Diretora-executiva do Fundo Baobá é destaque em evento virtual sobre empreendedorismo e sustentabilidade

ESG é uma sigla em inglês que, para quem não é do ramo corporativo, não diz muita coisa. Mas trata-se de um conceito empresarial fundamental nos nossos tempos: Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança). A primeira vez que ele foi utilizado foi no ano de 2005, em um relatório intitulado “Who Cares Wins” (Ganha quem se importa), sendo um resultado de uma iniciativa liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Na ocasião, 20 instituições financeiras de nove países diferentes, incluindo o Brasil, se reuniram para desenvolver diretrizes e recomendações sobre como incluir questões ambientais, sociais e de governança na gestão empresarial. 

Foi sobre o tema ESG que a XP Investimentos realizou, entre os dias 2 a 5 de março, um evento virtual reunindo os principais experts do mercado financeiro para debater investimentos sustentáveis. Em quatro dias de debates virtuais, participaram Guilherme Benchimol (CEO e fundador do Grupo XP), o cientista Prof. Carlos Nobre, Denise Hills (Diretora Global de Sustentabilidade na Natura), José Alexandre Vasco (Superintendente da CVM), Liz Davidson (Ministra Conselheira do Governo Britânico no Brasil), Oskar Metsavaht (Fundador da Osklen e embaixador UNESCO para Sustentabilidade), o autor do livro “Cisnes Verdes”, John Elkington, Luiza Helena Trajano (Presidente do Conselho da Magazine Luiza), Liliane Rocha (Fundadora e CEO da Gestão Kairós), Rachel Maia (Fundadora RM Consulting e Presidente do Conselho Consultivo do UNICEF), DJ Bola (Fundador e Diretor da A Banca, produtora social cultural) e a diretora-executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, Selma Moreira, entre outros.

Selma Moreira participou do painel “Sustentabilidade Integrada à Governança: Estratégia e Transparência”, no dia 4 de março. Mediado pela analista de pesquisa ESG da XP Investimentos, Marcela Ungaretti, ele contou também com o fundador da Blockc/ZCO2, membro do comitê de sustentabilidade da Duratex e da Marfrig, presidente do conselho da D.R.I Brasil e membro da Conecta Direitos Humanos, Marcelo Furtado, e com a diretora ESG e relações com investidores do Grupo Cosan, Paula Kovarsky, que na ocasião substituiu o CEO da Cosan,  Luis Henrique Guimarães.

Painel “Sustentabilidade Integrada à Governança: Estratégia e Transparência”

Selma Moreira fez uma análise sobre o histórico de discussão envolvendo o conceito ESG: “É uma discussão que não é nova, a gente tem uma nova forma de se dirigir ao ESG.  A gente falava de Triple Bottom Line (que é o chamado tripé da sustentabilidade) há um tempo atrás, e já havia uma preocupação em se pensar muito além de compliance, em fazer o que é certo, da forma correta. Hoje quando eu observo a forma de operação das empresas privadas e dos fundos que propõe fazer investimentos nessas empresas para promoção de desenvolvimento, eu acho que a gente olha e consegue ter nitidez de uma consolidação de termos econômicos, de estratégias de gestão e de compliance, muito adequadas. A gente está começando a melhorar, mas ainda me parece que há que se desenvolver formas, métodos e ações, que permita que a parte do “S” e do “E” do ambiental, sejam avaliadas de uma maneira mais estratégica”. Ainda com a palavra, Selma fez uma importante análise contextual do Brasil contemporâneo: “Pensando no nosso contexto de país, a gente está aqui hoje em um dia de muita emoção, mas a gente olha para o nosso país em um dia de luto, um dia muito triste, e não dá para dissociar a empresa do contexto ao qual ela pertence. A gente está vivendo um contexto de tristeza e as empresas são formadas por pessoas, então, no fim do dia, quando a gente conecta tudo isso, conseguir colocar um olhar mais direcionado para que as decisões promovidas pelas empresas sejam éticas e justas, vai muito além da lei. No momento que a gente está pensando que as decisões são promovidas pelos conselhos, executadas pelos executivos, elas se coloquem, sejam passíveis de dúvidas. Quando a gente começa a repensar as nossas certezas, a gente começa a repactuar nosso pacto de gestão, com o ambiente no qual a gente pertence e com o planeta. Acho que é fundamental começar por aí”.   

