Novo tempo: O 2021 do Fundo Baobá

No novo tempo / Apesar dos castigos
Estamos crescidos / Estamos atentos / Estamos mais vivos /
Pra nos socorrer / Pra nos socorrer / Pra nos socorrer

Novo Tempo: Ivan Lins e Vitor Martins

O Fundo Baobá para Equidade Racial quer fazer uma proposta a você: uma reflexão sobre aquilo que de positivo aconteceu em 2021. Todos sabemos que, de 2020 para cá, não tem sido fácil para ninguém. Mas não podemos nos vergar. A Ciência em muito contribuiu para nos guiar por caminhos seguros. As ondas de otimismo emanadas por cada um de nós foram se juntando para formar uma espécie de escudo de proteção, cuja energia se chama esperança. 

É com muitas expectativas que o Baobá encerra 2021 e vê a aproximação de 2022. E por que disso? Porque se foi possível atuar bem em um ano complicado, é um sonho que vai nos mover para fazer ainda melhor em 2022.

Em 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial está comemorando uma década de atividades dedicadas a mobilizar pessoas e recursos para promover mudanças sociais estruturantes e o enfrentamento ao racismo contra a população negra. 

O Baobá já conquistou muito, mas é preciso ir além. Os recursos são direcionados, via editais, para pessoas físicas, organizações, grupos e coletivos que atuem na promoção da equidade racial e da justiça social para a população negra do Brasil. 

No ano de 2021, os números do Baobá foram os seguintes: 

Doações 

R$ 2.909.814,43 ou US$ 646.625,43 (US$ 1 = R$ 4,50)

 

Editais em curso 

Programa Já é – 75 jovens
Projeto A Cidade que Queremos – 08 organizações
Projeto Vidas Negras: Dignidade e Justiça – 10 iniciativas
Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça – 35 iniciativas

 

Editais com inscrições abertas

Negros, Negocios, Alimentacao: Recife e Regiao Metropolitana – 12 empreendimentos

 

Editais em  fase de conclusão

Programa Marielle Franco – 59 lideranças e 14 organizações
Programa Recuperação Econômica – 137 empreendedores (as)

É de extrema importância para o Fundo Baobá salientar a presença de quem firmou parceria conosco. Os parceiros são fundamentais para que possamos implementar tantos projetos que estão contribuindo para a transformação de um sem número de pessoas. Ao longo de 2021 firmamos 11 parcerias aqui destacadas: Google.org, Global Given, Cargill, Accenture do Brasil Ltda, IAF Rede de Fundos Parc, Wellspring, General Mills, Met Life, Mover, Instituto Unibanco e Verizon.  

Muito mais que números, o Fundo Baobá está preocupado em apoiar o crescimento das pessoas, fortalecer as organizações, grupos e coletivos. Daí o procedimento de, junto com a doação, incentivarmos o saber individual e organizacional. Como explica a diretora de programa, Fernanda Lopes: “a filantropia para promoção da equidade racial prescinde de recursos e oportunidades para o desenvolvimento. Desde 2019 temos construído espaços de trocas e trilhas de aprendizagem para e com os nossos apoiados. Temos aprendido muito e agora estamos organizando, para todos os editais Jornadas Formativas. É um casamento: apoio financeiro e formação, as atividades geralmente ocorrem em tempo real. No edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, inovamos disponibilizando conteúdos inéditos para acesso remoto. Seria algo exclusivo para as  organizações selecionadas neste edital. Mas após diálogos internos e externos, optamos por disponibilizar os conteúdos para todas as pessoas físicas e jurídicas apoiadas pelo Baobá em seus 10 anos de atuação. Aos poucos vamos ampliando o acesso, construindo novos materiais que dialoguem com os diferentes segmentos da população negra com quem atuamos em parceria. “Somos uma organização negra, a única no ecossistema de filantropia no Brasil, precisamos construir uma relação diferente com nossos donatários, uma relação que vá além do apoio financeiro. É isso que poderá fomentar mudanças”, complementa Lopes.

