Jornalista narra as histórias de apoiados do edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19

Diante da maior crise de saúde pública mundial, a pandemia do novo coronavírus, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou, no dia 6 de julho de 2020, o edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19. Em parceria com Imaginable Futures, Porticus América Latina e Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, ele tinha o objetivo de selecionar iniciativas de apoio a famílias que, em seu núcleo, tivessem: crianças de 0 a 6 anos, mulheres e adolescentes grávidas, mulheres que deram à luz, homens responsáveis e corresponsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos.

O edital recebeu 200 inscrições e divulgou, no dia 25 de setembro, a lista com as 54 iniciativas selecionadas, idealizadas por profissionais da área da saúde, educação e serviço social.

Para mostrar o impacto positivo que o programa trouxe para as famílias apoiadas, o Fundo Baobá iniciou no ano de 2021 o projeto “Edital Para Primeira Infância no Contexto da Covid-19: As Histórias”. Postado diariamente no site do Fundo Baobá e replicado nas redes sociais da organização, o projeto engloba  18 matérias produzidas com as 54 pessoas apoiadas, narrando as transformações realizadas pelo o apoio do edital.

Quem esteve à frente do projeto e produziu as 18 matérias foi a jornalista Eliane de Santos. Com passagens pelos principais jornais do Rio de Janeiro, como O Dia, O Povo e Jornal do Brasil e, posteriormente, migrando para o telejornalismo, trabalhando na TV Brasil, Canal Futura e TV Escola, Eliane tem experiência quando o assunto é trazer vida e sensibilidade para o texto.  

Eliane, que conhecia o trabalho do Fundo Baobá, acompanhando notícias e posts ligados ao movimento negro, teve a oportunidade de se aprofundar na trajetória da organização e, principalmente, ver as transformações que os editais realizam na vida da população em condições de vulnerabilidade. Cada matéria contou com o depoimento de três membros de três iniciativas apoiadas, sendo eles de diferentes regiões do país. O critério de seleção utilizado por Eliane de Santos, para montar os textos foi bem objetivo: “Busquei afinidades entre eles, como por exemplo a mesma profissão, a mesma localização, as mesmas ações selecionadas e as mesmas causas”.

Eliane de Santos, jornalista

Entre as muitas histórias ouvidas e registradas, Eliane cita três casos, em especial, que lhe sensibilizaram: “A assistente social Amanda Cristina, de Ananindeua, no Pará, venceu barreiras como o preconceito e a pobreza para informar e apoiar meninas, várias delas gestantes, vítimas de violência”. Voluntária do Centro Social Estrela Dalva, umas das muitas associações que buscam apoiar os moradores de ocupações de Curuçambá e populações ribeirinhas próximas, Amanda Cristina ficou sabendo do edital pelo Instagram do Fundo Baobá: “Decidi participar, porque queria levar informação de forma lúdica e com uma linguagem acessível para essas meninas”. Ao lado da também assistente social Regeane Holanda do Carmo, as duas ofereceram também muito carinho e atenção, por meio de rodas de conversa e visitas individualizadas nas casas das adolescentes. Através desse trabalho chegaram até 20 garotas e 10 adultos: “Não foi fácil falar sobre sexualidade, uso de contraceptivos e relacionamento amoroso, por exemplo. Primeiro porque havia a necessidade de um responsável por perto, o que as deixava constrangidas, e porque muitas vezes esses temas não eram bem-vindos pelos pais. Mas nós conseguimos levar informações do ECA (Estatuto da Criança do Adolescente) por meio de cartilhas – informações que elas terão para sempre”.

Projeto de Amanda Cristina, Ananindeua (PA)

Eliane cita a trajetória de mais duas entrevistadas: “Heloisa Ferreira da Silva, de Salvador, que espalhou cartazes pelos postes de Engenho Velho de Brotas, para convocar interessados e divulgar as atividades para aqueles que não tinham celular com internet, ou ainda a força de vontade de Jaqueline Barbosa dos Santos Heldt, de São Paulo, que sem trabalhar na pandemia se reinventou para acolher outras mães que como ela estavam desempregadas, respeitando o isolamento social e à beira de um ataque de nervos”.

