10 Anos do Baobá: Trabalho em Busca da Sustentabilidade Social

Rosana Fernandes e Helio Santos lançam um olhar sobre a sociedade brasileira diante do segmento da filantropia para justiça social

Por Wagner Prado

Dois profundos analistas da sociedade brasileira. Ambos com trabalhos que envolvem a observação das movimentações sociais e a influência dos diferentes fatores econômicos no dia a dia das pessoas. O passado de ambos está ligado à formação do Fundo Baobá para Equidade Racial. A historiadora Rosana Fernandes e o administrador e professor Helio Santos falam sobre doações, consciência social, futuro e a atuação do Baobá dentro desses contextos. 

Rosana Fernandes é formada em História pela Universidade Católica de Salvador e faz parte da CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço), onde atua no Setor de Projetos e Formação. A CESE foi criada há 48 anos e sua atuação está voltada para a defesa e garantia de direitos das pessoas no Brasil. Essa defesa de direitos é motivada por questões de injustiças e desigualdades tão presentes no cotidiano dos brasileiros. A CESE foi criada pela união de várias igrejas cristãs. 

Helio Santos é doutor em Administração e  mestre em Finanças. O doutorado foi obtido na  Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Atuou como professor na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e Universidade São Marcos. Atualmente é professor convidado na Universidade do Estado da Bahia (Uneb). 

O ano de 2022 será de transformações políticas no Brasil. A eleição poderá mudar o ocupante do cargo de presidente da República, além de 27 governadores de Estado. Com certeza, novas diretrizes serão adotadas, e elas sempre impactam todos, principalmente os cidadãos e cidadãs comuns. O país encontra-se entre as 19 maiores economias do planeta, mas isso não é visto como positivo em relação à política por equidade racial e o incentivo a doações. “Por mais de uma década o Brasil esteve entre as dez maiores economias do mundo. Então, até um dia desses estávamos junto com China, Japão, Alemanha, Estados Unidos e Canadá. Ao mesmo tempo, estivemos também no banco dos mais desiguais. Se quando estávamos entre os dez  mais ricos, sempre houve uma escassez de recursos, o que dará uma vantagem para nós não é essa colocação do Brasil em 19º lugar, esqueça dela,  e sim  a mudança da sociedade”, disse Helio Santos.  

Helio Santos, doutor em Administração, mestre em Finanças e professor convidado na Universidade do Estado da Bahia (Uneb)

Rosana Fernandes é ainda mais reticente ao analisar a tão propalada posição brasileira no ranking da economia mundial. “ Eu questiono muito os índices de crescimento econômico,  quando analiso o desemprego e o subemprego. A Pandemia trouxe um número muito grande de pessoas em situação de rua. Está havendo uma migração para cidades menores para se ter uma garantia de vida. Mas não há políticas públicas para a garantia de um lugar de qualidade de vida e de melhoria de vida para essa população. E a fome aumentou. E quem está passando fome?  A gente sabe que a fome tem cor”, falou a historiadora. 

Mudanças de consciência e engajamento das pessoas em causas que favoreçam populações em situação de vulnerabilidade não acontecem de uma hora para a outra. Mas uma cultura que leve a isso deve ser apoiada, mesmo que a mudança venha de forma lenta. “Se a pessoa acredita e pensa numa sociedade justa,  colocar recursos financeiros no Baobá, que luta pelo enfrentamento ao racismo,   significa você querer um outro Brasil, uma sociedade melhor. O apoio ao Baobá é fundamental para equilibrar a balança um pouco mais a favor da maioria nesse país. E a maioria é negra. Quem quer fazer a diferença deve colocar recursos no Baobá”, disse Rosana Fernandes. 

Iniciativas como as que o Fundo Baobá empreende no ecossistema filantrópico com seus editais voltados para o apoio a comunidades quilombolas, para o acesso de jovens negres à universidade e incentivo ao empreendedorismo estão modificando o pensar sobre engajamento social. “A filantropia racial hoje é o tema da sociedade brasileira. O Fundo Baobá tem muito a ver com isso, porque ele é o primeiro fundo criado com essa vertente e organização. A missão dele é exatamente transferir e fomentar recursos para as organizações negras. O Fundo Baobá tem uma responsabilidade direta nessa mudança. Isso é resultado do esforço  da sociedade civil, da qual o Baobá faz parte. E hoje se entende o investimento social como uma mola para o desenvolvimento com sustentabilidade. Então, a vantagem de se doar para o Fundo Baobá é você investir no segmento da equidade racial”, define Helio Santos. 

A fidelização, palavra muito usada no segmento corporativo, é o grande desafio para o Fundo Baobá e para o segmento da filantropia para equidade racial, no entender de Rosana Fernandes: “Precisamos ter um discurso direto e respostas objetivas. Mas este é o grande desafio. Como atrair voluntários doadores? Acho que a capacidade de dialogar com a sociedade é que talvez nos dê a independência e a autonomia necessárias. Se a gente trouxer a sociedade para o enfrentamento ao racismo, a gente pode estar trazendo a fidelização para uma estrutura”, afirmou. 

Rosana Fernandes, historiadora e integrante da CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço)

O Baobá trabalha com a empatia. Analisa os movimentos da sociedade brasileira e faz a escuta sobre as necessidades das populações menos favorecidas. Neste período de  Pandemia da Covid-19, essas carências ficaram muito evidenciadas.  Hélio Santos analisa: “Solidariedade e generosidade. São elas que permitem sentir a qualidade de uma sociedade. Às vezes,  a solidariedade e a generosidade estão acima da própria ética. É arriscado dizer isso, mas muitas vezes tenta-se estruturar ética  onde não há nem solidariedade nem generosidade.  Essas duas características são eminentemente humanas.  Elas são o resultado da empatia e da capacidade que se  tem de  estar no lugar do outro.  Eu hoje meço a qualidade de uma sociedade não só pela renda per capta, não só por parâmetros econométricos. Eu meço pela capacidade que ela tem de produzir empatia. Pela capacidade de estar no lugar do outro. O homem pode,  a partir do seu corpo masculino,  entender o que significa para uma mulher o estupro. Uma pessoa branca pode muito bem entender o que é a pessoa ser discriminada pelo exclusivo motivo de ser negra, da mesma forma que uma pessoa que tem posses  pode muito bem se posicionar e se colocar na situação desses 19 milhões de brasileiros que acordam pela manhã sabendo que não terão ao longo do dia como se alimentar.  Então eu acho que radicalizar na empatia é fundamental, é uma forma de demonstrar a qualidade de uma sociedade. Mas que qualidade? A qualidade moral”, declarou.

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