Os temas que compõem esta Jornada Formativa são diversos: Segurança Digital e da Informação; Registros e Memória Institucional; Governança; Defesa do Direito de Defesa; Monitoramento e Avaliação; Comunicação Estratégica; Planejamento e Gestão; Justiça Racial; Justiça Criminal e Capacidades Institucionais. Portanto, a relação do Baobá com seus donatários vai bem além do apoio financeiro. 

O Fundo Baobá vai iniciar 2022 ainda com mais foco na ampliação de oportunidades para o  desenvolvimento das organizações, grupos, coletivos negros e das pessoas negras em movimento. São elas a razão do empenho que temos demonstrado nesses 10 anos de existência. Que os nossos esforços e de muitos outros engajados, engajadas, engajades na busca pela equidade racial nos leve a um mundo equânime.

O Fundo Baobá está indo ao encontro desse novo tempo de vidas valorizadas e direitos efetivados!

Consciência Negra: os muitos caminhos que podem levar a ela

O parecer de quem trabalha com a economia,  na busca por justiça
e
valorização da mulher sobre o que é ter posicionamento étnico

Por Wagner Prado

Os filósofos definiam o termo Movimento como toda a alteração de uma realidade. A mudança qualitativa de um corpo (a semente que se torna em árvore ou a criança que se torna adulta) pode ser classificada como Movimento. A tomada de consciência sobre algo também pode ser classificada da mesma maneira. Adquirir consciência negra pode ser algo como libertar a mente de tudo o que foi imposto culturalmente e formar, a partir do conhecimento da realidade, uma identidade própria. A identidade negra.

Mas a vida é composta de vários temas que influenciam nossos pensamentos e ações. Economia, Cultura, Educação, Saúde e Trabalho, por exemplo, influenciam a maneira de ser da maioria das pessoas. Ouvimos a administradora Clara Marinho  e duas representantes do Mulheres Negras Decidem (MND), Diana Mendes e Tainah Pereira, cujos projetos foram apoiados pelo Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, e o diretor executivo da Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas, Dudu Ribeiro. A Iniciativa Negra é um dos donatários do Fundo Baobá no edital Vidas Negras, Dignidade e Justiça, e também duas representantes do Mulheres Negras Decidem (MND), Diana Mendes e Tainah Pereira. 

Graduada em Administração pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Clara Maria Guimarães Marinho Pereira, ou Clara Marinho, é analista de Planejamento e Orçamento desde 2017 e atua na Coordenação de Acompanhamento de Programas da Educação da Secretaria de Orçamento Federal do Ministério da Economia. Ela vive em Brasília e no ano de 2018 foi uma das selecionadas do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco com o projeto Construindo a Liderança na Administração Pública Federal. 

Clara Marinho, relacionada pela ONU como uma das pessoas negras mais influentes no mundo

Em 2021 Clara Marinho foi eleita pelo projeto Década Internacional dos Afrodescendentes (2015 a 2024) como uma das pessoas afrodescendentes mais influentes no mundo. O projeto é da Organização das Nações Unidas e reúne pessoas indicadas pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, especificamente no trabalho à promoção dos direitos do povo negro. 

Para a administradora, ter Consciência Negra é ter o conhecimento do passado e a percepção do que ocorre no presente e poderá ocorrer no futuro . “É um termo sobretudo com uma consciência histórica de passado, de presente e de futuro, sobre passado significa entender que há uma contribuição profunda do continente africano à humanidade. Ela foi uma contribuição em variados campos do conhecimento, que foi sistematicamente apagada, destruída das suas origens. Toda a individualidade do continente africano é apagada para o ocidente. Então, a primeira coisa é entender que há uma contribuição milenar dessa população (negra) à humanidade. Sobre o presente,  significa entender que  esse apagamento significa que nós fomos empobrecidos, empobrecidos nas nossas referências, empobrecidos das nossas riquezas. Entender que nós não viemos para o novo mundo a passeio. A nossa diáspora não aconteceu a passeio, né? Mas, a despeito de tudo isso, nós construímos essas nações. Então, diz respeito a entender a nossa contribuição para o desenvolvimento cultural, econômico, social dessa sociedade, do novo mundo. Sobre o futuro, significa entender que não há projetos de sociedades inclusivas que não levem em consideração o nosso trabalho e a nossa contribuição.  Então, é uma consciência de trânsito entre os tempos, mas que aponta para um futuro melhor, para um futuro promissor. É assim que eu vejo a consciência negra: uma consciência sobre a integração da humanidade nos seus melhores aspectos”, afirma. 

