De marca de roupas à busca por justiça social, conheça o Jovens Periféricos

No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia do novo coronavírus e a partir do dia 14 de março, as principais capitais do país aplicaram medidas de isolamento social para conter o avanço da doença e evitar o colapso no sistema único de saúde. À partir daquele momento, o mundo assistia uma das maiores crises de saúde pública já existentes, e claro que tudo isso iria reverberar nas pessoas em condições de vulnerabilidade. 

Nesse contexto, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou no ano de 2020, cinco editais voltados para apoiar os segmentos mais afetados pela pandemia no Brasil. O primeiro foi o “Edital Apoio Emergencial para Ações de Prevenção ao Coronavírus”, lançado no dia 5 de abril, e que contou com a parceria da Fundação Ford.  Em apenas 12 dias, o edital recebeu 1.037 inscritos de todas as regiões do país. Nesse total, 387 eram iniciativas de organizações sociais e 650, de indivíduos. Após uma análise minuciosa da organização, o Fundo Baobá divulgou em três listas um total de 350 projetos selecionados, sendo 215 de indivíduos e 135 de organizações. Cada iniciativa recebeu até R$ 2,5 mil para ações de prevenção em comunidades periféricas de difícil acesso e populações vulneráveis. O total investido no edital foi de R$ 870 mil.

À partir dessa edição do boletim, nós iremos retratar alguns dos projetos apoiados pelo edital Doações Emergenciais, mostrando como esse programa impactou a vida das pessoas nas comunidades beneficiadas e como a filantropia é um dos caminhos para promoção da equidade racial em nosso país. 

Um deles é o projeto Jovens Periféricos, que surgiu em 2016 em Salvador (BA), a partir da cabeça do seu idealizador, o jovem Jadison Palma, 26 anos. A princípio, ele criou uma marca de roupas com a sigla JP, as iniciais do seu nome e sobrenome. O primeiro evento da JP foi uma exposição de camisas criadas por ele. O desfile de moda realizado em seu bairro atraiu a presença de mais de duas mil pessoas e com isso, foram surgindo outros convites para participar de eventos artísticos-culturais, o que levou Jadison a mudar a vertente da marca e o direcionamento do projeto JP para Jovens Periféricos.

Jadison Palma, coordenador do projeto Jovens Periféricos

O projeto Jovens Periféricos nasceu no Fazenda Coutos III. Ao mesmo tempo que se trata do bairro mais negro de Salvador, com a população negra local representando 90,57% do contingente 24 mil habitantes, segundo dados Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), por outro lado, o mesmo IBGE, junto com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), lista o Fazenda Coutos um dos mais perigosos de Salvador. No mapa da violência, apresentado pelo estudo, que traz a referência da ONU da taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes por ano, o Fazenda Coutos ocupa o segundo nível mais negativo. Assim compreende-se a dimensão, potência e relevância do trabalho do Jovens Periféricos, que hoje também atua nas regiões de Plataforma e no Pelourinho, sempre aumentando o número de participantes: “Hoje o projeto atende cerca de 380 alunos cadastrados, mas na fila de espera tem quase 200”, explica o diretor e fundador Jaison Palma. “Como a gente ainda não tem um espaço físico amplo para poder incluir toda essa galera, então a gente trabalha com turmas divididas em dias alternados”.

O trabalho realizado pelo projeto Jovens Periféricos consiste em oficinas e aulas de diversas linguagens artísticas: “O projeto hoje envolve teatro, moda, música, dança, fotografia, aulas de inglês e qualificações profissionais”, além de contribuir com os primeiros passos para a carreira acadêmica e profissional, através de parcerias com instituições de ensino superior: “Temos parcerias com faculdades, onde a gente viabiliza os jovens que já estão terminando o ensino médio, ou que já terminou, para entrar na vida acadêmica. Temos também parcerias com algumas faculdades e instituições que às vezes nos cedem algumas vagas de emprego, onde a gente pode encaminhar esses jovens”. 

Turma de alunos do Jovens Periféricos em um ensaio fotográfico

E foi justamente com essas ações transformadoras que os caminhos dos Jovens Periféricos e do Fundo Baobá para Equidade Racial se encontraram no edital Doações Emergenciais: “O Fundo Baobá nos proporcionou muitas coisas boas, principalmente para a nossa comunidade. Hoje os Jovens Periféricos é conhecido de uma forma grandiosa, por causa de ações que a gente faz, então o fundo emergencial, que a gente ganhou do edital, deu pra poder ajudar muitas famílias”. Ao inscrever a iniciativa no edital, Jadison afirmou que projeto ajudaria 40 famílias em condições de vulnerabilidade: “Os nossos critérios de avaliação para contemplar cada família incluiam uma análise de situação das pessoas: se elas estavam sem trabalhar, se havia uma necessidade maior de ter alimento dentro de casa e de ter higiene básica. Então fizemos esse mapeamento e chegamos a essas 40 famílias, buscando esses pré-requisitos”. Contemplados, o grupo partiu para ação: “A gente fez diversas doações de alimentos, de cestas básicas e produtos de higiene, e assim conseguimos alcançar esse pessoal em situação de vulnerabilidade social, em tempos de pandemia, que ainda estamos vivendo”. A vontade era de ajudar ainda mais, mas Jadison acredita que fez o que foi possível diante da situação: “A gente sabe que existem muitas comunidades ainda que precisam ser alcançadas, mas agradecemos também pela oportunidade de ter atingido diretamente quem precisava e de ter gerado um impacto positivo nessas famílias que a gente alcançou através do Fundo Baobá”.

Ação do Jovens Periféricos com o apoio do edital Doações Emergenciais

Jadison Palma frisou a importância de um edital como o Doações Emergenciais na promoção da justiça social: “Todo o processo de doação causou uma determinada emoção. Hoje a gente vive em um país que tem uma desigualdade muito grande, um índice de desemprego muito grande, além da questão do racismo também. Com a chegada da pandemia, mudou toda a logística da nossa sociedade, então tem pessoas que realmente estão passando fome, estão com dificuldades financeiras, então toda contribuição que a gente puder receber e, com isso, poder alcançar essas pessoas, já traz uma emoção de ambas as partes, tanto pra gente que tem o prazer em ajudar, e tanto daquelas pessoas também, que tem o prazer em receber e ver que elas não estão esquecidas, que tem pessoas ali que estão esperando somente a oportunidade  de ajudar. A gente agradece muito o Fundo Baobá pela oportunidade de conhecer vocês, de trabalhar e receber essa gratificação para que a gente pudesse levar o bem para o nosso povo”.

Ação do Jovens Periféricos com o apoio do edital Doações Emergenciais

De uma marca de roupas até o compromisso de ações sociais para famílias em condições de vulnerabilidade, diante de uma pandemia global, essa é trajetória do projeto Jovens Periféricos, que há cinco anos trabalha no que acredita: “A ideia do Jovens Periféricos é ser um projeto de inclusão, gerando oportunidades para essa juventude preta e periférica”, reforça o seu diretor Jadison Palma.  

Kits de cestas básicas que foram entregues pelo Jovens Periféricos para as famílias do Fazenda Couto III (BA)

Para conhecer melhor o trabalho realizado pelos Jovens Periféricos acesse o site oficial e o Instagram.

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