Baobá, uma organização que tem a equidade racial como sua causa principal. 

Ana Tacite (Coca-Cola Brasil)

Essa parceria tem ajudado a aprender e entender os caminhos que podemos transitar para apoiar organizações e lideranças negras. Juntos, desenvolvemos iniciativas como os editais Cultura Negra em Foco e o Negras Potências, os quais focaram em promover tanto a cultura afro como também contribuíram para fortalecer o trabalho que muitas mulheres negras estão fazendo hoje como ativistas ou empreendedoras, no Brasil. 

Contar com a parceria do Fundo Baobá foi crítico também para chamar e identificar as organizações e projetos que seriam apoiados e para desenhar ações apropriadas – no caso dos editais. 

(*) Ana Tacite é gerente de Programas Sociais do Instituto Coca-Cola Brasil

Negras Potências

Iniciativas para promover o empoderamento feminino negro por meio de matchfunding foram viabilizadas com colaboração da Coca-Cola

Ver a realidade de mulheres e meninas negras ser transformada por meio de projetos que as capacitem e as incluam na sociedade de forma digna é apenas um dos objetivos do Programa Negras Potências. Ele conta com um fundo de R$ 500 mil para turbinar campanhas de financiamento coletivo por meio de matchfunding (a cada 1 real recebido, mais 2 são automaticamente acrescidos à arrecadação). Esse modelo de financiamento coletivo do Fundo Baobá de Equidade Racial só é possível graças à ação de parceiros como a Benfeitoria, além dos apoiadores Instituto Coca-Cola e Movimento Coletivo.


Criado em fevereiro de 2018, ele impulsionou 13 iniciativas que ajudam a reduzir a desigualdade de gênero no Brasil. Foram viabilizadas as seguintes ideias que se transformaram em ações efetivas: AfroRicas, do Coletivo ECOAR (DF); Revista Arquitetas Negras, das Arquitetas Negras (MG); Casa das Pretas, do Centro Coisa de Mulher; Afreektech, do Movimento Black Money (SP); Afrolab – Mulheres Negras, Múltiplas Potências, do Instituto Feira Preta (SP); Amora Brinquedos Afirmativos, da Amora Bonecas (BA); Cores Femininas, do Movimento Social e Cultural Cores do Amanhã (PE); Investiga Menina, do Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado (GO); Doula a Quem Quiser, da Associação de Doulas do Estado do Rio de Janeiro (RJ); Sororidade – uma nova forma de relação, da Escola Pernambucana de Circo (PE); Corpos Invisíveis, do Outubro Filmes (RJ); Costurando Sonhos, da SempreMulher Instituto de Pesquisa (RS); e Circuladô de Oyá (UNEAFRO Brasil/SP).

Troca de experiências sobre meninas e mulheres nas Ciências

Projeto promove encontro entre estudantes do ensino médio e pesquisadoras para discutir a participação das mulheres em carreiras nas Ciências.

Investiga Menina, projeto financiado pelo Fundo Baobá, por meio do Edital Negras Potências, promoveu, em 15 de março, um encontro presencial entre as estudantes do ensino médio e pesquisadoras negras. Essa é a 4ª edição do projeto, que acontece na cidade de Goiânia (Goiás) e impacta diretamente, 150 alunas/os do Colégio Estadual Solon Amaral.

Clarissa Alves Bernardes, 17 anos, relata que o  projeto Investiga Menina trouxe para ela uma nova perspectiva para encarar a realidade. “Com as aulas ministradas e as conversas que tivemos, consegui me encontrar como uma mulher que sonha produzir Ciências. Com a ajuda do Investiga Menina, mantenho esse sonho vivo dentro de mim. Antes de ser apresentada ao projeto, confesso que estava confusa quanto ao meu futuro, entretanto após o projeto posso afirmar, com toda certeza, que a carreira científica é o que quero para mim”.

As beneficiárias do Investiga Menina são jovens como Clarissa, estudantes do ensino médio e também integrantes e participantes do Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado.

O projeto existe desde 2016, está na 4ª edição e com o apoio do Negras Potências vai até o mês de agosto de 2019. A iniciativa é da professora de química, Anna Maria Canavarro Benite, vinculada a Universidade Federal de Goiás (UFG), doutora em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).
Segundo Anna Maria não se discute a produção de mulheres em sala de aula, muito menos as influências dessas produções para a sociedade. E, quando o recorte é racial, não se tem notícias em currículo oficial ou material didático, sobre qualquer mulher negra brasileira cuja contribuição seja celebrada no mundo acadêmico.