O coletivo Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas teve o projeto “Iniciativa Negra por Direitos, Reparação e Justiça” classificado entre os 12 escolhidos pelo Fundo Baobá no edital Vidas Negras, Dignidade e Justiça, que conta com apoio do Google.Org . 

Dentro da principal premissa do edital: apoiar entidades negras que atuam no enfrentamento do racismo e incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil, o Iniciativa Negra foca a atual política de combate às drogas no país e como ela está sendo usada como ferramenta de opressão à população negra. 

Dudu Ribeiro, co-fundador e diretor executivo do Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas, é formado em História pela Universidade Federal da Bahia, tem especialização em Gestão Estratégica de Políticas Públicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e é mestrando do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal da Bahia. Para ele, se olharmos pelo prisma da população negra brasileira, historicamente discriminada, consciência negra é “uma das construções fundamentais do movimento negro brasileiro, tanto para construir um percurso positivo da participação negra na sociedade brasileira como também para apresentar uma agenda antirracista para a sociedade brasileira. A consciência negra faz parte da disputa narrativa sobre a construção do Brasil, o que coloca a questão racial no centro da sua elaboração”, define. 

Dudu Ribeiro, diretor executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas

Clara Marinho fala, agora, especificamente sobre a questão da consciência negra frente à questão econômica. “Ser um negro ou negra  consciente  no campo da Economia significa assumir que ela,  a economia,  não é neutra. Ela é sujeita a interesses, sujeita a ideologias, a relações de poder.  Qualquer que seja o referencial teórico, entendam que essa é a questão principal.  Então,  você pode trabalhar com modelos que  tentam quantificar a discriminação racial no mercado de trabalho, você pode pensar também em termos de relações internacionais de produção e trabalho,  pensar que existe uma extração de valor de mercadorias que são menos sofisticadas em relação às produzidas nos países do centro do capitalismo. Mas você sabe quem são as populações que estão produzindo isso;  quem são essas populações exploradas; quais são os territórios que estão sendo vulnerabilizados. Então, eu entendo que  isso tenha que ser  levado em consideração. O racismo é o elemento fundamental da organização da sociedade capitalista e ignorar que isso existe é um erro. Penso assim!” 

A educação cidadã é outro ponto de fundamental importância para se observar o nível de conscientização das pessoas. Organização apoiada pelo Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, iniciativa do Fundo Baobá em parceria com a Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations, a coletiva Mulheres Negras Decidem trabalha na qualificação e promoção de uma agenda que seja liderada por mulheres negras na política institucional. O objetivo é fazer com que elas tenham maior representatividade na política, já que são o maior grupo demográfico do país (28%), mas ocupam apenas 2% das cadeiras no Congresso. Participar da vida política brasileira é uma forma de ter consciência e contribuir com mudanças. “Uma compreensão madura sobre de que forma participar da política na sua cidade, estado ou país advém, sobretudo, da experiência. E o despertar para essa necessidade de estar implicada ou implicado no processo político depende, muitas vezes, de estímulos externos. No caso de crianças e jovens negros e negras esse ponto de partida pode estar na escola ou na família. Mesmo crianças são capazes de compreender a importância da luta pela afirmação de identidades e garantias de direitos”, afirma a bacharel em Relações Internacionais e em Políticas Públicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC), Diana Mendes, co-fundadora do Mulheres Negras Decidem. 

