Por Wagner Prado

Projetos de 8 estados brasileiros e Distrito Federal, representando 12 organizações, grupos e coletivos negros estão selecionados pelo edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. As organizações selecionadas representam os estados do Acre e  Amapá (Norte); Bahia, Ceará e Pernambuco (Nordeste); Goiás (Centro Oeste); Rio de Janeiro (Sudeste); Rio Grande do Sul (Sul) e o Distrito Federal. Todas, ao longo dos próximos 18 meses, vão desenvolver projetos  que têm como ponto comum o combate ao racismo na Educação. O edital Educação e Identidades Negras: Politicas de Equidade Racial é uma iniciativa do Fundo Baobá, que tem como apoiadores na iniciativa a Imaginable Futures e a Fundação Lemann. 

O enfrentamento ao racismo por meio de políticas, ações e programas governamentais e não governamentais; a valorização da cultura das identidades negras, e o aumento de pessoas negras nos espaços de decisão e poder dentro do setor formal e não formal da educação, são as metas do edital. A Imaginable Futures e a Fundação Lemann, parceiros do Fundo Baobá, fizeram, em conjunto, um aporte de R$ 2,5 milhões no edital para que as 12 selecionadas recebam, cada uma, R$ 175 mil.  O recurso restante será utilizado na realização de atividades formativas, assessoria técnica e reuniões de ajustes. para ajustes e trocas de experiências. Todas essas atividades serão promovidas e coordenadas pelo Fundo Baobá. 

Perfil dos Selecionados

Há uma grande diversidade quando são pinçados os dados que fazem a composição das 12 organizações selecionadas pelo edital. Como dito acima, elas fazem parte de 8 estados brasileiros mais o Distrito Federal. Se formos analisar o tempo de atividade de cada uma, vamos encontrar, 2 (duas) delas já têm mais de 16 anos de atuação (Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá e Pesquisadores e Associação Retratores da Memória de Porteiras); 3 (três) atuam entre 11 e 15 anos (Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadores – Anpsinep, Cineclube Bamako e Coletivo Negro(a) Tia Ciatá; 5 (cinco) atuam de 6 a 10 anos (Associação de Mulheres Negras do Acre e Seus Apoiadores, Centro Comunitário de Audiovisual Luiz Orlando, Coletivo Atinúké, Movimento Nação Marabaixeira e Ponto de Cultura Grupo EX 13) 2, finalizando, 2 (duas) estão constituidas e atuam de 2 a 5 anos (Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo e Oficina de Inovação e Ancestralidade). 

Olhando o recorte da influência geográfica, 3 (três) desenvolvem suas atividades de forma nacional; uma concentra seu trabalho em uma região do Brasil; cinco trabalham em seus estados de origem e três especificamente nos municípios em que estão localizadas. Com relação ao perfil do corpo diretivo, oito têm pessoas com 30 anos ou mais no seu corpo diretivo; três têm equilíbrio entre jovens (29 anos ou menos) e adultos (30 anos ou mais) e uma tem corpo diretivo composto por jovens (29 anos ou menos). 

No quesito gênero, os grupos diretivos de nove organizações têm em sua composição diretiva pessoas de grupo LGBTQIAPN+. Três não têm.  Pessoas especiais estão presentes na direção de três organizações. Dez dos grupos selecionados possuem parceiros que os auxiliam em termos financeiros e dois deles têm parceiros pontuais, que dão suporte para ações programáticas. 

Para se habilitarem ao edital as organizações que se inscreveram tiveram que fazer uma análise apurada sobre o que pretendiam propor, além das respostas que serão dadas frente aos desafios previamente mapeados. Em termos de desafios, os seguintes tópicos foram apontados pelas organizações: Logística, transporte e alimentação para profissionais, estudantes e membros; impactos emocionais psicológicos na saúde mental de educadores e estudantes; invisibilidade das mulheres negras nas ciências e tecnologias; negação e desvalorização das identidades e culturas negras e quilombolas; pouca aplicação da Lei 10.639/03 nas ciências exatas e da natureza; falta de ferramentas para efetivação de políticas públicas; falta de ações voltadas para a elevação da autoestima de estudantes; baixa formação de novas lideranças femininas negras que atuam na educação; racismo religioso de educadores e das comunidades ao entorno.   

Vencidas as dificuldades previstas, o caminho leva à busca dos resultados esperados ao final do projeto. E as perspectivas vislumbradas pelas organizações, grupos e coletivos participantes do edital são bem animadoras: Escolas sensibilizadas para implantação da Leis 10.639/2003 e 11.645/2008; perspectiva racial introduzida dentro do sistema socioeducativo; mais mulheres negras na pós-graduação; docência universitária e cargos de alto escalão; parcerias e maior articulação com comunidades e grupos locais; aprendizados dos projetos incorporados pelos espaços de educação; jovens, pais, professores e gestores da educação interessados no terma do projeto; lideranças negras juvenis fortalecidas e engajadas com o tema da educação; metodologias que fortaleçam processos de atendimento, escolarização e escuta; uso da tecnologia ampliado na periferia e em comunidades tradicionais para enfrentar o racismo e fortalecer as identidades negras; jovens negros com uma percepção positiva sobre si e sua comunidade. 

Toda essa interação e desenvolvimento ao longo do projeto são vistas como geradoras de transformações pessoais e institucionais marcantes. Entre elas, foram apontadas as seguintes como focos: Habilidades gerenciais potencializadas; capacidade de intervenção ampliada; aumento do interesse por saberes científicos; fortalecimento das relações; ampliação do engajamento político; qualificação na produção e disseminação de conteúdos e na realização de processos formativos;fortalecimento de nossas relações com comunidades e com nossos parceiros. Tudo isso irá fortalecer no corpo diretivo das instituições o desenvolvimento de habilidades de liderança como:  Comunicação estratégica e assertiva; ação em rede e atuação junto a parceiros; visão crítica e tomada de decisões; cursos e treinamentos técnicos específicos; gestão de tempo e priorização; análise de contextos complexos, mapeamento de atores e riscos. 

As associações, grupos e coletivos selecionados consideram o trabalho com educação fundamental para que questões relativas às diferenças sociais sejam corrigidas, assim como a difusão da cultura negra. A fala de Irailda Leandro, da  Associação Dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo, da cidade de Buíque, em Pernambuco, revela isso: “Só vamos sair desse ciclo de pobreza e desigualdade com Educação”. Carlos Peru, líder do Movimento Nação Marabaixeira, de Macapá, no Amapá, fala sobre uma particularidade do seu estado. “50% da população do Amapá se declara negra. Com a nossa participação nesse edital, vamos chegar ao nosso objetivo de difundir a cultura negra em nosso estado.”

As Organizações e seus Projetos

Para conhecer mais de perto os projetos das organizações selecionadas, acesse este link

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