O projeto surge da parceria entre o Laboratório de Pesquisa em Educação Química e Inclusão – LPEQI-UFG e o Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado, e atua na aproximação entre as  estudantes e as práticas científicas por meio de ações direcionadas em laboratórios de química. O projeto visibiliza as práticas, as pesquisas e as histórias de vida realizando entrevistas com as cientistas brasileiras, possibilitando que elas visitem a escola parceira, destacando as suas contribuições e inspirando estudantes do ensino médio a seguirem as carreiras das exatas e científicas.

O apoio ao projeto, liderado pela professora de química, está ancorado na missão estratégica do Fundo Baobá para equidade racial, na medida em que o direito à educação de qualidade é um dos eixos estratégicos de atuação do Fundo. O investimento no projeto Investiga Menina se dá por meio do edital Negras Potências. O investimento do Fundo Baobá em educação está alinhado com o Programa de Ação da Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial e Intolerâncias Correlatas (2001) que reitera a importância do reconhecimento das contribuições culturais, econômicas, políticas e científicas feitas por africanos e afrodescendentes e com a Agenda Global de Desenvolvimento Sustentável onde, em 2015, os países se comprometeram a alcançar uma série de metas, entre elas, assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos e todas.

Saiba mais:
Dia 28 de abril é comemorado o Dia Internacional da Educação, essa data foi escolhida, pois foi exatamente nesse dia que terminava o Fórum Mundial de Educação, realizado em Dakar, no Senegal, no ano 2000. A data é lembrada como uma oportunidade de reflexão entre educadores, alunos e pais sobre a qualidade de ensino oferecido e a importância dos valores educacionais para a formação de crianças, adolescentes e adultos.

Os países que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU) definiram, em 2015,  uma agenda de desenvolvimento sustentável composta por 17 objetivos, conhecidos como Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030. Para a conexão entre ciência e mulheres destacamos os: o ODS 4 Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos, em especial a meta 4.5 eliminar as disparidades de gênero na educação e garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo as pessoas com deficiência, povos indígenas e as crianças em situação de vulnerabilidade e o ODS 5 Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas, na meta  5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres.


Imagem: Alunas/os do Colégio Estadual Solon Amaral

Negras Potências – Nós Podemos

“Ensine a sua menina que papéis de gênero são totalmente absurdos. Nunca lhe diga para fazer ou deixar de fazer alguma coisa ‘porque você é menina’. ‘Porque você é menina’ nunca é razão para nada. Jamais”
Chimamanda Ngozi Adichie

 

A população brasileira, segundo dados do último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, ultrapassou o total de 207,7 milhões de pessoas. Mais da metade deste total (53,6%) é composto por pessoas que se autodeclaram negras e neste grupo metade são mulheres.

Contudo, fazer parte do grupo racial quantitativamente majoritário da população não significa, para homens e mulheres negras, igualdade de acesso a direitos. Da mesma forma que a paridade proporcional entre os gêneros no interior deste grupo não impede que as mulheres negras ocupem a base da pirâmide no que se refere a rendimentos no mercado de trabalho ou recebam atendimento de saúde qualitativamente inferior ao disponibilizado às mulheres brancas nos postos do Sistema Único de Saúde (SUS).

Dados do Ministério da Saúde revelam que o percentual de mortalidade materna entre as mulheres negras no SUS chega a 60%. Entre as mulheres brancas este índice é de 34% e enquanto o atendimento pré natal alcança 74,5% nesse grupo, para as mulheres negras o percentual é de 55,7% no sistema de saúde público. Outro dado que compõe este quadro de desigualdade se refere aos níveis de mortalidade de crianças negras e brancas, cuja assimetria passou de 21% para 40% nos últimos vinte anos.

Em se tratando de distribuição de renda, segundo dados do IBGE divulgados em 2015, dentre os 10% mais pobres no Brasil, 76% são negros o que significa que de cada quatro pessoas que se encontram nesta categoria econômica três são negras. Por outro lado na faixa dos 1% mais ricos, 79% são brancos.

Ao voltar o olhar para o mercado de trabalho, a “Pesquisa Mulheres e Trabalho: breve análise do período 2004-2014” realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aprofunda a informação acerca de rendimentos ao revelar que as mulheres negras recebem a menor remuneração em comparação com a do grupo homens brancos: menos de 40% da renda média calculada em R$ 2.393,00. Ainda de acordo com a mesma pesquisa citada, o desemprego também atinge de maneira proporcionalmente maior as mulheres negras em comparação com os homens brancos tendo alcançado o nível de 10,2% em 2014 para o primeiro grupo frente 4,5% para o segundo.