Diana Mendes, co-fundadora do Mulheres Negras Decidem

A mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá, Tainah Pereira, é também conselheira do Mulheres Negras Decidem. Ela fala sobre a consciência política no voto da população negra. “Significa votar por um projeto de país que leva em conta vidas interseccionais, que enfrentam racismo, sexismo, pobreza, transfobia e outras situações. Quando se é uma pessoa negra no Brasil,  não se resume a enfrentarmos apenas questões étnico-raciais, é considerar no nosso voto condições de vida digna e respeitosa que garantam nossos direitos”, conclui.

Tainah Pereira – Conselheira do Mulheres Negras Decidem

A Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas tem atuação forte no sentido de buscar a reparação para vítimas do sistema judiciário brasileiro. Seu diretor executivo, Dudu Ribeiro, responde sobre o fato de a população negra estar sendo enredada por políticas que condenam antes mesmo de julgar. “Bom, há um julgamento, uma condenação da população negra antes mesmo de qualquer realização individual, coletiva, até porque há uma criminalização do ser negro no Brasil. O processo fundamental da escravização e da colonialidade foi a desumanização das pessoas e o processo de constituição da república impôs um olhar sobre pena, castigo, crime e punição oriundos dos quintais da casa grande,  que julga e condena a população negra. A priori,  nós temos as vidas condenadas, nós temos a pele alvo e nós temos a marca desse alvo nas costas, desde que nascemos no Brasil”, analisa. 

A análise de Dudu Ribeiro leva à reflexão de Clara Marinho sobre a importância da ocupação de espaços (de poder) pela população negra. Os gestores negros e negras têm papel fundamental para que o quadro de desigualdade e de não acesso seja quebrado. “É preciso reconhecer que as empresas e o serviço público brasileiro nascem das principais esferas de decisão. São espaços profundamente racializados e são brancos. Têm um marcador de gênero profundamente claro:  é masculino. Também têm uma sexualidade muito definida: cisgênero. Então, nós  precisamos desfazer esse estado de coisas, tomando um conjunto de ações concretas. A primeira coisa é incorporar. Incorporar é fazer com que essa força de trabalho e o processo de tomada de decisão reflita a sociedade brasileira minimamente. Há uma dificuldade histórica dessas instituições de incorporar a cara do Brasil”, declara Clara Marinho. 

Diana Mendes, do Mulheres Negras Decidem, dá o arremate final para o que considera ser uma postura de consciência de todo o povo negro. Ela cita, inclusive, um provérbio africano.  “Ter a consciência de que é necessária a valorização da nossa construção histórica e cultural enquanto um país que é fruto da diáspora africana.  ‘Até que os leões inventem as suas histórias, os caçadores sempre serão os heróis das narrativas de caça’. Ou seja,  compreender a importância de resgatar e reafirmar a nossa história enquanto população negra desde a escravização, visibilizando lideranças significativas como Zumbi dos Palmares, mas também tantas mulheres negras dos quilombos,  como Dandara, Luísa Mahin, Tia Ciata, entre outras. Além disso, valorizar em vida o legado de pessoas negras que fazem a diferença até os dias de hoje, para garantia de direitos visando um país com mais equidade racial e respeito à identidade.”

Conheça Giovanni Harvey, novo diretor executivo do Fundo Baobá

Em entrevista, ex-presidente do conselho deliberativo fala do que estava sendo realizado

Por Ingrid Ferreira e Wagner Prado

No dia 9 de dezembro, o Fundo Baobá para Equidade Racial passou por uma grande mudança em sua direção executiva. Giovanni Harvey, presidente do conselho deliberativo desde 2018, assumiu o cargo de diretor executivo da organização.

Em entrevista para o boletim do Fundo Baobá, Harvey fala sobre a sua trajetória profissional, suas expectativas, contribuições e planos futuros para o Fundo Baobá, com ele à frente da gestão executiva. 

Você sai do Conselho Deliberativo e assume a Diretoria Executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial. Em qual sentido a experiência como presidente do Conselho vai contribuir para o trabalho do Diretor Executivo?  

