Giovanni Harvey conta como funciona os grantmakers e grantees na estrutura do Fundo Baobá
Por Ingrid Ferreira
O Diretor Executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial, Giovanni Harvey, participou da Série Grantmaking, do Podcast GIFE, um podcast destinado a discutir temáticas de investimento social privado, falando sobre dinâmicas de poder entre grantmakers e grantees – doadores e apoiados, buscando discutir a temática da prática de doação para o fortalecimento da sociedade civil.
A apresentadora Danielle Prospero convida Giovanni a refletir sobre os desafios diários no relacionamento de grantmakers e grantees, e as oportunidades para o fortalecimento das organizações financiadas e o impacto socioambiental positivo a partir da prática de grantmaker.
Danielle ainda explica que: “Grantmaker participativo é a prática que consiste em compartilhar ou transferir o poder de decisão sobre a gestão dos grants, ou seja, dos recursos doados pelos filantropos e investidores sociais às iniciativas e organizações beneficiárias, os grantees”.
A apresentadora ressalta também que a perspectiva é de reconhecer que as pessoas afetadas pelos problemas de determinadas comunidades, possuem legitimidade para falar de suas vivências e assim determinar quais são as prioridades para o uso dos recursos financeiros que lhe são acessados. O que contempla o modelo de trabalho do Fundo Baobá através de seus editais.
Giovanni explica como essas diretrizes são aplicadas no Fundo Baobá: “Essa experiência no Baobá, está conectada com o próprio processo de criação do Fundo, que foi construído a partir de uma mobilização, estimulada pela Fundação Kellogg no processo de retorno dos investimentos da Kellogg no Estados Unidos há cerca de 15 anos, e a Fundação mobilizou instituições e pessoas do movimento negro, principalmente concentradas na região Nordeste a constituir mecanismo impulsor, que pudesse desenvolver o papel de financiar as iniciativas de base do movimento negro no Brasil”.
O Diretor Executivo também ressalta que o Fundo Baobá tem investido em uma ferramenta de contato com as comunidades beneficiadas através dos projetos, para construir um modelo de feedback e assim tornar possível a visão dos resultados dos trabalhos propostos, aperfeiçoando a capacidade do Baobá na hora de gerir seus recursos, para impactar no ecossistema e relações sociais no Brasil.
Danielle pergunta a respeito dos desafios enfrentados na prática e o que ainda precisa ser mudado nesse cenário, e Giovanni responde: “Nós temos uma grande preocupação, que é de criar indicadores de impacto real do que o Baobá está fazendo, precisamos mostrar pra sociedade onde esse recurso vem sendo aplicado, onde e como o recurso está chegando, quais os resultados que estão sendo alcançados; o diálogo da participação é o que permite à sociedade cobrar do Baobá, o que permite o Fundo destinar uma melhor aplicação desses recursos”.
Giovanni explica que o Baobá procura ser um Fundo com uma atuação especializada em um determinado tema, sendo ele um tema em transformação, que muito tem sido tratado em sociedade, pautando que as pessoas tem tomado para si e falado da questão racial em todos os meios, coisa que antes ocorria dentro dos grupos engajados na militância racial; cita também como exemplo, o caso do assassinato de Moïse e o fato de sua família fazer essa ligação do que aconteceu com a discriminação racial, pautando que há cerca de 30 anos atrás, as famílias muitas vezes não conseguiam construir essa ligação, ficando a encargo do movimento negro, que era rechaçado socialmente por levantar essas pautas.
Harvey levanta a questão acima para falar que, em sua percepção, o caso de Moïse, entre tantos outros que ocorrem diariamente, prova que a ação das famílias das vítimas tem assumido o protagonismo liderando os movimentos sociais, pois são essas famílias que têm tomado a iniciativa para as movimentações sociais; além de que em alguns outros casos, as próprias vítimas tem assumido esse papel, ao realizar denúncias de violências as quais foram expostas.
Ligando diretamente ao assunto de oportunidades, caminhos e tendências na direção do grantmaker participativo, Giovanni coloca que o Baobá como instituição tem o dever de se preparar, para que em situações como essa, saiba atuar dando a visibilidade para que essas pessoas possam ter protagonismo do seu lugar de legitimidade.
Para acessar o episódio do podcast que contou com a participação do Diretor Executivo, Giovanni Harvey, clique aqui.