As trabalhadoras negras são maioria no mercado de trabalho informal,  atuando em atividades reconhecidas como autônomas, além de corresponderem a 39,08% da força de trabalho empregada na execução de atividades laborais consideradas precárias.

No acesso ao ensino as assimetrias permanecem, apesar dos avanços e conquistas resultantes das Políticas de Ação Afirmativas que vêm sendo implementadas nos país nos últimos cinco anos. O percentual de pessoas brancas com 25 anos (ou mais) com menos de um ano de estudo é de 7,4%, negras 14,4%. O percentual de analfabetos negros ultrapassa os 4% ao passo que as pessoas brancas somam 1,8%.

As pessoas negras correspondem a 78,9% dentre os 10% da população com maiores chances de serem vítimas de homicídios e possuem 23,5% mais chances de sofrer assassinato em comparação aos indivíduos brancos. A cada cem (100) pessoas assassinadas no Brasil, setenta e uma (71) são negras.

Esses dados são resultado de séculos de acúmulo de desigualdades que se iniciaram ainda no período da escravidão e se mantiveram com a ausência de políticas públicas para inserir a população negra como parte fundamental para o desenvolvimento do país, seja por uma perspectiva humanitária ou econômica.

Todos esses dados juntos apontam para um fato no tocante econômico: Somente em 2089, daqui a pelo menos 71 anos, negros e brancos terão uma renda equivalente no país. Essa conta é feita com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), considerando rendimentos como salários, benefícios sociais, aposentadoria, aluguel de imóveis e aplicações financeiras, entre outros.

Ilustração Talita Marques


Mulheres trabalham em média
7,5 horas a mais do que os homens por semana.No carnaval do Rio de Janeiro de 2017, uma mulher foi agredida a cada quatro minutos. Meninas passam mais tempo nos afazeres domésticos do que meninos. Uma pesquisa realizada por algumas universidades americanas aponta que a partir dos seis anos, a menina introjeta a desigualdade de gênero e passa a entender que somente meninos podem ser gênios. Pesquisas apontam que o Brasil é um dos piores países da América do Sul para ser menina.

Esses dados são indicativos assustadores de uma realidade urgente, a necessidade de se discutir a igualdade de gênero desde criança, a discriminação contra a menina hoje é a violência contra a mulher de amanhã, e perpetua um ciclo que fortalece o agressor – seja ele o homem, o Estado que não protege a mulher ou a política que deslegitima – e desune as próprias mulheres, vítimas primeiras de um pensamento social e historicamente construído de que ser mulher é ser menos.

E é aqui que entra o empoderamento das mulheres e meninas negras como forma de mudança dessa realidade, como meio para transformar quem é número de estatística em agente da mudança, quem é vista como problema em peça fundamental da resolução.

O educador Paulo Freire foi o pioneiro no uso do termo “Empoderamento” no Brasil, ele fez a tradução da palavra criada em 1977 pelo psicólogo americano Julian Rappaport, que transformou o verbo “to empower” (dar poder) no substantivo “empowerment”.

O uso do termo foi crescendo desde então e ganhou forças em 2013 com o boom das causas sociais na internet e fazendo uma busca rápida no Google, o termo aparece em mais de 5 milhões de resultados em português e mais de 84 milhões de resultados se a pesquisa for pelo termo em inglês.

Empoderamento: É a ação social coletiva de participar de debates que visam potencializar a conscientização civil sobre os direitos sociais e civis. Essa consciência possibilita a aquisição da emancipação individual e também da consciência coletiva necessária para a superação da dependência social e dominação política. O empoderamento devolve poder, dignidade e principalmente liberdade de decidir e controlar seu próprio destino, com responsabilidade e respeito ao outro.  

Empoderamento feminino: Consiste na concepção do poder das mulheres como forma de exigir equidade de gênero nos variados tipos de atividades sociais, de modo democrático e responsável, é um desafio às relações patriarcais, em relação ao poder dominante do homem e a manutenção dos seus privilégios de gênero e a autonomia no que se refere ao controle dos corpos femininos, das sexualidades e das liberdades.

Empoderamento é então a consciência coletiva que se expressa por meio de ações concretas para fortalecer as mulheres e alcançar a equidade de gênero.  

Muito se discute o empoderamento pelo viés estético/imagético, a partir principalmente da aceitação dos seus traços capilares, ampliando para o vestuário, os acessórios, ou seja, a forma como o mundo enxerga mulheres e meninas negras, afinal, se reconhecer como um ser humano pleno – não feio e subalternizado – está ligado diretamente a autoestima e orgulho e quando se tem orgulho de quem se é, é mais fácil impactar e influenciar os seus pares e muito mais fácil entender as amarras das estruturas racistas.