Giovanni Harvey – A minha relação profissional com o Fundo Baobá começou em 2017,  quando fui contratado para estruturar o Plano Estratégico da instituição para o período de 2017 a 2026. Após a conclusão do trabalho,  fui convidado a integrar o conselho deliberativo e, em 2018, fui eleito presidente do mencionado colegiado. Em abril de 2021 fui reeleito para um segundo mandato, até 2024, ao qual renunciei para assumir a diretoria executiva.

Para realizar a consultoria, em 2017, precisei estudar toda a história do Fundo Baobá com o objetivo de entender o seu funcionamento, definir os principais objetivos, conhecer as potencialidades e identificar os desafios. O trabalho incluiu a realização de uma série de entrevistas com os fundadores, com os parceiros e com os financiadores.  Foi com base nestes conhecimentos, aliados à minha experiência ao longo dos últimos 30 anos, que me pautei no exercício da presidência do conselho deliberativo.

As funções que exerci no conselho deliberativo são diferentes das funções que vou exercer na diretoria executiva. O conselho deliberativo é a instância responsável pela formulação da estratégia institucional, pela representação política (em sentido amplo) do Fundo Baobá e pelo controle social da gestão. A diretoria executiva é a instância responsável pela operacionalização da estratégia traçada pelo conselho deliberativo, pela articulação institucional (em sentido estrito), pela gestão do fundo patrimonial e pela implementação das diretrizes programáticas estabelecidas.

Acredito que o meu percurso no Fundo Baobá, aliado às experiências que tive como gestor de empresas, organizações sociais e políticas públicas (no nível municipal, estadual e federal) contribuirão para que eu tenha condições de dar continuidade ao trabalho que foi desenvolvido ao longo dos últimos sete anos pela minha antecessora na função, a executiva Selma Moreira.  

Como diretor executivo, quais são suas metas para o Fundo Baobá?  

Giovanny Harvey – Meta é o objetivo quantificado. Partindo deste pressuposto,  eu vou trabalhar para aumentar o fundo patrimonial na direção de um valor, que estimo hoje em R$ 250 milhões, que nos permita fazer retiradas anuais capazes de atender as demandas mais sensíveis das organizações e pessoas que atuam no movimento negro.  

O Baobá tem ações centradas em análises de contexto e escuta ativa do campo. Ou seja: os editais surgem na medida em que necessidades vão sendo mapeadas. O Baobá é empírico e científico ao mesmo tempo?  

Giovanni Harvey – O objetivo estratégico do Fundo Baobá é disponibilizar recursos financeiros, oriundos do percentual de rendimentos do fundo patrimonial que pode ser sacado anualmente ou da captação que é realizada junto a pessoas físicas e jurídicas, para financiar (através de doações não reembolsáveis) organizações, grupos, coletivos e lideranças negras que atuam no enfrentamento ao racismo, defesa e garantia de direitos e promoção da equidade racial. 

A qualidade da oferta dos recursos financeiros que o Fundo Baobá disponibiliza para estas organizações e pessoas depende, principalmente, de três fatores: 

  1. Alinhamento das diretrizes programáticas do Fundo Baobá às demandas das organizações, grupos, coletivos e lideranças negras;
  2. Grau de autonomia do Fundo Baobá para direcionar os recursos na direção destas demandas das organizações, grupos, coletivos e lideranças negras;
  3. Mensuração dos resultados alcançados.  

Estes três fatores exigem, não apenas do Fundo Baobá, mas de qualquer instituição que se proponha a atuar no enfrentamento ao racismo estrutural e às assimetrias que têm como base o preconceito e a discriminação étnica, um composto que envolve legitimidade, conhecimento científico e capacidade de dialogar com as pessoas negras que lideram iniciativas de  enfretamento ao racismo e promoção da equidade racial nos mais variados setores da sociedade. Soma-se a isto a capacidade de ouvir, dialogar e contribuir de forma positiva para a construção de consensos dentro do ecossistema da filantropia, do investimento social privado, da Rede de Fundos para a Justiça Social e da cooperação internacional. 