Selma Moreira durante o painel “Sustentabilidade Integrada à Governança: Estratégia e Transparência”

Paula Kovarsky complementou o raciocínio: “Eu concordo muito com o que a Selma falou, que precisa ser uma coisa que está imbuída em todo o seu processo de tomada de decisão e, essencialmente, porque o mundo está caminhando nessa direção, então isso tem que ser por definição círculo virtuoso, eu preciso como companhia olhar para as tendências de mudanças climáticas, por exemplo, porque isso vai definir o portfólio de produtos que vai ter sucesso num horizonte de cinco a dez anos. Eu preciso ter uma empresa que é reconhecida e que tem, de verdade, um compromisso com a diversidade, porque se eu não tiver isso, eu não vou ser capaz de atrair os talentos que eu preciso para ter sucesso no futuro”.

Questionada sobre qual é a importância de ter a diversidade em diferentes níveis de governança, quais são os desafios dessa jornada e o que precisa ser feito de fato para atingir esse patamar, Selma Moreira fez questão de frisar a importância do diálogo em diferentes esferas: “A gente vive um momento onde o mundo está mais aberto para o diálogo. O que era uma barreira antes, e trazia aquela dificuldade de se expor e de estar em um ‘terreno difícil’, hoje há mais abertura e disposição para dialogar. O que é fundamental, se a gente não dialogar, estará alimentando um processo que é da construção da nossa sociedade desigual. Precisamos também qualificar esse diálogo. Hoje nós temos pesquisas que mostram que, com igualdade de gênero, a produtividade melhora em 15%, e que, quando é trabalhado questões raciais e étnicas, a produtividade melhora 35%.

Com esses dados apresentados, Selma Moreira aprofunda o debate do diálogo da diversidade, principalmente, nos níveis executivos: “Nós precisamos entender que diversidade é lucrativo, então a gente tem que pensar isso para todas as etapas, para todos os estágios de gestão de uma organização, na base, mas também no topo, também nos níveis executivos e nos conselhos. E justamente nos níveis executivos que a gente vai perceber os gargalos, no qual 4,9% é o número de executivos negros que participam de conselhos de administração e 4,7% é o número de executivos na gestão”. 

Selma Moreira (Fundo Baobá), Paula Kovarsky (Grupo Cosan) e Marcelo Furtado (Duratex, D.R.I Brasil e Conecta Direitos Humanos)  

Para Selma, é necessário reflexão e auto análise quando o assunto é diversidade de gênero e étnica: “A gente precisa refletir sobre todo o processo de desigualdade e gargalo acumulado no processo escolar e nas questões de acesso ao mundo do trabalho. Então precisamos criar processos que sejam de fato mais inclusivos e afirmativos também, até porque considerando o ritmo que a sociedade resolve os seus problemas, precisamos ser mais evidentes e mais convictos no que a gente quer fazer. O fato de, no Brasil a gente observar essas desigualdades todas, ter nitidez de tudo isso, é um momento de fazer auto análise, do viés inconsciente, de como a gente gosta de ficar com os nossos iguais, como é bacana falar com alguém em que as ideias e valores conectam com os nossos, mas isso nos leva a construir as mesmas soluções de sempre, baseado em seu mindset. A gente precisa se permitir diversificar, como fazemos com os investimentos, com os portfólios, é o que a gente faz com os produtos, mas a gente não vai conseguir diversificar se ficar procurando um currículo igualzinho ao nosso”.

Hoje, a população negra no Brasil, segundo dados do IBGE, equivale a 56%. Mesmo assim, pessoas negras são minorias em cargos de chefia. Selma aproveitou a oportunidade para compartilhar a sua própria experiência profissional: “Eu sou uma mulher negra de origem periférica e que trabalha com equidade racial, trata-se de um tema que não está longe do meu dia-a-dia, ele está no meu coração, é o que corre na minha veia, mas é um tema que é de muita resistência em muitos espaços. Então, o questionamento que eu trago é: como é que a gente se abre para o diálogo e como é que a gente constitui mais potência a partir das nossas diferenças? Esse é o caminho que vai fazer com que se constituam empresas e uma sociedade cada vez mais forte, diversa, brilhante, potente e respeitando as diferenças. A gente não inova se não olhar a partir de um outro ponto”.

Dentro do mesmo contexto, Selma Moreira falou sobre a importância da equidade: “Tem um ponto que a gente pouco usa nos diálogos no Brasil que é falar de equidade, que se trata de justiça. Quando a gente fala de olhar as populações, há que se pensar o quanto as empresas refletem, de maneira justa, a população das regiões onde elas estão inseridas. E nós estamos olhando para isso? A gente tem feito alguma ação que nos tira do lugar de conforto para produzir essa diversidade? Pode ser que tenhamos uma trilha de aprendizagem e aprender faz parte”. 

Para assistir a participação completa da Selma Moreira no painel “Sustentabilidade Integrada à Governança: Estratégia e Transparência”, basta se cadastrar gratuitamente aqui e acompanhar esse e outros painéis ocorridos no evento Expert ESG.

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