O termo empoderamento é muita vezes mal interpretado, visto como algo individual e como a continuação da perpetuação das opressões, porém bell hooks o define como algo com significado coletivo, pois trata-se de empoderar a si e aos outros e colocar as mulheres negras como sujeitos ativos de mudança, diz respeito a mudanças sociais numa perspectiva anti racista, anti elitista e anti sexista através de mudanças das instituições sociais e consciência individuais, sendo necessário criar estratégias de empoderamento no cotidiano, em experiências habituais no sentido de reivindicar direito a humanidade.

É necessário o apontamento de que quando falamos de empoderamento de mulheres e meninas negras estamos falando em luta pela equidade, em fortalecer mulheres negras com o objetivo de promover uma sociedade mais justa, afinal a conquista de uma mulher negra não pode ser descolada de seu papel político como exemplo e espelho para diversas outras mulheres. Empoderar aqui, significa tomar consciência dos problemas que afligem as mulheres e meninas negras e criar mecanismos para combatê-los.

Mulheres e meninas negras empoderadas são referências para outras mulheres, são líderes políticas, agentes de transformação, são emblemáticas no desenvolvimento de suas comunidades, na defesa de direitos, na manutenção das tradições culturais e religiosas e se tornam mulheres e meninas negras fortes, engajadas, preparadas para levantar questões, apontar problemas, propor alternativas, liderar processos e se empenhar nas mudanças que são urgentes para alterar os alarmantes dados que assolam a comunidade negra.

Criar novos modelos de projetos colaborativos e participativos, possibilitar a movimentação na estrutura social e econômica em contextos locais, explorar as possibilidades de parceria com as demais organizações, facilitar a mobilização política de mais mulheres, intervir na negociação de interesses, engajar uma articulação coletiva. Esses são apenas alguns dos passos que uma mulher e uma menina negra podem dar ao adquirirem consciência das suas potencialidades, ao se empoderar.

Então, não. Quando falamos de mulheres negras e, principalmente de meninas negras, não estamos falando de algo no campo individual, estamos falando de mudanças na coletividade e consequentemente na sociedade.

Empoderar-se também é tomar pra si o poder da palavra, é quebrar a barreira do silêncio e sobretudo sair do lugar de silenciada. Audre Lorde é categórica quando afirma que “Temos medo, porque a transformação do silêncio em linguagem de ação é um ato de auto revelação e isso sempre parece estar cheio de perigos… No silêncio, cada uma de nós desvia o olhar de seus próprios medos – medo do desprezo, da censura, do julgamento, ou do reconhecimento, do desafio, do aniquilamento. Mas antes de mais nada acredito que tememos a visibilidade, sem a qual entretanto não podemos viver, não podemos viver verdadeiramente. Nesse país em que a diferença racial cria uma constante – ainda que não seja explícita – distorção da visão, as mulheres negras têm sido visíveis por um lado, enquanto que por outro lado nos fizeram invisíveis pela despersonalização do racismo. Ainda dentro de movimento de mulheres tivemos que lutar, e seguimos lutando, para recuperar essa visibilidade que ao mesmo tempo nos faz mais vulneráveis: a de ser negras. porque para sobreviver nesta boca de dragão que chamamos de América, tivemos que aprender esta primeira lição, a mais vital, e não se supunha que fossemos sobreviver. Não como seres humanos. E essa visibilidade que nos faz tão vulneráveis é também a fonte de nossa maior fortaleza. Porque a máquina vai tratar de nos triturar de qualquer maneira, tenhamos falado ou não. Podemos nos sentar num canto e emudecer para sempre enquanto nossas irmãs e nossas iguais são desprezadas, enquanto nossos filhos são deformados e destruídos, enquanto nossa terra está sendo envenenada, podemos ficar quietas em nossos cantos seguros, caladas como se engarrafadas, e ainda assim seguiremos tendo medo”.

E seguindo os ensinamentos de Audre Lorde, que façamos mais tentativas de quebrar o silêncio por entender que é ele que nos imobiliza e ainda restam muitos silêncios para romper!

Negras Potências – nosso edital que está no ar – é a busca por iniciativas e soluções de impacto que contribuam para o empoderamento de meninas e mulheres negras, que ajudem na visibilidade dos múltiplos fazeres que as agentes da sociedade civil estão pensando e produzindo para a mudança no cenário nacional, quando falamos de desigualdades raciais e sociais.
Acesse e saiba mais: https://benfeitoria.com/canal/negraspotencias