Giovanni Harvey – Diretor Executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial

A criação do Comitê de Investimento, entre outras coisas, levou o Baobá a um endowment de mais de R$ 60 milhões. Em que número você pretende chegar?  

Giovanni Harvey – A criação do Comitê de Investimentos, constituído por três profissionais do mais alto nível (Felipe Souto Mayor, Leonardo Letelier e Gilvan Bueno) reflete o grau de maturidade institucional do Fundo Baobá e seu compromisso com a excelência na gestão do Fundo Patrimonial.

Além do Comitê de Investimentos nós contamos com um Conselho Fiscal (Mário Nelson Carvalho, Marco Fujihara e Fábio Santiago) que tem contribuído com recomendações que resultaram na adoção das melhores práticas de compliance.  

Com a segurança fornecida por estes lastros institucionais, e pela reputação destas pessoas, vou trabalhar na direção dos 250 milhões de reais de endowment.  

Mais que números, quais suas aspirações como o novo diretor executivo?  

Giovanni Harvey – Dar continuidade ao processo de investimento nos profissionais que trabalham no Fundo Baobá, contribuindo para a permanência do ambiente fraterno e colaborativo que encontrei; ampliar o uso de soluções tecnológicas que nos permitam melhorar a performance da instituição nas três dimensões definidas no Plano Estratégico: mobilização de recursos, articulação institucional e investimentos programáticos; e contribuir para o fortalecimento das instituições e das redes que atuam no campo da filantropia, do investimento social privado e da justiça social. 

Há algo que o Baobá não tenha feito durante seu período como presidente do conselho e agora você queira implantar?  

Giovanni Harvey – Não, muito pelo contrário. A principal razão que levou o conselho deliberativo a me designar para suceder a executiva Selma Moreira foi garantir a continuidade do que estava sendo realizado. Não é hora de “inventar a roda” e nem de “balançar o barco”. 

Que análise você faz sobre o Círculo de Doação iniciado pelo Fundo Baobá?  O papel do Executivo Gilberto Costa (JP Morgan) e da Executiva Rita Oliveira (The Walt Disney) é importante em que sentido?

Giovanni Harvey – O “Círculo de Doação” é uma estratégia de captação desenvolvida pela equipe do Fundo Baobá, sob a liderança de Selma Moreira, Fernanda Lopes e Ana Flávia Godoi. Um dos pressupostos desta estratégia é o reconhecimento do protagonismo das pessoas negras nos processos de mobilização de recursos (em sentido amplo) em prol da causa da Equidade Racial. Neste sentido o Fundo Baobá tem o privilégio de contar com o engajamento de dois profissionais do mais alto gabarito, Gilberto Costa que é Diretor Executivo do Pacto pela Equidade Racial e Diretor Executivo do JP Morgan e Rita Oliveira é Head de Diversidade e Inclusão LatAm da Walt Disney Company, nas ações e atividades que começaram a ser desenvolvidas no âmbito do “Círculo de Doação”. 

O Fundo Baobá está confiante na mobilização pela cultura de doação entre pessoas físicas? É possível levar a essa motivação pessoas que vivem em um país com economia tão precária? 

Giovanni Harvey – O percentual de participação das doações realizadas por pessoas físicas para o Fundo Baobá vem crescendo nos últimos anos e todos os indicadores apontam para o crescimento desta modalidade de captação de recursos financeiros (junto a pessoas físicas e jurídicas)

A contribuição das pessoas físicas em prol da causa da Equidade Racial faz parte da história do Brasil e remonta à luta que as pessoas negras empreenderam em busca da liberdade e às diversas iniciativas que constituíram o movimento abolicionista.  

O processo de construção do mecanismo impulsor, financiado pela Fundação Kellogg há quase 15 anos, que mobilizou aproximadamente 200 pessoas e/ou organizações negras com atuação na região nordeste e resultou na criação do Fundo Baobá,  teve como ponto de partida o legado da filantropia negra na luta contra a escravização.  