A pedagoga baiana Heloisa Ferreira da Silva, perdeu o emprego no momento em que a pandemia do novo coronavírus se disseminou pelo país: “Eu havia sido aprovada em uma seleção pública e em uma instituição privada, para trabalhar como professora e coordenadora escolar. Mas veio a pandemia e não fui convocada por nenhuma das duas”. Quando soube do edital Primeira Infância, rapidamente se inscreveu para contribuir de alguma forma com o bem-estar de moradores do bairro do Engenho Velho de Brotas, porém, no meio do caminho ela encontrou inúmeras dificuldades: “Fui ao Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), expliquei as minhas intenções de prestar orientações pedagógicas para crianças de 0 a 6 anos e apoiar as mães que, como eu, estavam sem trabalhar, preocupadas com a educação dos filhos em casa. Fui orientada a não fazer o projeto”.  

A única saída para Heloisa seria percorrer a comunidade apresentando as propostas, colando cartazes e cadastrando os interessados: “Mudei a estratégia de divulgação. Busquei parceiros no bairro e adjacências, como o Mídia informativa Nosso Engenho, o bloco afro Os Negões, a Associação Santa Luzia, o Terreiro Ilê Axé Aji Ati Oya e o portal A gente educa”. Dessa forma, Heloísa teve o contato de 50 famílias, atendendo um total de 150 crianças, e como a grande maioria não tinha acesso às redes sociais a divulgação da chegada dos kits pedagógicos com caixa de lápis de cor, borracha, massinha de modelar e jogos de coordenação motora, entre outros itens que variavam de acordo com a faixa etária, foi feita no popular boca a boca: “Eu sempre senti a necessidade de apresentar para a sociedade uma educação que respeita as diversidades e atende com equidade. O Fundo Baobá abriu caminhos para eu iniciar a prática deste apoio comunitário e não vou parar!”.

Projeto de Heloisa Ferreira da Silva, Engenho Velho de Brotas (BA)

Também desempregada, a professora de dança, Jaqueline Barbosa dos Santos Heldt, São Paulo (SP), encontrou no edital a motivação que precisava, além de um caminho para estimular outros brasileiros a manterem seus corpos e mentes saudáveis: “Notei que as crianças, os responsáveis, as mulheres grávidas e puérperas sofriam muito com o distanciamento social. Percebi também que o poder público não desenvolveu ações para auxiliá-los nesse período. A instabilidade estava aumentando a ansiedade entre os pequenos e expondo os adultos à depressão, síndrome do pânico e outras doenças emocionais/psicológicas”. O seu projeto consiste em oficinas virtuais de ballet infantil (02 a 06 anos), alongamento para gestantes e puérperas, ballet e jazz para adultos. Ao todo, 30 pessoas se beneficiaram com a iniciativa e indicaram para pessoas em outras cidades, que desejam saber se Jaqueline formará mais turmas remotas. Mesmo depois da pandemia: “Algumas mães comentaram que as filhas ficaram menos ansiosas com as aulas de ballet infantil, e que perceberam melhora também na coordenação motora e na postura das meninas. Já algumas gestantes enviaram mensagens, reportando que as aulas de alongamento as ajudaram a dormir melhor”.

Projeto de Jaqueline Barbosa dos Santos Heldt, São Paulo (SP)

Para Eliane de Santos, contar a história de Jaqueline, Heloísa, Amanda e de outros 51 apoiados pelo Primeira Infância, foi revigorante: “Todos os participantes do edital me ensinaram alguma lição e merecem o meu respeito”. A jornalista também fez questão de ressaltar importância de uma iniciativa como esse edital: “Classifico o edital Primeira Infância do Fundo Baobá como uma ferramenta de transformação social, como mais uma prova de que, pessoas comprometidas com a sua missão profissional, têm muita força para impactar vidas positivamente”.

Os primeiros relatos já foram publicados no site oficial do Fundo Baobá, e você pode acompanhar por aqui, enquanto os outros textos serão postados diariamente.

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