Vestibulandos de primeira viagem se sentem prejudicados pelo ensino na pandemia

Quatro estudantes da cidade de São Paulo falam das dificuldades que enfrentaram com o ensino à distância

Por Pedro Ribeiro, do Perifaconnection, em parceria com o Fundo Baobá pela Igualdade Racial

A pandemia do novo coronavírus trouxe grandes problemas para os estudantes em 2020, especialmente os mais pobres. Quatro jovens que estão se preparando para encarar os vestibulares após o ensino médio contaram um pouco das dificuldades que enfrentam.

Sem a possibilidade de acontecer aulas presenciais por risco de transmissão da Covid-19, alunos de todo o estado de São Paulo passaram a ter aulas em casa. Falta de estrutura, internet e qualidade do ensino em formato EaD (Ensino à Distância) são motivos de queixa dos vestibulandos.

Gabriel Lima Viana Silva, de 19 anos, mora no Capão Redondo, bairro da Zona Sul de São Paulo. Ele terminou o ensino médio no ano passado e pretende cursar ciências sociais. O jovem chegou a prestar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2020, mas diz que foi mediano. Ele atribui o desempenho pouco satisfatório ao conteúdo do terceiro ano.

Gabriel Lima Viana Silva, 19 anos

“Toda vez que a gente pensa em alguma coisa relacionada à internet, imaginamos algo utópico, fora de padrão, só que na prática não é assim. A acessibilidade de quem mora na periferia é bem difícil. Por mais que nós tenhamos internet fixa dentro de casa, muitas vezes ela é instável. Então não é toda vez que conseguimos ter acesso às aulas e ao material do curso”, explica.

Gabriel espera que o Programa Já É, do Fundo Baobá, o ajude a alcançar uma colocação melhor nos próximos vestibulares e até uma vaga na universidade pública por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada). “Espero estar cada vez mais preparado. Essa é a meta”.

Esperança de volta às aulas

Naomi Brito tem 17 anos e mora no bairro do Jaraguá, na Zona Norte da cidade. Ela está cursando o terceiro ano do ensino médio, o segundo dela durante a pandemia. A experiência de aprender longe das salas de aula não foi nada agradável para ela.

“Foi difícil e triste. No primeiro ano eu amadureci muito e tenho certeza de que se tivesse estudado presencialmente  no ano passado teria amadurecido muito mais. 2020 foi um ano perdido. Espero que até a metade deste ano a gente consiga se reunir na escola de novo”, diz.

Naomi Brito, 17 anos

A adolescente sonha em cursar gastronomia desde os oito anos e está focada em estudar na Universidade Federal da Bahia. Ela nunca prestou nenhum vestibular e espera cruzar um caminho difícil até o diploma. Mas, por se identificar com o curso, acha que o esforço valerá a pena.

“Em casa eu estudo pela manhã e à tarde eu preciso fazer comida, limpar a casa e cuidar dos bichos. Quando chega à noite, eu também estudo e termino algumas lições. É difícil me concentrar estudando aqui, eu gosto de estar na sala de aula. Para mim, o EaD nunca vai ser igual ao presencial”, lamenta Naomi.

Aulas e cursinhos presenciais interrompidos

A estudante Natália dos Anjos de Oliveira, de 18 anos, mora com os pais no bairro de São Mateus, na Zona Leste de São Paulo. Com uma bolsa de estudos, ela estudou em colégio particular durante todo o ensino fundamental, mas por falta de recursos se transferiu para uma escola estadual.

Para tentar compensar as diferenças do conteúdo das escolas, Natália fez alguns cursos extracurriculares. Nesse período, ela teve que encarar a pandemia durante o terceiro ano do ensino médio e diz que a experiência foi chocante.

Natália dos Anjos de Oliveira, 18 anos

“Quando eu recebi a notícia de que a gente não ia mais sair de casa eu estava fazendo um cursinho promovido pelos professores da escola para ajudar a gente no vestibular. Foi um baque na hora. Todo mundo aqui em casa ficou assustado. Demorou dois meses para as aulas voltarem”, diz a estudante.

Por causa disso, ela diz que foi impossível estudar para encarar um vestibular em 2020. Ainda assim, como aluna do último ano, ela decidiu fazer o Enem. “A prova de humanas eu consegui ir bem, pois já tinha feito simulações. A de exatas foi a que me deixou mais cansada. Mas acho que fui bem para a primeira experiência”.

Esperança com o cursinho

O Programa Já É vai oferecer aulas híbridas, o que resolve parte do problema dos alunos com as aulas EaD. Além disso, os contemplados pelo edital terão consultorias de carreira e orientação psicopedagógica para encarar os vestibulares com força total.

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