Por estas razões eu tenho a mais absoluta convicção de que nós vamos ampliar o engajamento das pessoas físicas e vamos investir em instrumentos de comunicação para que as pessoas possam acompanhar o que nós fazemos com os recursos arrecadados e, principalmente, os resultados que estão sendo alcançados.  

A contribuição das pessoas físicas e a retirada dos rendimentos do fundo patrimonial foram fundamentais para que o Fundo Baobá tivesse os recursos necessários para lançar, no início de abril de 2020, o Edital de Apoio Emergencial para Ações de Prevenção ao Coronavírus. Foi a primeira ação desta natureza realizada no Brasil, menos de 30 dias após a edição do primeiro decreto de calamidade pública em função da pandemia. 215 pessoas e 135 organizações foram beneficiadas com estes recursos. 

Pensando em termos de doação, que chamamento você faria para que as pessoas façam doações? 

Giovanni Harvey – O Fundo Baobá tem realizado uma série de iniciativas e campanhas com o objetivo de mobilizar recursos e, na minha opinião, elas atendem a todas as nossas expectativas de comunicação. 

O Conselho Deliberativo, que tem a honra de ter agora Sueli Carneiro como presidenta e Amalia Fischer como vice-presidenta, e é constituído por André Luiz de Figueiredo Lázaro, Edson Lopes Cardoso, Elias de Oliveira Sampaio, Felipe da Silva Freitas, Martha Rosa Figueira Queiroz, Rebecca Reichmann Tavares, Taís Araújo e Tricia Viviane Lima Calmon, está debruçado sobre o tema e, oportunamente, contribuirá para que os chamamentos que temos fortaleçam as iniciativas de captação que já estão sendo executadas, com elevado nível de dedicação e profissionalismo.

O meu compromisso como gestor é continuar a investir na melhoria da performance do Fundo Baobá para retroalimentar as iniciativas e campanhas de captação com informações (cada vez mais detalhadas) sobre como os recursos são utilizados e com indicadores científicos que evidenciem os resultados que estão sendo alcançados.  

O Fundo Baobá continuará a cumprir com a sua missão institucional, fortalecerá os laços com as organizações, grupos, coletivos e lideranças do movimento negro que estão na base da sua fundação, com a rede que ​compõe o GIFE – Grupo de Fundos, Fundações e Empresas. Vamos trabalhar para fortalecer e promover a diversidade no ecossistema da filantropia no Brasil e no exterior.

Fundo Baobá na imprensa em novembro

Por Ingrid Ferreira

O edital Negros, Negócios e Alimentação foi lançado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, no dia 18 de novembro, em parceria com a empresa General Mills. Com foco na região Metropolitana de Recife, o edital tem como premissa apoiar 12 (doze) empreendimentos negros do ramo da alimentação. Este segmento, o de empreendimentos ligados à alimentação de consumo imediato, foi especialmente impactado pela pandemia do Covid-19. O tema foi destaque  em matérias de veículos de comunicação pelo país. Para este edital atuamos em parceria com a Retruco, uma agência de jornalismo independente de Pernambuco idealizada por jovens jornalistas, cineastas e designers que buscam novas maneiras de contar histórias através da combinação de formatos audiovisuais e textuais com um olhar crítico, sensível e criativo.

A Rede de Filantropia para Justiça Social publicou a matéria “Edital Negros, Negócios e Alimentação – Recife e Região Metropolitana, pelo Fundo Baobá em parceria com General Mills” no dia 15 de novembro; enquanto o portal Leia Já, publicou no dia 18 de novembro “Edital apoia empreendedores negros do ramo da alimentação”, a Rádio Jornal do Commercio entrevistou a Diretora de Programa do Fundo Baobá Fernanda Lopes.

O edital Negros, Negócios e Alimentação foi ainda destaque nos portais: Giro News, Giro MT Notícias, JC, Tribuna do Vale, Diario de Pernambuco e na Folha de Pernambuco, Marco Zero Conteúdo, Marco Zero Conteúdo (Facebook) e na  Rádio Frei Caneca. A Retruco  também repercutiu informações sobre o edital no Twitter e replicou no Linkedin.  O site Foobiz  deu destaque ao edital.  Na mídia negra, foi noticiado na Revista Afirmativa com o título “Edital apoia empreendedores(as) negros(as) do ramo da alimentação na Região Metropolitana do Recife (PE)” e também no portal Alma Preta, com o texto Fundo Baobá lança edital para empreendedores negros do Recife e Região Metropolitana”. OBlogueiras Negras e o Negrê também fizeram registros sobre o edital. 

O Fórum Brasil Diverso 2021, que aconteceu nos dias 17 e 18 de novembro, discutiu os impactos provocados pela pandemia de Covid-19 no mercado de trabalho e na equidade racial nas empresas, e contou com a participação do ex-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá e atual diretor-executivo da organização, Giovanni Harvey. A reportagem sobre o evento foi publicada no portal Segs. A organização também foi citada na matéria do Ecoa UOL falando sobre  diversidade em empresas conectando-se com consumidores.  

Alguns veículos de comunicação focaram o mês da Consciência Negra, ligando essa data à existência de ações realizadas pelo Fundo Baobá. A matéria “Dia da Consciência Negra: celebrando nossa ancestralidade” é uma delas. Publicado no Blog do Google, o texto aborda algumas ações realizadas pela empresa no combate ao racismo sistêmico. Entre elas,  o apoio do Google.Org ao edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. 

O Portal do Instituto Geledés da Mulher Negra produziu a reportagem “As ações do Google para o Mês da Consciência Negra”, que também mencionou o trabalho conjunto entre Fundo Baobá e Google.Org. Por fim, o portal Net Informa falou sobre a ação de conscientização “Dia de MOVER”, que contou com rodas de conversa, vídeos, entrevistas e participação de artistas e personalidades reconhecidas na luta pela equidade racial. A matéria foi titulada “1,3 milhão de pessoas vão parar por 1 hora suas rotinas de trabalho para falar sobre o racismo estrutural”. 

No dia 26, no Ateliê de Humanidades, houve uma publicação da “Aula inaugural: Dialogando com Tilly, Furtado e Myrdal: apresentação do curso e tessituras”, com a participação do ex- presidente do Conselho Deliberativo e atual diretor-executivo, Giovanni Harvey. Já no dia 29, o Idis publicou a matéria “Saiba como doar para fundos patrimoniais”, explicando como doar para fundos que aceitam doações de pessoas físicas para aumentar o patrimônio e assim aumentar cada vez mais suas ações. A matéria citou também informações sobre a origem do Fundo Baobá, como ele é gerido e seus propósitos. 

Apoiados e Apoiadas do Fundo Baobá

No campo dos apoiados e apoiadas do Fundo Baobá, houve a publicação da matéria “Vozes contra o racismo: mulheres negras lutam por representatividade”, no Correio Braziliense. Escrita por Giovana Fischborn e tendo como personagem Clara Marinho (apoiada no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco).  “Servidora pública é nomeada uma das pessoas negras mais influentes do mundo”, escrita por Adriana Fernandes para o portal Terra e também tendo Clara Marinho como personagem. 

O jornal O Povo, de Fortaleza, trouxe a matéria  “Websérie traz entrevistas com agentes culturais de periferias de Fortaleza”. O texto aborda ações promovidas  pelo coletivo Entre Olhos, apoiado pelo edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19. 

Coletiva Negras que Movem 

Na coluna “Coletiva Negras que Movem”,  do Portal Geledés, com textos assinados pelas apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, foi publicado o artigo  “Eu não corro com lobos” escrito pela empresária Onilia Araújo. Jaqueline Fraga, outra apoiada pelo Programa de Aceleração, também foi destaque na mesma coluna do Geledés com o artigo  “Como descobri o racismo em Chiquititas 20 anos depois”.  Ainda dentro do “Coletiva Negras que Movem”, a assistente social Brígida Rocha foi a articulista de   “Inquietações e utopias escritas”.